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DIREITO CIVIL PARTE ESPECIAL Prof. Veridiana Rehbein SUMÁRIO DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................................... 2 1. CONCEITUALIZAÇÃO ................................................................................... 2 2. PRESSUPOSTOS.......................................................................................... 2 3. CULPA ........................................................................................................... 4 4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA ................................................................. 6 5. DANO ............................................................................................................. 7 6. NEXO DE CAUSALIDADE ............................................................................ 9 7. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE ........................................................ 13 8. MENSURAÇÃO DOS DANOS .................................................................... 13 9. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REPARAÇÃO CIVIL..................................... 14 10. LEGITIMIDADE PASSIVA PARA A REPARAÇÃO CIVIL ............................ 15 11. REPARAÇÃO POR FATO DE TERCEIRO .................................................. 15 12. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE GUARDA OU PROPRIEDADE ........................................................................................................ 16 13. A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE CIVIL E A RESPONSABILIDADE CRIMINAL DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade civil está em constante evolução em razão de vincular-se, necessariamente, ao modo de viver de cada tempo histórico. Diferentes produtos, serviços, práticas e comportamentos são capazes de gerar danos em novas circunstâncias. Busca a responsabilização civil o equilíbrio das relações jurídicas, conferindo certeza à reparabilidade do dano injusto. A responsabilidade civil se estabelece “a partir da relação entre um dever jurídico originário, decorrente de previsão normativa genérica ou específica, e um dever jurídico sucessivo, relativamente à consequência imputada ao agente que viola o primeiro dever” (MIRAGEM, 2015). 1. CONCEITUALIZAÇÃO Entende-se por responsabilidade civil o dever de reparação dos danos causados a terceiro por pessoa, por quem a pessoa responde, por fato de coisa ou animal sob sua guarda, ou por imposição legal. Nesse passo, é possível estabelecer a responsabilidade civil como consequência dos danos causados em decorrência de culpa (ato ilícito em sentido estrito) ou por determinação legal (responsabilidade objetiva). O objetivo da relação obrigacional de responsabilidade civil será sempre o dever de indenizar, aí entendido o dever de responder com seu patrimônio pela reparação da vítima do dano ao qual se lhe imputa responsável. (MIRAGEM, 2015) 2. PRESSUPOSTOS Não existe um consenso doutrinário sobre a identificação precisa e/ou denominação dos elementos ou pressupostos da responsabilidade civil. No entanto, é inquestionável para qualquer teoria doutrinária que a responsabilidade civil não prescinde de dano, nexo de causalidade e ato/fato/atividade relacionado(a) ao causador ou responsável. Doutrinadores contemporâneos, mais atentos a crescente incidência de atividades de risco e da consequente ampliação da responsabilização objetiva, inserem o requisito culpa como elemento apenas da responsabilidade subjetiva. Assim, são pressupostos da responsabilidade subjetiva: • Dano, que pode ser material ou moral (individual ou coletivo); estético e aquele decorrente da perda de uma chance. • Ato Ilícito/lesivo • Nexo de causalidade • Culpabilidade São pressupostos da responsabilidade objetiva: • Dano, que pode ser material ou moral (individual ou coletivo); estético e aquele decorrente da perda de uma chance. • Ato (atividade) Ilícito/lesivo • Nexo de causalidade A partir de tais pressupostos podemos definir como ato ilícito em sentido amplo aquele contrário à lei ou ao direito (causar dano injusto a outra pessoa); já o dano é o prejuízo (moral ou material – coletivo ou individual, estético ou a perda de uma chance) experimentado pela vítima; nexo de causalidade é o vínculo lógico entre determinada conduta antijurídica do agente e o dano experimentado pela vítima; por fim, a culpabilidade é um juízo de censura à conduta do agente, de reprovabilidade pelo direito, decorrente de dolo, negligência, imprudência ou imperícia. A responsabilização objetiva tem os mesmos pressupostos, exceto a culpabilidade. Diz-se que a responsabilidade objetiva se dá independentemente de culpa. O artigo 927 disciplina as duas espécies de responsabilidade civil, no caput a responsabilidade subjetiva e no parágrafo único a responsabilidade objetiva: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. O ato ilícito em sentido estrito, que irá fundamentar a responsabilidade subjetiva, encontra-se definido no art. 186 do CC: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. O artigo 187 dispõe sobre o abuso de direito: Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. O artigo 188 afasta a ilicitude do ato em algumas circunstâncias. Alguns autores denominam “causas de justificação” outros excludentes de antijuridicidade. