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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO PROFESSOR: Leandro Guerra de Melo Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores I - PARTES As partes no processo são o autor e o réu. O autor é aquele que pede a tutela jurisdicional do Estado. O réu é aquele contra quem é pleiteada a respectiva tutela. No processo do trabalho, encontramos denominações específicas para autor e réu, como: reclamante e reclamado, em se tratando de reclamação trabalhista; requerente e requerido, no caso de inquérito judicial para apuração de falta grave; e suscitante e suscitado, quando se tratar de dissídio coletivo. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores II - CAPACIDADES a) Capacidade de ser parte (de direito, de gozo): Aptidão genérica para figurar no processo como autor ou como réu, ou seja, é a aptidão para ser parte. São possuidores dessa capacidade qualquer pessoa física ou natural, qualquer pessoa jurídica e alguns entes despersonalizados (massa falida, espólio etc.). Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores b) Capacidade processual ou para estar em juízo (de fato, de exercício): Aptidão para praticar atos processuais sem a necessidade de representação ou assistência e atuar sozinho, pessoalmente, no âmbito processual. No direito do trabalho, considera-se maior a partir dos 18 anos, segundo o art. 7o, inciso XXXIII, da CF/88, e os arts. 402 a 404 da CLT. Considera-se menor, para os efeitos da CLT, o trabalhador com idade entre 14 e 18 anos. Art. 402. da CLT: Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de 14 (quatorze) até 18 (dezoito) anos. Direito Processual do Trabalho CF/88 - Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; CLT - Art. 402. da CLT: Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de 14 (quatorze) até 18 (dezoito) anos. Parágrafo único (...) Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos. Parágrafo único. O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permitam a freqüência à escola. Art. 404 - Ao menor de 18 (dezoito) anos é vedado o trabalho noturno, considerado este o que for executado no período compreendido entre as 22 (vinte e duas) e as 5 (cinco) horas. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores A reclamação trabalhista movida pelo empregado menor de 18 anos vem disciplinada no art. 793 da CLT: Art. 793. A reclamação trabalhista do menor de 18 (dezoito) anos será feita por seus representantes legais e, na falta destes, pela Procuradoria da Justiça do Trabalho, pelo sindicato, pelo Ministério Público estadual ou curador nomeado em juízo. Direito Processual do Trabalho NOTA: Emancipação do direito civil e seus reflexos no direito processual do trabalho. 1ª. Corrente (minoritária): A emancipação não gera reflexos trabalhistas. As normas processuais trabalhistas são imperativas e de ordem pública, ou seja, de observância obrigatória (princípio da imperatividade das normas processuais trabalhista); A CLT, por ser norma especial, na hermenêutica jurídica prevalece em relação ao Código Civil, que é norma geral. Direito Processual do Trabalho 2ª. Corrente (majoritária): A emancipação gera reflexos trabalhistas. Pelo princípio da unidade de interpretação do ordenamento jurídico, seria incoerente a ideia de que o menor emancipado estivesse apto a praticar todos os atos da vida civil sozinho e, no momento de ajuizar a reclamação trabalhista, necessitasse da assistência de seus pais. Nesse caso, estaria apto a ajuizar a exordial trabalhista sem assistência, e os prazos prescricionais correriam normalmente, não sendo aplicável o art. 440 da CLT (Art. 440 - Contra os menores de 18 (dezoito) anos não corre nenhum prazo de prescrição), além da razoabilidade, proporcionalidade e bom senso. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores c) Capacidade postulatória: Aptidão para postular em juízo. Capacidade privativa de advogado, segundo o Estatuto da OAB – Lei n. 8.906/94, em seu art. 1o, I: “Art. 1o São atividades privativas de advocacia: I – a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; (...)”. Direito Processual do Trabalho NOTA: A capacidade postulatória é privativa, mas não exclusiva de advogado. O sistema processual vigente elenca as seguintes hipóteses de capacidade postulatória conferidas às próprias partes: 1 - impetrar habeas corpus; 2 - postular em Juizado Especial Cível (procedimento sumaríssimo), quando o valor da causa não exceder 20 (vinte) salários mínimos; 3 - jus postulandi no Processo do Trabalho. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores III - Jus postulandi no Processo do Trabalho Regra geral, o Advogado não é necessário na Justiça do Trabalho, já que o art. 791 da CLT, recepcionado pela CF/88, sustenta a existência do jus postulandi, ou seja, do direito das partes postularem em juízo, tanto reclamante quanto reclamado sem a presença de um advogado. Tal direito sofreu nítida restrição com a edição da SÚMULA Nº 425 DO TST, ao afirmar que: “O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho”. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores Portanto, de acordo com a SÚMULA Nº 425 DO TST, é admitido o jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT: a) Processos nas Varas do Trabalho (qualquer processo) b) Processos e recursos nos Tribunais Regionais do Trabalho, exceto a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança; c) Não admitido nos recursos e processos de competência do Tribunal Superior do Trabalho. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores IV - Procuração ou Mandato Expresso no Processo do Trabalho A procuração é instrumento de mandato, que representa a outorga de poderes do cliente ao advogado (art. 105 do CPC). Os estagiários de Direito poderão atuar e praticar atos processuais na Justiça do Trabalho, porém, são atos processuais privativos de advogados: assinar petição inicial; comparecer nas audiências trabalhistas; interpor recursos; fazer sustentação oral nos tribunais trabalhistas. Para a prática desses atos processuais, o estagiário deverá estar acompanhado de um advogado, uma vez que as peças processuais poderão ser assinadas em conjunto, conforme disposto no art. 3o, § 2o, da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB). Direito Processual do Trabalho CPC - Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. § 1º A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. § 2º A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 3º Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil eendereço completo. § 4º Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores V - Mandato Tácito no Processo do Trabalho Situação processual pela qual um advogado, sem procuração (instrumento de mandato) nos autos, comparece pessoalmente em audiência trabalhista representando a parte, pratica atos processuais e seu nome consta na ata de audiência, estando apto a defender os interesses de seu cliente daquele momento em diante. O TST reconhece a validade processual do mandato tácito, conforme OJ 286 da SDI-1: I – A juntada da ata de audiência, em que está consignada a presença do advogado, desde que não estivesse atuando com mandato expresso, torna dispensável a procuração deste, porque demonstrada a existência de mandato tácito. II – Configurada a existência de mandato tácito fica suprida a irregularidade detectada no mandato expresso”. Direito Processual do Trabalho NOTA 1: Advogado munido de mandato tácito goza apenas dos poderes para o foro em geral, não possuindo poderes específicos, à luz dos termos do art. 105 do CPC/2015, como receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica em mandato expresso. NOTA 2: O advogado munido de mandato tácito não pode praticar substabelecimento, ou seja, outorgar poderes para outro advogado, conforme OJ 200 da SDI-1 do TST. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores VI – O SINDICATO COMO SUBSTITUTO PROCESSUAL O sindicato detém legitimidade extraordinária ampla e irrestrita para atuar como substituto processual na defesa de quaisquer direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Essa atuação ampla e irrestrita poderá ser exercida nas fases de conhecimento, liquidação ou execução. Não há a necessidade da menção do rol de todos os substituídos processuais. O TST adotou o entendimento sustentado pelo STF, cancelando a Súmula 310 que previa a necessidade da menção do rol de todos os substituídos processuais. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores VII – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA E BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA Não se deve confundir assistência judiciária gratuita com benefício da justiça gratuita. A assistência judiciária gratuita é o patrocínio gratuito da causa por um advogado custeado pelo Estado, que abrange o benefício da justiça gratuita também. De outra sorte, o benefício da justiça gratuita representa um conceito mais restrito, limitado à isenção das custas e despesas processuais. Direito Processual do Trabalho a) ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA A assistência judiciária encontra amparo legal nos arts. 14 a 18 da Lei n. 5.584/70. Características: 1 - A Lei n. 1.060/50, estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados, e será prestada pelo sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador; 2 - A assistência judiciária será prestada ao trabalhador, ainda que não seja associado do respectivo Sindicato; Direito Processual do Trabalho NOTAS: - O empregador não tem direito à assistência judiciária prestada pelo sindicato representativo da categoria profissional. - É ilegal o comportamento de alguns sindicatos de exigirem a associação sindical do obreiro como condição da assistência judiciária. 3 - A assistência é devida a todo aquele que perceber salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar sem prejuízo do sustento próprio ou da família; Direito Processual do Trabalho b) BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA O benefício está previsto no art. 790, § 3º. e 4º., da CLT. Características da concessão do benefício: 1 - É facultativa; 2 – Concedido de ofício ou a requerimento da parte; 3 - Os empregados deverão perceber salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social; Direito Processual do Trabalho 4 - Poderá ser concedida pelos juízes e tribunais do trabalho de qualquer instância. Segundo o TST, em sua OJ n. 269 da SDI-1, o benefício da justiça gratuita pode ser requerido em qualquer tempo ou grau de jurisdição, desde que, na fase recursal, seja o requerimento formulado no prazo relativo ao recurso; e 5 - O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo. Direito Processual do Trabalho NOTA 1: A Reforma Trabalhista manteve a faculdade da concessão do benefício da justiça gratuita em qualquer grau de jurisdição trabalhista. Não obstante, houve limitação na concessão àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. Outrossim, o benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo. Concluindo, somente fará jus ao benefício da justiça gratuita aquele que realmente necessitar, evitando-se abuso no pleito e ofensa ao princípio da isonomia. Direito Processual do Trabalho NOTA 2: A doutrina e os tribunais trabalhistas vêm reconhecendo paulatinamente a possibilidade de concessão do benefício da justiça gratuita ao empregador, como nos casos de empregador doméstico, empregador constituído em empresa individual (pessoa física ou natural) e micro ou pequeno empresário. A fundamentação é o inciso LXXIV do art. 5o da CF/88, em que se afirma que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, sem qualquer ressalva. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores VIII – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS A Reforma Trabalhista trouxe a regulamentação dos honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho, pleito reivindicado por muitos anos pela Advocacia Trabalhista. Características: 1 - Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa; Direito Processual do Trabalho 2 - Os honorários são devidos também nas ações em face da Fazenda Pública e nas ações em que a parte estiver assistida ou substituída pelo Sindicato de sua categoria; 3 - Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários; 4 - Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário. Direito Processual do Trabalho Partes e Procuradores IX – LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NO PROCESSO DO TRABALHO Nos termos do artigo 793-A da CLT, responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como reclamante, reclamado ou interveniente. E na sequência, surge o artigo793-B com hipóteses taxativas em que a parte ou interveniente será considerada como litigante de má-fé. Art. 793-A. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como reclamante, reclamado ou interveniente. Direito Processual do Trabalho Art. 793-B. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidente manifestamente infundado; VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Direito Processual do Trabalho Art. 793-C. De ofício ou a requerimento, o juízo condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a 1% (um por cento) e inferior a 10% (dez por cento) do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. § 1o Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juízo condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. § 3o O valor da indenização será fixado pelo juízo ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos. Direito Processual do Trabalho Art. 793-D. Aplica-se a multa prevista no art. 793-C desta Consolidação à testemunha que intencionalmente alterar a verdade dos fatos ou omitir fatos essenciais ao julgamento da causa. Parágrafo único. A execução da multa prevista neste artigo dar-se-á nos mesmos autos.
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