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17- 2015AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS PELOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE INHUMAS, GOIÁS

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AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS 
MEDICINAIS PELOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE INHUMAS, 
GOIÁS 
Vagniton Amelio de Souza1 
Débora Cristina da Silva Lima2 
Camila Regina do Vale2 
 
RESUMO 
O uso de plantas como recurso terapêutico é uma das práticas mais antigas empregadas para a cura de várias 
doenças. Apesar do seu amplo uso a maioria das espécies ainda não foram avaliadas quanto as suas propriedades 
químicas e farmacológicas. Diante desses pressupostos, esta pesquisa objetivou avaliar o conhecimento 
etnobotânico sobre plantas medicinais dos alunos do ensino médio de um colégio estadual em Inhumas-Goiás. 
Durante a pesquisa foi aplicado um questionário para determinar o conhecimento dos alunos em relação às plantas 
medicinais e a partir dos resultados foi ministrada uma palestra informativa para a comunidade escolar. Para isso, 
foram empregadas as seguintes estratégias: aplicação de questionário, análise dos dados, devolutiva com palestra 
e entrega de material explicativo empregando levantamento de propriedades tóxicas, genotóxicas e formas de uso 
das espécies medicinais mais utilizadas pela comunidade escolar. Os resultados obtidos demonstraram que, os 
alunos do ensino médio têm pouco conhecimento acerca de plantas medicinais, citando poucas espécies e 
desconheciam formas diversas de cultivo e uso. Além disso, os dados obtidos revelaram que a pouca idade pode 
influenciar na aquisição de conhecimentos tradicionais e o fato de serem alunos de ensino médio em tempo 
integral, pois passam pouco tempo com a família, podendo interferir na aquisição de informações sobre uso e do 
cultivo de plantas. A palestra foi ministrada pelo pesquisador, permitiu que os educandos percebessem que 
conhecer as plantas medicinais é importante para a formação escolar, principalmente por associar o conhecimento 
prático ao teórico ministrado em sala de aula. 
PALAVRAS CHAVE: ensino de biologia, espécies vegetais, uso tradicional, plantas medicinais, etnobotânica. 
 
 
 
 
 
1Pós-graduando do curso de Especialização em Tecnologias Aplicadas ao Ensino de Biologia (ETAEB) do 
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás. 
2 Doutorandas em Ciências Biológicas - área de concentração: Genética e Bioquímica pela 
UFG.camilarvale@hotmail.com. 
 
 
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INTRODUÇÃO 
Com característica interdisciplinar a etnobotânica abrange estudos que tratam das 
relações estabelecidas por comunidades humanas com o componente vegetal. Para Alcorn 
(1997), a etnobotânica é uma ciência que, atualmente, prima pelo registro sobre as relações 
estabelecidas entre comunidades humanas e plantas, de forma contextualizada. 
O uso de plantas medicinais pela população é uma das práticas mais antigas da 
humanidade. Há um crescente interesse por parte indústria médica e farmacêutica em plantas e 
seus princípios ativos, principalmente devido as comprovações cientificas de ações terapêuticas 
para o tratamento de várias patologias (ARNOUS et al., 2005). Segundo dados da Organização 
mundial da Saúde (OMS) 80% da população mundial utiliza-se de práticas tradicionais na 
atenção primária a saúde, e desse total, 85% usa plantas medicinais ou preparações destas 
(EMBRAPA, 1994; OLIVEIRA et al., 2012). 
O uso e cultivo de plantas como forma medicinal é de grande importância não só por 
resgatar o patrimônio natural e cultural, mas também para estimular população para um maior 
aproveitamento dos recursos terapêuticos de origem natural e preservar a biodiversidade 
existente, através do cultivo (OLIVEIRA e COUTINHO, 2006). 
 A fitoterapia (terapia por uso de plantas) tem um peso importante na sociedade. Esta 
área da ciência vem-se desenvolvendo gradualmente com novas pesquisas, tomando grande 
importância o fato de que as informações sobre os efeitos das plantas medicinais podem 
proporcionar alternativas para o tratamento de diversas doenças na área farmacológica. 
No entanto, é preciso uma investigação fitoquímica para a afirmação destas descobertas, 
pois, nem sempre o conhecimento sobre o uso de plantas apresenta curas reais, tendo algumas 
vezes efeito placebo (MORALES, 1996) ou até mesmo tóxicos. 
Apesar dos efeitos benéficos das plantas, devemos levar em consideração a sua ação 
tóxica, visto que há uma linha tênue entre a dosagem terapêutica e a dosagem tóxica. Se usada 
da maneira correta, com as devidas doses indicadas por um profissional, o princípio ativo de 
uma planta medicinal pode curar e/ou melhorar um desequilíbrio fisiológico de uma pessoa 
(ARNOUS et al., 2005), mas se usado sem orientação médica ou sem comprovação científica 
pode causar danos a saúde. 
O conhecimento etnobotânico possibilita a descoberta de substâncias de origem vegetal 
com aplicações farmacológicas e industriais, conhecimento que as pessoas possuem através do 
 