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Atenção: independentemente da excludente de ilicitude, o dano causado em estado de necessidade (inciso II) pode gerar o dever de indenizar (artigos 929 e 930). 3. CULPA (pressuposto da responsabilidade subjetiva) Lembre-se que no Direito Civil a culpa é apreciada em sentido amplo, compreende o dolo e a culpa em sentido estrito. O conceito de culpa está, de modo objetivo, delineado pelo art. 186 do CC, mas sua compreensão é ampliada por entendimentos doutrinários e jurisprudenciais. Nesse passo, podemos estabelecer que a culpa, para a reparação civil (frente à responsabilidade contratual: perdas e danos) envolve a ação ou omissão que viola direito ou causa prejuízo a outrem. A culpa pode empenhar ação ou omissão e revela-se através: da imprudência (comportamento açodado, precipitado, apressado, exagerado ou excessivo); da negligência (quando o agente se omite deixa de agir quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras subministradas pelo bom senso, que recomendam cuidado, atenção e zelo); e da imperícia (a atuação profissional sem o necessário conhecimento técnico ou científico que desqualifica o resultado e conduz ao dano). (STOCO, 2015). A doutrina tradicional empenhava-se em identificar diferentes espécies de culpa: a) culpain committendo procedendo: trata-se da culpa por erro de procedimento, ou seja, por ação equivocada atribuída ao próprio agente, gerando-se o dever de indenizar. Exemplo: pessoa que causa, sem intenção, lesão com faca em outrem. b) culpa in elegendo: culpa decorrente da ‘eleição’ equivocada, ou por decorrência da indicação ou nomeação de alguém para realizar algo, ou utilizar bem, do agente, gerando-lhe o dever de indenizar. Exemplo: responsabilidade do dono de veículo que o entrega à terceiro, que vem a causar acidente. c) culpa in vigilando: situação em que o agente é responsável por falha na vigilância que deveria ter. Embora a FGV possa questionar a respeito dessa divisão clássica da culpa em modalidades, é importante que o avaliando observe sempre a legislação, pois diversas situações que antes eram consideradas culpa nas modalidades “in elegendo” e “in vigilando” hoje configuram-se responsabilidade objetiva, como, por exemplo, a responsabilidade do empregador por atos dos empregados e aquela pela guarda da coisa. 4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA Trata-se da responsabilidade civil decorrente de determinação legal, seja pela natureza da atividade desenvolvida pelo agente, seja pelo risco de tal atividade, ou pela natureza da relação jurídica. Na moderna sociedade de riscos a que se refere Ulrich Beck, o desenvolvimento traz consigo, de modo subjacente, riscos decorrentes do progresso técnico-econômico, a fomentar situações sociais de ameaça caracterizadas por danos que cedo ou tarde podem atingir todos, independentemente de classe social, e inclusive aqueles que, em um primeiro momento, obtiveram ganhos deste progresso. Isso implica a criação de contínuos processos de distribuição destes mesmos riscos, segundo critérios afirmados pelo Direito, especialmente firmados sobre a noção de ganho decorrente da geração do risco, ou ainda, sua diluição conforme a maior aptidão para internalização dos custos e sua distribuição à sociedade. Eis aqui a justificativa das variadas hipóteses de responsabilidade objetiva, em que não se exige a demonstração de culpa para a imputação do dever de indenizar, uma vez que a causalidade se atribui, em termos abstratos, a determinada atividade, cujo responsável, por sua posição, será chamado a responder pelos danos que porventura dela decorrerem. (MIRAGEM, 2015, p.38). Quanto à natureza da atividade, veja-se que o art. 927, parágrafo único, do CC, estabelece a responsabilidade objetiva em situações específicas (quando a lei determinar ou quando a atividade desenvolvida implicar em riscos). Como exemplo material de tal situação, temos o contrato de transporte de pessoas e coisas, em que a responsabilidade pela reparação civil ocorre independentemente de culpa do transportador. Quanto ao risco da atividade, vemos o exemplo das atividades bancárias, que, por sua natureza, implicam em riscos à segurança do usuário dos serviços, o que implica em responsabilização objetiva. Por fim, quanto à natureza da relação jurídica, citamos como típico exemplo a responsabilidade desencadeada pelas relações de consumo, onde o fornecedor possui responsabilidade objetiva quanto aos produtos e serviços dispostos ao consumo (teoria do risco proveito). Lembre-se que na responsabilidade objetiva não há necessidade de comprovação de culpa e, quando tratar-se de risco integral, por vezes nem o caso fortuito e a força maior são capazes de afastá-la (como nos casos de danos ao meio ambiente e do seguro obrigatório de veículos automotores). Exemplos de responsabilidade objetiva (independentemente de culpa): • A responsabilidade civil nas relações de consumo é, em regra, objetiva, a única exceção é aquela dos profissionais liberais (art. 14, §4º, CDC); • A responsabilidade civil decorrente de abuso de direito (art. 187) independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo- finalístico (Enunciado 37 da Jornada de Direito Civil