Grátis
304 pág.

ESTADO LAICO volume 1
UNICESUMAR
Denunciar
5 de 5 estrelas









3 avaliações
Enviado por
João NNeves Jr
5 de 5 estrelas









3 avaliações
Enviado por
João NNeves Jr
Pré-visualização | Página 7 de 50
nas relações laborais desenvolvidas no seu seio, ao confluir a liberdade ideológica do trabalhador e a liberdade ideológica coletiva da empresa de tendência da qual o trabalhador forma parte; “confluência na qual se deve tentar combinar duas dimen- sões do mesmo direito constitucional, que, em suas diferen- tes manifestações, podem se exercitar tanto pelo trabalhador como pela empresa de tendência; a liberdade ideológica, que em sua dimensão individual supõe o direito do trabalhador à liberdade interna e externa, ao exercício de suas manifestações e à não-discriminação ideológica na relação laboral; e em sua dimensão coletiva, implica o direito reconhecido às empresas de tendência, à propagação de sua mensagem sem que este seja desfigurado, para o que pode ser necessário impor limi- tes à liberdade ideológica do trabalhador. Em síntese, surge o problema de conciliar as necessidades organizativas da empre- sa ideológica com a proteção dos direitos fundamentais dos trabalhadores”.31 A colisão dos direitos sustentados pela empresa e dos direitos também constitucionalmente reconhecidos aos trabalhadores resulta geralmente na prevalência da ideologia defendida pela empresa precisamente porque estará prevalecendo o mesmo direito à liberdade de pensamento, apenas que em sua vertente coletiva.32 Nesse caso, se admite a limitação dos interesses dos trabalhadores, que de outra maneira seriam considerados como discriminatórios. O reconhecimento em favor de certas organizações da faculdade de moderar a regra geral de não-discriminação por razões ideológicas se generalizou nos ordenamentos europeus. O art. 4.2 da Diretiva 2000/78/CE dispõe que não será constitutivo de discriminação uma diferença de trato “baseada na religião ou nas convicções pessoais de uma pessoa” quando, pela natureza das atividades profissionais de igrejas e outras organizações públicas ou privadas, as crenças atuem como “um requisito profissional essencial, legítimo e justificado a respeito da ética da organização”. De todos os modos, qualquer limitação deve ser entendida em termos muito 31 HIDALGO RÚA, G. M. La libertad ideológica del trabajador. In: Estudios Financeiros n. 168, p. 59. 32 ORELLI HERNÁNDEZ, J., op. cit., p. 111. El autor en ese aspecto cita a FERNANDEZ LOPEZ, M. F. : “Libertad ideológica y prestación de servicios”, RL, n. 7, 1985, p. 66 y 67. 26 Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico restritos, “pois dada a posição preeminente dos direitos fundamentais no nosso ordenamento [espanhol], essa modulação só se produzirá na medida estritamente imprescindível para o correto e ordenado desenvolvimento da atividade produtiva” (STC 126/2003, de 30 de junho). As restrições a que podem ficar submetidos [os trabalhadores] são toleráveis: “sempre que sejam proporcionais, de modo que, por adequadas, contribuam à consecução do fim constitucionalmente legítimo ao que tendem e por indispensáveis sejam inevitavelmente preferidas a outras que poderiam supor, para a esfera da liberdade publica protegida, um sacrifício menor” (STC 112/2006, de 5 de abril). 5. As restrições aos direitos fundamentais no contrato do professor de religião a) Fase pré-contratual O art. 16.2 CE e o art. 17.1 ET proíbem ao empresário perguntar ou tentar conhecer de algum modo a esfera privada do trabalhador. Convém, no entanto, precisar que a inclusão de elementos religiosos no perfil profissional de um posto de trabalho é admissível nas prestações de tendência de entidades religiosas, quando os dados solicitados tenham conexão funcional direta com a prestação de trabalho. Há conexão funcional quando a religião tiver um nexo direto e necessário com a avaliação das aptidões profissionais.33 O dever de boa fé impõe ao trabalhador que responda de maneira