Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESI DAD E SÍN DRO M MET ABÓ OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA DUDU HALUCH MARCELO CONRADO 2 Copyright © 2023 por Carlos Eduardo Ferreira Haluch (Dudu Haluch) e Marcelo Conrado de Freitas Texto e edição Dudu Haluch e Marcelo Conrado Colaborador Michael Alexandre Capa Thaís Essu Site: www.duduhaluch.com.br E-commerce: www.livrosduduhaluch.com.br instagram.com/duduhaluch instagram.com/dr.marceloconrado 3 Sumário CAPÍTULO 1: OBESIDADE: ESTILO DE VIDA E GENÉTICA .............................................................. 7 1.1 Estilo de vida: Impacto sobre o ganho de peso ...................................................................... 8 1.2 Set point e hipótese do gene econômico ............................................................................. 11 1.3 Genética na obesidade emagrecimento ............................................................................... 14 CAPÍTULO 2: INFLAMAÇÃO NA OBESIDADE .............................................................................. 19 2.1 Ganho de peso e inflamação ................................................................................................. 20 2.2 Tecido adiposo com um órgão endócrino ............................................................................. 25 2.3 Inflamação gera inflamação .................................................................................................. 27 2.4 Ingestão de gordura e inflamação......................................................................................... 29 CAPÍTULO 3: MICROBIOTA NA OBESIDADE ............................................................................... 33 3.1 Metabolismo da microbiota intestinal .................................................................................. 34 3.2 Mudanças na microbiota intestinal pela dieta e exercício físico .......................................... 35 3.3 Prebióticos no manejo da microbiota na obesidade ............................................................ 37 3.4 Probióticos no manejo da microbiota na obesidade ............................................................ 38 3.5 Iogurte no manejo da microbiota na obesidade ................................................................... 39 3.6 fibras no manejo da microbiota na obesidade ..................................................................... 40 CAPÍTULO 4: APETITE NA OBESIDADE ........................................................................................ 44 4.1 Controle do apetite pelo hipotálamo .................................................................................... 45 4.2 Fisiologia da fome ................................................................................................................. 46 4.3 Fisiologia da saciedade .......................................................................................................... 47 4.4 Resistência à leptina e insulina na obesidade ....................................................................... 49 4.5 Sistema de recompensa e apetite na obesidade .................................................................. 52 4.6 Alterações no apetite com o emagrecimento ....................................................................... 56 4.7 Dieta hiperproteica, saciedade e emagrecimento ................................................................ 59 CAPÍTULO 5: ESTRESSE OXIDATIVO NA OBESIDADE.................................................................. 62 5.1 Sistema antioxidante ............................................................................................................. 63 5.2 Estresse oxidativo na obesidade ........................................................................................... 64 5.3 Classes dos alimentos funcionas ........................................................................................... 65 5.4 Alimentos funcionais e efeito antioxidante ......................................................................... 66 5.5 Exercício físico e efeito antioxidante .................................................................................... 68 5.6 Alimentos funcionais e efeito anti-inflamatório .................................................................. 70 4 5.7 Vegetais e emagrecimento.................................................................................................... 71 5.8 Frutas e emagrecimento ....................................................................................................... 73 CAPÍTULO 6: RESISTÊNCIA À INSULINA NA OBESIDADE ............................................................ 75 6.1 Estímulo da insulina e captação de glicose .......................................................................... 76 6.2 Inflamação e resistência à insulina ....................................................................................... 78 6.3 Estresse oxidativo e resistência à insulina ............................................................................ 80 6.4 Microbiota e resistência à insulina ........................................................................................ 82 6.5 Gordura saturada e resistência à insulina ............................................................................. 83 6.6 Disfunção mitocondrial e resistência à insulina .................................................................... 85 6.7 Sensibilidade à insulina e emagrecimento ........................................................................... 86 CAPÍTULO 7: HIPERTENSÃO ARTERIAL NA OBESIDADE ............................................................. 90 7.1 Volume plasmático e controle da pressão arterial ............................................................... 91 7.2 Obesidade e sistema renina angiotensina aldosterona ....................................................... 92 7.3 Resistência vascular periférica e controle da pressão arterial .............................................. 95 7.4 Disfunção endotelial e hipertensão arterial .......................................................................... 97 CAPÍTULO 8: DISLIPIDEMIA E ATEROSCLEROSE NA OBESIDADE ............................................. 101 8.1 Perfil lipídico ........................................................................................................................ 102 8.2 Colesterol e lipoproteínas ................................................................................................... 103 8.3 Fisiopatologia da aterosclerose ........................................................................................... 106 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 110 5 SOBRE OS AUTORES Marcelo Conrado de Freitas é formado em Educação Física, Mestre em Fisioterapia (UNESP) e Doutor em Ciências da Motricidade (UNESP). Professor de pós- graduação. Autor de oito e-books nas áreas de nutrição, emagrecimento, hipertrofia e fisiologia do exercício. Dudu Haluch é nutricionista, bacharel em física, mestre em física pela USP. Autor dos livros Hormônios no Fisiculturismo (2017), Nutrição no Fisiculturismo (2018) e Emagrecimento e Metabolismo (2021). Grande experiência preparando atletas de fisiculturismo. Professor de diversos cursos de pós-graduação, lecionando disciplinas relacionadas à nutrição esportiva, fisiculturismo, obesidade, bioquímica e fisiologia. Coordenador de cursos de pós-graduação da UNIGUAÇU. 6 PREFÁCIO Este e-book é fruto de mais uma parceria de sucesso com o professor Marcelo Conrado. Nele exploramos os principais aspectos fisiológicos e fisiopatológicos da obesidade e da síndrome metabólica,além do importante papel da inflamação e da resistência à insulina. Embora o foco principal desse material seja a fisiologia e fisiopatologia da obesidade, e das comorbidades associadas (hipertensão arterial, diabetes melittus tipo 2, aterosclerose), em alguns capítulos procuramos explorar possíveis estratégias de tratamento, principalmente com foco em estratégias nutricionais. Além disso, este e-book aborda outros tópicos importantes relacionados à obesidade e síndrome metabólica, como o papel do estresse oxidativo na obesidade, a relação entre microbiota e obesidade, e os mecanismos fisiológicos de controle do apetite. Abraços, Dudu Haluch 7 CAPÍTULO 1 OBESIDADE: ESTILO DE VIDA E GENÉTICA 8 1.1 ESTILO DE VIDA: IMPACTO SOBRE O GANHO DE PESO A obesidade é uma doença multifatorial, decorrente principalmente de interações entre fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Durante milhares de anos a obesidade não foi um problema para a população, mas nas últimas décadas ela tem se tornado uma epidemia mundial e, com ela, muitas doenças crônicas (diabetes, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, câncer) têm se tornado comum entre a população. Como um século é um período muito curto para alterações no nosso genótipo (composição genética de um indivíduo), os principais fatores que têm levado a população mundial a ganhar peso nas últimas décadas são ambientais e comportamentais. No entanto, enquanto alguns indivíduos ganham muito peso e se tornam obesos, outros continuam se mantendo magros. Nas últimas décadas a população tem ingerido cada vez mais calorias e diminuído o gasto energético de atividade física (GAF), ou seja, houve um aumento da ingestão energética e do sedentarismo, o que coloca muitos indivíduos em uma situação de balanço energético positivo (ingestão calórica > gasto energético). Os fatores genéticos podem explicar porque parte da