Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EAD MORFOSSINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA Profª. Drª. Vera Lúcia Massoni Xavier da Silva APRESENTAÇÃO Nesta disciplina vamos abordar um aspecto fantástico da Língua Portuguesa: a Morfossintaxe. O próprio nome da disciplina já nos diz alguma coisa: morfo equivale à Morfologia e sintaxe à Sintaxe, responsável pela estrutura da língua. A decodificação que efetuamos aqui pouco nos diz, pois há inúmeros aspectos a serem tratados nessa nossa caminhada. Iniciemos considerando as palavras. Você sabe que as palavras são construídas e, no cotidiano, nem sempre nos damos conta disso. Na língua, as palavras podem ser construídas, inventadas, criadas, porque existem caminhos abertos para que assim o façamos. Mas, cuidado, os caminhos não são tão livres assim, pois toda criação deve levar em conta a estrutura da língua. Vamos abordar, em Morfossintaxe da Língua Portuguesa, a criação de palavras na língua, sem delegar ao segundo plano a estrutura a que devemos nos vincular para a produção de significados. Nossa matéria-prima de estudo serão os morfemas, elementos portadores de significado, pertencentes à segunda articulação da linguagem humana. Profª. Drª. Vera Lúcia Massoni Xavier da Silva 2 PROGRAMA DA DISCIPLINA EMENTA: Noções básicas de morfologia. Morfemas e alomorfes. Estrutura e formação de palavras. Flexão Nominal. Organização da frase. Estrutura da oração. OBJETIVOS: Propiciar conhecimentos sobre a estrutura e formação de palavras na Língua Portuguesa; Explicitar a diferença entre morfema derivacional e morfema flexional; Propiciar conhecimentos sobre a estrutura da frase em português. CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS: noções básicas de morfologia portuguesa; Morfologia, morfema, morfe.; Estrutura mórfica dos vocábulos: morfema lexical, morfema gramatical.; Flexão; Flexão nominal: gênero e número.; Gradação; Aumentativo e diminutivo.; Comparativo e superlativo.; Derivação; Tipos: derivação prefixal, derivação sufixal, derivação prefixal e sufixal, parassíntese, derivação imprópria, derivação regressiva.; Composição; Tipos: justaposição - aglutinação. METODOLOGIA: Adotamos para a disciplina uma metodologia que alia a teoria à prática, propiciada por meio de atividades que permitam, a partir de exemplos, a reflexão sobre a estrutura da língua. AVALIAÇÃO: No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. 3 A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 1) Trabalhos individuais avaliativos realizados no AVA; 2) Provas semestrais realizadas presencialmente; As estratégias de recuperação incluirão: 1) retomada eventual dos conteúdos abordados nas unidades, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno; REFERÊNCIAS ALVES, I.M. Neologismo. São Paulo: Ática, 1990. BARROS, E.M. Nova gramática da língua portuguesa. São Paulo: Atlas, 1985. BASÍLIO, M. Teoria lexical. São Paulo: Ática, 2006. CÂMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970. CÂMARA JR., J. M. Problemas de linguística descritiva. Petrópolis: Vozes, 1969. CARONE, F.B. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 2000. KEHDI, V. Morfemas do português. São Paulo: Ática, 1990. ____. Formação de palavras em português. São Paulo: Ática, 1992. KOCH, I.V.; SILVA, M.C.P. de S. Linguística aplicada ao português: morfologia. São Paulo: Cortez, 2004. LOPES, E. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 1980. MACAMBIRA, José Rebouças. Português estrutural. São Paulo: Pioneira,1978 MARTINET, André. Elements de linguistique générale. Paris: PUF, 1960 MONTEIRO, J.L. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 1991. SANDMANN, A.J. Formação de palavras no português brasileiro contemporâneo. Curitiba: Ícone, 1989. ____. Morfologia lexical. São Paulo: Contexto, 1992. 4 SUMÁRIO UNIDADE 1- MORFOLOGIA: PRESSUPOSTOS BÁSICOS ........................................................... 5 UNIDADE 2- MORFEMAS: CONCEITO E PRINCÍPIOS DE ANÁLISE MÓRFICA ................. 10 UNIDADE 3- TIPOS DE MORFEMAS ............................................................................................. 17 UNIDADE 4- PROCESSOS DE DERIVAÇÃO ................................................................................ 22 UNIDADE 5- COMPOSIÇÃO ........................................................................................................... 28 UNIDADE 6- FLEXÃO NOMINAL ................................................................................................... 37 UNIDADE 7- SINTAXE: PRINCÍPIOS BÁSICOS ............................................................................ 48 5 UNIDADE 1- MORFOLOGIA: PRESSUPOSTOS BÁSICOS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os pressupostos básicos da Morfologia. Nesta unidade, discutimos alguns pressupostos linguísticos, com vistas a detectar o objeto de estudo da Morfologia. Os fonemas constituem a primeira unidade mínima da Linguística; estão destituídos de qualquer significado, funcionam, na língua, apenas como discriminadores de significados em potencial. Assim como os fonemas, são as sílabas, isto é, dois ou mais fonemas articulados que não ultrapassam os limites do campo a que pertencem, as unidades não significativas: plano de expressão. Mas qual é, de fato, o objeto da Morfologia? Vamos a ele? ESTUDANDO E REFLETINDO Sabemos que uma palavra qualquer como “faca”, por exemplo, quer dizer alguma coisa, dá uma imagem que não reside em uma de suas duas sílabas, pois estas, separadamente, não abrangem a imagem procurada. Dessa forma, somos tentados a concluir que a imagem abarca toda a extensão da palavra. Mas o que dizer de palavras como facada e facas? Pelo confronto, faca, facas, facada, percebemos que a imagem procurada reside em “fac”(objeto cortante), que se articula com um a ou com segmentos ada e s. Neste caso, o s e ad” já não são mais elementos desprovidos de significação, são partes das palavras e não das sílabas que as compõem. Em ada, podemos ter, por exemplo, a significação de “golpe desferido com alguma coisa”, em s, observamos a ideia de número plural. Portanto, tais elementos, justamente por serem portadores de significado, pertencem ao plano de conteúdo. 6 Pode-se afirmar que a distinção entre plano de conteúdo e plano de expressão é de natureza qualitativa: ausência ou presença de significado. Você já ouviu falar em plano de expressão e plano de conteúdo, mas vale a pena recordar. Plano de expressão é um veículo por onde se transite um conteúdo; plano de conteúdos é o conteúdo a ser transmitido. Resta, no entanto, explicitar como o plano de expressão e o plano de conteúdo se articulam. Articulação Pode-se dizer que articulação, isto é, propriedade que têm as formas linguísticas de serem suscetíveis de análise, é uma característica específica da linguagem humana. Martinet (1960) estabeleceu o princípio da dupla articulação da linguagem verbal. A primeira é a articulação das unidades significativas e ocorre como, por exemplo, “menina”: menin-, significação básica da palavra; a-, marca de gênero. Nessa perspectiva, as unidades com significação pertencem ao plano de conteúdo. A segunda articulação situa-se no plano de expressão e refere-se às unidades mínimas desprovidas de significado, isto é, os fonemas. Substância e Forma A substância é a matéria-prima,pode-se dizer que é um conglomerado de elementos que devem ser arranjados, estruturados, isto é, devem ter uma forma. Os conceitos de forma e substância se aplicam a todas as coisas, em todos os níveis; por exemplo, leite, farinha, açúcar e ovos são substâncias que, para se transformarem 7 em bolo, precisam de uma forma (medida para todos esses elementos). Em termos linguísticos, os fonemas são a substância que, tomados isoladamente, nada significam e não constituem língua, mas se estruturarmos esses elementos, isto é, se lhes dermos forma, eles constituirão as sílabas, estas as palavras, e aqui, sim, há significado, como em : b + o (bo), l + o (lo) bolo. O plano de expressão possui forma e substância, e o mesmo se dá com o plano de conteúdo. Assim, observamos: Forma- fonemas- Fonologia (estudo dos fonemas) Plano de expressão Substância- sons- Fonética (estudo das possibilidades articulatórias dos sons) Forma- morfemas- Morfologia (estudo dos elementos providos de significado) Plano de conteúdo Substância- tudo o que queremos expressar- Semântica (estudo do significado das palavras) 8 Nosso estudo, neste momento, será centralizado na forma do conteúdo, isto é, nos morfemas. BUSCANDO CONHECIMENTO Níveis de Construção do Plano de Conteúdo Podemos estabelecer cinco níveis: 1- Nível do morfema- unidades mínimas portadoras de significado, que se articulam com outros morfemas para formar uma unidade de nível superior ou de segundo nível (“cas/a/s”). 