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Infecções das Vias Aéreas Superiores Luiz Pedro Duarte Farias – lpdfarias.med@gmail.com Universidade Salvador – Laureate International Universities Medicina – Clínica Integrada Turma IV INTRODUÇÃO As infecções das VAS são as maiores queixas que chegam ao pronto-atendimento [geralmente é mais da metade]; é uma das patologias mais comuns que chega aos médicos, sendo bastante prevalente nos adultos e na pediatria. Nessa aula, vamos identificar as VAS de traqueia para cima. Uma criança pode ser acometida por uma IVAS, por ano, até 10 vezes – sai de um resfriado, entra em outro e assim vai. Por isso que as IVAS são as afecções mais comuns no atendimento médico. Paciente de 15 anos, masculino, natural e procedente de Salvador, estudante. Há 4 dias apresenta intensa dor ao deglutir (disfagia-odinofagia) alimentos desde os pastosos aos líquidos, até mesmo a saliva. Há 3 dias tem cefaleia holocraniana leve, que cede com dipirona; mialgia difusa; halitose e febre ao longo de todo o dia de até 39oC. Nega alergia a medicações e alimentos. Ao exame físico observa-se jovem em bom estado geral, lúcido a hipoativo, TAX:39oC, FR:21 inc/min, FC:120bpm, PA: 120/70mmHg; mucosas conjuntivais coradas. Pescoço: 02 linfonodos localizados em cadeia amigdaliana e submandibular direita, com 1,5cm de diâmetro cada um deles, dolorosos, móveis, de consistência elástica, sem fistulas, sem hiperemia da pele adjacente. Orofaringe: amigdalas hipertróficas, hiperemiadas e com a presença de múltiplos pontos purulentos (vide imagem). Sumário de dados: 15 anos, masculino; há 4 dias disfagia-odinofagia; há 3 dias tem cefaleia holocraniana leve, que cede com dipirona; mialgia difusa; halitose; febre ao longo de todo o dia de até 39oC; TAX:39oC, FR:21 inc/min, FC:120bpm, PA: 120/70mmHg; pescoço: 02 linfonodos localizados em cadeia amigdaliana e submandibular direita, com 1,5cm de diâmetro cada um deles, dolorosos, móveis, de consistência elástica, sem fistulas, sem hiperemia da pele adjacente. Orofaringe: amigdalas hipertróficas, hiperemiadas e com a presença de múltiplos pontos purulentos. GRIPE E RESFRIADO Uma das afecções mais comuns das VAS é a gripe; ela voltou à tona a pouco tempo atrás com o aparecimento da gripe H1N1. É uma doença viral aguda que acomete as VAS – uma traqueobronquite, ou laringotraqueite ou uma faringolaringotraqueite viral aguda. É causada por um vírus bem específico: ortomixovírus influenza [possui uma série de subtipos]. Antigamente, acreditava-se que a gripe era causada por influencias ambientais – sair na chuva, tomar banho quente e sair do banheiro num local frio, dentre outras situações. Isso acontecia porque os nossos antepassados não sabiam o que causava a gripe. Hemglutinina e neuraminidase são as proteínas que se liga a árvore respiratória e entra dentro da célula, causando a doença – essas proteínas são as que diferenciam os subtipos virais do ortomixovírus. A H1N1 (hemaglutinina 1 e neuraminidase 1) é a que causa a Gripe A, H2N2 causa a Gripe Russa, dentre outras várias combinações que causam diversas gripes. Ou seja, o vírus da gripe possui uma característica curiosa que é o alto poder de mutação, por isso que a pessoa fica gripada várias vezes na vida. Acredita-se que os sintomas graves que a gripe apresenta são devidos a resposta imunológica exacerbada já que o vírus possui pouca viremia. Ou seja, a Influenza é uma doença respiratória febril aguda que ocorre em surtos anuais de gravidade variável e causa epidemias mundiais (pandemias) imprevisíveis. O vírus causador infecta o trato respiratório, é altamente contagioso e, de forma característica, produz sintomas sistêmicos proeminentes inicialmente na doença. O vírus influenza pertencem à família Orthomyxoviridae e são divididos em três tipos (A, B e C), distinguidos por suas proteínas internas e externas. Os sintomas da gripe são: tosse [geralmente tosse seca], febre alta [acima de 38ºC], cefaleia, prostração e mialgia. Gripe é uma doença específica e que pode matar. Hoje em dia, a gripe mata pouco, mas é uma doença que pode se agravar, principalmente em idosos, crianças pequenas e gestantes [H1N1]. Em 1889 houve uma gripe grave que matou muitas pessoas – subtipo H3N?; em 1918, a gripe espanhola, foi uma catástrofe, matando mais de 20 milhões de pessoas – subtipo H1N1; em 2009 presenciamos uma pandemia, a H1N1, uma gripe branda-moderada. Hoje em dia, devido ao surto da H1N1, quando o paciente apresenta os sintomas de gripe, já se deve usar o antiviral específico – o oseltamivir [tamiflu]. O resfriado é outra doença. A gripe e o resfriado são, em comum, infecções das VAS virais. O resfriado, se comparado a gripe, é uma doença muito mais branda – o paciente sente um pouco de frio, a febre não é muito alta, a prostração não é muito intensa e a