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Apostila Módulo I Locais

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Locais de Crime
Introdução 
Sumário 
1. Conceitos básicos .......................................................................................... 5 
1.1. Definição de local de crime................................................................................. 5 
1.2. O Local como fonte de Informação ..................................................................... 5 
1.2.1. Informações subjetivas ........................................................................................... 6 
1.2.2. Informações oriundas de vestígios ....................................................................... 6 
1.3. Teoria dos vestígios ........................................................................................... 7 
1.3.1. Relação dos vestígios com os fatos ..................................................................... 8 
1.3.2. Relação dos vestígios com o autor ...................................................................... 9 
1.4. Vestígios e Indícios .......................................................................................... 10 
1.5. Cadeia de custódia ........................................................................................... 11 
1.6. Propósito da investigação em locais de crime .................................................. 12 
1.6.1. Conhecer os fatos ................................................................................................. 12 
1.6.2. Obter provas ........................................................................................................... 12 
1.6.3. Assegurar a cadeia de custódia .......................................................................... 12 
1.7. Locais de interesse da polícia .......................................................................... 13 
1.7.1. Local onde aconteceu o fato ................................................................................ 13 
1.7.2. Local que sofreu as consequências do crime ................................................... 13 
1.7.3. Local onde o crime foi planejado ........................................................................ 14 
1.7.4. Local relacionado ao fato ..................................................................................... 14 
2. Isolamento e preservação de locais ............................................................. 16 
2.1. Necessidade legal ............................................................................................ 16 
2.2. Necessidade técnica ........................................................................................ 17 
2.3. Classificação dos Locais .................................................................................. 18 
2.4. Delimitação do perímetro ................................................................................. 19 
2.5. Isolamento físico do local ................................................................................. 20 
2.6. Variáveis presentes nas cenas de crime .......................................................... 20 
2.6.1. Imprensa ................................................................................................................. 21 
2.6.2. Populares ................................................................................................................ 22 
2.6.3. Vítimas .................................................................................................................... 22 
2.6.4. Parentes .................................................................................................................. 22 
2.6.5. Autoridades ............................................................................................................ 22 
2.6.6. Outras forças policiais .......................................................................................... 22 
2.6.7. Dificuldades estruturais ........................................................................................ 23 
2.6.8. Intempéries climáticas .......................................................................................... 23 
3. Etapas de processamento do local .............................................................. 24 
3.1. Preparação ....................................................................................................... 24 
3.1.1. Obtenção de informações adicionais sobre o local ......................................... 24 
3.1.2. Tipo de local/crime ................................................................................................ 25 
3.1.3. Material e equipamento necessários .................................................................. 25 
3.1.4. Meios de comunicação ......................................................................................... 26 
3.1.5. Urgência do exame ............................................................................................... 26 
3.2. Chegada ao local ............................................................................................. 26 
3.2.1. Cadeia de comando .............................................................................................. 27 
3.2.2. Assumir o local ....................................................................................................... 27 
3.2.3. Reunião preliminar ................................................................................................ 27 
3.2.4. Entrevistas .............................................................................................................. 28 
3.3. Busca no local .................................................................................................. 28 
3.3.1. Busca inicial............................................................................................................ 28 
3.3.2. Busca completa ..................................................................................................... 29 
3.3.3. Padrões de buscas................................................................................................ 29 
3.4. Coleta de vestígios ........................................................................................... 32 
3.4.1. Amostragem ........................................................................................................... 32 
3.4.2. Amostras padrão ou controle .............................................................................. 33 
3.5. Reunião final .................................................................................................... 33 
3.6. Liberação do local ............................................................................................ 34 
4. Documentação do local ................................................................................ 35 
4.1. Descrição narrativa .......................................................................................... 35 
4.2. Fotografia ......................................................................................................... 35 
4.2.1. Fotografias de vestígios ....................................................................................... 36 
4.2.2. Registro fotográfico ............................................................................................... 37 
4.2.3 Outras recomendações ......................................................................................... 37 
4.3. Croqui .............................................................................................................. 38 
4.3.1. Propósito do croqui ............................................................................................... 38 
4.3.2. Formas de medições usadas para se obter um croqui ................................... 38 
4.3.3. Uso de softwares na produção de croquis ........................................................42 
5. Considerações Finais ................................................................................... 43 
5.1. Sugestões para processamento de locais de crime .......................................... 43 
5.2 Tarefas pertinentes aos integrantes da equipe .................................................. 44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Conceitos básicos 
1.1 Definição de local de crime 
Local de crime: “é toda área onde tenha ocorrido um fato que 
assuma a configuração de infração penal e que, portanto, exija providências da 
polícia.” (CARLOS KEHDY, 1959, p. 5). 
Ou ainda: 
 “Local de Crime - é a porção do espaço compreendida num raio que, 
tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se estenda de 
modo a abranger todos os lugares em que, aparente, necessária ou 
presumivelmente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, 
os atos materiais, preliminares ou posteriores à consumação do delito e 
com este diretamente relacionados.” (ERALDO RABELO). 
Nesse conceito estão compreendidos, naturalmente, os crimes de 
qualquer espécie, bem como todo fato que, não constituindo crime, deva chegar 
ao conhecimento da polícia, a fim de ser convenientemente esclarecido. 
Assim, um local ou sítio onde tenha ocorrido um homicídio, suicídio, 
acidente, incêndio, explosão, furto qualificado, atropelamento, colisão de 
veículos, etc., recebe a denominação genérica de “local do crime” ou “local do 
fato”, porque se torna necessário elucidar as circunstâncias em que o mesmo se 
passou. 
É comum, no dia a dia do trabalho da perícia, referir-se a local de 
crime como simplesmente “local”. Em outros países, a designação é semelhante, 
como por exemplo: scene of crime, el sítio del sucesso, la scène du crime. 
1.2. O local como fonte de informação 
Em um local de crime, existem muitas e importantes informações a 
respeito da apuração do fato que se busca. Essas informações, embora 
presentes de maneira explícita ou não, apresentam variados graus de 
disponibilidade. 
Comumente, os diversos agentes de tomada de decisão (juízes, 
promotores e advogados), a respeito da apuração dos fatos ocorridos naquele 
local, não estiveram presentes e nunca comparecerão ao local. Essa é a principal 
razão pela qual se deve procurar obter a maior quantidade de informações 
possível, para que se possa conhecer os fatos ocorridos, sua dinâmica e 
configuração. Esse conhecimento leva à caracterização precisa dos fatos e à 
convicção do ocorrido, possibilitando a efetiva aplicação da lei penal. 
A recenticidade dos fatos e a oportunidade, por vezes única, do 
adequado tratamento do local demandam um imperioso cuidado e planejamento. 
Frequentemente, a análise de informações contraditórias exige, por parte dos 
policiais envolvidos, o uso do bom senso e de sua discricionariedade enquanto 
agentes públicos. 
Basicamente, existem dois tipos de informações: as subjetivas e 
aquelas oriundas dos vestígios materiais. 
1.2.1 Informações subjetivas 
São aquelas decorrentes do conhecimento dos fatos por parte de 