2- Nível do vocábulo- unidade construída por um ou mais morfemas, articula-se com outros vocábulos (“casas bonitas”). 3- Nível da lexia- Pode ter a conformação de um vocábulo, mas o que nela se considera é seu comportamento dentro de uma unidade maior. Um vocábulo qualquer, como “diplomata”, por exemplo, pode ocupar papel central (substantivo) ou marginal (adjetivo), como em: Diplomata americano e Americano diplomata Assim, lexia é a unidade de comportamento e nem sempre é confundida formalmente com o vocábulo, pois pode ser composta de dois ou mais vocábulos (“guarda-roupa”, “rodapé”) ou complexa, como “Deus nos acuda” (frase volitiva), que pode assumir comportamento léxico de substantivo (“Foi um Deus nos acuda”). 9 4-Nível do sintagma- tem as lexias como constituintes e é uma construção que se faz no plano da estruturação sintática: SN (sintagma nominal) e SV (sintagma verbal), por exemplo. 5-Nível da oração- resultado da articulação entre SN e SV. Os pássaros cantam SN SV PARA TREINAR!!! 1- Sabemos que uma palavra qualquer pode ser dividida em elementos portadores de significado e elementos sem significado. Considerando a palavra “meninada”, explicite esses elementos. 2- O nível da lexia aborda o comportamento das unidades na língua. Tomando-se as expressões “cantor brasileiro” e “brasileiro cantor”, explicite as lexias aí presentes. GABARITO 1- MENIN- MORFEMA LEXICAL – GUARDA A SIGNIFICAÇÃO BÁSICA DA PALAVRA / ADA MORFEMA DERIVACIONAL, CUJO SIGNIFICADO É CONJUNTO DE MENINOS 2- Em cantor brasileiro, o termo cantor é substantivo e brasileiro funciona como adjetivo; já em brasileiro cantor, brasileiro é substantivo e cantor é adjetivo. Essa classificação é feita com base na ordem das palavras, pois comumente o substantivo precede o adjetivo. 10 UNIDADE 2- MORFEMAS: CONCEITO E PRINCÍPIOS DE ANÁLISE MÓRFICA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Conceituar morfema; Definir formas livres, presas e dependentes.; Explicitar os princípios da análise mórfica. Nesta unidade, abordamos a forma do plano de conteúdo: o morfema e os princípios básicos de análise morfológica. Vamos a eles? ESTUDANDO E REFLETINDO De certa maneira, você já é capaz de definir morfema: unidade mínima significativa, elemento da primeira articulação da linguagem humana. O morfema apresenta-se formalizado em fonemas, que se concretizam por meio de sons. Em outras palavras, os sons tomam forma nos fonemas, que se unem para a constituição dos morfemas. No entanto, vale dizer que a transição de fonema a morfema implica uma diferença qualitativa, isto é: unidade sem significado= fonema X unidade com significado = morfema. Você pode questionar se sempre o morfema possui mais de um fonema. A resposta é negativa, pois poderá haver coincidência entre morfema e fonema, como “a” morfema indicador de gênero e “a” fonema, mas são entidades diferentes que pertencem a níveis de análise diferentes. Formas Presas, Livres e Dependentes Segundo Bloonfield (1933), formas livres são aquelas que podem constituir, isoladas, um enunciado suficiente para a comunicação; formas presas são aquelas que, sozinhas, não constituem uma comunicação, um enunciado. Parece confuso, mas é bem simples, basta observar o exemplo abaixo. 11 Tomando-se a palavra leal, observamos tratar-se de uma forma livre, assim como também é uma forma livre mínima desleal. Por que são formas livres? Simplesmente pelo fato de serem formas comunicativas. Parece até que falei a mesma coisa, mas não. Veja bem. Se alguém me perguntar: “Como ele é?”. Posso responder “leal”, ou “desleal”. No entanto, quando tomamos o des (prefixo negativo, portanto significativo), observamos que não se trata de uma forma livre, pois à questão formulada acima não posso responder dês. Por essa razão, é chamada de forma presa, isto é, forma que se agrega a outras formas, mas que sozinhas não são comunicativas. Vocábulos como girassol, couve-flor são formas livres mínimas, porque cada uma conserva seu conteúdo semântico, quando desfeita a composição. Assim, uma palavra pode ser constituída por: -uma forma livre mínima - leal; -duas ou mais formas livres mínimas - couve-flor; -uma forma livre e duas ou mais formas presas- in (forma presa) - feliz (forma livre) - mente (forma presa); Segundo Mattoso (1970), não cabem nessa classificação certas palavras peculiares pela atonicidade (palavras átonas, tais como: artigos, preposições, algumas conjunções, pronomes oblíquos átonos), que, por si só, não são capazes de constituir comunicação. Para Carone (2000), devem ser incluídos também os pronomes oblíquos tônicos mim, ti, si. Ressalte-se que tais palavras poderão ser tratadas como formas livres, quando construírem enunciados como: “O que você ditou: dê ou mê? – Mê”. Observe que de preposição (de) e pronome (me) houve a mudança para substantivos. 12 Mattoso (1970), para preencher as lacunas, introduz um terceiro conceito: o de formas dependentes. Essas formas não são livres, porque não constituem comunicação e não são presas, porque são separáveis como vocábulos formais. Introduzindo a noção de forma dependente, Mattoso (1970) ampliou o conceito de vocábulo formal: unidade a que se chega, quando não é possível a divisão em duas ou mais formas livres ou dependentes. Cabe aqui a diferença entre vocábulo fonológico e vocábulo formal. A integração dos clíticos (partículas átonas) a um vocábulo dotado de tonicidade constitui um único vocábulo fonológico. Assim, dá-lo equivale a um dissílabo paroxítono, sendo um único vocábulo fonológico, mas dois vocábulos mórficos ou formais. A forma dependente é um vocábulo formal e não vocábulo fonológico, ao contrário das palavras compostas por justaposição, que são constituídas por mais de um vocábulo fonológico, mas o conjunto é apenas um vocábulo formal. Quando se aglutinam, há coincidência: vocábulo formal e fonológico (pernalta = um formal e um fonológico). BUSCANDO CONHECIMENTO Morfemas lexicais e morfemas flexionais Martinet (1960) denominaas unidades da primeira articulação, isto é, os morfemas, de monemas. O autor citado distingue os lexemas (unidades que se situam no léxico) e os morfemas, unidades que se situam na gramática. 13 Vale dizer que você poderá deparar com outra designação: lexema = unidade do léxico e gramema = unidade da gramática. Optamos, porém, pela designação de morfemas lexicais e morfemas gramaticais. Vamos entendê-los? Os morfemas lexicais guardam a significação básica da palavra. Por exemplo, em pata, o morfema lexical é pat e diz respeito ao vocabulário da língua, ao dicionário, enquanto que a é um morfema gramatical e diz respeito à gramática da língua, pois é indicativo de gênero. No vocábulo infelizmente, observamos um morfema lexical, feliz, e dois morfemas gramaticais, in e mente. Acrescentamos que não se pode confundir o conceito de formas livres, dependentes e presas com o de morfemas, pois são conceitos estabelecidos a partir de critérios diferentes; os primeiros situam-se no nível da frase, isto é, do funcionamento das unidades linguísticas no enunciado; os segundos, no nível do vocábulo, da possibilidade ou não de aceitarem a divisão em menores unidades significativas ou da primeira articulação. Análise Mórfica Análise mórfica consiste na descrição da estrutura do vocábulo mórfico, depreendendo seus morfemas. A depreensão dos morfemas realiza-se a partir da cadeia sintagmática, isto é, de um conjunto de unidades articuladas que forma um todo maior, seja vocábulo ou frase. Para a análise de uma língua estrangeira, basta verificar a cadeia fonológica que se repete, assim como a vizinhança anterior e posterior nos segmentos analisados. Isso 14 pode levar a conclusões sobre a distribuição e a delimitação dos morfemas dessa língua. A depreensão dos morfemas se dá na cadeia sintagmática, mas só se completa graças à existência de reservas de segmentos. Essas reservas constituem o paradigma, conjunto de unidades ausentes que poderiam substituir aquela, presente no sintagma. O princípio básico da análise mórfica é a comutação, isto é, troca de um segmento no plano de expressão, o que ocasiona alteração no plano de conteúdo. Vejamos algumas comutações possíveis: am / a / va- morfema de pretérito imperfeito am / a / ra - morfema de pretérito mais-que-perfeito am / a / sse -morfema de imperfeito do subjuntivo A comutação permite a segmentação do vocábulo formal em seus elementos constitutivos, isto é, em morfemas. Para a análise mórfica, devemos levar em conta dois outros princípios: alomorfia e mudança morfofonêmica A alomorfia é a possibilidade de variação de um morfema. Um bom exemplo se dá com a flexão de número. A marca de plural é / s /, mas após /r/, /s/, /z/ a realização do plural se dá pelo alomorfe (variante do morfema) /es/, que tem a mesma função do /s/. A alomorfia pode ocorrer também nos morfemas lexicais como: /ordem/, /orden/ e /ordin/, que tem a mesma significação em ordem, ordenar e ordinária, respectivamente. 