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265 REGULAÇÃO DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR O controle central é sobretudo exercido pelo hipotálamo, o qual influencia na seleção dos alimentos, na resposta à dieta e no equilíbrio energético, além de produzir alterações hormonais que são fundamentais para a regulação glicêmica, do perfil lipídico, da termogênese e da função sexual. O controle periférico é exercido sobretudo por sinais provenientes do próprio tecido adiposo e do TGI. Regulamento do comportamento alimentar: controle da ingestão alimentar de curto e longo prazo O hipotálamo é a região chave envolvida na regulação do apetite. A princípio, acreditava-se que a sensação de saciedade era unicamente controlada pelo hipotálamo ventromedial, e que a sensação de fome era controlada pelo hipotálamo lateral. a. Sinais lipostáticos de longo prazo Leptina sintetizada no tecido adiposo e em menor escala em placenta, estômago, musculo esquelético, epitélio mamário, hipófise e hipotálamo. Está envolvida na ingestão de alimentos, regulação do peso corporal, reprodução, termogênese, regulação de sistema imune, saúde óssea e angiogênese. A deficiência total de leptina está associada à hiperfagia, obesidade severa e hipogonadismo. A leptina promove inibição dos neurônios hipotalâmicos orexigênicos (NPY/AgRP) e estímulo dos anorexigênicos (POMC/CART) em núcleo arqueado de hipotálamo. A concentração de leptina é diretamente proporcional ao tecido adiposo. A hiperestimulação do receptor de leptina é proposta como um dos mecanismos para o desenvolvimento da resistência à leptina em obesos, que resulta na incapacidade de ativação da via de sinalização por deficiência no seu receptor ou na ativação intracelular. Insulina A insulina também possui função lipostática. Os níveis de insulina são proporcionais ao grau de obesidade. A administração central de insulina reduz a ingestão alimentar. O aumento da adiposidade promove decréscimo da sensibilidade à insulina. b. Peptídeos hipotalâmicos orexigênicos NPY orexígeno mais potente ao ser humano. AgRP o Agouti antagoniza a melanocortina (MSH). Produz hiperfagia e obesidade, quando hiperestimulado. A leptina diminui o mRNA e o AgRP no hipotálamo, sugerindo que esta inibição seja um dos mecanismos pelo qual a leptina exerce seu efeito anorexígeno. Orexinas a principal função é despertar o sono, sendo os efeitos sobre a ingestão alimentar secundários. MCH – hormônio concentrador de melanina expresso em hipotálamo lateral, estimula a alimentação. Sua síntese aumenat na restrição energética e na deficiência de leptina. A superexpressão hipotalâmica promove obesidade. Sistema endocanabinoide a anandamida é ligante do sistema endocanabinoide, promovendo fome. O uso de inibidores do sistema endocanabinoide (CB1R) tem ptencial terapêutico contra a obesidade. Exemplo é o medicamento Rimonabanto, que foi probido dado o risco de depressão e suicídio. c. Peptídeos hipotalâmicos anorexigênicos POMC – Pró-Ópio-Melanocortina expressa na hipófise, SNC, pele e sistema imunológico. Esse pró-hormônio dá origem a peptídeos bioativos (ACTH, MSH, lipotrofina, encefalinas e beta-endorfina). Inibem as orexinas, reduzindo o apetite. O Alfa-MSH é regulado pela ingestão alimentar, mediada pelo menos em parte pela ativação de neurônios que expressam a POMC. CART pertence à via anorexígena e expresso em núcleo arqueado, nas mesmas células da POMC. Cocaína e anfetaminas possuem relação com estímulo ao CART e indução de anorexia. CRH modula o ACTH e cortisol. Glutamato monossódico promove diminuição dos níveis de CRH. TRH estimula a síntese de TSH e consequente de hormônios tireoidianos. Tem efeito anorexigênico e de diminuição de sono. Aumenta termogênese e gasto energético , indiretamente. Leptina estimula a síntese de TRH. O TRH inibe o MCH. d. Sinais lipostáticos de curto prazo Hormônios intestinais as incretinas, liberadas no período pós-prandial, regulam o apetite. Grelina único hormônio GI orexígeno conhecido. Se liga ao receptor do liberador de GH, em hipotálamo e tronco cerebral, controlando a homeostase de energia. Antagonistas para NPY r AgRP inibem a alimentação induzida pela grelina. Infusão intravenosa de grelina em indivíduos