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ESI
DAD
E
SÍN
DRO
M
MET
ABÓ
OBESIDADE E 
SÍNDROME METABÓLICA
DUDU HALUCH
MARCELO CONRADO
 
 2 
Copyright © 2023 por Carlos Eduardo Ferreira Haluch 
(Dudu Haluch) e Marcelo Conrado de Freitas 
 
Texto e edição 
Dudu Haluch e Marcelo Conrado 
 
Colaborador 
Michael Alexandre 
 
Capa 
Thaís Essu 
 
Site: www.duduhaluch.com.br 
E-commerce: www.livrosduduhaluch.com.br 
instagram.com/duduhaluch 
instagram.com/dr.marceloconrado 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
Sumário 
 
CAPÍTULO 1: OBESIDADE: ESTILO DE VIDA E GENÉTICA .............................................................. 7 
1.1 Estilo de vida: Impacto sobre o ganho de peso ...................................................................... 8 
1.2 Set point e hipótese do gene econômico ............................................................................. 11 
1.3 Genética na obesidade emagrecimento ............................................................................... 14 
CAPÍTULO 2: INFLAMAÇÃO NA OBESIDADE .............................................................................. 19 
2.1 Ganho de peso e inflamação ................................................................................................. 20 
2.2 Tecido adiposo com um órgão endócrino ............................................................................. 25 
2.3 Inflamação gera inflamação .................................................................................................. 27 
2.4 Ingestão de gordura e inflamação......................................................................................... 29 
CAPÍTULO 3: MICROBIOTA NA OBESIDADE ............................................................................... 33 
3.1 Metabolismo da microbiota intestinal .................................................................................. 34 
3.2 Mudanças na microbiota intestinal pela dieta e exercício físico .......................................... 35 
3.3 Prebióticos no manejo da microbiota na obesidade ............................................................ 37 
3.4 Probióticos no manejo da microbiota na obesidade ............................................................ 38 
3.5 Iogurte no manejo da microbiota na obesidade ................................................................... 39 
3.6 fibras no manejo da microbiota na obesidade ..................................................................... 40 
CAPÍTULO 4: APETITE NA OBESIDADE ........................................................................................ 44 
4.1 Controle do apetite pelo hipotálamo .................................................................................... 45 
4.2 Fisiologia da fome ................................................................................................................. 46 
4.3 Fisiologia da saciedade .......................................................................................................... 47 
4.4 Resistência à leptina e insulina na obesidade ....................................................................... 49 
4.5 Sistema de recompensa e apetite na obesidade .................................................................. 52 
4.6 Alterações no apetite com o emagrecimento ....................................................................... 56 
4.7 Dieta hiperproteica, saciedade e emagrecimento ................................................................ 59 
CAPÍTULO 5: ESTRESSE OXIDATIVO NA OBESIDADE.................................................................. 62 
5.1 Sistema antioxidante ............................................................................................................. 63 
5.2 Estresse oxidativo na obesidade ........................................................................................... 64 
5.3 Classes dos alimentos funcionas ........................................................................................... 65 
5.4 Alimentos funcionais e efeito antioxidante ......................................................................... 66 
5.5 Exercício físico e efeito antioxidante .................................................................................... 68 
5.6 Alimentos funcionais e efeito anti-inflamatório .................................................................. 70 
 
 4 
5.7 Vegetais e emagrecimento.................................................................................................... 71 
5.8 Frutas e emagrecimento ....................................................................................................... 73 
CAPÍTULO 6: RESISTÊNCIA À INSULINA NA OBESIDADE ............................................................ 75 
6.1 Estímulo da insulina e captação de glicose .......................................................................... 76 
6.2 Inflamação e resistência à insulina ....................................................................................... 78 
6.3 Estresse oxidativo e resistência à insulina ............................................................................ 80 
6.4 Microbiota e resistência à insulina ........................................................................................ 82 
6.5 Gordura saturada e resistência à insulina ............................................................................. 83 
6.6 Disfunção mitocondrial e resistência à insulina .................................................................... 85 
6.7 Sensibilidade à insulina e emagrecimento ........................................................................... 86 
CAPÍTULO 7: HIPERTENSÃO ARTERIAL NA OBESIDADE ............................................................. 90 
7.1 Volume plasmático e controle da pressão arterial ............................................................... 91 
7.2 Obesidade e sistema renina angiotensina aldosterona ....................................................... 92 
7.3 Resistência vascular periférica e controle da pressão arterial .............................................. 95 
7.4 Disfunção endotelial e hipertensão arterial .......................................................................... 97 
CAPÍTULO 8: DISLIPIDEMIA E ATEROSCLEROSE NA OBESIDADE ............................................. 101 
8.1 Perfil lipídico ........................................................................................................................ 102 
8.2 Colesterol e lipoproteínas ................................................................................................... 103 
8.3 Fisiopatologia da aterosclerose ........................................................................................... 106 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 110 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
SOBRE OS AUTORES 
 
 
Marcelo Conrado de Freitas é formado em Educação 
Física, Mestre em Fisioterapia (UNESP) e Doutor em 
Ciências da Motricidade (UNESP). Professor de pós-
graduação. Autor de oito e-books nas áreas de nutrição, 
emagrecimento, hipertrofia e fisiologia do exercício. 
 
 
 
Dudu Haluch é nutricionista, bacharel em física, mestre 
em física pela USP. Autor dos livros Hormônios no 
Fisiculturismo (2017), Nutrição no Fisiculturismo (2018) e 
Emagrecimento e Metabolismo (2021). Grande 
experiência preparando atletas de fisiculturismo. 
Professor de diversos cursos de pós-graduação, 
lecionando disciplinas relacionadas à nutrição esportiva, 
fisiculturismo, obesidade, bioquímica e fisiologia. 
Coordenador de cursos de pós-graduação da UNIGUAÇU. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 6 
PREFÁCIO 
 
Este e-book é fruto de mais uma parceria de sucesso com o professor Marcelo 
Conrado. Nele exploramos os principais aspectos fisiológicos e fisiopatológicos 
da obesidade e da síndrome metabólica,além do importante papel da 
inflamação e da resistência à insulina. Embora o foco principal desse material 
seja a fisiologia e fisiopatologia da obesidade, e das comorbidades associadas 
(hipertensão arterial, diabetes melittus tipo 2, aterosclerose), em alguns 
capítulos procuramos explorar possíveis estratégias de tratamento, 
principalmente com foco em estratégias nutricionais. Além disso, este e-book 
aborda outros tópicos importantes relacionados à obesidade e síndrome 
metabólica, como o papel do estresse oxidativo na obesidade, a relação entre 
microbiota e obesidade, e os mecanismos fisiológicos de controle do apetite. 
 
Abraços, Dudu Haluch 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
CAPÍTULO 1 
 
OBESIDADE: 
ESTILO DE VIDA E GENÉTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
1.1 ESTILO DE VIDA: IMPACTO SOBRE O GANHO DE 
PESO 
A obesidade é uma doença multifatorial, decorrente principalmente de 
interações entre fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Durante 
milhares de anos a obesidade não foi um problema para a população, mas nas 
últimas décadas ela tem se tornado uma epidemia mundial e, com ela, muitas 
doenças crônicas (diabetes, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, 
câncer) têm se tornado comum entre a população. Como um século é um 
período muito curto para alterações no nosso genótipo (composição genética 
de um indivíduo), os principais fatores que têm levado a população mundial a 
ganhar peso nas últimas décadas são ambientais e comportamentais. 
No entanto, enquanto alguns indivíduos ganham muito peso e se tornam 
obesos, outros continuam se mantendo magros. Nas últimas décadas a 
população tem ingerido cada vez mais calorias e diminuído o gasto energético 
de atividade física (GAF), ou seja, houve um aumento da ingestão energética e 
do sedentarismo, o que coloca muitos indivíduos em uma situação de balanço 
energético positivo (ingestão calórica > gasto energético). Os fatores genéticos 
podem explicar porque parte da população ganha peso quando exposta a um 
ambiente obsogênico (com muitos alimentos palatáveis disponíveis facilmente), 
enquanto uma grande parcela mantém o peso estável. Existem indivíduos que 
possuem predisposição genética para ganhar peso/gordura, por possuírem 
maior expressão de genes relacionados a menor saciedade ou também menor 
gasto energético, ou também maior expressão de genes que favorecem o 
ganho de gordura (menor capacidade de oxidação de gordura e maior estímulo 
da lipogênese). Em outras palavras, existem pessoas que acumulam gordura 
com maior facilidade, pois o seu metabolismo favorece esse efeito. 
Durante milhares de anos vivemos (nossa espécie Homo sapiens) em 
um ambiente onde a comida era escassa e as pessoas gastavam bastante 
energia através da atividade física. Esse ambiente pré-histórico pode ter 
favorecido a expressão de genes que favorecem o armazenamento de energia, 
principalmente na forma de gordura (hipótese do gene econômico). Com a 
revolução industrial nos últimos séculos e o desenvolvimento da ciência e da 
 