mialgia também não. As pessoas podem morrer da gripe, mas do resfriado isso não acontece. Em relação aos sintomas respiratórios, os sintomas podem ser muito parecidos. A gripe causa mais tosse e o resfriado causa mais coriza; ambas podem causar dor de garganta [acometer a faringe], principalmente o resfriado. O agente etiológico do resfriado é o rinovírus que possui mais subtipos ainda que o vírus da gripe. Por isso é completamente normal que a pessoa tenha de 5 a 10 infecções das vias aéreas superiores por ano principalmente o resfriado. Tanto a gripe quanto o resfriado podem acometer os seios paranasais, o nariz, a faringe, a laringe e a traqueia. Os vírus dessas doenças possuem tropismo pelo epitélio das VAS. A tosse é algo característico da gripe – geralmente é uma tosse seca que depois pode evoluir para tosse produtiva amarelada, mas não esverdeada. Não dura mais que 1 a 2 semanas. A prostração que acontece na gripe e no resfriado dura até 4 dias. Não existe gripe de um mês, é outra doença. Tanto a gripe, como resfriado, faringite viral e um paciente que faz raio x e está normal e tem tosse aguda [pode ser uma bronquite viral] são doenças virais – NÃO USAR ANTIBIÓTICO! As duas doenças são autolimitadas; dá-se medicamento para gripe devido a mortalidade existente, principalmente nas pessoas com fator de risco. Raio X de tórax é um bom exame para diferenciar uma pneumonia de um resfriado comum/ gripe. A gripe e o resfriado deixam o paciente susceptível a outras infecções [sistema imunológico debilitado lutando contra uma patologia específica]. FARINGITE VIRAL E FARINGITE BACTERIANA Quando o paciente tem dor de garganta, o que é mais comum é que a orofaringe esteja inflamada. Especificamente nas amigdalas é muito comum que exista uma doença bacteriana, chamada amigdalite bacteriana que é o Streptococcus. A grande maioria das faringites tem como causa viral – rinovírus e adenovírus. Quando chega um paciente com amigdalite bacteriana deve ser feito um exame muito simples: abaixar a língua com uma espátula e observar as amigdalas que devem estar purulentas. Usa-se nesse caso, antibiótico. Algumas crianças de 5 a 6 anos que apresentam amigdalite bacteriana desenvolvem dores articulares [poliatrite migratória] e alterações cardíacas [alterações nas válvulas mitral e aórtica] – febre reumática [Streptococus beta hemolítico do grupo A]. O problema da FR não é a doença em si, mas sim as suas complicações. Auscultar o pulmão nessas situações de dor de garganta com amigdalite também é muito importante – as infecções das VAS possuem ausculta limpa, não possuem crepitos, ronco e sibilos. Um paciente com asma pode descompensar para um quadro de sibilo e dispneia, mas não crepitação, se tiver crepitos e roncos, tem que fazer radiografia pois pode ser um caso de pneumonia.É muito comum que alguns pacientes se queixem de cefaleia, principalmente na região frontal e dos seios nasais. Às vezes, concomitantemente, secreções nasais fluidas apareçam também e depois passam a ficar mais amareladas e mais espessas (ou até mesmo esverdeadas). Quadro de sinusites podem acontecer ao mesmo tempo devido ao gotejamento paranasal. A amigdalite pode formar, como complicação, um abscesso bacteriano. Outra complicação é uma doença que começou viral, se tornou bacteriana. SINUSITE INFECCIOSA E SINUSITE ALÉRGICA A sinusite aguda infecciosa é causada basicamente pelos mesmos vírus que causam a faringite viral e resfriado. A sinusite aguda infecciosa é manifestada por cefaleia e inflamação da cavidade nasal. Como é o mesmo vírus, o que vai diferenciar a manifestação é a área que foi acometida, as vezes tudo é acometido. O que vai diferenciar um quadro alérgico de um quadro infeccioso? A presença de febre; mas pode algumas rinosinusites virais podem não apresentar febre ou manifestar uma febre baixa. Sinusite as vezes se manifesta apenas com tosse – grande parte das tosses melhoram com uma ou duas semanas. Tontura e sensação de peso podem estar associadas. A sinusite pode ser viral, bacteriana e alérgica. Se ela for mais fluida e clara, com muitos espirros associado e não apresenta febre, paciente atópico, tende a ser sinusite alérgica. Se a secreção for ficando mais escura, geralmente amarela/ esverdeada, a sinusite tende a ser mais infecciosa. A rinosinusite viral melhora em uma semana, se não melhorar e a secreção ficar mais espessa, tende a ser bacteriana. Se o médico realizar uma radiografia dos seios paranasais, ele perceberá que existe um espessamento seja no caso de uma doença viral, bacteriana ou alérgica, ou seja, não muda as medidas a serem tomadas. O que mais muda são as características clínicas. São doenças autolimitadas em sua maioria e o seu melhor tratamento é o repouso, para que o sistema imunológico funcione. Na clínica, é bom realizar a palpação dos seios paranasais