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NUTRIÇÃO E EMEGRACIMENTO 02 1 Obesidade, Inflamação e Resistência á Insulina 4 2. Ciclo Circadiano e Restrição de Sono 11 3. Dieta e Qualidade de Sono 21 Dietas da Moda 22 Manutenção do Peso 28 4. Estratégias para a Ansiedade 31 Compulsão Alimentar 32 Termogênicos 34 5. Estresse e Adaptógenos 38 6. Microbiota e Obesidade 41 Qual a melhor Dieta para Você? 45 7. Gasto Energético 47 Restrição Calórica 48 High Protein Diet 50 Considerações Cosolidadas 51 8. Controles de Exames Bioquímicos 53 4 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 1. OBESIDADE, INFLAMAÇÃO E RESISTÊNCIA Á INSULINA A globalização acarretou mudanças de alto impacto no estilo de vida do homem, que passou a realizar atividades cada vez mais sedentárias, a consumir menos alimentos in natura e a realizar um número menor de refeições, contribuindo para um processo que podemos intitular de “industrialização do homem”, no qual ocorre um consumo exacerbado de alimentos processos, de baixa densidade nutricional e alta densidade calórica. Atualmente, devido a um aumento na carga horária e no tipo de mercado em evidência, gastos energéticos de atividades comuns não ocorrem na rotina dos indivíduos, como ir ao banco, passear com animais de estimação ou caminhadas de deslocamento. A inatividade física, 5 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO isto é, caracterizada literalmente pela falta de movimento corporal, constitui um fator de risco para mortalidade independente de todas as causas, o que deve ser observado e avaliado pelo nutricionista na anamnese do paciente. A obesidade na população adulta está crescendo de maneira desenfreada, atingindo cerca de 40% da população. A porcentagem de adultos com IMC > 25kg.m² aumentou entre 1980 a 2013 de 28,8% para 36,9% e de 29,8 para 38% em homens e mulheres, respectivamente. Em 2030, as estimativas de previsão que 57,8% (3,3 bilhões de pessoas) do mundo terá IMC > 25kg.m² ou maior. Com isso, a carga de doenças associadas a obesidade devera aumentar no próximos anos. Diante disso, hábitos alimentares ricos em calorias, associado a baixos níveis de atividade física colaboram para condição de balanço energético positivo levando ao ganho de peso, fator principal na gênese da obesidade, caracterizada por proliferação e na hipertrofia dos adipócitos. A hipertrofia dessas células é acompanhada de hipóxia tecidual, levando a formação de espécies reativas de oxigênio ocasionando inflamaçao do tecido adiposo, ativação de fator de transcrição nucelar NFKB e a liberação de citoninas inflamatórias como Inter leucina 6, fator de necrose tumoral e iny, além de diminuição de adipocinas anti- inflamatórias como adiponectina. Essa inflamação ocasionada gera uma condição de resistência a leptina, hormônio sacietógeno, levando aumento de a ingestão alimentar e de resistência à insulina (RI) que também é resultante de uma alimentação rica em carboidratos refinados, aumentando risco para DM2. Essa RI, a nível hepático leva à alteração do perfil lipídico, contribuindo para alterações nas lipoproteínas séricas. O aumento da permeabilidade intestinal ocasionada pelo consumo de alimentos processados ricos em 6 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO gorduras trans, saturadas e aditivos alimentares gera um aumento na produção de LPS, lipopolissacarídeos de membrana gerados a partir da proliferação de bactérias gram negativas e também no processo de morte dessas bactérias. O excesso de LPS, quando ligado aos receptores TOLL LIKE RECEPTOR 4, estimulam a transcrição de NFKB, gerando um quadro de endotoxemia metabólica e inflamação. A infiltração de macrófagos M1 e o estímulo de MCP1 eleva a diferenciação de pré adipócitos em adipócitos, células metabolicamente ativas, secretoras de citocinas capazes de contribuir de forma intensa com o quadro de RI. Fisiologicamente, a ligação da insulina em seus receptores nos diversos tecidos corporais dependentes de glicose para essa captação ocorre com a ativação da quinase íntrinseca do recepetor de insulina. O receptor de insulina pertence a uma família de receptores de fatores de crescimento que têm atividade tirosina quinase intrínseca e intracelular. Isto resulta na ativação da quinase do receptor e consequente fosforilação em tirosina de um a família de substratos do receptor de insulina (IRS). O receptor de insulina, além de ser fosforilado em tirosina, também pode ser fosforilado em serina o que atenua (diminui) a transmissão do sinal através da diminuição da capacidade do receptor em se fosforilar em tirosina após estímulo com insulina. Essas fosforilações inibitórias causam feedback negativo na sinalização insulínica e podem provocar resistência à insulina (10). Estudos recentes indicam que a resistência à insulina induzida pela obesidade pode ser decorrente da ativação seqüencial da proteína quinase C 7 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO (PKC) e da quinase inibidora do fator nuclear IFKB (CARVALHEIRA et al, 2002); No tecido adiposo, a insulina inibe a lipólise e a cetogênese ao desencadear a desfosforilação da lipase sensível a hormônio e estimula a lipogênese pela ativação de acetil-CoA carboxilase. Essa desfosforilação da LPH inibe a degradação de ácidos graxos livres mediadas pela lipólise. A insulina antagoniza a lipólise estimulada pelas catecolaminas por meio da redução dos níveis de AMPc e proteína quinase A. O defeito na resposta inicial a uma carga de glicose leva à elevação excessiva da glicose sérica, o que produz hiperinsulinemia de forma compensatória, o que causa um downregulation nos receptores de insulina, diminuindo a sensibilidade dos tecidos à ação insulínica. A definição de resistência à insulina se dá na incapacidade dos tecidos periféricos-alvo de responderem de modo apropriado às concentrações circulantes normais de insulina. Para manter níveis glicêmicos normais, o pâncreas realiza compensação por secretar ainda mais insulina. O quadro de hiperinsulinemia reduzindo IGFBP1, redução atividade célulass Natural Killer, ocasionando inflamação crônica de baixo-grau, o que aumenta a propensão ao desenvolvimento de tumores. Essa Inflamação crônica de baixo grau vinda dos adipócitos ou intestino ocasionam ativação da IDO indolamina 2,3-dioxigenase (IDO) é responsável pela degradação de triptofano (TRP) pela via das quinureninas, prejudicando a síntese de serotonina e causando prejuízos de humor e comportamento, onde o obeso irá buscar alimentos ricos em açúcar para fazer com que o triptofano atravesse mais fácil a barreira hemato encefálica e torne-se serotonina, além de produzir uma resposta hedônica de recompensa. Desse modo, o excesso de tecido adiposo, principal característica da obesidade pode ser avaliado clinicamente como um órgão 8 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO endócrino em funcionamento desequilibrado. Obesos possuem maior quantidade de MM e MG, maior taxa metabólica de repouso, maior débito cardíaco, pressão arterial e massa de células beta pancreáticas. O aumento no tecido gordo ao redor dos rins que levam a sua compressão e pode contribuir para a hipertensão, o aumento da pressão intrabdominal pode elevar as chances de refluxo. Maiores cargas mecânica ssobre articulações estão associadas ao desenvolvimento de osteoartrite. Em relação ao emagrecimento, deve ser levada em consideração a regulação da pulsação e da ritmicidade da secreção dos hormônios como um todo. Figura 2: Fatores hormonais e o equilíbrio entre síntese e degradação de reservas. Livro: Fisiologia Endócrina – 4ª Edição, LANGE. Autora: Patrícia Molina. 9 NUTRIÇÃO EEMAGRECIMENTO A taxa de lipólise e de beta oxidação, isto é, não só a quebra de ácidos graxos como também a utilização dos mesmos para gerar energia e não desvios metabólicos. Vários fatores podem determinar a variação entre essas taxas, sendo a condição de estresse crônico ou agudo como a restrição de sono um dos fatores que pode ocasionar redução da utilização dos ácidos graxos como fonte de produção de energia. 