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Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos Aula 03

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E 
EDUCAÇÃO POPULAR
PEDAGOGIA – TEREZA RENOU
AULA 3
Rio de Janeiro, agosto de 2011 
Fundamentos da EJA e Educação Popular 2
Aula 3: Abordagem histórica da EJA no Brasil –
Anos 70/80/90
Abordagem histórica da Educação
de Adultos no início da segunda
metade do século XX.
Os anos de 1970/80: o MOBRAL e
o Ensino Supletivo.
Os anos de 1990: a EJA na
Constituição de 1988 e na LDB
9394/96.
Fundamentos da EJA e Educação Popular 3
OBJETIVOS
 Descrever as reformas e os projetos educacionais 
implementados pelos governos militares no campo 
da EJA no Brasil, enfatizando os seus aspectos 
políticos e ideológicos.
 Analisar as principais políticas implementadas no 
período da Ditadura Militar: a Cruzada ABC, o Mobral 
e a regulamentação do Ensino Supletivo
Resgatar o processo histórico de surgimento de novos 
paradigmas políticos e pedagógicos na EJA no contexto 
da redemocratização do país. 
 Analisar as novas bases legais e Curriculares 
implementadas na Educação de Jovens e Adultos a partir 
dos anos de 1990: a Constituição de 1988 e a LDB 
9394/96.
Fundamentos da EJA e Educação Popular 4
RECUPERANDO O DÉCADA DE 1960
Em 1964, 
ironicamente o 
Brasil tinha na 
época, os 
movimentos de 
bases político-
sociais mais 
organizados da 
sua história. 
No bojo da intensificação
do debate político sobre os
problemas nacionais e busca
de rumos para a sociedade,
as chamadas reformas de
base (reforma agrária,
urbana, eleitoral, bancária,
educacional etc.) ganham
caráter central.
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•Nesse contexto é promulgada a
primeira Lei de Diretrizes e Bases – Lei
4024/61, que reconhece a educação
como direito de todos e ampliam-se
assim as políticas públicas para a EJA,
destacando-se: os exames de
madureza, que possibilitavam a
certificação para Jovens e Adultos não
escolarizados.
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A questão do ANALFABETISMO vai ganha uma conotação
política e o governo federal vai instituir, coordenado pelo
MEC, em 1963, o Plano Nacional de Alfabetização (PNA),
que tinha como referência pedagógica a produção de PAULO
FREIRE, que é convidado a coordenar o Programa. O objetivo
alfabetizar cinco milhões de brasileiros, sob a perspectiva
de conscientização e organização política da população.
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Com o Golpe Civil-Militar, todas as
iniciativas governamentais e não-
governamentais foram suspensas e
muitos dos militantes do campo da
educação de Jovens e Adultos
foram presos ou exilados.
Em 1964, ironicamente o 
Brasil tinha na época, os 
movimentos de bases 
político-sociais mais 
organizados da sua história. 
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São SILENCIADOS: 
sindicatos, movimento 
estudantil, movimentos de 
trabalhadores do campo, 
movimentos de base dos 
militares de esquerda 
dentro das forças armadas, 
todos estavam engajados e 
articulados em entidades 
como a UNE (União 
Nacional dos Estudantes), 
etc.
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Com a ditadura, todas as entidades 
foram asfixiadas, sendo extintas ou a cair 
na clandestinidade. 
Em 1968, os estudantes continuavam a 
ser os maiores inimigos do regime militar. 
Reprimidos em suas entidades, passaram 
a ter voz através da música. 
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A Música Popular Brasileira 
começa a atingir as grandes 
massas, ousando a falar o que não 
era permitido à nação. Diante da 
força dos festivais da MPB, no final 
da década de sessenta, o regime 
militar vê-se ameaçado.
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Fundamentos da EJA e Educação Popular 12
Após a recuperação da 
da década de 60, vamos 
estudar o processo 
histórico de surgimento 
e fortalecimento da 
Educação de Adultos da 
segunda metade do 
século XX no país, agora 
abordado nas décadas 
de 1970, 1980 e 1990.
