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Hidráulica e Hidrologia Aplicada – Material de Apoio 1 Escoamento Livre - Canais: Escoamentos Livres versus Escoamentos Forçados Tipos de Canais Tipos de Escoamento em canais Representação da energia dos canais Parâmtros Geométricos e Hidráulicos dos Canais 1. ESCOAMENTOS LIVRES VERSUS ESCOAMENTOS FORÇADOS Escoamentos livres, ou escoamentos em condutos livres, são os escoamentos em que ao menos uma superfície da água está à pressão atmosférica. Os exemplos mais conhecidos de condutos livres são os cursos de água naturais, como os rios e riachos. Além deles, constituem escoamentos livres as galerias de águas pluviais, as redes de esgoto, canaletas, calhas, etc. A primeira diferença entre escoamentos livres e escoamentos forçados está nas características dos meios pelos quais a água escoa. Os escoamentos forçados se dão em tubulações, condutos fechados, por onde a água flui a pressões diferentes da pressão atmosférica. Já os escoamentos livres ocorrem em condutos livres, que podem ser abertos ou fechados, e que são denominados CANAIS. Os canais servem a diversas finalidades, tais como: sistemas de drenagens pluviais urbanas, sistemas de coleta de esgoto, sistema de irrigação para agriculturas, navegação, controle de cheias, produção de energia elétrica, etc. A imagem abaixo apresenta algumas possibilidades de canais e um exemplo de tubulação. Figura 1 - Exemplos de canais e tubulação. a) Escoamento livre em canal aberto artificial. b) Escoamento livre em canal fechado – tubulação, parcialmente preenchido por água. c) Situação limite de escoamento livre em canal fechado – tubulação, completamente preenchido por água. d) Escoamento forçado em tubulação. Fonte: Netto (1998). Escoamentos forçados se diferem dos escoamentos livres porque nos escoamenos forçados a água está sempre a uma pressão diferente da pressão atmosférica. Outra diferença entre escoamentos livres e forçados está nas condições de contorno desses escoamentos. Enquanto escoamentos forçados mantêm suas condições de contorno, permitindo que os cálculos de suas características sejam mais simples, escoamentos livres possuem, majoritariamente, condições de contorno que variam no tempo e no espaço, o que torna seus cálculos mais complexos que aqueles empregados para os escoamentos forçados. Ainda, a força motriz dos escoamentos livres é a pressão atmosférica. Já para os escoamentos forçados, além da pressão atmórférica, tem-se a possibilidade do uso de máquinas hidráulicas geratrizes que permitem, por exemplo, a construção de sistemas hidráulicos de recalque. Um outro fator importante é o formato dos canais nos fluxos livres. Especialmente quando se fala de canais abertos naturais, há uma maior variabilidade no formato e na rugosidade desse tipo de canal que nas tubulações utilizadas em escoamentos forçados, o que contribui de forma significativa para a maior complexidade das formulações matemáticas e para os fenômenos encontrados nos escoamentos livres em relação àqueles existentes para escoamentos forçados. Para finalizar, a maioria dos escoamentos livres são escoamentos de grandes dimensões (grandes comprimentos, larguras e/ou profundidades), quando comparados aos escoamentos forçados. Assim como ocorre com os escoamentos forçados, os escoamentos livres são, por causa dessa e de todas as suas outras características, escoamentos turbulentos, na grande maioria das vezes. 