11 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 2. CICLO CIRCADIANO E RESTRIÇÃO DE SONO A vida humana evoluiu em torno de uma realidade temporal de 24 horas, em que a temperatura e a luz são sequenciais, logo, a regulação do organismo humana, sobretudo realizada pelos hormônios ao longo desse período, ocorrem num ritmo, que acontece de modo similar a cada dia e que está passível a sofrer alterações do ambiente como a exposição à luz, sons, ingestão alimentar, consumo de substâncias estimulantes do sistema nervoso, exercício físico, dentre outros fatores. Esse ciclo circadiano que explica os picos, produções mínimas e concentrações hormonais no organismo humano é explicado pela ação de um “relógio”, dividido em dois componentes: o relógio central, residente no núcleo supraquiasmático (SCN) do cérebro e os relógios periféricos que estão presentes em quase todos os tecidos e órgãos e que se comunicam. Isto é, 12 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO a relação desse controle com o sono está diretamente ligada à produção de melatonina, principal hormônio indutor do sono. A melatonina é produzida na glândula pineal a partir da serotonina. A glândula pineal é extremamente sensível à luz para a produção de melatonina, de modo que na presença de luz inibe esse processo e é estimulada na sua ausência. A melatonina possui efeito indutor do sono, o que explica a necessidade da escuridão como um dos fatores considerados na higiene do sono. Em uma revisão sistemática envolvendo 67 estudos sobre o uso de mídias digitais com luz em telas em jovens e adolescentes em idade escolar (1999-2014), 90% mostraram que o tempo de tela estava associado negativamente com a saúde do sono, principalmente pelo atraso da indução do sono e redução no tempo total de horas dormidas. Além da melatonina, outros hormônios são diferentes ligados ao ritmo circadiano e a esse controle realizado nos tecidos periféricos, como o GH, o TSH e a prolactina, que atingem seus níveis máximos em momentos diferentes do sono. O GH atinge seu pico por volta de 1 a 2 horas após a indução do sono, o TSH na hora do início do sono (reduzindo logo após esse momento) e a prolactina na última parte do sono, atingindo seu pico próximo ao horário de acordar. Esses hormônios possuem ação direta no controle metabólico, no que diz respeito ao peso corporal, metabolismo de nutrientes, fertilidade e imunidade, por exemplo. A regularidade do horário de sono estabelece “padrões” para que esse ritmo circadiano funcione de modo harmônico e garanta a efetividade dos sistemas biológicos, isto é, que cada célula, hormônio e órgão funcionem em sua máxima eficiência. Outro ponto a ser considerado é o consumo de substâncias estimulantes como a cafeína. Devido a uma rotina de trabalho cada dia 13 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO mais extenuante, o consumo de cafeína, seja por meio do café convencional, chás ou cápsulas, se tornou muito mais frequente e em porções exacerbadas. Bioquimicamente falando, a capacidade da cafeína para inibir os receptores de adenosina parece ser altamente importante em seus efeitos sobre o comportamento e a função cognitiva. Esta capacidade resulta da ligação competitiva da cafeína e da paraxantina – um de seus metabólitos - aos receptores de adenosina e é importante para contribuir para os efeitos do SNC, especialmente aqueles que envolvem os efeitos neuromoduladores da adenosina. Devido ao bloqueio dos efeitos inibitórios da adenosina através dos seus receptores, a cafeína afeta indiretamente a liberação de norepinefrina, dopamina, acetilcolina, serotonina, glutamato, ácido gama-aminobutírico. A cafeína atinge suas concentrações plasmáticas máximas ocorrem entre 15 e 120 minutos após a ingestão oral (IMCR, 2001). cafeína aumenta as concentrações intracelulares de adenosina monofosfato cíclico (cAMP) por inibição de enzimas fosfodiesterases no músculo esquelético e no tecido adiposo. Essas ações promovem a lipólise através da ativação de lipases sensíveis a hormônios com a liberação de ácidos graxos livres e glicerol. A maior disponibilidade desses combustíveis no músculo esquelético atua para poupar o consumo de glicogênio muscular. O aumento do AMPc também pode levar a um aumento das catecolaminas no sangue, as quais estão envolvidas na função cognitiva e atenção. Diante dessas informações, o consumo de cafeína deve ser evitado próximo ao horário de deitar-se afim de contribuir para uma neurotransmissão correta e favorável ao sono. A restrição de sono é outra condição frequentemente presente na rotina do homem moderno. Uma pesquisa realizada com 22.518 brasileiros constatou que 45% dos 14 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO indivíduos apresentaram insônia, 32% apresentaram dificuldade para dormir e que 52% acordam cansados (Sociedade Brasileira de Neurofisiologia, 2017). O sono é um processo fisiológico imprescindível para a cognição, memória, aprendizado, humor e criatividade. Uma revisão sistemática realizada em 2017 publicada na Sleep Medicine avaliou as repercussões metabólicas da curta duração de sono, encontrando qu o sono curto definido como a duração inferior a seis horas foi associado a um aumento significativo na mortalidade, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças coronárias e obesidade. Com base em 3 variáveis fisiológicas que compreendem o EEG, o EOG e o eletromiograma (EMG) submentoniano (Figura 1). Através delas são caracterizados 2 padrões fundamentais de sono: sem movimentos oculares rápidos (NREM) e com movimentos oculares rápidos (REM). O sono NREM é composto por 4 etapas em grau crescente de profundidade, os estágios I, II, III e IV. No sono NREM, há relaxamento muscular comparativamente à vigília, porém, mantém-se sempre alguma tonicidade basal. O EEG exibe aumento progressivo de ondas lentas, conforme se avança do estágio I para o estágio IV do sono NREM. Existe na literatura uma a associação bem estabelecida de curta duração do sono (<7hrs) e obesidade. No contexto da restrição do sono, há uma regulação ascendente de vias de recompensa, prazer e saliência em resposta a estímulos alimentares. Estes predispõem um para escolher alimentos com alto teor de gordura e alto teor de carboidratos e aumentam a ingestão energética como um todo. Segundo o consenso da Academia Americana de Medicina do Sono (2017), a recomendação para adultos (18-60) é de um sono acima de 7 horas por noite. 15 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO A hora do dia desempenha um papel importante na integração do metabolismo e energia, bem como índices fisiológicos como padrões de secreção hormonal, coordenação física e sono. Especificamente, comer refeições no ciclo circadiano anormal (isto é, tarde da noite) é a hipótese para levar à desincronização circadiana e subsequente ruptura do normal padrões de sono. Além disso, Muitas funcoes do trato gastroinetstinal exibem um robusto ritmo cicardiano e ritmo sono-vigilia. Por exemplo, esvaziamento gastrico e fluxo sanguineo sao maires durante o dia do que a noite e respostas metabolicas sobre carga de gliucose sao menores durante a noite comparado ao dia. Para compreensão do ciclocircadiano, o entendimento de alguns termos se faz necessário. A tabela abaixo explica: 16 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO ZEITGEBER Literalmente significa 'time giver' e refere- se a qualquer estímulo de reset que serve como uma sugestão de tempo para o ambiente externo. Luz e ingestão de alimentos são exemplos clássicos de zeitgebers para o núcleo supraquiasmático (SCN) e relógios não-SCN, respectivamente. RITMO CIRCADIANO OU CICLO CIRCADIANO Circadiano significa literalmente "cerca de um dia" e refere-se a um ritmo cujo ciclo completo se repete próximo a cada 24 h. Para demonstrar que um ritmo circadiano é gerado endogenamente, o ritmo deve ser medido em condições constantes (isto é, na ausência de zeitgeber) RITMO DIURNO Uma medida fisiológica (por exemplo, transcrição gênica,expressão proteica, temperatura corporal, comportamento) que exibe mudanças diárias através do ciclo claro-escuro de 24 horas, de tal forma que o (s) pico (s) e o nadir ocorram a ~ 12 h de distância ou em uma freqüência que seja harmônica de 24 h. Em condições nas quais um zeitgeber está presente (por exemplo, um ciclo claro-escuro), é impossível dizer se um ritmo diurno é gerado endogenamente ou uma resposta aguda ao zeitgeber. O ciclo circadiano é regulado, sobretudo pelo Major Clock presente no núcleo supraquiasmático do hipotálamo, que se comunica com relógios periféricos presentes em todos os 17 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO tecidos do corpo, que regulam os processos maneira rítmica Alguns fatores são capazes de causar um desalinhamento entre o Clock Central e os Clocks Periféricos, observe a tabela abaixo: FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA A PRIVAÇÃO E DISRUPÇÃO DO CICLO CIRCADIANO TRABALHO NOTURNO - SHIFT WORK JET LAG CAFEÍNA ANSIEDADE E PREOCUPAÇÃO DESORDENS DO SONO BARULHOS E RUÍDOS CLARIDADE E LUZ Os distúrbios do sono alteram a cognição e o desempenho em muitos domínios, incluindo atenção/vigilância, função executiva, reatividade emocional, formação de memória, tomada de decisão. As consequências em curto prazo da interrupção do sono incluem aumento da responsividade ao estresse; problemas somáticos; qualidade de vida reduzida; aflição emocional; transtornos de humor e outros problemas de saúde mental; cognição, memória e déficits de