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SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
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 Ilana Snyder 
 
No passado, na década de 90, a escrita e o discurso acadêmicos sobre novas 
mídias freqüentemente incluíam uma referência ao escritor de ficção científica Willian 
Gibson. Receio ainda estar presa a essa tendência. É à capacidade de Gibson de criar 
novas palavras e de dar novos significados às antigas que eu chamo atenção. Ele 
nomeou alguns dos critérios culturais da sociedade tecnológica em que vivemos. Em 
Neuromancer, publicado em 1984, Gibson cunhou a palavra ciberespaço, que ele 
explicou como sendo uma matriz de “sistema brilhante de vigas cruzadas de 
desdobramento lógico através do vácuo sem cor” (GIBSON, 1986, p. 11) – uma 
“alucinação consensual” (GIBSON, 1986, p. 12). 
Em seus mais recentes romances, Pattern Recognition e Spook Country, Gibson 
(2003, 2007) mudou-se do território da ficção científica e se estabeleceu, de modo 
quadrado, no presente. Spook Country é povoado por “facilitadores ilegais”, revistas não 
existentes, terrorismo, piratas, viciados em heroína, negociantes dementes de arte e de 
armas de destruição em massa. Como sempre, as personagens femininas são 
brilhantemente desenhadas. Nesta ocasião, é Hollis Henry, uma jornalista investigativa 
de uma revista chamada Node, que ainda não existe. Em Pattern Recognition, é Cayce 
Pollard, uma caçadora moderada, cujos clientes querem saber o que funcionará 
comercialmente e pagarão a ela muito dinheiro para descobrir. 
Quando Spook Coutry foi lançado no ano passado, Andrew Leonard (2007) do 
Rolling Stone perguntou a Gibson se ele tinha perdido o interesse pelo futuro. Gibson 
respondeu: 
Tem a ver com a natureza do presente. Se alguém tivesse ido conversar com 
uma editora, em 1997, sobre um enredo para um romance de ficção 
científica que situasse verdadeiramente o cenário para o ano 2007, ninguém 
compraria algo do tipo. É complexo demais, com muitos tropos enormes de 
ficção científica: aquecimento global; a mortal, sexualmente transmitida 
deficiência do sistema imunológico; os Estados Unidos, atacados por 
terroristas loucos, invadindo o país errado. Qualquer um desses teria sido 
mais do que adequado para um romance de ficção científica. Mas se você 
sugerisse fazer todos eles e apresentá-los como um futuro imaginário, eles 
não apenas iriam mostrar a porta a você, mas também provavelmente 
chamariam a segurança. 
 Quando Leonard perguntou: quais são os maiores desafios que nós enfrentamos? 
Gibson respondeu: “Vamos por aquecimento global, apogeu do petróleo e computação 
ubíqua”. Dos três desafios de Gibson, “computação ubíqua” tem a maior saliência para 
 
*
 Versão ampliada da conferência de encerramento do Chip (Colóquio sobre Hipertexto), realizado pelos 
Programas de Pós-Graduação em Lingüística da UFC e Lingüística Aplicada da UECE no dia 24 de julho, 
na cidade de Fortaleza-CE. Tradução de Samuel de Carvalho Lima. Revisão Técnica de Denise Bértoli 
Braga (Unicamp) e Júlio César Araújo (UFC). 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
a educação do letramento nos tempos digitais. Em Spook Country, Gibson usa o termo 
para capturar a nova ontologia, mas ele não o inventou. “Computação ubíqua” é 
atribuído a Mark Weiser que trabalhou na Xerox no final da década de 80. Uma outra 
possível fonte é o romance Ubik, de 1969, escrito pelo formidável escritor de ficção 
científica, Philip K. Dick, cujo trabalho Gibson sempre admirou. Contudo, em Spook 
Country, Gibson atribui à “computação ubíqua” um novo significado e importância. 
Explica Gibson: 
Uma das coisas que nossos netos irão achar muito estranho sobre nós é que 
distinguimos o digital do real, o virtual do real. No futuro, isso se tornará 
literalmente impossível. A distinção entre ciberespaço e o que não é 
ciberespaço se tornará inimaginável. Quando escrevi Neuromancer, em 
1984, ciberespaço já existia para algumas pessoas, mas eles não gastavam 
todo seu tempo lá. Então, ciberespaço estava lá, e nós estávamos aqui. 
Agora, ciberespaço está aqui para muitos de nós, e lá tem se tornado 
qualquer estado de relativa desconectividade. Lá é onde eles não têm Wi-Fi. 
Em um mundo de computação superubíqua, você não vai saber quando você 
está conectado e quando você está desconectado. Você sempre estará 
conectado, em algum tipo de estado de realidade coligada. Você apenas 
pensa sobre isso quando alguma coisa dá errado e fica desconectado. Daí, 
essa coisa se torna um empecilho. 
Nós ainda não alcançamos o estado da computação ubíqua, mas, novamente, 
Gibson está ciente de algo. É uma idéia que podemos guardar, achar difícil de 
compreender e reexaminar ao passo que o panorama do textual e da comunicação 
continua a mudar rapidamente, dramaticamente e de maneiras imprevisíveis. 
Na entrevista a Rolling Stone, Gibson também sugeriu que estivéssemos vivendo 
no que a teoria pós-moderna de Fredric Jameson chama de “apreensão simultânea de 
temor e êxtase” ou, como eu expressei no título deste artigo, uma condição de ambos 
“amar e detestar” as novas mídias. Um estado de extrema ambivalência, a meu ver. 
