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Ministério da Educação Instituto Federal de Goiás Campus Goiânia Departamento de Áreas Acadêmicas I Data: 10/10/2019 Tópicos Especiais em História Medieval Profª: Mariana Romero Acadêmica: Thalia da Costa Carvalho DUBY, Georges. As atitudes mentais. In: Guerreiros e camponeses. Lisboa: Editorial Estampa, 1980, p. 61-86. Georges Michael Claude André Duby, mais conhecido apenas como Georges Duby, foi um importante historiador francês. Nascido em 7 de outubro de 1919, iniciou sua carreira universitária em Lyon em 1949 e logo se tornou professor na Universidade de Bonançoso e também em Aix-en-Provence e Collégede France. Membro da Academia Francesa, foi um especialista em História Medieval, lançou mais de 70 livros e coordenou coleções importantes, como a História da Vida Privada. As suas obras mais importantes foram: Economia Rural e Vida no Campo no Ocidente Medieval (1962); A construção do Ocidente Cristão (1966-1967); Guerreiros e Camponeses: os primórdios do crescimento econômico europeu séc. VII-XII (1973); Arte e Sociedade na Idade Média (1977); As Três Ordens ou o imaginário do Feudalismo (1978); Idade Média, Idade dos Homens (1983); História das Mulheres no Ocidente (1990); Amor e Sexualidade no Ocidente: e história contínua (1993), entre outros. Na obra Guerreiros e Camponeses: os primórdios do crescimento econômico europeu séc. VII-XII (1973), no marco do terceiro capítulo intitulado As atitudes mentais, Duby analisa em como a mentalidade e os comportamentos podem ser considerados decisivos para a compreensão dos fatores de produção, das transferências de riquezas e do exercício de poder nos diversos níveis sociais. Duby menciona duas características de mentalidades e comportamentos: Primeiro é o hábito de pilhar e da necessidade de oferecer em que ele explica a existência de uma intensa circulação de ofertas e oferendas que garantiam uma de riqueza entre os povos da idade média. Em segundo, Duby enfatiza a fascinação pela recordação da civilização antiga e a necessidade de utilizá-la o quanto possível. No subtítulo Tirar, oferecer e consagrar, o primeiro aspecto das atitudes mentais, Duby busca explicitar em como a sociedade medieval é marcada por uma mentalidade que ele explica como “generosidade necessária”. Para ele, a circulação de riquezas realizadas a partir de trocas não se tratava de uma questão de comércio. A expansão do comércio na Europa Medieval ocorreu de forma gradual e incompleta numa economia de pilhagem, ofertas e generosidades entre reinos, ou entre reino e igreja, ou também entre reinos francos e reinos bárbaros em que ocorriam trocas de riquezas como forma de comprar a paz. Já no subtítulo O fascínio pelos modelos clássicos, o segundo aspecto das atitudes mentais, Duby enfatiza a aspiração em viver ao estilo romano. Apesar do mundo medieval ter se ruralizado, ainda os povos se familiarizavam com o legado de Roma, principalmente o da cultura material, das trocas de riquezas e do uso de moedas. Neste sentido, a tese levantada pelo autor é: “para definirmos com rigor a verdadeira função do comércio na economia desta época e discernirmos as profundas repercussões da transferência de riqueza, temos ainda de fazer a análise das atitudes mentais." (p. 61) Visto isso, o autor traz uma diversidade de fontes e referências como argumentos para dar sustentação à sua tese. “P. Grierson chama a atenção para o estipulado nas leis de Ine, rei de Wessex, que chama a atenção para as seguintes distinções a fazer entre os agressores: se são menos de sete, são simplesmente ladrões; se são mais numerosos, constituem um bando de malfeitores; mas se forem mais de trinta e cinco, podem bem ser tomados por um exército!” (p.62 ) “um cronista árabe, Ibn Rustah, dizia: São senhores dos Eslavos, que são