Buscar

Civil - Responsabilidade civil

Prévia do material em texto

DIREITO CIVIL
 PARTE ESPECIAL 
Prof. Veridiana Rehbein
 
 
SUMÁRIO 
DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................................... 2 
1. CONCEITUALIZAÇÃO ................................................................................... 2 
2. PRESSUPOSTOS.......................................................................................... 2 
3. CULPA ........................................................................................................... 4 
4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA ................................................................. 6 
5. DANO ............................................................................................................. 7 
6. NEXO DE CAUSALIDADE ............................................................................ 9 
7. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE ........................................................ 13 
8. MENSURAÇÃO DOS DANOS .................................................................... 13 
9. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REPARAÇÃO CIVIL..................................... 14 
10. LEGITIMIDADE PASSIVA PARA A REPARAÇÃO CIVIL ............................ 15 
11. REPARAÇÃO POR FATO DE TERCEIRO .................................................. 15 
12. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE GUARDA OU 
PROPRIEDADE ........................................................................................................ 16 
13. A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE CIVIL E A 
RESPONSABILIDADE CRIMINAL 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
A responsabilidade civil está em constante evolução em razão de 
vincular-se, necessariamente, ao modo de viver de cada tempo histórico. 
Diferentes produtos, serviços, práticas e comportamentos são capazes de 
gerar danos em novas circunstâncias. Busca a responsabilização civil o 
equilíbrio das relações jurídicas, conferindo certeza à reparabilidade do dano 
injusto. 
A responsabilidade civil se estabelece “a partir da relação entre um 
dever jurídico originário, decorrente de previsão normativa genérica ou 
específica, e um dever jurídico sucessivo, relativamente à consequência 
imputada ao agente que viola o primeiro dever” (MIRAGEM, 2015). 
 
1. CONCEITUALIZAÇÃO 
 
Entende-se por responsabilidade civil o dever de reparação dos danos 
causados a terceiro por pessoa, por quem a pessoa responde, por fato de 
coisa ou animal sob sua guarda, ou por imposição legal. 
Nesse passo, é possível estabelecer a responsabilidade civil como 
consequência dos danos causados em decorrência de culpa (ato ilícito em 
sentido estrito) ou por determinação legal (responsabilidade objetiva). 
 
O objetivo da relação obrigacional de responsabilidade civil será 
sempre o dever de indenizar, aí entendido o dever de responder com 
seu patrimônio pela reparação da vítima do dano ao qual se lhe 
imputa responsável. (MIRAGEM, 2015) 
 
2. PRESSUPOSTOS 
Não existe um consenso doutrinário sobre a identificação precisa e/ou 
denominação dos elementos ou pressupostos da responsabilidade civil. No 
entanto, é inquestionável para qualquer teoria doutrinária que a 
responsabilidade civil não prescinde de dano, nexo de causalidade e 
ato/fato/atividade relacionado(a) ao causador ou responsável. Doutrinadores 
 
 
contemporâneos, mais atentos a crescente incidência de atividades de risco e 
da consequente ampliação da responsabilização objetiva, inserem o requisito 
culpa como elemento apenas da responsabilidade subjetiva. 
Assim, são pressupostos da responsabilidade subjetiva: 
• Dano, que pode ser material ou moral (individual ou coletivo); estético 
e aquele decorrente da perda de uma chance. 
• Ato Ilícito/lesivo 
• Nexo de causalidade 
• Culpabilidade 
 
São pressupostos da responsabilidade objetiva: 
 
• Dano, que pode ser material ou moral (individual ou coletivo); estético 
e aquele decorrente da perda de uma chance. 
• Ato (atividade) Ilícito/lesivo 
• Nexo de causalidade 
 
 A partir de tais pressupostos podemos definir como ato ilícito em 
sentido amplo aquele contrário à lei ou ao direito (causar dano injusto a outra 
pessoa); já o dano é o prejuízo (moral ou material – coletivo ou individual, 
estético ou a perda de uma chance) experimentado pela vítima; nexo de 
causalidade é o vínculo lógico entre determinada conduta antijurídica do agente 
e o dano experimentado pela vítima; por fim, a culpabilidade é um juízo de 
censura à conduta do agente, de reprovabilidade pelo direito, decorrente de 
dolo, negligência, imprudência ou imperícia. 
A responsabilização objetiva tem os mesmos pressupostos, exceto a 
culpabilidade. Diz-se que a responsabilidade objetiva se dá 
independentemente de culpa. 
O artigo 927 disciplina as duas espécies de responsabilidade civil, no 
caput a responsabilidade subjetiva e no parágrafo único a responsabilidade 
objetiva: 
 
 
 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou 
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
O ato ilícito em sentido estrito, que irá fundamentar a responsabilidade 
subjetiva, encontra-se definido no art. 186 do CC: 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
 
O artigo 187 dispõe sobre o abuso de direito: 
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao 
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
O artigo 188 afasta a ilicitude do ato em algumas circunstâncias. Alguns 
autores denominam “causas de justificação” outros excludentes de 
antijuridicidade. 
 
Art. 188. Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um 
direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, 
a fim de remover perigo iminente. 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente 
quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não 
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. 
 
Atenção: independentemente da excludente de ilicitude, o dano 
causado em estado de necessidade (inciso II) pode gerar o dever de indenizar 
(artigos 929 e 930). 
 
 
3. CULPA (pressuposto da responsabilidade subjetiva) 
 
Lembre-se que no Direito Civil a culpa é apreciada em sentido amplo, 
compreende o dolo e a culpa em sentido estrito. 
 
