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Locais de Crime Introdução Sumário 1. Conceitos básicos .......................................................................................... 5 1.1. Definição de local de crime................................................................................. 5 1.2. O Local como fonte de Informação ..................................................................... 5 1.2.1. Informações subjetivas ........................................................................................... 6 1.2.2. Informações oriundas de vestígios ....................................................................... 6 1.3. Teoria dos vestígios ........................................................................................... 7 1.3.1. Relação dos vestígios com os fatos ..................................................................... 8 1.3.2. Relação dos vestígios com o autor ...................................................................... 9 1.4. Vestígios e Indícios .......................................................................................... 10 1.5. Cadeia de custódia ........................................................................................... 11 1.6. Propósito da investigação em locais de crime .................................................. 12 1.6.1. Conhecer os fatos ................................................................................................. 12 1.6.2. Obter provas ........................................................................................................... 12 1.6.3. Assegurar a cadeia de custódia .......................................................................... 12 1.7. Locais de interesse da polícia .......................................................................... 13 1.7.1. Local onde aconteceu o fato ................................................................................ 13 1.7.2. Local que sofreu as consequências do crime ................................................... 13 1.7.3. Local onde o crime foi planejado ........................................................................ 14 1.7.4. Local relacionado ao fato ..................................................................................... 14 2. Isolamento e preservação de locais ............................................................. 16 2.1. Necessidade legal ............................................................................................ 16 2.2. Necessidade técnica ........................................................................................ 17 2.3. Classificação dos Locais .................................................................................. 18 2.4. Delimitação do perímetro ................................................................................. 19 2.5. Isolamento físico do local ................................................................................. 20 2.6. Variáveis presentes nas cenas de crime .......................................................... 20 2.6.1. Imprensa ................................................................................................................. 21 2.6.2. Populares ................................................................................................................ 22 2.6.3. Vítimas .................................................................................................................... 22 2.6.4. Parentes .................................................................................................................. 22 2.6.5. Autoridades ............................................................................................................ 22 2.6.6. Outras forças policiais .......................................................................................... 22 2.6.7. Dificuldades estruturais ........................................................................................ 23 2.6.8. Intempéries climáticas .......................................................................................... 23 3. Etapas de processamento do local .............................................................. 24 3.1. Preparação ....................................................................................................... 24 3.1.1. Obtenção de informações adicionais sobre o local ......................................... 24 3.1.2. Tipo de local/crime ................................................................................................ 25 3.1.3. Material e equipamento necessários .................................................................. 25 3.1.4. Meios de comunicação ......................................................................................... 