seus vizinhos e impõem-lhes um pesado tributo; os Eslavos estão à sua mercê, como prisioneiros» Por fim, quando se celebrava a paz entre tribos de igual força, era prudente conservá-la com troca de ofertas, sinais essenciais Pos da sua durabilidade. Para o autor de Beowulf, a “paz” parece não ter sido senão a possibilidade dos povos trocarem ofertas! A política arriscada de sortidas alternadas estava a ser substituída por uma série regular de ofertas mútuas”. (p.63) “Nas economias... que precederam a nossa, não podemos nunca postular (por assim dizer) simples trocas de bens, riquezas e produtos através do comércio entre indivíduos. Em primeiro lugar, não é uma questão de indivíduos, mas de grupos de pessoas que tinham obrigações mútuas, que fizeram trocas e celebraram contratos... E, para além disso, o que trocavam não era apenas bens materiais e riquezas, imóveis ou imóveis, coisas de utilidade económica; eram, em primeiro lugar, favores, festas, actos rituais, serviços militares, mulheres, crianças, danças, festividades e feiras onde o comércio era unicamente uma faceta... Por fim, estes favores e sua contrapartida eram sublinhados pela oferta de prendas duma forma mais ou menos voluntária, embora em princípio fossem estritamente obrigatórias, sob pena de guerra privada ou geral” (p. 63- 64) “Quando Chilperico, rei dos Francos, entregou a sua filha, noiva do rei dos Godos, ao embaixador deste último, em 584, a rainha Fredegunda deu «uma enorme quantidade de ouro, prata e tecido» enquanto os nobres francos ofereciam ouro, prata, cavalos e adornos.” (p. 64). “Gregório de Tours os medalhões que lhe tinham sido oferecidos pelo imperador Tibério II e um grande prato de ouro puro, decorado com pedras preciosas, o rei Chilperico disse: «Eu fiz isto para fazer brilhar mais a glória da Nação franca, e se Deus me der vida farei ainda mais.» Assim, sobre todo o povo se reflectia a glória do tesouro amontoado junto do seu rei”. (p. 65) “Os tabus protegiam-nas das pilhagens ainda chega até nós o eco do terror que se apoderou de toda a cristandade quando os Vikings, ainda pagãos, violaram estas proscrições e roubaram ouro e prata das sacristias dos mosteiros”. (p.68 ) “Consideremos, por exemplo, o tráfico de chumbo durante o século IX, através da Gália, que o não produzia e o importava das Ilhas Britânicas. Para fazer a cobertura duma capela lateral na sua abadia em Seligenstadt, Einhard tinha de pagar uma grande soma para comprar o necessário. Mas Lupus, abade de Ferrières, perto de Orléans, escreveu ao rei de Mérpour cia pedindo-lhe que lhe mandasse uma certa quantidade de chumbo, prometendo preces em troca. Através da generosidade O dade de Carlos Magno, o Papa Adriano adquiriu mil libras de chumbo, que os oficiais da corte transportaram até Roma nabu J. suabagagem, em cargas de cem libras. Nesta transação não om há um único mercador envolvido, nem foi feito qualquer pagamento”. (p.69-70) “No fim do século VI, o poeta Fortunatus louvava o duque Leunebold («este homem de origem "bárbara"») por ter construído uma igreja «e ter conseguido o que nenhum "romano" ousara».” (p.) “Uma cerca flanqueada por trinta torres rodeia a montanha, um edifício ergue-se num local coberto ainda há pouco por floresta; a muralha estende as suas alas e desce até ao fundo do vale; e junta-se ao Mosela cujas águas fecham a propriedade desse lado. No topo do alto rochedo foi construido um magnífico palácio como uma segunda colina encimando a primeira. As suas paredes rodeiam uma área enorme e a própria casa constitui uma verdadeira fortaleza. Colunas de mármore sustentam a estrutura imponente; do topo, no Verão, podemos ver os barcos deslizando na superfície do rio; temtrès andares e, quando se chega ao topo, o edifício parece fazer sombra sobre os campos jazendo aos seus pés. Atorre, dominando