 
O conceito de culpa está, de modo objetivo, delineado pelo art. 186 do 
CC, mas sua compreensão é ampliada por entendimentos doutrinários e 
jurisprudenciais. 
Nesse passo, podemos estabelecer que a culpa, para a reparação civil 
(frente à responsabilidade contratual: perdas e danos) envolve a ação ou 
omissão que viola direito ou causa prejuízo a outrem. 
 
A culpa pode empenhar ação ou omissão e revela-se através: 
da imprudência (comportamento açodado, precipitado, apressado, 
exagerado ou excessivo); da negligência (quando o agente se omite 
deixa de agir quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras 
subministradas pelo bom senso, que recomendam cuidado, atenção e 
zelo); e da imperícia (a atuação profissional sem o necessário 
conhecimento técnico ou científico que desqualifica o resultado e 
conduz ao dano). (STOCO, 2015). 
 
A doutrina tradicional empenhava-se em identificar diferentes espécies 
de culpa: 
 
a) culpain committendo procedendo: trata-se da culpa por erro de 
procedimento, ou seja, por ação equivocada atribuída ao próprio agente, 
gerando-se o dever de indenizar. Exemplo: pessoa que causa, sem intenção, 
lesão com faca em outrem. 
b) culpa in elegendo: culpa decorrente da ‘eleição’ equivocada, ou por 
decorrência da indicação ou nomeação de alguém para realizar algo, ou utilizar 
bem, do agente, gerando-lhe o dever de indenizar. Exemplo: responsabilidade 
do dono de veículo que o entrega à terceiro, que vem a causar acidente. 
c) culpa in vigilando: situação em que o agente é responsável por falha 
na vigilância que deveria ter. 
Embora a FGV possa questionar a respeito dessa divisão clássica da 
culpa em modalidades, é importante que o avaliando observe sempre a 
legislação, pois diversas situações que antes eram consideradas culpa nas 
modalidades “in elegendo” e “in vigilando” hoje configuram-se responsabilidade 
objetiva, como, por exemplo, a responsabilidade do empregador por atos dos 
empregados e aquela pela guarda da coisa. 
 
 
 
4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
 
Trata-se da responsabilidade civil decorrente de determinação legal, seja 
pela natureza da atividade desenvolvida pelo agente, seja pelo risco de tal 
atividade, ou pela natureza da relação jurídica. 
 
Na moderna sociedade de riscos a que se refere Ulrich Beck, o 
desenvolvimento traz consigo, de modo subjacente, riscos 
decorrentes do progresso técnico-econômico, a fomentar situações 
sociais de ameaça caracterizadas por danos que cedo ou tarde 
podem atingir todos, independentemente de classe social, e inclusive 
aqueles que, em um primeiro momento, obtiveram ganhos deste 
progresso. Isso implica a criação de contínuos processos de 
distribuição destes mesmos riscos, segundo critérios afirmados pelo 
Direito, especialmente firmados sobre a noção de ganho decorrente 
da geração do risco, ou ainda, sua diluição conforme a maior aptidão 
para internalização dos custos e sua distribuição à sociedade. Eis 
aqui a justificativa das variadas hipóteses de responsabilidade 
objetiva, em que não se exige a demonstração de culpa para a 
imputação do dever de indenizar, uma vez que a causalidade se 
atribui, em termos abstratos, a determinada atividade, cujo 
responsável, por sua posição, será chamado a responder pelos 
danos que porventura dela decorrerem. (MIRAGEM, 2015, p.38). 
 
Quanto à natureza da atividade, veja-se que o art. 927, parágrafo único, 
do CC, estabelece a responsabilidade objetiva em situações específicas 
(quando a lei determinar ou quando a atividade desenvolvida implicar em 
riscos). Como exemplo material de tal situação, temos o contrato de transporte 
de pessoas e coisas, em que a responsabilidade pela reparação civil ocorre 
independentemente de culpa do transportador. 
Quanto ao risco da atividade, vemos o exemplo das atividades 
bancárias, que, por sua natureza, implicam em riscos à segurança do usuário 
dos serviços, o que implica em responsabilização objetiva. 
Por fim, quanto à natureza da relação jurídica, citamos como típico 
exemplo a responsabilidade desencadeada pelas relações de consumo, onde o 
fornecedor possui responsabilidade objetiva quanto aos produtos e serviços 
dispostos ao consumo (teoria do risco proveito). 
Lembre-se que na responsabilidade objetiva não há necessidade de 
comprovação de culpa e, quando tratar-se de risco integral, por vezes nem o 
 
 
caso fortuito e a força maior são capazes de afastá-la (como nos casos de 
danos ao meio ambiente e do seguro obrigatório de veículos automotores). 
 
Exemplos de responsabilidade objetiva (independentemente de culpa): 
 
• A responsabilidade civil nas relações de consumo é, em regra, 
objetiva, a única exceção é aquela dos profissionais liberais (art. 14, 
§4º, CDC); 
• A responsabilidade civil decorrente de abuso de direito (art. 187) 
independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-
finalístico (Enunciado 37 da Jornada de Direito Civil e entendimento 
prevalente da doutrina); 
• Responsabilidade da pessoa que agiu em estado de necessidade 
(artigos 929 e 930); 
• Responsabilidade por fato de terceiro (artigos 932 e 933); 
• Responsabilidade pelo fato do animal (art. 936); 
• Responsabilidade pela ruína de edifício ou construção (art. 937); 
• Responsabilidade do habitante de prédio por coisas que dele caírem 
ou forem lançadas (art. 938) 
 