1º momento: 
panorama histórico, 
social, político e 
educacional dos 
governos militares 
(1964-1985), período 
que sucedeu as 
experiências 
construídas pelos 
movimentos de 
educação e cultura 
popular, no Brasil. 
Abordagem histórica da 
EJA no Brasil – Anos 
70/80/90
Fundamentos da EJA e Educação Popular 13
O Movimento Brasileiro de
Alfabetização (Mobral) e o
Ensino Supletivo no interior
dos sistemas públicos.
Durante o período militar de 64
até abertura política 1985, a EJA
passa por transformações
significativas no que tange à sua
oferta por parte do poder
público.
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2º é o da redemocratização do
Brasil, final dos anos de 1980 e o
início dos anos de 1990 vão ser
palco de uma mudança
significativa nos paradigmas
políticos e pedagógicos da EJA,
ancorados pelos ares de
democracia que passamos a viver
no país. O debate em torno da
educação no processo de
elaboração da Constituição de
1988 e seus efeitos na EJA devem
ser estudados em nossa aula.
Nesse contexto, a Lei de
Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB)
Lei nº 9394/96, aprovada
em 1996, expressou a
correlação de forças entre
os defensores da educação
pública e os defensores de
interesses privatistas de
caráter neoliberal.
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1. Abordagem histórica da EJA no Brasil: os anos 70.
O início dos governos militares o
Brasil ingressa na fase capitalista
monopolista, onde o Estado sedimenta sua
atuação como agente condutor da economia,
apostando no acirramento de nossa
dependência internacional. Desenvolvendo
um modelo econômico/social baseado na
concentração de renda e na aceleração
econômica, pautada em empréstimos
internacionais, subordinando, nossa
economia ao capital e à tecnologia externa.
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O período acelera o crescimento
econômico com a instalação das indústrias
de bens de capital em nossa economia.
Em relação à sociedade civil, os anos dos
governos militares ficaram marcados pelo
distanciamento das organizações sindicais
e populares da participação política. O
rígido controle das iniciativas de
organização popular estava inserido na
Doutrina de Segurança Nacional, ideologia
que marcou o caráter autoritário e
excludente dos governos militares.
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A questão das políticas educacionais
ganham contornos definidores, sob a tutela dos
governos militares e passam a serem usadas,
juntamente com o chamado milagre
econômico, como espaço de legitimação
desses governos. A educação é vista como
espaço privilegiado de produção e reprodução
das relações sociais, foi amplamente reformada
e usada pelos tecnocratas do governo ditatorial
civil/militar. A expansão da educação pós-64
esteve pautada pela transferência de verbas
públicas para o empresariado da educação.
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Essa expansão ocorreu então,
sobre forte influência de “técnicos”
norte-americanos. Seus objetivos
seguiram uma orientação que
assegurou a adequação do sistema
escolar brasileiro aos preceitos da
teoria do “capital humano”. A
educação por meio dessa teoria é
encarada como investimento,
redundando conseqüentemente no
aumento da produtividade, levando
assim, melhorias na qualidade de vida
da população.
Conhecimento e 
habilidades, são 
vistos como capital 
humano, apropriado 
para o trabalhador 
ascender na escala da 
escolarização formal. 
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No Brasil o organismo responsável pela disseminação e financiamento foi à 
agência norte americana USAID, que entre 1964 e 1968 selou 12 acordos 
com o Ministério da Educação e Cultura. Os objetivos principais: 
diagnosticar e solucionar problemas da educação no Brasil, dentro dos 
pressupostos da teoria do “capital humano”.Os acordos MEC-USAID 
defendiam a teoria do capital humano e por concepção a desigualdade nos 
níveis de desenvolvimento dos países seria solucionada por ações 
educativas que diminuiriam as diferenças sociais entre os indivíduos. 
O conteúdo programático das escolas supervalorizou as áreas
tecnológicas com destaque ao treinamento específico em
detrimento à formação geral e a perda de importância das áreas
humanas e das ciências sociais.
