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Tutela Administrativa e Penal no Direito do Consumidor

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DIREITO DO CONSUMIDOR
DIREITO DO CONSUMIDOR
Graduação
DIREITO DO CONSUMIDOR
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TUTELA ADMINISTRATIVA E PENAL
Estudamos nas unidades anteriores, os conceitos e princípios, os atos
praticados pelo fornecedor de produto ou serviço e a forma de como esse
produto ou serviço é colocado à disposição do consumidor. Veremos agora, a
forma e método de fiscalização pelos órgãos estatais (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), ao fornecedor de produto ou serviço, caso não esteja
dentro dos dispositivos normativos especificados no CDC, bem como sua
conseqüência prática pelo não-cumprimento.
OBJETIVO DA UNIDADE:
Verificar a forma e o método de fiscalização pelos órgãos estatais, ao
fornecedor do produto ou serviço, que não se encontra dentro dos dispositivos
normativos especificados no Código de Defesa do Consumidor, bem como
sua conseqüência prática pelo não-cumprimento.
PLANO DA UNIDADE:
• Sanções administrativas
• Tutela penal
• Das infrações penais
Bons estudos!
UNIDADE 4 - TUTELA ADMINISTRATIVA E PENAL
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SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
O Capítulo VII (Das Sanções Administrativas) encerra o Título I,
disciplinando as sanções e infrações de cunho administrativo. São normas
gerais destinadas aos entes federativos, União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, revestindo-os de competência para regular e editar normas, cada
um em sua área de atuação, sobre infrações e sanções administrativas nas
relações de consumo. Essa competência, logicamente, é concorrente, diante
do art. 55 do CDC.
É oportuno frisar que o Poder de Polícia Administrativo nas relações de
consumo se sujeita aos princípios do contraditório e da reserva legal,
caracterizando-se pela discricionariedade na aplicação das penalidades.
O Ministério Público tem atuação de natureza administrativa ou
extrajudicial na defesa do consumidor.
Outro ponto importante, é o fato das sanções administrativas poderem
ser aplicadas cumulativamente às infrações penais e as de natureza civil,
existindo, também, a possibilidade de imposição de contrapropaganda,
custeadas pelo fornecedor, em decorrência de publicidade enganosa ou
abusiva (art. 60).
TUTELA PENAL
Estudamos na unidade anterior (UNIDADE III – Práticas comerciais), a
forma e os meios com o que os entes federados fiscalizam as práticas
comerciais do fornecedor de produto ou serviço.
Iniciaremos agora, o estudo das infrações penais praticadas pelo
fornecedor de produto ou serviço, que tratam, na verdade, de crimes de perigo
e são praticados através de conduta comissiva (pratica ação) ou omissiva
(deixa de praticar certas condutas).
DAS INFRAÇÕES PENAIS
O Título II do CDC trata das infrações penais a que o fornecedor de
produtos e serviços está sujeito quando praticar (crimes comissivos) ou deixar
de praticar (crimes omissivos) certas condutas nas relações de consumo.
Trata-se de crimes próprios em que o sujeito ativo é o fornecedor e o
sujeito passivo é o consumidor ou equiparado.
As condutas tipificadas pelo CDC constituem crimes de perigo, uma vez
que não constitui elemento constitutivo do delito a ocorrência do efetivo dano
ao consumidor. Basta a simples manifestação da conduta para caracterizar a
ilicitude.
Ato contínuo, além da responsabilidade penal, o fornecedor de produtos
e serviços pode, de forma cumulativa, responder civil e administrativamente
por seus atos.
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As condutas comissivas ou omissivas, tipificadas no CDC, bem como
as suas respectivas penas, estão previstas nos arts. 63 ao 74.
O art. 76 traz as circunstâncias agravantes dos crimes ali tipificados,
como prática de crime durante grave crise econômica, a prática de crime por
servidor público, além de crimes que envolvam alimentos, medicamentos,
produtos e serviços essenciais, dentre muitos outros.
É importante observar que os crimes contra as relações de consumo
não estão revistos somente no CDC, mas também em outras normas, como,
por exemplo, no Código Penal e em leis especiais.