pessoas que viram ou, de alguma maneira, tomaram conhecimento do 
acontecido. Esse tipo de informação é de ordem interpretativa e de cunho 
pessoal, podendo até mesmo não refletir a verdade. Frequentemente, essas 
informações são incompletas, abarcando apenas uma parte do fato. 
Na prática, esse tipo de informação pode vir a contribuir no sentido 
de formar uma adequada reconstrução mental do ocorrido, facilitando as 
diversas etapas de investigação do local. No entanto, muita cautela deve ser 
exercida, pois não são informações calcadas em dados concretos e absolutos. 
A validade dessas informações depende, muitas vezes, da 
confirmação com o depoimento de outras pessoas e da existência de elementos 
materiais comprobatórios. 
1.2.2 Informações oriundas de vestígios 
A grande maioria das atividades criminosas deixa rastro ou pistas. 
O principal papel do perito é encontrá-los e transformá-los em provas. 
Dificilmente um crime pode ser consumado sem deixar vestígios materiais. 
Esses vestígios materiais podem ser considerados como uma fonte objetiva de 
informações, pois sua análise é mais precisa e mais segura, já que é baseada 
em princípios técnico-científicos consagrados e independentes de meras 
interpretações subjetivas. Em alguns casos, parte dos vestígios pode ser, até 
mesmo, guardada como contraprova visando a dirimir questionamentos futuros. 
Em locais de crime existe sempre a troca de vestígios entre os 
agentes delituosos e o ambiente. O criminoso deixa algo seu no local, ou leva 
algo do local consigo. É o que nos ensina o princípio da transferência, postulado 
pelo cientista forense Edmond Locard. 
“Onde quer pise, onde quer que toque ou o que deixe, mesmo que 
inconscientemente, irá servir como testemunha silenciosa. Não 
somente suas digitais ou suas pegadas, mas seus fios de cabelo, as 
fibras de suas roupas, as partículas de vidro que quebrou, as marcas 
de ferramenta que deixou, a tinta que arranhou, o sangue ou o sêmen 
que depositou, todos estes materiais serão testemunhas silenciosas 
contra ele. Isto é uma evidência que não falha. Isto é uma evidência 
que não é duvidosa, como o depoimento nervoso de uma testemunha 
ou a própria ausência desta. Estas são evidências concretas e factuais. 
Evidencias deste tipo não se confundem. Elas não mentem e também 
nunca estão ausentes. Somente sua interpretação pode gerar erros. 
Somente a falha humana em achá-las, em estudá-las,e em entendê-
las poderá diminuir o seu valor probatório”. 
Um perito sem o devido preparo não estará apto a localizar, coletar 
e manusear os vestígios de modo a garantir seu valor probatório. Essa é a razão 
pela qual a análise de uma cena de crime fica a cargo da perícia. A ausência de 
análise do corpo de delito é um dos aspectos que pode levar à nulidade de uma 
ação penal. 
1.3 Teoria dos vestígios 
Vestígios, em sentido amplo, são marcas, rastros, sinais, manchas, 
etc. Segundo BORGES DA ROSA, citado por DEMERCIAN e MALULY (2001): 
(...) são sinais, dados materiais, resquícios percebíveis pelos sentidos, 
manifestações físicas que se ligam a um ato ou fato ocorrido ou 
cometido, isto é, à infração penal. A apreciação pelos sentidos, desses 
dados materiais é que constitui o exame de corpo de delito. 
Para a Criminalística, vestígios são elementos materiais 
encontrados em um local de crime ou que compõem um exame pericial e que 
podem estar ou não relacionados com o crime, ou com o fato em apuração. 
Servem como matéria prima na produção da prova material. 
1.3.1 Relação dos vestígios com os fatos 
Em investigações sempre existem muitos vestígios, muitos 
detalhes que atraem a atenção dos peritos. Por isso, um grande problema que 
se enfrenta é a identificação dos vestígios que têm relação com os fatos em 
apuração. É muito comum, diante de um fato criminoso, a investigação seguir 
pistas falsas, que pareciam verdadeiras no início, perdendo muito tempo e, às 
vezes, inviabilizando os trabalhos, porque nem sempre os vestígios encontrados 
têm relação com os fatos. 
Em função da sua relação com o fato, os vestígios podem ser 
classificados em: 
Ilusórios: aqueles que se apresentam desde o início das 
investigações como muito importantes para a elucidação do crime, recebem toda 
a atenção dos investigadores, com dedicação de muito tempo em sua análise, 
mas que, no fim, não apresentam relação com o fato, estavam ali naturalmente, 
por acaso. 
Forjados: aqueles vestígios que o autor do crime (ou um terceiro) 
prepara, intencionalmente, com o objetivo de desviar a atenção da investigação 
e conduzi-la a uma direção contrária aos fatos em apuração.Ou seja, são 
vestígios “plantados” no local. Apesar dessa condição de forjados, devem ser 
investigados, primeiro porque não se deve desprezar nada no local, segundo, 
porque podem evidenciar alguma pista do verdadeiro autor. 
Verdadeiros: aqueles que, após depuração da equipe pericial, 
conclui-se ter relação com os fatos em investigação, por serem resultado da ação 
ou omissão do autor e cuja interpretação correta pode levar à elucidação do 
crime. 
Vale repetir: é quase sempre muito difícil para o perito diferenciar 
vestígios verdadeiros, ilusórios e forjados, no início dos trabalhos. Por isso, 
nenhum detalhe pode ser desprezado; tudo deve ser investigado e analisado 
cuidadosamente, não se deve seguir uma pista só. 
1.3.2 Relação dos vestígios com o autor 
Antes de se falar da relação dos vestígios com seu autor, é preciso 
esclarecer que o agente de vestígios, ou o autor de vestígios, nem sempre é o 
ser humano, embora ele esteja, de certa forma, por trás de todos os 
acontecimentos de interesse da Criminalística, e possa deixar vestígios por meio 
de marcas de seu corpo, como a impressão digital, pegada, ou substâncias como 
esperma, sangue, saliva, pele, pelos, etc. Tecnicamente, são chamados de 
agentes de vestígios, além dos homens, os animais, objetos, instrumentos que, 
natural ou artificialmente, provocam vestígios materiais. 
De acordo com sua relação com o autor, os vestígios são 
classificados em: 
Absolutos: aqueles que permitem que se estabeleça relação 
absoluta, direta com o seu autor ou com a vítima, como, por exemplo, impressão 
digital e material genético contido em vestígios biológicos. Nesse caso, quem 
deixou impressão digital ou sangue no local, deixou uma parte identificável de si 
mesmo. 
Um exemplo de vestígio absoluto cujo agente não é o ser humano, 
é uma faca encontrada ao lado de uma gaveta que foi arrombada com o auxílio 
dessa faca. A marca de arrombamento presente na gaveta é um vestígio 
absoluto, porque guarda uma relação direta com o seu agente, que é a faca. 
Outro exemplo dessa natureza poderia ser uma cápsula de munição de arma de 
fogo encontrada no local do crime. A Criminalística possui meios de estabelecer 
uma relação direta dessa cápsula com a arma que efetuou o disparo. 
Relativos: aqueles que não guardam relação absoluta, 
identificável de pronto com o seu autor. A relação pode ser estabelecida de forma 
indireta. Um bom exemplo é o caso de uma caneta achada num local onde 
aconteceu um furto. Se não houver o nome do proprietário gravado na caneta 
(ainda que haja um nome na caneta isto não é prova para incriminar ninguém), 
apenas esse vestígio não permitirá a identificação imediata do seu autor. Mas é 
um vestígio que deve ser recolhido e receber toda a atenção. Pode, inclusive, 
ser suporte de outro vestígio, a impressão digital. 
1.4 Vestígios e indícios 
Conforme visto antes, vestígio é o objeto do exame pericial que 
pode ou não estar relacionado com o evento que deflagrou a solicitação da 
análise pericial. 
Indício é uma palavra que o Código de Processo Penal define, em 
seu art. 239, da seguinte forma: “considera-se indício a circunstância conhecida 
e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a 
existência de outra ou outras circunstâncias”. 
Da interpretação desse dispositivo legal, pode-se concluir que 
indício é uma suspeita fundamentada que pode muitas vezes não ser 
representada por meio de vestígios materiais. O indício é, portanto, uma hipótese 
sobre determinado fato, cujo valor é diretamente proporcional ao número de 
provas encontradas para provar a sua existência. 
Os indícios de um crime podem ser representados por meio de 
vestígios materiais ou circunstanciais. 
Alguns autores trazem ainda para o corpo da criminalística o 
conceito de evidência. Para esses autores, evidência é o vestígio que, após as 
devidas análises, tem constatada técnica e cientificamente a sua relação com o 
crime. Assim, no momento em que os peritos chegam à conclusão que tal 
vestígio está – de fato – relacionado com o evento periciado, ele deixará de ser 
um vestígio e passará a denominar-se evidência. De maneira resumida, pode-
se dizer que vestígio é o material bruto constatado e/ou recolhido no local do 
crime, enquanto que evidência é o vestígio analisado e depurado, tornando-se 
uma prova por si só ou em conjunto para ser utilizada no esclarecimento dos 
fatos. 
No âmbito da criminalística da Polícia Federal não é usado o 
conceito de evidência. Uma vez que tal expressão não está reproduzida no 
Código de Processo Penal, optou-se por adotar apenas os conceitos 
relacionados a vestígios e indícios. 
Apesar das diferenças conceituais, é comum nos depararmos com 
o uso, por leigos e até mesmo por técnicos, das três expressões como se fossem 
sinônimos. 
1.5 Cadeia de custódia 
O termo “cadeia de custódia” refere-se a uma sucessão de eventos 
seguros e confiáveis que deverão ter início de forma legal no primeiro contato da 
polícia com o vestígio. Geralmente os vestígios materiais integram-se de maneira 
estratégica à investigação e ao inquérito policial por intermédio de um exame 
pericial de local de crime ou pela execução de um mandato de busca e 
apreensão devidamente autorizada. Esses dois instrumentos de trabalho, 
quando bem utilizados pela polícia, aumentam as chances da elucidação 
verídica dos fatos. Na Criminalística vale a máxima: “Não adianta saber, é 
preciso provar com convicção, por meio dos vestígios materiais”. 
O principal cuidado é garantir a segurança e a idoneidade do 
vestígio. Esse cuidado é função de toda a polícia, senão de nada adiantarão as 
mais modernas tecnologias criminalísticas se o vestígio apresentar pontos 
questionados (técnicos ou jurídicos) em sua obtenção e coleta. Se um vestígio 
material com valor probatório tiver sua origem questionada, o processo como um 
todo poderá ser ineficiente no que tange à aplicação da Justiça. Indivíduos 
culpados podem ser postos em liberdade por ineficiência da investigação. 
Portanto, entende-se cadeia de custódia como uma sucessão de 
eventos seguros e confiáveis iniciados na cena de crime ou resultantes de 
investigação de vestígios materiais e que mantém a idoneidade legal e a 
preservação técnica necessárias para que esses vestígios não possam ter sua 
origem e manuseios questionados até sua utilização pela Justiça como elemento 
probatório. A metodologia para manutenção da cadeia de custódia será 
pormenorizada adiante. 
 