Posições polares sobre o uso das novas tecnologias para propósitos educacionais 
são familiares para todos nós. Em um extremo, há os promotores do último estouro 
tecnológico inteligente, celebrações da vida online e predições da otimização do ensino 
e aprendizagem quando a mais avançada tecnologia aparecer. No outro, há a ninharia 
nostálgica a favor do livro e da cultura do livro, críticos violentos dos computadores, 
dos vídeos-game e da internet, e expressões de pânico moral sobre os perigos à espreita 
das crianças no ciberespaço. 
Textos que admitem tais posições extremas têm um impacto cultural enorme, 
moldando as formas que nós pensamos sobre as novas tecnologias. Sendo tanto 
consumidores da cultura quanto professores do letramento, nós precisamos ser capazes 
de identificar esses textos, entendê-los e achar formas efetivas de lidar com eles em 
nossas salas de aula. Por quê? Porque isso é parte da nossa responsabilidade profissional 
em tempos digitais. Retornarei a esse argumento em breve, mas primeiro vamos dar 
uma olhada em alguns exemplos de textos que celebram ou demonizam as novas 
tecnologias. 
Textos que celebram as novas tecnologias são muito fáceis de encontrar. A capa 
da revista Time, que anunciou a pessoa do ano em Dezembro de 2006, é um exemplo 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
clássico. Na capa, havia um computador de mesa com um espelho no lugar de sua tela. 
Lia-se no título: “Você. Sim, você. Você controla a Era da Informação. Bem-vindo ao 
seu mundo”. Aquela edição de Natal reverenciou as pessoas que estavam mudando a 
natureza da era da informação – os criadores e consumidores do conteúdo gerado pelo 
usuário que está transformando a arte, a política e o comércio. O Editor Chefe, Richard 
Stengel (2006, p. 4), disse que eles são “os cidadãos engajados da nova democracia 
digital”. 
Vinte e sete páginas da revista foram dedicadas à emocionalmente excitante 
Web 2.0 – um termo usado mais oumenos de forma permutável com a mídia social 
nesses dias. Embora estabelecer uma rede de contatos e interagir online tenham sido 
disponíveis desde o lançamento da Web no começo dos anos 90, os avanços na 
tecnologia têm possibilitado que ferramentas de programas sociais, como os blogs, os 
wikis e a conferência virtual agora também permitam aos usuários carregar fotos, vídeos 
e músicas. Como o crescimento extraordinário da Wikepedia, MySpace, FaceBook, You 
Tube e Twitter tem demonstrado, mídias sociais é o que importa hoje – pelo menos até 
uma próxima tecnologia melhor aparecer. 
O fragmento introdutório na Time declara que a Web 2.0 proporciona às pessoas 
comuns oportunidade de “construir um novo tipo de compreensão internacional” 
(GROSSMAN, 2006, p. 25). Isso foi seguido por quinze descrições de cidadãos da nova 
democracia digital, incluindo Leila, a real Loneleygirl 15, uma das mais vistas pelos 
usuários do You Tube, que é um trabalho de ficção criado por dois roteiristas de cinema 
profissionais e uma atriz da Nova Zelândia. Em seguida, duas páginas sobre o poder de 
alguém, com uma câmera digital, “mudar a história” (PONIEWOZIK, 2006, p. 44), 
iniciando com a estória do espectador curioso que filmou a polícia batendo em Rodney 
King. 
Isso tudo seguido de um fragmento maior que celebrou os “gurus” do You Tube, 
Chad Hurley e Steve Chen, “um casal de rapazes comuns” que criaram a companhia que 
“mudou a maneira como nos vemos” (CLOUD, 2006, p. 46-47). Qualquer presença de 
crítica foi deixada para as últimas duas páginas: um fragmento questionou a celebração 
de si, intrínseca para a geração atual, e a outra lamentou o “vasto crescimento na 
quantidade e qualidade da mudança de rumo do lixo puro, mesmo quando medido em 
relação à escória da banca de jornal e ao espectro do cabo” (JOHNSON, 2006, p. 55). 
A saudação de Time para os cidadãos do ciberespaço pela Pessoa do Ano em 
2006 foi parte da tradição da escrita sobre novas tecnologias que não é exclusiva das 
mídias impressas. Primeiramente, foi o hipertexto, daí, foi a Internet e o World Wide 
Web, agora é a Web 2.0, com pessoas realmente ponderadas falando sobre a Web 3.0. 
Entusiastas dotam novas mídias com promessas utópicas e discutem-nas de forma 
comemorativa. A esperança é para a mudança social e cultural impulsionada pelas 
últimas tecnologias de informação e comunicação. 
Dois escritores de livros populares em novas mídias, Ted Nelson e Howard 
Rheingold, consubstanciam esse gênero. Em Dream Machines, Ted Nelson (1978) 
imaginou a World Wide Web antes que a tecnologia que a torna possível estivesse 
disponível. Nomeando seu projeto em homenagem ao poema Xanadu de Coleridge, ele 
conjetura um sistema que possibilitaria o armazenamento da herança humana por 
inteiro, tornando-a mais acessível do que nunca. Sua explicação para o propósito do 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
Xanadu era imbuída de fervor utópico: “Nosso objetivo no projeto Xanadu não foi 
satisfazer as necessidades da indústria, ou fazer as coisas acontecerem um pouco mais 
rapidamente ou eficientemente. Nós mesmos fomos o único exato objetivo: criar um 
novo mundo” (NELSON, 1992, p. 56-57). 