pois quando o paciente possui uma sinusite, na palpação ele vai reclamar de dor, sendo um achado clínico. OTITE MÉDIA E COMPLICAÇÕES Quando a infecção é nos seios paranasais, ela pode chegar aos ouvidos devido a comunicação anatômica existente. A otite média aguda é a inflamação no ouvido médio. Pode chegar uma bactéria no ouvido quanto um vírus. Pode acontecer também do agente não conseguir chegar ao ouvido e devido a reação que acontece [edema], gerar uma obstrução do fluxo de ar e o paciente sentir dor de ouvido. Isso pode ser analisado através da otoscopia. A otite média é muito mais comum em crianças porque a tuba auditiva infantil é mais horizontalizada, no adulto é mais verticalizada. A otite média geralmente é uma complicação das IVAS – provavelmente bacteriana, requisitando o uso de antibióticos. Outra complicação das IVAS/ otite média é o agente chegar, através das comunicações, nas meninges, causando meningite [não é algo comum, mas pode acontecer]. TRATAMENTO E PREVENÇÕES O tratamento para doenças virais consiste em repouso, hidratação [facilita a fluidificação das vias aéreas] e sintomático. O maior erro que os médicos cometem é prescrever antibiótico par doenças virais. Xarope nessas doenãs supracitadas não funcionam. Contudo, para as tosses pós virais – que são tosses secas – um xarope antitussígeno faz bem porque a tosse com o passar do tempo torna-se irritante e o paciente precisa expectorar a secreção [se houver]. Levodopropizina é um bom xarope para tosse. Outra classe muito boa para tosse seca são os anti-histamínicos pois eles possuem efeito anticolinérgico [loratadina, prometazina, fenoxifenadina]. Medicamentos sintomáticos muitas vezes são voltados para dor, já que os pacientes relatam dores e prostração. Usa-se então os analgésicos não opióides, que é a dipirona, paracetamol e ibuprofeno. Em pacientes com broncoespasmo, é muito bom que ele realize a nebulização; ou utilize salbutamol por xarope [não muito eficaz]. Os remédios voltados para gripe, como benegripe, são associações de diversas substâncias – analgésico com um descongestionante [base de substâncias adrenégicas]. Nas pessoas que possuem rinite e usam descongestionantes, é bom ter o cuidado para não acontecer a rinite de rebote. Pacientes com rinosinusite crônica é bom usar corticoide tópico [albometazona, fluticasona], não sendo recomendado o uso depois de 4 dias. Não se trata febre na maioria das vezes, pois a febre não é uma doença, é um sintoma – é um mecanismo de proteção. Se trata quando ela excede o limite de segurança para o organismo, mais ou menos 38 a 38,5ºC – fora o mal-estar que ela produz. Se trata também em pacientes idosos e crianças [risco de convulsão febril – em alguns Quando o paciente está muito dispneico, hipotenso, sente tontura e sudorese, ausculta alterada (creptação, sibilos). Muito dos pacientes que estão a 7 dias de doença é bom realizar um raio X de tórax, isso porque, para pneumonia, o tratamento é completamente diferente. estudos dizem que mesmo tratando a febre, não impede o risco de convulsão febril]. Em um paciente com doença bacteriana, tratar a febre não é algo bom, porque a febre é um indicador de infecção. Para casos de infecção por bactéria, deve-se saber quais são os agentes etiológicos mais comuns – Streptococcus pneumoniae [pneumococo – causa sinusite, pneumonia, meningite, otite], Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Pseudomonas [otite e sinusite graves]. Os fármacos a serem usados são os antibióticos das vias aéreas superiores beta-lactâmicos, amoxicilina (+ clavulanato), macrolídeos [azitromicina], penicilina benzatina (droga extraordinária para tratar amigdalite grave e profilaxia de febre reumática). As quinolinas respiratórias não possuem necessidade de serem usadas nas IVAS [bola de canhão para formiguinha] – preservar antibióticos potentes para bactérias resistentes. Num caso de uma sinusite/ otite muito grave, com muita obstrução de via aérea, pode usar por um tempinho o corticoide associado a amoxicilina. Não se deve usar um anti-inflamatório, contudo se usa no “off-lei” – contudo, não se deve usar em doenças infecciosas e sim em casos de inflamação apenas. Prevenção dessas doenças acontece com a vacina. A vacina faz uma prevenção de rebanho – se uma pessoa não tomar, ela está prevenida porque as pessoas que estão ao seu redor e tomaram a vacina formam uma barreira protetora. A vacina da gripe não causa gripe, mas causa sintomas gripais – devido a sua forma de produção. As pessoas que são alérgicas a ovo devem ter cuidado com as vacinas pois a sua forma de produção utiliza o ovo. Higiene das mãos é outra forma de prevenção; uso de máscaras também é outro modo. Manter o sistema imunológico forte (ficar longe de estresses) faz bem para a prevenção.
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