2. TIPOS DE CANAIS Os canais podem ser classificados como naturais ou artificiais. Canais naturais são aqueles que se criaram naturalmente, tais como rios, córregos, estuários, ou o grande canal de veneza. Figura 2 – Exemplos de canais naturais. A- Rio São Francisco. B- Grande Canal de Veneza. C- Riacho na Mata Atlântica. D- Rio Amazonas. D – Rio Batalha. Fonte: www.google.com.br, 2017. A B E C D Os canais naturais possuem superfície livre, rugosidade e forma que podem variar no tempo e no espaço e, por conseguinte, seus parâmetros hidráulicos, tais como profundidade, largura, declividade, etc. também podem variar com o espaço e o tempo. Isso faz com que os canais naturais sejam aqueles para os quais os cálculos são os mais complicados, e os modelos, os mais difíceis de serem conseguidos. Além disso, podem transportar sedimentos, que acabam se depositando quando a energia do fluxo de água diminui e esta perde sua força de arraste. Já quando se fala em canais artificiais, está-se referindo ou à escavação de um novo canal, ou à canalização (ou seja, o redirecionamento ou rearranjo artificial) de um curso de água natural pré-existente (rio, riacho, etc.), ou seja, aos canais que foram construídos pelo homem. Essas construções possuem diversas finalidades, tais como delimitar o leito de um rio, prevenir inundações, erosões ou recuperar terrenos, aumentar o nível de água de um rio, etc. Eles podem ser divididos em dois tipos distintos: abertos ou fechados. Canais artificiais fechados são as tubulações de diversas seções (circular, retangular, oval, em formato de ferradura, etc.), que constituem, por exemplo, as galerias de esgoto e galerias pluviais urbanas. Já canais artificiais abertos (ou canais escavados), são aqueles que possuem uma superfície aberta, e que podem ser construídos com diversos formatos de seção (semi- circulares, retangulares, trapezoidais, triangulares, etc.) Constinuem, por exemplo, os canais dos rios modificados ou transpostos, as calhas, canaletas, sarjetas, valetas, etc. Figura 3 – Exeplos de canais artificiais. A – Rio Tietê, canal trapezoidal. B – London Bridge Sewer, galeria de esgoto de Londres, de seção semi-circular. C – construção de galeria pluvial de seção retangular, São Paulo, SP. D – construção de sarjeta de seção triangular, Cunha, SP. E – calha de seção semi-circular. Escoamentos livres, ou escoamentos em condutos livres, são os escoamentos em que ao menos uma Fonte: www.google.com.br, 2017. A B C D E Canais artificiais são construídos com formatos geométricos definidos (prismáticos, semicirculares) em toda a sua extensão, o que faz com que a sua seção seja constante ao longo de toda a sua extensão, fazendo com que os parâmetros hidráulicos desses canais não variem, ou variem muito menos que aquelas dos canais naturais. Um dos canais artificiais mais conhecidos em todo o mundo é o canal do Panamá, que permite a navegação entre os oceanos Atlântico e Pacífico pelo Panamá. Canais artificiais podem ser, ainda, divididos em canais revestidos ou canais sem revestimento. Canais sem revestimento são mais fáceis de serem construídos, já que são as próprias escavações realizadas. Neste tipo de canal artificial, a condução da água se dá na superfície do solo no qual o canal foi escavado. Neles, devem ser levadas em consideração tanto a perda de água por infiltração, que não representa grande problema em solos de texturas mais finas, quanto a possibilidade de erosões e sedimentação dos sedimentos das laterais e do fundo do canal, especialmente nas situações em que o canal for escavado em solos