Grátis
482 pág.

Produtos naturais bioativos
Denunciar
Pré-visualização | Página 2 de 50
no desenvolvimento da indústria farma- cêutica. A morfina é considerada um marcador de tempo dos PNB, uma vez que, subsequente à elucidação de sua estrutura molecular, teve sua síntese orgânica proposta e é utilizada como medicamento até os dias de hoje. A partir do isolamento e da caracterização da morfina, deu-se início a uma nova era, na qual os estudos químicos e farmacológicos com produtos naturais se expandiram. Após a Segunda Guerra Mundial, o interesse pelos produtos naturais bioativos voltou-se também para os estudos de micro- -organismos, sobretudo depois da descoberta da penicilina. A partir desse advento, em ciclo evolutivo até 2012, 66% dos medicamentos aprovados eram produtos naturais ou análogos inspirados nos mesmos. Essa incrível resposta da natureza está intrinsecamente relacionada à vasta diversidade estrutural, produzida por diferentes matrizes naturais e traduzi- da em mais de duzentos mil produtos naturais conhecidos e alicerçados em quase seis mil esqueletos carbônicos que ornamentam o meio ambiente. Essa variedade desperta interesse de diferentes áreas do conhecimento e propicia o exercício da interdisciplinaridade na busca de novas alternativas e terapias na cura de doenças. O acesso aos produtos naturais tornou-se realidade com a evolução da síntese orgânica, da química medicinal e dos conceitos de biotransformação, que incrementam a quantidade de moléculas-alvo e/ou a busca por novos modelos de fármacos inspirados nos PNB. Esta obra procura integrar esses conceitos relevantes da área de PNB em perspectiva interdisciplinar. No capítulo 1, com conceitos sobre estudos de anatomia vegetal e ênfase em estruturas secretoras de plantas com potencial medicinal e farmacológico, Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 8Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 8 18/11/2016 23:02:3218/11/2016 23:02:32 PRODUTOS NATURAIS BIOATIVOS 9 os autores esclarecem a morfologia estrutural da glândula, o período da ocor- rência da secreção e a melhor época de colheita para extração. O capítulo 2 insere dados relevantes sobre a botânica, a fitoquímica, o cultivo e o melhoramento genético de Lippia alba (Mill.) N.E.Br – Verbena- ceae. Os autores procuram suprir a falta de informações sobre a espécie em questão, apresentando estudos de variabilidade genética vinculada às análi- ses de perfil fitoquímico, bem como de outros aspectos, como morfologia, biologia reprodutiva, pragas, doenças e, sobretudo, melhoramento genético. No capítulo 3, dando prosseguimento à fitoquímica de espécies vegetais, é apresentado o estudo completo de Maytenus ilicifolia (Celastraceae). Os au- tores discutem dados relevantes sobre ensaios biológicos de extratos, frações e substâncias estudados pelo grupo de pesquisa, evidenciando a razão dessa espécie vegetal ser consagrada como espinheira-santa. Na sequência, o capítulo 4 traz um panorama sobre o polêmico assunto de doenças negligenciáveis. Introduz aspectos clínicos, epidemiológicos e de controle de leishmanioses e doença de Chagas, enfatizando as dificuldades terapêuticas para controle dessas parasitoses. São discutidas estratégias e descobertas de novos compostos de origem natural com atividade antipro- tozoária e apresentadas vias metabólicas importantes desses parasitos para identificação de novos alvos terapêuticos. Outra ferramenta utilizada e empregada na área de Produtos Naturais é a biocatálise. No capítulo 5, são discutidos como os sistemas enzimáticos são capazes de realizar transformações químicas sem precedentes dentro da química orgânica e produzir moléculas bioativas complexas e que não seriam facilmente obtidas pela síntese orgânica tradicional. Duas grandes classes de produtos naturais foram selecionadas para essa discussão: os flavonoides e os terpenoides. No capítulo 6, são apresentados os resultados de pesquisas realizadas até o