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Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ Faculdade de Educação Disciplina: Educação e Trabalho Avaliação Presencial 1 – 2019.2 Aluno(a): _____________________________________ Matrícula: _________ Polo: _______________________________ Questão 1: O Relatório Delors recomenda que os sistemas educativos não formem mão- de-obra para empregos industriais estáveis, mas sim, formem “[...] pessoas capazes de evoluir, de se adaptar a um mundo em rápida mudança e capazes de dominar essas transformações” (DELORS, 1999, p. 72). Com base no referido fragmento, explique as principais mudanças ocorridas no mundo do trabalho após a reestruturação produtiva, tendo por base os textos de Ribeiro (2015) e Antunes (2002) – aulas 4 e 5 . (4 pontos). A reestruturação produtiva pode ser compreendida como uma nova forma de organizar o processo de produção: do modelo taylorista/fordista para o modelo toyotista, também chamado de “acumulação flexível”. Nesse novo modelo a produção é flexibilizada, adequada, de acordo com o ritmo e as flutuações do mercado. Ou seja, a produção de uma determinada mercadoria é grande quando a demanda/procura por essa mercadoria for alta. Quando a demanda é baixa a produção também deve ser reduzida para evitar desperdiço de gastos. Como o objetivo é reduzir os custos de produção a fim de garantir “boas” condições de competitividade da mercadoria no mercado globalizado, há a necessidade de uma nova reengenharia de produção, ou seja, não só usar novas máquinas e atrelar a produção de acordo com a demanda (sistema just in time com o objetivo de reduzir os estoques), mas principalmente reduzir os custos com a força de trabalho, que, em síntese, significa reduzir o quantitativo de trabalhadores, reduzir salários e cortar os direitos (trabalhistas). A partir de então, muitos trabalhadores são demitidos, aumentando consideravelmente o índice de desemprego. Os que conseguem se manter no emprego devem fazer também as tarefas dos trabalhadores demitidos, aumentando a exploração da força de trabalho. Dessa forma, em vez de trabalhadores especializados numa única tarefa, o mundo do trabalho após a reestruturação produtiva demanda por trabalhadores de novo tipo: generalistas, polivalentes e flexíveis, capazes de se adaptar facilmente as necessidades e mudanças do mercado. Um trabalhador que se conforme a não ter direitos, considerando ser esta a forma de minimamente se manter no mercado ou em condições de empregabilidade. Um trabalhador que pode ser admitido e demitido facilmente, sem necessidade de justa causa, sem que isso incida em redução das margens de lucros e prejuízos ao patrão. Para isso são estabelecidas novas relações de trabalho (relações flexíveis de trabalho): terceirização, contratos por tempo determinado, part-time (trabalho intermitente) etc. Os estágios também têm se configurado em uma nova forma de exploração, tendo em vista que em algumas situações os estagiários assumem as tarefas do profissional já formado, sendo este substituído pelo estagiário, que é admitido por um custo menor. Ao perderem a segurança do trabalho e serem facilmente descartados, os trabalhadores são submetidos à intensa exploração, que ocorre não só no local de trabalho, mas também em outros espaços por meio das novas tecnologias. Mais flexibilidade (leia-se exploração e precarização do trabalho) que esta, é possível? Questão 2: Diante das incertezas vividas com a adoção da política neoliberal, na concepção do Banco Mundial, da Unesco e de alguns teóricos brasileiros a adaptabilidade é o melhor caminho para preparar os jovens para o mundo do emprego. Ou seja, cabe a educação escolar adaptar seus conteúdos às necessidades do mercado. Com base nos textos das aulas 1, 2 e 3 - Saviani (2007), Nascimento e Sbardelotto (2008) -, os teóricos da matriz histórico-crítico, como Antonio Gramsci, concordam com essa posição defendida pelos (neo)liberais? Justifique sua resposta apresentando alguns aspectos da escola defendida pelos teóricos da matriz histórico-crítica. (4 pontos). Os teóricos que defendem o atrelamento direto da educação ao mercado de trabalho concebem a escola como instrumento para manutenção da sociedade, fundada na desigualdade tanto educacional e de direito, quanto na desigualdade econômica, política e social. Uma estrutura dual de ensino, baseada em processos formativos diferentes dependendo da classe social dos sujeitos. Concebendo que essa dualidade estrutural da educação escolar é produto e produtora das sociedades de classes, estando, portanto, a serviço para sua conservação, os teóricos da matriz histórico-crítico, como Antonio Gramsci, serão radicalmente contra a essa condição defendida pelos (neo)liberais, por reconhecer que a escola ao mesmo tempo pode estar a serviço da manutenção das vigentes relações de produção e de trabalho baseadas na exploração do trabalho pelo capital, pode também se constituir em uma das potencialidades para a transformação dessas relações. Para isso, faz-se necessário pensar em outro projeto de escola em termos