Omissão de comunicação e de retirada do mercado (art. 64)
Podemos classificar a conduta da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. Quanto ao objeto jurídico é direito do
consumidor de proteção à vida, saúde e segurança, bem como
informação adequada sobre os riscos que produtos e serviços
apresentem (art. 6º, I e II), configurando a infração pela
infringência do dever legal de comunicação às autoridades
competentes acerca da nocividade ou periculosidade
superveniente à colocação do produto mercado, bem como do
dever de retirá-lo do mercado imediatamente, quando assim
determinado.
b) Sujeito Ativo. Pode ser qualquer fornecedor de produtos ou
serviços que tenha conhecimento de nocividade ou
periculosidade.
c) Sujeito Passivo. O consumidor em geral, visto de forma difusa
ou a “coletividade de consumidores”.
d) Tipo Objetivo. O artigo contempla 2 (duas) formas de condutas:
1) a omissão de comunicação e; 2) omissão de retirada de
produto nocivo ou perigoso do mercado.
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de praticar a omissão. Não existe a modalidade culposa.
f) Consumação. Também de 2 (duas) formas: 1) com o
conhecimento de nocividade ou periculosidade e a ausência de
comunicação; 2) com a negativa de retirada imediata de produto
nocivo ou perigoso já colocado no mercado. Não é admitida a
tentativa.
Execução de serviços altamente perigosos (art. 65).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. O direito do consumidor de proteção à vida,
saúde e segurança (art. 6º, I).
b) Sujeito Ativo. Qualquer fornecedor ou prestador de serviços
que contrarie determinação da autoridade.
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c) Sujeito Passivo. O consumidor de forma geral (difusamente) e
o exposto ao serviço.
d) Tipo Objetivo. O tipo penal requer a prática de duas condutas:
executar serviço altamente perigoso e contrariar determinação
da autoridade competente.
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de executar o serviço altamente perigoso, ciente de estar
contrariando a autoridade competente. Não existe a modalidade
culposa.
f) Consumação. Com o início da execução do serviço altamente
perigoso, independente de resultado lesivo ao consumidor. Se
ocorrer morte há concurso de crimes (parágrafo único). A forma
tentada é possível, mas de difícil realização.
Fraude em oferta (art. 66).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. Os direitos do consumidor de livre escolha e
de informação adequada (art. 6º, II e III), regularizados nos
arts. 30 e 31 do CDC.
b) Sujeito Ativo. Qualquer fornecedor que oferece produtos e/ou
serviços na forma descrita no artigo (1 – fazer afirmação falsa
ou enganosa; 2 – omitindo informação relevante; 3 –
patrocinando a oferta nas mesmas condições).
c) Sujeito Passivo. Consumidor de forma geral (difusamente) e o
exposto à oferta.
d) Tipo Objetivo. São os núcleos previstos na norma (1 – fazer
afirmação falsa ou enganosa; 2- omitindo informação relevante;
3 – patrocinando a oferta nas mesmas condições).
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de fazer a afirmação falsa ou enganosa, omitindo informação
relevante ou patrocinando oferta sabendo ser fraudulenta. O
art. 66, § 2º, previu a forma culposa. Entretanto, a conduta
tipificada se perfaz através de ato unissubsistente, ou seja,
se consuma com um só ato.
f) Consumação. Quando divulgada ao público consumidor a
ofertas nas condições acima mencionadas independentemente
de resultado. A forma tentada é possível, mas de difícil
comprovação.
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Publicidade enganosa ou abusiva (art. 67).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. Os direitos do consumidor de livre escolha,
correta informação, proteção contra a publicidade enganosa
ou abusivae efetiva prevenção de danos patrimoniais e morais
(art. 6º, II, III e VI), corporificados nos dispositivos do art. 37,
§§ 1º, 2º e 3º.
b) Sujeito Ativo. Os profissionais que cuidam da criação e
produção de publicidade e os responsáveis pela sua veiculação
nos meios de comunicação.
c) Sujeito Passivo. O consumidor em geral (difusamente) e aquele
exposto diretamente à publicidade enganosa ou abusiva.
d) Tipo Objetivo. O tipo comporta 2 núcleos: 1) fazer (criar,
executar) comportamento humano positivo diretamente ligado
ao profissional publicitário; 2 – promover (diligenciar para que
se efetue a publicidade enganosa ou abusiva), conduta atribuída
aos responsáveis pela veiculação.