5. DANO 
 
O dano recebe outras denominações e o examinando precisa ficar 
atento, muitas vezes a lei menciona perdas e danos ou prejuízos reparáveis, 
por exemplo. Corresponde aos prejuízos experimentados pela vítima. 
Inicialmente dividia-se apenas em danos morais (extrapatrimoniais) e materiais 
(patrimoniais). Atualmente, por força da súmula 387 do STJ (é lícita a 
cumulação das indenizações de dano estético e dano moral), o direito brasileiro 
admite uma terceira categoria, a dos danos denominados estéticos. Por fim e 
mais recentemente, a admissão da reparabilidade da perda de uma chance 
que, conforme enunciado 444 da V Jornada de Direito Civil do CJF, “não se 
limita à categoria de danos extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias 
 
 
do caso concreto, a chance perdida pode apresentar também a natureza 
jurídica de dano patrimonial”, ou seja, por não se enquadrar especificamente 
em danos materiais ou morais (nem estéticos), pode ser considerada uma 
quarta modalidade de dano. 
Em relação ao público atingido (vítimas) o dano pode ser individual 
(experimentado pela pessoa, tanto moral como material); ou coletivo, que 
atinge uma coletividade de pessoas (como aquele causado ao meio ambiente, 
direitos sociais, relações de consumo, etc.). 
O dano material desdobra-se em dano positivo ou emergente, que 
corresponde ao prejuízo já sofrido, ou seja, à redução já experimentada na 
riqueza da vítima (como por exemplo as despesas médicas ocorridas para 
tratamento de vítima de atropelamento); Em segundo lugar há os danos 
negativos ou lucro cessante, que corresponde aos valores que, a despeito de 
eventual dispêndio, não foram auferidos pela vítima em razão do evento 
danoso. É o que ocorre, por exemplo, nos lucros que a vítima deixa de auferir, 
ou o negócio que deixa de realizar, ou mesmo a renda que deixa de ter. 
 
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as 
perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele 
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. 
 
Dano moral da pessoa jurídica 
 
O art. 52 do CC determina que às pessoas jurídicas aplica-se, no que 
couber, a proteção aos direitos da personalidade. Não obstante o conteúdo do 
artigo, muito se discutiu sobre a possibilidade de as pessoas jurídicas sofrerem 
danos morais, ao ponto de a IV Jornada de Direito Civil emitir o enunciado 286 
com o seguinte teor: “os direitos da personalidade são direitos inerentes e 
essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as 
pessoas jurídicas titulares de tais direitos”. 
Contudo, o entendimento do enunciado acabou por se modificar e a 
jurisprudência majoritária brasileira entende que a pessoa jurídica é passível de 
sofrer danos morais, especialmente em relação a sua honra objetiva, que 
 
 
compreende sua reputação, seu bom nome e sua fama perante a sociedade e 
o meio profissional. Neste sentido a súmula 227 do STJ: 
 
Súmula 227 - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
 
Dano moral presumido (in re ipsa) 
 
Em algumas situações, a jurisprudência consolidada dos tribunais 
superiores considera que não há necessidade de prova do dano moral, que ele 
decorre da gravidade do evento danoso. Como no caso de lesão física grave, 
cadastramentoindevido em órgãos de inadimplentes e nas situações abaixo: 
 
Súmula 370 - Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de 
cheque pré-datado. 
Súmula 388 - A simples devolução indevida de cheque caracteriza 
dano moral. 
Súmula 403 - Independe de prova do prejuízo a indenização pela 
publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins 
econômicos ou comerciais. 
 
6. NEXO DE CAUSALIDADE 
 
Refere-se à vinculação ou liame jurídico que liga o fato aos danos 
experimentados e gera a responsabilidade do agente. 
O nexo de causalidade é afastado (integral ou parcialmente) por ocasião 
de: 
 
a) culpa/fato exclusivo da vítima: quando a vítima fora a causadora do 
fato ou dos danos; 
 
b) culpa/fato concorrente: estabelece responsabilidade conjunta ou 
partida entre o agente e a vítima, eis que houve contribuição de ambos para a 
persecução do fato e danos experimentados, sendo apurada a 
responsabilidade de acordo com a contribuição de cada parte para o evento. 
Aqui não há o rompimento do nexo de causalidade, mas responsabilidade 
conjunta; 
 
 
 
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento 
danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade 
de sua culpa em confronto com a do autor do dano. 
 
Observe-se, contudo, que embora o artigo faça referência à 
“culposamente”, o fato exclusivo (causa exclusiva) também afasta a 
responsabilidade objetiva. 
 
c) culpa/fato de terceiro: situações em que a culpa/fato decorre de terceiro. 
Da mesma forma que na culpa concorrente da vítima, deve ser observado se o 
terceiro foi o único responsável ou se ele apenas contribuiu para o resultado 
(neste último caso a responsabilidade é compartilhada). Também devem ser 
observadas às exceções a essa excludente, como no caso do transporte de 
passageiros (artigo 735 do CC); 
 
d) caso fortuito ou força maior: evento alheio às partes, decorrente de fato 
imprevisível ou inevitável, afastando a responsabilidade pela reparação (salvo 
exceções). 
A previsão do caso fortuito e da força maior como eventos que rompem 
o nexo de causalidade se dá expressamente pelo art. 393 do CC, que 
estabelece: 
 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso 
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles 
responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato 
necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. 
 
Em relação ao caso fortuito, é importante observar que na 
responsabilidade objetiva, eventos inerentes à atividade configuram caso 
fortuito interno e não afastam o dever de indenizar. 
 
Diz-se, assim, caso fortuito interno porque o risco representado pelo 
fato é inerente, interno à conduta ou à atividade do agente, de modo 
que deve responder quando dele decorra o dano. Distingue-se, nesse 
particular, do caso fortuito externo (ou força maior), em que o dano 
decorre de causa completamente estranha à conduta do agente 
(MIRAGEM, 2015, p. 247). 
 