15 A alomorfia pode ser ou não condicionada fonologicamente. A não condicionada implica variações livres, sem causa fonológica como em: faz, fiz, fez. A fonologicamente condicionada consiste na aglutinação de fonemas, nas partes finais e iniciais de constituintes, acarretando mudanças fonéticas. Trata-se de uma mudança morfofonêmica, porque, operando entre fonemas, afeta o plano mórfico da língua. Como exemplo desse tipo, citamos /in/, que se reduz a /i/ diante de consoante nasal: incapaz e imoral. Cumulação e Neutralização Cumulação é o nome dado ao morfema que contém em si dois ou mais valores, cuja existência podemos comprovar pela comutação (troca), mas não podemos isolar pela segmentação. Assim, em amas, é impossível dizer onde, no morfema s, reside a segunda pessoa e onde está o número singular. Neutralização é a perda de oposição entre unidades significativas diferentes. Bom exemplo disso é a perda da oposição entre a primeira e terceira pessoas gramaticais em vários tempos verbais: cantava; cantaria (eu / ele). PARA TREINAR!!! 1- Afirmamos anteriormente ser possível detectar os morfemas lexicais e gramaticais, mesmo de uma língua estrangeira desconhecida. Observe dados da língua falada em Samoa (Oceano Pacífico), citados por Gleason (1995, p. 29) e responda ao que se pede. Manao –quer mannao- querem Matua – é velho matutua- são velhos Malosi- é forte malolosi- são fortes a) Qual é o morfema lexical das palavras acima? b) Quais são os morfemas gramaticais das palavras acima? 16 2- Como você faria o plural das palavras abaixo também da língua de Samoa? a) Punou- retesa ___________ -retesam b) Pese- canta ___________ -cantam 3- Decomponha os morfemas lexicais e gramaticais das palavras abaixo: Infelizmente Imoral Lealdade 4- Explique o fenômeno ocorrido em: faz - fez - fiz e dúvida/indubitável. GABARITO 1- A) Manao, matua, malosi B) n,tu, lo 2- Punnou/ pesese 3- In – morfema derivacional- feliz –morfema lexical, mente morfema derivacional/ i - Morfema derivacional moral- morfema lexical; leal morfema lexical; dade- morfema derivacional 4- A alomorfia pode ser ou não condicionada fonologicamente. A não condicionada implica variações livres, sem causa fonológica como em: faz, fiz, fez. A fonologicamente condicionada consiste na aglutinação de fonemas, nas partes finais e iniciais de constituintes, acarretando mudanças fonéticas. Trata-se de uma mudança morfofonêmica, porque, operando entre fonemas, afeta o plano mórfico da língua. Como exemplo desse tipo, citamos /in/, que se reduz a /i/ diante de consoante nasal: incapaz e imoral. 17 UNIDADE 3- TIPOS DE MORFEMAS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os tipos de morfemas. Como dissemos anteriormente, optamos pelas designações de morfemas lexicais e morfemas gramaticais. Os morfemas gramaticais podem ser: classificatórios, flexionais, derivacionais e relacionais. ESTUDANDO E REFLETINDO Os morfemas classificatórios são constituídos pelas vogais temáticas: a, e, i, nos verbos, e a, e, o, nos nomes. A ausência de vogal temática cria as formas atemáticas, que se circunscrevem às palavras terminadas em consoantes e vogais tônicas (mar, café). Morfemas flexionais “fletem” ou alteram os morfemas lexicais, adaptando-os à expressão das categorias gramaticais que a sua classe admite: nos nomes (gênero e número); nos verbos (modo, tempo, número e pessoa). Os morfemas flexionais são cinco: aditivos, subtrativos, alternativos, morfema zero, morfema latente. Aditivos- resultam do acréscimo de um ou mais fonemas ao morfema lexical: mesa- mesas doutor- doutora Em mesa, pela adição do s, observamos a indicação do número plural; em doutora, o acréscimo de a indica o feminino. 18 Subtrativos - resultam da supressão de um segmento fônico do morfema lexical: órfão - órfã Alternativos- resultam da alternância de um fonema no interior do vocábulo: formoso /o / - formosa / / povo /o / -povos / / Nos exemplos acima, a alternância é um traço secundário, já que o /a/ indica o feminino (formosa) e o /s/ o número (povos). Daí considerarem-se estes casos de alternância, morfemas redundantes, isto é, mais de um traço para indicar uma categoria gramatical. Tal fato, porém, não se dá nos pares avô / avó, em que se constata que é a alternância que indica o gênero, pois o morfema indicador deste /a / está ausente. Morfema zero Ф- é a ausência de marca para expressar determinada categoria gramatical. Esse morfema só ocorre quando há oposição. Assim, por exemplo, professor caracteriza-se por morfema zero de gênero, porque é masculino, e número (singular), opondo-se a professora / professoras,cujos morfemas a e s indicam, respectivamente, o gênero feminino e o número plural. Morfema latente ou alomorfe zero- tem como característica a ausência de marca; não apresenta, portanto, morfema gramatical próprio para indicar qualquer categoria. Se você observar as palavras lápis e artista, notará que lápis é usado para o singular e para o plural e artista pode ser empregado para o masculino e o feminino. Você deve estar se questionando quanto ao responsável pela atribuição do número e do gênero dessas palavras. Trata-se do artigo definido ou indefinido. Assim, para se referir ao plural, dizemos os lápis; analogamente, para o feminino empregamos o artista/a 19 Atenção: Os morfemas flexionais não criam novas palavras Vogais e consoantes de ligação são elementos introduzidos nas palavras em razão de efeitos eufônicos, ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a pronúncia de uma determinada palavra. gas-ô-metro, alv-i-negro, tecn-o-cracia, pau-l- ada, cafe-t-eira, cha-l-eira, inset-i-cida, pe-z- inho, pobr-e-tão. artista. A designação latente provém do fato de que as significações se revelam no contexto. Morfemas derivacionais são aqueles que criam novas palavras na língua, a partir de um morfema lexical: casa- casebre- casinha. Diferentes dos flexionais, tais morfemas não pertencem a um paradigma coeso, fechado (singular/plural; masculino/feminino), mas, sim, a uma classe aberta com inúmeras possibilidades a serem utilizadas pelos falantes. Na verdade, os morfemas derivacionais não constituem um quadro regular. Sabe o que significa isso? É simples, a partir de envolver, por meio do morfema derivacional- mento, obtemos a palavra envolvimento, mas para consolar, a derivação possível é consolo e não consolamento. O resultado da derivação é o surgimento de um novo vocábulo, e pode-se dizer que é o processo mais produtivo de formação de palavras. Morfemas relacionais ordenam os elementos da frase, concatenando os morfemas lexicais entre si. Trata-se das preposições, das conjunções e dos pronomes relativos. PARA TREINAR 1- Classifique os morfemas flexionais em cada par de vocábulos: pastor – pastora alemão - alemã o, a estudante 20 formoso - formosa o, os ônibus 2- O que é morfema Ø? Dê exemplos. 3- Diferencie morfemas flexionais e morfemas derivacionais. 4- Analisando os exemplos abaixo, explique os motivos que nos levam a considerar a expressão de grau como um mecanismo de derivação: um carro novo uns carros novos um carrinho novinho um carrinho novo um carro pequeno novo 5- Divida e classifique os morfemas das palavras abaixo: indiretamente professora cliente heroína gasogênio facilidade capinzal 6- Você sabe a diferença entre vogal temática e morfema flexional? Se não sabe está na hora. A vogal temática nominal enquadra os nomes em terminações: a, e, o. A vogal temática verbal classifica os verbos em três conjugações: a; e; i. Não se pode 21 generalizar: o a é sempre vogal temática, pois há casos em que é morfema flexional de gênero feminino. Por exemplo, em mesa, o a é vogal temática, mas em menina é morfema flexional. Sabe por quê? É simples. Quando a palavra possui o masculino equivalente é morfema flexional, quando não a possui é vogal temática. Com base nessas informações classifique as vogais das palavras abaixo. Menina Gata Cachorro Doutora Médica GABARITO 1 - ADITIVO; SUBTRATIVO, LATENTE, ALTERNATIVO, LATENTE 2 - é a ausência de marca para expressar determinada categoria gramatical. 