 
 
1.6 Propósito da investigação em locais de crime 
1.6.1 Conhecer os fatos 
O principal ponto que se busca, ao se investigar um local de crime, 
é encontrar todas as informações que podem levar à solução do crime. A 
responsabilidade pela obtenção dessas informações, por parte da polícia, é 
muito grande, pois todos operadores do direito que participarão do processo de 
aplicação da lei penal precisam estar seguros quanto aos eventos ocorridos 
naquele sítio. 
Raramente o local poderá ser visitado por juízes, promotores e 
advogados com a finalidade de elucidar suas dúvidas. Geralmente, o 
conhecimento dessas autoridades sobre o local de crime baseia-se nas 
documentações produzidas pela polícia. Diante dessa constatação, é necessário 
ter consciência da responsabilidade de um processamento de local1 preciso e 
seguro. 
1.6.2 Obter provas 
Quando se processa de maneira efetiva uma cena de crime, 
encontrando os vestígios materiais relacionados ao fato, contextualizando-os por 
meio de registros fotográficos e croquis, coletando e encaminhando amostras de 
maneira adequada para análises posteriores, está se assegurando uma eficácia 
na transformaçãodos vestígios materiais em provas. Essas provas materiais 
oriundas do local, somadas às provas subjetivas das testemunhas, produzirão 
um corpo probatório global que poderá esclarecer bem os fatos ocorridos e 
conferir precisão nas decisões que serão tomadas. 
1.6.3 Assegurar a cadeia de custódia 
A coleta dos vestígios em local de crime, o manuseio e a análise 
por parte da perícia sempre visam a manter a integridade dos mesmos. O mesmo 
cuidado deverá ser tomado por todos policiais que manusearão aqueles 
vestígios materiais do fato. 
 
1 Processar um local de crime significa examinar o local a fim de obter informações sobre o crime ali 
praticado. 
Caberá aos peritos criminais federais a custódia dos vestígios 
encontrados em local de crime, que deverão fazer, de forma adequada, o 
registro, a preservação, a coleta e a entrega à autoridade solicitante, 
assegurando a invulnerabilidade da cadeia de custódia da prova. Todavia, os 
fragmentos de impressões digitais colhidos em locais de crimes pelos peritos 
criminais serão guardados nos setores específicos do Instituto Nacional de 
Identificação ou de suas projeções regionais. 
Assim, os vestígios obtidos deverão possuir uma cadeia de 
custódia que assegure sua integridade desde o local de crime até o momento 
em que eles comporão o processo. Nos casos de busca e apreensão, os 
vestígios são coletados e encaminhados para a Perícia, que fará análises 
posteriores. 
1.7 Locais de interesse da polícia 
Para o melhor entendimento e a exemplificação mais clara do que 
seja um local de crime, são apresentadas as classificações escritas a seguir. 
1.7.1 Local onde aconteceu o fato 
É o local de crime típico. Nele, está presente uma grande 
quantidade de vestígios materiais. Deve ser processado pela Criminalística. É o 
objeto de estudo desta disciplina. 
1.7.2 Local que sofreu as consequências do crime 
Esse tipo de local torna-se importante na constatação da 
materialidade de certos tipos de crime. Não necessariamente o crime ocorre 
fisicamente nesse local, mas seus efeitos podem ser percebidos e registrados 
pela perícia. Ex.: uma investigação de um crime em que se suspeita que uma 
quadrilha de empresários é responsável pelo desvio de verbas públicas, 
inicialmente destinadas à construção de uma estrada, exige da polícia a 
obtenção da materialidade do crime. Isso pode ser conseguido por meio de uma 
perícia de local, com a finalidade de constatar se a estrada foi ou não construída 
de acordo com o projeto inicial. Outro exemplo típico são os crimes cometidos 
por meio da internet, que podem ser perpetrados por indivíduos que estão em 
locais distintos daqueles onde os resultados são produzidos. 
1.7.3 Local onde o crime foi planejado 
Esse local fornece uma grande quantidade de informações sobre 
os autores do crime, seu modus operandi e a possível vinculação com outros 
locais ainda não conhecidos. A obtenção de vestígios nesse local depende, 
muitas vezes, de um mandado de busca e apreensão ou de diligências 
complementares. Ex.: realização de mandados de busca e apreensão nos 
escritórios das empresas construtoras da estrada referida no exemplo anterior. 
1.7.4 Local relacionado ao fato 
São locais onde podem ser obtidas informações adicionais sobre o 
crime, objetivas ou subjetivas, que possam auxiliar no contexto da investigação, 
mas que não possuem continuidade geográfica com os locais imediatos e 
mediatos. É do interesse da investigação encontrar esses locais e os seus 
vestígios. A obtenção das informações ali contidas deve ser resguardada por 
uma diligência bem planejada e, de preferência, na posse de um mandado de 
busca e apreensão. Ex.: o acerto de propina entre os empresários e interessados 
no crime referido no exemplo anterior aconteceu em um determinado hotel. A 
polícia deve então procurar obter as fitas de vídeo do circuito interno de 
segurança do hotel, os registros de hospedagem dos envolvidos, as formas de 
pagamento, o registro telefônico, etc. O local comumente conhecido no meio 
policial como local de desova é tipicamente classificado como local relacionado 
ao fato. 
Nota: locais de vestígio digital: com a evolução tecnológica das redes de 
computadores o espaço cibernético tem facilitado a vida em sociedade. 
Todavia, apesar dos benefícios gerados, surgem os ilícitos cometidos por 
pessoas que usam o aparato computacional para praticar delitos em 
computadores isolados ou na grande rede mundial de computadores 
(internet). 
Os crimes cometidos pelos hackers são os mais variados 
possíveis, desde dano, furto, estelionato, crimes contra honra, crimes contra o 
sistema financeiro, pornografia infantil, entre outros não menos preocupantes. 
Esses tipos de ações delituosas cometidas com a utilização de computadores, 
redes de computadores ou demais recursos de informática chamam-se crimes 
por computador, sendo, portanto, o local de busca dos vestígios digitais. 
 