erosivos. Para que se evite esses tipos de transtorno, é importante que se respeitem as velocidades limites do escoamento nos canais sem revestimento, em relação à seção transversal e a declividade de fundo do canal. Essa velocidade de escoamento tem um limite inferior, que é dado pelo valor mínimo no qual não ocorra sedimentação das partículas em suspensão na água, e um limite superior, dado pelo valor máximo possível sem que hajaerosão do solo. No início da operação desse tipo de canal, há, entretanto, alguma erosão e alguma deposição sedimentar, até que o canal entre em um estado de equilíbrio e, então, se torna estável por um longo período de tempo. O solo também deve ser preparado para que o funcionamento do canal seja satisfatório. Se necessário, faz-se um tratamento no solo ao longo do canal, especialmente em suas margens, para se garantir o seu perfeito funcionamento. Canais revestidos são aqueles canais em que se opta por utilizar algum tipo de material que age como uma espécie de “capa” protetora acima do solo no qual o canal foi escavado. Geralmente, o revestimento do canal é feito com o intuito de se reduzir a perda de água por infiltração, para se reduzir a dimensão do canal ou pela necessidade de manutenção do mesmo, para reduzir a rugosidade natural do canal, ou para se prevenir ou impedir a erosão lateral e de fundo do canal, entre outros. Os materiais utilizados para o revestimento de canais são vários: concreto, solo- cimento (geralmente com a utilização do solo do próprio canal, cimento e água), membranas plásticas (Cloreto Polivinílico – PCV; polietileno – PE, etc.), geotêxteis (mantas, geocélulas, etc.), gabiões (caixas, colchões reno, saco), biomantas (mantas feitas de material biodegradável, como fibra de coco), ensecadeiras, enrocamento, etc. O tipo de revestimento a ser empregado, e a própria necessidade do revestimento, são fatores que devem ser analisados caso a caso, e que devem levar em considerações questões tais como a vazão requerida, as dimensões do canal, a sua finalidade, as características do solo sobre o qual o canal existe, as características climáticas da região da construção do canal, as possibilidades e custos de construção e de manutenção do canal, a posição do lençol freático em relação ao canal, bem como a sua interação com este, questões de sustentabilidade, etc. De modo geral, o fator preponderante é o econômico, salvo casos em que há condições próprias daquele canal, climáticas, ambientais, de engenharia ou locais que sejam determinantes quanto à segurança e manutenção do bom funcionamento do canal, que limitem a decisão a ser tomada. 3. TIPOS DE ESCOAMENTOS EM CANAIS De forma geral, podemos classificar os tipos de escoamentos em canais da seguinte forma: - Escoamentos Permanentes Uniforme Variado Gradualmente Variado Bruscamente Variado - Escoamentos Não Pernanentes (Transientes) Os Escoamentos não permanentes, ou variados, são aqueles nos quais a vazão não permanece constante no trecho analisado do canal (Q ≠ cte). As profundidades do canal, portanto, variam ao longo do trecho considerado, como ocorre, por exemplo, em eclusas, com os golpes de aríete, ou com as ondas do mar. Cabe maior atenção aos escoamentos Permanentes. Escoamentos permanentes são aqueles nos quais a vazão permanece constante ao longo do trecho considerado do canal (Q = cte). Esse tipo de escoamento em canais pode ser dividido em Escoamento Permanente Uniforme, quando não somente a vazão, mas também a velocidade média, a profundidade