população ganha peso quando exposta a um ambiente obsogênico (com muitos alimentos palatáveis disponíveis facilmente), enquanto uma grande parcela mantém o peso estável. Existem indivíduos que possuem predisposição genética para ganhar peso/gordura, por possuírem maior expressão de genes relacionados a menor saciedade ou também menor gasto energético, ou também maior expressão de genes que favorecem o ganho de gordura (menor capacidade de oxidação de gordura e maior estímulo da lipogênese). Em outras palavras, existem pessoas que acumulam gordura com maior facilidade, pois o seu metabolismo favorece esse efeito. Durante milhares de anos vivemos (nossa espécie Homo sapiens) em um ambiente onde a comida era escassa e as pessoas gastavam bastante energia através da atividade física. Esse ambiente pré-histórico pode ter favorecido a expressão de genes que favorecem o armazenamento de energia, principalmente na forma de gordura (hipótese do gene econômico). Com a revolução industrial nos últimos séculos e o desenvolvimento da ciência e da 9 tecnologia, a escassez de alimentos deixou de ser um problema. A tecnologia também mudou o perfil de trabalho e do lazer da população, diminuindo o GAF. Desde o início dos anos 80 a população está comendo mais calorias, cerca de 250 a 300 kcal a mais por dia em média. Obviamente tem gente que não engorda, tem gente que engorda pouco, assim como tem os obesos que ganham muita gordura, justamente porque estão com um superávit calórico muito maior que 300 kcal. Existe uma forte crença de que a população está engordando por comer mais carboidratos, que são potentes estimuladores da insulina. No entanto, estamos comendo não apenas mais carboidratos, mas também mais gorduras e proteínas. O problema é o que todo mundo já deveria saber, comemos mais alimentos ultra processados, ricos em gordura, açúcar, sal e aditivos químicos de sabor. As indústrias de alimentos investem pesado para tornar esses alimentos mais saborosos e mais baratos porque a concorrência é alta entre elas. Hoje em dia é muito mais fácil comer fora de casa e pagar barato, mas, consequentemente, comemos menos alimentos saudáveis, como vegetais, frutas, leguminosas e grãos integrais. Em um ambiente obsogênico como esse, é muito difícil para um indivíduo com predisposição genética evitar o ganho de peso. Existem muitos indivíduos magros que se alimentam tão mal quanto indivíduos obesos, por isso a genética também é um fator determinante no ganho de peso e gordura. Os indivíduos que ganham muita gordura com facilidade normalmente possuem menor sensibilidade à insulina e maior eficiência metabólica (maior facilidade em armazenar energia), o que favorece o armazenamento de gordura. Ninguém ganha gordura só porque ingere açúcar, refrigerante, gorduras etc; ganhamos peso quando simplesmente ingerimos mais calorias do que gastamos, e nesse sentido os alimentos ricos em carboidratos refinados e gorduras tendem a contribuir mais para gerar um superávit calórico. Eles apresentam alta densidade energética, são pobres em micronutrientes e fibras, e dificultam o controle da saciedade. Além dos alimentos ultraprocessados (industrializados) prejudicarem o controle da saciedade, eles possuem maior densidade energética, o que favorece o ganho de peso no longo prazo. Um estudo comparou a oferta a vontade de alimentos ultraprocessados versus alimentos não processados sobre a ingestão calórica e ganho de peso. Os resultados mostraram que 10 houve uma maior ingestão calórica e ganho de peso na condição da dieta rica em ultraprocessados (figura 1). Esses resultados podem ser explicados devido ao fato que os alimentos industrializados são mais palatáveis (saborosos), favorecendo o consumo em maior quantidade. Além disso, esses alimentos são de alta densidade calórica, facilitando o aumento das calorias na dieta. Isso significa que limitar o consumo de alimentos ultraprocessados é uma medida eficaz na prevenção e tratamento da obesidade (HALL et al. 2018). Figura 1 – Alimentos ultraprocessados e ganho de peso Legenda: Observem que poucos dieta de dieta com alimentos ultraprocessados gerou um aumento na ingestão calórica e ganho de peso (linha azul) em comparação a dieta com alimentos in natura (linha vermelha). Adaptado de Hall el al. 2018. 11 Doces e carboidratos refinados (pão branco, massas, arroz branco etc.), normalmente são alimentos de alto índice glicêmico (IG). Esses alimentos são absorvidos mais rapidamente e têm um impacto maior nos níveis de glicose e insulina. Com o consumo de carboidratos refinados, as concentrações de glicose e insulina sobem rapidamente e também caem mais rapidamente quando comparados aos alimentos de baixo índice glicêmico (batata doce, aveia, grãos integrais, leguminosas). A insulina se eleva rapidamente para aumentar a captação de glicose na corrente sanguínea, além de aumentar a lipogênese (síntese de gordura) e inibir a lipólise (quebra da gordura) e a oxidação de ácidos graxos (queima de gordura). Isso aumenta a oxidação de carboidratos e reduz a oxidação das gorduras, e faz com que os níveis de glicose reduzam mais rapidamente, podendo causar uma “hipoglicemia reativa”. Nessa situação, os níveis de cortisol e adrenalina se elevam, aumentando a gliconeogênese no período pós-prandial, o que favorece a degradação das proteínas musculares e o uso dos seus aminoácidos para síntese de glicose. A fome também aumenta mais rapidamente em comparação ao consumo de alimentos de baixo IG, pois o cérebro detecta que os níveis de combustíveis energéticos disponíveis no sangue estão baixos. Alimentos de alto IG e alta carga glicêmica (CG) tendem a promover excesso de alimentação, enquanto alimentos de baixo IG mantém as concentrações de glicose e insulina mais estáveis por um tempo maior e também promovem maior saciedade.1.2 SET POINT E A HIPÓTESE DO GENE ECONÔMICO A teoria do set point (ponto de ajuste) estabelece que o peso corporal de todo indivíduo é predeterminado, mantendo-se estável mesmo com variações diárias no consumo de calorias e no gasto energético. Segundo essa teoria, o nosso organismo tem mecanismos de feedback que controlam os estoques de energia (gordura), mantendo esse estoque constante a maior parte do tempo. Como vimos, a leptina é um hormônio que controla a ingestão energética e o gasto energético, e é produzida justamente pela maior reserva de energia do organismo, o tecido adiposo. No entanto, a leptina não é o único hormônio que controla o peso corporal através da sua ação no hipotálamo. Vários outros 12 hormônios atuam no hipotálamo fazendo feedback para controle do peso corporal quando ocorrem mudanças na ingestão energética e no gasto energético. Apesar do peso corporal se manter estável a maior parte do tempo da vida de um indivíduo, a recente epidemia de obesidade deixa claro que esse ponto de ajuste pode ser modificado quando ocorrem aumentos no consumo de energia, assim sendo um ponto de ajuste flexível e não fixo como se pensava. Além disso, é muito mais difícil perder peso / gordura e manter o peso corporal baixo, mostrando que mudanças no set point são assimétricas, sendo mais eficiente para o organismo evitar perda de peso do que evitar o ganho de peso. Essa maior facilidade do organismo em acumular energia como gordura e a dificuldade de manter o peso corporal baixo estão relacionadas a outra teoria, a hipótese do “gene econômico”. Segundo essa hipótese, nossos genes foram programados por milhares de anos de evolução para facilitar o armazenamento de energia. Nossos ancestrais passavam por momentos de escassez de energia frequente (fome), e os indivíduos que tinham mais chance de sobreviver eram aqueles com um genótipo que favorecesse uma maior reserva de energia (gordura). Ou seja, indivíduos que oxidam menos gordura e ganham gordura com mais facilidade são favorecidos biologicamente por possuírem um conjunto de genes que favorece a manutenção do peso corporal, um genótipo econômico. No entanto, a hipótese do gene econômico foi amplamente criticada por outros pesquisadores por não explicar o motivo pelo qual a maior parcela da população não é obesa, tendo em vista que todos vivem no mesmo ambiente, o que resultaria em toda a população obesa. Outra falha na hipótese está nas considerações históricas dos caçadores-coletores, onde períodos entre fomes acarretaria em indivíduos obesos que sobreviveriam a fome, mas não foi o caso, já que não houve prevalência de obesidade e sua sobrevivência não foi atribuída ao maior armazenamento de gordura. Uma teoria alternativa foi proposta para explicar essa variabilidade no ganho de peso entre os indivíduos, a “ausência de predador”. Essa teoria consiste nos ancestrais que há mais de 2 milhões de anos possuíam limiar superior para o ganho de peso, evitando o excessivo 13 acúmulo de gordura corporal, que prejudicaria sua sobrevivência na fuga de predadores. Embora não tenhamos mais predadores, os genes transferidos aleatoriamente para as gerações sucessoras implicaram na variação do ganho de peso interindividual, resultante da alteração do limiar superior do set point, e as sinalizações ambientais de predadores na época alteravam a dinâmica do armazenamento energético sugerindo explicações para dicotomia do ganho de peso em resposta ao estresse. Ao invés de seleção direcionada dos genes, como sugere o “gene econômico”, essas mudanças aleatórias e deriva genética são responsáveis pela variação na distribuição de gordura populacional, sendo a hipótese mais aceita que esclarece a suscetibilidade heterogênea do ganho de peso, inclusive nas culturas ocidentais, onde encontra-se maior proporção