No The Virtual Community, Howard Rheingold (1995) descreve uma 
comunidade onde as pessoas conversam, discutem, procuram por informação, 
organizam-se politicamente, apaixonam-se e enganam outras – a seus olhos, tão real e 
diverso como qualquer comunidade física. Em Smart Mobs (2002), Rheingold olhou 
para a convergência da cultura popular, a mais recente tecnologia e o ativismo social 
como o real impacto das tecnologias móveis tais como telefones e computadores 
portáteis. Os livros de Rheingold repercutem o tom distinto da edição especial de Time. 
O gênero comemorativo também se torna saliente na imprensa. Quando 
jornalistas escrevem sobre as novas mídias e educação, eles freqüentemente 
concentram-se em como as tecnologias estão mudando as escolas para melhor. Quando 
a escola do futuro de Bill Gates abriu em Setembro de 2006, ela foi reportada como uma 
oportunidade da Microsoft de “provar que ela podia ajudar a consertar a calamidade da 
educação pública” (YAO, 2006). A escola foi descrita como “um vislumbrante recurso 
transparente e moderno olhando cuidadosamente os lugares entre as filas de lares caindo 
aos pedaços em um bairro de trabalhadores no oeste da Filadélfia”. Ela tem um edifício 
de alta tecnologia, laptops, acesso sem cabo (wireless), fechaduras digitais, quadros 
inteligentes e interativos, e um processo de aprendizagem modelado nas técnicas de 
administração da Microsoft. Os alunos são “aprendizes”, os professores são 
“educadores” e não há biblioteca, mas um centro interativo de aprendizagem onde a 
informação é digital e as especialistas multimídias ajudam os estudantes com suas 
dúvidas. 
Exemplos de textos que demonizam as novas tecnologias são igualmente fáceis 
de serem encontrados. Os detratores da tecnologia prevêem a morte do livro, que é vista 
por eles como sinônimo da morte da civilização. Eles descrevem seu amor pelo livro 
impresso, as primeiras memórias da leitura na infância, subseqüente hábito e contínuo 
romance, reforçado pelos prazeres da propriedade. Novas formas de escrita são 
disseminadas como uma ameaça à santidade da língua inglesa. 
Um exemplo antigo desses tipos de textos foi o Guttenberg Elegies, de Sven 
Birkert, publicado em 1994. Birkert escreveu de maneira bastante elegante sobre a 
ameaça da cultura do hipertexto. Um outro livro, dessa vez escrito por um autor 
australiano, John Nieuwenhuizen, foi publicado em 1997. Em Asleep at the Wheel: 
Australia on the superhighway, Nieuwenhuizen adverte sobre os perigos de seguir o 
itinerário da auto-estrada da informação (information superhighway). Você se lembra 
do primeiro presente lingüístico de Al Gore para o mundo, antes de Uma Verdade 
Inconveniente (An inconvenient truth)? Foi a auto-estrada da informação, uma metáfora 
que, desde então, tem sido suplantada pela noção das redes de computadores. A 
“computação ubíqua” será o próximo caminho a se pensar sobre o acesso à tecnologia? 
Os escritores desses textos associam o uso das tecnologias digitais com a 
trivialidade e a grosseria da cultura popular argumentando que as novas tecnologias tais 
como jogos de computador não têm espaço algum na educação do letramento. A 
Internet está em algum lugar em que as crianças e os jovens talvez passem seu tempo 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
fora das horas que passam na escola, mas isso não justifica seu uso na educação formal. 
Os detratores também expressam sua profunda preocupação com o acesso aberto das 
crianças às indesejáveis fontes e informações por meio da Internet. 
Em um artigo no The Age, um jornal diário em Victoria, Austrália, pertencente à 
Fairfax Media Limited, Pamela Bone (2004) disse: “[s]e a leitura decair então todos nós 
decaímos”. Escrevendo em resposta à sugestão de um outro comentarista que “na 
cultura de hoje, as habilidades de um letramento elegantemente efetivo não são 
simplesmente tão importante quanto elas um dia foram... por fazer seu caminho no 
mundo”, Bone argumentou que apenas os livros proporcionam os recursos para explorar 
o significado da vida. Uma leitura séria demanda “tempo e paciência” e “solidão” que é 
“contra o espírito dessa era hiperativa”. Bone associa a profundidade com livros e a 
superficialidade com as novas mídias – seu temor eraque uma geração iletrada se 
erguesse das mensagens de texto, da navegação da Internet e dos vídeos-game. 
Contudo, nem todas as celebrações do livro e da cultura do livro são tão afáveis 
como os exemplos oferecidos até agora. A preferência cultural prolongada pelo livro e a 
tecnologia impressa é uma dimensão ideal da desaprovação conservadora dirigida ao 
ensino de inglês e aos currículos na Austrália. Uma questão, no ano de 2005, sobre os 
exames de inglês avançado ano 12 no Novo Sul do País de Gales, Austrália, ofereceu 
aos estudantes “uma escolha de „textos‟ para análise, incluindo o site do ATSIC 
(Aboriginal and Torres Strait Islander Commission), esboçando o julgamento que sua 
inclusão era um insulto aos clássicos” (LANE, 2005). Um currículo estadual que 
reconheceu a importância de ensinar aos alunos como avaliar criticamente os espaços 
das novas mídias foi veementemente atacado. 