 
 
Veja o exemplo de entendimento sumulado: 
 
Súmula 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente 
pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos 
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. 
 
Para a identificação do nexo de causalidade são utilizadas algumas 
teorias. Também não há consenso doutrinário sobre sua nomenclatura e 
classificação. 
 
a) Teoria da equivalência das condições ou do histórico dos 
antecedentes (sine qua non) – todos os fatos relativos ao evento 
danoso geram a responsabilidade civil. Segundo Tepedino, 
“considera-se, assim, que o dano não teria ocorrido se não fosse a 
presença de cada uma das condições que, na hipótese concreta, 
foram identificadas precedentemente ao resultado danoso” 
(TEPEDINO, Gustavo. Notas..., 2006, p. 67). Essa teoria, não 
adotada no Brasil, tem o grande inconveniente de ampliar em muito o 
nexo de causalidade, até o infinito. 
b) Teoria da causalidade adequada – teoria desenvolvida por Von 
Kries, pela qual se deve identificar, na presença de uma possível 
causa, aquela que, de forma potencial, gerou o evento dano. Na 
interpretação deste autor, por esta teoria, somente o fato relevante ou 
causa necessária para o evento danoso gera a responsabilidade civil, 
devendo a indenização ser adequada aos fatos que a envolvem. 
c) Teoria do dano direto e imediato ou teoria da interrupção do nexo 
causal – havendo violação do direito por parte do credor ou do 
terceiro, haverá interrupção do nexo causal com a consequente 
irresponsabilidade do suposto agente. Desse modo, somente devem 
ser reparados os danos que decorrem como efeitos necessários da 
conduta do agente. (TARTUCE, 2017). 
 
Bruno Miragem e Flavio Tartuce afirmam que a doutrina brasileira se 
divide entre a teoria da causalidade adequada e a do dano direto e imediato, 
mas ao analisar-se os fundamentos na aplicação das duas teorias, percebe-se 
que em ambas o julgador menciona a interrupção do nexo causal como 
fundamento da exclusão da responsabilidade. 
 
Nesse sentido, é didática a expressão “dano direto e imediato” para 
identificar que todas as causas que venham a se realizar depois da 
conduta do autor, e que venham a aumentar a extensão ou a 
gravidade do dano, quando não ligadas imediatamente a este autor, 
não serão de sua responsabilidade, senão daquele que deu causa à 
sua ocorrência. (MIRAGEM, 2015). 
 
 
 
Contudo, Tepedino esclarece que “pode ser notada uma diferença sutil 
entre as duas teorias. A teoria do dano direto e imediato trabalha mais com as 
exclusões totais de responsabilidade, ou seja, com a obstação do nexo causal. 
Por outra via, a teoria da causalidade adequada lida melhor com a 
concausalidade, isto é, com as contribuições de fatos para o evento danoso. 
Nesse sentido, pela utilização da expressão “dano direto e imediato” para 
exclusão de um dos danos sofridos pelo autor da ação, o gabarito da peça 
processual do exame XVI (peça processual da segunda fase em direito civil). 
Além das teorias para identificação do nexo de causalidade, temos as 
chamadas teorias das concausas que, segundo TEPEDINO (2017) mantém 
relação direta com a causalidade adequada. 
 
a) Concausalidade ordinária, conjunta ou comum – de acordo com 
Senise é “aquela que existe entre as condutas coordenadas ou 
dependentes de duas ou mais pessoas, que de forma relevante 
participam para a produção do evento danoso”. Exemplo: duas 
pessoas coagem alguém para a celebração de um determinado 
negócio. Em situações tais, todos os agentes respondem 
solidariamente, aplicando-se o art. 942, caput, do CC, eis que todos 
são considerados coautores. 
b) Concausalidade acumulativa – é aquela existente entre as 
condutas de duas ou mais pessoas que são independentes entre si, 
mas que causam o prejuízo. Exemplo: duas pessoas, em alta 
velocidade, atropelam um mesmo indivíduo, no meio de um 
cruzamento. Cada agente, nesse caso, deverá responder na 
proporção de suas culpas, nos termos dos arts. 944 e 945 da atual 
codificação privada. 
c) Concausalidade alternativa ou disjuntiva – é aquela existente 
entre as condutas de duas ou mais pessoas, sendo que apenas uma 
das condutas é importante para a ocorrência do evento danoso. 
Exemplo: em uma briga generalizada em estádio de futebol, duas 
pessoas tentam espancar alguém. Uma erra o golpe e o outro acerta 
um chute na cabeça da vítima, quebrando-lhe vários ossos. 
Logicamente, apenas o último ofensor responderá. (TEPEDINO, 
2017). 
 
No exame XXIV, ao perguntar novamente sobre o artigo 938, só que 
agora sem identificação do apartamento de onde caiu o objeto, caso em que se 
estabelece a responsabilidade do condomínio, a FGV mencionou, no gabaritocomentado, a teoria da causalidade alternativa: 
 
Trata-se de hipótese da chamada causalidade alternativa, em que é 
possível saber que um ou alguns dos membros de um grupo 
 
 
determinado de pessoas deu causa ao dano, mas não é possível 
identificar o efetivo causador. No caso específico, não sendo possível 
identificar, desde logo, o apartamento de onde efetivamente caiu o 
objeto, o legislador autoriza expressamente a responsabilização de 
todos os condôminos, nos termos do Art. 938 do Código Civil, ao 
prever a imputabilidade não apenas do único morador do prédio como 
também do morador de parte da edificação. (EXAME XXIV – 
QUESTÃO 2). 
 
7. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE 
 
Responsabilidade contratual: aquela decorrente de inexecução ou 
infração em contrato firmado pelas partes. Prevista no Código Civil como 
perdas e danos. 
Responsabilidade extracontratual ou aquiliana: decorre de ato ilícito 
civil ou responsabilidade objetiva. Tem por fonte a inobservância da lei, pois 
não há negócio jurídico entre as partes. 
Responsabilidade objetiva: se funda no risco, com origem em 
determinação legal, independente de culpa do agente. 
Responsabilidade subjetiva: depende de demonstração de culpa do 
agente – art. 186. 
Responsabilidade direta: quando o fato é imputado ao agente por 
conduta própria; responsabilidade por ato próprio. 
Responsabilidade indireta ou complexa: incide sobre o agente por ato 
de terceiro (responsabilidade objetiva – v.g. art. 932 CC). 
 
8. MENSURAÇÃO DOS DANOS 
 
Apurada a responsabilidade, veja-se que o art. 944 do CC estabelece a 
apuração do valor da indenização a partir da extensão dos danos. 
De modo geral, a reparação, portanto, deve alcançar todos os prejuízos 
experimentados pela vítima. No caso da responsabilidade contratual, veja-se 
que o art. 404 do CC estabelece que as perdas e danos correspondem ao 
principal, lucros cessantes, honorários, juros e correção. 
Porém, é possível verificar a previsão legal em situações específicas, 
como no caso do homicídio, em que há previsão de pagamento das despesas 
 
 
de funeral, médicas, luto e alimentos à dependente da vítima; também no caso 
de lesão corporal (com parcelas semelhantes – art. 949 CC); delitos contra a 
honestidade (por assédio sexual, v.g.); ou de ofensa da liberdade individual – 
art. 954 CC. 
Tem grande destaque a reparação civil decorrente de ofensa à honra, 
que caracteriza o dano moral. 
 Quanto à mensuração dos danos, sempre ter-se-á por lógica a 
aplicação do art. 944 do CC: a indenização mede-se pela extensão dos danos. 
O art. 940 do CC faz ainda uma referência à restituição em dobro, ou 
pagamento do equivalente, quando houver prova da má-fé em cobrança 
indevida de valores. 
 
 
 
 
 
 
 
9. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REPARAÇÃO CIVIL 
 
Quanto à legitimidade ativa para a reparação civil, temos que a vítima é 
a titular do direito. Ainda, também poderá pleitear a reparação os sucessores e 
representantes. 
Tanto a pessoa física como pessoa jurídica podem pleitear dano moral 
e/ou dano material, eis que consolidado o entendimento de que a pessoa 
jurídica também é detentora de honra (objetiva). 
Importa ressaltar que muitas vezes os familiares próximos sofrem danos 
em decorrência de ato antijurídico praticado diretamente a outra pessoa. Veja-
se os casos dos dependentes (a quem o morto prestava alimentos) que ficarão 
privados da verba de subsistência com a morte da vítima, assim como sofrerão 
danos de natureza extrapatrimonial. São os chamados danos reflexos ou por 
ricochete. 
 
 
Mais recentemente a jurisprudência passou a admitir o dano reflexo 
também em casos em que a vítima direta permanece viva (litisconsórcio ativo). 
Trata-se de direito próprio pedido em nome próprio e não de direito alheio 
pedido em nome próprio. Nesse sentido o Informativo de Jurisprudência do 
STJ, nº 459/2010: 
 
Trata-se de REsp em que a controvérsia é definir se os pais da vítima 
sobrevivente de acidente de trânsito têm legitimidade para pleitear 
compensação por danos morais, considerando-se que, na espécie, a 
própria acidentada teve reconhecido o direito a receber a referida 
compensação por tais danos. A Turma assentou que, não obstante a 
compensação por dano moral ser devida, em regra, apenas ao 
próprio ofendido, tanto a doutrina quanto a jurisprudência têm firmado 
sólida base na defesa da possibilidade de os parentes do ofendido a 
ele ligados afetivamente postularem, conjuntamente com a vítima, 
compensação pelo prejuízo experimentado, conquanto sejam 
atingidos de forma indireta pelo ato lesivo. Observou-se que se trata, 
na hipótese, de danos morais reflexos, ou seja, embora o ato tenha 
sido praticado diretamente contra determinada pessoa, seus efeitos 
acabam por atingir, indiretamente, a integridade moral de terceiros. É 
o chamado dano moral por ricochete ou préjudice d´affection, cuja 
reparação constitui direito personalíssimo e autônomo dos referidos 
autores, ora recorridos.[...] Precedentes citados: REsp 160.125-DF, 
DJ 24/5/1999; REsp 530.602-MA, DJ 17/11/2003; REsp 876.448-RJ, 
DJe 21/9/2010; REsp 1.041.715-ES, DJe 13/6/2008, e REsp 331.333-
MG, DJ 13/3/2006. REsp 1.208.949-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 
julgado em 7/12/2010. 
 
10. LEGITIMIDADE PASSIVA PARA A REPARAÇÃO CIVIL 
 
São responsáveis pela reparação civil o agente causador do dano, bem 
como os responsáveis solidários ou subsidiários. 
Há também a responsabilidade pela reparação decorrente de contrato, 
como ocorre no caso de seguro. 
 
11. REPARAÇÃO POR FATO DE TERCEIRO 
 
O CC prevê hipóteses de responsabilidade civil decorrente de fato de 
terceiro. De modo expresso, o art. 932 estabelece a responsabilidade solidária 
(art. 942 CC) nas seguintes hipóteses: 
 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e 
 
 
em sua companhia; 
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem 
nas mesmas condições; 
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e 
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão 
dele; 
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos 
onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos 
seus hóspedes, moradores e educandos; 
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do 
crime, até a concorrente quantia. 
 
12. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE GUARDA OU 
PROPRIEDADE 
 
Também é necessário lembrar a responsabilidade decorrente da 
propriedade de coisa ou animal, prevista nos art. 936 a 938 do CC: 
 
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este 
causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. 
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que 
resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja 
necessidade fosse manifesta. 
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo 
dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em 
lugar indevido. 
 
VI Jornada de Direito Civil - Enunciado 557 
Nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de 
condomínio edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, 
responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso. 
 
 
13. A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE CIVIL E A CRIMINAL 
 
O art. 935 do Código Civil estabelece a relação entre a responsabilidade 
civil e a responsabilidade criminal. Dispõe que: 
 
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se 
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem 
seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no 
juízo criminalO enunciado 45 da I Jornada de Direito Civil colaborou com a 
interpretação do artigo ao inserir a expressão “categoricamente”, ou seja, se a 
existência do fato e a autoria se acharem “categoricamente” decididas no juízo 
 
 
criminal, essa definição não será alterada no juízo cível. Embora os ilícitos civis 
sejam diferentes dos ilícitos criminais, uma vez decididos fato e autoria, 
independentemente das outras circunstâncias, não se poderá decidir de forma 
diferente no juízo cível. 
Por isso, muito cuidado: embora o artigo afirme a independência, trata, 
na verdade, de uma independência relativa. 
O Código de Processo Penal, ao tratar “da ação civil” complementa o art. 
935: 
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para 
ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o 
autor do crime e, se for caso, contra o responsável 
civil. (Vide Lei nº 5.970, de 1973) 
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá 
suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela. 
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer 
ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima 
defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular 
de direito. 
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação 
civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, 
reconhecida a inexistência material do fato. 
Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: 
I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de 
informação; 
II - a decisão que julgar extinta a punibilidade; 
III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não 
constitui crime. 
 
Decisão do STJ constante em Informativo de Jurisprudência (437), sobre 
a absolvição criminal do preposto do responsável civil anteriormente 
condenado em juízo cível, é bem elucidativa da questão: 
 
SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA. EFEITO. CÍVEL. 
A questão consiste em determinar se a absolvição penal do preposto 
do recorrente com base no inciso IV do art. 386 do CPP é capaz de 
tolher os efeitos de sentença cível anteriormente proferida na qual o 
recorrente foi condenado ao pagamento de pensão e indenização por 
danos morais e materiais por morte em acidente de trânsito. 
Destacou a Min. Relatora que, na hipótese, tanto a 
responsabilidade criminal quanto a civil tiveram origem no mesmo 
fato. Entretanto, observa que cada uma das jurisdições, penal e civil, 
utiliza diferentes critérios para aferição do ocorrido. Dessa forma, a 
absolvição no juízo criminal não exclui automaticamente a 
possibilidade de condenação no juízo cível, conforme está 
disposto no art. 64 do CPP. Os critérios de apreciação da prova 
são diferentes: o Direito Penal exige integração de condições 
mais rigorosas e taxativas, uma vez que está adstrito ao 
princípio da presunção de inocência; já o Direito Civil é menos 
 
 
rigoroso, parte de pressupostos diversos, pois a culpa, mesmo 
levíssima, induz à responsabilidade e ao dever de indenizar. 
Assim, pode haver ato ilícito gerador do dever de indenizar 
civilmente, sem que penalmente o agente tenha sido 
responsabilizado pelo fato. Assim, a decisão penal absolutória, 
que, no caso dos autos, foi por inexistir prova de ter o réu concorrido 
para a infração penal (art. 386, IV, do CPP), ou seja, por falta de 
provas da culpa, não impede a indenização da vítima pelo dano cível 
sofrido. Expõe, ainda, que, somente a decisão criminal que tenha 
categoricamente afirmado a inexistência do fato impede a 
discussão da responsabilidade civil, o que não ocorreu na 
hipótese dos autos. Além do mais, o art. 65 desse mesmo código 
explicita que somente a sentença penal que reconhece o ato 
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito 
cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito faz coisa 
julgada no cível (essas circunstâncias também não foram 
contempladas nos autos). Na espécie, segundo a Min. Relatora, a 
questão assume relevância pelo fato de que se debate a 
possibilidade de o recorrente ser alcançado em processo penal do 
qual não foi parte, só seu preposto, visto que o sistema processual 
brasileiro não admite a intervenção do responsável civil na 
ação criminal, de modo que, sob o prisma dos limites subjetivos da 
coisa julgada, conduz à conclusão de que a condenação do 
recorrente ao pagamento da indenização fixada pelo juízo cível não 
deve ser desconstituída. Nesse contexto, a Min. Relatora, 
acompanhada pela Turma, negou provimento ao recurso, 
confirmando o acórdão recorrido conclusivo de que a decisão 
criminal que absolve o réu em razão de insuficiência de prova de sua 
culpabilidade não implica a extinção da ação de indenização por ato 
ilícito. REsp 1.117.131-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 
1º/6/2010. 
 
Decisão publicada no Informativo de Jurisprudência (aqui transcrito 
parcialmente) também é esclarecedora: 
 
Dessa forma, tratou o legislador de estabelecer a existência de uma 
autonomia relativa entre essas esferas. Essa relativização da 
independência de jurisdições se justifica em virtude de o direito penal 
incorporar exigência probatória mais rígida para a solução das 
questões submetidas a seus ditames, sobretudo em decorrência do 
princípio da presunção de inocência. O direito civil, por sua vez, parte 
de pressupostos diversos. Neste, autoriza-se que, com o 
reconhecimento de culpa, ainda que levíssima, possa-se conduzir à 
responsabilização do agente e, consequentemente, ao dever de 
indenizar. O juízo cível é, portanto, menos rigoroso do que o criminal 
no que concerne aos pressupostos da condenação, o que explica a 
possibilidade de haver decisões aparentemente conflitantes em 
ambas as esferas. Além disso, somente as questões decididas 
definitivamente no juízo criminal podem irradiar efeito vinculante no 
juízo cível. (Informativo 517). 
 