momento com as várias plantas que apresentaram atividade moluscicida, subdivididas conforme a espécie vegetal e o molusco-alvo, com a intenção de sistematizar o conhecimento e favorecer o desenvolvimento de novas abordagens. Não poderíamos deixar de apresentar o estudo com fungos endofíticos. O estudo desses micro-organismos vem crescendo consideravelmente em todo o mundo e, no Brasil, ocupa também uma posição de destaque. O capítulo Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 9Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 9 18/11/2016 23:02:3218/11/2016 23:02:32 10 LOURDES CAMPANER DOS SANTOS • MAYSA FURLAN • MARCELO R. DE AMORIM (ORGS.) 7 contempla pesquisa de fungos endofiticos associados a várias espécies que forneceram compostos bioativos. O capítulo 8 aborda a importância das plantas medicinais na busca de protótipos de fármacos antifúngicos como alternativa futura às drogas con- vencionais. Ilustra, ainda, um breve panorama da pesquisa no Laboratório de Micologia Clínica e Núcleo de Proteômica do campus de Araraquara da Unesp, apresentando um estudo retrospectivo de substâncias naturais bio- prospectadas, no período de julho de 2005 a junho de 2010, frente a patóge- nos fúngicos de elevada importância epidemiológica. Os dados apresentados contribuem para o desenvolvimento tecnológico nacional, uma vez que en- volvem aspectos inerentes à inovação farmacêutica, no desenvolvimento de um novo fitofármaco ou de um fármaco sintético. A área da química medicinal também foi contemplada nesta edição. O ca- pítulo 9 destaca alguns exemplos de Produtos Naturais Bioativos, destacan- do algumas de suas subunidades estruturais fundamentais para construção de novos compostos bioativos e de seus respectivos derivados, que oferecem ou podem oferecer tratamento ou alívio de sintomas de algumas doenças. No capítulo 10, os autores apresentam atividades biológicas passíveis de serem apresentadas por compostos naturais bioativos, além de mostrar métodos in vivo e in vitro para avaliação de segurança dos fitocosméticos, enfatizando e enfocando a tendência atual da cosmetologia na obtenção de ativos realmente seguros e eficazes na diminuição dos sinais de envelheci- mento cutâneo intrínseco e na prevenção de patologias e efeitos inestéticos causados à pele pelo ambiente e pelo tempo. Acreditamos que a seleção dos conteúdos aqui reunidos possam fornecer aos leitores informações atuais, relevantes e de grande interesse sobre a área de Produtos Naturais Bioativos no Brasil. Lourdes Campaner dos Santos Maysa Furlan Marcelo Rodrigues de Amorim (Orgs.) Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 10Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 10 18/11/2016 23:02:3218/11/2016 23:02:32 1 Estudos da anatomia vegetal com ênfase em estruturas secretoras de plantas com potencial medicinal e farmacológico Maria Bernadete Gonçalves Martins Selma Dzimidas Rodrigues Introdução As espécies vegetais contendo substâncias bioativas têm cada vez mais se tornado objeto de pesquisas, na busca de tratamentos terapêuticos al- ternativos ou de substâncias que, em momento posterior, possam ser ex- ploradas na produção de fármacos, cosméticos e agroquímicos (Fabricant; Farnsworth, 2001). O estudo de plantas medicinais apresenta várias áreas de pesquisa e, cada vez mais, tem atraído a atenção de botânicos, farmacêuticos e biotec- nologistas. Estudos multidisciplinares complementares também são muito importantes dado o vasto número de metabólitos secundários que podem ser encontrados em plantas (Victório, 2011). No Brasil, 20% da população consome 63% de medicamentos alopáticos. O restante encontra nos produtos de origem natural, especialmente nas plantas, uma fonte alternativa de medicação. Dentre os fatores que têm contribuído para o aumento nas pesquisas, está a comprovada eficácia de substâncias originadas de espécies vegetais, como os alcaloides da vinca, que apresentam atividade antileucêmica, ou