3 - Morfemas flexionais fletem as palavras, não propiciando uma classe aberta, isto é, se for morfema flexional de número só há possibilidade de singular ou plural. O morfema derivacional constitui um inventário aberto de possibilidades, propiciando ao falante inúmeras possibilidades de criação vocabular. 4- Nem sempre o sufixo inho indica pequenez e para expressar a ideia de pequeno podemos recorrer a vários expedientes da língua, conforme ilustrado nos exemplos acima. 5-indiretamente in- morfema derivacional; direta- morfema lexical; mente- morfema derivacional Professora- professo morfema lexical; a- morfema flexional aditivo Cliente- client- morfema lexical; e- vogal temática nominal Facilidade- fácil- morfema lexical- dade- morfema derivacional Capinzal- capin- morfema lexical; z- consoante de ligação- AL morfema derivacional 6- Menina- a- morfema flexional de gênero Gata- a- morfema flexional de gênero Cachorro- o- vogal temática Doutora- a morfema flexional de gênero Médica- a morfema flexional de gênero 22 UNIDADE 4- PROCESSOS DE DERIVAÇÃO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os mecanismos utilizados para a derivação Nesta unidade, vamos abordar o processo de formação de palavra, denominado derivação. Trata-se de procedimento mais produtivo para o enriquecimento do léxico, e consiste na formação de palavras novas por meio de afixos agregados a um morfema lexical. ESTUDANDO E REFLETINDO Sabemos que a língua, como organismo vivo que é, está em constante transformação, ou seja, termos entram em desuso, e termos novos passam a integrar o vir-a-ser da língua. Nesse caso, o falante exerce papel preponderante, já que é livre para criar termos novos. No entanto, há que se ressaltar que essa liberdade é relativa, pois para a criação deve-se levar em conta a estrutura da língua. No que diz respeito à derivação, é preciso considerar algumas condições: 1º) Possibilidade de depreensão sincrônica dos morfemas componentes. Algumas palavras, no estágio atual da língua, são consideradas primitivas e não derivadas, já que não é possível a recuperação do morfema lexical. Como exemplo, citamos as palavras: submisso, perceber, conduzir, admitir. Você deve perceber que não existe, no estágio atual da língua, os morfemas lexicais misso, ceber, duzir e mitir. 2º) Possibilidade de o afixo, como forma mínima, estar à disposição dos falantes nativos, no sistema. (A maior ou menor produtividade do afixo auxilia o falante 23 não só a formar determinadas palavras e não outras, como também a interpretar determinados vocábulos como morfologicamente complexos ou simples. Segundo Basílio (2006), as palavras são estruturadas em camadas que podem atingir vários níveis. Existe o vocábulo simples (formado de morfema lexical - mar, sol, azul, ou morfema lexical + V.T. + morfemas flexionais) e o vocábulo complexo, ou seja, a palavra que contém mais de um elemento e é estruturada basicamente como a combinação de uma base (radical) com um afixo. Esta base pode, por sua vez, ser também complexa, isto é, também estruturada em termos de base + afixo. Assim, podemos ter vários níveis ou camadas na estrutura de uma palavra. centr(o) --> base (substantivo) central --> centro (base) + al (sufixo)= adjetivo central (base)+ izar (sufixo verbalizador) -> verbo DES (prefixo) + centralizar (base) -> verbo Descentralizar (base) + ção (sufixo substantivador indicando ação, resultado). (BASÍLIO, 2006, p. 13-14). A autora citada acima considera que, em todos os níveis, há uma construção de BASE + AFIXO. Nesta perspectiva, a palavra não é formada de uma sequência de morfemas, mas constituída, estruturalmente, de uma base acrescida de afixo. Para Kehdi (1992), os afixos (prefixos e sufixos) exercem funções sintático-semânticas. Os prefixos agregam-se a verbos e adjetivos, à exceção de descaso, desfavor e desrespeito, e não alteram a classe gramatical. Neste caso, desempenham apenas papel semântico (de significado), como se pode observar em: ver – rever (verbo dando origem a verbo); igual–desigual (adjetivo originando adjetivo). Diferentemente, os sufixos contribuem para a mudança de classe gramatical,além da mudança semântica. Assim de civil (adjetivo) formamos civilizar (verbo) 24 A derivação parassintética forma os verbos incoativos, isto é, marcam o início da ação BUSCANDO CONHECIMENTO Koch e Silva (2004) propõem quatro tipos de derivação: prefixal, sufixal, prefixal e sufixal e parassintética. A derivação prefixal caracteriza-se pelo acréscimo de prefixos ao morfema lexical, tais como se observa em: reter, ilegal, compor. Na derivação sufixal, agregam-se sufixos ao morfema lexical, como, por exemplo: saboroso, grandalhão, vozinha, ponteira. A derivação prefixal e sufixal caracteriza-se pelo acréscimo de prefixos e sufixos ao morfema lexical: deslealdade, infelizmente. Derivação parassintética caracteriza-se pelo acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo ao morfema lexical: entardecer, esverdear. Você pode estar se questionando se a prefixal e sufixal e a parassintética não significam a mesma coisa. Não, pois na primeira não existe obrigatoriedade de o prefixo e o sufixo ocorrerem ao mesmo tempo. Assim, podemos ter: desleal, apenas prefixal, e lealdade, apenas sufixal. Diferentemente, na derivação parassintética só existe a forma básica, como verde, em que, com o acréscimo de prefixo e sufixo, formamos esverdear, não existindo, portanto, verdear nem esverde. BUSCANDO CONHECIMENTO Outros tipos de derivação Derivação regressiva caracteriza-se pela subtração de morfemas. A palavra resultante não tem o mesmo significado ou uso da palavra derivante. 25 Derivações regressivas deverbais: jogar/jogo ensinar/ensino amparar/amparo esperar/espera começar/começo buscar/busca atacar/ataque tocar/toque lutar/luta revidar/revide Segundo Basílio (2006), [...] temos um caso de derivação regressiva quando uma palavra é interpretada como sendo uma construção base + afixo e, então, o afixo é retirado para se formar uma outra palavra constituída apenas da suposta base. (Não confundir com, por exemplo, palavras como gatão/gato -> isso não é derivação regressiva, pois a palavra gato já existe, e temos sua ocorrência com ou sem o aumentativo.) O processo de formação dos substantivos a partir de verbos (os deverbais) apresenta dois problemas: a questão morfológica e a questão semântica. (BASÍLIO, 2006, p. 39-43). Questão Morfológica: Até que ponto deveríamos considerar tais formações como formações regressivas? Veja: apertar / aperto ameaçar / ameaça cortar / corte Se considerarmos como derivação regressiva, pelo menos temos que considerar que se trata de um caso misto, pois ocorre o acréscimo das vogais (a, e, o). Estamos lidando com dois níveis de análise: o flexional (onde se situa o processo de formação do infinitivo) e o derivacional, cuja base é o tema verbal. (Tema verbal + a, e, o para formar substantivos a partir de verbos). 26 Questão Semântica: O nome deriva do verbo ou o verbo deriva do nome? As gramáticas normativas apontam para a seguinte distinção: quando o significado é de "ação", como em luta, a formação é deverbal; portanto, derivação regressiva. Quando o significado é um objeto concreto ou substância, o substantivo é o básico e não há derivação regressiva, como se constata em água /aguar, perfume/perfumar. Mas, e quando o substantivo não é nem ação e nem objeto concreto, como em atraso e demora, por exemplo? Nesse caso, a proposta de análise de Basílio (2006) é que Podemos dizer que uma formação é deverbal quando puder ser usada com sentido verbal, tal qual se observa em: A demora de Maria está aborrecendo Pedro. Pedro está ficando aborrecido porque Maria está demorando. Portanto, demora (deverbal - Derivação Regressiva). (BASÍLIO, 2006, p. 42). Segundo o raciocínio de Basílio (2006), em O enfeite de Maria não durou muito, não podemos ter Maria não demorou muito se enfeitando ou Maria não demorou muito sendo enfeitada. Portanto: enfeite = substantivo básico. Abreviação ou redução: A palavra formada é sinônima da derivante, sendo apenas usada, às vezes, num estilo mais coloquial. Ex: botequim -> boteco microcomputador -> micro São Paulo -> Sampa psicanálise -> análise grã-fina -> granfa delegado -> delega videocassete -> vídeo Derivação imprópria ou conversão é enriquecimento vocabular ocasionado pela mudança da classe de palavras, sem modificar o significante. Segundo Koch e Silva 27 (2004, p. 33), trata-se de um processo sintático semântico e não morfológico. Alguns exemplos de conversão: a) de substantivo próprio a comum = quixote, campanha. b) de substantivo comum a próprio: Figueira, Oliveira, Coelho. c) de adjetivo a substantivo: brilhante, ouvinte. d) de substantivo a adjetivo: burro. e) de verbo a substantivo: afazer, pesar, andar. f) de adjetivo a advérbio: (falar) alto, (custar) caro. g) de invariáveis a substantivos: (o) sim, (o) não. PARA TREINAR “Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza de desinventar”. 