e entendimento prevalente da doutrina); • Responsabilidade da pessoa que agiu em estado de necessidade (artigos 929 e 930); • Responsabilidade por fato de terceiro (artigos 932 e 933); • Responsabilidade pelo fato do animal (art. 936); • Responsabilidade pela ruína de edifício ou construção (art. 937); • Responsabilidade do habitante de prédio por coisas que dele caírem ou forem lançadas (art. 938) 5. DANO O dano recebe outras denominações e o examinando precisa ficar atento, muitas vezes a lei menciona perdas e danos ou prejuízos reparáveis, por exemplo. Corresponde aos prejuízos experimentados pela vítima. Inicialmente dividia-se apenas em danos morais (extrapatrimoniais) e materiais (patrimoniais). Atualmente, por força da súmula 387 do STJ (é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral), o direito brasileiro admite uma terceira categoria, a dos danos denominados estéticos. Por fim e mais recentemente, a admissão da reparabilidade da perda de uma chance que, conforme enunciado 444 da V Jornada de Direito Civil do CJF, “não se limita à categoria de danos extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias do caso concreto, a chance perdida pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial”, ou seja, por não se enquadrar especificamente em danos materiais ou morais (nem estéticos), pode ser considerada uma quarta modalidade de dano. Em relação ao público atingido (vítimas) o dano pode ser individual (experimentado pela pessoa, tanto moral como material); ou coletivo, que atinge uma coletividade de pessoas (como aquele causado ao meio ambiente, direitos sociais, relações de consumo, etc.). O dano material desdobra-se em dano positivo ou emergente, que corresponde ao prejuízo já sofrido, ou seja, à redução já experimentada na riqueza da vítima (como por exemplo as despesas médicas ocorridas para tratamento de vítima de atropelamento); Em segundo lugar há os danos negativos ou lucro cessante, que corresponde aos valores que, a despeito de eventual dispêndio, não foram auferidos pela vítima em razão do evento danoso. É o que ocorre, por exemplo, nos lucros que a vítima deixa de auferir, ou o negócio que deixa de realizar, ou mesmo a renda que deixa de ter. Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Dano moral da pessoa jurídica O art. 52 do CC determina que às pessoas jurídicas aplica-se, no que couber, a proteção aos direitos da personalidade. Não obstante o conteúdo do artigo, muito se discutiu sobre a possibilidade de as pessoas jurídicas sofrerem danos morais, ao ponto de a IV Jornada de Direito Civil emitir o enunciado 286 com o seguinte teor: “os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”. Contudo, o entendimento do enunciado acabou por se modificar e a jurisprudência majoritária brasileira entende que a pessoa jurídica é passível de sofrer danos morais, especialmente em relação a sua honra objetiva, que compreende sua reputação, seu bom nome e sua fama perante a sociedade e o meio profissional. Neste sentido a súmula 227 do STJ: Súmula 227 - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Dano moral presumido (in re ipsa) Em algumas situações, a jurisprudência consolidada dos tribunais superiores considera que não há necessidade de prova do dano moral, que ele decorre da gravidade do evento danoso. Como no caso de lesão física grave, cadastramentoindevido em órgãos de inadimplentes e nas situações abaixo: Súmula 370 - Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. Súmula 388 - A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral. Súmula 403 - Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. 6. NEXO DE CAUSALIDADE Refere-se à vinculação ou liame jurídico que liga o fato aos danos experimentados e gera a responsabilidade do agente. O nexo de causalidade é afastado (integral ou parcialmente) por ocasião de: a) culpa/fato exclusivo da vítima: quando a vítima fora a causadora do fato ou dos danos; b) culpa/fato concorrente: estabelece responsabilidade conjunta ou partida entre o agente e a vítima, eis que houve contribuição de ambos para a persecução do fato e danos experimentados, sendo apurada a responsabilidade de acordo com a contribuição de cada parte para o evento. Aqui não há o rompimento do nexo de causalidade, mas responsabilidade conjunta; Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. Observe-se, contudo, que embora o artigo faça referência à “culposamente”, o fato exclusivo (causa exclusiva) também afasta a responsabilidade objetiva. c) culpa/fato de terceiro: situações em que a culpa/fato decorre de terceiro. Da mesma forma que na culpa concorrente da vítima, deve ser observado se o terceiro foi o único responsável ou se ele apenas contribuiu para o resultado (neste último caso a responsabilidade é compartilhada). Também devem ser observadas às exceções a essa excludente, como no caso do transporte de passageiros (artigo 735 do CC); d) caso fortuito ou força maior: evento alheio às partes, decorrente de fato imprevisível ou inevitável, afastando a responsabilidade pela reparação (salvo exceções). A previsão do caso fortuito e da força maior como eventos que rompem o nexo de causalidade se dá expressamente pelo art. 393 do CC, que estabelece: Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Em relação ao caso fortuito, é importante