2 Isolamento e preservação de locais 
Devido ao fato de os peritos criminais não serem os primeiros a 
chegar em uma cena de crime, é necessário que a mesma esteja isolada e 
preservada para que o trabalho da Criminalística possa ser realizado com 
segurança e idoneidade, em busca da materialidade e da autoria do delito em 
questão. 
Locais de crime não preservados ou adulterados prejudicam muito 
o trabalho da perícia/polícia e, consequentemente, a aplicação da Justiça em 
todos os seus aspectos. Quem perde, nesses casos, não é a Criminalística, nem 
a Polícia, e sim a sociedade. 
2.1 Necessidade legal 
Algumas vezes, policiais bem-intencionados coletam vestígios 
materiais em um local de crime e o encaminham para a perícia. A razão para 
essa conduta é variada, englobando desde locais onde não existem peritos, até 
mesmo locais onde a perícia não poderia comparecer tempestivamente. Essa 
coleta de vestígios, quando realizada por outros policiais que não são peritos, 
não é a mais adequada, pois existe a necessidade legal de que a coleta de 
vestígios de locais de crime seja precedida de uma solicitação de exame de 
corpo de delito. 
Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o 
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a 
confissão do acusado. (CPP) 
Art. 159 - O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados 
por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação 
dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
Essa determinação legal evidencia, de forma direta, a importância 
que a perícia representa no contexto probatório, referindo-se sobre a sua 
indispensabilidade, sob pena de nulidade de processos. 
Art. 564 - a nulidade ocorrerá nos seguintes casos: 
Inc. III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: 
Alínea b - o exame do corpo de delito nos crimes que deixem vestígios, 
ressalvado o disposto no art. 167. 
Esse artigo do Código de Processo Penal ressalta de tal maneira a 
necessidade do laudo pericial para o processo criminal que chega ao ponto de 
dizer que o processo criminal poderá ter atos nulos por conta de sua falta. 
Além disso, o reconhecimento legal da importância do adequado 
exame e preservação dos locais de crime está patente no art. 6º do CPP: 
Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade 
policial deverá: 
I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado 
e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; 
II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após 
liberados pelos peritos. 
A redação do artigo mencionado foi dada pela Lei nº 8.862, de 28 
de março de 1994e define, de uma vez por todas, a responsabilidade pela 
preservação dos locais de crime. Esse preceito legal é reforçado pelo art. 169 do 
mesmo diploma legal, determinando que: 
Para efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a 
autoridade providenciará imediatamente para que não altere o estado 
das coisas até a chegada dos peritos. 
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do 
estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas 
alterações na dinâmica dos fatos. 
A própria legislação trata de garantir que um local de crime seja 
devidamente analisado pela perícia. Portanto, a perícia em local de crime possui 
tanto o aspecto técnico, como também a necessidade legal. A ausência de 
análise do corpo de delito é um dos aspectos que pode levar à nulidade de uma 
ação penal. 
Algumas vezes, policiais bem-intencionados coletam vestígios 
materiais em um local de crime e o encaminham para a perícia, sem os devidos 
cuidados técnicos e legais. 
2.2 Necessidade técnica 
Além da necessidade legal do perito no local do crime, devem ser 
considerados os aspectos que envolvem o preparo técnico para o trato com 
alguns vestígios materiais. 
Muitas vezes, os policiais que não tiveram treinamento em perícia 
forense não conseguem êxito na busca e interpretação desses vestígios, que é 
uma missão difícil e necessita de conhecimentos técnicos especializados. Um 
investigador sem o devido preparo não estará apto a localizar, coletar e 
manusear os vestígios de modo a garantir seu valor probatório. Essa é a razão 
técnica pela qual a análise de um local de crime fica a cargo da perícia. 
Locais que envolvem vestígios biológicos, químicos, ou uma série 
de outros vestígios que necessitam de conhecimento técnico para sua coleta 
demandam claramente o trabalho do perito. Além da necessidade de coleta 
adequada do vestígio, existe uma série de outros aspectos que envolvem a 
habilidade técnica para processar a cena de crime. O perito é treinado para estar 
atento a fatos que podem passar despercebidos a outros policiais. Trata-se do 
estabelecimento da dinâmica dos fatos e da contextualização dos vestígios no 
local. O sucesso da análise de uma cena de crime depende muitas vezes destas 
tarefas. Um vestígio encontrado e coletado no local fornece uma quantidade 
maior de informações ao perito do que o mesmo vestígio coletado por outro 
policial e encaminhado para análise. 
Há que se levar em conta ainda as informações de contexto do 
vestígio. Os vestígios valem não só pelo que são, mas também pelo lugar e pela 
posição em que se encontram, bem como por suas possíveis relações com 
outros vestígios, os quais podem não ser perceptíveis de imediato. 
2.3 Classificação dos locais 
Para auxiliar o entendimento no que diz respeito à delimitação da 
área do crime, o local será dividido em dois ambientes: 
Imediato: é a área onde ocorreu o fato. É nesse ambiente que se 
procede ao exame cuidadoso de todos os detalhes, presumindo-se que o local 
tenha sido convenientemente preservado desde o comparecimento do primeiro 
policial; 
Mediato: compreende as adjacências do local de crime. A área 
intermediária entre o local onde ocorreu o fato (o local de crime propriamente 
dito) e o grande ambiente exterior e que pode conter vestígios relacionados ao 
fato sob investigação. Importante destacar que entre o local imediato e o mediato 
deve haver uma continuidade geográfica. 
Os esforços de isolamento devem ser concentrados no ambiente 
imediato, porém, em diversos casos, deve haver a preocupação também com o 
ambiente mediato. 
A delimitação do local de crime e de áreas de exame simultâneas 
depende da sua localização e dos tipos de crimes concorrentes. Caso haja 
necessidade, deve ser isolada mais de uma área. 
Os limites devem ser estabelecidos para além do escopo inicial do 
local de crime, sabendo que posteriormente os limites podem ser reduzidos em 
tamanho, se necessário, mas não podem ser facilmente expandidos. 
Para estudo do local de crime, considerando o isolamento e a 
preservação, os locais são classificados em: 
Idôneos ou não violados: que não sofreram a influência de 
terceiros antes da chegada dos peritos, ou seja, foram preservados na forma em 
que foram deixados pelo agente criminoso após a prática da infração; 
Inidôneos ou violados: aqueles que foram alterados ou não foram 
preservados. 
2.4 Delimitação do perímetro 
A delimitação física do perímetro é uma tarefa que, à primeira vista, 
parece simples. Entretanto, pode ser uma das tarefas mais difíceis na etapa de 
isolamento do local. A dúvida sobre o tamanho da cena de crime é uma 
constante preocupação de todos os investigadores. A principal tarefa é descobrir 
qual será a área necessária a ser isolada para que a perícia possa procurar todos 
os vestígios relacionados ao fato. Uma regra prática a ser levada em 
consideração é a providência de isolar a maior área possível dentro do contexto 
e da situação existentes, pois áreas demasiado pequenas trazem o risco de 
contaminação ou perda de vestígios importantes para a apuração dos fatos. 
Atualmente, é preconizado 
que no ambiente do local de crime 
existam dois níveis de isolamento que 
por sua vez delimitam duas áreas 
distintas: o perímetro de processamento 
e o perímetro de segurança. O perímetro 
de processamento compreende as áreas 
onde podem ser encontrados vestígios e 
é o foco do trabalho da equipe pericial. O perímetro de segurança compreende 
uma área destinada à circulação de um número restrito e controlado de pessoas. 
É neste espaço que autoridades e agentes da segurança pública exercerão suas 
atividades. Os populares, imprensa e demais pessoas que porventura possam 
estar próximas ao local do crime permanecerão além do perímetro de segurança. 
2.5 Isolamento físico do local 
Após a definição do tamanho da área a ser isolada, deverá ser 
providenciado o isolamento físico. Isso evitará um desgaste com populares, com 
a imprensa, com outras polícias e mesmo com diversos tipos de autoridades. 
Essa delimitação física, por meio de uma fita de isolamento, mostra claramente 
que aquela área está sob investigação. É uma área de interesse da polícia. Sem 
a delimitação física, é preciso um grande número de pessoas para ficar vigiando. 
A fita de isolamento torna o trabalho de isolamento e preservação da área muito 
mais eficiente. 
Caso não exista uma fita padrão à disposição, poderão ser 
providenciadas outras barreiras físicas, tais como cones, cordas, cavaletes ou 
qualquer outro meio que mostre que aquela área está sob investigação da 
polícia. 
2.6 Variáveis presentes nas cenas de crime 
Visando a uma maior compreensão do trabalho de isolamento de 
locais, algumas variáveis presentes na maioria das cenas de crime são, a seguir, 
relacionadas. 
Figura 1 - Delimitação do perímetro. 
2.6.1 Imprensa 
O principal trabalho da imprensa é manter a sociedade informada 
acerca dos fatos acontecidos. Em locais de crime, seu trabalho é descobrir, no 
menor tempo possível, informações sobre o ocorrido. 
Essa premente necessidade de informação leva muitas vezes o 
profissional da imprensa a tentar furar bloqueios e penetrar em áreas reservadas. 
Contudo, numa cena de crime ainda em processamento é importante que o 
profissional da imprensa saiba que suas necessidades de obter informação 
poderão prejudicar uma análise adequada do local. 
A imprensa deve ser tratada com ética e profissionalismo. Os 
policiais devem assegurar aos profissionais de imprensa ali presentes que todas 
as informações que puderem ser divulgadas ao público o serão na ocasião mais 
apropriada aosinteresses da investigação e da apuração da verdade. Os 
repórteres e demais pessoas da imprensa precisam entender que, naquele 
momento, a prioridade maior é manter o isolamento da área, para que a perícia 
possa realizar seus exames. 
Em locais de crime de grande repercussão, é importante que um 
policial fique à disposição da imprensa e que apenas ele seja o porta-voz do 
grupo. Todos devem evitar falar sobre as hipóteses do crime. A palavra de um 
policial no local é muito importante. 
No início das investigações, muitas teorias e conjecturas a respeito 
do crime são elaboradas. O resultado da perícia poderá levar alguns dias, e as 
hipóteses iniciais poderão ir sendo descartadas à luz dos novos conhecimentos 
obtidos. Mas, caso essas hipóteses sejam informadas à imprensa ainda no local 
do crime, elas poderão ser divulgadas, atrapalhando a investigação ou, até 
mesmo, prejudicando e colocando em risco outras pessoas. 
Em alguns crimes, caso seja necessário, pode-se até solicitar a 
ajuda da imprensa para a divulgação de certos fatos que venham a contribuir 
para o andamento das investigações, por intermédio da autoridade policial. 
Porém, essas decisões devem ser tomadas com muito critério, pois não se pode 
prever o impacto da informação no seio da sociedade. 
2.6.2 Populares 
A presença de populares em locais de crime é talvez o fator mais 
comum a todas as cenas. Para se ter um eficaz controle e para que os populares 
não invadam o local, é necessário o uso efetivo da fita de isolamento de área. 
Dificilmente um popular adentrará em uma área cuja delimitação, feita pela 
polícia, esteja bastante clara. Sem a delimitação física da mesma, o trabalho de 
manter os populares afastados torna-se muito mais difícil. 
2.6.3 Vítimas 
A presença de vítimas no local altera o procedimento inicial de 
isolamento da área, pois, nesse caso, a principal medida é providenciar socorro 
às mesmas. 
2.6.4 Parentes 
Os parentes das vítimas, muitas vezes, ficam ansiosos por 
informações e devem ser tratados com respeito e profissionalismo. Porém, não 
podem penetrar na área delimitada, salvo em caso de necessidade urgente e 
comprovada. 
2.6.5 Autoridades 
A presença de autoridades em locais de crime é muito mais comum 
do que se imagina. Muitas vezes, essas autoridades não possuem, em sua 
formação, o conhecimento necessário sobre o processamento de local de crime. 
É dever do policial informá-las acerca de todos os procedimentos que serão 
realizados e que, portanto, devem permanecer fora da área delimitada para que 
os trabalhos possam ser levados a termo adequadamente. 
2.6.6 Outras forças policiais 
Muitas vezes, existem questionamentos a respeito de quem detém 
a responsabilidade pela apuração dos fatos envolvidos em um determinado 
local. Independentemente de quem seja o responsável, o local deve ser isolado 
e preservado até a chegada da perícia. Todas as forças policiais ali presentes, 
militares ou civis, devem estar conscientes sobre a importância da delimitação e 
isolamento da área para garantir a coleta dos vestígios relacionados ao crime. 
2.6.7 Dificuldades estruturais 
Consideram-se dificuldades estruturais todas aquelas variáveis 
que podem dificultar o isolamento de uma determinada área. Como exemplo, 
pode ser citado o caso de um crime que aconteceu na principal avenida de uma 
determinada cidade, na hora de maior movimento. Existe claramente um 
confronto entre a necessidade de se isolar a área e a garantia do funcionamento 
dos serviços envolvidos (trânsito, transportes coletivos, etc.) e a segurança nas 
vias públicas. 
Nessa situação, existe uma regra específica trazida pela Lei nº 
5.950/73, que permite o não isolamento e o desfazimento do local em casos de 
acidente de trânsito que tenham vítimas ou que estejam prejudicando o tráfego. 
Não há uma regra prática clara sobre o que fazer em situações 
como essa, porém, o bom senso, o diálogo e a capacidade de ouvir as opiniões 
de todos, das corporações envolvidas, batalhões de trânsito, bombeiros, 
companhia elétrica, etc. poderão determinar a melhor maneira de se isolar a 
área, minimizando os danos à comunidade e ao local a ser preservado. 
2.6.8 Intempéries climáticas 
Em alguns locais, as intempéries climáticas poderão colocar em 
risco vários tipos de vestígios como, por exemplo, uma pegada na areia na 
iminência de uma forte tempestade. O bom senso e a percepção dos policiais 
presentes poderão determinar condutas que poderão preservar os vestígios. 
Assim, os vestígios poderão ser cobertos, caso seja possível. Em alguns casos, 
se isso não for possível, os policiais devem tirar fotografias e realizar medições 
ou mesmo procurar desenhar um croqui, pois a escolha será entre o vestígio 
coletado inadequadamente e aquele não coletado. O que prevalecerá nesses 
casos é o bom senso. 
 