do canal e sua seção permanecem constantes ao longo do tempo e do espaço; e Escoamento Permanente Variado, quando a vazão permanece constante, mas as demais características do escoamento (velocidade média, área do canal, etc.) variam ao longo do espaço. Os escoamentos variados podem ser, por sua vez, divididos em Escoamentos Gradualmente Variados, quando as alterações se dão de forma lenta, gradual, e Escoamentos Bruscamente Variados, quando as carcaterísticas citadas do escoamento variam de forma rápida. A imagem abaixo ilustra os diversos tipos de escoamentos permanentes que podem ser encontradas em canais. Figura 4 – Tipos de Movimentos que podem ser encontrados Fonte: www.google.com.br, 2017. 4. REPRESENTAÇÃO DA ENERGIA NOS CANAIS Os escoamentos livres também obedecem às três leis da hidrodinâmica, já vistas anteriormente, e representadas pelas equações da continuidade (Q=A1.v1=A2.v2) ou de conservação de massa; da quantidade de movimento (correspondente ao Teorema de Euler, equação de momentum), e da consertação de energia, ou de Bernoulli pra fluidos reais ( 𝑧1 + 𝑝1 𝛾 + 𝑣1 2 2.𝑔 = 𝑧2 + 𝑝2 𝛾 + 𝑣2 2 2.𝑔 + ∆𝐻 ). A imagem abaixo demonstra como a energia é considerada em canais Figura 5 – Representação da energia em canais. lf = linha de energia; la = linha da superfície da água, equivalente à linha piezométrica; io = inclinação da superfície de fundo do canal. Fonte: www.google.com.br, 2017. A equação de Bernoulli, representada pela imagem acima, fica: 𝑧1 + 𝑦1 + 𝑣1 2 2𝑔 = 𝑧2 + 𝑦2 + 𝑣2 2 2𝑔 + ∆𝐸 Onde: z1 e z2 são as cotas de fundo do canal, em relação a um plano de referência; y1 e y2 são as profundidades da coluna de água no canal nos pontos 1 e 2; v1 e v2 são as velocidades do fluxo de água do canal nos pontos 1 e 2, g = gravidade, e ΔE = perda de carga entre os pontos 1 e 2. Notem que, por esta representação, y1 e y2 representam as parcelas da energia piezométrica do sistema nos pontos 1 e 2, e a linha piezométrica é considerada na superfície da água. Y é, portanto, a profundidade do corpo de água no canal. Torna-se possível se estabelecer, ainda, que em um regime de escoamento Permanente e Uniforme, lf (linha de força ou linha piezométrica) = la (liha da água) = io (fundo do canal). E1 e E2 são as denominadas ENERGIAS ESPECÍFICAS do canal nos pontos 1 e 2. Tornaremos a falar sobre a energia específica dos canais mais para frente no curso. Exercício 1 – Modificado do material online UNIP. Um canal retangular com base de 5m transporta uma vazão de 15m³/s de água entre os pontos 1 e 2, em uma extensão de 1km e desnível de 13m. Sabendo-se que a profundidade à montante é de 1m e a velocidade à jusante é igual a 4m/s, pede-se calcular a perda de carga total do sistema. Resolução: Sabemos que para encontrar a perda de carga de um sistema hidráulico podemos utilizar a equação de Bernoulli: 𝑧1 + 𝑦1 + 𝑣1 2 2𝑔 = 𝑧2 + 𝑦2 + 𝑣2 2 2𝑔 + ∆𝐸 Pelo enunciado do exercício, sabemos também que o canal tem um desnível de 13m, o que significa que no ponto 1 z1 = 13m e, no ponto 2, z2 = 0m. Além disso, temos a profundidade y no ponto 1 (montante), que é de y1 = 1m; e temos a velocidade no ponto 2 (jusante), que é de v2 = 4m/s. Substituindo esses valores na equação de Bernoulli, portanto, temos, considerando a gravidade igual a g= 9,81m/s²: 13 + 1 + 𝑣1 2 2𝑥9,81 = 0 + 𝑦2 + 42 2𝑥9,81 + ∆𝐸 Precisamos, agora, encontrar a velocidade à montante (velocidade do ponto 1) e a profundidade à jusante (profundidade no ponto 2). Para tanto, temos a vazão, que é de 15m³/s. Vamos