No dia seguinte “Sticking to the book” era o cabeçalho do editorial do 
Australian (2005). O editorial atacou os estudantes que tinham denunciado as críticas 
dos cursos de inglês e seus professores como reportou em Sydney Morning Herald. O 
editorial argumentou que embora a análise crítica possa ser um componente 
fundamental de qualquer curso de inglês: “livros – não blogs, nem a coisa efêmera 
digital, mas livros” devem ser utilizados para estudo. 
Profundamente conectado com textos que vêem as novas tecnologias como 
produtoras apenas de conseqüências culturais negativas está um forte sentimento de 
inquietação. Tais medos não são novos. Desde os primeiros dias da televisão, houve 
preocupação sobre os efeitos da TV nas crianças, na educação, no letramento e na 
cultura, bem como recomendações feitas para o controle de seu conteúdo e para a 
supervisão rigorosa. Cada tecnologia sucessiva tem sido vista como tendo uma 
influência negativa nas crianças – por sancionar valores inapropriados e por representar 
experiências assustadoras e violentas. 
Não é surpresa alguma que existam inquietações semelhantes em relação ao 
acesso da criança à Internet, ao ciberespaço e aos jogos de computador, considerado 
extensamente como inerentemente perigoso exceto se controlado. O papel dos governos 
e das escolas para regular as novas tecnologias nos interesses das crianças vulneráveis 
está no centro do interesse público. 
Então, quando a acadêmica Victoria Carrington (2005) foi entrevistada no rádio 
sobre a estudante escocesa de 13 anos de idade que enviou sua experiência escrita em 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
caracteres usando seu telefone celular, as perguntas da jornalista levaram a uma direção 
particular: 
My smmr hols wr CWOT. B4, we used 2go2 NY 2C my bro, his GF & thr 3 :- kids 
FTF. ILNY, it‟s a gr8 plc‟. 
Tradução: Minhas férias foram uma total perda de tempo. Antes, nós íamos a 
Nova York para ver meu irmão, sua namorada e seus três filhos engraçados cara a cara. 
Eu amo Nova York. É um lugar formidável (My summer holidays were a complete 
waste of time. Before, we used to go to New York to see my brother, his girlfriend and 
their three screaming kids face to face. I love New York. It’s a great place). 
A jornalista perguntou a Carrington sobre o estilo distinto dos caracteres 
comparando-os com a forma correta de escrita e a correta gramática, e então procedeu a 
vincular essa produção com a juventude, o declínio de padrões, o empreendimento 
acadêmico empobrecido e o desarranjo social. Quando Carrington analisou um número 
de artigos impressos discutindo essa forma de produção textual, ela achou que os jovens 
e os padrões estão muito mais freqüentemente representados como precisando de 
proteção de um vício que poderia pôr em perigo seus sucesso em exames e seu futuro 
educacional. 
Tomando um outro exemplo: Quando dois alunos de dezesseis anos no ensino 
médio foram encontrados mortos no Dandenong Ranges, leste de Melbourne, a 
imprensa relacionou o suicídio ao MySpace. Com uma imagem de duas garotas e sua 
última mensagem, “Descansem em paz, Jessica & Mel” (nomes fictícios), postada em 
seu website, a inferência foi de que a Internet é um lugar perigoso para os jovens (ex. 
CUBBY; DUBECKI, 2007). Através da inserção da palavra “MySpace”, os jornalistas 
fizeram a estória parecer emocionante. Contudo, todas as evidências sugeriram que as 
garotas não cometeram suicídio porque elas escreveram sobre depressão na Internet. 
Elas escreveram sobre depressão na Internet porque MySpace era um lugar para a 
expressão de si mesmo e a comunicação como ele ainda o é para muitos outros jovens. 
Um grau de cautela e perspectiva crítica sobre as tecnologias digitais é 
conveniente e apropriado. Sem dúvidas, as tecnologias tais como a Internet e a produção 
de caracteres permitiram certos comportamentos sociais indesejáveis e deram a algumas 
pessoas o anonimato que elas precisavam para ludibriar o suscetível. Contudo, as 
crianças podem se tornar presas se colocadas em qualquer lugar que elas escolherem 
para divertimento, e os professores podem ser vítimas de coação, através do website ou 
em uma carta anônima endereçada ao seu superior. A história sugere que um senso de 
preocupação e pânico moral é injustificado uma vez que as velhas tecnologias também 
têm sido usadas para vincular as crianças com conteúdo adulto inapropriado e 
publicidade agressiva. Riscos podem ser exagerados com a finalidade de se ter uma 
estória, mas produzir um pânico moral não informa ou conduz ao debate sensato 
público ou à orientação política. 
Como sugeri antes, em tempos digitais onde textos que assumem posições 
extremas sobre as novas tecnologias representam um aspecto dominante do nosso 
panorama cultura, temos um conjunto de responsabilidades adicional. Precisamos nos 
assegurar que nossos alunos adquiram competência crítica para que compreendam o 
panorama do letramento contemporâneo e então possam participar efetivamente na vida 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
após a escola e no trabalho como cidadãos informados e ativos. Proporcionar 
oportunidades cuidadosamente estruturadas para os alunos desenvolverem as 
habilidades do letramento e um forte senso de ceticismo instruído é mais importante do 
que nunca. 
Para ser capaz de fazer bem esse trabalho, é útil considerar o conhecimento que 
os pesquisadores têm acumulado na área de estudo sobre letramento e tecnologia. 