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de fazer ou promover a publicidade nas condições indicadas.
f) Consumação. Fazendo ou com a veiculação da publicidade pelos
meios de comunicação independente de resultado lesivo.
Publicidade prejudicial ou perigosa (art. 68).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto jurídico. Os direitos do consumidor de informação
correta, de proteção contra a publicidade abusiva e de efetiva
prevenção de danos patrimoniais e morais (art. 6º, I, III, IV e
VI), na forma do art. 37, § 2º.
b) Sujeito Ativo. Os profissionais que cuidam da criação e
produção da peça publicitária abusiva, prejudicial ou perigosa
para o consumidor em geral (difusamente) ou individual.
c) Sujeito Passivo. O consumidor em geral (difusamente) e aquele
exposto à publicidade capaz de induzi-lo a comportar-se de
forma prejudicial ou perigosa.
d) Tipo Objetivo. São os mesmos do art. anterior (fazer, promover).
e) Tipo Subjetivo. É dolo direto e consiste no saber e a culpa sem
previsão (deveria saber).
f) Consumação. Com a veiculação (fazer e promover) da
publicidade, mesmo que o consumidor não seja induzido.
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Omissão na organização de dados (art. 69).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. Os direitos do consumidor de informação
adequada, proteção contra publicidade enganosa e abusiva e
reparação de danos patrimoniais e morais (art. 6º, III, IV e VI).
b) Sujeito Ativo. O fornecedor anunciante de produtos ou serviços
e que tem o dever legal de organizar dados (art. 36, parágrafo
único).
c) Sujeito Passivo. O consumidor em geral (difusamente) e o
interessado nos dados organizados pelo fornecedor.
d) Tipo Objetivo. O descumprimento do parágrafo único do art.
36. Pune-se a omissão.
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de não fazer, de não providenciar a organização dos dados.
Inexiste a punição a título de culpa.
f) Consumação. No exato momento em que se deveriam ter sido
organizados os dados e não o foram. Não se admite a forma
tentada.
Emprego não autorizado de componentes usados (art. 70).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. O direito do consumidor de obter reparação
de produto mediante utilização de componentes de reposição
adequados e novos (art. 21), já que aqueles lesados só podem
ser empregados com sua autorização. Busca-se proteger o
patrimônio do consumidor.
b) Sujeito Ativo. Qualquer fornecedor ou prestador de serviços,
admitindo-se que pelo delito venha a responder o técnico da
empresa prestadora de serviço, que, sem autorização, tenha
utilizado peça ou componente usado.
c) Sujeito Passivo. O consumidor ludibriado.
d) Tipo Objetivo. Desrespeito à norma contida no art. 21, por
meio da conduta de empregar (utilizar) produtos, peças ou
componentes usados, sem autorização do consumidor.
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de utilizar peças e componentes usados, sem que, para tanto,
esteja autorizado pelo consumidor. Não há conduta culposa por
não estar previsto em lei.
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f) Consumação. Com a conclusão da reparação do produto em
que foram empregadas peças ou componentes usados. Admite-
se a tentativa.
Cobrança vexatória de dívidas (art. 71).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. Os direitos do consumidor de proteção da vida,
saúde e segurança, bem como contra práticas abusivas e
métodos comerciais coercitivos desleais (art. 6º, I e IV). Busca-
se proteger a sua vida privada em face de meios vexatórios e
constrangimentos que possam vir a sofrer no momento da
cobrança de dívidas.
b) Sujeito Ativo. Qualquer pessoa que venha a efetuar ou
determinar a cobrança de dívidas mediante o uso dos meios
vexatórios definidos no tipo.
c) Sujeito Passivo. Qualquer consumidor exposto ao ridículo ou
molestado, de forma injustificada, por ocasião da cobrança de
dívida de sua responsabilidade.
d) Tipo Objetivo. É a utilização, na cobrança de dívidas, de meios
vexatórios consistentes na ameaça, coação, constrangimento
físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou
de qualquer procedimento que exponha o consumidor,
injustificadamente, a ridículo ou interfira em seu trabalho,
descanso e lazer.