3 Etapas de processamento do local 
3.1 Preparação 
Essa fase antecede todo o trabalho e se inicia quando o perito 
criminal toma conhecimento do local e adota todas as providências para garantir 
que se possam aglutinar recursos humanos/materiais necessários à realização 
dos exames. 
Caso entenda necessário, o perito pode elaborar check list próprio 
de modo que a cada acionamento o mesmo seja preenchido de forma a não se 
esquecer de detalhes importantes, ou ainda estabelecer regras para suprir 
possíveis materiais que tenham se exaurido em um dado exame após o seu 
término. 
NOTA: o ideal para se evitar improvisos é que o perito de sobreaviso do dia faça 
uma checagem de todo o material de local de crime antes mesmo que haja algum 
acionamento, logo no início do dia. Pode-se ter um check list ao lado da mala de 
local e da maleta de vestígios biológicos para que se faça uma conferência rápida 
de todo o material e, se necessário, realizar as devidas reposições. Essa prática 
agiliza o deslocamento da equipe pericial num eventual acionamento e garante 
que todo o material necessário está sendo levado. 
3.1.1 Obtenção de informações adicionais sobre o local 
Essa é uma etapa muito importante e não pode ser descartada. É 
realizada quase que de maneira intuitiva. Nela devem ser obtidas mais 
informações sobre o que será encontrado, de maneira sistematizada e 
organizada. 
Algumas informações são muito importantes e muitas vezes são 
deixadas de lado como, por exemplo, o próprio endereço, coordenadas, pontos 
de referência, etc. Essas informações ajudarão a uma chegada mais rápida ao 
local, bem como a definir o tipo de transporte a ser solicitado. 
Comparecer a um local de crime sempre envolve o transporte de 
pessoas e equipamentos. A escolha adequada do tipo de transporte, e mesmo 
da equipe de apoio, é facilitada quando se conhece mais sobre o local. Não se 
deve ir ao local sem um meio eficiente de transporte que confira autonomia à 
perícia para decidir sobre o tempo necessário para realizar os exames. 
3.1.2 Tipo de local/crime 
Esse dado é necessário para saber quais os possíveis vestígios a 
serem encontrados. Essa informação é crucial para a definição do material e 
equipamento a serem separados ou providenciados e com que tipo de ajuda se 
poderá contar. Por exemplo, em se tratando de um local envolvendo explosivos, 
é bom contar com o apoio de pessoal com conhecimentos especializados em 
bombas e explosivos. Dependendo do tamanho da cena a ser processada, deve-
se solicitar ou pedir ajuda para montar uma equipe. Não se deve tentar resolver 
tudo sozinho. 
3.1.3 Material e equipamento necessários 
Muitos locais exigirão embalagens específicas e equipamentos 
adequados. O tipo de exame a ser realizado e os prováveis vestígios a serem 
coletados definirão os materiais eequipamentos a serem providenciados. Caso 
não se possua uma viatura adequada para exames de local em que os materiais 
já estejam disciplinarmente guardados, é preciso providenciar o material 
necessário antes de chegar ao local. 
Neste último caso, então, o processamento do local poderá ficar 
prejudicado, seja por atraso, seja por falta de equipamentos e materiais de coleta 
adequados. Planejar é o ponto importante e crucial nessa etapa. 
A seguir apresenta-se uma lista para auxiliar a lembrar que tipos de 
materiais podem ser necessários na quase totalidade dos locais. 
 prancheta;  marcadores de vestígios; 
 papel branco e milimetrado;  trena; 
 caneta, lápis, borracha;  etiquetas autoadesivas; 
 pincel atômico;  fita adesiva; 
 máquina fotográfica com flash;  lupa; 
 tripé para máquina fotográfica;  pinça; 
 escala para fotografia;  lanterna; 
 filmadora;  fita de isolamento; 
 pilha e baterias sobressalentes;  equipamento de GPS; 
 embalagens variadas (sacos 
plásticos e de papel, envelopes); 
 caixa de ferramentas com alicate, 
chave de fenda, etc.; 
 material para coleta de vestígios 
biológicos; 
 caixa de papelão rígido para fixação 
de objetos. 
 