Primeiramente, as diferentes formas de pensar a tecnologia que têm tido um impacto 
significante na maneira que a tecnologia é representada. Segundo, há muito para ser 
aprendido a partir do exame dos resultados das pesquisas na área de estudos do 
letramento e da tecnologia. Terceiro, é salutar olhar como os professores do letramento 
têm respondido ao chamado de integrar as novas mídias em seus currículos e pedagogia. 
Tenho expressado essas áreas importantes do conhecimento em três perguntas: Quais as 
formas dominantes em que os pesquisadores pensam a tecnologia? O que as pesquisas 
nos dizem a respeito da maneira como o uso das tecnologias digitais afeta as práticas 
letradas dos alunos e sua aprendizagem? Como os professores do letramento, bem como 
os professores de maneira geral, têm respondido ao uso das tecnologias computacionais 
na educação? 
Primeiramente – Quais as formas dominantes em que os pesquisadores pensam a 
tecnologia? Diferentes formas de pensar sobre as novas tecnologias modelam os tipos 
de perguntas que os pesquisadoresfazem sobre seus efeitos e como elas são organizadas 
nas escolas e nas salas de aula. Uma abordagem particular domina o discurso público e 
alguns periódicos escolares: o determinismo tecnológico e social. Ambas as formas de 
determinismo têm suas fraquezas conforme designam muito poder para a tecnologia ou 
para a pessoa que faz uso dela. 
A principal idéia por detrás do determinismo tecnológico é que as qualidades na 
tecnologia são responsáveis por mudanças que inevitavelmente afetam as relações 
sociais. A linguagem do determinismo tecnológico é simbolizada por frases em que a 
tecnologia aparece como o sujeito ativo de uma afirmação: “os computadores aumentam 
a aprendizagem dos alunos”, “a Web democratiza a disponibilidade da informação”, “a 
Web 2.0 tem mudado a forma que nós concebemos o mundo”. Em cada caso, um evento 
complexo é criado para parecer o resultado de uma inovação tecnológica. 
O determinismo social é o inverso. Como exemplificado na estória do Time, há o 
argumento de que aqueles que usam a tecnologia têm ação, e controle sobre como ela é 
usada. Nas palavras do Editor Chefe de Time (STENGEL, 2006, p. 4): “Nós escolhemos 
colocar um espelho na capa porque ele literalmente reflete a idéia que você, não nós, 
está transformando a era da informação”. As pessoas, não a tecnologia, são retratadas 
como as responsáveis pelo fenômeno da democracia digital. 
Das muitas teorias sociais e tecnológicas disponíveis, a domesticação oferece 
uma forma particularmente produtiva de se pensar sobre a tecnologia na educação do 
letramento. A domesticação é um compromisso entre o determinismo tecnológico e o 
social. A teoria foi desenvolvida para examinar a adoção das tecnologias no lar, mas 
pode ser expandida para pensar sobre o uso da tecnologia na educação do letramento 
(SILVERSTONE; HIRSCH, 1994). 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
A teoria da domesticação é essencialmente uma abordagem pragmática. Ela 
aceita a idéia de que as tecnologias têm efeitos nas pessoas e que as pessoas moldam 
seus usos. A teoria da domesticação olha juntamente para as interações entre as pessoas 
e as tecnologias e os contextos particulares em que as tecnologias estão sendo 
circunscritas e usadas. Ela também reconhece que a adoção das tecnologias e seu uso 
são dinâmicos e variáveis. Tome como exemplo os alunos da universidade escandinávia 
que trabalharam como enviar mensagens de texto com um telefone celular, um aparelho 
projetado para a comunicação através da voz. Traços da teoria de domesticação são 
evidentes em recentes relatos de pesquisas que exploraram as relações complexas entre 
o letramento, a aprendizagem e a tecnologia. 
Agora para a segunda pergunta - O que as pesquisas nos dizem a respeito da 
maneira como o uso das tecnologias digitais afeta as práticas letradas dos alunos e sua 
aprendizagem? Todo tipo de alegação baseada em pesquisa tem sido feita em relação à 
maneira como as tecnologias digitais afetam a aprendizagem do letramento e suas 
práticas. Os achados dos estudos que têm investigado o impacto das tecnologias na 
aprendizagem variam de claro melhoramento para nenhum melhoramento, enquanto 
alguns têm dito ainda que elas pioram as coisas. Às vezes, estatísticas são usadas para 
indicar se têm havido diferenças significativas no empreendimento entre a leitura e a 
escrita com as novas tecnologias e a leitura e a escrita com as ferramentas tradicionais. 
Às vezes, descrições detalhadas do ambiente e das mudanças de como os alunos criam 
significados e se comunicam são fornecidas. O que as pessoas farão com essa exibição 
de evidências? 
Faz-se proveitoso considerar qual teoria da tecnologia sustentou as pesquisas no 
momento em que ela deu forma às questões que os pesquisadores perguntaram, às 
investigações que eles iniciaram e às conclusões a que eles chegaram. Quando o 
determinismo tecnológico instruiu a pesquisa, a questão condutora tem sido 
freqüentemente sobre o impacto da tecnologia no desempenho letrado dos estudantes. 
Quando o determinismo social instruiu a pesquisa, então o foco tem sido nos 
professores e nos alunos nos contextos da sala de aula e como eles têm usado as 
tecnologias para propósitos particulares. Quando a teoria da domesticação sustenta a 
pesquisa, as relações entre os professores, os alunos e as tecnologias têm sido todas 
examinadas como parte de redes complexas de interação e aprendizagem. 