 9 
tecnologia, a escassez de alimentos deixou de ser um problema. A tecnologia 
também mudou o perfil de trabalho e do lazer da população, diminuindo o GAF. 
Desde o início dos anos 80 a população está comendo mais calorias, 
cerca de 250 a 300 kcal a mais por dia em média. Obviamente tem gente que 
não engorda, tem gente que engorda pouco, assim como tem os obesos que 
ganham muita gordura, justamente porque estão com um superávit calórico 
muito maior que 300 kcal. Existe uma forte crença de que a população está 
engordando por comer mais carboidratos, que são potentes estimuladores da 
insulina. No entanto, estamos comendo não apenas mais carboidratos, mas 
também mais gorduras e proteínas. O problema é o que todo mundo já deveria 
saber, comemos mais alimentos ultra processados, ricos em gordura, açúcar, 
sal e aditivos químicos de sabor. 
As indústrias de alimentos investem pesado para tornar esses alimentos 
mais saborosos e mais baratos porque a concorrência é alta entre elas. Hoje 
em dia é muito mais fácil comer fora de casa e pagar barato, mas, 
consequentemente, comemos menos alimentos saudáveis, como vegetais, 
frutas, leguminosas e grãos integrais. Em um ambiente obsogênico como esse, 
é muito difícil para um indivíduo com predisposição genética evitar o ganho de 
peso. Existem muitos indivíduos magros que se alimentam tão mal quanto 
indivíduos obesos, por isso a genética também é um fator determinante no 
ganho de peso e gordura. Os indivíduos que ganham muita gordura com 
facilidade normalmente possuem menor sensibilidade à insulina e maior 
eficiência metabólica (maior facilidade em armazenar energia), o que favorece 
o armazenamento de gordura. Ninguém ganha gordura só porque ingere 
açúcar, refrigerante, gorduras etc; ganhamos peso quando simplesmente 
ingerimos mais calorias do que gastamos, e nesse sentido os alimentos ricos 
em carboidratos refinados e gorduras tendem a contribuir mais para gerar um 
superávit calórico. Eles apresentam alta densidade energética, são pobres em 
micronutrientes e fibras, e dificultam o controle da saciedade. 
Além dos alimentos ultraprocessados (industrializados) prejudicarem o 
controle da saciedade, eles possuem maior densidade energética, o que 
favorece o ganho de peso no longo prazo. Um estudo comparou a oferta a 
vontade de alimentos ultraprocessados versus alimentos não processados 
sobre a ingestão calórica e ganho de peso. Os resultados mostraram que 
 
 10 
houve uma maior ingestão calórica e ganho de peso na condição da dieta rica 
em ultraprocessados (figura 1). Esses resultados podem ser explicados devido 
ao fato que os alimentos industrializados são mais palatáveis (saborosos), 
favorecendo o consumo em maior quantidade. Além disso, esses alimentos são 
de alta densidade calórica, facilitando o aumento das calorias na dieta. Isso 
significa que limitar o consumo de alimentos ultraprocessados é uma medida 
eficaz na prevenção e tratamento da obesidade (HALL et al. 2018). 
 
Figura 1 – Alimentos ultraprocessados e ganho de peso 
Legenda: Observem que poucos dieta de dieta com alimentos ultraprocessados gerou um 
aumento na ingestão calórica e ganho de peso (linha azul) em comparação a dieta com 
alimentos in natura (linha vermelha). Adaptado de Hall el al. 2018. 
 
 
 11 
Doces e carboidratos refinados (pão branco, massas, arroz branco etc.), 
normalmente são alimentos de alto índice glicêmico (IG). Esses alimentos são 
absorvidos mais rapidamente e têm um impacto maior nos níveis de glicose e 
insulina. Com o consumo de carboidratos refinados, as concentrações de 
glicose e insulina sobem rapidamente e também caem mais rapidamente 
quando comparados aos alimentos de baixo índice glicêmico (batata doce, 
aveia, grãos integrais, leguminosas). A insulina se eleva rapidamente para 
aumentar a captação de glicose na corrente sanguínea, além de aumentar a 
lipogênese (síntese de gordura) e inibir a lipólise (quebra da gordura) e a 
oxidação de ácidos graxos (queima de gordura). Isso aumenta a oxidação de 
carboidratos e reduz a oxidação das gorduras, e faz com que os níveis de 
glicose reduzam mais rapidamente, podendo causar uma “hipoglicemia 
reativa”. Nessa situação, os níveis de cortisol e adrenalina se elevam, 
aumentando a gliconeogênese no período pós-prandial, o que favorece a 
degradação das proteínas musculares e o uso dos seus aminoácidos para 
síntese de glicose. A fome também aumenta mais rapidamente em 
comparação ao consumo de alimentos de baixo IG, pois o cérebro detecta que 
os níveis de combustíveis energéticos disponíveis no sangue estão baixos. 
Alimentos de alto IG e alta carga glicêmica (CG) tendem a promover excesso 
de alimentação, enquanto alimentos de baixo IG mantém as concentrações de 
glicose e insulina mais estáveis por um tempo maior e também promovem 
maior saciedade.1.2 SET POINT E A HIPÓTESE DO GENE ECONÔMICO 
A teoria do set point (ponto de ajuste) estabelece que o peso corporal de 
todo indivíduo é predeterminado, mantendo-se estável mesmo com variações 
diárias no consumo de calorias e no gasto energético. Segundo essa teoria, o 
nosso organismo tem mecanismos de feedback que controlam os estoques de 
energia (gordura), mantendo esse estoque constante a maior parte do tempo. 
Como vimos, a leptina é um hormônio que controla a ingestão energética e o 
gasto energético, e é produzida justamente pela maior reserva de energia do 
organismo, o tecido adiposo. No entanto, a leptina não é o único hormônio que 
controla o peso corporal através da sua ação no hipotálamo. Vários outros 
 
 12 
hormônios atuam no hipotálamo fazendo feedback para controle do peso 
corporal quando ocorrem mudanças na ingestão energética e no gasto 
energético. 
Apesar do peso corporal se manter estável a maior parte do tempo da 
vida de um indivíduo, a recente epidemia de obesidade deixa claro que esse 
ponto de ajuste pode ser modificado quando ocorrem aumentos no consumo 
de energia, assim sendo um ponto de ajuste flexível e não fixo como se 
pensava. Além disso, é muito mais difícil perder peso / gordura e manter o 
peso corporal baixo, mostrando que mudanças no set point são assimétricas, 
sendo mais eficiente para o organismo evitar perda de peso do que evitar o 
ganho de peso. Essa maior facilidade do organismo em acumular energia como 
gordura e a dificuldade de manter o peso corporal baixo estão relacionadas a 
outra teoria, a hipótese do “gene econômico”. Segundo essa hipótese, nossos 
genes foram programados por milhares de anos de evolução para facilitar o 
armazenamento de energia. 
Nossos ancestrais passavam por momentos de escassez de energia 
frequente (fome), e os indivíduos que tinham mais chance de sobreviver eram 
aqueles com um genótipo que favorecesse uma maior reserva de energia 
(gordura). Ou seja, indivíduos que oxidam menos gordura e ganham gordura 
com mais facilidade são favorecidos biologicamente por possuírem um 
conjunto de genes que favorece a manutenção do peso corporal, um genótipo 
econômico. No entanto, a hipótese do gene econômico foi amplamente 
criticada por outros pesquisadores por não explicar o motivo pelo qual a maior 
parcela da população não é obesa, tendo em vista que todos vivem no mesmo 
ambiente, o que resultaria em toda a população obesa. 
Outra falha na hipótese está nas considerações históricas dos 
caçadores-coletores, onde períodos entre fomes acarretaria em indivíduos 
obesos que sobreviveriam a fome, mas não foi o caso, já que não houve 
prevalência de obesidade e sua sobrevivência não foi atribuída ao maior 
armazenamento de gordura. Uma teoria alternativa foi proposta para explicar 
essa variabilidade no ganho de peso entre os indivíduos, a “ausência de 
predador”. Essa teoria consiste nos ancestrais que há mais de 2 milhões de 
anos possuíam limiar superior para o ganho de peso, evitando o excessivo 
 
 13 
acúmulo de gordura corporal, que prejudicaria sua sobrevivência na fuga de 
predadores. 
Embora não tenhamos mais predadores, os genes transferidos 
aleatoriamente para as gerações sucessoras implicaram na variação do ganho 
de peso interindividual, resultante da alteração do limiar superior do set point, e 
as sinalizações ambientais de predadores na época alteravam a dinâmica do 
armazenamento energético sugerindo explicações para dicotomia do ganho de 
peso em resposta ao estresse. Ao invés de seleção direcionada dos genes, 
como sugere o “gene econômico”, essas mudanças aleatórias e deriva 
genética são responsáveis pela variação na distribuição de gordura 
populacional, sendo a hipótese mais aceita que esclarece a suscetibilidade 
heterogênea do ganho de peso, inclusive nas culturas ocidentais, onde 
encontra-se maior proporção relativa da população obesa no mundo, e, mesmo 
assim, a quantidade de obesos representa menos da metade da população 
dessa região. 
O modelo do ponto de intervenção dupla é um refinamento das teorias 
que basicamente apresenta regulações nas extremidades onde a leptina é um 
componente crucial de resposta durante a perda de peso, enquanto o(s) 
regulador(es) do limiar superior ainda é desconhecido, sendo um alvo 
farmacológico futuro quando descoberto e esclarecendo o enigma da 
heterogeneidade do ganho de peso na população. 
Levando em conta a flexibilidade do set point e as variantes genéticas 
que contribuem para o ganho de peso, desde as influências metabólicas e 
comportamentais, fica cada vez mais claro que o grande desafio no 
emagrecimento são as forças contrarregulatórias imposta pelo organismo para 
defender seu peso, que é variavelmente alterado. Entendimento sobre os 
fatores que favorecem o ganho de peso reduz os estigmas que envolvem a 
obesidade, quebrando preconceitos, refletindo em maior seriedade e respeito 
de como a condição deve ser enfrentada. Embora a mudança de hábito seja a 
medida mais adequada e constantemente incentivada, a complexidade da 
obesidade reflete em grandes dificuldades enfrentadas durante o 
emagrecimento, sendo necessário ferramentas adicionais (ex. farmacológicas 
e/ou cirúrgicas) para manter o paciente aderente em hábitos mais saudáveis e 
 
 14 
mantendo-se resistente às influências do ambiente que tanto o pressiona para 
subir seus números na balança. 
 