26 3.1.5. Urgência do exame ............................................................................................... 26 3.2. Chegada ao local ............................................................................................. 26 3.2.1. Cadeia de comando .............................................................................................. 27 3.2.2. Assumir o local ....................................................................................................... 27 3.2.3. Reunião preliminar ................................................................................................ 27 3.2.4. Entrevistas .............................................................................................................. 28 3.3. Busca no local .................................................................................................. 28 3.3.1. Busca inicial............................................................................................................ 28 3.3.2. Busca completa ..................................................................................................... 29 3.3.3. Padrões de buscas................................................................................................ 29 3.4. Coleta de vestígios ........................................................................................... 32 3.4.1. Amostragem ........................................................................................................... 32 3.4.2. Amostras padrão ou controle .............................................................................. 33 3.5. Reunião final .................................................................................................... 33 3.6. Liberação do local ............................................................................................ 34 4. Documentação do local ................................................................................ 35 4.1. Descrição narrativa .......................................................................................... 35 4.2. Fotografia ......................................................................................................... 35 4.2.1. Fotografias de vestígios ....................................................................................... 36 4.2.2. Registro fotográfico ............................................................................................... 37 4.2.3 Outras recomendações ......................................................................................... 37 4.3. Croqui .............................................................................................................. 38 4.3.1. Propósito do croqui ............................................................................................... 38 4.3.2. Formas de medições usadas para se obter um croqui ................................... 38 4.3.3. Uso de softwares na produção de croquis ........................................................42 5. Considerações Finais ................................................................................... 43 5.1. Sugestões para processamento de locais de crime .......................................... 43 5.2 Tarefas pertinentes aos integrantes da equipe .................................................. 44 1 Conceitos básicos 1.1 Definição de local de crime Local de crime: “é toda área onde tenha ocorrido um fato que assuma a configuração de infração penal e que, portanto, exija providências da polícia.” (CARLOS KEHDY, 1959, p. 5). Ou ainda: “Local de Crime - é a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se estenda de modo a abranger todos os lugares em que, aparente, necessária ou presumivelmente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores à consumação do delito e com este diretamente relacionados.” (ERALDO RABELO). Nesse conceito estão compreendidos, naturalmente, os crimes de qualquer espécie, bem como todo fato que, não constituindo crime, deva chegar ao conhecimento da polícia, a fim de ser convenientemente esclarecido. Assim, um local ou sítio onde tenha ocorrido um homicídio, suicídio, acidente, incêndio, explosão, furto qualificado, atropelamento, colisão de veículos, etc., recebe a denominação genérica de “local do crime” ou “local do fato”, porque se torna necessário elucidar as circunstâncias em que o mesmo se passou. É comum, no dia a dia do trabalho da perícia, referir-se a local de crime como simplesmente “local”. Em outros países, a designação é semelhante, como por exemplo: scene of crime, el sítio del sucesso, la scène du crime. 