1- Nos versos acima, dê o processo de formação das palavras grifadas. 2- Identifique as regras de derivação que foram violadas na formação das palavras abaixo: a) barrigável b) mesador c) bonitamento d) sozinhamente e) consequencialmente GABARITO TRISTEZA- DERIVAÇÃO SUFIXAL FINEZA-DERIVAÇÃO SUFIXAL DESINVENTAR- DERIVAÇÃO PREFIXAL a) barrigável- Derivação sufixal b) mesador- derivação sufixal- já existe uma palavra na língua c) bonitamento- derivação sufixal- já existe uma palavra na língua d) sozinhamente- derivação sufixal- já existe o advérbio equivalente e) consequencialmente- derivação sufixal-impossibilidade de uso d emente 28 UNIDADE 5- COMPOSIÇÃO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Conceituar a composição de palavras; Explicitar os mecanismos empregados para a formação de palavras compostas Nesta unidade, abordamos o processo de formação de palavras denominado composição, isto é, combinação de dois morfemas lexicais que se unem para formar uma nova palavra, um novo signo na língua portuguesa. ESTUDANDO E REFLETINDO A combinação de morfemas lexicais para a formação de um novo termo no léxico pode dar-se por justaposição ou por aglutinação. Sabem o que é isso? Justaposição consiste na combinação de dois vocábulos, colocados lado a lado, mantendo a sua autonomia fonética. Os vocábulos são grafados: unidos: girassol, passatempo; separados com hífen: amor-perfeito, pé-de-moleque; separados sem hífen: Nossa Senhora, roupa branca (roupa de baixo, íntima), (roupa branca vermelha). Na aglutinação, os vocábulos se fundem num todo fonético, com um único acento, ocorrendo a perda ou alteração de algum de seus elementos (acento tônico, vogais ou consoantes), como se pode verificar nas palavras: planalto (plano + alto), aguardente (água + ardente), pontiagudo (ponte + agudo), boquiaberto (boca + aberto). Segundo Carone (2000), Justaposição e aglutinação não são duas formas diferentes de composição, mas dois estágios de um mesmo processo. Um composto pode formar-se já 29 aglutinado, como é o caso de plan(o)alto. Nem sempre, porém. Ainda se hesita entre as formas hidroelétrico e hidrelétrico, ambas dicionarizadas. (CARONE, 2000, p. 37, grifo da Autora). A tendência de construções com elementos justapostos é tornarem-se cada vez mais coesas, caminhando para a aglutinação. Vale dizer que na aglutinação as palavras passam por processo, ou melhor, etapas, como se pode verificar abaixo. a) o primeiro elemento perde a autonomia fonética; b) integra-se num grupo de força, sob o domínio da sílaba tônica do segundo elemento; c) passa a constituir um só vocábulo fonológico; d) ocorrência de desfigurações no corpo fonemático do composto; e) com o passar do tempo, o composto se torna irreconhecível, como é o casode fidalgo -> composto (filho-de-algo), cuja formação só é interessante em seu aspecto histórico, pois, hoje, essa palavra é simples, com o radical fidalg, sobre o qual se deriva fidalguia. Koch e Silva (2004) nos dão também outros exemplos, tais como: agrícola, aqueduto, Fonseca (fonte seca), embora (em boa hora). Portanto, só se leva em conta a aglutinação, do ponto de vista sincrônico, quando for possível a depreensão de dois morfemas lexicais. Segundo Carone (2000), outro aspecto importante na composição é o fato de as palavras que a formam relacionarem-se, sintaticamente, por: Subordinação: 1. verbo e complemento: estraga-prazeres, porta-bandeira; 2. substantivo e adjunto (adjetivo): cabra-cega, aguardente; 30 O verbo presta-se à formação de compostos, mas o resultado nunca é um verbo, como se constata em: estraga-prazeres, guarda-roupa. Podemos reconhecer a metáfora, uma vez conhecido o significado. Mas não podemos inferir o significado pela simples observação das formas. 3. substantivo e adjunto (SP): pé-de-moleque, mula-sem-cabeça; 4. substantivo e aposto: couve-flor, cirurgião-dentista; 5. verbo e adjunto: bota-fora, abaixo-assinado, pisa-mansinho; 6. adjetivo e adjunto: sempre-viva; 7. uma oração completa: bem-te-vi, malmequer Coordenação: 1. de verbos: vaivém, leva e traz; 2. de adjetivos: auriverde, rubro-negro, franco-luso-brasileiro. Basílio (1982) acentua que a composição, normalmente, serve à nomeação de seres e coisas. A nomeação pode ser descritiva ou metafórica. Descritiva: um ser, entidade, substância, é denominado a partir de suas características objetivas mais relevantes. Neste caso, são bons exemplos sofá-cama, papel-alumínio, peixe-espada, navio-escola, carta-bilhete, água-de-cheiro, livre-arbítrio, guarda- vestido. Navio-escola: significado transparente. Guarda-vestido: mobília ou mala? (não muito transparente) Metafórica é a descrição em termos de propriedades transferidas por associação, como se constata em olho-de-sogra, louva-a-deus, pé-de-meia, (peixe-espada -> caso misto) 31 BUSCANDO CONHECIMENTO Há caso de neologismos formados por composição subordinativa e por composição coordenativa. A composição subordinativa pode ocorrer a partir de: a) dois substantivos: o primeiro exerce o papel de determinado e o segundo de determinante: Operação (determinado) desmonte (determinante) Político (determinado) galã (determinante) b) Base/Verbal + Objeto Direto empurra - êmbolo lava - louça c) Adjetivo + Substantivo ou Substantivo + Adjetivo: "O controle da pinta (substantivo)-preta (adjetivo) em cítricos" Média (adjetivo) – metragem (substantivo) d) Numerais: "três-em-um", "seis-em-um" No vocabulário da publicidade de imóveis e hotelaria está se generalizando o emprego de compostos em que não se revelam, de maneira explícita, certos componentes. Como exemplos, citamos: "Um ponto alto em Vila Madalena é a classe de um quatro dormitórios", em que o composto quatro dormitórios, implicando um apartamento com quatro dormitórios, exerce função substancial. "[...] o primeiro cinco estrelas [...]" 32 A composição coordenativa não apresenta a relação determinado e determinante, podendo se expressar por meio de: a) neologismo adjetival (dois ou mais adjetivos), como se constata nos exemplos abaixo: Explorações rítmico-harmônicas; tiroteio lírico-humorístico; delegação jordaniano- palestina; jovem sueco-argentina; b) neologismo substantival (dois ou mais substantivos), tais como: "No outono-inverno, a moda..."; "telespectador-eleitor-contribuinte”. Podem ocorrer, ainda, substantivos que desempenham, contextualmente, papel adjetival, como se observa em: "[...] o diálogo governo-guerrilha"; "[...] relação ídolo-fã"; "[...] coleção outono-inverno"; c) neologismos com função adjetival formados de: verbo + substantivo: "operação caça-fantasma"; substantivo + conjunção + substantivo: "estilo capa-e-espada". Composição Satírica É composta da associação dos mais variados matizes semânticos; despertam a atenção do leitor. Tal estranhamento é provocado por: a) quantidade de elementos compostos: Ex: "[...] o show do candidato-deputado- cantor Agnaldo Timóteo"; b) caráter incomum da associação. Ex: "[...] Diane Wiest (atriz-fetiche de Wood Allen)"; "X e Y são ministros-confeitos, destinados a enfeitar o bolo (do Ministério)[...]". 33 Por vezes, a intenção é provocar riso e ironia, como, por exemplo: casar e descasar; móvel (de automóvel) -> papamóvel e, por analogia, "Franco-móvel", "momóvel”. Pode ainda apresentar base não autônoma: dromo -> sambódromo, camelódromo, fumódromo, surfódromo; optativa e obrigatória --> optatória. Como a unidade lexical sintagmática criada encontra-se ainda em vias de lexicalização, não costuma vir unida por hífen. (A tradição gramatical considera composta a unidade léxica, cuja lexicalização não mais é posta em dúvida pelos falantes), como se verifica em: meio-claro, meio-corpo, amigo-da-onça; mas meio ambiente, meio de comunicação, produção independente (ver produção muito independente), cesta básica, condomínio fechado, crimes de colarinho branco, farmácia de manipulação, estrada de ferro, casa de detenção, plano verão ou plano de verão. Propriedade dos compostos 1) O composto funciona sintaticamente como uma só palavra. 2) O composto tem uma ordem rígida de sucessão dos termos, e entre eles não se pode introduzir nenhum outro elemento, como em: amor-perfeito, perfeito-amor, delicado amor-perfeito/amor-perfeito delicado, amor-delicado-perfeito* (*inaceitável). 