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empirismo e da tradição familiar, mas a partir de pesquisas vários centros de estudos tentam 
comprovar a eficácia de determinadas plantas mediciniais (ALBUQUERQUE, 2005). 
 Portanto, práticas educativas são importantes para melhor conhecimento sobre a 
etnobotânica, segundo Chassot (2006), a escola não pode ser vista apenas como repetidora ou 
reprodutora de conhecimentos, mas deve assumir uma postura mais crítica em relação à 
educação. Práticas educativas que estabeleçam um vínculo entre o conhecimento etnobotânico 
e o conhecimento científico abordado na formação escolar, constitui uma das maneiras de 
reduzir a distância entre o conhecimento popular e o científico, favorecendo o processo de 
ensino-aprendizagem, pois possibilita o desenvolvimento intelectual do aluno no processo de 
construção do conhecimento (COSTA, 2008). 
Nas escolas de ensino médio há um distanciamento entre o que se estuda em sala de aula 
em relação ao que se vê na prática. Diante disso, há grande necessidade de demonstrar de 
maneira prática, através do cultivo de plantas medicinais, o conteúdo que é trabalhado em aulas 
teóricas. Dentre esse conteúdo, destaca-se a importância da biodiversidade vegetal brasileira, 
as características morfológicas e fisiológicas das suas espécies vegetais, principalmente das que 
são amplamente utilizadas pela população como forma medicinal, seus princípios ativos, 
propriedades benéficas, tóxicas e genotóxicas (CLEMENTE e STEFFEN, 2010). 
Devido à importância da biodiversidade vegetal brasileira, o grande uso de suas espécies 
como forma medicinal pela população e necessidade de estabelecer vínculos entre o 
conhecimento prático e científico/teórico abordado na formação escolar, o objetivo geral desta 
pesquisa foi avaliar o conhecimento etnobotânico dos alunos de ensino médio de um colégio 
estadual da cidade de Inhumas-Goiás acerca das plantas medicinais. 
 
MATERIAS E MÉTODOS 
Área de estudo 
O presente estudo foi realizado em um Colégio Estadual de período integral (CEPI) de 
Inhumas, localizado na Rua Antônio Moreira s/n Vila Floresta do Município de Inhumas, GO. 
O colégio recebe alunos das periferias das regiões sul, sudeste e sudoeste da cidade, os mesmos 
estão em idade escolar para o ensino médio. 
 
Sujeitos da pesquisa 
 
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A pesquisa foi realizada com 70 alunos do 1°, 2° e 3° ano de turno integral do (CEPI), 
município de Inhumas, GO. A maioria dos alunos tem idade entre 15 anos a 20 anos. 
 
 
 