relativa da população obesa no mundo, e, mesmo assim, a quantidade de obesos representa menos da metade da população dessa região. O modelo do ponto de intervenção dupla é um refinamento das teorias que basicamente apresenta regulações nas extremidades onde a leptina é um componente crucial de resposta durante a perda de peso, enquanto o(s) regulador(es) do limiar superior ainda é desconhecido, sendo um alvo farmacológico futuro quando descoberto e esclarecendo o enigma da heterogeneidade do ganho de peso na população. Levando em conta a flexibilidade do set point e as variantes genéticas que contribuem para o ganho de peso, desde as influências metabólicas e comportamentais, fica cada vez mais claro que o grande desafio no emagrecimento são as forças contrarregulatórias imposta pelo organismo para defender seu peso, que é variavelmente alterado. Entendimento sobre os fatores que favorecem o ganho de peso reduz os estigmas que envolvem a obesidade, quebrando preconceitos, refletindo em maior seriedade e respeito de como a condição deve ser enfrentada. Embora a mudança de hábito seja a medida mais adequada e constantemente incentivada, a complexidade da obesidade reflete em grandes dificuldades enfrentadas durante o emagrecimento, sendo necessário ferramentas adicionais (ex. farmacológicas e/ou cirúrgicas) para manter o paciente aderente em hábitos mais saudáveis e 14 mantendo-se resistente às influências do ambiente que tanto o pressiona para subir seus números na balança. 1.3 GENÉTICA NA OBESIDADE E EMAGRECIMENTO Nesse tópico vamos discutir o papel da genética na obesidade e no emagrecimento. Embora o ganho de peso seja decorrente de um desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético, a resposta dos indivíduos de uma população ao ganho de peso e a perda de peso é variável. Alguns estudos com gêmeos idênticos (monozigóticos) têm mostrado que o ganho de peso entre indivíduos submetidos a um mesmo superávit calórico é bem variável, sendo semelhante entre os irmãos e com grande variabilidade entre os pares de gêmeos. Estudos que comparam o IMC de filhos adotivos com seus pais biológicos também mostram uma correlação entre o IMC dos pais e filhos. A epidemia de obesidade é recente e seu grande crescimento nas últimas décadas é associado a mudanças de estilo de vida da população, principalmente no ocidente. O aumento da ingestão de alimentos industrializados ricos em gorduras (trans, saturadas) e carboidratos refinados, aliado a um estilo de vida sedentário, são responsáveis pelo balanço energético positivo, que promove grande ganho de peso com o passar dos anos. Esse ganho de peso/gordura é resultado não só da mudança ambiental, mas principalmente da interação gene e ambiente. A obesidade é considerada uma doença com causas multifatoriais, sendo que a interação de um ambiente obsogênico com nosso “genótipo econômico” tende a favorecer ainda mais o aumento das reservas energéticas, o acúmulo de gordura. Além da interação gene-ambiente, vários estudos têm indicado que nossa microbiota também influencia nosso metabolismo. Indivíduos obesos e magros apresentam diferentes composições de bactérias intestinais e os processos de ganho de peso e perda de peso também influenciam nossa microbiota. Nas últimas décadas, diversos estudos têm mostrado que a obesidade é resultado de uma interação entre nossos genes com um ambiente obsogênico, que favorece um balanço energético positivo, em decorrência do aumento da ingestão de alimentos calóricos e da redução do gasto energético devido a menor atividade física. A carga genética explica 40 a 70% da diferença de peso 15 corporal em humanos. Segundo a hipótese do genótipo econômico, nossos ancestrais passavam por períodos de escassez de alimentos boa parte do tempo, e isso perdurou por milhares de anos. Os indivíduos com mais chances de sobreviver eram aqueles com um genótipo que favorecesse a uma maior reserva de energia (gordura). Nas últimas décadas,nosso ambiente mudou drasticamente, mas nosso genoma permanece semelhante ao de nossos antepassados, o que favorece o acúmulo de gordura por boa parte da população que vive nesse ambiente obsogênico. De qualquer forma, essa hipótese é insuficiente para explicar a grande variabilidade de respostas ao ganho de peso entre diferentes indivíduos. Uma teoria alternativa foi proposta para explicar essa variabilidade no ganho de peso entre os indivíduos, a “teoria da ausência de predador”. Segundo essa teoria, nossos ancestrais, há mais de 2 milhões de anos, possuíam limiar superior para o ganho de peso, evitando o excessivo acúmulo de gordura corporal, o qual prejudicaria sua sobrevivência na fuga de predadores. Embora não tenhamos mais predadores, os genes transferidos aleatoriamente para as gerações sucessoras implicaram na variação do ganho de peso interindividual resultante da alteração do limiar superior do set point, e as sinalizações ambientais de predadores na época alteravam a dinâmica do armazenamento energético, sugerindo explicações para dicotomia do ganho de peso em resposta ao estresse. Ao invés de seleção direcionada dos genes, como sugere o “gene econômico”, essas mudanças aleatórias e deriva genética são responsáveis pela variação na distribuição de gordura populacional, sendo a hipótese mais aceita que esclarece a suscetibilidade heterogênea do ganho de peso, inclusive nas culturas ocidentais, onde encontra-se maior proporção relativa da população obesa no mundo, e mesmo assim a quantidade de obesos representa menos da metade da população dessa região. O modelo do ponto de intervenção dupla é um refinamento das teorias que basicamente apresenta regulações nas extremidades onde a leptina é um componente crucial de resposta durante a perda de peso, enquanto o(s) regulador(es) do limiar superior ainda é desconhecido, sendo um alvo farmacológico futuro quando descoberto e esclarecendo o enigma da heterogeneidade do ganho de peso na população. 16 Os fatores genéticos podem contribuir para maior sedentarismo, alteração no gasto energético e oxidação de substratos. Estudos com gêmeos observaram que a herdabilidade pode influenciar em aproximadamente 20% na disposição para realizar exercício, mais de 40% na taxa metabólica basal e mais de 30% no coeficiente respiratório, explicando as variações na tendência de oxidar gordura e perder peso entre os indivíduos. Apesar de muitos indivíduos ganharem peso / gordura ao adotarem o estilo de vida ocidental, o ganho de peso é muito variável entre os indivíduos de uma mesma população. Estudos com pares de gêmeos em ambiente controlado (BOUCHARD, 1990) mostraram que o ganho de peso foi semelhante entre os irmãos, mas muito diferente entre os pares, variando de 3 a 12 kg, sendo que todos foram expostos a um mesmo superávit calórico (1000 kcal). Portanto, é equivocado pensar que um superávit calórico de ~ 500 kcal/dia vai promover um ganho de peso de 0,5 kg por semana para qualquer indivíduo. Como nesse estudo a dieta foi estritamente controlada, a variabilidade no ganho de peso pode ser explicada por variações na termogênese atividade não exercício (NEAT). Indivíduos mais resistentes ao ganho de peso tendem a gastar mais calorias em superávit calórico por se movimentarem mais, aumentando gasto energético de atividade física. As respostas ao ganho e perda de peso não são lineares devidos aos efeitos da termogênese adaptativa, e a grande variabilidade entre indivíduos mostra que a genética também desempenha um papel fundamental na obesidade e no emagrecimento. Segundo Loos: “Existe uma relação sinérgica entre os genes e o ambiente: na presença de uma predisposição genética para a obesidade, a gravidade da doença é largamente determinada pelo estilo de vida e pelas condições ambientais. Quando indivíduos que vivem em um ambiente “restritivo” evoluem em direção a um ambiente “obesogênico”, como o encontrado em países industrializados, a maioria provavelmente ganhará peso. No entanto, aqueles com uma alta predisposição genética para a obesidade ganharão mais peso, enquanto aqueles resistentes à obesidade ganharão pouco ou nenhum peso” (LOOS, 2003). Os estudos do Dr. Stunkard compararam o IMC de filhos adotivos com o dos seus pais biológicos e encontraram uma forte correlação entre o peso dos filhos adotivos com seus 17 pais biológicos e uma fraca correlação do peso dos filhos com os pais adotivos. Ou seja, a genética influencia mais no peso das crianças do que o ambiente. O estudo dos índios Pima do Arizona é outro grande exemplo de como a interação entre genética e ambiente pode ter um grande impacto no ganho de peso. Os índios Pima, que vivem no Arizona, são em média 25 kg mais pesados que os índios Pima que vivem no México. Os índios do Arizona adotaram o estilo de vida ocidental, se tornando mais sedentários e consumindo alimentos com grande densidade calórica, enquanto os índios Pima do México ainda vivem em condições de caçadores-coletores, não sofrendo com a epidemia de obesidade e suas comorbidades. Mais de 75% dos índios Pima que vivem no Arizona são obesos e muitos apresentam obesidade mórbida e são diabéticos. A contribuição genética no ganho de peso foi amplamente discutida na literatura. A herdabilidade genética, por exemplo, pode contribuir entre 40-70% para o excesso de peso, enquanto a obesidade monogênica representa uma parcela mínima da população obesa. No entanto, diversos genes conhecidos como polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) foram associados como candidatos ao excesso de peso, caracterizando a obesidade como uma doença poligênica. Uma meta-análise de associação ampla do genoma (GWAS) realizada com mais de 300.000 indivíduos identificou 115 lócus genéticos com variantes associados ao IMC, na qual a contribuição genética é de aproximadamente 20%, e a maioria desses genes estão enriquecidos no sistema nervoso central (SNC), resultando em alterações no comportamento alimentar, como alto consumo de calorias. A contribuição das variantes do gene econômico compõe apenas 3% das variantes e são raros na população em geral, estando presente em etnias específicas. Muitos desses genes receberam atenção especial no ganho de peso. O mais estudado é o gene relacionado ao MCR4, receptor crítico na regulação do apetite no hipotálamo e recebe estímulos dos neurônios do núcleo arqueado e de outras regiões extra hipotalâmicas durante as alterações internas e externas, influenciando o consumo de alimentos. Indivíduos que carregam SNPs responsáveis pela mutação desse receptor são mais suscetíveis ao ganho de peso devido a hiperfagia causada pela disfunção na sua atividade. O MCR4 e outras variantes influenciam em outros componentes 18 que levam a maior consumo calórico, como no valor atribuído à recompensa do alimento, amplificação da palatabilidade e reatividade com as pistas (componentes orossensoriais e visuais), preferências alimentares (açúcar e gordura) e maior impacto no reforço (desejo), tornando seu consumo mais desinibido e contínuo, ou seja, o maior prazer com a alimentação pode ser dado as variantes do SNPs, tornando seu consumo mais recompensador e favorecendo o ganho de peso. Vários hormônios e proteínas são responsáveis por regular a ingestão energética e o gasto energético. A leptina é um hormônio peptídico que regula nossa ingestão energética e o nosso peso corporal, e polimorfimos do receptor de leptina (LEPR) estão associados à obesidade. Além dos genes que codificam os receptores de leptina, ou seja, genes responsáveis pela síntese dos receptores de leptina (proteínas), existem genes que codificam uma série de proteínas e receptores responsáveis pela lipólise e oxidação de gorduras. Os genes que codificam os receptores adrenérgicos beta 2 e beta 3 também apresentam polimorfismos associadosà obesidade, assim como os genes que codificam as proteínas desacopladoras mitocondriais (UCPs). Essa grande variabilidade genética pode explicar porque algumas pessoas se tornam obesas mesmo sem um consumo excessivo de calorias. Alguns indivíduos obesos apresentam baixo gasto energético e maior tendência ao acúmulo de gordura. Os estudos com gêmeos idênticos em ambiente controlado e os outros estudos que avaliaram o gasto energético de indivíduos suscetíveis à obesidade mostram claramente que a genética desempenha um papel fundamental no ganho de peso/gordura. 19 CAPÍTULO 2 INFLAMAÇÃO NA OBESIDADE 20 2.1 GANHO DE PESO E INFLAMAÇÃO É muito comum ver as pessoas dizendo que a obesidade aumenta a inflamação. O primeiro passo é compreender o que seria essa inflamação que muita gente diz. Basicamente inflamação é um aumento na concentração de proteínas inflamatórias, como a Interleucina-6 (IL-6) e o Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNFα). Vocês precisam compreender que o aumento na produção de proteínas inflamatórias na obesidade causa prejuízos à saúde, pois a inflamação gera resistência à insulina (diabetes tipo 2), hipertensão arterial e aterosclerose (risco de infarto e acidente vascular cerebral). Isso significa que se você tem uma paciente com obesidade que possui essas alterações fisiológicas citadas acima, um dos alvos que você precisa combater é a inflamação, ou seja, você precisa criar estratégias para reduzir a produção das proteínas inflamatórias. Claro, iremos detalhar isso neste material, mas neste tópico você já começa a compreender a importância de estudar inflamação na obesidade. Existe uma diferença entre a inflamação da obesidade e a inflamação causada por uma lesão ou por infecções por vírus e bactérias. Na condição de infecção ou lesão acontece uma inflamação aguda, ou seja, existe um aumento significativo na produção das proteínas inflamatórias e depois de um tempo há uma queda, formando uma curva. Já na obesidade ocorre uma inflamação crônica de baixo grau, em outras palavras, a produção de proteínas inflamatórias aumenta e se mantém elevada por vários e vários dias (PEREIRA et al. 2014). A figura 2 mostra a diferença entre a inflamação aguda e a inflamação crônica de baixo grau na obesidade. 21 Figura 2 – Diferença entre inflamação aguda e inflamação crônica de baixo grau na obesidade Legenda: Na condição de infecção ou lesão acontece uma inflamação aguda, ou seja, existe um aumento significativo na produção das proteínas inflamatórias e depois de um tempo há uma queda, formando uma curva. Já na obesidade ocorre uma inflamação crônica de baixo grau, a produção de proteínas inflamatórias aumenta e se mantém elevada por vários e vários dias. O excesso de gordura corporal, principalmente a gordura visceral pode aumentar a produção de proteínas inflamatórias, como TNFα e IL-6. Vamos compreender agora como excesso de tecido adiposo causa o aumento na produção de proteínas inflamatórias. Quando uma pessoa sustenta o superávit calórico e ganha gordura corporal acontece uma hipertrofia nos adipócitos, ou seja, os adipócitos ficam maiores. O tecido adiposo é vascularizado, isso significa que os vasos sanguíneos levam sangue para os adipócitos. Quando acontece a hipertrofia dos adipócitos ocorre uma obstrução mecânica nos vasos sanguíneos. Em outras palavras, o aumento no tamanho das células adiposas promove uma pressão mecânica sobre os vasos sanguíneos, reduzindo a entrega de sangue ao tecido adiposo. Qual a consequência disso? Acontece uma diminuição no conteúdo de oxigênio nas células adiposas, promovendo um quadro de hipóxia (redução na disponibilidade de oxigênio). Os estudos vêm demonstrando que a hipóxia no tecido adiposo é um fator que estimula a produção de proteínas inflamatórias (TRAYHURN, 2013). Entenda que a redução de oxigênio no tecido adiposo é um dos mecanismos que faz o tecido adiposo no indivíduo obeso produzir mais proteínas inflamatórias. Observem a figura 3 que mostra uma relação entre 22 concentração de oxigênio no tecido adiposo e produção de proteínas inflamatórias. Vejam que a concentração de oxigênio é maior nas artérias, porém no tecido adiposo do indivíduo eutrófico há uma maior quantidade de oxigênio e menos produção de proteínas inflamatórias em comparação ao tecido adiposo do indivíduo obeso que possui menos oxigênio e maior produção de proteínas inflamatórias. Figura 3 – Relação entre oxigênio e produção de proteínas inflamatórias Legenda: Observem que a concentração de oxigênio no tecido adiposo do eutrófico fica em torno de 10%, porém no indivíduo com obesidade a concentração de oxigênio cai para 1 a 3% (hipóxia). Essa queda de oxigênio é um fator que estimula a produção de proteínas inflamatórias. Adaptado de TRAYHURN (2013). Agora vamos compreender como a hipóxia no tecido adiposo causa esse aumento na inflamação. Quando acontece a hipóxia no tecido adiposo há uma ativação do Fator Indutor de Hipóxia-1 Alfa (HIF-1α), uma proteína sensível a concentração de oxigênio, ou seja, quando o oxigênio na célula diminui, HIF-1α é ativada. Vamos fazer uma comparação aqui entre pessoas com obesidade e eutróficos. Na obesidade há uma redução no conteúdo de oxigênio nas células adiposas (obstrução mecânica pela hipertrofia dos adipócitos) e há uma maior ativação de HIF-1α no tecido adiposo. Em contrapartida, nos indivíduos eutróficos existe maior disponibilidade de oxigênio no tecido adiposo e uma menor ativação de HIF-1α. A pergunta que fica agora é “Qual a função de HIF-1a nesse contexto de obesidade?” Bom, vamos entender isso melhor. A ativação de HIF-1α gera 23 mudanças fisiológicas na célula para tentar restabelecer a concentração de oxigênio. Como? HIF-1α desloca o Fator do Crescimento do Endotélio Vascular (VEGF) para o núcleo da célula, sendo que VEGF na fita de DNA causa um aumento na produção de novos vasos sanguíneos (angiogênese). Esse efeito tem o objetivo de melhorar a entrega de oxigênio aos adipócitos, pois se há mais vasos, maior é a chegada de oxigênio nas células. Por mais que isso aconteça, o nível de oxigênio dificilmente melhora. Então HIF-1α começa a causar um aumento na produção de proteínas inflamatórias, como a TNFα e IL- 6 (QING et al. 2011). Vamos compreender melhor como HIF-1α aumenta a produção de proteínas inflamatórias. Vou explicar isso citando dois eventos fisiológicos. Primeiro, HIF-1α ativa o Fator Nuclear Kappa B (NFKB), uma proteína que ao ser ativada é direcionada para o núcleo da célula e na fita de DNA gera a produção de proteínas inflamatórias, como a TNFα e IL-6 (YE, 2009). Segundo, HIF-1α ativa a Proteína Quimiotática de Monócitos (MCP-1), sendo que essa proteína gera um recrutamento de macrófagos ao tecido adiposo. Percebam que HIF-1α faz aumentar a quantidade de macrófagos no tecido adiposo, sendo que diversos estudos vêm demonstrando que o tecido adiposo de uma pessoa com obesidade possui mais macrófagos do que uma pessoa eutrófica. Os macrófagos podem ser divididos em tipo 1 e tipo 2, sendo que os macrófagos tipo 1 produzem mais proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6) e os macrófagos tipo 2 secretam mais proteínas anti-inflamatórias, como a Interleucina-10 (IL-10). Então podemos considerar que os macrófagos tipo 1 tem efeitos negativos para a saúde e os macrófagos tipo 2 possuem efeitos positivos. A figura 4 mostra o aumento da inflamação no adipócito causado pela ação de HIF-1α. 24 Figura 4 – Ação do HIF-1a para aumenta