1.3 GENÉTICA NA OBESIDADE E EMAGRECIMENTO 
Nesse tópico vamos discutir o papel da genética na obesidade e no 
emagrecimento. Embora o ganho de peso seja decorrente de um desequilíbrio 
entre a ingestão calórica e o gasto energético, a resposta dos indivíduos de 
uma população ao ganho de peso e a perda de peso é variável. Alguns estudos 
com gêmeos idênticos (monozigóticos) têm mostrado que o ganho de peso 
entre indivíduos submetidos a um mesmo superávit calórico é bem variável, 
sendo semelhante entre os irmãos e com grande variabilidade entre os pares 
de gêmeos. Estudos que comparam o IMC de filhos adotivos com seus pais 
biológicos também mostram uma correlação entre o IMC dos pais e filhos. 
A epidemia de obesidade é recente e seu grande crescimento nas 
últimas décadas é associado a mudanças de estilo de vida da população, 
principalmente no ocidente. O aumento da ingestão de alimentos 
industrializados ricos em gorduras (trans, saturadas) e carboidratos refinados, 
aliado a um estilo de vida sedentário, são responsáveis pelo balanço 
energético positivo, que promove grande ganho de peso com o passar dos 
anos. Esse ganho de peso/gordura é resultado não só da mudança ambiental, 
mas principalmente da interação gene e ambiente. A obesidade é considerada 
uma doença com causas multifatoriais, sendo que a interação de um ambiente 
obsogênico com nosso “genótipo econômico” tende a favorecer ainda mais o 
aumento das reservas energéticas, o acúmulo de gordura. Além da interação 
gene-ambiente, vários estudos têm indicado que nossa microbiota também 
influencia nosso metabolismo. Indivíduos obesos e magros apresentam 
diferentes composições de bactérias intestinais e os processos de ganho de 
peso e perda de peso também influenciam nossa microbiota. 
Nas últimas décadas, diversos estudos têm mostrado que a obesidade é 
resultado de uma interação entre nossos genes com um ambiente obsogênico, 
que favorece um balanço energético positivo, em decorrência do aumento da 
ingestão de alimentos calóricos e da redução do gasto energético devido a 
menor atividade física. A carga genética explica 40 a 70% da diferença de peso 
 
 15 
corporal em humanos. Segundo a hipótese do genótipo econômico, nossos 
ancestrais passavam por períodos de escassez de alimentos boa parte do 
tempo, e isso perdurou por milhares de anos. 
Os indivíduos com mais chances de sobreviver eram aqueles com um 
genótipo que favorecesse a uma maior reserva de energia (gordura). Nas 
últimas décadas,nosso ambiente mudou drasticamente, mas nosso genoma 
permanece semelhante ao de nossos antepassados, o que favorece o acúmulo 
de gordura por boa parte da população que vive nesse ambiente obsogênico. 
De qualquer forma, essa hipótese é insuficiente para explicar a grande 
variabilidade de respostas ao ganho de peso entre diferentes indivíduos. Uma 
teoria alternativa foi proposta para explicar essa variabilidade no ganho de 
peso entre os indivíduos, a “teoria da ausência de predador”. Segundo essa 
teoria, nossos ancestrais, há mais de 2 milhões de anos, possuíam limiar 
superior para o ganho de peso, evitando o excessivo acúmulo de gordura 
corporal, o qual prejudicaria sua sobrevivência na fuga de predadores. Embora 
não tenhamos mais predadores, os genes transferidos aleatoriamente para as 
gerações sucessoras implicaram na variação do ganho de peso interindividual 
resultante da alteração do limiar superior do set point, e as sinalizações 
ambientais de predadores na época alteravam a dinâmica do armazenamento 
energético, sugerindo explicações para dicotomia do ganho de peso em 
resposta ao estresse. 
Ao invés de seleção direcionada dos genes, como sugere o “gene 
econômico”, essas mudanças aleatórias e deriva genética são responsáveis 
pela variação na distribuição de gordura populacional, sendo a hipótese mais 
aceita que esclarece a suscetibilidade heterogênea do ganho de peso, inclusive 
nas culturas ocidentais, onde encontra-se maior proporção relativa da 
população obesa no mundo, e mesmo assim a quantidade de obesos 
representa menos da metade da população dessa região. O modelo do ponto 
de intervenção dupla é um refinamento das teorias que basicamente apresenta 
regulações nas extremidades onde a leptina é um componente crucial de 
resposta durante a perda de peso, enquanto o(s) regulador(es) do limiar 
superior ainda é desconhecido, sendo um alvo farmacológico futuro quando 
descoberto e esclarecendo o enigma da heterogeneidade do ganho de peso na 
população. 
 
 16 
Os fatores genéticos podem contribuir para maior sedentarismo, 
alteração no gasto energético e oxidação de substratos. Estudos com gêmeos 
observaram que a herdabilidade pode influenciar em aproximadamente 20% na 
disposição para realizar exercício, mais de 40% na taxa metabólica basal e 
mais de 30% no coeficiente respiratório, explicando as variações na tendência 
de oxidar gordura e perder peso entre os indivíduos. 
Apesar de muitos indivíduos ganharem peso / gordura ao adotarem o 
estilo de vida ocidental, o ganho de peso é muito variável entre os indivíduos 
de uma mesma população. Estudos com pares de gêmeos em ambiente 
controlado (BOUCHARD, 1990) mostraram que o ganho de peso foi 
semelhante entre os irmãos, mas muito diferente entre os pares, variando de 3 
a 12 kg, sendo que todos foram expostos a um mesmo superávit calórico (1000 
kcal). Portanto, é equivocado pensar que um superávit calórico de ~ 500 
kcal/dia vai promover um ganho de peso de 0,5 kg por semana para qualquer 
indivíduo. Como nesse estudo a dieta foi estritamente controlada, a 
variabilidade no ganho de peso pode ser explicada por variações na 
termogênese atividade não exercício (NEAT). Indivíduos mais resistentes ao 
ganho de peso tendem a gastar mais calorias em superávit calórico por se 
movimentarem mais, aumentando gasto energético de atividade física. As 
respostas ao ganho e perda de peso não são lineares devidos aos efeitos da 
termogênese adaptativa, e a grande variabilidade entre indivíduos mostra que a 
genética também desempenha um papel fundamental na obesidade e no 
emagrecimento. 
Segundo Loos: “Existe uma relação sinérgica entre os genes e o 
ambiente: na presença de uma predisposição genética para a obesidade, a 
gravidade da doença é largamente determinada pelo estilo de vida e pelas 
condições ambientais. Quando indivíduos que vivem em um ambiente 
“restritivo” evoluem em direção a um ambiente “obesogênico”, como o 
encontrado em países industrializados, a maioria provavelmente ganhará peso. 
No entanto, aqueles com uma alta predisposição genética para a obesidade 
ganharão mais peso, enquanto aqueles resistentes à obesidade ganharão 
pouco ou nenhum peso” (LOOS, 2003). Os estudos do Dr. Stunkard 
compararam o IMC de filhos adotivos com o dos seus pais biológicos e 
encontraram uma forte correlação entre o peso dos filhos adotivos com seus 
 
 17 
pais biológicos e uma fraca correlação do peso dos filhos com os pais adotivos. 
Ou seja, a genética influencia mais no peso das crianças do que o ambiente. 
O estudo dos índios Pima do Arizona é outro grande exemplo de como a 
interação entre genética e ambiente pode ter um grande impacto no ganho de 
peso. Os índios Pima, que vivem no Arizona, são em média 25 kg mais 
pesados que os índios Pima que vivem no México. Os índios do Arizona 
adotaram o estilo de vida ocidental, se tornando mais sedentários e 
consumindo alimentos com grande densidade calórica, enquanto os índios 
Pima do México ainda vivem em condições de caçadores-coletores, não 
sofrendo com a epidemia de obesidade e suas comorbidades. Mais de 75% 
dos índios Pima que vivem no Arizona são obesos e muitos apresentam 
obesidade mórbida e são diabéticos. 
A contribuição genética no ganho de peso foi amplamente discutida na 
literatura. A herdabilidade genética, por exemplo, pode contribuir entre 40-70% 
para o excesso de peso, enquanto a obesidade monogênica representa uma 
parcela mínima da população obesa. No entanto, diversos genes conhecidos 
como polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) foram associados como 
candidatos ao excesso de peso, caracterizando a obesidade como uma doença 
poligênica. Uma meta-análise de associação ampla do genoma (GWAS) 
realizada com mais de 300.000 indivíduos identificou 115 lócus genéticos com 
variantes associados ao IMC, na qual a contribuição genética é de 
aproximadamente 20%, e a maioria desses genes estão enriquecidos no 
sistema nervoso central (SNC), resultando em alterações no comportamento 
alimentar, como alto consumo de calorias. A contribuição das variantes do 
gene econômico compõe apenas 3% das variantes e são raros na população 
em geral, estando presente em etnias específicas. Muitos desses genes 
receberam atenção especial no ganho de peso. 
O mais estudado é o gene relacionado ao MCR4, receptor crítico na 
regulação do apetite no hipotálamo e recebe estímulos dos neurônios do 
núcleo arqueado e de outras regiões extra hipotalâmicas durante as alterações 
internas e externas, influenciando o consumo de alimentos. Indivíduos que 
carregam SNPs responsáveis pela mutação desse receptor são mais 
suscetíveis ao ganho de peso devido a hiperfagia causada pela disfunção na 
sua atividade. O MCR4 e outras variantes influenciam em outros componentes 
 
 18 
que levam a maior consumo calórico, como no valor atribuído à recompensa do 
alimento, amplificação da palatabilidade e reatividade com as pistas 
(componentes orossensoriais e visuais), preferências alimentares (açúcar e 
gordura) e maior impacto no reforço (desejo), tornando seu consumo mais 
desinibido e contínuo, ou seja, o maior prazer com a alimentação pode ser 
dado as variantes do SNPs, tornando seu consumo mais recompensador e 
favorecendo o ganho de peso. 
Vários hormônios e proteínas são responsáveis por regular a ingestão 
energética e o gasto energético. A leptina é um hormônio peptídico que regula 
nossa ingestão energética e o nosso peso corporal, e polimorfimos do receptor 
de leptina (LEPR) estão associados à obesidade. Além dos genes que 
codificam os receptores de leptina, ou seja, genes responsáveis pela síntese 
dos receptores de leptina (proteínas), existem genes que codificam uma série 
de proteínas e receptores responsáveis pela lipólise e oxidação de gorduras. 
Os genes que codificam os receptores adrenérgicos beta 2 e beta 3 
também apresentam polimorfismos associadosà obesidade, assim como os 
genes que codificam as proteínas desacopladoras mitocondriais (UCPs). Essa 
grande variabilidade genética pode explicar porque algumas pessoas se 
tornam obesas mesmo sem um consumo excessivo de calorias. Alguns 
indivíduos obesos apresentam baixo gasto energético e maior tendência ao 
acúmulo de gordura. Os estudos com gêmeos idênticos em ambiente 
controlado e os outros estudos que avaliaram o gasto energético de indivíduos 
suscetíveis à obesidade mostram claramente que a genética desempenha um 
papel fundamental no ganho de peso/gordura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19 
CAPÍTULO 2 
 