Coleta e análise dos dados 
Antes da realizaçãoda pesquisa, o projeto e o Termo de Consentimento da Participação 
dos Educandos para Realização de Pesquisa foram apresentados à direção do CEPI a fim de 
despertar o interesse e obter autorização da direção para o desenvolvimento do projeto nesta 
instituição de ensino. 
A coleta dos dados etnobotânicos para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada 
através de uma pesquisa quantitativa através da utilização de questionário. Todos os 
participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE, o 
questionário foi enviado aos pais dos alunos que queriam participar da pesquisa) (Anexo I), 
visando levantar o conhecimento etnobotânico dos alunos do ensino médio. O questionário 
(adaptado de SILVA e MARISCO, 2013- Anexo II) continha informações relativas aos dados 
pessoais e referente às plantas medicinais utilizadas, bem como a finalidade do uso, a parte 
utilizada e a forma de preparo. 
A preferência pelo uso de questionário para obtenção dos dados representa uma forma 
de coleta de dados que permite elevar o entrevistado a responder perguntas previamente 
estabelecidas, independentemente de ter havido contato anterior com a população a ser 
estudada. Isto exige do pesquisador total domínio das questões mais relevantes a serem 
exploradas (ALBUQUERQUE, 2005). 
 A aplicação do questionário foi feita de maneira informal, onde foram 70 educandos do 
ensino médio, escolhidos de forma anônima e aleatoriamente. Após a aplicação do questionário 
os dados obtidos foram analisados e tabulados para uma comparação do conhecimento destas 
plantas. 
A etapa finalizadora foi realizada por meio de uma palestra, no qual foram ministrados 
os efeitos farmacológicos, tóxicos, genotóxicas, maneira do cultivo e as plantas medicinais mais 
comuns de se encontrar e as mais utilizadas, visando também conscientizar os educandos quanto 
às plantas utilizadas como forma medicinal. 
 
 
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RESULTADOS 
Dos alunos que responderam o questionário 64% foram do sexo feminino e 36% do sexo 
masculino (Figura 1), a idade dos alunos compreendeu entre 15 e 20 anos, sendo que a maior 
faixa etária foi de 17 anos para 50% dos entrevistados (Figura 2), todos os entrevistados eram 
solteiros. 
 
 
Figura 1: Perfil dos educandos participantes quanto ao gênero dos alunos. 
 
Figura 2: Perfil dos educandos participantes quanto a idade dos alunos 
 
Quanto ao uso de plantas como forma medicinal, de todos os educandos participantes 
77% fazem uso de plantas medicinais, enquanto 23% não usam plantas medicinais. (Figura 3) 
7%
33%
50%
7%
1% 1%
15 anos 16 anos 17 anos 18 anos 19 anos 20 anos
64%
36%
Feminino Masculino
 
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Figura 3: Porcentagem de educandos participantes quanto ao uso de plantas como forma 
medicinal. 
Os alunos do CEPI obtiveram conhecimento sobre plantas medicinais de forma 
diversificada, 84% responderam que o conhecimento de plantas medicinais foi proveniente dos 
familiares, 6% responderam obtiveram conhecimento a partir da mídia, 4% adquiriram de 
contato técnico através de enfermeiros, médicos, farmacêuticos, professores, biólogos e outros 
6% responderam que conhecem as plantas medicinais através do que é ensinado na escola. 
(Figura 4) 
 
Figura 4: Origem do conhecimento sobre o uso de plantas medicinais, porcentagem 
educandos participantes que obtém conhecimento através da família, da mídia, de 
profissionais ou por meio da escola. 
 
Quanto à maneira pelo qual os educandos conseguiam as plantas medicinais foi 
observado que 59% responderam que obtém plantas medicinais de cultivo próprio, 17% 
compraram na feira, 17% conseguiram com vizinhos e 7% conseguiram em locais abertos como 
pastos e lotes vazios. (Figura 5) 
77%
23%
fazem uso não fazem uso
84%
6% 4% 6%
Familiares Mídia Profissionais Escola
 
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Figura 5: Formas de obtenção das plantas medicinais pelos educandos participantes. 
 
Relacionado os efeitos adversos das plantas medicinais utilizadas pelos educandos, 94% 
dos alunos responderam que nunca se sentiram mal após ingerir plantas medicinais, 6% das 
pessoas disseram que sentiram mal após ingerir as plantas medicinais, dentre essas todas 
responderam que tiveram alergia após o uso. (Figura 6) 
 
Figura 6: Porcentagem de educandos participantes que sentiram algum efeito adverso após 
ingerir plantas medicinais. 
 