observar que na responsabilidade objetiva, eventos inerentes à atividade configuram caso fortuito interno e não afastam o dever de indenizar. Diz-se, assim, caso fortuito interno porque o risco representado pelo fato é inerente, interno à conduta ou à atividade do agente, de modo que deve responder quando dele decorra o dano. Distingue-se, nesse particular, do caso fortuito externo (ou força maior), em que o dano decorre de causa completamente estranha à conduta do agente (MIRAGEM, 2015, p. 247). Veja o exemplo de entendimento sumulado: Súmula 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Para a identificação do nexo de causalidade são utilizadas algumas teorias. Também não há consenso doutrinário sobre sua nomenclatura e classificação. a) Teoria da equivalência das condições ou do histórico dos antecedentes (sine qua non) – todos os fatos relativos ao evento danoso geram a responsabilidade civil. Segundo Tepedino, “considera-se, assim, que o dano não teria ocorrido se não fosse a presença de cada uma das condições que, na hipótese concreta, foram identificadas precedentemente ao resultado danoso” (TEPEDINO, Gustavo. Notas..., 2006, p. 67). Essa teoria, não adotada no Brasil, tem o grande inconveniente de ampliar em muito o nexo de causalidade, até o infinito. b) Teoria da causalidade adequada – teoria desenvolvida por Von Kries, pela qual se deve identificar, na presença de uma possível causa, aquela que, de forma potencial, gerou o evento dano. Na interpretação deste autor, por esta teoria, somente o fato relevante ou causa necessária para o evento danoso gera a responsabilidade civil, devendo a indenização ser adequada aos fatos que a envolvem. c) Teoria do dano direto e imediato ou teoria da interrupção do nexo causal – havendo violação do direito por parte do credor ou do terceiro, haverá interrupção do nexo causal com a consequente irresponsabilidade do suposto agente. Desse modo, somente devem ser reparados os danos que decorrem como efeitos necessários da conduta do agente. (TARTUCE, 2017). Bruno Miragem e Flavio Tartuce afirmam que a doutrina brasileira se divide entre a teoria da causalidade adequada e a do dano direto e imediato, mas ao analisar-se os fundamentos na aplicação das duas teorias, percebe-se que em ambas o julgador menciona a interrupção do nexo causal como fundamento da exclusão da responsabilidade. Nesse sentido, é didática a expressão “dano direto e imediato” para identificar que todas as causas que venham a se realizar depois da conduta do autor, e que venham a aumentar a extensão ou a gravidade do dano, quando não ligadas imediatamente a este autor, não serão de sua responsabilidade, senão daquele que deu causa à sua ocorrência. (MIRAGEM, 2015). Contudo, Tepedino esclarece que “pode ser notada uma diferença sutil entre as duas teorias. A teoria do dano direto e imediato trabalha mais com as exclusões totais de responsabilidade, ou seja, com a obstação do nexo causal. Por outra via, a teoria da causalidade adequada lida melhor com a concausalidade, isto é, com as contribuições de fatos para o evento danoso. Nesse sentido, pela utilização da expressão “dano direto e imediato” para exclusão de um dos danos sofridos pelo autor da ação, o gabarito da peça processual do exame XVI (peça processual da segunda fase em direito civil). Além das teorias para identificação do nexo de causalidade, temos as chamadas teorias das concausas que, segundo TEPEDINO (2017) mantém relação direta com a causalidade adequada. a) Concausalidade ordinária, conjunta ou comum – de acordo com Senise é “aquela que existe entre as condutas coordenadas ou dependentes de duas ou mais pessoas, que de forma relevante participam para a produção do evento danoso”. Exemplo: duas pessoas coagem alguém para a celebração de um determinado negócio. Em situações tais, todos os agentes respondem solidariamente, aplicando-se o art. 942, caput, do CC, eis que todos são considerados coautores. b) Concausalidade acumulativa – é aquela existente entre as condutas de duas ou mais pessoas que são independentes entre si, mas que causam o prejuízo. Exemplo: duas pessoas, em alta velocidade, atropelam um mesmo indivíduo, no meio de um cruzamento. Cada agente, nesse caso, deverá responder na proporção de suas culpas, nos termos dos arts. 944 e 945 da atual codificação privada. c) Concausalidade alternativa ou disjuntiva – é aquela existente entre as condutas de duas ou mais pessoas, sendo que apenas uma das condutas é importante para a ocorrência do evento danoso. Exemplo: em uma briga generalizada em estádio de futebol, duas pessoas tentam espancar alguém. Uma erra o golpe e o outro acerta um chute na cabeça da vítima, quebrando-lhe vários ossos. Logicamente, apenas o último ofensor responderá. (TEPEDINO, 2017). No exame XXIV, ao perguntar novamente sobre o artigo 938, só que agora sem identificação do apartamento de onde caiu o objeto, caso em que se estabelece a responsabilidade do condomínio, a FGV mencionou, no gabaritocomentado, a teoria da causalidade alternativa: Trata-se de hipótese da chamada causalidade alternativa, em que é possível saber que um ou alguns dos membros de um grupo determinado de pessoas deu causa ao dano, mas não é possível identificar o efetivo causador. No caso específico, não sendo possível identificar, desde logo, o apartamento de onde efetivamente caiu o objeto, o legislador autoriza expressamente a responsabilização de todos os condôminos, nos termos do Art. 938 do Código Civil, ao prever a imputabilidade não apenas do único morador do prédio como também do morador de parte da edificação. (EXAME XXIV – QUESTÃO 2). 7. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE Responsabilidade contratual: aquela decorrente de inexecução ou infração em contrato firmado pelas partes. Prevista no Código Civil como perdas e danos. Responsabilidade extracontratual ou aquiliana: decorre de ato ilícito civil ou responsabilidade objetiva. Tem por fonte a inobservância da lei, pois não há negócio jurídico entre as partes. Responsabilidade objetiva: se funda no risco, com origem em determinação legal, independente de culpa do agente. Responsabilidade subjetiva: depende de demonstração de culpa do agente – art. 186. Responsabilidade direta: quando o fato é imputado ao agente por conduta própria; responsabilidade por ato próprio. Responsabilidade indireta ou complexa: incide sobre o agente por ato de terceiro (responsabilidade objetiva – v.g. art. 932 CC). 8. MENSURAÇÃO DOS DANOS Apurada a responsabilidade, veja-se que o art. 944 do CC estabelece a apuração do valor da indenização a partir da extensão dos danos. De modo geral, a reparação, portanto, deve alcançar todos os prejuízos experimentados pela vítima. No caso da responsabilidade contratual, veja-se que o art. 404 do CC estabelece que as perdas e danos correspondem ao principal, lucros cessantes, honorários, juros e correção. Porém, é possível verificar a previsão legal em situações específicas, como no caso do homicídio, em que há previsão de pagamento das despesas de funeral, médicas, luto e alimentos à dependente da vítima; também no caso de lesão corporal (com parcelas semelhantes – art. 949 CC); delitos contra a honestidade (por assédio sexual, v.g.); ou de ofensa da liberdade individual – art. 954 CC. Tem grande destaque a reparação civil decorrente de ofensa à honra, que caracteriza o dano moral. Quanto à mensuração dos danos, sempre ter-se-á por lógica a aplicação do art. 944 do CC: a indenização mede-se pela extensão dos danos. O art. 940 do CC faz ainda uma referência à restituição em dobro, ou pagamento do equivalente, quando houver prova da má-fé em cobrança indevida de valores. 9. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REPARAÇÃO CIVIL Quanto à legitimidade ativa para a reparação civil, temos que a vítima é a titular do direito. Ainda, também poderá pleitear a reparação os sucessores e representantes. Tanto a pessoa física como pessoa jurídica podem pleitear dano moral e/ou dano material, eis que consolidado o entendimento de que a pessoa jurídica também é detentora de honra (objetiva). Importa ressaltar que muitas vezes os familiares próximos sofrem danos em decorrência de ato antijurídico praticado diretamente a outra pessoa. Veja- se os casos dos dependentes (a quem o morto prestava alimentos) que ficarão privados da verba de subsistência com a morte da vítima, assim como sofrerão danos de natureza extrapatrimonial. São os chamados danos reflexos ou por ricochete. Mais recentemente a jurisprudência passou a admitir o dano reflexo também em casos em que a vítima direta permanece viva (litisconsórcio ativo). Trata-se de direito próprio pedido em nome próprio e não de direito alheio pedido em nome próprio. Nesse sentido o Informativo de Jurisprudência do STJ, nº 459/2010: Trata-se de REsp em que a controvérsia é definir se os pais da vítima sobrevivente de acidente de trânsito têm legitimidade para pleitear compensação por danos morais, considerando-se que, na espécie, a própria acidentada teve reconhecido o direito a receber a referida compensação por tais danos. A Turma assentou que, não obstante a compensação por dano moral ser devida, em regra, apenas ao próprio ofendido, tanto a doutrina quanto a jurisprudência têm firmado sólida base na defesa da possibilidade de os parentes do ofendido a ele ligados afetivamente postularem, conjuntamente com a vítima, compensação pelo prejuízo experimentado, conquanto sejam atingidos de forma indireta pelo ato lesivo. Observou-se que se trata, na hipótese, de danos morais reflexos, ou seja, embora o ato tenha sido praticado diretamente contra determinada pessoa, seus efeitos acabam por atingir, indiretamente, a integridade moral de terceiros. É o chamado dano moral por ricochete ou préjudice d´affection, cuja reparação constitui direito personalíssimo e autônomo dos referidos autores, ora recorridos.[...] Precedentes citados: REsp 160.125-DF, DJ 24/5/1999; REsp 530.602-MA, DJ 17/11/2003; REsp 876.448-RJ, DJe 21/9/2010; REsp 1.041.715-ES, DJe 13/6/2008, e REsp 331.333- MG, DJ 13/3/2006. REsp 1.208.949-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/12/2010. 10. LEGITIMIDADE PASSIVA PARA A REPARAÇÃO CIVIL São responsáveis pela reparação civil o agente causador do dano, bem como os responsáveis solidários ou subsidiários. Há também a responsabilidade pela reparação decorrente de contrato, como ocorre no caso de seguro. 11. REPARAÇÃO POR FATO DE TERCEIRO O CC prevê hipóteses de responsabilidade civil decorrente de fato de terceiro. De modo expresso, o art. 932 estabelece a responsabilidade solidária (art. 942 CC) nas seguintes hipóteses: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. 12. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE GUARDA OU PROPRIEDADE Também é necessário lembrar a responsabilidade decorrente da propriedade de coisa ou animal, prevista nos art. 936 a 938 do CC: Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. VI Jornada de Direito Civil - Enunciado 557 Nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso. 13. A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE CIVIL E A CRIMINAL O art. 935 do Código Civil estabelece a relação entre a responsabilidade civil e a responsabilidade criminal. Dispõe que: Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminalO enunciado 45 da I Jornada de Direito Civil colaborou com a interpretação do artigo ao inserir a expressão “categoricamente”, ou seja, se a existência do fato e a autoria se acharem “categoricamente” decididas no juízo criminal, essa definição não será alterada no juízo cível. Embora os ilícitos civis sejam diferentes dos ilícitos criminais, uma vez decididos fato e autoria, independentemente das outras circunstâncias, não se poderá decidir de forma diferente no juízo cível. Por isso, muito cuidado: embora o artigo afirme a independência, trata, na verdade, de uma independência relativa. O Código de Processo Penal, ao tratar “da ação civil” complementa o art. 935: Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil. (Vide Lei nº 5.970, de 1973) Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela. Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato. Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II - a decisão que julgar extinta a punibilidade; III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime. Decisão do STJ constante em Informativo de Jurisprudência (437), sobre a absolvição criminal do preposto do responsável civil anteriormente condenado em juízo cível, é bem elucidativa da questão: SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA. EFEITO. CÍVEL. A questão consiste em determinar se a absolvição penal do preposto do recorrente com base no inciso IV do art. 386 do CPP é capaz de tolher os efeitos de sentença cível anteriormente proferida na qual o recorrente foi condenado ao pagamento de pensão e indenização por danos morais e materiais por morte em acidente de trânsito. Destacou a Min. Relatora que, na hipótese, tanto a responsabilidade criminal quanto a civil tiveram origem no mesmo fato. Entretanto, observa que cada uma das jurisdições, penal e civil, utiliza diferentes critérios para aferição do ocorrido. Dessa forma, a absolvição no juízo criminal não exclui automaticamente a possibilidade de condenação no juízo cível, conforme está disposto no art. 64 do CPP. Os critérios de apreciação da prova são diferentes: o Direito Penal exige integração de condições mais rigorosas e taxativas, uma vez que está adstrito ao princípio da presunção de inocência; já o Direito Civil é menos rigoroso, parte de pressupostos diversos, pois a culpa, mesmo levíssima, induz à responsabilidade e ao dever de indenizar. Assim, pode haver ato ilícito gerador do dever de indenizar civilmente, sem que penalmente o agente tenha sido responsabilizado pelo fato. Assim, a decisão penal absolutória, que, no caso dos autos, foi por inexistir prova de ter o réu concorrido para a infração penal (art. 386, IV, do CPP), ou seja, por falta de provas da culpa, não impede a indenização da vítima pelo dano cível sofrido. Expõe, ainda, que, somente a decisão criminal que tenha categoricamente afirmado a inexistência do fato impede a discussão da responsabilidade civil, o que não ocorreu na hipótese dos autos. Além do mais, o art. 65 desse mesmo código explicita que somente a sentença penal que reconhece o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito faz coisa julgada no cível (essas circunstâncias também não foram contempladas nos autos). Na espécie, segundo a Min. Relatora, a questão assume relevância pelo fato de que se debate a possibilidade de o recorrente ser alcançado em processo penal do qual não foi parte, só seu preposto, visto que o sistema processual brasileiro não admite a intervenção do responsável civil na ação criminal, de modo que, sob o prisma dos limites subjetivos da coisa julgada, conduz à conclusão de que a condenação do recorrente ao pagamento da indenização fixada pelo juízo cível não deve ser desconstituída. Nesse contexto, a Min. Relatora, acompanhada pela Turma, negou provimento ao recurso, confirmando o acórdão recorrido conclusivo de que a decisão criminal que absolve o réu em razão de insuficiência de prova de sua culpabilidade não implica a extinção da ação de indenização por ato ilícito. REsp 1.117.131-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/6/2010. Decisão publicada no Informativo de Jurisprudência (aqui transcrito parcialmente) também é esclarecedora: Dessa forma, tratou o legislador de estabelecer a existência de uma autonomia relativa entre essas esferas. Essa relativização da independência de jurisdições se justifica em virtude de o direito penal incorporar exigência probatória mais rígida para a solução das questões submetidas a seus ditames, sobretudo em decorrência do princípio da presunção de inocência. O direito civil, por sua vez, parte de pressupostos diversos. Neste, autoriza-se que, com o reconhecimento de culpa, ainda que levíssima, possa-se conduzir à responsabilização do agente e, consequentemente, ao dever de indenizar. O juízo cível é, portanto, menos rigoroso do que o criminal no que concerne aos pressupostos da condenação, o que explica a possibilidade de haver decisões aparentemente conflitantes em ambas as esferas. Além disso, somente as questões decididas definitivamente no juízo criminal podem irradiar efeito vinculante no juízo cível. (Informativo 517). 14. QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES João, empresário individual, é titular de um estabelecimento comercial que funciona em loja alugada em um shopping-center movimentado. No estabelecimento, trabalham o próprio João, como gerente, sua esposa, como caixa, e Márcia, uma funcionária contratada para atuar como vendedora. Certo dia, Miguel, um fornecedor de produtos da loja, quando da entrega de uma encomenda feita por João, foi recebido por Márcia e sentiu-se ofendido por comentários preconceituosos e discriminatórios realizados pela vendedora. Assim, Miguel ingressou com ação indenizatória por danos morais em face de João. A respeito do caso narrado, assinale a afirmativa correta. a) João não deve responder pelo dano moral, uma vez que não foi causado direta e imediatamente por conduta sua. b) João pode responder apenas pelo dano moral, caso reste comprovada sua culpa in vigilando em relação à conduta de Márcia. c) João pode responder apenas por parte da compensação por danos morais diante da verificação de culpa concorrente de terceiro. d) João deve responder pelos danos causados, não lhe assistindo alegar culpa exclusiva de terceiro. A resposta correta, neste caso, fundamenta-se no artigo 932, III, que trata da responsabilidade por fato de terceiro. Marcos caminhava na rua em frente ao Edifício Roma quando, da janela de um dos apartamentos da frente do edifício, caiu uma torradeira elétrica, que o atingiu quando passava. Marcos sofreu fratura do braço direito, que foi diretamente atingido pelo objeto, e permaneceu seis semanas com o membro imobilizado, impossibilitado de trabalhar, até se recuperar plenamente do acidente. À luz do caso narrado, assinale a afirmativa correta. a) O condomínio do Edifício Roma poderá vir a ser responsabilizado pelos danos causados a Marcos, com base na teoria da causalidadealternativa. b) Marcos apenas poderá cobrar indenização por danos materiais e morais do morador do apartamento do qual caiu o objeto, tendo que comprovar tal fato. c) Marcos não poderá cobrar nenhuma indenização a título de danos materiais pelo acidente sofrido, pois não permaneceu com nenhuma incapacidade permanente. d) Caso Marcos consiga identificar de qual janela caiu o objeto, o respectivo morador poderá alegar ausência de culpa ou dolo para se eximir de pagar qualquer indenização a ele. O fundamento desta questão é o artigo 938, conforme sua interpretação atual, constante no enunciado 557 da VI Jornada de Direito Civil. Juliana, por meio de contrato de compra e venda, adquiriu de Ricardo, profissional liberal, um carro seminovo (30.000km) da marca Y pelo preço de R$ 24.000,00. Ficou acertado que Ricardo faria a revisão de 30.000km no veículo antes de entregá-lo para Juliana no dia 23 de janeiro de 2017. Ricardo, porém, não realizou a revisão e omitiu tal fato de Juliana, pois acreditava que não haveria qualquer problema, já que, aparentemente, o carro funcionava bem. No dia 23 de fevereiro de 2017, Juliana sofreu acidente em razão de defeito no freio do carro, com a perda total do veículo. A perícia demostrou que a causa do acidente foi falha na conservação do bem, tendo em vista que as pastilhas do freio não tinham sido trocadas na revisão de 30.000km, o que era essencial para a manutenção do carro. Considerando os fatos, assinale a afirmativa correta. a) Ricardo não tem nenhuma responsabilidade pelo dano sofrido por Juliana (perda total do carro), tendo em vista que o carro estava aparentemente funcionando bem no momento da tradição. b) Ricardo deverá ressarcir o valor das pastilhas de freio, nada tendo a ver com o acidente sofrido por Juliana. c) Ricardo é responsável por todo o dano sofrido por Juliana, com a perda total do carro, tendo em vista que o perecimento do bem foi devido a vício oculto já existente ao tempo da tradição. d) Ricardo deverá ressarcir o valor da revisão de 30.000km do carro, tendo em vista que ela não foi realizada conforme previsto no contrato. Alternativa correta de acordo com o artigo 444, que dispõe que “a responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição. Responsabilidade por vício oculto”. André é motorista da transportadora Via Rápida Ltda. Certo dia, enquanto dirigia um ônibus da empresa, se distraiu ao tentar se comunicar com um colega, que dirigia outro coletivo ao seu lado, e precisou fazer uma freada brusca para evitar um acidente. Durante a manobra, Olívia, uma passageira do ônibus, sofreu uma queda no interior do veículo, fraturando o fêmur direito. Além do abalo moral, a passageira teve despesas médicas e permaneceu por semanas sem trabalhar para se recuperar da fratura. Olívia decide, então, ajuizar ação indenizatória pelos danos morais e materiais sofridos. Em referência ao caso narrado, assinale a afirmativa correta, a) Olívia deve, primeiramente, ajuizar