INFLAMAÇÃO NA OBESIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20 
2.1 GANHO DE PESO E INFLAMAÇÃO 
É muito comum ver as pessoas dizendo que a obesidade aumenta a 
inflamação. O primeiro passo é compreender o que seria essa inflamação que 
muita gente diz. Basicamente inflamação é um aumento na concentração de 
proteínas inflamatórias, como a Interleucina-6 (IL-6) e o Fator de Necrose 
Tumoral Alfa (TNFα). Vocês precisam compreender que o aumento na 
produção de proteínas inflamatórias na obesidade causa prejuízos à saúde, 
pois a inflamação gera resistência à insulina (diabetes tipo 2), hipertensão 
arterial e aterosclerose (risco de infarto e acidente vascular cerebral). 
Isso significa que se você tem uma paciente com obesidade que possui 
essas alterações fisiológicas citadas acima, um dos alvos que você precisa 
combater é a inflamação, ou seja, você precisa criar estratégias para reduzir a 
produção das proteínas inflamatórias. Claro, iremos detalhar isso neste 
material, mas neste tópico você já começa a compreender a importância de 
estudar inflamação na obesidade. 
Existe uma diferença entre a inflamação da obesidade e a inflamação 
causada por uma lesão ou por infecções por vírus e bactérias. Na condição de 
infecção ou lesão acontece uma inflamação aguda, ou seja, existe um aumento 
significativo na produção das proteínas inflamatórias e depois de um tempo há 
uma queda, formando uma curva. Já na obesidade ocorre uma inflamação 
crônica de baixo grau, em outras palavras, a produção de proteínas 
inflamatórias aumenta e se mantém elevada por vários e vários dias (PEREIRA 
et al. 2014). A figura 2 mostra a diferença entre a inflamação aguda e a 
inflamação crônica de baixo grau na obesidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 21 
Figura 2 – Diferença entre inflamação aguda e inflamação crônica de 
baixo grau na obesidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: Na condição de infecção ou lesão acontece uma inflamação aguda, ou seja, existe 
um aumento significativo na produção das proteínas inflamatórias e depois de um tempo há 
uma queda, formando uma curva. Já na obesidade ocorre uma inflamação crônica de baixo 
grau, a produção de proteínas inflamatórias aumenta e se mantém elevada por vários e vários 
dias. 
 
O excesso de gordura corporal, principalmente a gordura visceral pode 
aumentar a produção de proteínas inflamatórias, como TNFα e IL-6. Vamos 
compreender agora como excesso de tecido adiposo causa o aumento na 
produção de proteínas inflamatórias. 
Quando uma pessoa sustenta o superávit calórico e ganha gordura 
corporal acontece uma hipertrofia nos adipócitos, ou seja, os adipócitos ficam 
maiores. O tecido adiposo é vascularizado, isso significa que os vasos 
sanguíneos levam sangue para os adipócitos. Quando acontece a hipertrofia 
dos adipócitos ocorre uma obstrução mecânica nos vasos sanguíneos. Em 
outras palavras, o aumento no tamanho das células adiposas promove uma 
pressão mecânica sobre os vasos sanguíneos, reduzindo a entrega de sangue 
ao tecido adiposo. 
Qual a consequência disso? Acontece uma diminuição no conteúdo de 
oxigênio nas células adiposas, promovendo um quadro de hipóxia (redução na 
disponibilidade de oxigênio). Os estudos vêm demonstrando que a hipóxia no 
tecido adiposo é um fator que estimula a produção de proteínas inflamatórias 
(TRAYHURN, 2013). Entenda que a redução de oxigênio no tecido adiposo é 
um dos mecanismos que faz o tecido adiposo no indivíduo obeso produzir mais 
proteínas inflamatórias. Observem a figura 3 que mostra uma relação entre 
 
 22 
concentração de oxigênio no tecido adiposo e produção de proteínas 
inflamatórias. Vejam que a concentração de oxigênio é maior nas artérias, 
porém no tecido adiposo do indivíduo eutrófico há uma maior quantidade de 
oxigênio e menos produção de proteínas inflamatórias em comparação ao 
tecido adiposo do indivíduo obeso que possui menos oxigênio e maior 
produção de proteínas inflamatórias. 
 
Figura 3 – Relação entre oxigênio e produção de proteínas inflamatórias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: Observem que a concentração de oxigênio no tecido adiposo do eutrófico fica em 
torno de 10%, porém no indivíduo com obesidade a concentração de oxigênio cai para 1 a 3% 
(hipóxia). Essa queda de oxigênio é um fator que estimula a produção de proteínas 
inflamatórias. Adaptado de TRAYHURN (2013). 
 
Agora vamos compreender como a hipóxia no tecido adiposo causa 
esse aumento na inflamação. Quando acontece a hipóxia no tecido adiposo há 
uma ativação do Fator Indutor de Hipóxia-1 Alfa (HIF-1α), uma proteína 
sensível a concentração de oxigênio, ou seja, quando o oxigênio na célula 
diminui, HIF-1α é ativada. Vamos fazer uma comparação aqui entre pessoas 
com obesidade e eutróficos. Na obesidade há uma redução no conteúdo de 
oxigênio nas células adiposas (obstrução mecânica pela hipertrofia dos 
adipócitos) e há uma maior ativação de HIF-1α no tecido adiposo. Em 
contrapartida, nos indivíduos eutróficos existe maior disponibilidade de oxigênio 
no tecido adiposo e uma menor ativação de HIF-1α. 
A pergunta que fica agora é “Qual a função de HIF-1a nesse contexto de 
obesidade?” Bom, vamos entender isso melhor. A ativação de HIF-1α gera 
 
 23 
mudanças fisiológicas na célula para tentar restabelecer a concentração de 
oxigênio. Como? HIF-1α desloca o Fator do Crescimento do Endotélio Vascular 
(VEGF) para o núcleo da célula, sendo que VEGF na fita de DNA causa um 
aumento na produção de novos vasos sanguíneos (angiogênese). Esse efeito 
tem o objetivo de melhorar a entrega de oxigênio aos adipócitos, pois se há 
mais vasos, maior é a chegada de oxigênio nas células. Por mais que isso 
aconteça, o nível de oxigênio dificilmente melhora. Então HIF-1α começa a 
causar um aumento na produção de proteínas inflamatórias, como a TNFα e IL-
6 (QING et al. 2011). 
Vamos compreender melhor como HIF-1α aumenta a produção de 
proteínas inflamatórias. Vou explicar isso citando dois eventos fisiológicos. 
Primeiro, HIF-1α ativa o Fator Nuclear Kappa B (NFKB), uma proteína que ao 
ser ativada é direcionada para o núcleo da célula e na fita de DNA gera a 
produção de proteínas inflamatórias, como a TNFα e IL-6 (YE, 2009). 
Segundo, HIF-1α ativa a Proteína Quimiotática de Monócitos (MCP-1), 
sendo que essa proteína gera um recrutamento de macrófagos ao tecido 
adiposo. Percebam que HIF-1α faz aumentar a quantidade de macrófagos no 
tecido adiposo, sendo que diversos estudos vêm demonstrando que o tecido 
adiposo de uma pessoa com obesidade possui mais macrófagos do que uma 
pessoa eutrófica. 
Os macrófagos podem ser divididos em tipo 1 e tipo 2, sendo que os 
macrófagos tipo 1 produzem mais proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6) e os 
macrófagos tipo 2 secretam mais proteínas anti-inflamatórias, como a 
Interleucina-10 (IL-10). Então podemos considerar que os macrófagos tipo 1 
tem efeitos negativos para a saúde e os macrófagos tipo 2 possuem efeitos 
positivos. A figura 4 mostra o aumento da inflamação no adipócito causado 
pela ação de HIF-1α. 
 
 
 
 
 
 
 24 
Figura 4 – Ação do HIF-1a para aumenta a produção de proteínas 
inflamatórias no tecido adiposo de uma pessoa com obesidade 
 
 
 
 
Legenda: A obstrução mecânicanos vasos sanguíneos causa uma queda na concentração de 
oxigênio no adipócito. A hipóxia ativa a proteína HIF-1α que age de duas maneiras: 1) ativa a 
proteína MCP-1 que aumenta o recrutamento de macrófagos ao tecido adiposo, no qual essas 
células produzem proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6); e 2) ativa o fator de transcrição NFKB 
que vai até o núcleo e na fita de DNA estimula a produção de TNFα e IL-6. 
 
Para você entender de maneira mais fácil esse mecanismo de 
inflamação no tecido adiposo veja o esquema da figura 5. Caso você ache 
necessário para potencializar seu aprendizado, replique esse esquema no 
caderno, tenho certeza que irá aprender mais. 
 
Figura 5 – Excesso de tecido adiposo e inflamação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 25 
Agora vamos fazer uma comparação entre o tecido adiposo de uma 
pessoa com obesidade versus eutróficos. No tecido adiposo da pessoa com 
obesidade pode ter menos oxigênio, maior ativação de HIF-1α e NFKB e mais 
macrófagos do tipo 1. Qual o resultado? Maior produção de proteínas 
inflamatórias. Já na pessoa eutrófica há uma maior disponibilidade de oxigênio 
no tecido adiposo, pois não há uma hipertrofia excessiva nos adipócitos. Isso 
faz a pessoa ter uma menor ativação de HIF-1α. Resultado? Menos ativado 
está o fator de transcrição NFKB e menor é a quantidade de macrófagos do 
tipo 1 no tecido adiposo. No indivíduo eutrófico também há uma maior 
quantidade de macrófagos do tipo 2. Percebam que o ambiente no obeso é 
mais inflamatório e no indivíduo eutrófico é mais anti-inflamatório. A figura 6 
resume a diferença entre o tecido adiposo do obeso e eutrófico. 
 
Figura 6 – Diferenças no tecido adiposo na pessoa com obesidade em 
comparação ao indivíduo eutrófico 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: No indivíduo eutrófico os adipócitos do são menores. Com o ganho de peso há uma 
hipertrofia dos adipócitos, aumentando a quantidade de macrófagos tipo 1. 
 