3) Os elementos do composto não podem, isoladamente, ser substituídos ou suprimidos. Vou colher amores-perfeitos --> rosas Mas não “Vou colher amores Ø” ou “Vou colher Ø perfeitos”. 34 4) Os compostos apresentam, com frequência, construções sintáticas anômalas, diferentes do que ocorre com a combinação dos termos dos sintagmas livres, como em: mestre-escola (sem a preposição de); estrada de ferro; surdo-mudo ¦ --> associação sem conjunção; ganha-perde ¦ Outros processos de formação de palavras Reduplicação (ou duplicação silábica) é a repetição de uma sílaba na formação de novas palavras, como em: Zezé, Juju. Quando a reduplicação é imitativa, têm-se as onomatopeias. tique-taque, zás-trás, zumzum, etc. Sigla, ou composição acronímica, é a redução de longos títulos às letras iniciais ou às sílabas iniciais das palavras que as compõem, tais como em: IPESP, ARENA, PMDB, PT, PSDB. Uma vez criadas, passam a ser sentidas como primitivas que possibilitam a formação de novas palavras (derivação), como se verifica em: peemedebista, arenista, dedetização, etc. Hibridismos são compostos derivados, cujos elementos provêm de línguas diferentes, por exemplo: grego e latim – automóvel. Latim e grego – sociologia. Árabe e grego – alcoômetro. Francês e grego – burocracia. Tupi e grego – caiporismo. 35 Para Koch e Silva (2004, p. 36), o hibridismo não é um processo de formação de palavras, pois o falante nativo, exceção feita ao estudioso, não consegue depreender sincronicamente a origem da palavra. Assim, é mais adequado considerá-lo nos casos de composição (sociologia) ou derivação (goleiro). PARA TREINAR!!! 1. No texto abaixo, saliente os vocábulos formados por derivação e/ou composição, explicitando o(s) processo(s) usado(s): Oswald de Andrade foi um vagamundo que tentou bandeiranacionalizar a arte de seu tempo e, tendo chegado aos sessentaanos, declarou-se um sexappealgenário. No começo do século, Martins Fontes, poeta pré-vinte e dois, queria construir o brasilirismo. Hoje, na era da informação, diante do paraláparacáparlar (GuimarãesRosa), é preciso ser um anarquiteto, como Augusto de Campos, para se viver efetivamente, com a informação adequada, acabar com as formas gastas pelo tempo e fazer com que a realidade possa brotar de uma nova forma - como uma constelação de palavras-montagem. (FIRPO, Júlio. Revista Diners, 8/68, apud SOARES; RODRIGUES, 1975, p.43). 2- Determine o processo de formação de palavra dos vocábulos abaixo: - avermelha - o homossexual - indesejável - malular - refinar - showmício - tragicômico - foto - Vossa Senhoria - FUNAI - sociopolítico - TIÃO - cassação - Bombom - dedetização - petrodólar - PT/petista - ziriguidum - pé-de-valsa - televisão - sem teto - telejornal 36 GABARITO 1- VAGAMUNDO- COMPOSIÇÃO NEOLÓGICA Bandeiranacionalizar- COMPOSIÇÃO NEOLÓGICA Sessentaanos- COMPOSIÇÃO NEOLÓGICA Sexappealgenário- COMPOSIÇÃO NEOLÓGICA Brasilirismo- COMPOSIÇÃO NEOLÓGICA Paraláparacáparlar- COMPOSIÇÃO NEOLÓGICA Anarquiteto- COMPOSIÇÃO NEOLÓGICA 2 - avermelha - DERIVAÇÃO PREFIXAL - o homossexual - indesejável DERIVAÇÃO PERFIXAL E SUFIXAL - refinar- DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA - tragicômico - COMPROSIÇÃO POR AGLUTINAÇÃO - foto- REDUÇÃO - FUNAI- sIGLA - sociopolítico- COMPOSIÇÃO POR JUSTAPOSIÇÃO 37 UNIDADE 6- FLEXÃO NOMINAL CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: explicitar os mecanismos de flexão nominal em língua portuguesa. Nesta unidade, estudamos os mecanismos responsáveis pela flexão nominal nas palavras de nossa língua. O paradigma flexional dos nomes portugueses (substantivos e adjetivos) é sempre estabelecido por oposições desinenciais. O feminino se caracteriza por um /a/ (forma marcada), que contrasta com a ausência de desinência do masculino, ou morfema /Ф/ (forma não marcada). O número, que cria o contraste entre forma singular e plural, é também caracterizado por flexão, através do morfema flexional /s/ no plural e da forma não marcada no singular. ESTUDANDO E REFLETINDO A marca de flexão é sempre uma desinência. Você sabe o que é desinência? Desinências são os morfemas terminais de palavras variáveis. Servem para indicar as flexões de gênero e número (desinência nominais) e de modo-tempo e número- pessoa (desinências verbais). Embora se coloquem à direita do radical, como os sufixos, apresentam duas diferenças importantes com relação a esses. As desinências, através da concordância a elas associada, colocam a palavra na frase: “Os alunos estudiosos progridem”. Os e estudiosos, como elementos subordinados a alunos, concordam com esse substantivo em gênero e número. 38 Desinência é diferente de sufixo, pois este possibilita a criação de uma palavra nova, que se acrescenta ao léxico da língua: ferro + eiro = (novo substantivo). A desinência não forma nova palavra. Outra diferença importante a levar em conta é que as desinências são morfemas que não se podem dispensar; por exemplo, toda forma verbal está associada às noções de tempo e modo, número e pessoa. Essas considerações permitem-nos rever o problema do grau interpretado em nossas gramáticas como flexão. Para tanto, observemos o exemplo: um carrinho novo. Notemos que, em vez de carrinho, poderíamos dizer carro pequeno, ou seja, inho não é elemento de emprego obrigatório. Portanto, inho é sufixo, e estamos diante de um exemplo de derivação sufixal. De modo igual se comportam os adjetivos. Por exemplo: lindíssima, super linda, linda de morrer, linda, linda, linda. Assim quando há mais de uma possibilidade para expressão de uma determinada ideia, não se trata de flexão, mas de derivação. Embora, nas gramáticas, o adjetivo e o substantivo sejam considerados como duas categorias distintas, a flutuação categorial entre eles é grande. Funcionalmente, muitos nomes, conforme o contexto, podem ser substantivos (determinados) ou adjetivos (determinantes). Ex: diplomata mexicano ou mexicano diplomata ¦ ¦ ¦ ¦ substantivo adjetivo substantivo adjetivo 39 Formalmente, a diferença entre essas duas classes gramaticais é também muito pequena. Tanto os substantivos quanto os adjetivos são marcados por vogais temáticas (criança, mestre, medo, agrícola, verde, cinzento) ou por formas atemáticas terminadas em vogais tônicas ou consoantes (filó, gibi, urubu, inspetor; cru, nu, burguês, tentador). Flexão de gênero Segundo Mattoso (2008, p.78-79), "a flexão de gênero é exposta de uma maneira incoerente e confusa nas gramáticas tradicionais do português". Vamos observar por quê? 1ª Incoerência: o gênero costuma ser associado intimamente ao sexo dos seres. Duas considerações contra essa interpretação: a) o gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses, quer se refiram a seres animados, providos de sexo, quer designem apenas "coisas" como: mesa, ponte, tribo, que são femininos (precedidos de a) ou sofá, pente, prego (que são masculinos - precedidos de o); b) o conceito de sexo não está necessariamente ligado ao de gênero: mesmo em substantivos referentes a animais e pessoas há, algumas vezes, discrepâncias entre gênero e sexo. Assim, a testemunha, a cobra são sempre femininos, e o cônjuge, o tigre, sempre masculinos, quer se refiram a seres do sexo masculino ou feminino. (Não cabe falar em distinção de gênero expressa pelas palavras macho e fêmea, não só porque tais apostos não são necessários, mas também porque o gênero não muda com a indicação do sexo. Continua-se a ter a cobra macho (feminino) e o tigre fêmea (masculino), conforme indicam os artigos a e o. Desse modo, não procedem as designações de epiceno, sobrecomum e comum de dois, usadas pela gramática tradicional: a vítima, a criança, o indivíduo, o algoz, (o, a) colega, (o, a) estudante, etc. 40 Assim, em português, cabe ao artigo marcar, explícita ou implicitamente, o gênero dos nomes substantivos. Consequentemente, a flexão de gênero nos nomes é um traço redundante, acessório. 