a ação em face da transportadora, e apenas demandar André se não obtiver a reparação pretendida, pois a responsabilidade do motorista é subsidiária. b) Olívia pode ajuizar ação em face da transportadora e de André, simultânea ou alternativamente, pois ambos são solidariamente responsáveis. c) Olívia apenas pode demandar, nesse caso, a transportadora, mas esta terá direito de regresso em face de André, se for condenada ao dever de indenizar. d) André e a transportadora são solidariamente responsáveis e podem ser demandados diretamente por Olívia, mas aquele que vier a pagar a indenização não terá regresso em face do outro. Outra questão sobre responsabilidade por fato de terceiro, artigo 932, III e sobre a solidariedade existente entre todos os responsáveis indicados no artigo 932, conforme artigo 942, parágrafo único. Daniel, morador do Condomínio Raio de Luz, após consultar a convenção do condomínio e constar a permissão de animais de estimação, realizou um sonho antigo e adquiriu um cachorro da raça Beagle. Ocorre que o animal, muito travesso, precisou dos serviços de um adestrador, pois estava destruindo móveis e sapatos do dono. Assim, Daniel contratou Cleber, adestrador renomado, para um pacote de seis meses de sessões. Findo o período treinamento, Daniel, satisfeito com o resultado, resolve levar o cachorro para se exercitar na área de lazer do condomínio e, encontrando-a vazia, solta a coleira e a guia para que o Beagle possa correr livremente. Minutos depois, a moradora Diana, com 80 (oitenta) anos de idade, chega à área de lazer com seu neto Theo. Ao perceber a presença da octogenária, o cachorro pula em suas pernas, Diana perde o equilíbrio, cai e fratura o fêmur. Diana pretende ser indenizada pelos danos materiais e compensada pelos danos estéticos. Com base no caso narrado, a assinale a opção correta. a) Há responsabilidade civil valorada pelo critério subjetivo e solidária de Daniel e Cleber, aquele por culpa na vigilância do animal e este por imperícia no adestramento do Beagle, pelo fato de não evitarem que o cachorro avançasse em terceiros. b) Há responsabilidade civil valorada pelo critério objetivo e extracontratual de Daniel, havendo obrigação de indenizar e compensar os danos causados, haja vista a ausência de prova de alguma das causas legais excludentes do nexo causal, quais sejam, força maior ou culpa exclusiva da vítima. c) Não há responsabilidade civil de Daniel valorada pelo critério subjetivo, em razão da ocorrência de força maior, isto é, da chegada inesperada da moradora Diana, caracterizando a inevitabilidade do ocorrido, com rompimento do nexo de causalidade. d) Há responsabilidade valorada pelo critério subjetivo e contratual apenas de Daniel em relação aos danos sofridos por Diana; subjetiva, e em razão da evidente culpa na custódia do animal; e contratual, por serem ambos moradores do Condomínio Raio de L. Esta questão trata da responsabilidade por fato do animal, disciplinada no artigo 936 do Código Civil. Trata-se de responsabilidade objetiva só afastada por força maior ou culpa/fato exclusivo da vítima. Devido à indicação de luz vermelha do sinal de trânsito, Ricardo parou seu veículo pouco antes da faixa de pedestres. Sandro, que vinha logo atrás de Ricardo, também parou, guardando razoável distância entre eles. Entretanto, Tatiana, que trafegava na mesma faixa de rolamento, mais atrás, distraiu-se ao redigir mensagem no celular enquanto conduzia seu veículo, vindo a colidir com o veículo de Sandro, o qual, em seguida, atingiu o carro de Ricardo. Diante disso, à luz das normas que disciplinam a responsabilidade civil, assinale a afirmativa correta. a) Cada um arcará com seu próprio prejuízo, visto que a responsabilidade pelos danos causados deve ser repartida entre todos os envolvidos. b) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados ao veículo de Sandro, e este deverá indenizar os prejuízos causados ao veículo de Ricardo. c) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados aos veículos de Sandro e Ricardo. d) Tatiana e Sandro têm o dever de indenizar Ricardo, na medida de sua culpa. Esta última questão é importante para compreensão do requisito “conduta”, pois o carro de Sandro foi utilizado como mero instrumento, sendo Sandro apenas vítima do evento danoso, pois não agiu – tampouco contribuiu – para os danos causados a Ricardo. REFERÊNCIAS MIRAGEM, Bruno. Direito Civil: Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva: 2015. STOCO, Rui. Tratadode Responsabilidade Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. TARTUCE, Flávio. Direito Civil - Vol. 2 - Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil, 13ª edição. Forense, 12/2017. [Grupo GEN]. DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL 1. CONCEITUALIZAÇÃO 2. PRESSUPOSTOS 3. CULPA (pressuposto da responsabilidade subjetiva) 4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA 5. DANO 6. NEXO DE CAUSALIDADE 7. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE 8. MENSURAÇÃO DOS DANOS 9. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REPARAÇÃO CIVIL 10. LEGITIMIDADE PASSIVA PARA A REPARAÇÃO CIVIL 11. REPARAÇÃO POR FATO DE TERCEIRO 12. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE GUARDA OU PROPRIEDADE
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