Os primeiros estudos usaram principalmente métodos experimentais – a 
abordagem dominante na ciência e na medicina. Eles investigaram se o uso dos 
computadores melhorou os resultados do letramento e seus achados foram incertos. 
Quase três décadas depois, não há ainda grandiosa consistência de evidência que 
demonstre que o uso da Internet na assistência dos alunos, editores de textos e outros 
aplicativos populares tenham qualquer impacto no empreendimento acadêmico. Meu 
estudo de doutoramento estava nessa tradição. Seu título era: O impacto dos editores de 
textos na escrita dos alunos. A pergunta central era: O uso de editores de textos 
melhora a qualidade de escrita dos alunos? 
Por volta da metade da década de 80, os pesquisadores estavam considerando os 
ambientes em que os computadores eram usados, produzindo descrições detalhadas das 
salas de aula de ensino e aprendizagem. Houve um reconhecimento crescente de que os 
computadores nas salas de aula eram improváveis de negar a influência da classe social 
no empreendimento dos alunos. Por volta da metade da década de 90, a Internet e a Web 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
tinham se tornado lugares para pesquisa. Informados pelo entendimento do letramento 
como um conjunto de práticas sociais, as investigações focaram nas novas práticas 
letradas, identidade, gênero, classe e acesso. Meu livro, escrito com Colin Lankshear e 
Bill Green (LANKSHEAR; SNYDER; GREEN, 2000), Professores e 
Technoletramento reporta os achados de um estudo australiano importante que produziu 
estudos de caso de professores tentando integrar os computadores em suas práticas de 
sala de aula. Houve também estudos que enfatizaram a necessidade de ensinar aos 
alunos como acessar criticamente a fidedignidade e o valor das informações que eles 
encontravam na Web a partir do entendimento de suas fontes bem como suas 
características textuais e não-textuais tais como imagens, links e interatividade. O 
trabalho de Nick Burbules (ex. 2000 com CALLISTER) foi muito importante nessa 
área. 
Levantamentos de larga escala têm examinado as complexas relações entre a 
mídia, a infância, a família e o lar. O trabalho de Sonia Livingstone (ex. 2002) é 
notável. Os levantamentos constataram que os jovens vivem vidas preenchidas de 
mídias com acesso a uma quantidade sem precedente de mídias em seus lares. No 
entanto, idade, gênero, raça e classe influenciam a quantidade de tempo que os jovens 
passam usando as mídias. A televisão e o ouvir música permanecem importantes em 
suas vidas, mas a Internet comanda a maior parte do tempo. Embora as crianças e os 
jovens continuem a ler livros, eles gastam menos tempo nisso do que suas gerações 
passadas. Alguns jovens estão preocupados com a dependência crescente nas máquinas, 
a natureza do isolamento da Internet, e como a tecnologia ameaça sua privacidade e sua 
habilidade de se relacionar com outros. 
Desde o final da década de 90, pesquisadores vêm identificando novos tipos detexto, práticas de linguagem e formações sociais ao passo que os jovens usam telefones 
celulares, mensagens de texto, a Internet, mensagens instantâneas, jogos online, blogs, 
mecanismos de busca, websites, e-mail, vídeo digital, música, imagens entre outros. 
Suas práticas de letramento digital compreendem processar palavras, articular 
hipertextos, participar em discussões online, usar software de apresentação, criar 
páginas na Web e se congregar em portfólios digitais. New Literacies de Colin 
Lankshear e Michele Knobel (2003) é um excelente exemplo da ênfase nessas 
pesquisas. Pesquisas examinando as complexas conexões entre os letramentos da escola 
e de fora da escola têm fornecido clareza para os professores sobre a experiência e o 
conhecimento que os alunos trazem para os estudos formais na escola. 
Em direções semelhantes, pesquisadores têm investigado a relação entre os jogos 
de computador e a aprendizagem do letramento. O trabalho de Jim Gee (2003) e Henry 
Jenkins (2006) se sobressai. Os estudos têm demonstrado que os jogos requerem 
letramentos complexos e ensinam um grau de sofisticação multimodal, visual e 
lingüística, geralmente negligenciado na sala de aula de letramento. As pesquisas têm 
também sugerido o valor que os textos populares oferecem para a consolidação e a 
extensão do entendimento dos alunos nas práticas de leitura. Por exemplo, Catherine 
Beavis (2002) argumentou que trabalhar com jogos de computador nas salas de aula de 
letramento proporciona ao aluno recursos adicionais de expressão e comunicação 
àqueles dependentes das habilidades impressas. 
Estudos baseados em gênero têm revelado que os jogos de computador são um 
aspecto do uso da tecnologia em que as diferenças em torno de gêneros estão 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
sucumbindo. Embora a maioria das meninas ainda não escolha as matérias de tecnologia 
na escola ou em seus estudos após a escola e continua a ser inferiormente representada 
na indústria de tecnologia da informação, elas estão participando mais na cultura dos 
jogos de computadores. A hipótese de que o mundo dos jogos de computador é do 
domínio masculino que enfatiza a violência e a fantasia sexual de garotos não se 
mantém mais. As narrativas estereotípicas masculinas de certos jogos são desagradáveis 
a garotas, mas há outras opções agora para elas. 