Quanto ao levantamento sobre as espécies de plantas medicinais e a parte utilizada, 90% 
responderam que conhecem alguma espécie de planta medicinal e 10% responderam que não 
conhecem nenhuma planta medicinal. No entanto, ao citar o nome popular de alguma planta 
medicinal, pode-se observar pouco conhecimento em relação as espécies (Tabela 1). Foram 
citadas apenas 3 espécies, sendo que 29% dos entrevistados conhecem hortelã (Plectranthus 
amboinicus (Lour.) Spreng) 33% conhecem o capim cidreira (Lippia alba (Mill.) N. E. Brown) 
e 38% conhecem o boldo (Peumus boldus Mol.) (Figura 7). As partes utilizadas dessas plantas 
59%
17% 17%
7%
Cultivo
próprio
Feira Vizinhos Lotes Vazios
94%
6%
Não Sim
 
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foram a folha (86%) e caule (14 %) (Figura 8) e os mesmos responderam que usam essas 
plantas para gripe, como calmante, dores de garganta, dores estomacais e para “machucados”. 
 
 
 
Figura 7: Espécies de plantas medicinais utilizada pelos educandos participantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8: Parte utilizada das plantas medicinais utilizada pelos entrevistados educandos 
participantes 
 
Tabela 1: Relação das plantas medicinais utilizadas pelos educandos participantes CEPI, 
Inhumas-GO. 
Família Nome comum 
(popular) 
Nome científico Parte utilizada 
29%
33%
38%
Hortelã Erva Cidreira Boldo
86%
14%
Utilizam folhas Utilizam caule
 
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Lamiaceae Hortelã Plectranthus 
amboinicus(Lour.) 
Spreng 
Folhas e caule 
Verbaneceae Erva cidreira Lippia alba (Mill.) N. 
E. Brown 
Folhas 
Monimiaceae Boldo Peumus boldus Mol. Folhas 
 
Quanto a contribuição da tradição popular e do conhecimento sobre plantas medicinais 
para a formação escolar, a maioria dos educandos (69%) responderam que o conhecimento 
sobre plantas medicinais pode contribuir para sua formação escolar, e 31% responderam que 
não há contribuição. 
Quanto à forma como o conhecimento sobre plantas medicinais poderia ser utilizada nas 
aulas de biologia, 40 % responderam que poderia ser abordado nas aulas de botânica a partir 
das plantas medicinais conhecidas pelos alunos, 13% responderam que o professor poderia 
informar sobre os cuidados no uso de plantas medicinais e 47% responderam que poderia ser 
utilizada nas aulas práticas a partir do cultivo de uma horta, ou de plantas medicinais trazidas 
pelos educandos participantes. (Figura 9) 
 
Figura 9: Avaliação dos educandos participantes de como o conhecimento sobre plantas 
medicinais poderia ser utilizada nas aulas de biologia. 
 
A maioria dos educandos demonstrou mesmo ser favorável a construção de um viveiro 
de plantas medicinais na escola (94%), enquanto somente 6% responderam que não há essa 
necessidade de construção de viveiro de plantas medicinais na escola, demonstrando a 
importância de abordagens sobre o uso de plantas medicinais como realizadono presente 
47%
40%
13%
Nas aula práticas a partir de
cultivos na escola
A partir de plantas conhecidas
pelos educandos
Informar cuidados com uso de
plantas medicinais
 
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estudo, visto que além de despertar o interesse dos alunos pode ajudar no processo de 
aprendizagem, principalmente porque esses demonstraram pouco conhecimento em relação as 
espécies medicinais. 
 Quanto a contribuição do conhecimento de plantas medicinais para formação 
escolar, 69% educandos responderam que o conhecimento sobre plantas medicinais poderá 
contribuir para a sua formação escolar, 31% responderam que não, não contribuirá para sua 
formação escolar. (Figura 10). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 10: Avaliação dos educandos participantes se o conhecimento sobre plantas medicinais 
poderia contribuir na formação escolar. 
 