Fundamentos da EJA e Educação Popular 
Fundamentos da EJA e Educação Popular 20
Podemos afirmar que a lógica que norteou a reforma
educacional de 1968 e 1971 ficou marcado pela
teoria do capital humano. Enfatizando ao caráter
tecnocrático das ações educacionais e deslocando a
educação do contexto social e político.
Entre as ações dos governos militares para a EJA foram: 
• A expansão da Cruzada Ação Básica Cristã, entre 1965 e 1967.
• Após 1970 o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).
• Depois de 1971, o Ensino Supletivo, no interior dos sistemas 
públicos, 
Fundamentos da EJA e Educação Popular 21
Substituição pelo governo
militar do Plano Nacional de
Alfabetização, coordenado por Paulo
Freire, do período anterior ao golpe,
pela Cruzada da Ação Básica Cristã
(Cruzada ABC), que tinha a concepção
e coordenação de grupos evangélicos
norte-americanos e que usava verbas
dos acordos MEC-USAID. Vinculando
a EJA à formação para o trabalho e a
formação moral.
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O Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL), criado em
1967 pelo governo federal perdurou
durante todo o período da ditadura
militar com significativa força política
e financeira. Desvinculado do MEC e
organizado através de comissões
municipais, responsáveis pela
execução direta das atividades, o
MOBRAL gozou de enorme
autonomia e pode ser analisado
como um instrumento de controle
ideológico das massas.
Em sua estrutura organizacional, apenas a produção do
material didático, a supervisão pedagógica e as suas diretrizes
orientadoras mantiveram-se centralizadas.
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Críticas quanto à atuação do
MOBRAL: a que fala da falsidade dos
resultados divulgados, seja em
relação à alfabetização, seja ao
impacto de outras formas de ação do
movimento, além da crítica sobre o
seu próprio sentido e objetivo.
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Diferenças entre as concepções alfabetizadoras e as
intencionalidades políticas existentes entre o MOBRAL e a
proposta teórico-metodológica de PAULO FREIRE. Embora o
Mobral buscou assemelhar-se às concepções freireanas na
técnica pedagógica e na forma do material didático, mas era
completamente esvaziado da ótica problematizadora e
conscientizadora da perspectiva freireana.
O MOBRAL organizou-se, a 
partir dos anos de 1970, em 
ação paralela ao ensino 
Supletivo do MEC. 
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O ENSINO SUPLETIVO foi regulamentado pela Lei nº
5692/71 e concebido dentro de uma visão sistêmica, que
compreendia quatro funções: suplência, suprimento
,aprendizagem e qualificação. Com essa regulamentação pela
primeira vez, foi organizado em um capítulo próprio,
diferenciando-o do ensino regular básico e secundário,
abordando, inclusive, a necessidade da formação de
professores especificamente para ele e trazendo avanços
significativos para o ensino de Jovens e Adultos.
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Apesar de ter sido elaborada no auge do período de ditadura civil-
militar, esse instrumento legal, contraditoriamente, representou a
ampliação, em nível legislativo, das oportunidades educacionais.
Foi assim, no interior de reformas
autoritárias e no ápice do processo
de modernização conservadora que o
ensino supletivo ganhou estatuto
próprio. Diante disso, vários estudos
consideram que, oferecendo o
Mobral e o Ensino Supletivo, os
militares buscaram reconstruir,
através da educação, sua mediação
com os setores populares.
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A política de rápido crescimento econômico iniciada pelo Governo
Geisel, começa a dar sinais de esgotamento no final dos anos 70 e
a partir dos primeiros anos dos 80, a economia brasileira conhece
momentos de estagnação.
Anos 80 – marcado pela crise do modelo desenvolvimentista a
nível econômico, tornando-se urgente uma nova estratégia de
sobrevivência para nossas elites.
2. Abordagem histórica da EJA no Brasil: os anos 80 e 90.
Se constata a desaceleração da industrialização e fim do
financiamento externo, a economia se converte em mero
“exportador de capitais e o principal agente interno condutor do
crescimento - o Estado – se torna deficitário” (BENJAMIM, 1998 p.28).
Portanto... Temos a falência do modelo autoritário de governo e 
sob o controle dos militares o Brasil entra num lento e gradual 
processo de transição para a democracia. 