2.2 TECIDO ADIPOSO: UM ÓRGÃO ENDÓCRINO 
Desde a década de 90, o tecido adiposo não é mais considerado um 
simples órgão de armazenamento de energia (gordura). O tecido adiposo na 
obesidade produz diversas proteínas (GALIC et al, 2010), sendo que as 
proteínas inflamatórias agem em outros tecidos causando alterações 
fisiológicas negativas, tais como: resistência à insulina (fígado, músculo e vaso 
 
 26 
sanguíneo), aumento de pressão arterial, vasoconstrição e formação de placa 
de ateroma (vaso sanguíneo). 
Tudo mudou com a descoberta do hormônio leptina, produzido nos 
adipócitos do tecido adiposo branco. A leptina é a principal adipocina 
sintetizada pelas células do tecido adiposo, os adipócitos. As adipocinas são 
proteínas produzidas pelos adipócitos e outras células presentes no tecido 
adiposo (células endoteliais, magrófagos, pré-adipócitos), e desempenham 
diversas funções fisiológicas importantes no tecido adiposo e em outros órgãos 
distantes, como pâncreas, fígado, músculo esquelético e sistema nervoso 
central (SNC). 
As principais adipocinas produzidas no tecido adiposo são mostradas na 
tabela 1. 
 
Tabela 1 – Proteínas produzidas pelo tecido adiposo 
 
 27 
A leptina é a principal adipocina sintetizada pelos adipócitos e tem a 
função de regular peso corporal e a ingestão alimentar. Com a perda de peso e 
gordura, ocorre redução dos níveis de leptina e aumento do apetite, além de 
redução do gasto energético. Os níveis de leptina reduzem após algumas 
horas de jejum e aumentam com a superalimentação. Com o ganho de peso e 
gordura, ocorre aumento dos níveis de leptina, mas indivíduos obesos 
apresentam resistência à leptina, além da resistência à insulina. Além dessas 
citocinas, outras adipocinas estão relacionadas ao aumento da resistência à 
insulina e da inflamação, como a resistina. 
Além de prejudicarem diretamente a sinalização da insulina, as citocinas 
inflamatórias também estimulam a lipólise, principalmente no tecido adiposo 
visceral (gordura intra-abdominal, que se acumula entre os órgãos). Embora a 
lipólise pareça um efeito benéfico quando se trata de emagrecimento, seu 
excesso é prejudicial, pois o excesso de ácidos graxos livres na circulação 
prejudica a sinalização da insulina nos tecidos, como músculo, fígado, tecido 
adiposo e hipotálamo. Além disso, esse excesso de ácido graxos no sangue 
pode chegar ao fígado e aumentar a gordura hepática ou até mesmo gerar uma 
maior produção de colesterol, favorecendo a dislipidemia, ou seja, excesso de 
LDL e colesterol (MORIGNY et al. 2016). 
Lembre-se que para que ocorra emagrecimento, não basta ter aumento 
da lipólise (mobilização da gordura), também é necessário que ocorra aumento 
da oxidação dos ácidos graxos (queima de gordura). A adiponectina é um 
hormônio que se apresenta em menor quantidade em indivíduos obesos e sua 
sinalização é responsável pelo aumento da sensibilidade à insulina. A 
adiponectina estimula a captação de glicose e a oxidação de ácidos graxos 
através da sinalização da proteína AMPK. 
 
2.3 INFLAMAÇÃO GERA INFLAMAÇÃO 
 
Vimos que na obesidade o tecido adiposo produz proteínas 
inflamatórias, no qual essas proteínas são direcionadas para a corrente 
sanguínea. É importante compreender que ao chegar no sangue, essas 
proteínas inflamatórias podem ir para outros tecidos (fígado, músculo, vaso 
 
 28 
sanguíneo etc.) e causar alterações fisiológicas. Neste tópico iremos entender 
que TNFα é uma proteína sinalizadora, ou seja, ela liga em receptor na 
membrana plasmática de outras células e promove a produção ainda mais de 
proteínas inflamatórias (SHOELSON et al. 2003). 
Imagine que TNFα sai do tecido adiposo e vai para o sangue, após isso 
TNFα chega no músculo esquelético e na célula muscular liga no seu receptor 
localizado na membrana plasmática (receptor de TNFα). Essa ligação causa 
ativação de várias proteínas no meio intracelular. Vamos entender isso melhor? 
Então vamos lá. TNFα liga no receptor e ativa uma proteína chamada IKK, 
essa proteína tem a função de ativar o NFKB, o fator de transcrição que vai 
para o núcleo da célula e na fita de DNA causa formação de mais proteínas 
inflamatórias (TNFα e IL-6). Vejam, o TNFα produzido pelo tecido adiposo vai 
para outros tecidos ativar NFKB e causar inflamação nestes tecidos também. 
Por isso, inflamação causa inflamação (figura 7). 
 
Figura 7 – Sinalização do TNFα para aumentar a inflamação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: TNFα liga no receptor e ativa uma proteína chamada IKK, essa proteína tem a função 
de ativar o NFKB, o fator de transcrição que vai para o núcleo da célula e na fita de DNA causa 
formação de mais proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6). 
 
No tópico de resistência insulina iremos entender que o TNFα além de 
gerar inflamação causa um prejuízo no efeito da insulina em promover a 
captação de glicose. Isso significa que ao mesmo tempo, TNFα causa mais 
 
 29 
inflamação e resistência à insulina. Já no vaso sanguíneo TNFα pode levar a 
pressão arterial e acelerar a formação da placa de ateroma, sendo que iremos 
estudar mais detalhado esses conteúdos nos próximos capítulos. 
 
2.4 INGESTÃO DE GORDURA E INFLAMAÇÃO 
Em um contexto de obesidade é muito comum observar uma ingestão 
elevada de gorduras. Isso acontece porque há um maior consumo de alimentos 
industrializados e embutidos, elevando a ingestão de gordura saturada e 
gordura trans. Além disso, na obesidade existe um baixo consumo de gorduras 
insaturadas, pois é muito comum ver indivíduos obesos não consumindo 
oleaginosas, azeite, peixes, abacate, chia e linhaça. Você precisa compreender 
que o tipo de gordura gera uma grande influência sobre a inflamação (ROCHA 
et al. 2016), sendo que esse perfil de dieta na obesidade, ou seja, mais 
gorduras saturadas e menos gorduras insaturadas promove um impacto sobre 
o aumento na produção de proteínas inflamatórias. 
A ativação do NFKB nas células do organismo pode ser moduladade 
acordo com o tipo de gordura ingerida na dieta. A gordura saturada, presente 
principalmente em alimentos de origem animal pode ativar o NFKB, 
aumentando a produção de TNFα e IL-6, enquanto que o ômega-3 pode inibir o 
NFKB e reduzir a inflamação. O ácido graxo saturado pode agir em diversos 
tecidos do organismo por um receptor chamando de Toll Like Receptor-4 (TLR-
4) e ativar no meio intracelular algumas proteínas como a IKK. Após ser 
ativada, a proteína IKK transloca o NFKB para o núcleo celular (DNA) e assim 
inicia a formação das proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6) e a resistência à 
insulina pode aumentar, conforme demonstrado na figura 8. Por isso, o 
excesso de gordura saturada na dieta em contexto de obesidade pode elevar a 
inflamação e, consequentemente, uma piora na sensibilidade à insulina. Nas 
mídias é muito comum observar pessoas dizendo que óleo de coco, manteiga e 
banha de porco são alimentos saudáveis. No entanto, esses alimentos são 
ricos em gordura saturada e o consumo excessivo destes alimentos na 
obesidade não é saudável, pois eles podem contribuir para o aumento da 
inflamação (ZHOU et al. 2020). 
 
 
 30 
Figura 8 - Mecanismo que o ácido graxo saturado aumenta a produção 
de proteínas inflamatórias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: O ácido graxo saturado pode agir por um receptor chamando de Toll Like Receptor-4 
(TLR-4) e ativar no meio intracelular algumas proteínas como a IKK. Após ser ativada, a 
proteína IKK transloca o NFKB para o núcleo celular (DNA) e assim inicia a formação das 
proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6) e a resistência à Insulina pode aumentar. 
 
 Já o ômega-3 pode atuar também em diversos tecidos do organismo 
(músculo, adiposo, células imunes, neurônios etc), porém por outro receptor 
chamado de GPR120 (OLEFSKY et al. 2012), sendo que a ligação dos ácidos 
graxos ômega-3 ao GRP120 gera a inibição do NFKB e como consequência 
redução na formação de proteínas inflamatórias, como a TNFα e IL-6 (figura 9). 
Reparem que na figura 9 o NFKB não está no núcleo celular, ou seja, 
quando o NFKB é inibido ele fica no citoplasma e assim não gera a produção 
de TNFα e IL-6. As evidências têm mostrado que substituir gordura saturada 
por poli-insaturada (ômega 6 e ômega 3) diminui o risco cardiovascular. As 
diretrizes dos órgãos e organizações de saúde recomendam que a gordura 
saturada não seja superior a 10% do total de calorias da dieta. 
 
 
 
 
 
 
 31 
Figura 9 - Mecanismo que o ômega-3 gera efeitos anti-inflamatórios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: O ômega-3 pode atuar por outro receptor chamado de GPR120, sendo que 
a ligação dos ácidos graxos ômega-3 ao GRP120 gera a inibição do NFKB e como 
consequência redução na formação de proteínas inflamatórias. A diminuição das 
proteínas inflamatórias pode deixar a Insulina mais sensível. 
 