a produção de proteínas inflamatórias no tecido adiposo de uma pessoa com obesidade Legenda: A obstrução mecânicanos vasos sanguíneos causa uma queda na concentração de oxigênio no adipócito. A hipóxia ativa a proteína HIF-1α que age de duas maneiras: 1) ativa a proteína MCP-1 que aumenta o recrutamento de macrófagos ao tecido adiposo, no qual essas células produzem proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6); e 2) ativa o fator de transcrição NFKB que vai até o núcleo e na fita de DNA estimula a produção de TNFα e IL-6. Para você entender de maneira mais fácil esse mecanismo de inflamação no tecido adiposo veja o esquema da figura 5. Caso você ache necessário para potencializar seu aprendizado, replique esse esquema no caderno, tenho certeza que irá aprender mais. Figura 5 – Excesso de tecido adiposo e inflamação 25 Agora vamos fazer uma comparação entre o tecido adiposo de uma pessoa com obesidade versus eutróficos. No tecido adiposo da pessoa com obesidade pode ter menos oxigênio, maior ativação de HIF-1α e NFKB e mais macrófagos do tipo 1. Qual o resultado? Maior produção de proteínas inflamatórias. Já na pessoa eutrófica há uma maior disponibilidade de oxigênio no tecido adiposo, pois não há uma hipertrofia excessiva nos adipócitos. Isso faz a pessoa ter uma menor ativação de HIF-1α. Resultado? Menos ativado está o fator de transcrição NFKB e menor é a quantidade de macrófagos do tipo 1 no tecido adiposo. No indivíduo eutrófico também há uma maior quantidade de macrófagos do tipo 2. Percebam que o ambiente no obeso é mais inflamatório e no indivíduo eutrófico é mais anti-inflamatório. A figura 6 resume a diferença entre o tecido adiposo do obeso e eutrófico. Figura 6 – Diferenças no tecido adiposo na pessoa com obesidade em comparação ao indivíduo eutrófico Legenda: No indivíduo eutrófico os adipócitos do são menores. Com o ganho de peso há uma hipertrofia dos adipócitos, aumentando a quantidade de macrófagos tipo 1. 2.2 TECIDO ADIPOSO: UM ÓRGÃO ENDÓCRINO Desde a década de 90, o tecido adiposo não é mais considerado um simples órgão de armazenamento de energia (gordura). O tecido adiposo na obesidade produz diversas proteínas (GALIC et al, 2010), sendo que as proteínas inflamatórias agem em outros tecidos causando alterações fisiológicas negativas, tais como: resistência à insulina (fígado, músculo e vaso 26 sanguíneo), aumento de pressão arterial, vasoconstrição e formação de placa de ateroma (vaso sanguíneo). Tudo mudou com a descoberta do hormônio leptina, produzido nos adipócitos do tecido adiposo branco. A leptina é a principal adipocina sintetizada pelas células do tecido adiposo, os adipócitos. As adipocinas são proteínas produzidas pelos adipócitos e outras células presentes no tecido adiposo (células endoteliais, magrófagos, pré-adipócitos), e desempenham diversas funções fisiológicas importantes no tecido adiposo e em outros órgãos distantes, como pâncreas, fígado, músculo esquelético e sistema nervoso central (SNC). As principais adipocinas produzidas no tecido adiposo são mostradas na tabela 1. Tabela 1 – Proteínas produzidas pelo tecido adiposo 27 A leptina é a principal adipocina sintetizada pelos adipócitos e tem a função de regular peso corporal e a ingestão alimentar. Com a perda de peso e gordura, ocorre redução dos níveis de leptina e aumento do apetite, além de redução do gasto energético. Os níveis de leptina reduzem após algumas horas de jejum e aumentam com a superalimentação. Com o ganho de peso e gordura, ocorre aumento dos níveis de leptina, mas indivíduos obesos apresentam resistência à leptina, além da resistência à insulina. Além dessas citocinas, outras adipocinas estão relacionadas ao aumento da resistência à insulina e da inflamação, como a resistina. Além de prejudicarem diretamente a sinalização da insulina, as citocinas inflamatórias também estimulam a lipólise, principalmente no tecido adiposo visceral (gordura intra-abdominal, que se acumula entre os órgãos). Embora a lipólise pareça um efeito benéfico quando se trata de emagrecimento, seu excesso é prejudicial, pois o excesso de ácidos graxos livres na circulação prejudica a sinalização da insulina nos tecidos, como músculo, fígado, tecido adiposo e hipotálamo. Além disso, esse excesso de ácido graxos no sangue pode chegar ao fígado e aumentar a gordura hepática ou até mesmo gerar uma maior produção de colesterol, favorecendo a dislipidemia, ou seja, excesso de LDL e colesterol (MORIGNY et al. 2016). Lembre-se que para que ocorra emagrecimento, não basta ter aumento da lipólise (mobilização da gordura), também é necessário que ocorra aumento da oxidação dos ácidos graxos (queima de gordura). A adiponectina é um hormônio que se apresenta em menor quantidade em indivíduos obesos e sua sinalização é responsável pelo aumento da sensibilidade à insulina. A adiponectina estimula a captação de glicose e a oxidação de ácidos graxos através da sinalização da proteína AMPK. 2.3 INFLAMAÇÃO GERA INFLAMAÇÃO Vimos que na obesidade o tecido adiposo produz proteínas inflamatórias, no qual essas proteínas são direcionadas para a corrente sanguínea. É importante compreender que ao chegar no sangue, essas proteínas inflamatórias podem ir para outros tecidos (fígado, músculo, vaso 28 sanguíneo etc.) e causar alterações fisiológicas. Neste tópico iremos entender que TNFα é uma proteína sinalizadora, ou seja, ela liga em receptor na membrana plasmática de outras células e promove a produção ainda mais de proteínas inflamatórias (SHOELSON et al. 2003). Imagine que TNFα sai do tecido adiposo e vai para o sangue, após isso TNFα chega no músculo esquelético e na célula muscular liga no seu receptor localizado na membrana plasmática (receptor de TNFα). Essa ligação causa ativação de várias proteínas no meio intracelular. Vamos entender isso melhor? Então vamos lá. TNFα liga no receptor e ativa uma proteína chamada IKK, essa proteína tem a função de ativar o NFKB, o fator de transcrição que vai para o núcleo da célula e na fita de DNA causa formação de mais proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6). Vejam, o TNFα produzido pelo tecido adiposo vai para outros tecidos ativar NFKB e causar inflamação nestes tecidos também. Por isso, inflamação causa inflamação (figura 7). Figura 7 – Sinalização do TNFα para aumentar a inflamação Legenda: TNFα liga no receptor e ativa uma proteína chamada IKK, essa proteína tem a função de ativar o NFKB, o fator de transcrição que vai para o núcleo da célula e na fita de DNA causa formação de mais proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6). No tópico de resistência insulina iremos entender que o TNFα além de gerar inflamação causa um prejuízo no efeito da insulina em promover a captação de glicose. Isso significa que ao mesmo tempo, TNFα causa mais 29 inflamação e resistência à insulina. Já no vaso sanguíneo TNFα pode levar a pressão arterial e acelerar a formação da placa de ateroma, sendo que iremos estudar mais detalhado esses conteúdos nos próximos capítulos. 2.4 INGESTÃO DE GORDURA E INFLAMAÇÃO Em um contexto de obesidade é muito comum observar uma ingestão elevada de gorduras. Isso acontece porque há um maior consumo de alimentos industrializados e embutidos, elevando a ingestão de gordura saturada e gordura trans. Além disso, na obesidade existe um baixo consumo de gorduras insaturadas, pois é muito comum ver indivíduos obesos não consumindo oleaginosas, azeite, peixes, abacate, chia e linhaça. Você precisa compreender que o tipo de gordura gera uma grande influência sobre a inflamação (ROCHA et al. 2016), sendo que esse perfil de dieta na obesidade, ou seja, mais gorduras saturadas e menos gorduras insaturadas promove um impacto sobre o aumento na produção de proteínas inflamatórias. A ativação do NFKB nas células do organismo pode ser moduladade acordo com o tipo de gordura ingerida na dieta. A gordura saturada, presente principalmente em alimentos de origem animal pode ativar o NFKB, aumentando a produção de TNFα e IL-6, enquanto que o ômega-3 pode inibir o NFKB e reduzir a inflamação. O ácido graxo saturado pode agir em diversos tecidos do organismo por um receptor chamando de Toll Like Receptor-4 (TLR- 4) e ativar no meio intracelular algumas proteínas como a IKK. Após ser ativada, a proteína IKK transloca o NFKB para o núcleo celular (DNA) e assim inicia a formação das proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6) e a resistência à insulina pode aumentar, conforme demonstrado na figura 8. Por isso, o excesso de gordura saturada na dieta em contexto de obesidade pode elevar a inflamação e, consequentemente, uma piora na sensibilidade à insulina. Nas mídias é muito comum observar pessoas dizendo que óleo de coco, manteiga e banha de porco são alimentos saudáveis. No entanto, esses alimentos são ricos em gordura saturada e o consumo excessivo destes alimentos na obesidade não é saudável, pois eles podem contribuir para o aumento da inflamação (ZHOU et al. 2020). 30 Figura 8 - Mecanismo que o ácido graxo saturado aumenta a produção de proteínas inflamatórias. Legenda: O ácido graxo saturado pode agir por um receptor chamando de Toll Like Receptor-4 (TLR-4) e ativar no meio intracelular algumas proteínas como a IKK. Após ser ativada, a proteína IKK transloca o NFKB para o núcleo celular (DNA) e assim inicia a formação das proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6) e a resistência à Insulina pode aumentar. Já o ômega-3 pode atuar também em diversos tecidos do organismo (músculo, adiposo, células imunes, neurônios etc), porém por outro receptor chamado de GPR120 (OLEFSKY et al. 2012), sendo que a ligação dos ácidos graxos ômega-3 ao GRP120 gera a inibição do NFKB e como consequência redução na formação de proteínas inflamatórias, como a TNFα e IL-6 (figura 9). Reparem que na figura 9 o NFKB não está no núcleo celular, ou seja, quando o NFKB é inibido ele fica no citoplasma e assim não gera a produção de TNFα e IL-6. As evidências têm mostrado que substituir gordura saturada por poli-insaturada (ômega 6 e ômega 3) diminui o risco cardiovascular. As diretrizes dos órgãos e organizações de saúde recomendam que a gordura saturada não seja superior a 10% do total de calorias da dieta. 