3.1.4 Meios de comunicação 
É importante providenciar meios de comunicação entre a equipe 
que vai ao local e a base (superintendência regional, delegacia ou INC). Em 
algumas situações, apoio adicional, não originalmente previsto nas etapas de 
preparação e planejamento, pode ser necessário. Essa comunicação geralmente 
pode ser feita por meio de celulares ou rádio. Caso se trate de uma cena de 
crime grande, é recomendado que os membros da equipe de processamento 
possuam um rádio que propicie uma comunicação eficiente durante os exames, 
possibilitando assim uma interação em tempo real entre todos os membros da 
equipe com respeito às observações surgidas durante a análise do local. 
3.1.5 Urgência do exame 
Existirão situações em que a urgência da chegada ao local pode se 
sobrepor ao planejamento. Nesses casos, a etapa de planejamento fica 
prejudicada. Isso pode ser minimizado com o envio de uma parte da equipe para 
avaliar a cena e as condições, enquanto outra parte da equipe providencia os 
materiais e equipamentos, mantendo-se ambas as partes em estreito contato 
para facilitar a preparação de materiais e equipamentos necessários. 
3.2 Chegada ao local 
No deslocamento até o local, a equipe pode iniciar um intercâmbio 
sobre o que poderá encontrar e quais as melhores estratégias para a condução 
dos trabalhos. Neste momento poderão, até mesmo, distribuir as tarefas a serem 
realizadas. 
3.2.1 Cadeia de comando 
Se a equipe de peritos ainda não possui um chefe, esse é o 
momento para se escolher um. O estabelecimento de uma cadeia única de 
comando quanto ao processamento do local ajuda a dinamizar e tornar os 
trabalhos mais eficientes. 
3.2.2 Assumir o local 
O perito designado como chefe de equipe deve assumir o local de 
maneira formal, segura e clara. Isso quer dizer que deve esclarecer aos policiais 
presentes na cena de crime que esta se encontra agora sob controle da Perícia. 
A pressa é a principal fonte de erro no processamento de um local, 
e o ponto mais crucial no qual ela pode ser sentida é no trabalho de busca e 
documentação dos vestígios. No início dos trabalhos quando se assume o local, 
deve-se esclarecer aos policiais e às demais autoridades ou pessoas presentes 
no local que o trabalho não será feito rapidamente, devido à importância de uma 
coleta de vestígios eficiente para todo o processo penal. Pressões existirão para 
que a perícia seja rápida, e o perito deve saber contorná-las. 
Uma breve exposição sobre como serão conduzidos os trabalhos 
e qual o foco da análise ajudará a criar em todos um espírito de cooperação. 
Deve-se ter em mente que muitos policiais já estarão há algum tempo 
aguardando a Perícia. Logo, explicar-lhes que a perícia pode demorar pode 
minimizar-lhes a ansiedade. O perito deve otimizar seus trabalhos sem prejuízo 
da qualidade técnica, porque só existe uma oportunidade para se processar um 
local de maneira adequada. 
3.2.3 Reunião preliminar 
Até o momento da chegada dos peritos ao local, as informações 
conhecidas sobre o mesmo eram fornecidas por terceiros via telefone ou rádio, 
entretanto, após a chegada ao local, a cena pode ser presenciada, sentida e, 
portanto, melhor avaliada. Então, assim que se chega, deve-se proceder a uma 
reavaliação do perímetro de isolamento encontrado e, dependendo do caso, 
solicitar que o mesmo seja ampliado ou diminuído. 
Como fruto dessa avaliação preliminar do local, o perito chefe deve 
promover uma reunião com todos os membros da equipe após assumir o local. 
Essa é uma reunião informal em que todos podem e devem oferecer seu ponto 
de vista sobre a cena encontrada. 
Realizar essa reunião assim que se chega é de grande ajuda, pois 
nesse momento podem ser ouvidas sugestões que podem direcionar os 
trabalhos e avaliar a segurança da equipe. Se ainda não foram estabelecidas as 
tarefas de cada um, elas devem ser distribuídas neste momento. 
3.2.4 Entrevistas 
Essas entrevistas devem ser feitas com possíveis testemunhas ou 
pessoas que estavam presentes no local antes da chegada dos peritos. Podem 
ser realizadas por qualquer membro da equipe, inclusive enquanto são 
efetivados os preparativos. O que se espera conseguir com essas entrevistas 
são informações adicionais que ajudarão a entender o ocorrido. Estas podem 
agilizar os trabalhos ou mesmo direcioná-los. 
Alguns cuidados precisam ser tomados na realização dessas 
entrevistas. Deve-se ter sempre em mente que as informações obtidas podem 
ajudar a encontrar os vestígios materiais. Mas as informações fornecidas por 
testemunhas ou outras pessoas, por serem subjetivas, não serão objeto de 
avaliação no laudo. Mesmo que existam vestígios que comprovem a informação, 
o perito só deve considerar os vestígios para suas conclusões. O teor das 
entrevistas serve para direcionar e agilizar os trabalhos. Informações acerca da 
cena de crime antes do ocorrido podem ajudar a entender o local e, portanto, a 
realização dos trabalhos. 
3.3 Busca no local 
3.3.1 Busca inicial 
O perito encarregado do local deve proceder a uma busca 
preliminar que visa a conhecer melhor a cena em questão e a planejar a busca 
mais detalhada e completa. O principal cuidado para a realização dessa busca 
é estabelecer as rotas de entrada e saída que deverão ser então usadas por 
todos que necessitarem entrar no local. Para isso o perito pode se utilizar de 
marcadores próprios, fitas ou ainda setas desenhadas no chão. A rota de entrada 
deve minimizar ao máximo os possíveis danos aos vestígios materiais presentes. 
3.3.2 Busca completa 
Esta etapa visa a encontrar os vestígios materiais inerentes ao local 
em processamento. Os tipos de vestígios dependerão de cada local e, nesta 
unidade, serão descritos os modos de se realizar uma busca. 
O perito que participar da busca deve ser cauteloso, observador e 
estar com a mente o mais livre possível. Possuir uma pré-concepção do fato na 
mente, mas ao mesmo tempo estar apto a reconhecer uma mudança de direção 
nas análises frente a um novo vestígio. Preocupações de ordem diversa das 
relacionadas ao local de crime atrapalharão a busca, principalmente quando o 
que se está procurando são pequenos vestígios ou microvestígios. 
A maneira de se proceder a uma busca dependerá do tipo de cena 
a ser trabalhada. 
3.3.3 Padrões de buscas 
Os padrões de busca visam a cobrir a área questionada e a facilitar 
o trabalho de encontrar os vestígios. Sempre que um vestígio for encontrado,o 
mesmo deve ser marcado, para que possa ser descrito, fotografado e assinalado 
em um croqui. Vários métodos de busca podem ser utilizados, depende de cada 
caso e da metodologia seguida pelos peritos. A seguir, serão descritas as 
principais e mais simples de serem utilizadas. 
a) Busca em espiral 
Esse tipo de busca é geralmente aplicado quando a área a ser 
pesquisada é pequena e se dispõe de poucas pessoas. A busca em espiral 
inicia-se na parte periférica e vai-se contornando a cena até se chegar ao ponto 
central. Geralmente, é no ponto central em que pode ser encontrada a maioria 
dos vestígios. O caminhamento em forma de espiral pode sofrer pequenas 
variações no percurso em função dos obstáculos e da localização dos vestígios 
encontrados na área examinada. O ponto principal dessa busca é caminhar de 
forma calma, tranquila e atenta, procurando não destruir ou contaminar os 
vestígios encontrados. 
b) Busca em linha 
É utilizada quando a área a 
ser coberta é extensa e se dispõe de uma 
quantidade suficiente de pessoas. Para a 
formação da linha de busca, os profissionais devem estender os braços e se 
posicionar de modo a ficar a uma distância de dois braços um do outro. Nesse 
tipo de busca, por envolver uma grande quantidade de pessoas, recomenda-se 
muita atenção no deslocamento e na movimentação delas. A melhor forma de 
conseguir isso é escolher um homem base para comandar a linha, a qual 
passará então a movimentar-se pelo comando dessa pessoa. 
Cada integrante da linha deve procurar, detalhadamente, os 
vestígios na região de interesse imediatamente à sua frente, e quando os 
encontrar deverá gritar a palavra “alto”, para que toda a linha pare e aguarde que 
ele faça a marcação do vestígio encontrado. 
c) Busca em linha cruzada 
É utilizada no mesmo 
sistema da busca em linha tradicional, 
somente repetindo-se a uma segunda 
busca numa direção perpendicular à 
primeira. É uma busca mais completa, 
porém mais trabalhosa. Primeiramente, 
realiza-se a busca em linha normal. 
Depois, por uma das laterais da área a ser 
Figura 2 - Busca em espiral. 
Figura 3 - Busca em linha. 
Figura 4 - Busca em linha cruzada. 
analisada, repete-se a formação da linha e procede-se então a uma nova 
varredura. 
d) Busca por quadrante 
Utilizada quando se necessita 
dividir a cena de crime em quadrantes e realizar 
uma busca em cada um. Dependendo da 
situação, pode ser interessante aplicar outra 
metodologia de busca dentro de cada quadrante. 
Os padrões de busca aqui 
apresentados visam a promover um acesso à 
cena de crime de maneira a minimizar a 
contaminação dos vestígios e a promover uma forma organizada de encontrá-
los. 
Cada vestígio material, quando encontrado, deverá ser marcado, 
pois evitará que outras pessoas que não o viram possam destruí-lo ou prejudicá-
lo. Existem diversos tipos de marcadores e seu uso dependerá de cada caso. 
NOTA: os vestígios não devem ser coletados assim que encontrados. Devem ser 
marcados para que possam ser descritos, fotografados e ter sua posição anotada 
no croqui. 
 