Enquanto existem fortes evidências que um aumento do consumo de 
ômega 3, particularmente dos ácidos docosaexaenoico (DHA) e 
eicosapentaenoico (EPA), confere proteção contra doenças cardiovasculares, 
não existem evidências convincentes de que a redução do consumo de ômega-
6, por si só, faça o mesmo. Pelo contrário, pode até aumentar o risco 
cardiovascular (SBC, 2013). Na verdade, o aumento no consumo de ácidos 
graxos ômega 6 nas últimas décadas tem sido associado a uma redução de até 
50% de morte por doença cardíaca coronariana (WILLETT, 2007). Ensaios 
clínicos randomizados mostraram que a gordura poli-insaturada dos óleos 
vegetais (soja, canola, girassol e milho), substituindo a gordura saturada dos 
laticínios e da carne reduzem as doenças cardiovasculares (SACKS et al. 
2017). 
A gordura monoinsaturada (ômega-9) está presente em uma grande 
variedade de alimentos, de fontes animais e vegetais, mas os alimentos mais 
abundantes em ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) são o azeite de oliva, 
o abacate e as oleaginosas (nozes, castanhas). Os ácidos graxos 
monoinsaturados mostraram importantes benefícios metabólicos em alguns 
 
 32 
estudos, como melhora da sensibilidade à insulina e redução da pressão 
arterial. Além disso, o mais significativo é uma melhora do perfil lipídico quando 
se substitui ácidos graxos saturados por MUFA, com redução dos níveis de 
LDL. Dietas ricas em MUFA, como a dieta do mediterrâneo, podem ainda 
aumentar os níveis de HDL e reduzir os triglicerídeos. Indivíduos com níveis de 
colesterol LDL elevado e alto risco cardiovascular devem reduzir ainda mais a 
ingestão de gorduras saturadas (<7% do total de calorias). 
Portanto, para reduzir a inflamação na obesidade e melhorar a saúde do 
indivíduo é preciso reduzir a ingestão de gordura saturada (carnes gordas, 
embutidos, fast-food etc.) e aumentar a ingestão de gorduras insaturadas 
(azeite, oleaginosas, peixes, abacate, óleos vegetais, chia, linhaça etc.). 
Os ácidos graxos n-6 (presentes principalmente nos óleos vegetais e 
nas oleaginosas) também reduzem a resistência à insulina, provavelmente por 
atuar como um ligante para os receptores-gama ativados por proliferadores de 
peroxissoma, e a ingestão tem sido inversamente relacionada ao risco de 
diabetes tipo 2 (WILLETT, 2007). 
A incorporação de ácido linoleico (ômega-6) em fosfolipídios altera a 
fluidez da membrana e pode modular a atividade do receptor de insulina. Em 
uma meta-análise de 102 ensaios randomizados de alimentação controlada, os 
PUFAs dietéticos (predominantemente ácido linoleico) melhoraram a glicemia, 
a resistência à insulina e a capacidade de secreção de insulina, em 
comparação com carboidratos, gordura saturada e, para alguns desfechos, até 
gordura monoinsaturada (WU et al. 2007). 
 
 
 
 
 
 
 
 33 
CAPÍTULO 3 
 
MICROBIOTA NA OBESIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 34 
3.1 METABOLISMO DA MICROBIOTA INTESTINAL 
Existem cerca de 39 trilhões de células bacterianas no organismo, sendo 
que a maior parte dessas bactérias são encontradas na microbiota intestinal, 
com maior concentração de bactérias no cólon (QIN, 2010). Nos últimos anos a 
microbiota intestinal vem ganhando destaque no meio científico devido a sua 
importância sobre a saúde. A microbiota intestinal pode ser alterada de acordo 
com a qualidade dos alimentos e composição corporal. Por exemplo, na 
obesidade e consumo regular de alimentos industrializados somado a baixa 
ingestão de alimentos in natura (frutas e vegetais) acontece mudança na 
composição das bactérias da microbiota que leva a prejuízos à saúde 
(SONNENBURG, 2016). 
Existem várias doenças na obesidade que a microbiota intestinal pode 
influenciar, como a resistência à insulina, hipertensão arterial e doenças 
cardiovasculares. Por outro lado, se essa pessoa com obesidade muda o estilo 
de vida, adotando um padrão alimentar com alimentos ricos em fibras e 
compostos bioativos (frutas e vegetais) pode mudar a composição da 
microbiota intestinal. Sabemos que as fibras tem uma grande importância sobre 
a saúde intestinal, pois as bactérias da microbiota podem fermentar essas 
fibras e produzir os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC), tais como: 
Acetato, Propionato e Butirato (KOH, 2016). 
Os principais geradores dessas substâncias são grãos integrais e fibras 
alimentares (FLINT, 2012). O aumento de AGCC na corrente sanguínea gera 
efeitos benéficos, pois aumentam a sensibilidade à insulina e promovem 
saciedade no hipotálamo. A saciedade também é influenciada por metabólitos 
derivados das bactérias intestinais, que os origina a partir da fermentação de 
fibras. Os AGCC que são produzidos pela fermentação das fibras podem agir 
estimulando a produção de hormônios que aumentam a saciedade, como o 
GLP-1 e o PYY. Os AGCC também possuem a capacidade de atravessar a 
barreira hematoencefálica, o que possibilita sua chegada ao hipotálamo. A 
maior concentração deacetato no hipotálamo gerou um aumento do 
neurotransmissor Ácido Gama-Aminobutírico (GABA) e de lactato, sendo que 
esses efeitos gerou uma supressão do apetite em roedores (FROST, 2014). 
 
 35 
Firmicutes e Bacteroidetes são os dois filos bacterianos mais 
prevalentes na microbiota intestinal, onde os Firmicutes são classificados como 
Gram-Positivos e Bacteroidetes são Gram-Negativos. Bactérias Gram-
Negativas possuem em sua parede celular o Lipopolissacarídeo (LPS), potente 
ativador do Toll Like Receptor 4 (TLR4), um tipo de receptor expresso em 
diversos tipos de células imunes, como os macrófagos, e responsável aumento 
de inflamação. O reconhecimento do LPS pelo TLR4 ativa uma enorme 
variedade de vias de sinalização celular que induzem a produção e secreção 
de citocinas pró-inflamatórias. A elevação dos níveis circulantes de LPS é 
observada tanto em roedores quanto em humanos obesos em um processo 
denominado Endotoxemia Metabólica. Iremos entender que na obesidade 
acontece um aumento na produção de LPS e uma menor produção de AGCC, 
sendo que esse ambiente tem um impacto negativo sobre a saúde do 
indivíduo. 
 
3.2 MUDANÇAS NA MICROBIOTA INTESTINAL PELA 
DIETA E EXERCÍCIO FÍSICO 
A microbiota intestinal pode ser modulada de acordo com a dieta, 
composição corporal e o nível de atividade física. Por exemplo, indivíduos com 
sobrepeso ou obesidade que mantém regularmente um estilo de vida ruim 
(dieta hipercalórica e inatividade física) possuem alterações na composição da 
microbiota que fazem as bactérias intestinais produzirem mais LPS e menos 
ácidos graxos de cadeia curta (acetato, o propionato e o butirato). O LPS é 
uma endotoxina que estimula o aumento na produção de proteínas 
inflamatórias (TNFα e IL-6). O LPS sai do intestino e pode agir em outras 
células, como tecido adiposo, músculo, vasos sanguíneos entre outras por 
meio do receptor TLR-4 (toll like receptor-4). 
A ligação da LPS ao TLR-4 ativa uma proteína intracelular chamada de 
IKK que na sequência ativa o fator de transcrição NFKB, ou seja, LPS promove 
a translocação de NFKB para o núcleo celular e na fita de DNA causa o 
aumento na produção das proteínas inflamatórias (figura 3). Esse aumento da 
inflamação gera resistência à insulina e outras doenças na obesidade 
(GÉRARD, 2016). Já os ácidos graxos de cadeia curta geram um efeito 
 
 36 
contrário da LPS, eles estimulam proteínas anti-inflamatórias (IL-10) e 
aumentam a sensibilidade à insulina. A figura 3 mostra os fatores que fazem a 
microbiota produzir mais LPS e sua ação sobre a ativação de NFKB para 
aumentar a inflamação e resistência à insulina. 
 
Figura 1 – Produção de LPS e sua ação inflamatória via TLR-4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: A obesidade, inatividade física, dieta pobre em fibras e compostos bioativos e rica em 
gordura saturada causa alterações na microbiota para produzir mais LPS. A ligação da LPS ao 
TLR-4 ativa uma proteína intracelular chamada de IKK que na sequência ativa o fator de 
transcrição NFKB, ou seja, LPS promove a translocação de NFKB para o núcleo celular e na 
fita de DNA causa o aumento na produção das proteínas inflamatórias e resistência à insulina. 
 
Por outro lado, indivíduos que não são obesos, possuem um consumo 
regular de frutas, vegetais, grãos integrais e praticam exercício físico podem ter 
uma microbiota que produz menos LPS e mais ácidos graxos de cadeia curta. 
Essa condição (menos LPS e mais ácidos graxos de cadeia curta) gera um 
ambiente mais anti-inflamatório e aumenta a sensibilidade à insulina (ALLEN et 
al. 2018). As fibras têm um papel importante na melhora da saúde intestinal e 
também na saciedade. Ao entrar no intestino as fibras sofrem fermentação 
pelas bactérias causando um aumento na produção de ácidos graxos de 
cadeia curta. Os ácidos graxos de cadeia curta além de gerar efeitos anti-
 
 37 
inflamatórios também vão até o hipotálamo e estimula a sensação e saciedade 
(FROST et al. 2014). Diante disso, a maior sensação de saciedade em 
refeições ricas em fibras pode ser explicada pelo atraso no esvaziamento 
gástrico, mas também pelo aumento de ácidos graxos de cadeia curta. Não 
podemos esquecer que os compostos bioativos presentes nas frutas, vegetais 
e especiarias também podem estimular a produção de ácidos graxos de cadeia 
curta. 
Foi observado que atletas e praticantes de treinamento físico possuem 
uma maior produção de ácidos graxos de cadeia curta e uma menor produção 
de LPS (HUGHES et al. 2021). Essas diferenças mostram que o exercício 
físico parece modular a composição da microbiota, evidenciando a importância 
do exercício físico em conjunto com uma dieta saudável para promover 
alterações benéficas na composição da microbiota. 
 