 
 
 
 
14. QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES 
 
João, empresário individual, é titular de um estabelecimento 
comercial que funciona em loja alugada em um shopping-center 
movimentado. No estabelecimento, trabalham o próprio João, como 
gerente, sua esposa, como caixa, e Márcia, uma funcionária 
contratada para atuar como vendedora. Certo dia, Miguel, um 
fornecedor de produtos da loja, quando da entrega de uma 
encomenda feita por João, foi recebido por Márcia e sentiu-se 
ofendido por comentários preconceituosos e discriminatórios 
realizados pela vendedora. Assim, Miguel ingressou com ação 
indenizatória por danos morais em face de João. A respeito do caso 
narrado, assinale a afirmativa correta. 
a) João não deve responder pelo dano moral, uma vez que não foi 
causado direta e imediatamente por conduta sua. 
b) João pode responder apenas pelo dano moral, caso reste 
comprovada sua culpa in vigilando em relação à conduta de Márcia. 
c) João pode responder apenas por parte da compensação por danos 
morais diante da verificação de culpa concorrente de terceiro. 
d) João deve responder pelos danos causados, não lhe 
assistindo alegar culpa exclusiva de terceiro. 
 
A resposta correta, neste caso, fundamenta-se no artigo 932, III, que 
trata da responsabilidade por fato de terceiro. 
 
Marcos caminhava na rua em frente ao Edifício Roma quando, da 
janela de um dos apartamentos da frente do edifício, caiu uma 
torradeira elétrica, que o atingiu quando passava. Marcos sofreu 
fratura do braço direito, que foi diretamente atingido pelo objeto, e 
permaneceu seis semanas com o membro imobilizado, 
impossibilitado de trabalhar, até se recuperar plenamente do 
acidente. À luz do caso narrado, assinale a afirmativa correta. 
a) O condomínio do Edifício Roma poderá vir a ser 
responsabilizado pelos danos causados a Marcos, com base na 
teoria da causalidadealternativa. 
b) Marcos apenas poderá cobrar indenização por danos materiais e 
morais do morador do apartamento do qual caiu o objeto, tendo que 
comprovar tal fato. 
c) Marcos não poderá cobrar nenhuma indenização a título de danos 
materiais pelo acidente sofrido, pois não permaneceu com nenhuma 
incapacidade permanente. 
d) Caso Marcos consiga identificar de qual janela caiu o objeto, o 
respectivo morador poderá alegar ausência de culpa ou dolo para se 
eximir de pagar qualquer indenização a ele. 
 
O fundamento desta questão é o artigo 938, conforme sua interpretação 
atual, constante no enunciado 557 da VI Jornada de Direito Civil. 
 
Juliana, por meio de contrato de compra e venda, adquiriu de 
Ricardo, profissional liberal, um carro seminovo (30.000km) da marca 
 
 
Y pelo preço de R$ 24.000,00. Ficou acertado que Ricardo faria a 
revisão de 30.000km no veículo antes de entregá-lo para Juliana no 
dia 23 de janeiro de 2017. Ricardo, porém, não realizou a revisão e 
omitiu tal fato de Juliana, pois acreditava que não haveria qualquer 
problema, já que, aparentemente, o carro funcionava bem. No dia 23 
de fevereiro de 2017, Juliana sofreu acidente em razão de defeito no 
freio do carro, com a perda total do veículo. A perícia demostrou que 
a causa do acidente foi falha na conservação do bem, tendo em vista 
que as pastilhas do freio não tinham sido trocadas na revisão de 
30.000km, o que era essencial para a manutenção do carro. 
Considerando os fatos, assinale a afirmativa correta. 
a) Ricardo não tem nenhuma responsabilidade pelo dano sofrido por 
Juliana (perda total do carro), tendo em vista que o carro estava 
aparentemente funcionando bem no momento da tradição. 
b) Ricardo deverá ressarcir o valor das pastilhas de freio, nada tendo 
a ver com o acidente sofrido por Juliana. 
c) Ricardo é responsável por todo o dano sofrido por Juliana, 
com a perda total do carro, tendo em vista que o perecimento do 
bem foi devido a vício oculto já existente ao tempo da tradição. 
d) Ricardo deverá ressarcir o valor da revisão de 30.000km do carro, 
tendo em vista que ela não foi realizada conforme previsto no 
contrato. 
 
Alternativa correta de acordo com o artigo 444, que dispõe que “a 
responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do 
alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição. 
Responsabilidade por vício oculto”. 
 
André é motorista da transportadora Via Rápida Ltda. Certo dia, 
enquanto dirigia um ônibus da empresa, se distraiu ao tentar se 
comunicar com um colega, que dirigia outro coletivo ao seu lado, e 
precisou fazer uma freada brusca para evitar um acidente. Durante a 
manobra, Olívia, uma passageira do ônibus, sofreu uma queda no 
interior do veículo, fraturando o fêmur direito. Além do abalo moral, a 
passageira teve despesas médicas e permaneceu por semanas sem 
trabalhar para se recuperar da fratura. Olívia decide, então, ajuizar 
ação indenizatória pelos danos morais e materiais sofridos. Em 
referência ao caso narrado, assinale a afirmativa correta, 
a) Olívia deve, primeiramente, ajuizar a ação em face da 
transportadora, e apenas demandar André se não obtiver a reparação 
pretendida, pois a responsabilidade do motorista é subsidiária. 
b) Olívia pode ajuizar ação em face da transportadora e de André, 
simultânea ou alternativamente, pois ambos são solidariamente 
responsáveis. 
c) Olívia apenas pode demandar, nesse caso, a transportadora, mas 
esta terá direito de regresso em face de André, se for condenada ao 
dever de indenizar. 
d) André e a transportadora são solidariamente responsáveis e 
podem ser demandados diretamente por Olívia, mas aquele que vier 
a pagar a indenização não terá regresso em face do outro. 
 