correta às perguntas formuladas em relação aos requisitos de idoneidade vinculados à natureza objetiva da tarefa contratada, sendo necessário ao empregador deixar claro sua linha religiosa para o candidato a emprego. No caso do contrato de trabalho do professor de religião o questionamento e avaliação da crença e práticas religiosas será feito por autoridade religiosa externa ao colégio. A fase anterior ao contrato de trabalho isenta o empregador do questionamento direto, contudo a sua religiosidade é levada em consideração na contratação através do aval da autoridade eclesiástica. De qualquer modo, o armazenamento dos dados de caráter religioso, os quais configuram dados sensíveis, exige a adoção de cuidados legais especiais para proteção no armazenamento e difusão pelo empregador. 33 Segundo o art. L. 121-6 Code du Travail francés , conceito que tomamos emprestado para este estudo. 27Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico De qualquer forma, é inexigível, como condição para contratação, a vinculação do trabalhador de tendência a um determinada entidade religiosa orque a prestação nunca pode supor a adesão à organização.34 b) Continuidade do contrato Em regra, a incompatibilidade religiosa surge no curso da relação laboral em decorrência da mudança da fé ou da prática do trabalhador. O contrato de trabalho somente é afetado se tais divergências inviabilizarem a prestação contratada. Se o professor de religião continuar assumindo externamente o dever de divulgar ou adaptar a sua prestação segundo os ditames dos princípios religiosos assumidos, ainda que não compartilhe em consciência; se não realiza críticas prejudiciais à entidade; se desenvolve sua atividade extralaboral, publicamente conhecida, com pleno respeito ou acatamento dos ideais do ente, inexiste óbice à lícita continuação de sua relação de trabalho. “Em conseqüência, qualquer sanção ou resolução do contrato de trabalho baseada nestas crenças ou opiniões íntimas deve ser qualificada como discriminatória e, portanto, plenamente nula e ilegal.”35 No caso de discrepância religiosa posterior, as partes podem acordar inovar objetivamente o contrato de trabalho, ou seja, modificar a tarefa exercida para uma tarefa neutra como forma de acomodação do conflito sem que isso signifique alteração ilícita ou renúncia de direitos. Goñi Sein se refere inclusive à possibilidade de estabelecer uma indenização econômica ante a violação por parte do empregador da vida íntima do trabalhador no caso de o empregador divulgar de forma pública e notória essa incompatibilidade.36 É esse o caminho trilhado pelo Tribunal Constitucional espanhol: “Por isso, sustentamos que ‘uma atividade docente hostil ou contrária ao ideal de um centro docente privado pode ser causa legítima de dispensa do professor ao que se impute tal conduta ou tal fato singular, se os fatos ou o fato constitutivo de ‘ata- que aberto ou malicioso’ ao ideal do centro resultarem compro- vados por quem os alega como causa de dispensa, isto é, pelo empresário. Mas o respeito aos direitos constitucionalizados no art. 16, entre outros, implica, além do mais, que a simples dife- 34 ROJAS RIVERO, G. P. La libertad de expresión del trabajador. Madrid: Trotta, DL, 1991, p. 211. 35 CALVO GALLEGO, Contrato de Trabajo y Libertad Ideológica: Derechos fundamentales y organi- zaciones de tendencia. op. cit., p. 247. 36 CALVO GALLEGO, Contrato de Trabajo y Libertad Ideológica: Derechos fundamentales y organi- zaciones de tendencia. op. cit., p. 247. 28 Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico rença de um professor a respeito do ideal do centro não pode ser causa de dispensa se não se exteriorizou ou manifestou em alguma das atividades educativas do centro.” (STC 47/1985, fundamento jurídico 3.º).”(STC 106/1996, de 12 de junio). A Constituição espanhola assegura expressamente a liberdade de cátedra do docente (art. 20.1, “c”, CE) como desdobramento da liberdade de ensino. A liberdade de cátedra tem