o caminho até ao portão, contém uma capela dedicada aos santos, além das armas para o uso dos guerreiros. Aí, um engenho de guerra, ainda se ergue lançando projecteis a grande velocidade, espalhando a morte até perder-se de vista. A água é canalizada em condutas que contornam a montanha; o moinho que ela faz girar mói os cereais utilizados para alimentar os habitantes do distrito. Nestas encostas, antigamente estéreis, Nicetius plantou vinhas sumarentas e agora as verdes parras vestem a grande rocha que outrora estava coberta unicamente de mato.Aqui e ali, pomares de árvores de frutos enchem o ar com o perfume das suas flores».” (p.72 ) “o testemunho deixado por Richer, um monge de S. Rémi de Reims que partiu em viagem até Chartres, chama a atenção para a profunda delapidação que tinha atingido a rede de estradas: «apanhado com os meus dois companheiros num labirinto de atalhos florestais, ficamos expostos a toda a espécie de azares. Enganados por um desvio na estrada, andaremos mais seis léguas do que era necessário». A seis milhas de Meaux, o cavalo de carga morreu e a narrativa continua: (p. 72-73) «Deixei o criado ali, com a nossa bagagem, após ter--lhe ensinado o que deveria dizer a quem passasse e cheguei a Meaux. A luz do dia mal me permitia ver a ponte que atravessava e quando a examinei mais de perto verifiquei que tinha encontrado novas calamidades... Depois de ter olhado em todas as direcções à procura dum barco sem conseguir ver nenhum, o meu companheiro voltou ao local perigoso de travessia da ponte e rogou a Deus que os cavalos pudessem passar em segurança. Onde havia buracos, por vezes colocava o escudo por baixo dos seus cascos, outras vezes juntava as pranchas que se tinham afastado; ora baixando-se, ora de pé; ora andando em frente, ora voltando para trás, conseguiu passar a ponte com os cavalos, e eu segui-o». (p. 73 ) “o transporte terrestre em carros, no entanto, nunca cessou. De acordo com um registo feito em St. Denis antes de 732, este método era ainda considerado normal. Este documento diz respeito a uma decisão real, garantindo dispensa de impostos às mercadorias destinadas as casas religiosas:” (p.73 ) “Nós concedemos-lhe este favor: que os seus agentes que fazem comércio ou viajam por qualquer outro motivo não pagarão portagem ou qualquer outro imposto ao nosso fiscus, sobre um certo número de carros por ano, no seu caminho para Marselha ou outros portos do nosso reino para comprar o necessário para a iluminação (isto é, azeite). Portanto ...não pedireis nem exigireis portagem a um certo número de carros deste bispo, em Marselha, Toulon, Fos, Arles, Avignon, Valence, Vienne, Lyon, Chalon e outras cidades ou distritos, onde quer que sejam exigidas no nosso reino, seja por razão de frete por barco ou carro nas estradas ou nas pontes, seja por causa do pó que levantam, a segurança que pedem ou as forragens que consomem.» a mais antiga cunhagem deve ser nos inicios do século VII, mas durante muito tempo esta actividade foi muito restrita: o tesouro de Sutton Hoo, que os arqueólogos crêem ter sido enterrado cerca de 625 ou 655, não contém mais de trinta e sete moedas, todas elas francas.” (p.73) “Nos documentos que registam vendas, os preços são expressos em valor monetário mas, a todos os níveis da sociedade, o comprador é visto, a maior parte das vezes, a fazer o pagamento entregando objetos seus cobiçados pelo vendedor.” (p.77) “O preço é fixado em 53 libras de ouro, prata e cavalos»: esta formula do Nordeste da Gália e datada de 739 é muito reveladora. E ainda mais espantoso ver um proprietário italiano vender uma parcela de terra avaliada em um solidus, em 760, e aceitar uma peça de toucinho como metade do preço, e seis modii de painço como resto do pagamento” (p.77)
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