utilizar, portanto, a equação da continuidade: 𝑄 = 𝐴1 𝑥 𝑣1 = 𝐴2 𝑥 𝑣2 Sabendo que o canal é retangular e que, portanto, a área é: A = Bxy (onde B = largura do canal e y = profundidade): Para o ponto 1 (montante): 15 = (5𝑥1) 𝑥 𝑣1 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑜: 𝑣1 = 3𝑚/𝑠 Para o ponto 2 (jusante): 15 = (5𝑥𝑦2) 𝑥 4 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑜: 𝑦2 = 0,75𝑚 Substituindo esses valores, também, na equação de Bernoulli, temos: 13 + 1 + 32 2𝑥9,81 = 0 + 0,75 + 42 2𝑥9,81 + ∆𝐸 14 + 9 19,62 = 0,75 + 16 19,62 + ∆𝐸 14,459 = 1,565 + ∆𝐸 Portanto, a perda de carga totaldo sistema, ΔE, é de ΔE = 12,894m. Observação: as palavras “jusante” e “montante” são bastante utilizadas em se tratando de canais, especialmente os canais naturais. Esses termos são colocados, sempre, em relação a um observador, ou a um ponto referencial. Montante é a “parte” do curso de água que está mais próxima de sua origem, ou do ponto considerado como sendo a origem do fluxo da água. Jusante é o ponto mais distante da origem do curso da água e mais próximo do seu final. Ambos em relação a um observador. Assim, se considerarmos um rio cujo fluxo de água se dá da esquerda para a direita, a montante do rio estaria à esquerda do observador, e a jusante do rio estaria à direita do observador. 5. PARÂMETROS GEOMÉTRICOS E HIDRÁULICOS DOS CANAIS Conforme já foi dito, as condições de contorno dos escoamentos livres pode variar bastante, devido às características dos canais por onde a água escoa. Para a realização dos cálculos hidráulicos nos canais, portanto, em função da geometria da seção do canal e da profundidade do escoamento, definem-se alguns parâmetros que possuem grande importância e que são amplamente utilizados para esses cálculos: Secão ou Área Molhada (A): A Área molhada é a parte da seção transversal do canal que está tomada pela água: Note que a área molhada equivale à parte da seção do canal que possui água. Caso o canal esteja cheio, essa área molhada equivale às dimensões da seção do próprio canal. Caso contrário, deve-se levar em consideração apenas a parte molhada da seção do canal para se obter a área molhada. Perímetro molhado (P): O perímetro molhado é o comprimento relativo ao contato do líquido com o duto. Note que o perímetro molhado equivale à parte da seção do canal que possui água. Caso o canal esteja cheio, esse perímetro molhado equivale às dimensões da seção do próprio canal. Caso contrário, deve-se levar em consideração apenas a parte molhada da seção do canal para se obter o perímetro molhado. Área Molhada (A) Perímetro Molhado (P) Largura Superficial (B): A largura superficial (B) é a largura da superfície da água que está em contato com a atmosfera: Profundidade (y): A profundidade y é a profundidade da lâmina de água no canal, ou seja, a altura do líquido acima do fundo do canal: Note que a profundidade y é, muitas vezes, assimilada a uma altura vertical (h) no escoamento. Essa situação é verdadeira para canais cujas declividades são reduzidas, o que ocorre com freqüência. Mas para os canais nos quais isso não ocorre (ou seja, naqueles canais que possuem declividade acentuada), a profundidade y difere dessa altura h. Essa altura “h” é aquela que representa, na equação de Bernoulli, a energia piezométrica do escoamento do fluido, enquanto a altura y é aquela que representa a profundidade da coluna de água em relação ao fundo do canal. Figura 6 – Diferença entre a altura y e a altura h. Fonte: www.google.com.br, 