DISCUSSÃO 
O objetivo geral desta pesquisa foi avaliar o conhecimento etnobotânico dos alunos de 
ensino médio de um colégio estadual da cidade de Inhumas-Goiás acerca das plantas medicinais 
e a partir dos resultados ressaltar a importância da biodiversidade, da preservação dessas 
espécies e conscientizar sobre as suas propriedades tóxicas e genotóxicas. 
Os educandos que responderam o questionário encontram-se em idade escolar, na faixa 
de 15 a 20 anos, sendo a maioria do sexo feminino. O maior percentual dos educandos 
respondeu que fazem uso de plantas medicinais. Resultados similares também foram 
encontrados nos trabalhos realizados por Souza et al. (2012), em Anápolis (GO), em que 68,6% 
dos entrevistados eram do sexo feminino e na comunidade do Horto, Juazeiro do Norte (CE), 
em que 72% dos entrevistados eram do sexo feminino (RICARDO, 2011) 
De acordo com Simões et al. (1988), todos os grupos culturais fazem uso de plantas 
como recurso terapêutico e, em centros urbanos, plantas são utilizadas como forma alternativa 
69%
31%
Contribuição para a
formação escolar
Não há contribuição
 
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ou complementar à medicina oficial e esse conhecimento sobre as plantas medicinais, na 
maioria das vezes é passado através de familiares. O presente estudo corrobora com essa 
afirmação, onde 84% dos entrevistados conheceram plantas através de sua família. 
 Segundo a Organização Mundial de saúde o conhecimento sobre plantas medicinais é 
uma tradição familiar comum, onde cerca de 80% da população mundial recorre às plantas 
medicinais para atender suas necessidades primárias de assistência médica (OMS, 1993). 
 A Análise dos questionários, demostrou que 90% dos educandos conhecem algum tipo 
de planta medicinal, porém foram citadas poucas plantas, sendo que as citações foram erva 
cidreira, hortelã e boldo. A partir das respostas do questionário dadas pelos alunos sobre o 
conhecimento de plantas medicinais percebe-se pouco conhecimento acerca de plantas 
medicinais. Esse fato pode ser explicado pela pouca idade dos alunos pesquisados ou pela falta 
de interesse dos mesmos em responder o questionário sobre os tipos de plantas medicinais que 
conhecem. 
De acordo com Amorozo (1996), as pessoas mais jovens se interessam muito pouco 
pelo tratamento com as plantas medicinais, e, por isso, as desconhecem. A utilização fica a 
cargo principalmente das pessoas mais velhas, pois os jovens possuem pouco conhecimento das 
plantas e preferem os medicamentos convencionais por oferecer um alívio mais rápido. Isto 
conduz à pouca valorização desta tradição por parte das pessoas desta faixa etária e, caso esta 
situação não se reverta, é possível que grande parte do conhecimento popular acerca do uso das 
plantas medicinais se perca com o tempo (OLIVEIRA e al, 2012) 
 Segundo Pinto (2000), a hortelã (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng) é usado pela 
população como vermífugo, como digestivo e calmante. O Boldo (Peumus boldus Mol.) é 
utilizado contra problemas estomacais, azia e indigestão. A erva cidreira (Lippia alba (Mill.) 
N. E. Brown) é utilizada para cólicas intestinais e uterinas; calmante suave, para casos de 
ansiedade e insônia leves e seu extrato metanólico apresenta potencial como adjuvante no 
tratamento da obesidade e de dislipidemias, uma vez que inibe a atividade da enzima lipase 
pancreática. Dados esses confirmados pelos entrevistados no presente estudo que relataram usar 
as espécies citadas acima principalmente para curar gripe, dor de garganta, dor no estômago, 
dor nos rins, feridas e como calmante. 
As partes mais utilizadas das plantas medicinais foram as folhas (86%) e o caule (14%). 
Segundo os pesquisadores Souza et al. (2012), as folhas e o caule carregam a maior 
concentração de princípios ativos, que são o resultado do metabolismo secundário da 
 