31 Figura 9 - Mecanismo que o ômega-3 gera efeitos anti-inflamatórios. Legenda: O ômega-3 pode atuar por outro receptor chamado de GPR120, sendo que a ligação dos ácidos graxos ômega-3 ao GRP120 gera a inibição do NFKB e como consequência redução na formação de proteínas inflamatórias. A diminuição das proteínas inflamatórias pode deixar a Insulina mais sensível. Enquanto existem fortes evidências que um aumento do consumo de ômega 3, particularmente dos ácidos docosaexaenoico (DHA) e eicosapentaenoico (EPA), confere proteção contra doenças cardiovasculares, não existem evidências convincentes de que a redução do consumo de ômega- 6, por si só, faça o mesmo. Pelo contrário, pode até aumentar o risco cardiovascular (SBC, 2013). Na verdade, o aumento no consumo de ácidos graxos ômega 6 nas últimas décadas tem sido associado a uma redução de até 50% de morte por doença cardíaca coronariana (WILLETT, 2007). Ensaios clínicos randomizados mostraram que a gordura poli-insaturada dos óleos vegetais (soja, canola, girassol e milho), substituindo a gordura saturada dos laticínios e da carne reduzem as doenças cardiovasculares (SACKS et al. 2017). A gordura monoinsaturada (ômega-9) está presente em uma grande variedade de alimentos, de fontes animais e vegetais, mas os alimentos mais abundantes em ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) são o azeite de oliva, o abacate e as oleaginosas (nozes, castanhas). Os ácidos graxos monoinsaturados mostraram importantes benefícios metabólicos em alguns 32 estudos, como melhora da sensibilidade à insulina e redução da pressão arterial. Além disso, o mais significativo é uma melhora do perfil lipídico quando se substitui ácidos graxos saturados por MUFA, com redução dos níveis de LDL. Dietas ricas em MUFA, como a dieta do mediterrâneo, podem ainda aumentar os níveis de HDL e reduzir os triglicerídeos. Indivíduos com níveis de colesterol LDL elevado e alto risco cardiovascular devem reduzir ainda mais a ingestão de gorduras saturadas (<7% do total de calorias). Portanto, para reduzir a inflamação na obesidade e melhorar a saúde do indivíduo é preciso reduzir a ingestão de gordura saturada (carnes gordas, embutidos, fast-food etc.) e aumentar a ingestão de gorduras insaturadas (azeite, oleaginosas, peixes, abacate, óleos vegetais, chia, linhaça etc.). Os ácidos graxos n-6 (presentes principalmente nos óleos vegetais e nas oleaginosas) também reduzem a resistência à insulina, provavelmente por atuar como um ligante para os receptores-gama ativados por proliferadores de peroxissoma, e a ingestão tem sido inversamente relacionada ao risco de diabetes tipo 2 (WILLETT, 2007). A incorporação de ácido linoleico (ômega-6) em fosfolipídios altera a fluidez da membrana e pode modular a atividade do receptor de insulina. Em uma meta-análise de 102 ensaios randomizados de alimentação controlada, os PUFAs dietéticos (predominantemente ácido linoleico) melhoraram a glicemia, a resistência à insulina e a capacidade de secreção de insulina, em comparação com carboidratos, gordura saturada e, para alguns desfechos, até gordura monoinsaturada (WU et al. 2007). 33 CAPÍTULO 3 MICROBIOTA NA OBESIDADE 34 3.1 METABOLISMO DA MICROBIOTA INTESTINAL Existem cerca de 39 trilhões de células bacterianas no organismo, sendo que a maior parte dessas bactérias são encontradas na microbiota intestinal, com maior concentração de bactérias no cólon (QIN, 2010). Nos últimos anos a microbiota intestinal vem ganhando destaque no meio científico devido a sua importância sobre a saúde. A microbiota intestinal pode ser alterada de acordo com a qualidade dos alimentos e composição corporal. Por exemplo, na obesidade e consumo regular de alimentos industrializados somado a baixa ingestão de alimentos in natura (frutas e vegetais) acontece mudança na composição das bactérias da microbiota que leva a prejuízos à saúde (SONNENBURG, 2016). Existem várias doenças na obesidade que a microbiota intestinal pode influenciar, como a resistência à insulina, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. Por outro lado, se essa pessoa com obesidade muda o estilo de vida, adotando um padrão alimentar com alimentos ricos em fibras e compostos bioativos (frutas e vegetais) pode mudar a composição da microbiota intestinal. Sabemos que as fibras tem uma grande importância sobre a saúde intestinal, pois as bactérias da microbiota podem fermentar essas fibras e produzir os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC), tais como: Acetato, Propionato e Butirato (KOH, 2016). Os principais geradores dessas substâncias são grãos integrais e fibras alimentares (FLINT, 2012). O aumento de AGCC na corrente sanguínea gera efeitos benéficos, pois aumentam a sensibilidade à insulina e promovem saciedade no hipotálamo. A saciedade também é influenciada por metabólitos derivados das bactérias intestinais, que os origina a partir da fermentação de fibras. Os AGCC que são produzidos pela fermentação das fibras podem agir estimulando a produção de hormônios que aumentam a saciedade, como o GLP-1 e o PYY. Os AGCC também possuem a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, o que possibilita sua chegada ao hipotálamo. A maior concentração deacetato no hipotálamo gerou um aumento do neurotransmissor Ácido Gama-Aminobutírico (GABA) e de lactato, sendo que esses efeitos gerou uma supressão do apetite em roedores (FROST, 2014). 35 Firmicutes e Bacteroidetes são os dois filos bacterianos mais prevalentes na microbiota intestinal, onde os Firmicutes são classificados como Gram-Positivos e Bacteroidetes são Gram-Negativos. Bactérias Gram- Negativas possuem em sua parede celular o Lipopolissacarídeo (LPS), potente ativador do Toll Like Receptor 4 (TLR4), um tipo de receptor expresso em diversos tipos de células imunes, como os macrófagos, e responsável aumento de inflamação. O reconhecimento do LPS pelo TLR4 ativa uma enorme variedade de vias de sinalização celular que induzem a produção e secreção de citocinas pró-inflamatórias. A elevação dos níveis circulantes de LPS é observada tanto em roedores quanto em humanos obesos em um processo denominado Endotoxemia Metabólica. Iremos entender que na obesidade acontece um aumento na produção de LPS e uma menor produção de AGCC, sendo que esse ambiente tem um impacto negativo sobre a saúde do indivíduo. 3.2 MUDANÇAS NA MICROBIOTA INTESTINAL PELA DIETA E EXERCÍCIO FÍSICO A microbiota intestinal pode ser modulada de acordo com a dieta, composição corporal e o nível de atividade física. Por exemplo, indivíduos com sobrepeso ou obesidade que mantém regularmente um estilo de vida ruim (dieta hipercalórica e inatividade física) possuem alterações na composição da microbiota que fazem as bactérias intestinais produzirem mais LPS e menos ácidos graxos de cadeia curta (acetato, o propionato e o butirato). O LPS é uma endotoxina que estimula o aumento na produção de proteínas inflamatórias (TNFα e IL-6). O LPS sai do intestino e pode agir em outras células, como tecido adiposo, músculo, vasos sanguíneos entre outras por meio do receptor TLR-4 (toll like receptor-4). A ligação da LPS ao TLR-4 ativa uma proteína intracelular chamada de IKK que na sequência ativa o fator de transcrição NFKB, ou seja, LPS promove a translocação de NFKB para o núcleo celular e na fita de DNA causa o aumento na produção das proteínas inflamatórias (figura 3). Esse aumento da inflamação gera resistência à insulina e outras doenças na obesidade (GÉRARD, 2016). Já os ácidos graxos de cadeia curta geram um efeito 36 contrário da LPS, eles estimulam proteínas anti-inflamatórias (IL-10) e aumentam a sensibilidade à insulina. A figura 3 mostra os fatores que fazem a microbiota produzir mais LPS e sua ação sobre a ativação de NFKB para aumentar a inflamação e resistência à insulina. Figura 1 – Produção de LPS e sua ação inflamatória via TLR-4 Legenda: A obesidade, inatividade física, dieta pobre em fibras e compostos bioativos e rica em gordura saturada causa alterações na microbiota para produzir mais LPS. A ligação da LPS ao TLR-4 ativa uma proteína intracelular chamada de IKK que na sequência ativa o fator de transcrição NFKB, ou seja, LPS promove a translocação de NFKB para o núcleo celular e na fita de DNA causa o aumento na produção das proteínas inflamatórias e resistência à insulina. Por outro lado, indivíduos que não são obesos, possuem um consumo regular de frutas, vegetais, grãos integrais e praticam exercício físico podem ter uma microbiota que produz menos LPS e mais ácidos graxos de cadeia curta. Essa condição (menos LPS e mais ácidos graxos de cadeia curta) gera um ambiente mais anti-inflamatório e aumenta a sensibilidade à insulina (ALLEN et al. 2018). As fibras têm um papel importante na melhora da saúde intestinal e também na saciedade. Ao entrar no intestino as fibras sofrem fermentação pelas bactérias causando um aumento na produção de ácidos graxos de cadeia curta. Os ácidos graxos de cadeia curta além de gerar efeitos anti- 37 inflamatórios também vão até o hipotálamo e estimula a sensação e saciedade (FROST et al. 2014). Diante disso, a maior sensação de saciedade em refeições ricas em fibras pode ser explicada pelo atraso no esvaziamento gástrico, mas também pelo aumento de ácidos graxos de cadeia curta. Não podemos esquecer que os compostos bioativos presentes nas frutas, vegetais e especiarias também podem estimular a produção de ácidos graxos de cadeia curta. Foi observado que atletas e praticantes de treinamento físico possuem uma maior produção de ácidos graxos de cadeia curta e uma menor produção de LPS (HUGHES et al. 2021). Essas diferenças mostram que o exercício físico parece modular a composição da microbiota, evidenciando a importância do exercício físico em conjunto com uma dieta saudável para promover alterações benéficas na composição da microbiota. 