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O processo de perpetuação de forças conservadoras
enquanto bloco do poder, no término da transição
democrática, se deu no cenário do “avanço neoliberal”,
onde, a partir da crise do modelo desenvolvimentista de
Estado, a burguesia brasileira se alinha ao projeto
neoliberal a nível mundial, procurando dar conta de dois
problemas: o primeiro, de se estruturar na crise do
capitalismo mundial do período, segundo, de perpetua-
se enquanto classe dominante e dirigente.
A globalização apresenta uma nova
divisão internacional do trabalho,
onde a circulação de mercadorias e a
mundialização da produção se
ampliam progressivamente a partir
do acirramento do processo de
internacionalização do capital.
Supremacia do capital financeiro
sobre os outros setores da economia,
exigindo reformas estruturais que
protejam a sua circulação mundial.
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Fundamentos da EJA e Educação Popular 
Fundamentos da EJA e Educação Popular 
Em consonância com o receituário neoliberal e
conservador a educação deveria passar por mudanças
significativas para se adaptar aos “novos” tempos, se tornando
um terreno fértil no processo de melhorarias econômico e social.
No campo educacional essa nova perspectiva vai ser sentida no
âmbito do esvaziamento das ações estatais na EJA. Nesse
contexto, o Mobral foi substituído pela Fundação Educar no ano
de 1985. Tal fundação teve um breve período, em conseqüência
de um modelo de gestão educacional caracterizado de
escaceamento de recursos e financiamento público para a
educação de jovens e adultos trabalhadores.
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Fundamentos da EJA e Educação Popular 
Neste sentido, como era de se esperar, o 
capítulo referente à educação na 
Constituição promulgada em 1988, 
significou um dos mais acirrados palcos 
de disputa na Constituinte. Congregados 
em diversas organizações do movimento 
social, sindical e científico, os defensores 
da escola pública e gratuita para todos, 
acreditavam ser aquele o momento de 
garantia de mudanças no sistema 
educacional brasileiro. 
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A Constituição de 1988 introduziu 
avanços consideráveis para a 
educação brasileira no que tange a 
EJA, principalmente no seu artigo 
208, que aponta “O dever do 
Estado com a educação será 
efetivado mediante a garantia de: I. 
ensino fundamental obrigatório e 
gratuito, assegurada inclusive sua 
oferta gratuita para todos os que a 
ele não tiveram acesso na idade 
própria” (Art. 208). 
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Fundamentos da EJA e Educação Popular 
O MOBRAL foi extinto em 1985, já no início da chamada Nova
República, transformado na Fundação Educar (1986-1990), em
muitos sentidos representou a continuidade do Mobral,
algumas mudanças significativas como a subordinação à
estrutura do MEC e sua transformação em órgão de fomento e
apoio técnico, ao invés de instituição de execução direta.
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Fundação Educar (1986-1990)Fundamentos da EJA e Educação Popular 
No governo Collor, nos anos de 1990, um novo sentido
das políticas para a EJA começa a se delinear: utilizando-se um
discurso que valorizava o combate ao analfabetismo, em resposta
ao Ano Internacional da Alfabetização, convocado pela UNESCO,
cria o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC)
que não teve nenhuma ação expressiva.
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O PNAC foi caracterizado por sua grande divulgação pelos meios de
comunicação e por seu caráter, tido como demagógico. Propunha a
criar ações de alfabetização, através de comissões municipais,
estaduais e nacional.
Na prática, as comissões criadas tiveram pouco ou nenhum controle
efetivo sobre os projetos apoiados e recursos distribuídos, causando
mais alarde do que ações concretas, morrendo antes mesmo do seu
efetivo nascimento, sem apoio financeiro e político tendo,
simplesmente sido esquecido.
Era um avanço legal a questão da garantia do financiamento
para os alunos Jovens e Adultos, porém, muitos desafios para
a implementação, pelos sistemas municipais e estaduais, de
uma efetiva política educacional para esse público ainda
estavam a ser concretizados nos anos de 2000.
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