2a Incoerência: ausência de distinção entre processo flexional e processo lexical. Processo flexional - ex: garoto/garota Processo lexical – heteronímia (palavra diferente) dos radicais bode/cabra; homem/mulher; por derivação: conde/condessa, diácono/diaconisa, barão/baronesa; galo/galinha; por sufixos que só aparecem no masculino — perdigão/perdiz — ou em ambas as formas: imperador/imperatriz Para Mattoso (2000, p. 78) o masculino é uma forma geral, não-marcada; o feminino indica uma especialização qualquer (jarra é uma espécie de jarro, barca, um tipo especial de barco). Ao contrário do que afirmava a tradição gramatical (masculino -> o se opõe ao feminino a), Mattoso propõe a descrição do masculino em Ф oposto a um feminino a. O argumento do autor é que não podemos considerar o como marca de masculino por opor-se a a (garoto-garota), porque esse mesmo raciocínio nos obrigaria a considerar como masculino o e de mestre (mestre/mestra). O e pode estar ligado a um ou outro gênero — cf. ponte (fem.) e monte (masc.). Assim, a solução mais plausível é considerar o masculino como forma desprovida de flexão específica, em oposição ao feminino, caracterizado pela flexão em a. A vogal final do masculino seria, então, uma vogal temática. Assim como o masculino é não marcado, também o é o singular. Vamos entender isso. Se dissermos “Os pais amam os filhos”, pais pode implicar apenas os pais (masculino) ou pais e mães (masculino e feminino). Analogamente, filhos pode se referir apenas ao masculino ou ao masculino e feminino também. O mesmo não se pode depreender de 41 “As mães amam os filhos”, em que mães só se refere ao feminino. Entendeu o que é marcado e não marcado? Para Kehdi (1990, p.30),a observação de alguns fatos leva-nos a rever essa posição. Note-se que, quando se acrescenta a uma palavra feminina uma terminação que contenha o, essa palavra passa a masculina: Ex: mulher (fem.)/mulheraço (masc.); cabeça (fem.)/cabeçalho (masc.). O povo, em sua linguagem espontânea, cria formas masculinas sempre em o. Ex: coisa/"coiso", corujo, crianço, madrasto. Essas observações, segundo o autor, conduzem-nos à conclusão de que o está intimamente ligado à noção de masculino. Para ele, a flexão de gênero não se reduz a uma oposição Ф/a e, sim a uma oposição o/a. Regras para formação de feminino Do ponto de vista flexional, ao lado da regra básica de formação do feminino (acréscimo do morfema aditivo a, em oposição ao Ф do masculino), existem os seguintes casos de alomorfia: a) subtração da forma masculina: Exs: órfão – órfã, réu - ré (morfema subtrativo), mau - má; 42 b) alternância vocálica redundante e não redundante: Redundante, pois além do a existe mudança de / o / para / ó /: sogro - sogra /ô/ - /ó/, este - esta /ê/ - /é/ (morfema aditivo e alternativo). Não redundante: avô-avó (e seus derivados); c) distinção de gêneros diferentes sem flexão: o, a intérprete; o, a mártir (morfema latente). Ao lado desses morfemas flexionais (aditivo, subtrativo, alternativo e redundante), o gênero é também indicado pelos morfemas derivacionais femininos: diácono - diaconisa , cônsul - consulesa, abade - abadessa , maestro – maestrina. No feminino das palavras em ão, ocorrem ora morfemas subtrativos, como em irmão/irmã, ora morfemas aditivos. Nesse caso, existem sempre mudanças morfofonêmicas, que se caracterizam ou pela perda da vogal nasal, como em leão - leoa (leão + a = le(ã)oa = leoa), ou por uma alteração no sufixo derivacional aumentativo próprio da forma masculina, decorrente do acréscimo do morfema a, como em valentão-valentona. Outras vezes, a flexão de gênero é marcada pelo acréscimo de um morfema derivacional diminutivo à forma feminina, como em galo - galinha. Também entre os morfemas derivacionais estão as formas em eu, como europeu - europeia, nas quais o acréscimo do morfema a ao sufixo derivacional acarreta uma mudança morfofonêmica 43 que se caracteriza pela supressão da vogal assilábica e ditongação: europeu + a = europea = europeia. A alomorfia no radical funciona como um traço redundante na distinção entre masculino e feminino, mas a flexão se opera pela desinência. Ex: frade – freira, teu - tua, judeu – judia, meu - minha. Supleção ou heteronímia: é o processo segundo o qual uma forma supre a inexistência de outra. (Por exemplo, o verbo ser possui várias raízes supletivas - sou =/= és =/= fui.) O plural de certos pronomes pessoais não é marcado flexionalmente, mas supletivamente (cf. eu =/= nós; tu =/= vós). Assim, também há masculinos que não têm femininos correspondentes em termos morfológicos. Mulher não é feminino de homem. O feminino de genro deveria ser genra, mas como não há na língua tal palavra, apelamos para o processo supletivo, (nora), mas não há flexão de gênero. Outros exemplos são: pai - mãe; cão - cadela; cavalo - égua; boi - vaca. Na realidade, como já vimos anteriormente, diferentemente do que dizem as gramáticas, só há dois gêneros (onça sempre será feminino e cadáver, sempre masculino, uma vez que é a forma do artigo ou do determinante que fundamenta a descrição). Analisando por esse ângulo, podemos dizer que os nomes portugueses se diversificam em três grupos: 1) nomes substantivos de dois gêneros com uma flexão redundante. Ex: (o) lobo - (a) loba; (o) mestre - (a) mestra; (o) pintor - (a) pintora; 44 2) nomes substantivos de dois gêneros sem flexão aparente. Ex: (o, a) estudante; (o, a) dentista; (o, a) selvagem; (o, a) mártir; 3) nomes substantivos de gênero único. Ex: (a) tribo; (a) flor; (o) cadáver; (a) vítima; (a) mosca; (a) tábua; (a) mulher; (o) homem; (a) testemunha; (o) bode; (a) cabra. BUSCANDO CONHECIMENTO Flexão de Número À semelhança do que ocorre no gênero, observamos a oposição: singular não marcado (Ф) e plural marcado pelo morfema (s) O /s/ marca, no plural, os nomes terminados em: a) vogais orais e nasais: cajás, romãs b) m: álbum (ns) c) ditongos orais: céus d) ditongos nasais átonos e alguns tônicos: bênçãos - irmãos Fora dessa regra geral, há plurais com mudanças morfofonêmicas exigidas por certas estruturas vocabulares. a) Nomes terminados no singular em s (precedidos de vogal tônica) r, z e n formam o plural com o alomorfe es: país - países; pilar - pilares; vez - vezes; cânon - cânones. (Pela impossibilidade, em nossa língua, de grupos finais ss, rs e zs, postula-se uma forma teórica com e (*mar(e), *país(e), *vez(e), *cânon(e)). b) Se o nome terminado em s ou x for paroxítono, não se reporá a vogal temática; o plural será marcado apenas sintaticamente. Ex: lápis - os lápis; ônibus - os ônibus; tórax - os tórax; ônix - os ônix. 45 c) Os nomes que possuem a forma teórica em *le sofrem algumas modificações morfofonêmicas. 1) *carnavale + s = carnavales -> carnavaes -> carnavais *azule + s = azules -> azues -> azuis Ou seja: acréscimo da desinência, síncope da líquida intervocálica e ditongação. 2) Se a vogal antes de *le for /i/, há duas possibilidades: 2.1) /i/ átono: *fóssile -> *fossele + s = fósseles -> fóssees -> fósseis. Segundo MACAMBIRA (1978, p.30), há outra explicação: fácile -> fáciles -> fácies -> fáciis -> fáceis 2.2) /i/ tônico: *barrile -> barriles -> barries -> barriis -> barris d) Vocábulos terminados em ão. Há três possibilidades, dado que para alguns desses nomes não há, ainda, uma forma plural definitivamente fixada (embora se note, na linguagem corrente, uma preferência sensível pela formação em ões). 1) Plural sem alomorfia: cristão + s = cristãos mão + s = mãos 2) Antes de receber o s, dá-se a troca do o por e: capitão - capitães cão - cães 46 3) Além da troca da vogal temática, há alternância na vogal a do radical: sermão - sermões paixão - paixões Exceções de número 1) Coletivos: a forma singular envolve uma significação de plural. Ex: multidão, alcateia, ramagem. É claro que quando tais nomes designam mais de um desses conjuntos, também se flexionam: multidões, alcateias, ramagens. 2) Certos nomes em que a forma de plural se refere a um conceito linguisticamente indecomponível (pluralia tantum). Ex: óculos, algemas, exéquias, núpcias, férias, alvíssaras. PARA TREINAR 1- O par boi/vaca pode ser considerado flexão nominal de gênero? Explique. 