desempenho. As consequências a longo-prazo da interrupção do sono em indivíduos saudáveis incluem hipertensão, dislipidemia, DCV, obesidade, síndrome metabólica e DM2. Evidências sugerem que a interrupção do sono pode aumentar o risco de certos tipos de câncer. Um estudo realizado por Spaeth et al (2013) com 225 indivíduos saudáveis com IMC acima de 25kg/m² avaliou a restrição do sono no ganho de peso, ingestão calórica e horário das refeições. Os indivíduos passaram por duas noites iniciais de base dormindo de 10 a 12h seguido por cinco noites de sono restrito a 4 horas versus o grupo controle que dormiu 10h todas as noites. Os indivíduos consumiram significativamente menos calorias de 08: 00-14: 59 nos dias após a restrição do sono (SR1-5) em comparação com os dias após o sono basal (BL e EW). Durante dias com 18 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO uma hora de dormir atrasada (EW, SR1-4), os indivíduos consumiram em média 552,9 calorias de 22: 00- 03: 59. Uma revisão sistemática de 16 estudos clínicos randomizados ou não com 496 indivíduos adultos avaliou a privação de sono e a ingestão alimentar. As diretrizes da National Sleep Foundation recomendam 7-9 h de sono por noite para adultos de 18 a 64 anos e um sono menor que 6h pode comprometer a saúde e o bem-estar. A privação parcial do sono é diferente de restrição completa. Em relação a curta duração de restrições parciais do sono, o estudo incluso de maior duração foi de 2 semanas. A privação do sono pode causar desregulação dos hormônios leptina e grelina, levando a um aumento na ingestão energética. Os estudos que estão sendo realizados ao lado de qualquer outra intervenção, tais como dietas de perda de peso / regimes de exercícios, foram excluídos e os riscos de viés não eram claros. Consequências negativas para a massa muscular durante padrões alterados de sono e alimentação são observados. Efeitos causados pela resistência periférica a insulina, aumento do cortisol basal e redução da concentração de outros hormônios anabólicos são responsáveis por esse processo. Um estudo randomizado e crossover realizado por Nedeltcheva e colaboradores (2010), com 10 individuos sobrepesos (3 mulheres e 7 homens), idade média 41 anos e IMC média de 27.4 Kg.m², avaliou 14 dias de moderada restrição calórica e um protocolo de 8,5h de sono x 5,5h de sono e coletou dados de gordura, MLG, hormônios, fome e gasto energético. Obteve como desfecho primário: perca de gordura e massa livre de gordura e como desfecho secundário: mudanças de utilização de substrato, gasto energético, fome e na concentração de hormônios metabólicos de 24 horas. Ambos os tratamentos foram acompanhados por perda de peso semelhante (aproximadamente 3 19 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO kg), Porem, a composição corporal perdido foi diferente; Aqueles que estavam no grupo RC (restrição calórica) e com sono de 8.5 horas, perdeu 1.5kg de massa livre de gordura e 1.4kg de gordura corporal. Mas, o grupo RC + restrição do sono 5.5 horas, perdeu 2.4kg de massa livre de gordura e 0.6kg de gordura. A diferença em quociente respiratório entre os 2 tratamentos sugerem que a perda do sono foi acompanhada por mudanças no substrato e sua utilização, o que está de acordo com o observado, poupando gordura corporal. Importante: Início: Em resumo, a exposição do excesso de peso de meia-idade adultos a 2 semanas de energia combinada e restrição de sono produziu um estado catabólico caracterizado por perda reduzida de gordura corporal e aumento da perda de massa corporal sem gordura, acompanhada pelo aumento da fome e mudanças no gasto de energia e o controle neuroendócrino da utilização do substrato. Fim: RESUMO A MÁ QUALIDADE SONO E A RESTRIÇÃO DE HORAS DE SONO REDUZ O CONTROLE DO APETITE AUMENTO DE GRELINA E OREXINAS E REDUÇÃO DE LEPTINA ELEVAÇÃO DE ACTH, CATECOLAMINAS E CORTISOL INFLAMAÇÃO SISTÊMICA COM TNF-a, IL-1, IL-6 E PCR 21 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 3. DIETA E QUALIDADE DO SONO A razão TRIPTOFANO/LNAA (large neutral amino acids) atinge seu limite superior entre 2 – 4 hrs apóx ingestão de uma refeição rica em carboidratos. Eis possíveis mecanismos de influência de componentes alimentares na síntese de serotonina e melatonina. 1) A dieta como fonte de TRP que é metabolizado no cérebro para serotonina, melatonina e niacina e parcialmente usado como fonte de síntese protéica. 2) Influência dietética no transporte de TRP para o cérebro: outros componentes dietéticos, como CHO e outros LNAAs, afetam a intensidade do TRP ao cruzar a barreira hematoencefálica. 3) Estimulando a síntese de serotonina e melatonina: 5- HTP é convertido em serotonina por uma enzima, AADC, que necessita de piridoxina (vitamina B6) e enzima arilalquilamina-N- acetiltransferase (NAT) que necessita de ácidos graxos n- 3. 4) Disponibilidade de TRP para a síntese de serotonina e melatonina: TDO é uma enzima que catalisa a reação química do TRP à formilcinurenina, que é 22 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO rapidamente convertida em kinurenina e, finalmente, na niacina. A Niacina (vitamina B3) suprime a atividade de TDO, deixando assim mais TRP para ser usado na síntese de serotonina.Um alto nível pós-prandial de insulina após uma carga de carboidratos favorece o transporte de TRP para o cérebro; a insulina promove a absorção periférica das outros LNAAs. A insulina medeia a absorção de LNAAs no músculo, mas não no TRP, que é largamente ligado à albumina plasmática. A vitamina B3, ou a niacina, suprime a atividade da 2,3-dioxigenase de triptofano (TDO), que é uma das principais enzimas na conversão de TRP em niacina. A vitamina B6, piridoxina, é necessária pela AADC, que, por sua vez, é necessária para converter 5-HTP em serotonina. Um consumo proteico adequado antes de dormir é indicado para potencializar os efeitos de síntese proteica. Um estudo comparando essa suplementação de PTN antes de dormir X em outro horário do dia. Foi-se utilizado um placebo não calórico ao invés de CHO ou PTN em outro horário do dia. É necessário no mínimo 40g de PTN para induzir um aumento na síntese proteica muscular quando acessada por um período de sono de 7,5hrs. Os autores também obtiveram como resultado que O consumo de caseína antes de dormir não afeta o metabolismo glicídico e lipídico durante a noite ou de manhã em indivíduos obesos. OPÇÕES PROTEICAS PARA CEIA (40G/PTN) 7 OVOS INTEIROS COZIDOS 160G CARNE MAGRA 176G PEITO DE FRANGO 2 SCOOPS DE CASEÍNA Dietas da Moda 1. Jejum Intermitente Uma revisão sistemática com 15 estudos em campo ou laboratório encontrou os seguintes resultados: ● 64.7% dos estudos não achou efeitos significativos da frequencia alimentar em relação ao peso corporal e IMC ● 57.1% dos estudos relatam que uma maior frequencia alimentar ocasiona uma maior redução da fome ● 81.8% dos estudos não acharam efeitos da 23 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO frequencia alimentar sobre a glicemia ● Comer com maior frequência não ajuda necessariamente na redução do consumo energético ou no emagrecimento. ● Estudo controlado, n>= 8 sujeitos sedentários ou moderadamente ativos, Idade 25-75 IMC 25-40 kg/m², Duração 3-24 semanas. ● Avaliou diferentes protocolos: Jejum Intermitente- Restrição do consumo energético de 1- 3dias/semana acompando de dias alimentados sem restrições Jejum em dias alternados - Consumo de 25% das necessidades energéticas em um dia seguido por 1 dia de alimentação sem restrições Restrição calórica diária - Restrição de 25-50% das necessidades energéticas. Resultados: ● Redução das concentrações de insulina de 11-41% após 6-12 semanas de restrição calórica diária; ● Redução das concentrações de insulina de 20-31% após 8-12 semanas de Jejum intermitente e jejum em dias alternados. Conclusão do Estudo: Restrição calórica intermitente é similar ou ligeiramente inferior a restrição diária e a melhora da sensibilidade a insulina está ligada ao grau de restrição calórica 2. Dieta sem Glúten A doença celíaca é uma doença que afeta o intestino delgado interferindo na absorção de alguns nutrientes como o glúten. Celíacos não produzem a enzima peptidase, enzima (quebra do Gluten), sendo assim o consumo de alimentos contendo gluten (trigo, aveia, cevada, centeio) provoca sintomas como diarréia, vomitos, dor abdominal, falta de apetite e perda de peso. Para os indivíduos que não apresentam restrição ao consumo do gluten, ao fazer a retirada desse nutriente acabam assim também excluindo grande parte de alimentos que atuam como fonte de carboidratos. Gluten não engorda, e deve ser respeitado sempre a 24 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO questão do equilíbrio. ● Estudos recentes sugerem que sensibilidade ao glúten podem ser confundidos por maior sensibilidade a fermentação de moléculas pouco absorvidas, de carboidratos de cadeia curta, conhecido como oligo fermentáveis, di- e monossacarídeos e polióis ● Estudos epidemiológicos não mostram que a dieta sem glúten possa contribuir para a perda de peso de indivíduos que são celíacos. ● Recentes estudos mostram possível efeito deletério na microbiota intestinal quando é ingerida dieta sem glúten. ● Não há evidência suficiente que consumir dieta sem glúten traga algum benefício para indivíduos saudáveis. 