Então quais são as implicações dos achados de pesquisas para os professores de 
letramento? As pesquisas têm enfatizado a importância do entendimento das crianças e 
dos jovens que povoam as salas de aula: o que eles fazem em suas vidas fora da escola, 
o que prende seu interesse e o que não o faz. Os jovens trazem habilidades avançadas 
relacionadas à tecnologia para a sala de aula que poderiam ser usadas produtivamente 
para a aprendizagem da língua e do letramento. Mas nós também necessitamos nos 
lembrar de que há uma grande diversidade nas formas em que as famílias e os jovens se 
comprometem com as novas tecnologias. O trabalho de Mark Warschauer (2003) sobre 
a inclusão social e a exclusão digital pode ser alarmante. Simplesmente ter acesso no lar 
ou na escola não garante aos alunos oportunidades de aprendizagem do letramento. 
Escrevendo sobre as possibilidades de mudanças criativas para as salas de aula e 
escolas quando as novas tecnologias são usadas, os pesquisadores têm argumentado que 
o conhecimento sobre a história das novas práticas letradas é um pré-requisito. Outros 
pesquisadores têm questionado a hipótese de que quanto mais as escolas dependerem da 
tecnologia, melhores serão seus resultados. 
Sugestões da literatura de pesquisas de como repensar, redefinir e reprojetar a 
linguagem e o letramento na sala de aula para satisfazer as necessidades dos alunos no 
século XXI inclui um componente comum: acima de tudo, uma sala de aula de 
letramento para o futuro deve envolver a integração efetiva do letramento impresso e o 
letramento digital. Não deveria ser uma escolha entre o mundo da página e o mundo da 
tela – a educação necessita de dar atenção a ambos. A realização dessa importante meta 
requer um conceito de letramento mais amplo. Mas apesar do reconhecimento crescente 
dessa necessidade presente na literatura, as alterações nas práticas dos professores em 
sala de aula têm sido vagarosas. 
O que me leva a minha terceira pergunta: Como os professores do letramento, 
bem como os professores de maneira geral, têm respondido ao uso das tecnologias 
computacionais na educação? Na maior parte, professores do letramento têm visto a 
tecnologia como antitética aos seus interesses. Embora essa atitude não seja 
compartilhada por todos, tem havido uma desconfiança geral das máquinas. Então 
quando os computadores de mesa entraram no sistema educacional no final da década 
de 70, anunciado como a nova tecnologia que inevitavelmente melhoraria a educação, 
os professores do letramento estavam reticentes sobre explorar seu uso potencial na sala 
de aula. Esse efeito reprimido continuou na década de 80, quando os computadores 
foram promovidos como máquinas de escrever maravilhosas, assistentes e mestres de 
atividades. Eu tracei esses padrões em Hypertext (SNYDER, 1996) e em Page to Screen 
(SNYDER, 1997). 
Isso persistiu nos anos da década de 90, quando a Internet e a Web foram 
aclamadas enquanto tornavam possível uma abordagem para a educação em que os 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
alunos seriam capazes de aprender qualquer coisa, em qualquer lugar, em qualquer 
momento. E isso progrediu nos anos 2000, em que a excitação centrou-se nas 
possibilidades de comunicação da Web 2.0. O interesse tem vagarosamente se 
expandido, e crescentes números de professores do letramento, particularmente os mais 
jovens, estão usando agora as tecnologias digitais em suas salas de aula, embora a 
relutância inicial permaneça. 
Muita reflexão tem sido dedicada à literatura da pesquisa de como os professores 
e educadores de letramento podem fazer efetivamente uso das novas tecnologias em 
suas salas de aula. Contudo, as aplicações mais comumente utilizadas no letramento e 
nas salas de aula de inglês são os processamentos de palavras para a escrita e a Internet 
para a pesquisa de informações, o que não diminui o valor de ambos. Em geral, os 
professores de letramento de todos os níveis de escolarização têm usado as novas 
tecnologias para continuar fazendo o que eles têm sempre feito. Os alunos usam 
computadores portáteis como eles usariam seus cadernos. Os professores podem postar 
exercícios na Web, comunicar-se com os alunos por e-mail e responder aos seus escritos 
eletronicamente, mas a abordagem tradicional de iniciar uma atividade curricular, 
estabelecer lições para casa e avaliar o trabalho dos alunos tem sido mantida. 
Embora os professores de algumas disciplinas tenham sido mais entusiastas do 
que os professores alfabeetizadores em relação à promessa dos computadores, não tem 
havido uma revolução tecnológica na educação. Apesar do imenso investimento dos 
governos nos sistemas elétricos das escolas, reduzindo a proporção de alunos por 
computador e assegurando que os documentos curriculares considerem as novas 
tecnologias em todos os níveis da educação, o processo de ensino e aprendizagem nas 
escolas da Austrália e do Brasil não tem sido transformado. Através da tecnologização 
da educação, os governos têm objetivado formar escolas mais eficientes eprodutivas, 
mais conectadas à vida real e preparar os jovens para o emprego após a escola. Sem real 
evidência alguma que indique que esses objetivos foram alcançados, os governos devem 
agora estar se perguntando se o valor do investimento em computadores e em outras 
tecnologias valeu a pena (CUBAN, 2001). 
A parábola de Seymour Papert (1993) sobre os viajantes do tempo do século 
XIX tem uma ressonância aqui. Quando os viajantes do tempo visitam um anfiteatro do 
século XXI em operação em um hospital, eles reconhecem pouco do que está 
acontecendo, mas quando eles visitam uma sala de aula em uma escola, muitas coisas 
são familiares. O crescimento exponencial da ciência e da tecnologia nos anos recentes 
tem significado que algumas áreas da atividade humana tais como as de 
telecomunicações, entretenimento, transporte e medicina têm mudado dramaticamente, 
mas a educação não. As escolas como as instituições e os professores que trabalham 
nelas parecem ser resistentes às mudanças baseadas na tecnologia. 