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fotossíntese, onde são produzidos nas folhas e carregados para o caule através dos vasos 
floemáticos (SOUZA et al., 2012), sendo portanto as folhas boas partes da planta a serem 
utilizadas. 
De acordos com os participantes, a principal forma de preparo das espécies citadas é o 
chá com agua fervente e açúcar, se necessário. Para Simões (1988) o uso de chá é a forma mais 
fáceis de se obter o princípio ativo da planta, visto que os mesmos estão dentro dos 
compartimentos das células vegetais, facilitando assim a sua perfeita extração. 
As plantas de um modo geral, produzem substâncias químicas que são resultados do seu 
metabolismo secundário, isto é, após o processo de fotossíntese, essas substâncias produzem os 
variados tipos de moléculas, entre elas os taninos e diversos outros compostos, que podem atuar 
beneficamente ou agirem de forma tóxica sobre os organismos. Portanto, para que as pessoas 
possam fazer uso dessas substancias como forma medicinal e com segurança, é necessário que 
a mesma seja estudada sob o ponto de vista químico, farmacológico e toxicológico, devendo 
evitar o uso indescriminado, acreditando apenas no conhecimento empírico (RITTER et al., 
2002). Muitas pessoas não reconhecem as propriedades tóxicas e genotóxicas das plantas 
medicinais e acreditam na afirmação que por ser uma fonte natural não tem efeitos adversos, 
no entanto diversas pesquisam demonstram o contrário. Fato esse que foi observado no presente 
estudo, onde 6% dos entrevistados alegaram passar mal com uso de algum tipo de planta 
medicinal, como por exemplo o boldo, resultado esse relevante ao se comparar com uma 
população de uma cidade. 
Na coleta dos dados do questionário 94% dos alunos concordam que poderia criar um 
viveiro de plantas medicinal na escola, assim os ajudariam a conhecem mais sobre essas plantas 
além de notarem a importância de se conservar a diversidade da flora medicinal. 
Segundo Chassot (2006), a escola não pode ser vista apenas como repetidora ou 
reprodutora de conhecimentos, mas deve assumir uma postura mais crítica em relação à 
educação. Didáticas que estabeleçam um vínculo entre o conhecimento etnobotânico e o 
conhecimento científico abordado na formação escolar, constitui uma das maneiras de reduzir 
a distância entre o popular e o científico, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem, pois 
possibilita o envolvimento do aluno no processo de construção do conhecimento (COSTA, 
2008). Demonstrando a importância do presente estudo e de trabalhos que venham aliar o 
conhecimento científico ao teórico passado em sala de aula. 
 
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Diante dos resultados obtidos na presente pesquisa pode-se observar pouco 
conhecimento acercade plantas medicinais. Diversos estudos demonstram uma tendência 
progressiva de perda dos conhecimentos farmacológicos das plantas, uma vez que estes não 
estão sendo passados às gerações futuras. As principais razões para tal constatação incluem o 
desinteresse por parte das novas gerações (BRASILEIRO et al., 2006) e a idade avançada que 
os conhecedores das plantas medicinais possuem. Portanto, existe a necessidade de pesquisas 
que resgatem os saberes tradicionais e populares para a população mais jovem, demonstrando 
assim a importância do presente estudo. 
 
CONCLUSÃO 
Considerando os dados levantados através dos questionários aplicados e os objetivos da 
presente pesquisa, constata-se que os educandos apresentam pouco conhecimento sobre plantas 
medicinais, visto que foram citadas poucas plantas medicinais. 
 Esperava-se que, como a maioria dos educandos responderam que adquiriram o 
conhecimento através de familiares, os mesmos deveriam conhecer uma maior quantidade de 
plantas medicinais, isso pode ser causada por não se lembrarem dos nomes das plantas 
medicinais, ter pouco conhecimento das mesmas, tiveram pouco contado com plantas que são 
consideradas medicinais ou mesmo por falta de interesse por parte dos educandos. 
 Diante disso, através de uma palestra ministrada pelo professor todos educandos 
perceberam que conhecer as plantas medicinais é importante para a formação escolar, no qual 
aliar a prática ao conhecimento teórico passado em sala de aula poderá ajudar no processo de 
aprendizagem. Assim, eles poderão passar para seus amigos e familiares os efeitos adversos 
que as plantas podem causar, e também perceberam a aplicabilidade dessas plantas medicinais 
no tratamento de várias doenças e conhecer as diversas pesquisas que são feitas com essas 
plantas medicinais, no qual foi demonstrada na palestra. 
 