3.3 PREBIÓTICOS NO MANEJO DA OBESIDADE Carboidratos constituem uma essencial fonte de substrato energético para a microbiota intestinal, com seus metabólitos, os ácidos graxos de cadeia curta exercendo importante influência no metabolismo do hospedeiro, como já mencionado anteriormente. A redução do consumo de fibras observada nas dietas ocidentais é associada com uma redução na riqueza da diversidade dos micro-organismos intestinais e ao aparecimento de desordens metabólicas. O aumento no consumo de fibras leva a uma melhora do metabolismo da glicose pós-prandial em resposta às refeições contendo cereais integrais, sendo associada com um aumento na abundância do gênero Prevotella (MOYA-PEREZ, 2015) e a uma elevação da razão entre Prevotella e Bacteroides, os dois principais gêneros do filo Bacteroidetes. Durante uma dieta rica em fibras, bactérias do gênero Prevotella parecem interagir positivamente com espécies dos filos Actinobacteria e Firmicutes para formar um grande nicho de bactérias envolvidas na fermentação de carboidratos. Este nicho contribui para uma melhora do metabolismo da glicose através de um aumento dos estoques de hepáticos de glicogênio. 38 A administração de oligossacarídeos fermentáveis (fruto- oligossacarídeos) em ratos obesos regula o apetite, reduz a obesidade e perturbações metabólicas associadas. Esses aprimoramentos são associados com um aumento de 100 vezes na abundância de Akkermansia muciniphila, bem como um aumento no crescimento de Bifidobacterias e Lactobacillus. Dietas ricas em fibras também exercem influência na interação entre bactérias e a mucosa intestinal, contribuindo diretamente para a primeira linha de defesa contra a invasão de patógenos, ajudando assim a evitar a translocação do LPS e consequente agravo da inflamação. Essas evidências sugerem que em adição a alterações na dieta, uma conduta que contribua para proliferação de espécies bacterianas inicialmente perdidas como consequência das dietas ocidentais pode se fazer necessária como forma de prevenção ao aparecimento e agravo de desordens metabólicas. 3.4 PROBIÓTICOS NO MANEJO DA MICROBIOTA NA OBESIDADE Probióticos são bactérias vivas, usualmente presentes em alimentos fermentados, que ao serem ingeridas conferem benefícios ao hospedeiro. Essa classificação é importante para deixar claro que para uma bactéria ser chamada de probiótica ela deve ser necessariamente ingerida. Sendo assim, a correta nomenclatura para as bactérias benéficas que já habitam em nosso trato gastrointestinal é a de “simbióticas”. Normalmente estes probióticos são compostos majoritariamente por bactérias Gram Positivas pertencentes ao gênero de Lactobacillus ou Bifidobactérias. O mecanismo de ação dos probióticos depende da cepa utilizada. Os efeitos anti-obesidade incluem redução da endotoxemia metabólica, melhora da disfunção endotelial e limitação da disponibilidade de ácidos graxos livres ao hospedeiro. Essa vasta gama de efeitos é mediada por mecanismos como maior adesão de bactérias benéficas que limitam a proliferação de bactérias deletérias através da liberação de moléculasantibacterianas denominadas bacteriocinas e do fortalecimento / espessamento da camada de muco. Em adição às já bem conhecidas espécies de Lactobacillus e Bifidobactérias, a bactéria Akkermansia Muciniphila vem ganhando bastante 39 atenção ao demonstrarem que a sua abundância é inversamente relacionada com a obesidade e a resistência à insulina, e sua proliferação é um dos principais efeitos do tratamento medicamentoso com metformina. Sendo assim, a suplementação com probióticos parece ser uma conduta recomendável para o aprimoramento de parâmetros clínicos relacionados à obesidade e à resistência à insulina. 3.5 IOGURTE NO MANEJO DA MICROBIOTA NA OBESIDADE O iogurte natural é um alimento que vem ganhando destaque devido aos seus benefícios na saúde. Estudos vêm demonstrando que o iogurte ajuda na perda de peso, melhora a glicemia e perfil lipídico na obesidade. Agora vamos entender um pouco mais sobre como o iogurte é um alimento muito interessante na obesidade. No intestino, a lactose do iogurte pode ser convertida em galactose e glicose por ação da enzima lactase. As bactérias que estão no iogurte faz uma conversão de lactose em ácido lático que na sequência produz ácidos graxos de cadeia curta. Lembrando que aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta gera saciedade e benefícios para a saúde, como a melhora da sensibilidade à insulina (PANAHI et al. 2016). Devido à presença da bactéria, o iogurte acaba sendo mais tolerado em pessoas com intolerância à lactose do que o leite, pois a bactéria do iogurte converte a lactose em ácido lático. A figura 3 mostra a ação das bactérias do iogurte no intestino. Uma forma de aumentar o conteúdo de fibras é combinar o iogurte com frutas, aveia ou psyllium ou chia ou linhaça. Com relação a dose de proteínas, 1 pote de iogurte tem em média 7g de proteínas. Uma maneira de aumentar a dose de proteínas é combinar o iogurte com whey protein ou leite em pó, inclusive para muitas pessoas essa combinação fica mais saborosa. 40 Figura 3 – Ação das bactérias do iogurte no intestino Legenda: As bactérias que estão no iogurte faz uma conversão de lactose em ácido lático que na sequência produz ácidos graxos de cadeia curta. Lembrando que aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta gera saciedade e benefícios para a saúde, como a melhora da sensibilidade à insulina 3.6 FIBRAS NO MANEJO DA MICROBIOTA NA OBESIDADE Fibras alimentares são carboidratos do tipo polissacarídeo não amido, carboidratos não digeríveis. Os polissacarídeos não amido estão presentes em diversos alimentos, principalmente em frutas, vegetais, leguminosas (feijão), oleaginosas (linhaça) e grãos integrais. Além dos polissacarídeos não amido (celulose, hemicelulose, gomas, mucilagens e pectinas), os fruto- oligossacarídeos e o amido resistente também fazem parte do grupo das fibras alimentares. Esses carboidratos não sofrem ação da enzima amilase porque suas moléculas de glicose estão unidas por ligações glicosídicas do tipo beta 1- 4. Apesar de não serem digeridas e absorvidas pelo intestino delgado, as fibras alimentares apresentam efeitos fisiológicos importantes para a saúde do nosso organismo. As fibras diminuem o trânsito intestinal, aumentam o volume do bolo fecal, podem ser fermentadas pela flora bacteriana e também podem reduzir os níveis de colesterol, glicose e insulina. Além de todos esses benefícios para a saúde, reduzindo o risco de doenças crônicas não transmissíveis (obesidade, diabetes, câncer, doenças cardiovasculares etc), as fibras alimentares também ajudam no aumento da saciedade e isso pode fazer muita diferença durante uma dieta para perda de peso. Diversos estudos clínicos e observacionais têm 41 mostrado que um maior consumo de fibras está inversamente associado ao ganho de peso. O suporte epidemiológico de que a ingestão de fibras alimentares previne a obesidade é forte. A ingestão de fibras está inversamente associada ao peso corporal e gordura corporal. Além disso, a ingestão de fibras está inversamente associada ao índice de massa corporal (IMC) em todos os níveis de ingestão de gordura após o ajuste para fatores de confusão. Os resultados dos estudos de intervenção são mais variados, embora a adição de fibra alimentar geralmente diminua a ingestão de alimentos e, portanto, o peso corporal. Muitos mecanismos foram sugeridos sobre como a fibra alimentar ajuda no controle do peso, incluindo a promoção da saciedade, a diminuição da absorção de macronutrientes e a alteração da secreção de hormônios intestinais (SLAVIN, 2005). A tabela abaixo mostra uma relação de alimentos ricos em fibras. Alimento Porção (g) Kcal Fibras (g) Arroz Integral 100 124 2,7 Macarrão Integral 100 123 2,8 Batata Doce 100 77 2,2 Pão Integral 50 122 3,3 Aveia 30 104 2,9 Inhame 100 116 3,9 Feijão 100 76 8,5 Ervilha 100 74 5,1 Abacate 100 96 6,3 Banana 100 92 1,9 Maçã 100 56 1,3 Morango 100 30 1,7 Brócolis Cozido 100 25 3,4 Tomate 100 15 1,2 Cenoura crua 100 34 3,2 Beterraba 100 32 1,9 42 Alface Crespa 100 11 1,8 Amendoim torrado 20 121 1,6 Amêndoas 20 116 2,3 Linhaça 15 75 4,2 Chia 15 80 5,3 Fibra de trigo 10 15 4,5 Psyllium 10 32 8,0 Farinha de Maracujá 15 35 7,5 As recomendações para o consumo de fibras alimentares são de 25 a 35 g por dia (ou 14 g a cada 1000 kcal, segundo o Instituto de Medicina, IOM), mas boa parte da população consome muito menos que isso, devido ao baixo consumo de frutas, vegetais, leguminosas e grãos integrais, e aumento do consumo de carboidratos refinados (baixo teor de fibras) e gorduras. As fibras costumam ser classificadas em solúveis (formam géis, aumentando a retenção de água) e insolúveis, mas essa divisão deixou de