2017. Largura Superficial (B) y Profundidade Hidráulica (yH): A profundidade hidráulica yH é obtida matematicamente por meio da razão entre a Área Molhada (A) e a Largura Superficial (B): 𝑦𝐻 = 𝐴 𝐵 Onde: yH = profundidade hidráulica, dada em metros (m); A = área molhada, em metros quadrados (m²); B = largura superficial, dada em metros (m). A Profundidade hidráulica é menor que a profundidade do canal, conforme pode ser visto na imagem a seguir que reune as principais características geométricas da seção do canal. Figura 6 – Diferença entre a altura y e a altura h. Fonte: Baptista e Lara, 2012. Raio Hidráulico (RH): O raio hidráulico não é um “raio” no sentido geométrico. Ele é um termo que se definiu para indicar a eficiência hidráulica de um canal. Ele é obtido matematicamente pela razão entre a Área Molhada (A) e o Perímetro Molhado (P) do canal: 𝑅𝐻 = 𝐴 𝑃 Onde: RH = Raio hidráulico, dado em metros (m); A = área molhada, em metros quadrados (m²); P = perímetro molhado, dado em metros (m). Declividade (i): A declividade do canal é o desnível vertical de um ponto considerado a outro, dividido pelo comprimento horizontal do fundo entre esses dois pontos. Assim, um canal que, por exemplo, se rebaixa em 1m em uma extensão de 20m tem declividade de 0,05m/m (1/20 = 0,05). 𝑖 = 𝑑𝑒𝑠𝑛í𝑣𝑒𝑙 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 ℎ𝑜𝑟𝑖𝑧𝑜𝑛𝑡𝑎𝑙 Onde: i = declividade do canal. As declividades são adimensionais (metro/metro), mas por vezes costumam ser representadas em porcentagem. Assim, uma declividade de 5%, por exemplo, corresponde a uma declividade de i = 0,05m/m, que significa que há um desnível de 5cm a cada metro do canal percorrido no sentido horizontal. Canais artificiais, geralmente, são prismáticos com seções de formas geométricas simples. Para estes tipos de canais, os parâmtros geométricos e hidráulicos podem ser expressos analiticamente em função da profundidade da água, conforme o quadro abaixo, no qual estão representadas as características geométricas das seções mais comumente utilizadas na hidráulica de canais: Quadro 1 – principais características geométricas dos principais tipos de seção dos canais hidráulicos. Angulos em radianos. Área Perímetro Molhado Raio hidráulico Largura Superficial Profundidade Hidráulica 𝑏𝑦 𝑏 + 2𝑦 𝑏𝑦 𝑏 + 2𝑦 𝐵 = 𝑏 𝑦 (𝑏 +Zy)y 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧2 (𝑏 + 𝑍𝑦)𝑦 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧2 𝑏 + 2𝑍𝑦 (𝑏 + 𝑍𝑦)𝑦 𝑏 + 2𝑍𝑦 Continua B = b Continuação Área Perímetro Molhado Raio hidráulico Largura Superficial Profundidade Hidráulica 𝑍𝑦2 2𝑦√1 + 𝑍2 𝑍𝑦 2√1 + 𝑍2 2𝑍𝑦 0,5𝑦 0,125(𝜃 − 𝑠𝑒𝑛𝜃)𝐷2 0,5𝜃𝐷 0,25 ( 𝜃 − 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝜃 ) 𝐷 2√𝑦(𝐷 − 𝑦) 0,125 ( 𝜃 − 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑠𝑒𝑛 1 2 𝜃 ) 𝐷 2 3 𝐵𝑦 𝐵 + 8𝑦2 3𝐵 2𝐵2𝑦 3𝐵2 + 8𝑦2 3𝐴 2𝑦 2 3 𝑦 𝜋𝐷2 4 𝜋𝐷 𝐷 4 ------ -------- Fonte: Baptista e Lara, 2012 Exercício de Fixação 2: Retirado de Baptista e Lara, 2012 Calcular o raio hidráulico e a profundidade hidráulica do canal trapezoidal da figura, sabendo-se que a profundidade do fluxo é de 2m. Fonte: Baptista e Lara, 2012. Resolução: Ao analisarmos o quadro 1 anterior, e sendo Z = 4; y = 2 e b = 4, tem-se: Área Molhada: 𝐴 = (𝑏 + 𝑍𝑦)𝑦 = (4 + 4𝑥2)2 = 12𝑥2 = 24𝑚² Perímetro Molhado: 𝑃 = 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧2 = 4 + 2𝑥2√1 + 42 = 4 + 4√17 = 20,49𝑚 Largura Superficial: 𝐵 = 𝑏 + 2𝑍𝑦 = 4 + 2𝑥4𝑥2 = 4 + 16 = 20𝑚 Raio Hidráulico: 𝑅𝐻 = 𝐴 𝑃 = 24 20,49 = 1,17𝑚 Profundidade Hidráulica: 𝑦𝐻 = 𝐴 𝐵 = 24 20 = 1,2𝑚 Exercício de fixação 2: Modificado de Gribbin, 2012. Observe o canal trapezoidal abaixo, e calcule a Área Molhada, o Perímetro Molhado, o Raio Hidráulico e a Profundidade Hidráulica deste canal. 