3.3 PREBIÓTICOS NO MANEJO DA OBESIDADE 
Carboidratos constituem uma essencial fonte de substrato energético 
para a microbiota intestinal, com seus metabólitos, os ácidos graxos de cadeia 
curta exercendo importante influência no metabolismo do hospedeiro, como já 
mencionado anteriormente. 
A redução do consumo de fibras observada nas dietas ocidentais é 
associada com uma redução na riqueza da diversidade dos micro-organismos 
intestinais e ao aparecimento de desordens metabólicas. O aumento no 
consumo de fibras leva a uma melhora do metabolismo da glicose pós-prandial 
em resposta às refeições contendo cereais integrais, sendo associada com um 
aumento na abundância do gênero Prevotella (MOYA-PEREZ, 2015) e a uma 
elevação da razão entre Prevotella e Bacteroides, os dois principais gêneros do 
filo Bacteroidetes. Durante uma dieta rica em fibras, bactérias do gênero 
Prevotella parecem interagir positivamente com espécies dos filos 
Actinobacteria e Firmicutes para formar um grande nicho de bactérias 
envolvidas na fermentação de carboidratos. Este nicho contribui para uma 
melhora do metabolismo da glicose através de um aumento dos estoques de 
hepáticos de glicogênio. 
 
 38 
A administração de oligossacarídeos fermentáveis (fruto-
oligossacarídeos) em ratos obesos regula o apetite, reduz a obesidade e 
perturbações metabólicas associadas. Esses aprimoramentos são associados 
com um aumento de 100 vezes na abundância de Akkermansia muciniphila, 
bem como um aumento no crescimento de Bifidobacterias e Lactobacillus. 
Dietas ricas em fibras também exercem influência na interação entre bactérias 
e a mucosa intestinal, contribuindo diretamente para a primeira linha de defesa 
contra a invasão de patógenos, ajudando assim a evitar a translocação do LPS 
e consequente agravo da inflamação. Essas evidências sugerem que em 
adição a alterações na dieta, uma conduta que contribua para proliferação de 
espécies bacterianas inicialmente perdidas como consequência das dietas 
ocidentais pode se fazer necessária como forma de prevenção ao 
aparecimento e agravo de desordens metabólicas. 
 
3.4 PROBIÓTICOS NO MANEJO DA MICROBIOTA NA 
OBESIDADE 
Probióticos são bactérias vivas, usualmente presentes em alimentos 
fermentados, que ao serem ingeridas conferem benefícios ao hospedeiro. Essa 
classificação é importante para deixar claro que para uma bactéria ser 
chamada de probiótica ela deve ser necessariamente ingerida. Sendo assim, a 
correta nomenclatura para as bactérias benéficas que já habitam em nosso 
trato gastrointestinal é a de “simbióticas”. Normalmente estes probióticos são 
compostos majoritariamente por bactérias Gram Positivas pertencentes ao 
gênero de Lactobacillus ou Bifidobactérias. 
O mecanismo de ação dos probióticos depende da cepa utilizada. Os 
efeitos anti-obesidade incluem redução da endotoxemia metabólica, melhora 
da disfunção endotelial e limitação da disponibilidade de ácidos graxos livres ao 
hospedeiro. Essa vasta gama de efeitos é mediada por mecanismos como 
maior adesão de bactérias benéficas que limitam a proliferação de bactérias 
deletérias através da liberação de moléculasantibacterianas denominadas 
bacteriocinas e do fortalecimento / espessamento da camada de muco. 
Em adição às já bem conhecidas espécies de Lactobacillus e 
Bifidobactérias, a bactéria Akkermansia Muciniphila vem ganhando bastante 
 
 39 
atenção ao demonstrarem que a sua abundância é inversamente relacionada 
com a obesidade e a resistência à insulina, e sua proliferação é um dos 
principais efeitos do tratamento medicamentoso com metformina. Sendo assim, 
a suplementação com probióticos parece ser uma conduta recomendável para 
o aprimoramento de parâmetros clínicos relacionados à obesidade e à 
resistência à insulina. 
 
3.5 IOGURTE NO MANEJO DA MICROBIOTA NA 
OBESIDADE 
O iogurte natural é um alimento que vem ganhando destaque devido aos 
seus benefícios na saúde. Estudos vêm demonstrando que o iogurte ajuda na 
perda de peso, melhora a glicemia e perfil lipídico na obesidade. Agora vamos 
entender um pouco mais sobre como o iogurte é um alimento muito 
interessante na obesidade. No intestino, a lactose do iogurte pode ser 
convertida em galactose e glicose por ação da enzima lactase. 
As bactérias que estão no iogurte faz uma conversão de lactose em 
ácido lático que na sequência produz ácidos graxos de cadeia curta. 
Lembrando que aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta gera 
saciedade e benefícios para a saúde, como a melhora da sensibilidade à 
insulina (PANAHI et al. 2016). Devido à presença da bactéria, o iogurte acaba 
sendo mais tolerado em pessoas com intolerância à lactose do que o leite, pois 
a bactéria do iogurte converte a lactose em ácido lático. A figura 3 mostra a 
ação das bactérias do iogurte no intestino. Uma forma de aumentar o conteúdo 
de fibras é combinar o iogurte com frutas, aveia ou psyllium ou chia ou linhaça. 
Com relação a dose de proteínas, 1 pote de iogurte tem em média 7g de 
proteínas. Uma maneira de aumentar a dose de proteínas é combinar o iogurte 
com whey protein ou leite em pó, inclusive para muitas pessoas essa 
combinação fica mais saborosa. 
 
 
 
 
 
 
 40 
Figura 3 – Ação das bactérias do iogurte no intestino 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: As bactérias que estão no iogurte faz uma conversão de lactose em ácido lático que 
na sequência produz ácidos graxos de cadeia curta. Lembrando que aumentar a produção de 
ácidos graxos de cadeia curta gera saciedade e benefícios para a saúde, como a melhora da 
sensibilidade à insulina 
 
3.6 FIBRAS NO MANEJO DA MICROBIOTA NA 
OBESIDADE 
Fibras alimentares são carboidratos do tipo polissacarídeo não amido, 
carboidratos não digeríveis. Os polissacarídeos não amido estão presentes em 
diversos alimentos, principalmente em frutas, vegetais, leguminosas (feijão), 
oleaginosas (linhaça) e grãos integrais. Além dos polissacarídeos não amido 
(celulose, hemicelulose, gomas, mucilagens e pectinas), os fruto-
oligossacarídeos e o amido resistente também fazem parte do grupo das fibras 
alimentares. Esses carboidratos não sofrem ação da enzima amilase porque 
suas moléculas de glicose estão unidas por ligações glicosídicas do tipo beta 1-
4. Apesar de não serem digeridas e absorvidas pelo intestino delgado, as fibras 
alimentares apresentam efeitos fisiológicos importantes para a saúde do nosso 
organismo. 
As fibras diminuem o trânsito intestinal, aumentam o volume do bolo 
fecal, podem ser fermentadas pela flora bacteriana e também podem reduzir os 
níveis de colesterol, glicose e insulina. Além de todos esses benefícios para a 
saúde, reduzindo o risco de doenças crônicas não transmissíveis (obesidade, 
diabetes, câncer, doenças cardiovasculares etc), as fibras alimentares também 
ajudam no aumento da saciedade e isso pode fazer muita diferença durante 
uma dieta para perda de peso. Diversos estudos clínicos e observacionais têm 
 
 41 
mostrado que um maior consumo de fibras está inversamente associado ao 
ganho de peso. 
O suporte epidemiológico de que a ingestão de fibras alimentares 
previne a obesidade é forte. A ingestão de fibras está inversamente associada 
ao peso corporal e gordura corporal. Além disso, a ingestão de fibras está 
inversamente associada ao índice de massa corporal (IMC) em todos os níveis 
de ingestão de gordura após o ajuste para fatores de confusão. Os resultados 
dos estudos de intervenção são mais variados, embora a adição de fibra 
alimentar geralmente diminua a ingestão de alimentos e, portanto, o peso 
corporal. Muitos mecanismos foram sugeridos sobre como a fibra alimentar 
ajuda no controle do peso, incluindo a promoção da saciedade, a diminuição da 
absorção de macronutrientes e a alteração da secreção de hormônios 
intestinais (SLAVIN, 2005). 
 
A tabela abaixo mostra uma relação de alimentos ricos em fibras. 
 
Alimento Porção (g) Kcal Fibras (g) 
Arroz Integral 100 124 2,7 
Macarrão Integral 100 123 2,8 
Batata Doce 100 77 2,2 
Pão Integral 50 122 3,3 
Aveia 30 104 2,9 
Inhame 100 116 3,9 
Feijão 100 76 8,5 
Ervilha 100 74 5,1 
Abacate 100 96 6,3 
Banana 100 92 1,9 
Maçã 100 56 1,3 
Morango 100 30 1,7 
Brócolis Cozido 100 25 3,4 
Tomate 100 15 1,2 
Cenoura crua 100 34 3,2 
Beterraba 100 32 1,9 
 
 42 
Alface Crespa 100 11 1,8 
Amendoim torrado 20 121 1,6 
Amêndoas 20 116 2,3 
Linhaça 15 75 4,2 
Chia 15 80 5,3 
Fibra de trigo 10 15 4,5 
Psyllium 10 32 8,0 
Farinha de Maracujá 15 35 7,5 
 
As recomendações para o consumo de fibras alimentares são de 25 a 35 
g por dia (ou 14 g a cada 1000 kcal, segundo o Instituto de Medicina, IOM), 
mas boa parte da população consome muito menos que isso, devido ao baixo 
consumo de frutas, vegetais, leguminosas e grãos integrais, e aumento do 
consumo de carboidratos refinados (baixo teor de fibras) e gorduras. As fibras 
costumam ser classificadas em solúveis (formam géis, aumentando a retenção 
de água) e insolúveis, mas essa divisão deixou de ser usada por não ser 
preditiva de efeitos benéficos das fibras. Além disso as fibras podem ser 
classificadas por outras características mais importantes, como viscosidade e 
fermentabilidade. 
Os benefícios das fibras sobre a saúde podem variar de acordo com as 
características das fibras presentes em cada alimento. Os efeitos sobre a 
saciedade e perda de peso têm sido demonstrados em vários estudos. Embora 
as recomendações de fibras alimentares para a população fiquem em torno de 
25-30 g por dia, é muito provável que quantidades maiores apresentem 
maiores benefícios para a saúde e perda de peso. Nossos antepassados da 
era paleolítica chegavam a consumir mais de 70 g de fibras por dia, então o 
maior consumo não parece trazer malefícios à saúde e parece ser uma ótima 
estratégia para ajudar na perda de peso e na manutenção da perda de peso. 
Vamos entender agora como as fibras são importantes para a microbiota 
e perda de peso na obesidade. Quando o indivíduo consome regularmente as 
fibras acontece uma mudança na composição da microbiota, as bactérias 
fermentam as fibras e produzem os ácidos graxos de cadeia curta. Isso 
significa que aumentar a ingestão de fibras na dieta potencializa a produção 
dos ácidos graxos de cadeia curta. Essas moléculas podem ir diretamente no 
 