 
 
Outra questão sobre responsabilidade por fato de terceiro, artigo 932, III 
e sobre a solidariedade existente entre todos os responsáveis indicados no 
artigo 932, conforme artigo 942, parágrafo único. 
 
Daniel, morador do Condomínio Raio de Luz, após consultar a 
convenção do condomínio e constar a permissão de animais de 
estimação, realizou um sonho antigo e adquiriu um cachorro da raça 
Beagle. Ocorre que o animal, muito travesso, precisou dos serviços 
de um adestrador, pois estava destruindo móveis e sapatos do dono. 
Assim, Daniel contratou Cleber, adestrador renomado, para um 
pacote de seis meses de sessões. Findo o período treinamento, 
Daniel, satisfeito com o resultado, resolve levar o cachorro para se 
exercitar na área de lazer do condomínio e, encontrando-a vazia, 
solta a coleira e a guia para que o Beagle possa correr livremente. 
Minutos depois, a moradora Diana, com 80 (oitenta) anos de idade, 
chega à área de lazer com seu neto Theo. Ao perceber a presença da 
octogenária, o cachorro pula em suas pernas, Diana perde o 
equilíbrio, cai e fratura o fêmur. Diana pretende ser indenizada pelos 
danos materiais e compensada pelos danos estéticos. Com base no 
caso narrado, a assinale a opção correta. 
a) Há responsabilidade civil valorada pelo critério subjetivo e solidária 
de Daniel e Cleber, aquele por culpa na vigilância do animal e este 
por imperícia no adestramento do Beagle, pelo fato de não evitarem 
que o cachorro avançasse em terceiros. 
b) Há responsabilidade civil valorada pelo critério objetivo e 
extracontratual de Daniel, havendo obrigação de indenizar e 
compensar os danos causados, haja vista a ausência de prova 
de alguma das causas legais excludentes do nexo causal, quais 
sejam, força maior ou culpa exclusiva da vítima. 
c) Não há responsabilidade civil de Daniel valorada pelo critério 
subjetivo, em razão da ocorrência de força maior, isto é, da chegada 
inesperada da moradora Diana, caracterizando a inevitabilidade do 
ocorrido, com rompimento do nexo de causalidade. 
d) Há responsabilidade valorada pelo critério subjetivo e contratual 
apenas de Daniel em relação aos danos sofridos por Diana; subjetiva, 
e em razão da evidente culpa na custódia do animal; e contratual, por 
serem ambos moradores do Condomínio Raio de L. 
 
Esta questão trata da responsabilidade por fato do animal, disciplinada 
no artigo 936 do Código Civil. Trata-se de responsabilidade objetiva só 
afastada por força maior ou culpa/fato exclusivo da vítima. 
 
Devido à indicação de luz vermelha do sinal de trânsito, Ricardo 
parou seu veículo pouco antes da faixa de pedestres. Sandro, que 
vinha logo atrás de Ricardo, também parou, guardando razoável 
distância entre eles. Entretanto, Tatiana, que trafegava na mesma 
faixa de rolamento, mais atrás, distraiu-se ao redigir mensagem no 
celular enquanto conduzia seu veículo, vindo a colidir com o veículo 
de Sandro, o qual, em seguida, atingiu o carro de Ricardo. Diante 
disso, à luz das normas que disciplinam a responsabilidade civil, 
assinale a afirmativa correta. 
 
 
a) Cada um arcará com seu próprio prejuízo, visto que a 
responsabilidade pelos danos causados deve ser repartida entre 
todos os envolvidos. 
b) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados ao veículo de 
Sandro, e este deverá indenizar os prejuízos causados ao veículo de 
Ricardo. 
c) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados aos veículos 
de Sandro e Ricardo. 
d) Tatiana e Sandro têm o dever de indenizar Ricardo, na medida de 
sua culpa. 
 
Esta última questão é importante para compreensão do requisito 
“conduta”, pois o carro de Sandro foi utilizado como mero instrumento, sendo 
Sandro apenas vítima do evento danoso, pois não agiu – tampouco contribuiu – 
para os danos causados a Ricardo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
MIRAGEM, Bruno. Direito Civil: Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva: 
2015. 
STOCO, Rui. Tratadode Responsabilidade Civil. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2015. 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil - Vol. 2 - Direito das Obrigações e 
Responsabilidade Civil, 13ª edição. Forense, 12/2017. [Grupo GEN]. 
 
 
 
 
 
 
 
 
	DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL
	1. CONCEITUALIZAÇÃO
	2. PRESSUPOSTOS
	3. CULPA (pressuposto da responsabilidade subjetiva)
	4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
	5. DANO
	6. NEXO DE CAUSALIDADE
	7. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE
	8. MENSURAÇÃO DOS DANOS
	9. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REPARAÇÃO CIVIL
	10. LEGITIMIDADE PASSIVA PARA A REPARAÇÃO CIVIL
	11. REPARAÇÃO POR FATO DE TERCEIRO
	12. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE GUARDA OU PROPRIEDADE

Continue navegando