saudáveis pode aumentar a ingestão alimentar em 30%. A grelina é regulada pela leptina e sugere-se interação funcional entre ambos. CCK - Colecistoquinina reduz a ingestão alimentar com efeito dose-dependente. Seus níveis plasmáticos aumentam cerca de 15min após início da refeição. Retarda esvaziamento gástrico e existe receptor para CCK em hipotálamo ventromedial. Parece reduzir o tamanho e tempo da refeição. Pode-se ter um aumento da frequência das refeições, o que pode demonstrar não exercer tanta influência no computo calórico total diário. PYY inibe a ingestão alimentar via receptores acoplados à proteína G. Em obesos, suas concentrações encontram-se reduzidas e sugere-se resistência periférica à ação do mesmo. Aumento nos níveis de PYY são encontrados após cirurgia GI, possivelmente contribuindo para a perda inicial de peso que segue o procedimento. GLP1 – Peptídeo Glucagon-like é liberado pelo intestino delgado e nas células L da mucosa colônica, de forma proporcional à ingestão calórica. Possui efeito anorexígeno, reduz esvaziamento gástrico e suprime a secreção de HCl. Aumenta a saciedade e reduz peso corporal. Após cirurgia gástrica, obesos apresentam melhora de resposta pós- prandial ao GLP-1. Tem sido usado comol adjuvante no tratamento de DM2. Oxintomodulina possui ação inibitória às células oxínticas do estômago. É secretada durante a refeição, de acordo FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO NA SAÚDE E NA DOENÇA Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 266 com o valor calórico da mesma. Em modelo animal, reduz a ingestão alimentar e aumenta o gasto energético. Em humanos, a administração crônica promove aumento do gasto energético e saciedade. ALIMENTOS RICOS EM AÇÚCAR, GORDURA E SAL – HIPERFAGIA E VÍCIO ALIMENTAR NGESTÃO EXCESSIVA DE AÇÚCARES E SUBSTÂNCIAS DE SABOR DOCE E DESBALANÇO FISIOLÓGICO Os produtos de sabor doce, independente do seu valor energético, são reforçadores e ativam os centros neurais de prazer e recompensa. Enquanto o controle do comportamento alimentar pelo sistema hedônico era pouco conhecido, a propaganda centrada no valor calórico permitiu que o consumo de adoçantes ultrapassasse o de açúcares energéticos no final do século XX. Ainda não é conhecido o efeito de adoçantes e excesso de peso. Estudos mostram associação consistente entre consumo de adoçantes artificiais e ganho de peso. E é conhecido que o uso de adoçantes como estratégia para prevenir o ganho de peso, não possui impacto na redução de consumo alimentar. Parece que o estilo de vida e o comportamento alimentar são os fatores determinantes de obesidade e relativizam a utilização de adoçantes artificiais como estratégia para prevenção ou tratamento do excesso de peso. Em relação ao índice glicêmico (IG), estudos mostram que alimentos de alto IG diminuem mais o tempo de saciedade, gerando mais rapidamente o desejo de comer, que dietas de baixo IG. Dietas de baixo IG parecem ser mais apropriadas para perda de peso ou prevenção de obesidade que aquelas que reduzem a ingestão de gorduras ou carboidratos de forma geral, ou que aumentam a ingestão de proteínas. O efeito positivo de dietas de baixo IG na diminuição de insulina e glicose pós-prandiais e aumento de grelina em mulheres brancas não ocorre de mesma forma que em mulheres negras, fato que pode estar associado à maior prevalência de obesidade na raça negra. INGESTÃO EXCESSIVA DE SAL E DESBALANÇO FISIOLÓGICO A sede e a ingestão de água e bebidas industrializadas é uma resposta fisiológica inevitável à ingestão elevada de sal. Há um aumento linear entre a ingestão de sal e o consumo de água em animais,assim como em humanos a relação forte e direta entre consumo de sal e aumento de consumo de refrigerantes. O aumento da ingestão de sal é um dos fatores responsáveis pelo aumento do consumo de bebidas açucaradas e refrigerantes. Outro ponto é que o processamento industrial de alimentos tem provocado distorção entre ingestão de sódio, potássio, cálcio e magnésio. A presença de baixo consumo de potássio, cálcio e magnésio está associado a aumento de pressão arterial que seria uma das formas do corpo tentar excretar o excesso de sódio. A excreção do excesso de sal diminui na obesidade e um nível de pressão