de organização, de currículo, de finalidades, compromisso e dimensão ético-político. Se na Antiguidade e na Idade Média a escola era concebida como o “lugar do ócio”, reservada aos que não dependiam do seu próprio trabalho para garantir a reprodução da sua existência, da qual os filhos das classes trabalhadoras estavam dela excluídos, com a revolução industrial e o recrudescimento da nova ordem econômica e social capitalista, os liberais passaram a defender a necessidade de estender a educação escolar às classes trabalhadoras como forma de discipliná-los à nova ordem econômica e social nascente. Para isso, como argumentava Adam Smith no final do século XVIII, bastaria somente “rudimentos de leitura e escrita” a ser dado em “doses homeopáticas”. A partir da segunda metade do século XIX, na fase da segunda revolução industrial em face do surgimento de novas máquinas/tecnologias e das novas fontes de energia, os liberais passarão a defender para as classes trabalhadoras uma formação mais voltada para a qualificação do trabalho - a formação profissional/técnica. Os teóricos da matriz histórico-crítico serão radicalmente contra a essa educação minimalista, instrumental, pragmática e atrelada aos interesses do capital, destinada a adaptar os trabalhadores ao novo setor produtivo. Gramsci irá contestar o sistema dual, assim constituído: de um lado, a escola científica e humanista, voltada para a formação predominante do trabalho intelectual e a formação de dirigentes; e do outro, a formação para o trabalho manual. Ou seja, um sistema baseado na fragmentação, entre os que criam, planejam, elaboram e/ou dirigem, e os que executam. Em contrapartida, Gramsci irá propor a “escola unitária” ou de cultura geral, ou seja, uma formação integral, que une/integra o trabalho intelectual e o trabalho manual. Segundo Nascimento e Sbardelotto (2008), uma escola comum, única e desinteressada, isto é, com oportunidades de acesso a todos, que prepare de maneira igual os indivíduos às mesmas oportunidades profissionais, e que oportunize o conhecimento de todo o seu passado cultural acumulado historicamente e que deu origem à sociedade em que o indivíduo está inserido. Uma escola que possibilite a autodisciplina intelectual e a autonomia moral. Que lhe dê as ferramentas intelectuais e afetivas para que compreendam seu papel político e social, intervenham de forma consciente na realidade no sentido de transformá-la, lutem contra a desalienação do trabalho, ajam com ética e responsabilidade socioambiental, tornem-se dirigentes e/ou capazes de “dirigir quem os dirige”. Que os possibilitecompreender a sociedade a qual estão inseridos, inclusive as relações de força e de poder existentes. Que leve a compreender os princípios gerais que orientam todo o sistema de produção, tendo a capacidade de analisar criticamente a sociedade, possibilitando os sujeitos a se posicionarem. Para isso faz-se necessário um currículo integrado, que contemple os eixos da cultura, do trabalho, da ciência e tecnologia. A formação defendia pelos teóricos da matriz histórico-crítico é a que, em vez de conferir centralidade à dimensão econômica e ao capital, dê centralidade aos sujeitos e, consequentemente, ao trabalho, tendo em vista que o trabalho é uma atividade essencialmente humana, pois somente os seres humanos o realizam. Por essa razão Gramsci defende que o trabalho se constitua o princípio educativo. Cabe ressaltar que para Gramsci a escola das classes subalternas deve ser de noções rigorosas, posto que o acesso ao conhecimento científico-tecnológico e a cultura geral não devem ser exclusivos das classes abastadas. Por isso, rejeita o espontaneísmo que se traduz no abandono do jovem aos influxos casuais e a renúncia dos professores em ensinar, afrouxando a disciplina do estudo e provocando facilidades. Questão 3: Antunes (2002) sinaliza algumas mudanças ocorridas no mundo do trabalho após a reestruturação produtiva, iniciado nos países do capitalismo central como resposta para a crise capitalista da década de 1970. Indique algumas consequências da reestruturação produtiva verificadas no contexto brasileiro do tempo presente. (2 pontos). Entre as consequências provocadas pela reestruturação produtiva no contexto brasileiro do tempo presente, podemos citar: aumento do desemprego, enfraquecimento do sindicalismo, crescimento do trabalho informal e das relações de trabalho flexibilizadas e precarizadas, a exemplo da terceirização, contratos por tempo determinado, part-time (trabalho intermitente) etc. Essas relações foram legalizadas no governo Temer por meio da reforma trabalhista (Lei nº 13.467/2017) e da Lei da Terceirização (Lei nº 13.429/2017). O agravamento das questões sociais, como a pobreza, aumento do uso do trabalho infantil, da população em situação de rua, crescimento do processo de favelização e o agravamento das questões ambientais também pode ser considerado uma conseqüência da reestruturação, ainda que de forma indireta, pois são decorrentes diretamente dos altos índices de desemprego.
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