Até agora ninguém que esteve presente em uma escola na década de 50 e então 
visitou uma em 2008 poderia deixar de observar que importantes mudanças no currículo 
e nas práticas de sala de aula baseados na tecnologia tenha ocorrido. O ponto não é que 
as escolas e os professores não possam mudar, mas que a sala de aula e as práticas de 
ensino persistem devido aos legados históricos e aos fatores contextuais. Mudanças 
incrementais para a educação em resposta às novas tecnologias têm ocorrido, mas 
mudanças fundamentais têm sido raras. 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
Como Larry Cuban (2001) apontou, apesar das reivindicações extravagantes dos 
promotores, o fornecimento da tecnologia é insuficiente para transformar a educação e 
mais insuficiente ainda para equipar os alunos com as habilidades e atividades que eles 
precisam para operar efetivamente no mundo pós-escola do lazer, do trabalho e da 
cidadania. Mudanças reais requerem muito mais do que simplesmente dar às escolas 
recursos tecnológicos. A ecologia inteira da educação escolar necessitaria ser repensada 
e financiada, na forma que os professores são preparados e valorizados, e na forma que 
os hardware e os software são projetados para satisfazer as necessidades de professores 
e alunos mais do que o mundo dos negócios. Sem tais principais mudanças, apenas 
relativamente menores alterações na prática de sala de aula são prováveis de acontecer 
(CUBAN, 2001). 
Oportunidades e desafios 
Meu foco aqui foi nas respostas sensacionalistas às novas tecnologias que têm 
sido os textos dominantes culturalmente por décadas. Há dois filamentos principais – a 
importância esbaforida dos últimos equipamentos eletrônicos e o que está vindo em 
seguida, e os argumentos morais para conservar a fidelidade tradicional da educação em 
relação à cultura impressa. Contudo, polarizar e simplificar a discussão dessa forma 
desconsidera os desafios que nós enfrentamos ao tentar encontrar estratégias em lidar 
com as necessidades de ambos os letramentos impresso e o digital de nossos alunos. 
Alguns de nós têm encontrado formas de explorar as oportunidades da aprendizagem 
rica que as novas mídias oferecem e ajudar os alunos a se tornarem usuários críticos e 
capazes. No entanto, a maioria de nós tem sido vagarosa em adaptar-se e quando nós 
realmente usamos as tecnologias, é geralmente para realizar os propósitos baseados no 
impresso e de formas orientadas pelo impresso. 
Há razões sistêmicas muito reais para explicar esse fenômeno que vai além da 
nossa relutância histórica com as novas tecnologias. As salas de aula de letramento são 
restritas pelo modelo estático das escolas e das instituições que impedem cuidadosa 
pesquisa sobre os novos letramentos e o expansivo uso das novas mídias. Nós temos 
pouco tempo para refletir sobre o que fazemos, não importando a direção curricular 
proposta. Então quando nós tentamos trabalhar com as mídias digitais em nossas salas 
de aula, há muito pouca oportunidade para criar uma parceria criativa com colegas e ter 
experiência com os novos letramentos. Usos construtivos são freqüentemente limitados 
aos defensores da tecnologia cuja experiência, como mostram as pesquisas se extingue 
conseqüentemente. 
Há um abismo entre o mundo da sala de aula alfabetização e o mundo dos alunos 
que estão imersos nas mídias, na Internet e nos vídeos-game. Problemas com a infra-
estrutura das escolas onde trabalhamos também exacerbam as dificuldades: a Internet 
pode estar funcionando um dia, não funcionar no próximo, e os computadores 
freqüentemente não são potentes o suficiente para o uso de ferramentas avançadas. 
Além disso, as escolas talvez possam ter regras rígidas sobre e-mail e o acesso à Internet 
o que frustra ambos professores e alunos. Esses fatores sozinhos são suficientes para 
desencorajar todos nós de tentarmos integrar as novas tecnologias em nossas práticas de 
sala de aula mesmo que nós talvez possamos ser usuários dedicados e experientes em 
nossas vidas privadas. 
SNYDER, Ilana. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In. 
Araújo, Júlio César, Dieb, M. (Orgs.). Letramentos na Web. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23-45. 
 
Por ora, como professores, nós ainda estamos encarregados com a 
responsabilidade de encontrar maneiras inovadoras para incorporar os novos 
letramentos na prática de sala de aula. As habilidades e o conhecimento do letramento 
impresso são essenciais, mas não suficientes para dar assistência aos jovens ao passo 
que eles vivem suas vidas em uma sociedade de informação e rede. Quando o 
letramento é visto como o repertório de habilidades lingüísticas e intelectuais que os 
alunos necessitam para atuar nos níveis mais elevados em um mundo multimídia, 
noções de letramento como um conjunto de habilidades básicas prescritas por um 
mundo baseado no impresso parecem cada vez mais limitadas. 
A responsabilidade dos educadores de letramento é proporcionar aos jovens 
oportunidades cuidadosamente planejadas para que eles aprendam como se tornar 
navegadores críticos no novo panorama do letramento em tempos digitais. Nós 
podemos ajudar nossos alunos a compreenderem o panorama do letramento digital para 
que eles não sejam seduzidos pelo que eles acharem. O objetivo é embebê-los com um 
senso forte de ceticismo instruído. 
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