3.3.3.1 Premissas básicas para a realização de uma busca 
Normalmente, a melhor maneira de se conduzir uma busca é a 
mais difícil e a que mais consome tempo. Lembre-se: 
 um vestígio material nunca pode ser demasiadamente 
documentado, isto é, quanto mais soubermos sobre o mesmo, quanto mais 
conhecê-lo, melhor será. Não há como pensar que o mesmo foi documentado 
excessivamente de modo que isso possa prejudicar sua análise. O ponto chave 
limitante na documentação é o tempo que se pode dedicar a essa tarefa. Utilizar 
anotações, fotografias, filmagens ou outras formas de documentação é muito útil 
para as análises que se farão posteriormente; 
Figura 5 - Busca por quadrante. 
 proceda a uma busca cautelosa nas áreas visíveis de modo a 
evitar perda ou contaminação de vestígios; 
 promova uma busca vigorosa por áreas escondidas e 
dissimuladas; 
 não se esqueça que a cena de um crime é tridimensional, 
portanto proceda também a uma busca por vestígios que possam estar acima 
da linha dos olhos, como teto e árvores; 
 conduza a busca do geral para o específico; 
 só existe uma chance de processar o local de maneira 
adequada. 
3.4 Coleta de vestígios 
Somente depois que cada vestígio encontrado tiver sido 
posicionado no croqui, fotografado e, se possível, descrito, é que se procederá 
à sua coleta. Os métodos de documentação do local e dos vestígios serão 
abordados em detalhes na seção 4. 
Alguns vestígios serão coletados e levados pelo próprio perito 
como, por exemplo, no caso de amostras de algum material ou de outros objetos 
que deverão ser submetidos a exames posteriores. Outros vestígios serão 
fotografados e discriminados na documentação, mas serão deixados a cargo do 
delegado para proceder à apreensão dos mesmos. 
3.4.1 Amostragem 
Quando for necessária a amostragem para encaminhamento a 
laboratório, é preciso usar uma metodologia adequada. A amostragem deve ser 
em quantidade e número suficiente. Em caso de dúvida sobre a amostragem do 
material em questão, o perito deverá consultar as instruções técnicas da área ou 
contatar o pessoal responsável pelos futuros exames de modo a receber deles 
as orientações devidas quanto aos procedimentos de amostragem, tais como 
quantidade e tamanho das amostras, necessidade de amostras controles, etc. 
3.4.2 Amostras padrão ou controle 
Este é um procedimento que deve ser realizado quando o vestígio 
a ser coletado estiver impregnado ou depositado em um suporte, e o mesmo não 
puder ser totalmente encaminhado para análises. Como regra geral, o melhor 
vestígio é aquele que poderá ser encaminhado de forma integral para os 
exames, pois fornecerá uma maior quantidade de informações ao perito que for 
analisá-lo posteriormente, mas isso nem sempre é possível, seja por dificuldades 
de transporte, seja por impossibilidades técnicas. 
Esta situação pode ser melhor compreendida por meio do seguinte 
exemplo: no processamento de um local foi encontrada uma mancha suspeita 
impregnada no carpete de uma sala. Não se pensa em remover e encaminhar 
completamente o carpete, isso não é viável. O perito então recorta o pedaço do 
carpete que contém a mancha e o encaminha. Para que essa análise seja 
possível e conclusiva, pode ser que o laboratório precise de uma amostra do 
carpete isenta da mancha para que possa analisar as possíveis interações entre 
a substância que gerou a mancha e o carpete. Logo, deve ser providenciada 
uma amostra do carpete isenta da mancha. Esta segunda amostra do carpete, 
sem impregnações da substância suspeita, é denominada de amostra controle 
ou amostra padrão. Como no momento da realização do exame no local do crime 
ainda não é possível determinar a necessidade da coleta de uma amostra padrão 
para dirimir futuras dúvidas relacionadas a interações entre o vestígio e seu 
suporte, a regra geral é coletá-la. 
3.5 Reunião final 
Essa reunião é o passo que antecede a finalização dos trabalhos e 
deve ser realizada com todos os membros da equipe, tendo como principal 
pauta: “Fizemos tudo o que era necessário para um processamento efetivo deste 
local?” Caso o entendimento global seja que sim, o chefe da equipe conduzirá 
uma busca final pelo local, para se certificar das condições do mesmo antes da 
entrega. Nessa reunião, faz-se uma checagem final de todos os aspectos 
levantados no local, verificando se: 
a) a documentação está devidamente preenchida; 
b) todos os vestígios foram fotografados e posicionados no 
croqui; 
c) os vestígios foram coletados adequadamente; 
d) as amostras controle necessáriasforam coletadas; 
e) os vestígios estão embalados e identificados 
adequadamente; 
f) existem meios para se transportar adequadamente os 
vestígios. 
Diante das afirmativas referentes aos questionamentos acima, 
parte-se então para a etapa de liberação do local. 
3.6 Liberação do local 
A entrega do local e sua liberação será feita pelo chefe da equipe 
de maneira formal, podendo até fazê-lo por meio escrito em formulário próprio. 
Geralmente é feita verbalmente e consignada no laudo. 
Caso existam outras providências necessárias à liberação do local, 
estas devem ser informadas à autoridade que receberá o local. O perito chefe 
deverá informar, nessa ocasião, sobre quaisquer informações pertinentes ao 
local, bem como de que outros materiais devem ser apreendidos e 
encaminhados para a perícia e a que cuidados os mesmos devem ser 
submetidos. 
 
4 Documentação do local 
4.1 Descrição narrativa 
A descrição narrativa deve abranger tudo o que for encontrado no 
local. A cena deve ser descrita do geral para o específico. Em princípio, nenhum 
item é insignificante e não pode ser descartado da documentação. Essa 
descrição pode ser feita de várias formas: escrita, gravada em áudio (gravador), 
gravada em áudio e vídeo (filmadora), etc. O perito deve esforçar-se para realizá-
la da melhor maneira, evitando confiar em sua memória. 
Muitas vezes as condições inóspitas do local podem levar o perito 
a deixar para escrever no momento em que for relatar o laudo. No entanto, a 
experiência mostra que a melhor oportunidade e o melhor lugar para descrever 
tudo é na cena de crime, pois quanto mais completa e organizada a descrição 
do local, mais completo o trabalho de processamento a ser feito, e mais fácil a 
redação e conclusão do laudo. 
4.2 Fotografia 
Deve ser iniciada assim que se chega ao local, o mais rápido 
possível. Tirar fotos globais da cena assim que se chega é uma recomendação 
baseada em fundamentos que podem esclarecer qual o estado da cena quando 
da chegada da perícia. A etapa fotográfica permeia todo o trabalho de análise da 
cena. Não é uma etapa estanque. Inicia-se com a chegada e continua até a 
liberação do local. É uma importante forma de registro. 
Além dessas recomendações, o perito designado a fazer o 
levantamento fotográfico deve planejar a tomada de fotos, e não apenas sair 
fotografando a esmo, pois sem o planejamento pode fotografar a cena muitas 
vezes de um mesmo ângulo, de um mesmo ponto, e deixar de registrar outros 
focos importantes. Uma estratégia útil e que facilita o trabalho de planejamento 
fotográfico é a de se imaginar contando a história narrativa do local a outras 
pessoas, evidenciando os principais aspectos da cena. O levantamento 
fotográfico, quando feito de maneira planejada, remete os clientes do trabalho 
da Perícia (ex.: juízes, promotores, advogados, entre outros) à cena do crime e 
proporciona um melhor entendimento daquilo que a Perícia está relatando. 
O levantamento fotográfico funcionará como um livro de imagens 
em que as pessoas que não foram ao local possam entendê-lo na forma mais 
completa possível. Se algo no local tiver relevância, deverá ser fotografado. Mas 
como durante os exames nem sempre é possível saber quais são os pontos 
relevantes, utiliza-se a regra geral de se fotografar todos os vestígios que não 
forem evidentemente ilusórios. 
Ao efetuar o planejamento fotográfico um bom procedimento é 
partir de fotos gerais, panorâmicas, seguidas de fotos a uma distância média 
para depois obter fotos de objetos específicos e então fotos em “close”. Caso 
fotografe desordenadamente, corre-se o risco de deixar de registrar partes 
importantes do local e mesmo se confundir na hora de olhar as fotos e relatar o 
laudo. 
4.2.1 Fotografias de vestígios 
O vestígio deve ser fotografado no local, antes de sua coleta. 
Podem ser tiradas quantas fotografias forem necessárias de cada vestígio, 
caberá ao perito decidir. A recomendação (regra geral) é de que sejam, no 
mínimo, três de cada vestígio: 
a) uma fotografia do vestígio contextualizado no local, isto é, 
que mostra claramente o vestígio associado aos demais 
aspectos do local; 
b) uma fotografia bem próxima ao vestígio, em close, que deve 
ser tirada a uma curta distância para mostrar claramente 
suas características. A ausência de escala nesta foto é uma 
recomendação para análises futuras desse vestígio, pois já 
houve casos de se colocar indevidamente a escala sobre 
outros vestígios menores que não estavam visíveis no 
processamento do local, mas que foram revelados quando 
a foto foi analisada. 
c) a terceira fotografia refere-se a uma foto em close, idêntica 
à anterior só que dessa vez com a escala. O uso da escala 
é necessário para se estimar futuramente o tamanho do 
vestígio e analisar sua grandeza por meio de uma foto. 
4.2.2 Registro fotográfico 
Esse registro serve para conferir ao fotógrafo uma certeza de que 
todos os vestígios encontrados foram fotografados de maneira adequada. Em 
alguns locais, a quantidade de fotografias é muito grande. A ausência de um 
registro fotográfico adequado pode causar confusão. Esse registro nada mais é 
que uma tabela indicativa de cada vestígio e das fotos já realizadas de cada um. 
Exemplo de formulário para processamento de um local, inclui o 
registro fotográfico e outros controles que podem ser realizados. 
 