arterial mais alto é necessário para o obeso tentar manter o balanço hidroeletrolítico, predispondo estes indivíduos à hipertensão arterial. Recomenda-se limitar a ingestão de sódio a 2400mg/dia, ou seja, a diminuição de 1,3g de sal ingerido/dia já se traduz em redução de 5mmHg na PAS ao longo da idade (25-55 anos). A ingestão excessiva de sal aumenta a massa ventricular esquerda, promove dureza (enrijecimento) arterial, reação plaquetária, frequência de asma, dentre outros. O sal possui efeito neuroendócrino semelhante a de drogas, podendo causar vício e dependência, por estimular o sistema de recompensa e prazer via opiodes e dopaminérgicos cerebrais. INGESTÃO EXCESSIVA DE GORDURAS E DESBALANÇO FISIOLÓGICO A gordura é o terceiro recompensador da dieta moderna. O que significa que quanto mais se come, mais se deseja comer, ou seja, o organismo não inibe a ingestão quando sua necessidade energética é atingida. É muito palatável, provavelmente por ser a mais rica em energia do que o CHO e a PTN, garantir o estoque de energia e o fornecimento de substrato para a manutenção de temperatura corpórea. Além disso, torna os alimentos mais macios, diminuindo a necessidade de mastigação, logo, reduz o poder de saciedade ao ato de mastigar.A ingestão de gorduras estimula hormônios GI que reforçam a aprazabilidade e ingestão. A ingestão de gorduras estimula o sistema hedônico e acubens em SNC, aumenta a liberação de dopamina, acentuando o sabor dos alimentos e controle do prazer e recompensa, além de alterações em neurotransmissores opiodes. O uso de Naloxone (inibidor de receptores opiodes) reduz a preferência por dietas ricas em lipídeos. A ingestão de gorduras modula a atividade do hipotálamo e o balanço homeostático da mesma forma que a glicose. AGL resultantes da quebra de gorduras endógenas e que estão elevados na obesidade abdominal, atuam diretamente nos centros hipotalâmicos e na sinalização de insulina nestes. Além d isso, a presença de gordura à boca aumenta a atividade hiotalâmica. Do ponto de vista comportamental, a ingestão de gorduras com diferentes texturas leva a diferentes graus de fome, desejo de comer e percepção de saciedade, tanto em magros como obesos. EXPOSIÇÃO INTRAUTERINA E PERINATAL A obesidade materna e a perfusão da hiperglicemia materna para o feto reprogramam os reguladores hipotalâmicos e a ação de leptina em recém natos. Esses fetos apresentam menores níveis plasmáticos de leptina ao nascer e menor expressão do mRNA do NPY. A diminuição destes neurohormônios prejudica o controle do apetite, promovendo aumento basal do apetite. Dietas ricas em gorduras durante a gestação estimulam a proliferação de células neuroepiteliais do terceiro ventrículo do hipotálamo embrionário e aumentam sua migração para o hipotálamo, resultando no aumento do número de neurônios que expressam agentes orexígenos, promovendo fome. A ingestão de alimentos ricos em açúcares, gorduras e sal durante a vida intrauterina e perinatal está associada a aumento de doenças mentais, como ansiedade e depressão. 267 MICROBIOTA INTESTINAL E OBESIDADE Estima-se que existam 10 microrganismos por grama de microbiota intestinal, dominada principalmente por anaeróbios (95%) e composta por 500 a 1000 espécies. O microbioma (genoma bacteriano) é mais de 10 vezes maior que o humano, deste modo, a microbiota intestinal é entendida como um órgão metabólico externo. A microbiota pode ser classificada em três filos: Eukarya, Bacteria e Archaea. Eukarya eucariontes Bacteria e Archaea procariontes O filo Bacteria é o predominante e é subdivido em 4 divisões: firmicutes (64%; gram +); bacteriodetes (23%; gram -), protobacteria (8%; gram -) e actinobacteria (3%; gram +). 