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SILVA, T.S.S.; MARISCO, G. Conhecimento Etnobotânico dos Alunos de Uma Escola Pública 
no Município de Vitória da Conquista/ BA Sobre Plantas Medicinais. Revista de Biologia e 
Farmácia. 09, n.03, 2013. 
SIMÕES, et al. 1988. Plantas da medicina popular no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 
UFRGS. 173p. 
SOUZA, R.B.G et al. Farmacognosia coletâneas científicas, ed. UFOP, Ouro Preto SP. 2012. 
Recebido em 03 de agosto de 2015. 
Aprovado em 14 de outubro de 2015. 
 
 
 
 
 
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ANEXO I 
TERMO DE CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO 
DA PESQUISA 
 Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a) de uma pesquisa. Os 
dados fornecidos serão mantidos sobre absoluto sigilo, mantendo a privacidade dos sujeitos 
envolvidos. Esclarecidos que não haverá nenhum tipo de pagamento ou gratificação financeira 
pela sua participação. Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de 
aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento. Em caso de recusa, você não será 
penalizado(a) de forma alguma. Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em 
contato com professor e pesquisador responsável. Os sujeitos abaixo participaram da pesquisa 
por livre vontade, foram devidamente informados(as) e esclarecidos(as) pelo pesquisador sobre 
a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios 
decorrentes de sua participação. Foi garantido que poderão retirar seu consentimento a qualquer 
momento, sem que isto leve a qualquer penalidade. Em caso de concordância com os termos, 
assine abaixo: 
NOME ASSINATURA DOS 
PARTICIPANTES (escrita por 
extenso) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inhumas,______ de __________ de 2015 
 
 
 
 
 
 
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ANEXO II 
QUESTIONÁRIO (Adaptado de Silva e Marisco, 2013) 
 
DATA DA APLICAÇÃO:____/_____/_____ 
 
PARTE I: DADOS SOCIOECONÔMICOS 
1. Sexo: Feminino ( ) Masculino ( ) 
2. Idade:________ 
3. Estado Civil: Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) 
4. Naturalidade:________________________ 
5. Bairro._______________________________________________________________ 
 
PARTE II: CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS. 
1. Faz uso de alguma planta medicinal: Sim ( ) Não ( ) 
2. De onde vem o seu conhecimento de planta medicinal. 
( ) De conhecimento tradicional familiar (pai, mãe, avós, etc) 
( ) De conhecimento através da mídia (internet, televisão, radio e outros meios). 
( ) De contato com técnicos (médicos, enfermeiros, biólogos, professores, etc). 
( ) De conhecimentoatravés do que é ensinado na escola. 
( ) Outros.___________________________________________________________ 
 
3. Caso você tenha utiliza alguma planta medicinal, conseguiu de que forma? 
( ) Cultivo próprio ( ) Compra (feira, farmácia) ( ) Vizinhos ( ) Locais abertos. 
( ) Outros:___________________________________________________________ 
 
4. Você já fez se sentiu mal com o uso de alguma planta medicinal? Qual foi? O que sentiu? 
_________________________________________________________________ 
 
5. Você conhece algum tipo de planta medicinal Sim ( ) Não ( ) 
Se Sim, Qual(is)?________________________________________________________ 
 
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Qual parte usada:___________________________________________________ 
Usada para quê:____________________________________________________ 
Como você prepara:_________________________________________________ 
Que planta você conhece:_____________________________________________ 
Partes usadas:______________________________________________________ 
Como você prepara:__________________________________________________ 
 
PARTE III: CONTRIBUIÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS 
1. Você acha que o seu conhecimento sobre plantas medicinais pode contribuir para a sua 
formação escolar? 
Sim ( ) Não ( ) 
 
2.De que forma você acha que o seu conhecimento sobre plantas medicinais poderia ser 
utilizado nas aulas de biologia? 
( ) A partir das plantas medicinais conhecidas pelos alunos, o professor poderia abordar 
conteúdos da botânica. 
( ) Os professores poderiam informar sobre os cuidados n uso de plantas medicinais. 
( ) Aulas práticas a partir do cultivo de uma horta, ou de plantas medicinais trazidas pelos 
alunos. 
( ) Outros:__________________________________________________________ 
 
3. Nas aulas de Biologia de que maneira o conhecimento sobre plantas medicinais já foi 
abordado?______________________________________________________________ 
 
4. Você é a favor que se construa um viveiro de plantas medicinais na sua Escola? 
Sim ( ) Não ( )

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