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Educação de Crianças, Jovens e Adultos e Psicologia do Desenvolvimento - Portfólio I

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Lev Semenovich Vygostsky e Jena Piaget foram dois teóricos de grande importância, não somente para os profissionais da educação, como também para a sociedade como um todo. Obviamente, como acontece em todas as áreas da ciência, o que eles propuseram como discussão nem sempre foram teorias que se concordavam, mas ambas transformaram nossa forma de pensar a educação infantil e o desenvolvimento da criança. 
Para Vygotsky o ser humano em desenvolvimento, no caso a criança, estrutura-se psicologicamente através das relações sociais, isto é, as relações que este ser estabelece com o mundo e vice-versa. Desta forma podemos dizer que o meio em que essa criança é exposta durante seu desenvolvimento irá influenciar em como ela será. Um exemplo disso, que é bastante explícito, para quem trabalha com crianças, é o fato de as crianças sempre terem mais facilidades de lidar com a tecnologia do que os adultos que a veem sendo criada. 
Já para Piaget, teórico contemporâneo de Vygotsky – e que viveu bem mais tempo que seu colega – a construção do conhecimento tinha muito a ver com nossa condição biológica. Isso faz bastante sentido até pela formação acadêmica dele. Para este teórico existem determinados sistemas de relações, e a criança nasce dentro de algum desses sistemas, e o conhecimento ou conhecer pode-se dizer que acontece quando essa criança coloca um objeto de conhecimento dentro do sistema ou sistemas de relações que ela participa. 
Dito isto podemos dizer que, na visão de Vygotsky primeiro vem o aprendizado e em seguida o desenvolvimento. Já para Piaget seria o oposto, a criança primeiro desenvolve para depois aprender. Isto é, para o primeiro o desenvolvimento acontece, prioritariamente, de fora para dentro e para o segundo, de dentro para fora. 
Hoje com o avanço dos estudos podemos perceber que ambos estudos são muito importantes para tentarmos entender esse período tão rico da nossa vida. Apesar de aparentemente dizerem coisas opostas, na verdade, as teorias se complementam. Ou seja, podemos afirmar que o sujeito tanto influencia quanto é influenciado pelo exterior ao seu psicológico e biológico. 
Uma parte muito interessante do trabalho de Piaget, que está presente até hoje nas escolas, é o que eu costumo chamar de “taxonomia da infância”, que nada mais é do que pegar esse período e classifica-lo em partes que geram o todo. Como já sabemos ele dividiu ou classificou o desenvolvimento infantil em quatro partes: a sensório-motora, pré-operacional, operacional concreto e operacional formal. Outros teóricos sintetizaram em 1ª, 2ª e 3ª infância. 
A segunda infância, que começa geralmente a partir dos 2 anos de idade, é bastante complexa e crucial, assim como as outras, para o desenvolvimento da criança. Mas falarei dessa especificamente, pois nela acontece o desenvolvimento da faculdade da linguagem. Caso isso não ocorra ou acontece de forma “deficiente” poderá ocasionar inúmeros problemas cognitivos na pessoa. 
É nessa fase que a criança começa a descobrir as suas limitações e possibilidades corporais, através da utilização de seus membros e órgãos. Ela aprende tanto observando e tentando imitar o que outras pessoas fazem como também testam o seu corpo por si mesmas. Com todos esses testes a criança começa a descobrir com qual mão ela pega objetos ou escreve, com qual perna ela chuta melhor etc. E através dessas descobertas que utilizam o corpo como ferramenta junto ao ambiente é que se cria também a noção de espaço-tempo. 
Através, então, dessas interações a criança começa a perceber seu corpo de forma mais complexa. Começa também a adquirir as noções de localização, tanto no espaço quanto no seu próprio corpo. Através dessa noção se desenvolve a noção de locomoção, e por consequência, ao se locomover a criança conhece mais a si mesma e o ambiente. 
Assim ela a criança cria a noção de tempo, e com a noção de tempo ela começa a criar ciclos, e também a perceber e ter noções como futuro e passado, claro tudo isso já muito embasado na língua materna da criança que oferece uma outra forma de guardar tais conhecimentos mais abstratos. 
Entretanto, apesar de várias pesquisas que citei nesse texto, as quais tem intenção de nortear tanto profissionais educadores quanto a sociedade educadora em geral, ainda temos muito o que caminhar para que possamos possibilitar o desenvolvimento pleno de uma criança. E apesar do Brasil ter sido o primeiro país a adequar a sua legislação em relação aos tratados internacionais, ainda percebemos que permanece na educação uma sombra do assistencialismo. 
Algo que está em voga são as Escolas de Tempo Integral, o que se difere enormemente da Educação Integral. A diferença não está diretamente nos conceitos, pois uma escola de tempo integral acaba que pincela algumas coisas, mesmo que apenas para maquiar, da Educação Integral. Segundo o Centro de Referências em Educação Integral 
A Educação Integral é uma concepção que compreende que a educação deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões – intelectual, física, emocional, social e cultural e se constituir como projeto coletivo, compartilhado por crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e comunidades locais.
	Ou seja, se formos analisar, a educação integral vai ao encontro de todas as teorias aqui citadas e aproveitando todas as possibilidades e ferramentas para educar uma criança. Acredito eu que a ideia da educação integral é a que chega mais próxima da que Paulo Freire postula e que melhor contempla o real sentido de educação.
	Por outro lado, o que vivemos hoje é uma tentativa de criar espaços de tempo integral para que, após a creche e durante todo o período escolar de uma criança ou adolescente, esta possa estar integralmente na escola, mas não necessariamente se educando integralmente. Enquanto a escola fica com as crianças os pais podem ficar tranquilos e ir trabalhar. Aqui no Pernambuco tal modelo de escola está sendo chamado de “Escola da Escolha”, o que é muito contraditório, pois nenhum professor ou estudante pode escolher o que quer aprender, pois o modelo vem todo fechado e pronto para ser aplicado. 
Isso, claro, acontece na escola pública de forma muito despreparada, impensada, insalubre, desconsiderando a saúde mental de professore e estudantes que precisam ficar o dia inteiro numa escola em que a comunidade participa pouco na escola e vice-versa. Esse tipo de modelo de escola assistencialista ainda é baseado no classismo, que é bem mais antigo que o capitalismo. 
Com tudo isso exposto, fico me perguntando se existe a possibilidade de aplicarmos todos estes conhecimentos que vários teóricos desenvolveram sobre a educação das crianças dentro desse modelo de vida capitalista que vivemos e adotamos diariamente. Como esse tipo de vida atual, capitalista-tecnológico-interconectado, pode estar afetando tais processos de desenvolvimento de formar positiva ou negativa? Um capitalismo menos agressivo poderia possibilitar maiores transformações na educação e consequentemente na vida das pessoas e suas comunidades? Estas são questões que poderão ser respondidas em breve, acredito.

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