1.2. O local como fonte de informação Em um local de crime, existem muitas e importantes informações a respeito da apuração do fato que se busca. Essas informações, embora presentes de maneira explícita ou não, apresentam variados graus de disponibilidade. Comumente, os diversos agentes de tomada de decisão (juízes, promotores e advogados), a respeito da apuração dos fatos ocorridos naquele local, não estiveram presentes e nunca comparecerão ao local. Essa é a principal razão pela qual se deve procurar obter a maior quantidade de informações possível, para que se possa conhecer os fatos ocorridos, sua dinâmica e configuração. Esse conhecimento leva à caracterização precisa dos fatos e à convicção do ocorrido, possibilitando a efetiva aplicação da lei penal. A recenticidade dos fatos e a oportunidade, por vezes única, do adequado tratamento do local demandam um imperioso cuidado e planejamento. Frequentemente, a análise de informações contraditórias exige, por parte dos policiais envolvidos, o uso do bom senso e de sua discricionariedade enquanto agentes públicos. Basicamente, existem dois tipos de informações: as subjetivas e aquelas oriundas dos vestígios materiais. 1.2.1 Informações subjetivas São aquelas decorrentes do conhecimento dos fatos por parte de pessoas que viram ou, de alguma maneira, tomaram conhecimento do acontecido. Esse tipo de informação é de ordem interpretativa e de cunho pessoal, podendo até mesmo não refletir a verdade. Frequentemente, essas informações são incompletas, abarcando apenas uma parte do fato. Na prática, esse tipo de informação pode vir a contribuir no sentido de formar uma adequada reconstrução mental do ocorrido, facilitando as diversas etapas de investigação do local. No entanto, muita cautela deve ser exercida, pois não são informações calcadas em dados concretos e absolutos. A validade dessas informações depende, muitas vezes, da confirmação com o depoimento de outras pessoas e da existência de elementos materiais comprobatórios. 1.2.2 Informações oriundas de vestígios A grande maioria das atividades criminosas deixa rastro ou pistas. O principal papel do perito é encontrá-los e transformá-los em provas. Dificilmente um crime pode ser consumado sem deixar vestígios materiais. Esses vestígios materiais podem ser considerados como uma fonte objetiva de informações, pois sua análise é mais precisa e mais segura, já que é baseada em princípios técnico-científicos consagrados e independentes de meras interpretações subjetivas. Em alguns casos, parte dos vestígios pode ser, até mesmo, guardada como contraprova visando a dirimir questionamentos futuros. Em locais de crime existe sempre a troca de vestígios entre os agentes delituosos e o ambiente. O criminoso deixa algo seu no local, ou leva algo do local consigo. É o que nos ensina o princípio da transferência, postulado pelo cientista forense Edmond Locard. “Onde quer pise, onde quer que toque ou o que deixe, mesmo que inconscientemente, irá servir como testemunha silenciosa. Não somente suas digitais ou suas pegadas, mas seus fios de cabelo, as fibras de suas roupas, as partículas de vidro que quebrou, as marcas de ferramenta que deixou, a tinta que arranhou, o sangue ou o sêmen que depositou, todos estes materiais serão testemunhas silenciosas contra ele. Isto é uma evidência que não falha. Isto é uma evidência que não é duvidosa, como o depoimento nervoso de uma testemunha ou a própria ausência desta. Estas são evidências concretas e factuais. Evidencias deste tipo não se confundem. Elas não mentem e também nunca estão ausentes. Somente sua interpretação pode gerar erros. Somente a falha humana em achá-las, em estudá-las,e em entendê- las poderá diminuir o seu valor probatório”. Um perito sem o devido preparo não estará apto a localizar, coletar e manusear os vestígios de modo a garantir seu valor probatório. Essa é a razão pela qual a análise de uma cena de crime fica a cargo da perícia. A ausência de análise do corpo de delito é um dos aspectos que pode levar à nulidade de uma ação penal. 1.3 Teoria dos vestígios Vestígios, em sentido amplo, são marcas, rastros, sinais, manchas, etc. Segundo BORGES DA ROSA, citado por DEMERCIAN e MALULY (2001): (...) são sinais, dados materiais, resquícios percebíveis pelos sentidos, manifestações físicas que se ligam a um ato ou fato ocorrido ou cometido, isto é, à infração penal. A apreciação pelos sentidos, desses dados materiais é que constitui o exame de corpo de delito. Para a Criminalística, vestígios são elementos materiais encontrados em um local de crime ou que compõem um exame pericial e que podem estar ou não relacionados com o crime, ou com o fato em apuração. Servem como matéria prima na produção da prova material. 