3. LOW CARB/ Zero Carb para Emagrecimento A dieta mediterrânea e Low Carb são alternativas eficazes para a dieta de baixo teor de gordura para perda de peso e parecem ser tão seguro quanto a dieta de Low fat. Além de produzir perda de peso neste grupo moderadamente obeso, as dietas de Low Carb e Mediterrâneo tiveram alguns efeitos metabólicos benéficos. O déficit calórico semelhante alcançado em todos os grupos de dieta sugere que uma dieta baixa em carboidratos, sem restrição de calorias pode ser ideal para aqueles que não seguirão um regime dietético de calorias restritas. A dieta ideal é a com melhor adesão pelos indivíduos para que eles possam permanecer na dieta o maior tempo possível. Qual é o efeito de uma dieta saudável com baixo teor de gordura (LF) versus uma dieta saudável com baixo teor de carboidratos (LC) na mudança de peso aos 12 meses e esses efeitos estão relacionados ao padrão genotípico ou à secreção de insulina? Ensaio clínico 25 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO randomizado entre 609 adultos com sobrepeso, a mudança de peso em 12 meses não foi significativamente diferente para os participantes, e não houve dieta significativa interação -genótipo ou interação dieta-insulina com perda de peso de 12 meses. Não houve diferença significativa na perda de peso de 12 meses entre as dietas, e nem o padrão genotípico nem a secreção basal de insulina foram associados com os efeitos da dieta na perda de peso. Ambos os grupos de dieta no estudo atual foram instruídos para minimizar ou eliminar grãos refinados e açúcares adicionados e aumentar a ingestão de vegetais. Concluímos que, quando se dá igual ênfase à alta qualidade da dieta, tanto para os planos de baixo teor de gordura quanto para carboidratos, não é útil. para preferencialmente direcionar um indivíduo com alto nível de secreção de insulina que procura perda de peso para seguir um plano de alimentação com carboidratos mais baixo em vez de um plano de dieta com baixo teor de gordura. Não foram dadas instruções explícitas para restrição de energia (Kcal). Ambos os grupos de dieta foram instruídos a (1) maximizar a ingestão de vegetais; (2) minimizar a ingestão de açúcares adicionados, farinhas refinadas e gorduras trans; e (3) concentrar-se em alimentos integrais minimamente processados. É possível que as dietas isocalóricas que diferem em CHO e gorduras possam ter efeitos gerais sobre a saúde sem relação com a gordura corporal total ou o gasto energético. Por exemplo, os carboidratos dietéticos podem desempenhar um papel importante na determinação da localização anatômica das reservas de gordura corporal, com dietas mais altas em carboidratos refinados, levando a um aumento da gordura visceral e hepática. A composição da dieta também pode influenciar o consumo de energia quando a quantidade de dieta consumida não é controlada. Por exemplo, dietas very low CHO podem reduzir o apetite, promovendo um aumento nas cetonas circulantes. No entanto, os estudos de dieta de perda de peso a longo prazo que visam diferentes ESTRATÉGIA BEM SUCEDIDA = MUDANÇA DO ESTILO DE VIDA Qual a estratégia mais aconselhável? Aquela que dê Prazer ao Indivíduo = Aderência 26 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO macronutrientes demonstram trajetórias de peso corporal semelhantes, correspondentes a uma decadência exponencial similar da aderência à dieta com todas as dietas. 4. Dieta Cetogênica Composta majoritariamente de lipídios a fim de obter energia pormeio da produção de corpos cetônicos. A quantidade de carboidrato é reduzida e restrita, com valores variáreis de acordo com o autor: ● < 50g CHO/d Volek & Sharman (2004), Paoli et al (2013) e Mullins et al (2011) 20g/d ou <5% carboidrato ao dia Paoli et al (2015). ● Proteína: 1.3-1.7g/kg de peso, Paoli et al (2015) Na: 3-5g/d, K: 2-3g/d Phinney (2004). ● Cetoadaptação demora 2 - 3 semanas - Volek et al (2014). Acetoacetato é altamente instável e se dissocia nos outros 2, a acetona é bastante volátil e tbm é eliminada na urina, portanto o beta- hidroxibutirato é o corpo cetônico com maior concentração circulante (PS: por questões quimicas, não se deve chamar o beta- hidroxibutirato de corpo cetônico). Nos primeiros dias de dieta cetogénica a principal fonte de glicose é através neoglicogênese a partir de aminoácidos (AA), como os dias 27 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO passa, a contribuição de AA diminui enquanto a quantidade de glicose derivada de glicerol aumenta. Uma revisão sistemática realizada por Gibson e colaboradores avaliou a supressão do apetite em relação à dieta cetogênica de individuos obesos e sobrepesos de 30 a 55 anos a partir de intervenções cetogênicas de 4 a 12 semanas com < 50g de carboidrato/dia. Apetite acessado através da escala análoga visual onde os participantes responderam a alguns questionamentos sobre fome/saciedade. Mensurações na baseline em balanço energético e durante a cetose. Um estudo realizado por Hall et al. (2016) com 17 indivudos com sobrepeso e obesidade avaliou a composição corporal após uma cetogenica isocalórica. Confinaram os participantes em uma câmera metabólica aonde eles providenciaram as refeições todas as semanas, os indivíduos passaram 2 dias consecutivos residindo em câmaras metabólicas para medir o gasto energético total diário, o QR e o gasto energético do sono. A composição corporal foi medida por DXA, e o gasto energético médio durante as últimas 2 semanas de cada período de dieta foi medido pelo método DLW . Ambos os menus Brand Diet e Keto Diet continham quantidades mínimas de alimentos processados e, apesar das grandes diferenças na composição de macronutrientes e no teor de açúcar, o BD não incluía grandes quantidades de açúcares adicionados ou líquidos. A ingestão de energia foi determinada semanalmente para cada indivíduo durante o período inicial de BD, utilizando a média do gasto energético para a semana anterior. Essas perdas de peos não foram intencionais. Nos primeiros 15 dias houve grande perda de peso inicial (- 1.6kgs) na cetogênica porém foi primariamente de retenção (1.3kgs). O balanço energético negativo foi provavelmente devido ao aumento da atividade física nos dias sem câmara, como indicado por um aumento de 21% no acelerômetro nos dias fora da câmara. A perda de peso foi acelerada durante as primeiras 2 semanas do KD, mas a taxa de perda de gordura corporal diminuiu durante esse período. Durante as 2 semanas finais da KD, tanto as taxas de peso corporal como a perda de gordura foram semelhantes às da linha de base. (C) O balanço energético negativo calculado durante as últimas 2 semanas do período de referência (BD-15 a 0 e o período KD (15-28 d) 28 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO não foi significativamente diferente se avaliado pelas alterações de composição corporal medidas (DXA) ou calculando o consumo de energia menos o gasto medido pelo água duplamente marcada. Conclusões acerca dos estudos: ● A transição para a dieta cetogênica reduziu Insulina, QR, T3 e T3L e aumentou AGL e corpos cetônicos ● A transição para a dieta cetogênica aumentou o GE em ~100kcal/dia, esse aumento foi diminuído ao longo do tempo ● A taxa de perda de gordura durante as 2 semanas finais do KD foi semelhante à do período de referência. ● Grande parte da perda de peso com a dieta cetogênica foi provavelmente proveniente da água, e não da perda de tecidos metabolicamente ativos. ● O rápido aumento na 1º semana do SEE e EE câmera pode ser devido a cetogênese e gliconeogênese. ● Grande parte da perda de peso com a dieta cetogênica foi provavelmente proveniente da água, e não da perda de tecidos metabolicamente ativos. ● O processo de hipertrofia se torna prejudicado devido menor ação da mTOR ● Intervenção com exercício resistido pode atenuar a perda de massa magra ● Aumento do colesterol total e redução dos triglicerídeos ● LDL maior tamanho e menos aterogênica ● Melhora na sensibilidade a insulina ● Grande efeito sacietógeno Manutenção do Peso A manutenção do peso perdido é um desafio após a recuperação do estado nutricional e é prejudicada por um complexo de interações ambientais, biológicas e comportamentais. Uma manutenção de 5~10% do peso perdido a longo prazo (no mínimo 1 ano) é caracterizada como