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de utilizar os meios vexatórios descritos na cobrança de dívidas.
Não existe punição a título de culpa.
f) Consumação. Com a efetiva utilização dos meios vexatórios
na cobrança de dívidas independentemente do resultado. É
admissível a tentativa.
Impedimento de acesso a informações cadastrais (art. 72).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. Os direitos do consumidor de proteção contra
práticas abusivas (art. 6º, IV) e de acesso a informações
cadastrais (art. 43).
b) Sujeito Ativo. Qualquer pessoa que tenha o dever de fornecer
as informações cadastrais ao consumidor, como, por exemplo:
arquivistas responsáveis por cadastros de dados, bancos de
dados, fichas e registros, e impeça ou dificulte o acesso do
consumidor às informações que lhe dizem respeito.
c) Sujeito Passivo. Qualquer consumidor interessado nos dados
existentes a seu respeito.
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d) Tipo Objetivo. A ação alternativamente prevista é impedir
(embaraçar, obstruir) ou dificultar (tornar difícil, colocar
impedimentos) o acesso do consumidor às informações sobre
ele existente e cadastros.
e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de impedir o acesso às informações. Não existe a modalidade
culposa.
f) Consumação. Quando o agente nega ou dificulta o acesso às
informações, após solicitação do consumidor. Não é admitida a
tentativa.
Omissão na correção de dados inexatos (art. 73).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. O direito do consumidor de obter correção de
informação inexata (art. 43, § 3º), o qual pode lhe causar
transtornos na vida pessoal em seu crédito.
b) Sujeito Ativo. O arquivista ou responsável pelo cadastro, banco
de dados, fichas ou registros.
c) Sujeito Passivo. Qualquer consumidor interessado na correção
de informações inexatas a seu respeito.
d) Tipo Objetivo. É a omissão em corrigir, imediatamente,
informação inexata sobre o consumidor constante de cadastro,
banco de dados, fichas ou registros.
e) Tipo Subjetivo. Dolo direto (sabe) e a culpa sem previsão
(deveria saber).
f) Consumação. Com a recusa do arquivista ou responsável em
promover a correção da informação inexata.
Omissão na entrega do termo de garantia (art. 74).
Classifica-se da seguinte forma:
a) Objeto Jurídico. Assegurar efetividade à garantia contratual
prevista no art. 50 e parágrafo único, buscando com isso
resguardar reflexamente o patrimônio do consumidor.
b) Sujeito Ativo. Qualquer fornecedor de bens de consumo
duráveis que deixa de entregar ao consumidor o termo de
garantia previsto no art. 50.
c) Sujeito Passivo. Qualquer consumidor de bens de consumo
duráveis ao qual se outorga garantia contratual.
d) Tipo Objetivo. É a omissão na entrega ao consumidor do termode garantia contratual, devidamente preenchido, no ato em que
é efetuada a venda de produto ou a prestação de serviço.
DIREITO DO CONSUMIDOR
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e) Tipo Subjetivo. O dolo consiste na vontade livre e consciente
de omitir-se na providência de entregar o termo de garantia
devidamente preenchido. (Não há a forma culposa).
f) Comsumação. Com a venda e entrega ao consumidor de bens
e consumo duráveis, desacompanhado do termo de garantida
contratual. Não é admitida a forma tentada.
Estudamos nessa unidade a tutela penal das condutas praticadas pelo
fornecedor de produto ou serviço, ou seja, a sua criminalização pela prática
de ato considerado pelo CDC como criminoso.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na unidade seguinte estudaremos a Tutela Jurisdicional, ou seja, quais
as formas e os meios que o consumidor ou até mesmo os órgãos poderão
invocar do Estado a sua pretensão.

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