1.3.1 Relação dos vestígios com os fatos Em investigações sempre existem muitos vestígios, muitos detalhes que atraem a atenção dos peritos. Por isso, um grande problema que se enfrenta é a identificação dos vestígios que têm relação com os fatos em apuração. É muito comum, diante de um fato criminoso, a investigação seguir pistas falsas, que pareciam verdadeiras no início, perdendo muito tempo e, às vezes, inviabilizando os trabalhos, porque nem sempre os vestígios encontrados têm relação com os fatos. Em função da sua relação com o fato, os vestígios podem ser classificados em: Ilusórios: aqueles que se apresentam desde o início das investigações como muito importantes para a elucidação do crime, recebem toda a atenção dos investigadores, com dedicação de muito tempo em sua análise, mas que, no fim, não apresentam relação com o fato, estavam ali naturalmente, por acaso. Forjados: aqueles vestígios que o autor do crime (ou um terceiro) prepara, intencionalmente, com o objetivo de desviar a atenção da investigação e conduzi-la a uma direção contrária aos fatos em apuração.Ou seja, são vestígios “plantados” no local. Apesar dessa condição de forjados, devem ser investigados, primeiro porque não se deve desprezar nada no local, segundo, porque podem evidenciar alguma pista do verdadeiro autor. Verdadeiros: aqueles que, após depuração da equipe pericial, conclui-se ter relação com os fatos em investigação, por serem resultado da ação ou omissão do autor e cuja interpretação correta pode levar à elucidação do crime. Vale repetir: é quase sempre muito difícil para o perito diferenciar vestígios verdadeiros, ilusórios e forjados, no início dos trabalhos. Por isso, nenhum detalhe pode ser desprezado; tudo deve ser investigado e analisado cuidadosamente, não se deve seguir uma pista só. 1.3.2 Relação dos vestígios com o autor Antes de se falar da relação dos vestígios com seu autor, é preciso esclarecer que o agente de vestígios, ou o autor de vestígios, nem sempre é o ser humano, embora ele esteja, de certa forma, por trás de todos os acontecimentos de interesse da Criminalística, e possa deixar vestígios por meio de marcas de seu corpo, como a impressão digital, pegada, ou substâncias como esperma, sangue, saliva, pele, pelos, etc. Tecnicamente, são chamados de agentes de vestígios, além dos homens, os animais, objetos, instrumentos que, natural ou artificialmente, provocam vestígios materiais. De acordo com sua relação com o autor, os vestígios são classificados em: Absolutos: aqueles que permitem que se estabeleça relação absoluta, direta com o seu autor ou com a vítima, como, por exemplo, impressão digital e material genético contido em vestígios biológicos. Nesse caso, quem deixou impressão digital ou sangue no local, deixou uma parte identificável de si mesmo. Um exemplo de vestígio absoluto cujo agente não é o ser humano, é uma faca encontrada ao lado de uma gaveta que foi arrombada com o auxílio dessa faca. A marca de arrombamento presente na gaveta é um vestígio absoluto, porque guarda uma relação direta com o seu agente, que é a faca. Outro exemplo dessa natureza poderia ser uma cápsula de munição de arma de fogo encontrada no local do crime. A Criminalística possui meios de estabelecer uma relação direta dessa cápsula com a arma que efetuou o disparo. Relativos: aqueles que não guardam relação absoluta, identificável de pronto com o seu autor. A relação pode ser estabelecida de forma indireta. Um bom exemplo é o caso de uma caneta achada num local onde aconteceu um furto. Se não houver o nome do proprietário gravado na caneta (ainda que haja um nome na caneta isto não é prova para incriminar ninguém), apenas esse vestígio não permitirá a identificação imediata do seu autor. Mas é um vestígio que deve ser recolhido e receber toda a atenção. Pode, inclusive, ser suporte de outro vestígio, a impressão digital. 1.4 Vestígios e indícios Conforme visto antes, vestígio é o objeto do exame pericial que pode ou não estar relacionado com o evento que deflagrou a solicitação da análise pericial. Indício é uma palavra que o Código de Processo Penal define, em seu art. 239, da seguinte forma: “considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”. Da interpretação desse dispositivo legal, pode-se concluir que indício é uma suspeita fundamentada que pode muitas vezes não ser representada por meio de vestígios materiais. O indício é, portanto, uma hipótese sobre determinado fato, cujo valor é diretamente proporcional ao número de provas encontradas para provar a sua existência. Os indícios de um crime podem ser representados por meio de vestígios materiais ou circunstanciais. Alguns autores trazem ainda para o corpo da criminalística o conceito de evidência. Para esses autores, evidência é o vestígio que, após as devidas análises, tem constatada técnica e cientificamente a sua relação com o crime. Assim, no momento em que os peritos chegam à conclusão que tal vestígio está – de fato – relacionado com o evento periciado, ele deixará de ser um vestígio e passará a denominar-se evidência. De maneira resumida, pode- se dizer que vestígio é o material bruto constatado e/ou recolhido no local do crime, enquanto que evidência é o vestígio analisado e depurado, tornando-se uma prova por si só ou em conjunto para ser utilizada no esclarecimento dos fatos. No âmbito da criminalística da Polícia Federal não é usado o conceito de evidência. Uma vez que tal expressão não está reproduzida no Código de Processo Penal, optou-se por adotar apenas os conceitos relacionados a vestígios e indícios. Apesar das diferenças conceituais, é comum nos depararmos com o uso, por leigos e até mesmo por técnicos, das três expressões como se fossem sinônimos. 