bem sucedida, pois já é suficiente para 29 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO reduzir os riscos de fatores associados a obesidade. Programas bem sucedidos de manutenção do peso perdido são alcançados através da mudança do estilo de vida. A falta de intervenções cognitivas intensivas têm sido sugeridas como uma das razões para a limitada efetividade em um programa de redução de peso a longo prazo. Indivíduos com maior auto controle são mais propensos a manter o peso perdido comparado a sujeitos que percebem que sua vida é regulada por algo além de seu controle. Deve-se estimular a adoção de uma abordagem multidisciplinar baseada na mudança do estilo de vida para o tratamento da obesidade. O manejo de peso a longo prazo é extremamente desafiador devido às interações entre nossa biologia, comportamento e o ambiente obesogênico (alimentos industrializados mais calóricos e processados) + sedentarismo, fatores que contribuem para um balanço calórico positivo. Além das adaptações no GE com a perda de peso, o peso corporal é regulado por circuitos de retroalimentação negativa que influenciam a ingestão de alimentos. A perda de peso é acompanhada por adaptações endócrinas persistentes que aumentam o apetite e diminuem a saciedade, resistindo, assim, à perda de peso contínua e conspirando contra a manutenção do peso a longo prazo. As mudanças de apetite provavelmente desempenham um papel mais importante do que a redução do metabolismo ao explicar o patamar de perda de peso porque o circuito de feedback que controla a ingestão de calorias de longo prazo tem uma força global maior do que o circuito de feedback que controla o gasto calórico. 30 31 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO IA 5. 4. ESTRATÉGIAS PARA A ANSIEDADE A ansiedade e condições relacionadas são caracterizadas por um desequilíbrio nos neurotransmissores, podendo ser caracterizada por excesso de glutamato indicando alta excitação neural. Algumas estratégias fitoterápicas podem ser utilizadas a fim de melhorar essa condição e, desse modo, melhorar indiretamente a qualidade do sono. Alguns dos alcaloides e flavonoides presentes na Passiflora Incarnata atuam pelo mesmo mecanismo ação dos inibidores de monoaminases, reduzindo a degradação de serotonina, aumentando a disponibilidade para a produção de melatonina, hormônio diretamente relacionado com o sono e com o ciclo claro- escuro, essencial para a indução do sono. Mecanismo de ação de alguns dos compostos fenólicos presentes na Passiflora e na camomila: modulador alostérico positivo dos canais de Gaba por meio dos receptores benzodiazepínicos, aumentando a disponibilidade do neurotransmissor pela ligação nos receptores Gaba A ligados a efeitos PASSIFLORA INCARNATA MELISSA OFFICINALIS MATRICARIARECUTITA (CAMOMILA) CROCUS SATIVA L. THEANINA 32 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO IA 5. sedativos, hipnóticos e de amnésia. A estrutura química da L- teanina assemelha-se à do L- glutamato e compete com ele em receptores de glutamato. O influxo excessivo de cálcio é uma das razõs da neurotoxicidade, fator esse que eleva os sintomas da ansiedade presentes frequentemente na condição de restrição do sono. A teanina é uma estratégia a ser utilizada devido à competição com os recepetores de glutamato. O zinco é um cofator essencial para mais de 300 enzimas e 1000 fatores de transcrição. Uma deficiência moderada de zinco às vezes é observada em seres humanos e é responsável pelo retardo do crescimento, hipogonadismo masculino, alteração do paladar, cicatrização ineficaz de feridas e sistema imunológico, além de retardo mental. Também desempenha um papel importante na sinalização celular e na modulação da atividade neuronal. As proteínas de dedo de zinco desempenham papéis fundamentais nos mecanismos de replicação de DNA e regulação de transcrição. O zinco é liberado junto com o glutamato por neurônios glutamatergicos na fenda sináptica e é capaz de modular a atividade dos receptores de glutamato NMDA e AMPA, além de outros receptores associados a outros neurotransmissores (adenosina, dopamina, serotonina, etc...). O açafrão (Crocus sativa L.) foi avaliado em estudo com suplementação de 50mg 2x ao dia. Parece que crocina e safranal presentes no açafrão inibem a recaptação de dopamina, norepinefrina e serotonina. Estudos recentes revelaram que o açafrão possui propriedade antidepressiva efetiva; o estigma e até mesmo as pétalas de L. sativus foram demonstradas eficazes na depressão de manejo tanto em humanos como em ansiedade principalmente em estudos com animais. O açafrão pode exercer seu efeito antidepressivo ao moderar os níveis de certos neurotransmissores, que incluem serotonina. Embora tenha sido sugerido que o açafrão aumenta os níveis de serotonina no cérebro, o mecanismo preciso de ação para isso não é identificado. Mais especificamente, o extrato de açafrão pode inibir a recaptação de serotonina em sinapses. A inibição da recaptação de serotonina sináptica mantém os níveis de serotonina no cérebro, sendo este mecanismo sugerido é apoiado por estudos em animais. Compulsão Alimentar 33 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO IA 5. Compulsão é definida como períodos curtos de consumo excessivo de alimentos que não são motivados pela fome ou necessidade metabólica; e está fortemente associada ao sobrepeso/obesidade, pois está associada ao consumo de alimentos altamente palatáveis (ricos em gordura saturada e açúcar). Uma vez que o açúcar é introduzido (mesmo em ratos de laboratório já adictos à cocaína), os ratos quase sempre passarão para o consumir mais açúcar. Isso ocorre porque a recompensa do açúcar supera a da cocaína. Consumir açúcar produz efeitos semelhantes aos da cocaína, alterando o humor, possivelmente através da sua capacidade de induzir recompensa e prazer, levando à busca de açúcar. Infelizmente o ser humano ainda não se adaptou à intensa recompensa que se segue após o consumo de açúcar refinado e a sua disponibilidade 24hrs desses açúcares (ambiente obesogênico bem diferente do ambiente em que nosso genoma se desenvolveu). As sensações doces são um dos prazeres sensoriais mais intensos que os humanos experimentam nos dias modernos, apesar de não haver necessidade fisiológica para o consumo de um único grama de açúcar refinado, pois, tecnicamente, não existe um "carboidrato essencial" (ao contrário da proteína ou da gordura). Hoje em dia, o açúcar foi refinado para o estado de uma substância química. Na verdade, quando a cana de açúcar é esmagada e drenada de todos os seus teores líquidos, cozida a um xarope, balançada e depois despejada de todas as suas vitaminas, minerais e melaço, ficamos com cristais brancos puros. Este processo de extração e refinamento é semelhante ao de outros cristais brancos viciantes, isto é, cocaína da folha de coca e ópio da papoula. Assim, é o refinamento do açúcar que aumenta significativamente suas propriedades aditivas. Os alimentos doces e com alto teor de gordura são preferidos por aqueles com transtornos de compulsão alimentar e que essas preferências são mediadas pelo sistema de opióides endógenos. Após várias semanas a meses de consumo crônico de açúcar, o período entre a ingestão de açúcar pode causar "deficiência de dopamina" no cérebro devido à menor expressão dos receptores D2 da dopamina e uma redução na ligação da dopamina a esses receptores. Mas por que a 34 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO IA 5. deficiência de dopamina no cérebro é um problema? Quando o cérebro está com baixos níveis de dopamina, isso pode levar à abstinência. E essa abstinência pode levar a uma contínua ingesta de açúcar que leva ao vício. A abstinência ao açúcar é menos óbvia em comparação com drogas aditivas, mas isso não significa que a abstinência de açúcar não exista no cérebro. Durante períodos sem açúcar, um estado leve de depressão pode resultar devido à deficiência de dopamina, que pode ser aliviado temporariamente consumindo mais açúcar (daí o termo "fixação no açúcar"). Isso leva a um ciclo vicioso de altos e baixos de dopamina, perpetuando a ingestão contínua de açúcar e a dependência à sua ingestão. O açúcar e os carboidratos de alto índice glicêmicos também têm um efeito na serotonina cerebral. Depois de consumir uma refeição com alto teor de açúcar ou carboidratos, há uma onda de serotonina cerebral. Em outras palavras, as pessoas podem consumir açúcar demais, porque isso os faz se sentir melhor. Ao longo do tempo, isso pode levar à depleção de serotonina no cérebro, perpetuando a dependência ao açúcar. Como discutimos, esses pacientes também tendem a ser deficientes em dopamina com redução da expressão de receptores D2 de dopamina. Esta combinação pode explicar a associação da obesidade com muitos