ser usada por não ser preditiva de efeitos benéficos das fibras. Além disso as fibras podem ser classificadas por outras características mais importantes, como viscosidade e fermentabilidade. Os benefícios das fibras sobre a saúde podem variar de acordo com as características das fibras presentes em cada alimento. Os efeitos sobre a saciedade e perda de peso têm sido demonstrados em vários estudos. Embora as recomendações de fibras alimentares para a população fiquem em torno de 25-30 g por dia, é muito provável que quantidades maiores apresentem maiores benefícios para a saúde e perda de peso. Nossos antepassados da era paleolítica chegavam a consumir mais de 70 g de fibras por dia, então o maior consumo não parece trazer malefícios à saúde e parece ser uma ótima estratégia para ajudar na perda de peso e na manutenção da perda de peso. Vamos entender agora como as fibras são importantes para a microbiota e perda de peso na obesidade. Quando o indivíduo consome regularmente as fibras acontece uma mudança na composição da microbiota, as bactérias fermentam as fibras e produzem os ácidos graxos de cadeia curta. Isso significa que aumentar a ingestão de fibras na dieta potencializa a produção dos ácidos graxos de cadeia curta. Essas moléculas podem ir diretamente no 43 hipotálamo estimular a saciedade, mas também fazem o intestino produzir mais GLP-1, um hormônio que aumenta a saciedade. Por isso, é muito comum observar uma saciedade maior após uma refeição rica em fibras. Além disso, o consumo regular de fibras faz a microbiota produzir menos LPS. Vejam, uma pessoa com obesidade tem alta produção de LPS e baixa produção de ácidos graxos de cadeia curta, sendo que a melhora no consumo de fibras vai inverter esse quadro, ou seja, menos LPS e mais ácidos graxos de cadeia curta. Claro, esses efeitos vão ajudar muito na melhora da sensibilidade à insulina e perfil lipídico. A figura 4 demonstra o mecanismo que a ingestão regular de fibras aumenta a saciedade. Figura 4 – Ação das fibras no intestinopara estimular a saciedade Legenda: Quando o indivíduo consome regularmente as fibras acontece uma mudança na composição da microbiota, as bactérias fermentam as fibras e produzem os ácidos graxos de cadeia curta. Essas moléculas podem ir diretamente no hipotálamo estimular a saciedade, mas também fazem o intestino produzir mais GLP-1, um hormônio que aumenta a saciedade. 44 CAPÍTULO 4 APETITE NA OBESIDADE 45 4.1 CONTROLE DO APETITE PELO HIPOTÁLAMO O hipotálamo é um órgão que além de produzir hormônios controla a fome e à saciedade. É no hipotálamo que a sensação de fome acontece durante o jejum, bem como a saciedade após a ingestão alimentar. O aumento da sensação de fome ou saciedade acontece por ativação de certo tipo de neurônio no hipotálamo, sendo que esse processo é controlado por alguns hormônios (AUSTIN et al. 2008). Os neurônios orexígenos NPY/AgRP aumentam a sensação de fome. Isso significa que a ativação destes neurônios faz o indivíduo sentir mais fome (jejum). Por outro lado, os neurônios anorexígenos POMC/ CART aumentam a sensação de saciedade, ou seja, a ativação destes neurônios faz o indivíduo sentir saciedade (pós-prandial). Há alguns fatores que controlam o apetite, dentre eles o fator hormonal, sendo que existem hormônios que são secretados por estímulo da ingestão alimentar e outros que são produzidos durante o jejum. Por exemplo, quando o estômago está vazio as células gástricas produz o hormônio grelina, no qual age no hipotálamo estimulando a sensação de fome. Existem diversos hormônios produzidos pelo intestino, como a colecistoquinina, que é produzida quando chega alimento no duodeno e estimula a sensação de saciedade no hipotálamo. O peptídeo YY (PYY) e o peptídeo semelhante a glucagon 1 (GLP-1) também são secretados pelo intestino após a ingestão alimentar e aumentam a sensação de saciedade no hipotálamo. A insulina também é produzida após a ingestão alimentar e age juntamente com CCK, GLP-1 e PYY estimulando a saciedade (WREN et al. 2007). Por fim, existe um hormônio chamado de leptina que é produzido pelo tecido adiposo e gera saciedade no hipotálamo. A leptina é produzida proporcionalmente a quantidade de tecido adiposo, ou seja, se um indivíduo tem mais gordura corporal produz mais leptina e se o indivíduo é eutrófico produz menos leptina (KLOK et al. 2007). Nós iremos entender com mais detalhes como esses hormônios atuam durante o jejum para estimular a fome e no período pós-prandial para gerar a saciedade. 46 4.2 FISIOLOGIA DA FOME No período de jejum a sensação de fome aumenta, indicando que os neurônios orexígenos NPY/AgRP foram ativados, pois por meio da ativação destes neurônios no hipotálamo a sensação de fome acontece. O principal hormônio que estimula a fome, ou seja, ativa os neurônios NPY/AgRP é a grelina. A grelina foi conhecida originalmente por ser um hormônio responsável pela liberação de GH, mas logo depois descobriu-se que também era um poderoso hormônio estimulante do apetite, exibindo maiores concentrações nos períodos próximos às refeições. A grelina é produzida pelas células gástricas, especificamente quando o estômago está vazio. Isso significa que se o estômago está vazio a grelina é produzida para estimular a fome, e fazer o indivíduo se alimentar com a finalidade de fornecer mais substratos energéticos para o organismo. Por outro lado, quando o estômago está cheio a produção de grelina pelas células gástricas diminui. Percebam que a produção da grelina é dependente do conteúdo gástrico. O mecanismo que a grelina estimula a fome no hipotálamo vem sendo estudado. Após a produção (estômago vazio) a grelina cai na corrente sanguínea e vai até o hipotálamo, no qual se liga em seu receptor nas células hipotalâmicas. A ligação da grelina ao seu receptor na membrana plasmática ativa no meio intracelular uma proteína chamada de Proteína Quinase Ativada por AMP (AMPK) que posteriormente ativa os neurônios NPY/AgRP, aumentando a sensação de fome no hipotálamo. De maneira sinérgica a ativação de AMPK no hipotálamo via grelina também ativa e transloca um fator de transcrição chamado de FOXO para o núcleo celular que ao se ligar na fita de DNA promove a transcrição de genes relacionados aos neurônios NPY/AgRP (ANDREWS et al. 2011). A figura 1 demonstra os possíveis mecanismos que a grelina estimula a sensação de fome no hipotálamo. 47 Figura 1 – Ação da grelina no hipotálamo para estimular a fome Legenda: A ligação da grelina ao seu receptor na membrana plasmática ativa no meio intracelular uma proteína chamada de Proteína Quinase Ativada por AMP (AMPK) que posteriormente ativa os neurônios NPY/AgRP, aumentando a sensação de fome no hipotálamo. De maneira sinérgica a ativação de AMPK no hipotálamo via grelina também ativa e transloca um fator de transcrição chamado de FOXO para o núcleo celular que ao se ligar na fita de DNA promove a transcrição de genes relacionados aos neurônios NPY/AgRP. O aumento da fome durante o jejum é explicado em partes pelo fato da maior concentração de grelina no sangue, porém é importante lembrar que na condição de jejum, a concentração de insulina é menor e ao mesmo tempo o intestino produz menos CCK, PYY e GLP-1, indicando que durante o jejum a concentração sanguínea é baixa de hormônios que estimulam a saciedade. 4.3 FISIOLOGIA DA SACIEDADE Após a ingestão alimentar a sensação de saciedade aumenta, indicando que os neurônios anorexígenos POMC/CART foram ativados e ao mesmo tempo houve inibição dos neurônios NPY/AgRP. Existem alguns hormônios que estimulam a saciedade, como a insulina, CCK, PYY e GLP-1, sendo que todos eles são secretados por estímulo da ingestão alimentar. Além disso, a leptina produzida pelo tecido adiposo também gera saciedade (AUSTIN et al. 48 2008), porém o detalhamento dos seus efeitos será abordado nos próximos tópicos. A insulina é produzida no pâncreas em resposta ao aumento da glicemia e de aminoácidos no sangue, no qual cai na corrente sanguínea e pode ir até o hipotálamo para aumentar a saciedade. O mecanismo que a insulina promove a saciedade no hipotálamo está relacionado a inibição dos neurônios que aumenta a fome (NPY/AgRP). Primeiro a insulina se liga em seu receptor na membrana plasmática da célula do hipotálamo. Essa ligação ativa no meio intracelular o IRS-1 que posteriormente ativa as proteínas chamadas de PI3 quinase e AKT. Quando AKT é ativada o fator de transcrição FOXO sai do núcleo e vai até o citoplasma, ou seja, a insulina promove a saída do FOXO da fita de DNA, pois isso diminui a ativação dos neurônios que geram fome (NPY/AgRP). Ao mesmo tempo, quando a insulina liga no receptor ocorre inibição da AMPK, bloqueando os neurônios NPY/AgRP. Observem que a insulina atua bloqueando os neurônios de fome, e isso contribui para a sensação de saciedade que acontece no período pós-prandial (YU et al. 2009). Após a ingestão alimentar o intestino produz CCK, PYY e GLP-1. O mecanismo que explica o motivo que a alimentação estimula esses hormônios estão relacionados ao fato da passagem do alimento do estômago para o duodeno (intestino). Quando o alimento chega ao intestino ocorre distensão mecânica da parede intestinal e ao mesmo tempo ocorre uma queda do pH no duodeno (acidose), pois o suco gástrico acaba passando do estômago para o intestino. A distensão da parede intestinal e a queda do pH são os principais estímulos para o intestino produzir CCK, PYY e GLP-1. Percebam que a distensão da parede intestinal e a queda do pH só acontece quando há a ingestão alimentar, sendo que os três hormônios vão para a corrente sanguínea e agem no hipotálamo
Compartilhar