1.5 Cadeia de custódia O termo “cadeia de custódia” refere-se a uma sucessão de eventos seguros e confiáveis que deverão ter início de forma legal no primeiro contato da polícia com o vestígio. Geralmente os vestígios materiais integram-se de maneira estratégica à investigação e ao inquérito policial por intermédio de um exame pericial de local de crime ou pela execução de um mandato de busca e apreensão devidamente autorizada. Esses dois instrumentos de trabalho, quando bem utilizados pela polícia, aumentam as chances da elucidação verídica dos fatos. Na Criminalística vale a máxima: “Não adianta saber, é preciso provar com convicção, por meio dos vestígios materiais”. O principal cuidado é garantir a segurança e a idoneidade do vestígio. Esse cuidado é função de toda a polícia, senão de nada adiantarão as mais modernas tecnologias criminalísticas se o vestígio apresentar pontos questionados (técnicos ou jurídicos) em sua obtenção e coleta. Se um vestígio material com valor probatório tiver sua origem questionada, o processo como um todo poderá ser ineficiente no que tange à aplicação da Justiça. Indivíduos culpados podem ser postos em liberdade por ineficiência da investigação. Portanto, entende-se cadeia de custódia como uma sucessão de eventos seguros e confiáveis iniciados na cena de crime ou resultantes de investigação de vestígios materiais e que mantém a idoneidade legal e a preservação técnica necessárias para que esses vestígios não possam ter sua origem e manuseios questionados até sua utilização pela Justiça como elemento probatório. A metodologia para manutenção da cadeia de custódia será pormenorizada adiante. 1.6 Propósito da investigação em locais de crime 1.6.1 Conhecer os fatos O principal ponto que se busca, ao se investigar um local de crime, é encontrar todas as informações que podem levar à solução do crime. A responsabilidade pela obtenção dessas informações, por parte da polícia, é muito grande, pois todos operadores do direito que participarão do processo de aplicação da lei penal precisam estar seguros quanto aos eventos ocorridos naquele sítio. Raramente o local poderá ser visitado por juízes, promotores e advogados com a finalidade de elucidar suas dúvidas. Geralmente, o conhecimento dessas autoridades sobre o local de crime baseia-se nas documentações produzidas pela polícia. Diante dessa constatação, é necessário ter consciência da responsabilidade de um processamento de local1 preciso e seguro. 1.6.2 Obter provas Quando se processa de maneira efetiva uma cena de crime, encontrando os vestígios materiais relacionados ao fato, contextualizando-os por meio de registros fotográficos e croquis, coletando e encaminhando amostras de maneira adequada para análises posteriores, está se assegurando uma eficácia na transformaçãodos vestígios materiais em provas. Essas provas materiais oriundas do local, somadas às provas subjetivas das testemunhas, produzirão um corpo probatório global que poderá esclarecer bem os fatos ocorridos e conferir precisão nas decisões que serão tomadas. 1.6.3 Assegurar a cadeia de custódia A coleta dos vestígios em local de crime, o manuseio e a análise por parte da perícia sempre visam a manter a integridade dos mesmos. O mesmo cuidado deverá ser tomado por todos policiais que manusearão aqueles vestígios materiais do fato. 1 Processar um local de crime significa examinar o local a fim de obter informações sobre o crime ali praticado. Caberá aos peritos criminais federais a custódia dos vestígios encontrados em local de crime, que deverão fazer, de forma adequada, o registro, a preservação, a coleta e a entrega à autoridade solicitante, assegurando a invulnerabilidade da cadeia de custódia da prova. Todavia, os fragmentos de impressões digitais colhidos em locais de crimes pelos peritos criminais serão guardados nos setores específicos do Instituto Nacional de Identificação ou de suas projeções regionais. Assim, os vestígios obtidos deverão possuir uma cadeia de custódia que assegure sua integridade desde o local de crime até o momento em que eles comporão o processo. Nos casos de busca e apreensão, os vestígios são coletados e encaminhados para a Perícia, que fará análises posteriores. 1.7 Locais de interesse da polícia Para o melhor entendimento e a exemplificação mais clara do que seja um local de crime, são apresentadas as classificações escritas a seguir. 