268 Firmicutes e Bacteriodetes são aproximadamente 90% de todo o filotipo de bactérias de TGI. Durante o desenvolvimento intrauterino, o ser humano é isento de qualquer tipo de bactéria. No primeiro ano de vida, ocorre colonização intensa do TGI provenientes da microbiota vaginal materna e do meio ambiente. A primeira microbiota infantil é composta, principalmente, por Bifidobactérias e se modifica, ao longo do tempo, até o padrão mais complexo de um adulto. Na ocasião do parto, a microbiota vaginal é dominada por Lactobacilos e Prevotella. Crianças nascidas de parto normal têm colonização precoce com Bifidobacterias e Lactobacilos, ao passo que aquelas nascidas por cesária tem atraso de colonização em 30 dias. Esse processo pode ser acelerado pelo aleitamento materno exclusivo. Crianças nascidas por parto Cesário são colonizados por microrganismos presentes na pele (Staphylococus, Corynebacterium e Propionibacterium) e as diferenças permanecem por vários meses após nascimento. A microbiota pode mudar com o passar da idade. Adultos mantém constante até os 70 anos, onde, em idosos tem-se a predominância de Enterobactérias e redução de bactérias anaeróbias. Com o avançar da idade, as Bifidobactérias reduzem, enquanto que as Enterobactérias (maléficas) aumentam. Dietas ricas em proteínas e pobres em CHO teve efeitos prejudiciais à saúde do hospedeiro, por reduzir Roseburial e Eubacterium e consequente redução na produção de butirato. O impacto de dietas ocidentais, ricas em polissacarídeos, sobre a microbiota tem sido estudado. A ingestão de dietas ricas em fibras de polissacarídeos promove aumento na relação Bacteriodetes/Firmicutes, acompanhado de aumento de AGCC. Já com a ingestão de dieta rica em proteína e gordura e pobre em fibras aumenta a Proteobacteria. ALTERAÇÃO DA MICROBIOTA NA OBESIDADE Verificou-se que a quantidade de Bacteriodetes se reduz em 50% nos obesos, com aumento proporcional de Firmicutes. Indivíduos em tratamento para perda de peso, que se alimentaram de dieta restrita em gordura e pobre em calorias, apresentaram relação inversa Bacteriodetes/Firmicutes, além disso, a presença de M. smithii estaria associado a aumento da captação de energia e adiposidade, sugerindo que obesos produzam mais AGCC (maior eficiência na fermentação). 269 Comparando-se magros e obesos, obesos apresentam maior concentração de Firmicutes e Actinobacterias e redução de Bacteriodetes. Esta diferença parece ser responsável pelo acúmulo de adiposidade. INFLUÊNCIA DA MICROBIOTA NA REGULAÇÃO DO BALANÇO ENERGÉTICO A influência da microbiota na captação energética está intimamente ligada à eventos metabólicos. A composição de ácidos graxos metabolicamente ativos é modulada pela microbiota intestinal, que influencia diretamente o metabolismo lipídico. O armazenamento de gordura, captação e homeostase de energia também está associada á microbiota. A microbiota pode contribuir para a lipogênese de novo, ou seja, síntese de TG em fígado e depósito em tecido adiposo. Isto é mediado pela ChREBP (elemento de resposta ao CHO) e SREBP-1 (elemento de resposta ao esterol), que carregam os AGCC via circulação portal para o fígado, podendo desencadear a lipogênese de novo. Além de estimular a síntese e atividade das enzimas acetil-CoA carboxilase e ácido graxo sintetase. A deposição de gordura em fígado e músculo poderia estará associada à modulação da AMPK, onde pacientes com excesso de peso, por redução dos níveis de adiponectina, teriam inibiçãoda AMPK, aumentando o influxo de AGL para o fígado. A microbiota pode ainda estimular o aumento da produção hepática de glicose de triglicérides. A alteração em microbiota poderia suprimir a expressão do Fator adiposo induzido pelo jejum (FIAF) e com isso aumentar a atividade da LPL, induzindo lipogênese. Outro ponto é que o excesso de gram (-) poderia promover maior concentração de LPS, desencadeando inflamação crônica de baixo grau, conduzindo maior risco de DM2 e obesidade. Além disso, parece que a microbiota possa induzir a regulação de genes do hospedeiro que modulam a maneira com que a energia é gasta ou armazenada. Os AGCC seriam ligantes dos receptores acoplados à proteína G 270 (GPCRs), expressos em intestino delgado. Após ativação, eles induzem a secreção de PYY e leptina menor apetite e maior saciedade. Em pacientes obesos, a suplementação de probioticos ainda precisa ser investigada, entretanto, foram identificadas cepas de Lactobacilos com propriedades hipolipidemiantes, sugerindo que o uso de probioticos poderia reduzir adiposidade e o peso corpóreo do hospedeiro. Entretanto, não foram encontradas recomendações válidas para fundamentar a indicação, posologia e tipo específico de pré ou probiótico para a população obesa.
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