Vestígio 
(número do 
marcador) 
Descrição 
Posicionado 
no croqui 
Fotografia 
de 
contexto 
Fotografia 
em close 
sem escala 
Fotografia 
em close 
com escala 
Coletado 
Amostra 
controle 
45 
cartucho de 
arma de 
fogo calibre 
9 mm 
X X X X 
34 
mancha 
suspeita de 
sangue 
próxima à 
entrada 
X X X X X X 
4.2.3 Outras recomendações 
Obter fotos dos pontos de acesso ao local (portas, janelas, 
estradas, corredores, etc.) e de áreas adjacentes ajuda a entender a cena do 
crime e a elaborar o laudo. Considerar, se for o caso, a necessidade de uma 
fotografia aérea ou mesmo de uma imagem de satélite de alta resolução (ex.: 
Spot, Google Earth). 
Fotografar ao nível dos olhos, pois essa é a posição normal de um 
observador ao entrar na cena de crime. 
Não hesitar em fotografar algo que, à primeira impressão, não terá 
importância. O perito poderá ter apenas uma chance de acesso à cena de crime 
e, se precisar de fotos adicionais, poderá ser tarde demais. 
4.3 Croqui 
4.3.1 Propósito do croqui 
Registrar a posição dos vestígios no local de crime de modo a 
contextualizá-los para futuras referências. É importante que ele expresse todas 
as relações de espaço existentes entre os diversos vestígios observados durante 
os exames. 
Existem, ainda, alguns tipos de croquis de uso específico para 
serem utilizados em exames de locais de crime contra a pessoa, nos quais 
podem ser plotados os diversos tipos de lesões encontradas no corpo humano. 
4.3.2 Formas de medições usadas para se obter um croqui 
Os métodos de medidas para se posicionar um vestígio material 
podem variar de local para local e a escolha é do profissional que o utilizará. 
a) Método da triangulação 
Consiste em posicionar o vestígio, obtendo sua distância a partir de 
dois referenciais fixos (naturais, artificiais ou mesmo criados pelos peritos no 
momento do exame). Este é um método muito usado pela sua simplicidade e 
facilidade de reprodução em um croqui. Para agilizar os trabalhos quando se usa 
trenas tradicionais, recomenda-se duas pessoas para realizar as medidas (uma 
no referencial para fixar o equipamento e outra tomando as medidas). Isso pode 
ser dispensado quando trabalhamos com trenas eletrônicas. 
Quandonão existem referenciais físicos no local que possam 
indicar a localização dos vestígios, é importante indicar o rumo (Norte, Sul, Leste, 
Oeste) em relação aos pontos fixos escolhidos, pois sem essa indicação, os 
vestígios poderiam ser espelhados para o rumo oposto. 
Esse método é bastante usual. Seus pontos fortes são a facilidade 
de utilização e a precisão. O principal aspecto limitante do mesmo é a escolha 
adequada de dois referenciais fixos permanentes, coerentes com o local e com 
os vestígios. Os referenciais devem proporcionar uma facilitação das medidas. 
Objetos pequenos em relação ao tamanho da cena necessitam de apenas uma 
triangulação; porém, aqueles cujo tamanho seja considerável em relação à cena 
de crime analisada, necessitam de duas triangulações, uma em cada 
extremidade. Essas duas triangulações fornecem posição, localização e até 
mesmo o tamanho do vestígio. 
 
Figura 6 - Método de triangulação. 
 
b) Método das coordenadas cartesianas 
É um método bastante prático para ser usado em áreas fechadas. 
São realizadas medições como em um plano cartesiano. Uma das paredes pode 
ser o eixo “x” e a outra o eixo “y”. Na possibilidade de se produzir croquis em 3D 
e quando se quer indicar a localização de um vestígio em relação à altura do 
solo, usam-se os eixos “x” e “y” combinados com um eixo “z”. 
Fig
ur
a 
PC
F 
M
ar
cel
o 
Jo
 
Figura 7 - Método das coordenadas cartesianas. 
 
c) Método das coordenadas polares 
Pode ser usado em áreas abertas nas quais fica difícil estabelecer 
um segundo ponto de referencial. Caso não haja um referencial adequado, 
mesmo que único, podem ser realizadas as medições a partir de um referencial 
artificial criado especificamente para isso, que neste caso seria uma haste 
metálica enterrada, que poderia ser localizada posteriormente, por meio de um 
detector de metais. 
A medida dos ângulos pode ser feita a partir de uma linha 
escolhida, que pode ser recriada posteriormente, ou mesmo a partir de um 
referencial dos pontos cardeais (Norte é o mais usual). É importante deixar claro 
o método de medição do ângulo utilizado, bem como a direção em que se 
realizou a medida (sentido horário ou anti-horário). 
Fig
ur
a 
PC
F 
M
arc
elo 
Jos
t 
 
Figura 8 - Método das coordenadas polares. 
 
A medida do ângulo pode ser feita com uma bússola, um GPS ou por meio de 
cálculos matemáticos (o que é mais difícil). 
 
d) Método da linha base 
É um método que pode ser usado quando existe uma concentração 
de vestígios em uma mesma direção. Para obter resultados com praticidade e 
rapidez, nessas medidas podem ser usadas duas trenas. Uma delas servirá 
como linha base, e a outra será utilizada para realizar as medidas do vestígio até 
a linha base, sempre ortogonalmente. 
Do mesmo modo que no método da triangulação, quando não 
existem referenciais físicos no local que possam indicar a localização dos 
vestígios, é importante indicar o rumo em relação aos pontos fixos escolhidos, 
pois sem essa indicação, os vestígios poderiam ser espelhados para o rumo 
oposto. 
 
Fig
ur
a 
PC
F 
Ma
rce
lo 
Jos
 
Figura 9 - Método da linha base. 
 
4.3.3 Uso de softwares na produção de croquis 
O uso de sistemas computacionais para ilustrar a cena de um crime 
facilita e dá maior velocidade e precisão ao trabalho. Atualmente, com a 
possibilidade de uso de softwares, existe um rompimento com a ênfase do croqui 
bidimensional, colocando o ambiente tridimensional como uma opção que 
permite aos clientes do laudo pericial uma visualização do local do crime mais 
próxima da realidade, permitindo, assim, uma melhor análise das possíveis 
interações existentes entre os vestígios retratados. 
Como exemplo de programas que podem ser utilizados para 
produção de croquis temos o Visio, AutoCAD e o SketchUp. Os primeiros, nas 
representações bidimensionais e o último, nas tridimensionais. O SketchUp é um 
programa relativamente simples e de fácil interatividade, muito mais amigável 
que o AutoCAD, melhorando a legibilidade do croqui, pois trabalha diretamente 
sobre a terceira dimensão. Além disso, possui uma versão gratuita que pode ser 
baixada do site <sketchup.google.com>. 
 
 
Fi
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5 Considerações finais 
5.1 Sugestões para processamento de locais de crime 
 prepare material de coleta e embalagem em quantidade 
suficiente para a cena de crime a ser processada. Uma vez no local, é mais difícil 
e trabalhoso encontrar material de embalagem e equipamento adequados para 
as coletas; 
 prepare os formulários e materiais que o auxiliarão no 
processamento do local: registro fotográfico, formulário de liberação de local, 
papel milimetrado, prancheta, lápis, borracha, régua, etc.; 
 discuta os procedimentos de busca com a equipe antes da 
chegada ao local, se possível; 
 identifique/contate, se possível, os responsáveis pelo local 
(isolamento/preservação) antes da chegada; 
 caso seja possível e possua elementos para isso, designe o 
pessoal para tarefas específicas (fotografia, preparador do croqui, equipe de 
busca) antes da chegada ao local. Esse procedimento visa a agilizar as 
atividades e não deixar tarefas a fazer. Uma sugestão de divisão da equipe: uma 
pessoa encarregada (chefe do local); uma para as fotos; uma para preparar o 
croqui; uma para catalogar o que for encontrado. Se forem apenas dois peritos, 
ou no pior dos casos, apenas um, lembre-se de cumprir todas as etapas do 
processamento do local; 
 considere a segurança e o conforto da sua equipe. Esteja 
preparado para encontrar locais potencialmente perigosos ou em condições 
climáticas desfavoráveis. Prepare-se, portanto, com relação a: tipo apropriado 
de roupa; equipamentos de comunicação; armamento; lanternas; capacetes (se 
for o caso); alimentação e transporte; assistência médica; tipos de equipamentos 
necessários ao local; 
 no caso de locais onde o processamento pode se prolongar, 
divida a equipe em turnos, lembrando sempre de manter os 
registros/documentação dos procedimentos realizados. 
 
5.2 Tarefas pertinentes aos integrantes da equipe 
 
A) Cabe ao PCF chefe da equipe: 
 estabelecer os contatos e a cadeia de comando com outros 
policiais/instituições presentes no local; 
 anotar os dados relativos ao recebimento do local, às pessoas 
presentes e às condições do isolamento; 
 preencher formulários no local; 
 fazer a descrição narrativa; 
 realizar a busca preliminar; 
 verificar as condições de segurança do local e de trabalho da 
equipe e, se for o caso, providenciar os meios adequados de trabalho; 
 organizar reuniões periódicas com a equipe durante a busca; 
 decidir quanto à liberação do local e entregá-lo às autoridades 
competentes. 
 
B) Cabe ao perito incumbido de fotografar o local: 
 planejar o trabalho de fotografia; 
 tirar fotografias dos vestígios em close, contextualizados e fotos 
gerais da cena; 
 preencher o controle das fotografias; 
 garantir que tudo foi fotografado. 
 
C) Cabe ao perito incumbido de preparar o croqui: 
 tomar as medidas de posicionamento dos vestígios e solicitar 
ajuda para tal tarefa (se for o caso); 
 documentar os vestígios, posicionando-os no do contexto do 
local. 
 
D) Cabe ao perito incumbido de catalogar os vestígios 
coletados/encontrados: 
 fazer a correta descrição do que for encontrado. Nessa tarefa, é 
importante não economizar na escrita, pois, no momento do local, sempre se 
pensa que já se fez muito, mas depois, quando da redação do laudo, poderão

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