outros distúrbios cerebrais como depressão, transtornos de ansiedade, transtorno bipolar e TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade). Um estudo publicado na Nutrients (2017) buscou avaliar os efeitos metabólicos agudos de 1 quadro de compulsão, realizado com 15 indivíduos saudáveis e fisicamente ativos (min 30min - 3x/semana). Realizaram TOTG na baseline, seguiam dieta normal durante 6 dias e Dia 7 – Dieta experimental com um acréscimo de 78% nas calorias e dia 8 – segundo TOTG. Foi evidenciada que um episódio de compulsão é suficiente para prejudicar a sensibilidade a insulina em indivíduos jovens e saudáveis por meio dos testes realizados. Termogênicos 35 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO IA 5. Figura: tecido adiposo marrom, bege e branco. O aumento da oxidação de energia e liberação em forma de calor é uma propriedade do tecido adiposo marrom (BAT), sendo caracterizado por um alto número de mitocôndrias e por uma densa vascularização, especializado na utilização de lipídios para produzir calor por meio das proteínas UCP-1. A sinalização através de receptores de peptídeos natriuréticos e agonistas B3 ativam fatores de transcrição responsáveis pelo aumento do conteúdo mitocondrial do tecido adiposo e da expressão de UCP-1 e ativação de receptores TRVP. BAT produz calor durante a exposição ao frio e durante overfeeding espontâneo através do aumento da expressão da UCP-1, já o tecido adiposo branco é responsável pelo armazenamento de TG. Aumentar a atividade do BAT como medida para combater a obesidade e suas doenças relacionadas m aumento na quantidade/atividadedo BAT é principalmente regulada pelo aumento do fluxo simpático para o BAT, através da ativação de receptores TRP. Alguns fitoterápicos podem auxiliar na eficiência dessa termogênese, como a capisaicina. Uma meta análise por Judy et al. (2011) com 44 estudos que buscaram avaliar o efeito termogênico da capsaicina e do capsiate, bem como uma alteração no QR encontrou efeitos positivos em individuos obesos com dosagem de 135mg/d , doses menores que 33mg/d não fizeram efeito. Outra possível intervenção é o uso da erva mate, Segundo estudos in vivo, in vitro e em animais, a Ilex paraguarensis suprime a diferenciação de adipócitos, mobiliza os triacilgliceróis e reduzem a inflamação. Os principais constituintes da erva mate são a cafeína, saponinas triterpenóides derivadas do ácido ursólico, flavonoides, entre outros. O chá é preparado por infusão colocando água quente e uma colher de chá de folhas trituradas (2g) por 36 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO IA 5. xícara deixando por 5 – 10 minutos. Efeito na oxidação de ácidos graxos (1000mg + exercício físico). O chá verde também é uma possível estratégia bem consolidada. (Segundo estudos in vivo e em modelos animais: Inibição da proliferação de pré-adipócitos; baixa da atividade de enzimas digestivas, emulsificação; downregulation de enzimas lipogênicas; anti-hipertrofia de adipócitos; entre outros efeitos antiobesidade). Atua na inibição da COMT. Possui ação sinérgica com a cafeína: (EGCG + Cafeína) *média (200 – 600mg). Melhora a oxidação em repouso e em exercício; nora e adrenalina. Outro ponto interessante a administração de Chá verde e Capsacina. A EGCG necessita de cafeína para estimular mais a oxidação (efeito sinérgico). 37 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 8. 38 5. ESTRESSE E ADAPTÓGENOS Um estado de ativação-resposta ao estresse diminuído cronicamente (isto é, a resposta ao estresse não é mais aguda, de defesa, e sim de manutenção homeostática para sobrevivência) está associado a supressão da sensação de bem-estar. Os adaptógenos normalizam o aumento crônico de cortisol/corticosterona no sangue e na saliva de animais e humanos pela interação com os receptores glicocorticoides. Embora o estresse curto e leve (eustresse) seja essencial à vida, o estresse severo pode causar depressão da doença, que está associada à geração de moléculas ativas que contêm oxigênio, incluindo o óxido nítrico, conhecido por inibir a formação de ATP. A proteína sinalizadora induzida por estresse JNK inibe aosGR; consequentemente, esta normalização de feedback é bloqueada e o conteúdo de cortisol no sangue de pacientes depressivos é permanentemente alto. Isso está NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 8. 39 associado a memória prejudicada, capacidade prejudicada de concentração, fadiga e outros sintomas. Os adaptógenos suprimem a JNK e o cortisol elevados no estresse e estimulam a formação da HSP70, proteína conhecida por também inibir a via de transcrição JNK. Levar em consideração que cada indivíduo responde de maneiras diferentes a diversos tipos de estresse sobretudo devido às características genéticas de cada um, ao tempo de exposição ao estresse, dieta, medicamentos etc. Adaptógenos são definidos como compostos não tóxicos, com mecanismos de ação farmacológicos polivalentes relacionados a adaptação e sobrevivência” . Em tese, os adaptógenos são capazes de atuar como “reguladores” metabólicos os quais aumentam a capacidade do organismo de se adaptar a meios estressantes e prevenir possíveis danos causados pelos mesmos. Durante exercícios e desafios cognitivos, recepotres pós- sinápticos pra glutamato, serotonina e acetilcolina são ativados para desencadearem cascatas de sinalização e fatores de transcrição que induzem a expressão de proteínas neuroprotetoras, incluindo o BDNF, proteínas acopladoras mitocondriais (UCPS) e proteínas antiapoptóticas como (BCL-2). Mecanismos de resposta adaptativa ao estresse de acordo com a via de transcrição de cada neurotransmissor, ATP e ROS. Esses micronutrientes envolvidos na síntese de melatonina também podem ser obtidos por meio da ingestão dietética. Um omelete de frango e aveia fornece 454mg de triptofano, 2,37mg de zinco e 37,16mg de magnésio formando uma ótima opção de jantar. Uma vitamina de abacate com aveia e cacau fornece 103,4 mg de triptofano, 1,29 mg de zinco e 71,13 mg de magnésio formando uma ótima opção de ceia. Essa combinação de jantar + ceia fornece 557mg de triptofano, 3,66mg de zinco e 108,29mg de magnésio, sendo o equivalente a 7,9 mg/kg de peso de triptofano para uma pessoa de 70kg. NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 8. 40 NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 10. 42 6. MICROBIOTA E OBSIDADE O processo de simbiose evolutiva constitui a relação de interdependência entre humanos e bactérias. Em um intestino saudável, a presença de polissacarídeos não digeríveis prebióticos atuam como substrato para a produção de vitaminas do complexo Be K, ácidos graxos de cadeia curta, auxilia na metabolização de xenobióticos, na otimização imunólogica, atua no combate à patógenos e na motilidade do tratogastrointestinal. Esse contexto ocorre quando estamos falando de uma microbiota saudável, com uma quantidade de bactérias patogênicas controlada. O termo microbiota intestinal descreve os vários espécies microbianas comensais (supostamente> 500) no trato gastrointestinal.16 Os filos bacterianos dominantes o intestino humano são Bacteriodetes (por exemplo, Bacteriodes spp), Firmicutes (por exemplo, NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 10. 43 Clostridium e Bacillus spp), e Actinobacteria (por exemplo, Bifi dobacterium spp), e o total denúmero de micróbios na mucosa intestinal é estimado para exceder 100 trilhões. A microbiota residente cada vez mais reconhecido como tendo papéis cruciais no hospedeiro funcionamento e, posteriormente, em saúde e doença. Algumas das principais funções da microbiota comensal na mucosa intestinal incluem: (1) fornecimento de resistência a infecção por microrganismos patogênicos por meio de competição por nutrientes e locais de fixação e produção de substâncias antimicrobianas; (2) promoção de proliferação e diferenciação de células epiteliais para manter uma superfície intacta da mucosa; (3) promoção do desenvolvimento do tecido linfóide associado ao intestino via iniciação da maturação e diferenciação das células dendríticas de linfócitos B e T; e (4) colheita de energia de grãos não digeríveis de amidos dietéticos. O potencial para a microbiota intestinal para contribuir para a produção de energia é de particular interesse no contexto da obesidade. Na disbiose, a sinalização microbiana para o sistema imunológico pode ser importante para a manutenção do estado disbiótico, os microrganismos patológicos que surgem sob condições inflamatórias contribuem para a perpetuação da inflamação, preservando assim as condições que favorecem seu próprio crescimento. A disbiose é caracterizada por bactérias patogênicas, é favorecida na infância desde a vida intrauterina por inflamação, aditivos alimentares, uso excessivo de adoçantes, utilização de fórmulas, hábitos de higiene, dieta e infeçoes. A disbiose também é caracterizada por metabólitos bacterianos e suas toxinas como TMAO, SCFAS, ácidos biliares. Peptídeos antimicrobianos e muco controlam a interação da NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 10. 