2m 4m 4 1 Fonte: modificada de Gribbin, 2012. Resolução: Para calcular os parâmetros pedidos, neste caso, só é necessário calcular os a área e o perímetro por suas definições geométricas. Pela imagem, sabemos queb = 6m, B = 12m, y = 4m e as laterais do canal valem, cada uma 5m. Área Molhada: Se calcularmos a área molhada pela área do trapézio ocupada pela água, temos: 𝐴 = (𝑏 + 𝐵)𝑦 2 = (6 + 12)4 2 = 36𝑚² Notem que outra forma de resolver este exercício é pela fórmula apresentada no quadro acima. Para tanto, devemos primeiro encontrar o valor de Z. Para encontrar o valor de Z, é necessário recorrer às propriedades dos triângulos retângulos. Por elas, sabemos que: Fonte: www.google.com.br, 2017. Pela relação acima descrita: 𝐵 = 𝑏 + 2(𝑍𝑦) 4m 6m 12m Z.y Z.y Z y Portanto: 12 = 6 + 2𝑥(𝑍𝑥4) 12 = 6 + 8𝑍 6 = 8𝑍 𝑍 = 0,75𝑚 Daí, pelo cálculo com a fórmula apresentada no quadro: 𝐴 = (𝑏 + 𝑍𝑦)𝑦 = (6 + 0,75𝑥4)4 = 9𝑥4 = 36𝑚² Perímetro Molhado: Da mesma forma, o perímetro molhado do canal pode ser encontrado pela soma dos valores mostrados na imagem: 𝑃 = 𝑏 + 5 + 5 = 6 + 5 + 5 = 16𝑚 Sabendo-se, ainda, que Z = 0,75m, pode-se utilizar a fórmula apresentada no quadro: 𝑃 = 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧2 = 6 + 2𝑥4√1 + 0,752 = 6 + 8√1,5625 = 16𝑚 Raio Hidráulico: 𝑅𝐻 = 𝐴 𝑃 = 36 16 = 2,25𝑚 Profundidade Hidráulica: 𝑦𝐻 = 𝐴 𝐵 = 36 12 = 3𝑚 Na prática, as seções trapezoidais são muito empregadas em canais de todos os portes, com o sem revestimento. As seções retangulares também possuem emprego bem amplo, mas costumam ser construídas com estruturas rígidas, de forma a garantir a estabilidade das seções. Já para as vazões mais reduzidas, costumam-se usar as seções circulares, como no caso das redes de esgoto, redes de águas pluviais e bueiros. Por fim, as seções triangulares são utilizadas em canais de pequenas dimensões, tais como as sarjetas das vias públicas. O valor Z é uma grandeza utilizada para caracterização das seções triangular e trapezoidal, que se refere à inclinação do talude do canal e que corresponde à razão entre as dimensões horizontal e vertical deste. Se o canal, entretanto, for natural, ou seja, caso o canal tenha seção irregular, essas relações analíticas não podem ser usualmente estabelecidas. Para estes canais, ou se utilizam integrais para que se possa calcular sua área de seção ou, em alguns casos, é possível se ajustar curvas para representar essas relações, como as parábolas, que são por vezes utilizadas em canais de pequenas dimensões, e as seções retangulares largas, consideradas algumas vezes para canais naturais de grandes larguras e pequenas profundidades. Quando a seção do canal é constante ao longo de toda a sua extensão, chama-se o canal de PRISMÁTICO. Os canais prismáticos são os únicos que permitem que se estabeleçam escoamentos uniformes, ou seja, com profundidades constantes ao longo do escoamento para uma dada vazão. 6. BIBLIOGRAFIA BAPTISTA, M; LARA, M. Fundamentos de Engenharia Hidráulica. 3ª ed. rev. e ampl. Belo horizonte: Editora UFMG, 2012. 473 p. GRIBBIN, J. E. Introdução à Hidráulica, Hidrologia e Gestão de Águas Pluvias. 3ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. 494 p. www.google.com.br. Acesso em 04 de agosto de 2017. MATERIAL online UNIP, 2017.
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