 43 
hipotálamo estimular a saciedade, mas também fazem o intestino produzir mais 
GLP-1, um hormônio que aumenta a saciedade. 
Por isso, é muito comum observar uma saciedade maior após uma 
refeição rica em fibras. Além disso, o consumo regular de fibras faz a 
microbiota produzir menos LPS. Vejam, uma pessoa com obesidade tem alta 
produção de LPS e baixa produção de ácidos graxos de cadeia curta, sendo 
que a melhora no consumo de fibras vai inverter esse quadro, ou seja, menos 
LPS e mais ácidos graxos de cadeia curta. Claro, esses efeitos vão ajudar 
muito na melhora da sensibilidade à insulina e perfil lipídico. 
A figura 4 demonstra o mecanismo que a ingestão regular de fibras 
aumenta a saciedade. 
 
Figura 4 – Ação das fibras no intestinopara estimular a saciedade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: Quando o indivíduo consome regularmente as fibras acontece uma mudança na 
composição da microbiota, as bactérias fermentam as fibras e produzem os ácidos graxos de 
cadeia curta. Essas moléculas podem ir diretamente no hipotálamo estimular a saciedade, mas 
também fazem o intestino produzir mais GLP-1, um hormônio que aumenta a saciedade. 
 
 
 
 44 
CAPÍTULO 4 
 
APETITE NA OBESIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 45 
4.1 CONTROLE DO APETITE PELO HIPOTÁLAMO 
O hipotálamo é um órgão que além de produzir hormônios controla a 
fome e à saciedade. É no hipotálamo que a sensação de fome acontece 
durante o jejum, bem como a saciedade após a ingestão alimentar. O aumento 
da sensação de fome ou saciedade acontece por ativação de certo tipo de 
neurônio no hipotálamo, sendo que esse processo é controlado por alguns 
hormônios (AUSTIN et al. 2008). 
Os neurônios orexígenos NPY/AgRP aumentam a sensação de fome. 
Isso significa que a ativação destes neurônios faz o indivíduo sentir mais fome 
(jejum). Por outro lado, os neurônios anorexígenos POMC/ CART aumentam a 
sensação de saciedade, ou seja, a ativação destes neurônios faz o indivíduo 
sentir saciedade (pós-prandial). Há alguns fatores que controlam o apetite, 
dentre eles o fator hormonal, sendo que existem hormônios que são secretados 
por estímulo da ingestão alimentar e outros que são produzidos durante o 
jejum. Por exemplo, quando o estômago está vazio as células gástricas produz 
o hormônio grelina, no qual age no hipotálamo estimulando a sensação de 
fome. 
Existem diversos hormônios produzidos pelo intestino, como a 
colecistoquinina, que é produzida quando chega alimento no duodeno e 
estimula a sensação de saciedade no hipotálamo. O peptídeo YY (PYY) e o 
peptídeo semelhante a glucagon 1 (GLP-1) também são secretados pelo 
intestino após a ingestão alimentar e aumentam a sensação de saciedade no 
hipotálamo. A insulina também é produzida após a ingestão alimentar e age 
juntamente com CCK, GLP-1 e PYY estimulando a saciedade (WREN et al. 
2007). 
Por fim, existe um hormônio chamado de leptina que é produzido pelo 
tecido adiposo e gera saciedade no hipotálamo. A leptina é produzida 
proporcionalmente a quantidade de tecido adiposo, ou seja, se um indivíduo 
tem mais gordura corporal produz mais leptina e se o indivíduo é eutrófico 
produz menos leptina (KLOK et al. 2007). Nós iremos entender com mais 
detalhes como esses hormônios atuam durante o jejum para estimular a fome e 
no período pós-prandial para gerar a saciedade. 
 
 
 46 
4.2 FISIOLOGIA DA FOME 
No período de jejum a sensação de fome aumenta, indicando que os 
neurônios orexígenos NPY/AgRP foram ativados, pois por meio da ativação 
destes neurônios no hipotálamo a sensação de fome acontece. O principal 
hormônio que estimula a fome, ou seja, ativa os neurônios NPY/AgRP é a 
grelina. A grelina foi conhecida originalmente por ser um hormônio responsável 
pela liberação de GH, mas logo depois descobriu-se que também era um 
poderoso hormônio estimulante do apetite, exibindo maiores concentrações 
nos períodos próximos às refeições. A grelina é produzida pelas células 
gástricas, especificamente quando o estômago está vazio. Isso significa que se 
o estômago está vazio a grelina é produzida para estimular a fome, e fazer o 
indivíduo se alimentar com a finalidade de fornecer mais substratos energéticos 
para o organismo. Por outro lado, quando o estômago está cheio a produção 
de grelina pelas células gástricas diminui. Percebam que a produção da grelina 
é dependente do conteúdo gástrico. 
O mecanismo que a grelina estimula a fome no hipotálamo vem sendo 
estudado. Após a produção (estômago vazio) a grelina cai na corrente 
sanguínea e vai até o hipotálamo, no qual se liga em seu receptor nas células 
hipotalâmicas. A ligação da grelina ao seu receptor na membrana plasmática 
ativa no meio intracelular uma proteína chamada de Proteína Quinase Ativada 
por AMP (AMPK) que posteriormente ativa os neurônios NPY/AgRP, 
aumentando a sensação de fome no hipotálamo. De maneira sinérgica a 
ativação de AMPK no hipotálamo via grelina também ativa e transloca um fator 
de transcrição chamado de FOXO para o núcleo celular que ao se ligar na fita 
de DNA promove a transcrição de genes relacionados aos neurônios 
NPY/AgRP (ANDREWS et al. 2011). 
A figura 1 demonstra os possíveis mecanismos que a grelina estimula a 
sensação de fome no hipotálamo. 
 
 
 
 
 
 
 47 
 
Figura 1 – Ação da grelina no hipotálamo para estimular a fome 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Legenda: A ligação da grelina ao seu receptor na membrana plasmática ativa no meio 
intracelular uma proteína chamada de Proteína Quinase Ativada por AMP (AMPK) que 
posteriormente ativa os neurônios NPY/AgRP, aumentando a sensação de fome no 
hipotálamo. De maneira sinérgica a ativação de AMPK no hipotálamo via grelina também ativa 
e transloca um fator de transcrição chamado de FOXO para o núcleo celular que ao se ligar na 
fita de DNA promove a transcrição de genes relacionados aos neurônios NPY/AgRP. 
 
O aumento da fome durante o jejum é explicado em partes pelo fato da 
maior concentração de grelina no sangue, porém é importante lembrar que na 
condição de jejum, a concentração de insulina é menor e ao mesmo tempo o 
intestino produz menos CCK, PYY e GLP-1, indicando que durante o jejum a 
concentração sanguínea é baixa de hormônios que estimulam a saciedade. 
 
4.3 FISIOLOGIA DA SACIEDADE 
Após a ingestão alimentar a sensação de saciedade aumenta, indicando 
que os neurônios anorexígenos POMC/CART foram ativados e ao mesmo 
tempo houve inibição dos neurônios NPY/AgRP. Existem alguns hormônios 
que estimulam a saciedade, como a insulina, CCK, PYY e GLP-1, sendo que 
todos eles são secretados por estímulo da ingestão alimentar. Além disso, a 
leptina produzida pelo tecido adiposo também gera saciedade (AUSTIN et al. 
 
 48 
2008), porém o detalhamento dos seus efeitos será abordado nos próximos 
tópicos. 
A insulina é produzida no pâncreas em resposta ao aumento da glicemia 
e de aminoácidos no sangue, no qual cai na corrente sanguínea e pode ir até o 
hipotálamo para aumentar a saciedade. O mecanismo que a insulina promove 
a saciedade no hipotálamo está relacionado a inibição dos neurônios que 
aumenta a fome (NPY/AgRP). Primeiro a insulina se liga em seu receptor na 
membrana plasmática da célula do hipotálamo. Essa ligação ativa no meio 
intracelular o IRS-1 que posteriormente ativa as proteínas chamadas de PI3 
quinase e AKT. Quando AKT é ativada o fator de transcrição FOXO sai do 
núcleo e vai até o citoplasma, ou seja, a insulina promove a saída do FOXO da 
fita de DNA, pois isso diminui a ativação dos neurônios que geram fome 
(NPY/AgRP). Ao mesmo tempo, quando a insulina liga no receptor ocorre 
inibição da AMPK, bloqueando os neurônios NPY/AgRP. 
Observem que a insulina atua bloqueando os neurônios de fome, e isso 
contribui para a sensação de saciedade que acontece no período pós-prandial 
(YU et al. 2009). Após a ingestão alimentar o intestino produz CCK, PYY e 
GLP-1. O mecanismo que explica o motivo que a alimentação estimula esses 
hormônios estão relacionados ao fato da passagem do alimento do estômago 
para o duodeno (intestino). Quando o alimento chega ao intestino ocorre 
distensão mecânica da parede intestinal e ao mesmo tempo ocorre uma queda 
do pH no duodeno (acidose), pois o suco gástrico acaba passando do 
estômago para o intestino. A distensão da parede intestinal e a queda do pH 
são os principais estímulos para o intestino produzir CCK, PYY e GLP-1. 
Percebam que a distensão da parede intestinal e a queda do pH só 
acontece quando há a ingestão alimentar, sendo que os três hormônios vão 
para a corrente sanguínea e agem no hipotálamo

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