44 microbiota com as células epiteliais intestinais que expressam os receptores de reconhecimento padrão das bactérias. Respostainflamatória das células epiteliais aos PAMPS das bactérias comensais (partículas) que causam prejuízo nas forças de tight junction mediado por citocinas c/ INF-gama e IL-1B, redução de mucinas e peptideos antimicrobianos, ocasionando aumento da permeabilidade intestinal e endotoxemia. O reconhecimento específico de micróbios pelo sistema imune inato também conduz a tolerância inespecífica no intestino. Os ácidos graxos de cadeia curta têm sido sugeridos como um mediador através do qual a microbiota intestinal pode promover a integridade da mucosa intestinal, embora os mecanismos que impulsionam esses efeitos ainda não estejam totalmente identificados. Ácidos graxos de cadeia curta (principalmente acetato, propionato e butirato) são o produto da fermentação bacteriana do amido dietético não digerível (um prebiótico reconhecido), predominantemente no cólon. O butirato é particularmente reconhecido como a principal fonte de energia para as células epiteliais do cólon, e acredita-se que estimulam o fluxo sangüíneo e a secreção de hormônios intestinais, aumentam a captação de fluidos e eletrólitos e aumentam liberação de mucina que contribui para um efeito NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 10. 45 trópico local e mantém a integridade da mucosa intestinal. Uma dieta pobre em fibras reduz a produção de ácidos graxos de cadeia curta, além de que a característica do comportamento alimentar envolvido na gênese da obesidade pode ser avaliado como uma dieta rica em gorduras, em sua maioria saturadas e trans e pobre em fibras, o que aumenta o tempo de fermentação intestinal nos obesos gerando extração de energia nas fezes. Estudos que atribuíam alguns malefícios a dietas high protein também eram LOW CARB e provavelmente com baixo aporte de fibras (redução AGCC), além de serem por vezes dietas HIGH FAT sendo assim dois grandes vieses. Uma dieta adequada deve ter um equilíbrio entre fibras solúveis e insolúveis para adequado funcionamento intestinal e fermentação bacteriana. O uso de probióticos é uma estratégia atualmente consolidada para o tratamento da disbiose e deve ser realizada em longo prazo a fim de proporcionar uma mudança significativa na composição dessa microbiota, sendo a suplementação uma estratégia interessante. O conteúdo de polifenois também é interessante para redução da inflamação de baixo grau envolvida nesse contexto. O conteúdo da dieta deve ser rico em substâncias prebióticas: componentes alimentares não digeríveis pelas enzimas humanas que estimulam seletivamente o crescimento e/ou atividade de uma ou de um número limitado de bactérias no cólon. Por favorecerem a multiplicação de bactérias NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 10. 46 benéficas, beneficiam a saúde do hospedeiro. Um ensaio clínico randomizado realizado com 59 homens mostrou que uma dieta rica em inulina conseguiu aumentar a quantidade de frutanos de modo significativo e indicando melhora na permeabilidade intestinal por aumento da zonulina. A proteína zonulina é capaz de modular a barreira mucosa desmontando as junções intercelulares apertadas que caracterizam a fase precoce de estados inflamatórios (RUSSO et al, 2012 Nutrition Research). Os probióticos podem prevenir ou reparar as barreiras epiteliais "vazadas" e indiretamente afetar a resposta inflamatória, opondo-se as fontes pró-inflamatórios associadas à endotoxemia de baixo grau (translocação LPS). Além disso, os probióticos aumentam a produção de ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, que tem uma função anti-inflamatória. Eles também aumentam a síntese de peptídeos antimicrobianos que influenciam as vias de resolução da inflamação na mucosa. Os probióticos podem atuar como ligantes em receptores do sistema imune inato e afetar diretamente os caminhos pró-inflamatórios. Eles também estimulam a diferenciação e atividade de células imunes, como células dendríticas e células T, e consequentemente aumentam a produção de algumas citocinas regulatórias. Qual a Melhor Dieta para Você? Fatores a serem considerados no momento de montar um planejamento: INDIVIDUALIDADE BIOLÓGICA TREINAMENTO Horários Duração,Intensidade Volume, Objetivo AJUSTE DA DIETA Quantidade Qualidade Nutrient Timming HÁBITOS Culturais, Sociais Psicológicos PECULIARIDADES METABÓLICAS TMR, SONO Exames Bioquímicos ASPECTOS CLÍNICOS Comorbidades e Medicamentos ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS Saúde Estética Performance NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 48 7. GASTO ENERGÉTICO Devem ser considerados os componentes do gasto energético diário: NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 49 Restrição Calórica GASTO ENERGÉTICO DE REPOUSO – 65% TERMOGÊNESE DO EXERCÍCIO 15% FATOR ATIVIDADE 11% TERMOGÊNESE ALIMENTAR 9% AVALIAÇÃO DO GASTO ENERGÉTICO DE REPOUSO Método ideal: calorimetria indireta, na ausência dessa possibilidade, usa-se: Cunninghan, 1991 TMR= 370 + 21,6 (MLG) MLG = Massa livre de gordura Exemplo: Situação 1: 80 Kg, 25 % Gordura TMR= 370 + 21,6 ( 60 ) TMR= 1666 kcal TMR x FA (1,5) = 2499 kcal; TRANSFERÊNCIA ENERGÉTICA DO EXERCÍCIO Compêndio de Atividade Física Mets Musculação leve Musculação moderada 4,5 Musculação Intnesidade alta 1 MET= 3,5 mLO2/kg/ Min ou 1 kcal/kg/h NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 50 A restrição calórica é uma estratégia de emagrecimento consolidada há muito tempo, tratando-se de um consumo calórico inferior ao gasto energético total do indivíduo. A magnitude dessas adaptações é proporcional ao tamanho do déficit energético, por isso recomenda-se utilizar o menor déficit possível que produza perda de peso apreciável. Isto pode diminuir a taxa de perda de peso, mas atenuar as adaptações desfavoráveis que desafiam a redução bem sucedida da massa gorda. Em resposta a uma dieta restrita a energia, o déficit de energia resultante e a perda de peso juntos resultam em aumento da fome e redução do gasto energético. Os fatores periféricos circulantes alterados (aumento de oréxigenos e redução anorexigênicos) comunicam um estado de privação de nutrientes ao cérebro, resultando em aumento da fome e aumento dos cravings alimentares, além de um menor nível de saciedade. Do lado do gasto, a perda de peso induzida pela dieta causa uma redução significativa no gasto diário (TDEE) devido à redução da taxa metabólica no repouso (RMR) e ao efeito térmico dos alimentos (TEF) e, muitas vezes, diminui o gasto energético relacionado a atividade física e a termogênese não relacionada a atividade física. O aumento da fome e a diminuição do gasto de energia podem facilmente promover a recuperação do peso, especialmente em face de um ambiente obesogênico caracterizado por uma abundância de alimentos densos e de alta energia e pouca necessidade de se engajar em atividades físicas. O aumento da proteína e das fibras alimentares e a redução da densidade energética e da carga glicêmica podem ser úteis na NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 51 redução da fome e no aumento da saciedade entre as refeições. O aumento do gasto de energia no exercício pode contribuir para o aumento do gasto total de energia diária. O maior GET permite maior consumo de energia sem recuperar o peso, um estado chamado de alto fluxo de energia, que contribui para aumentar o GET ao aumentar a taxa metabólica de repouso (RMR), e a maior ingestão de energia resulta em um maior efeito térmico dos alimentos (TEF). Aumentar o consumo de PTN (atenua redução da massa magra, maior ETA, aumento PYY e GLP-1; redução grelina) e de fibras (modula microbioma, aumento GLP-1, PYY, AGCC e etc) na dieta ajuda a aumentar a saciedade e atenuar a fome. Deve- se aumentar o GE relacionado as atividades diárias e ao exercício, isso permitirá um maior consumo energético (alto fluxo de energia) sem o reganho de peso e, consequentemente, ocasionará aumento do ETA. É indicado treino resistido de força para evitar queda da massa magra. Combate ao sedentarismo para atenuar o gap energético. Lembrar que órgãos como músculo: quanto a contribuição para TMR. High Protein Diet Um estudo realizado por Phillips et al. (2016) do tipo ensaio clínico randomizado prospectivo avaliou dietas hiper e hipoproteínas em um défict calórico associado a exercício intenso. 