2- Determine nos nomes abaixo as ocorrências de morfemas e alomorfes marcadores de gênero, a partir do quadro abaixo: 1) nomes substantivos de dois gêneros com flexão redundante; 2) nomes substantivos de dois gêneros sem flexão aparente; 3) nomes substantivos de gênero único. maestro-maestrina tribo vítima tataravô-tataravó anão-anã profeta-profetisa paciente cobra beberrão-beberrona dentista leitão-leitoa autor-autora barão-baronesa 47 3) Dadas as palavras abaixo, explique a flexão de número. lençol-lençóis coronel-coronéis fuzil-fuzis réptil-répteis Ônix cútis corpo-corpos fogõezinhos pilar-pilares exéquias algoz-algozes nuvem-nuvens varal-varais mesa-mesas mulher-mulheres eleição-eleições GABARITO 1 - O par boi/vaca pode ser considerado flexão nominal de gênero? Explique. Sim, pois o gênero é dado pro heteronímia 2- 1) nomes substantivos de dois gêneros com flexão redundante; 2) nomes substantivos de dois gêneros sem flexão aparente; 3) nomes substantivos de gênero único. maestro-maestrina-1 Tribo-3 Vítima-3 tataravô-tataravó1anão-anã1 profeta-profetisa-1 Paciente-2 Cobra-3 beberrão-beberrona1 Dentista2 leitão-leitoa-1 autor-autora1 barão-baronesa1 48 UNIDADE 7- SINTAXE: PRINCÍPIOS BÁSICOS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: explicitar os princípios básicos da estrutura sintática da língua portuguesa. Nesta unidade, abordaremos alguns princípios que regem a estrutura sintática da língua portuguesa. Como dissemos, na apresentação da disciplina, a língua não se configura como algo aleatório, não se configura como um amontoado de palavras, mas, a partir da substância, nós efetuamos arranjos. É por essa razão que afirmamos que língua é forma e não substância. ESTUDANDO E REFLETINDO Sabemos que as palavras integrantes do léxico da língua pertencem a uma determinada categoria gramatical. Nessa perspectiva, qualquer pessoa, ainda que não saiba especificar a categoria gramatical, sabe que mesa, homem e gato pertencem à mesma categoria, ou, pelo menos, conseguem diferenciar esses nomes de palavras como cantar, beber, partir. Você poderia ser tentado a dizer que as palavras acima são comuns e que todos as conhecem, por isso sabem que pertencem a categorias diferentes. No entanto, afirmo que não é assim, pois, mesmo construindo uma frase com uma palavra inventada, qualquer falante a reconhecerá como pertencente à língua e a uma dada categoria. Assim, se eu disser “Ele vepotou as coisas nos devidos lugares”; “Elas vepotaram ontem à noite”; “Uma famosa atriz de TV vepota todos os dias”, qualquer falante saberá que vepotar, palavra inventada, pertence a mesma categoria de cantar, dançar, comer e partir, tanto que vepotou concorda com ele; vepotaram com elas e vepota com famosa atriz. 49 As diferentes categorias da língua − nomes (substantivos e adjetivos), pronomes, verbo, advérbio, conjunção, preposição − estruturam-se para formar a frase. Mas o que é frase? Frase é uma unidade de comunicação, independentemente de suas dimensões e estrutura. É preciso deixar clara a diferença entre frase e oração. Enquanto a frase possui comunicação, ainda que não seja constituída em torno de um verbo, na oração o verbo é indispensável. Assim, em Fogo ou Socorro, estamos diante de frase e não de oração, mas em Quero que você seja feliz, observamos duas orações: quero e que você seja feliz. Vale a pena tecermos alguns comentários sobre as interjeições. Vamos a elas? Interjeições não são vocábulos, porque não são constituídas por morfemas, isto é, não possuem a primeira articulação; só a segunda (fonológica). As interjeições só serão vocábulos se ocorrerem em contexto sintático (Meus ais de amor). Na verdade, Carone (2000) assinala que as interjeições são um tipo rudimentar de frase, sem estrutura mórfica e sintática, mas dotadas de entonação que as habilita à expressão de modalidades diversas: Interrogativa: hem? Ahn? Imperativa- Pst! Cht! Optativa- Oxalá Exclamativa- Epa! Oba! Negativa- Hum-hum; ahn, ahn A frase nominal é constituída de elementos secundários que, na oração, se estruturam em torno de um verbo. São denominadas em consonância com a classe de palavra que é seu centro e ponto mais alto. Podem ser: a) Substantival – O Crime da Mala; Amor Bandido. 50 b) Adjetival- Bonitinha, mas ordinária. c) Adverbial: Longe dos Olhos, Perto do Coração. Observe o efeito que Ricardo Ramos (1978) obteve, ao construir um texto apenas com frases nominais. Na verdade, embora não deparemos com nenhum verbo, nós, leitores, conseguimos produzir sentido para o texto: trata-se do cotidiano de uma pessoa, desde a hora em que se levanta até sua chegada ao escritório onde trabalha. Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. [...]. (RAMOS, 1978, p.58). Frase nominal dirrema ou bimembre- apresenta embrião de estrutura oracional, mas é igualmente desprovida de verbo, conforme Carone (2000, p.49). Os dois elementos nominais que a estruturam relacionam-se aos moldes de sujeito e predicado. Na frase nominal, esses termos são denominados tema (um substantivo) e rema (substantivo ou adjetivo), como se verifica nos exemplos abaixo. Desnecessárias (rema) as recomendações (tema) sobre as leis do trânsito. Próxima estação, Liberdade, em que estação é o tema e próxima é seu adjunto adnominal; já liberdade é o rema, conforme Carone (2000, p.51). Frase verbal é a frase que contém verbo, com se constata em Siga adiante. 51 Princípios da organização da estrutura frasal Para verificarmos a organização da estrutura da frase, observe atentamente os exemplos abaixo. José mora perto de uma loja Maria comprou vários brinquedos O aluno inteligente fez a prova A criança sonha ansiosamente com o presente do Papai Noel Você viverá Vamos efetuar a decomposição de cada frase em unidades menores e detectar a equivalência entre essas unidades, por meio da comutação, que implica: segmentação- determinar os subconjuntos em que pode ser decomposta a proposição; substituição- verificar quais desses subconjuntos exercem a mesma função. Então, teríamos: mora perto de uma loja comprou vários brinquedos a) José fez a prova sonha ansiosamente com o presente do Papai Noel viverá b) José Maria O aluno inteligente mora perto de uma loja A criança Você Você percebe que em cada subconjunto a integridade da oração se mantém. Em outras palavras, em a, posso utilizar qualquer predicação e, em b, posso empregar 52 qualquer elemento sem que se destrua a oração. Cada um desses elementos constitui uma unidade sintático-semântica: o sintagma BUSCANDO CONHECIMENTO Sintagma é um conjunto de elementos que constituem unidade significativa dentro da oração e mantêm entre si relações de dependência e de ordem. Organizam-se em torno de um elemento central - o núcleo Nos exemplos acima, José, o aluno inteligente, a criança e você constituem o núcleo, no caso um nome (substantivo ou pronome). Por se organizarem em torno de um núcleo nome (substantivo ou pronome) são denominados sintagmas nominais Já em mora perto de uma loja, comprou vários brinquedos, fez a prova, sonha ansiosamente com o presente do Papai Noel e viverá, observamos ser o verbo o núcleo; daí termos o sintagma verbal. Com você deve ter percebido, o que a gramática tradicional denomina sujeito e predicado, como constituintes da oração, podemos denominar, também, de sintagma nominal e sintagma verbal. A estrutura de base da oração é sintagma nominal (SN) e sintagma verbal (SV). Os garotos / empinavam papagaios de papel. SN / SV Nós / assistimos a uma conferência sobre tóxicos. SN / SV 53 Você poderia me questionar como se estrutura a oração quando o sujeito é inexistente. É simples. Em Chove, por exemplo, o SN é vazio, existe apenas como posição estrutural; a posição não está lexicalmente preenchida. Há outros sintagmas que podem ocorrer na oração: sintagma adjetival- SA, cujo núcleo é um adjetivo, como se constataem: A cama são palhas, em que palhas é um sintagma adjetival; sintagma preposicional- SP, formado de preposição + SN: casa de pedra. A estrutura de base é obrigatória, mas outros elementos podem integrar a oração, tendo as seguintes características: A) são facultativos; B) são móveis, podendo ser deslocados de sua posição normal; C) apresentam-se geralmente sob a forma de um SP. As flores enfeitam os jardins na primavera O padeiro entrega o pão na minha casa de madrugada Sintagma preposicionado O sintagma preposicionado é constituído por preposição + SN, podendo veicular informações sobre as circunstâncias em que se efetivam os fatos contidos na proposição (tempo, lugar, modo, causa, etc.). No verão, os dias são mais longos que as noites Lentamente, a noite descia sobre a terra. PARA TREINAR 1- Nas frases abaixo, assinale os sintagmas nominais e os sintagmas verbais. a) Marieta gosta de doce. 54 b) José adora viajar para Paris. c) Pedro comprou muitos doces. d) O homem morreu. 2- Na frase abaixo, observamos ambiguidade (mais de uma possibilidade de estrutura e de significado) sintática estrutural. Leia-a e responda ao que se pede. O menino encontrou a bola com um binóculo a) Explicite a ambiguidade; b) Explique a estrutura de: Com o binóculo, o menino encontrou a bola. GABARITO 1 a) Marieta gosta de doce. SN / SV b) José adora viajar para Paris. SN / SV c) Pedro comprou muitos doces. SN / SV d) O homem morreu. SN / SV 2a) O menino usou o binóculo para encontrar a bola / O menino encontrou uma bola e um binóculo juntos b) Com o binóculo, o menino encontrou a bola SP / SN / SV Sintagma preposicionado Av. Ernani Lacerda de Oliveira, 100 Parque Santa Cândida CEP: 13603-112 Araras / SP (19) 3321-8000 ead@unar.edu.br www.unar.edu.br 0800-722-8030 POLO MATRIZ http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br Página 1 Página 2
Compartilhar