40 jovens destreinados com um défict de 40% em suas kcal diárias a partir de Harris Benedict, consumo estimado de 33kcal/kg. Foram divididos em dois grupos, um com 2.4g ptn/kg/d e outro com 1.2g/kg/dia, com treino 5 vezes na semana, sendo 2 vezes treinamento resistido, 2 vezes HIIT com wingate e tiros intermitentes por 28 dias. Grupo que consumiu 2.4g PTN/kg de peso apresentou um aumento na massa magra e uma maior redução na massa gorda durante déficit energético (-40%). NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 52 Considerações consolidadas 1. Podem ser necessárias ingestões 2,3-3,1 g PTN/kg/dia para maximizar a retenção de massa magra durante períodos hipocalóricos; 2. Devido à sensibilização que ocorre no músculo à ingestão proteíca (24-48hrs), a recomendação é que indivíduo se alimente o mais rápido possível após um treino, pois não comer não oferece nenhum benefício quanto à hipertrofia muscular e recuperação; 3. Recomendação geral de 0,25 g PTN (alta qualidade) X Kg de peso distribuídas uniformemente, a cada 3-4 h, ao longo do dia; 4. Refeições devem conter 0,7-3g de leucina, além de um conjunto equilibrado de aminoácidos essenciais (AAEs). 5. A ingestão de caseína pré-sono (30-40 g) proporciona aumento na MPS durante a noite sem influenciar a lipólise. RECOMENDAÇÕES DE PROTEÍNA PÓS TREINO: 20-40g NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 11. 54 8. CRONTROLES DE EXAMES BIOQUÍMICOS O nutricionista possui aptidão por lei para prescrição de exames bioquímicos. Deve- se avaliar os marcadores sempre em conjunto para uma visualização do quadro metabólico como um todo e assim traçar uma estratégia pontual, por exemplo, de nada serve a glicose de jejum sem os valores de insulina e hemoglobina glicada (Hb1Ac) para avaliar o quadro do paciente e isso serve para os demais parâmetros. Antes de qualquer estratégia suplementada deve-se planejar a dieta, no entanto, quadros metabólicos com grandes alterações necessitam o recurso farmacológico ou fitoterápico dependendo do seu grau para conseguir modificar parâmetros bioquímicos, devendo o nutricionista atuar com o médico. Uma possível intervenção no perfil lipídoco trata-se dos esteróis vegetais, os quais inibem a absorção de colesterol na dieta ao competir com o colesterol para absorção em micelas no TGI. Os esteróis vegetais deslocam o colesterol animal das micelas, o que força o colesterol a ser excretado nas fezes. Os esteróis vegetais também podem co- cristalizar com colesterol para formar cristais mistos insolúveis e interferir com a hidrólise luminal de colesterol por lipases intestinais e estearases de colesterol. Uma vez no interior do enterócito, os esteróis vegetais são excretados de volta para o interior do lúmen intestinal pelo transportador heterodímero ABCG5-ABCG8, enquanto o colesterol derivado de NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 11. 55 animal é esterificado por acil-CoA colesterol aciltransferase 2 (ACAT2) em quilomícrons para transporte no sistema linfático. O Chá verde, por exemplo, interfere com a formação de micelas e resulta em deslocamento do colesterol das micelas. As fibra solúveis, incluindo a encontrada em algas marinhas, ligam-se ao colesterol e ácidos biliares no trato gastrointestinal, o que os torna indisponível para a absorção. As bactérias probióticas possuem atividade hidrolase de sais biliar, desconjugando os sais biliares e fazendo sua absorção menos eficiente (redução da circulação enterohepática, fazendo com que mais colesterol seja utilizado para a síntese de novos ácidos biliares). Alimentos funcionais como alho e cebola são interessantes devido ao teor de polifenois sobretudo a quercetina. alho inibe a biossíntese do colesterol pela inibição da esterol 4α-metil oxidase (uma enzima posterior a HMG-CoA redutase na síntese do colesterol). O chá verde reduz a biossíntese de colesterol pela inibição da esqualeno oxidase [in vitro] (tbm reduz oxidação da LDL). Berberina inibe a PCSK9, uma enzima que é responsável pela degradação do receptor de LDL (LDLR). Quando o PCSK9 é inibido, os níveis de colesterol LDL diminuem devido ao aumento da captação mediada por LDLR do colesterol LDL pelo fígado para reciclagem e excreção. O componente de isoflavonas de soja também pode upregulate LDLR (efeito mais efetivo em mulheres pós-menopausadas devido queda no E2), isoflavonas isoladas parecem não exercer efeito. Os ácidos graxos ômega-3 aumentam a atividade da lipoproteína lipase (LPL), uma enzima que catalisa a conversão de VLDL em lipoproteína de densidade intermédia (IDL) na corrente sanguínea; Os óleos de peixe também têm um efeito inibitório na incorporação de ácidos gordos nos TGs (redução VLDL). Os óleos de peixe também podem atuar como agonistas dos receptores PPAR (não ilustrados) para aumentar a expressão de genes que codificam proteínas envolvidas na oxidação de ácidos graxos, reduzindo assim os níveis de ácidos graxos disponíveis para a síntese de triglicérideos. Os flavonóis também podem melhorar a sensibilidade à insulina aumentando a biodisponibilidade de NO e inibindo a produção de espécies reativas de oxigênio e espécies de nitrogênio. A biodisponibilidade aumentada de NO também pode mediar os efeitos benéficos dos flavanóis de cacau na função endotelial, estando estes NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 11. 56 presentes no cacau, rico em catequita e epicatequina. Uma revisão sistemática de 19 ensaios clínicos publicada no The Journal of Nutrition (2018) encontrou que doses entre 166mg e 2,1g de cacau foi capaz de reduzir a dislipidemia, a resistência à insulina e a inflamação sistêmica, que são todos os principais fatores de risco subclínicos para doenças cardiometabólicas por meio dos parâmetros de LDL, HOMA IR, PCR e triglicérides. O chá de hibisco ( hibiscus sabdariffa L.) é rico antocianinas e polifenois e atua por meio do mecanismo: leve inibição do influxo de íons cálcio e ativação do GMPc aumentando a atividade da eNOS, possui compostos bioativos inibidores da enzina conversora de angiotensinogênio, em estudos considerando 100mg, extrato aquoso com cerca de 3,75g por dia. A suplementação de potássio também é uma estratégia para redução da pressão arterial. Com isso, 23 estudos foram selecionados com total de 1213 participantes e idade entre 24 a 75 anos (ambos os sexos). Pacientes hipertensos foram selecionados, a dosagem foi entre 50 a >100 mmol/d (1950 a 3900mg/d). A duração dos estudos era de no mínimo 4 semanas. A suplementação de potássio teve efeitos significativos na redução da pressão arterial sistólica e diastólica. O magnésio é o segundo cátion intracelular mais abundante e um cofator de vias enzimáticas envolvidas no metabolismo energético e modulação do transporte de glicose através das membranas celulares. A deficiência de magnésio interfere com a atividade tirosina-quinase do receptor de insulina e aumenta a concentraçãode cálcio intracelular, eventos associados à sensibilidade à insulina diminuída. Por isso, propôs- se que a deficiência de magnésio possa desempenhar um papel importante no desenvolvimento de transtornos de glicose e diabetes tipo 2. Uma revisão sistemática realizada por Sahebkar e Romero (2016) avaliou 21 ensaios clínicos randomizados e controlados de 3 a 6 meses e dose média de 300 a 450mg por dia. Nesta meta-análise, descobrimos que a suplementação de magnésio melhora significativamente o HOMA- IR, mas não tem efeito significativo nas concentrações de glicose, insulina e HbA1c em indivíduos diabéticos e não diabéticos. No entanto, no subconjunto de estudos com períodos de suplementação iguais NUTRIÇÃO E EMAGRECIMENTO 11. 57 ou superiores a 4 meses, a suplementação oral de magnésio melhorou significativamente as concentrações de glicose em jejum e o índice HOMA-IR em comparação com o subconjunto com períodos de suplementação inferiores a 4 meses. A detoxificação hepática também é um processo que deve ser avaliado e considerado. Aumentar processo de detoxificação devido a maior liberação de xenobióticos lipossolúveis armazenados no tecido adiposo, além de melhora do processo oxidativo devido ativação NRF-2. O desbalanço das enzimas de fase 1 e fase 2 acaba gerando um aumento dos radicais livres gerados pela metabolização da fase 1, portanto deve haver o equilíbrio entre ambos metabolismos. O consumo de polifenóis como carotenos, ácido ascórbico, tocoferóis, selênio, licopeno, sulforofano, zinco, cobre atua reduzindo o estresse oxidativo e taurina, glutamina, cisteína e metionina atuam nas reações de conjugação de fase 2. Em conclusão, devemos observar da obesidade de forma holística e levando em consideração a individualidade biológica de cada ser frente ao processo de emagrecimento, não se esquecendo que antes de qualquer estratégia o que vale é manter a saudabilidade do nosso paciente. 0 58
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