1.7.1 Local onde aconteceu o fato É o local de crime típico. Nele, está presente uma grande quantidade de vestígios materiais. Deve ser processado pela Criminalística. É o objeto de estudo desta disciplina. 1.7.2 Local que sofreu as consequências do crime Esse tipo de local torna-se importante na constatação da materialidade de certos tipos de crime. Não necessariamente o crime ocorre fisicamente nesse local, mas seus efeitos podem ser percebidos e registrados pela perícia. Ex.: uma investigação de um crime em que se suspeita que uma quadrilha de empresários é responsável pelo desvio de verbas públicas, inicialmente destinadas à construção de uma estrada, exige da polícia a obtenção da materialidade do crime. Isso pode ser conseguido por meio de uma perícia de local, com a finalidade de constatar se a estrada foi ou não construída de acordo com o projeto inicial. Outro exemplo típico são os crimes cometidos por meio da internet, que podem ser perpetrados por indivíduos que estão em locais distintos daqueles onde os resultados são produzidos. 1.7.3 Local onde o crime foi planejado Esse local fornece uma grande quantidade de informações sobre os autores do crime, seu modus operandi e a possível vinculação com outros locais ainda não conhecidos. A obtenção de vestígios nesse local depende, muitas vezes, de um mandado de busca e apreensão ou de diligências complementares. Ex.: realização de mandados de busca e apreensão nos escritórios das empresas construtoras da estrada referida no exemplo anterior. 1.7.4 Local relacionado ao fato São locais onde podem ser obtidas informações adicionais sobre o crime, objetivas ou subjetivas, que possam auxiliar no contexto da investigação, mas que não possuem continuidade geográfica com os locais imediatos e mediatos. É do interesse da investigação encontrar esses locais e os seus vestígios. A obtenção das informações ali contidas deve ser resguardada por uma diligência bem planejada e, de preferência, na posse de um mandado de busca e apreensão. Ex.: o acerto de propina entre os empresários e interessados no crime referido no exemplo anterior aconteceu em um determinado hotel. A polícia deve então procurar obter as fitas de vídeo do circuito interno de segurança do hotel, os registros de hospedagem dos envolvidos, as formas de pagamento, o registro telefônico, etc. O local comumente conhecido no meio policial como local de desova é tipicamente classificado como local relacionado ao fato. Nota: locais de vestígio digital: com a evolução tecnológica das redes de computadores o espaço cibernético tem facilitado a vida em sociedade. Todavia, apesar dos benefícios gerados, surgem os ilícitos cometidos por pessoas que usam o aparato computacional para praticar delitos em computadores isolados ou na grande rede mundial de computadores (internet). Os crimes cometidos pelos hackers são os mais variados possíveis, desde dano, furto, estelionato, crimes contra honra, crimes contra o sistema financeiro, pornografia infantil, entre outros não menos preocupantes. Esses tipos de ações delituosas cometidas com a utilização de computadores, redes de computadores ou demais recursos de informática chamam-se crimes por computador, sendo, portanto, o local de busca dos vestígios digitais. 2 Isolamento e preservação de locais Devido ao fato de os peritos criminais não serem os primeiros a chegar em uma cena de crime, é necessário que a mesma esteja isolada e preservada para que o trabalho da Criminalística possa ser realizado com segurança e idoneidade, em busca da materialidade e da autoria do delito em questão. Locais de crime não preservados ou adulterados prejudicam muito o trabalho da perícia/polícia e, consequentemente, a aplicação da Justiça em todos os seus aspectos. Quem perde, nesses casos, não é a Criminalística, nem a Polícia, e sim a sociedade. 2.1 Necessidade legal Algumas vezes, policiais bem-intencionados coletam vestígios materiais em um local de crime e o encaminham para a perícia. A razão para essa conduta é variada, englobando desde locais onde não existem peritos, até mesmo locais onde a perícia não poderia comparecer tempestivamente. Essa coleta de vestígios, quando realizada por outros policiais que não são peritos, não é a mais adequada, pois existe a necessidade legal de que a coleta de vestígios de locais de crime seja precedida de uma solicitação de exame de corpo de delito. Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. (CPP) Art. 159 - O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) Essa determinação legal evidencia, de forma direta, a importância que a perícia representa no contexto probatório, referindo-se sobre a sua indispensabilidade, sob pena de nulidade de processos. Art. 564 - a nulidade ocorrerá nos seguintes casos: Inc. III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: Alínea b - o exame do corpo de delito nos crimes que deixem vestígios, ressalvado o disposto no art. 167. Esse artigo do Código de Processo Penal ressalta de tal maneira a necessidade do laudo pericial para o processo criminal que chega ao ponto de dizer que o processo criminal poderá ter atos nulos por conta de sua falta. Além disso, o reconhecimento legal da importância do adequado exame e preservação dos locais de crime está patente no art. 6º do CPP: Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos. A redação do artigo mencionado foi dada pela Lei nº 8.862, de 28 de março de 1994e define, de uma vez por todas, a responsabilidade pela preservação dos locais de crime. Esse preceito legal é reforçado pelo art. 169 do mesmo diploma legal, determinando que: Para efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não altere o estado das coisas até a chegada dos peritos. Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos. A própria legislação trata de garantir que um local de crime seja devidamente analisado pela perícia. Portanto, a perícia em local de crime possui tanto o aspecto técnico, como também a necessidade legal. A ausência de análise do corpo de delito é um dos aspectos que pode levar à nulidade de uma ação penal. Algumas vezes, policiais bem-intencionados coletam vestígios materiais em um local de crime e o encaminham para a perícia, sem os devidos cuidados técnicos e legais. 2.2 Necessidade técnica Além da necessidade legal do perito no local do crime, devem ser considerados os aspectos que envolvem o preparo técnico para o trato com alguns vestígios materiais. Muitas vezes, os policiais que não tiveram treinamento em perícia forense não conseguem êxito na busca e interpretação desses vestígios, que é uma missão difícil e necessita de conhecimentos técnicos especializados. Um investigador sem o devido preparo não estará apto a localizar, coletar e manusear os vestígios de modo a garantir seu valor probatório. Essa é a razão técnica pela qual a análise de um local de crime fica a cargo da perícia. Locais que envolvem vestígios biológicos, químicos, ou uma série de outros vestígios que necessitam de conhecimento técnico para sua coleta demandam claramente o trabalho do perito. Além da necessidade de coleta adequada do vestígio, existe uma série de outros aspectos que envolvem a habilidade técnica para processar a cena de crime. O perito é treinado para estar atento a fatos que podem passar despercebidos a outros policiais. Trata-se do estabelecimento da dinâmica dos fatos e da contextualização dos vestígios no local. O sucesso da análise de uma cena de crime depende muitas vezes destas tarefas. Um vestígio encontrado e coletado no local fornece uma quantidade maior de informações ao perito do que o mesmo vestígio coletado por outro policial e encaminhado para análise. Há que se levar em conta ainda as informações de contexto do vestígio. Os vestígios valem não só pelo que são, mas também pelo lugar e pela posição em que se encontram, bem como por suas possíveis relações com outros vestígios, os quais podem não ser perceptíveis de imediato. 2.3 Classificação dos locais Para auxiliar o entendimento no que diz respeito à delimitação da área do crime, o local será dividido em dois ambientes: Imediato: é a área onde ocorreu o fato. É nesse ambiente que se procede ao exame cuidadoso de todos os detalhes, presumindo-se que o local tenha sido convenientemente preservado desde o comparecimento do primeiro policial; Mediato: compreende as adjacências do local de crime. A área intermediária entre o local onde ocorreu o fato (o local de crime propriamente dito) e o grande ambiente exterior e que pode conter vestígios relacionados ao fato sob investigação. Importante destacar que entre o local imediato e o mediato deve haver uma continuidade geográfica. Os esforços de isolamento devem ser concentrados no ambiente imediato, porém, em diversos casos, deve haver a preocupação também com o ambiente mediato. A delimitação do local de crime e de áreas de exame simultâneas depende da sua localização e dos tipos de crimes concorrentes. Caso haja necessidade, deve ser isolada mais de uma área. Os limites devem ser estabelecidos para além do escopo inicial do local de crime, sabendo que posteriormente os limites podem ser reduzidos em tamanho, se necessário, mas não podem ser facilmente expandidos. Para estudo do local de crime, considerando o isolamento e a preservação, os locais são classificados em: Idôneos ou não violados: que não sofreram a influência de terceiros antes da chegada dos peritos, ou seja, foram preservados na forma em que foram deixados pelo agente criminoso após a prática da infração; Inidôneos ou violados: aqueles que foram alterados ou não foram preservados. 2.4 Delimitação do perímetro A delimitação física do perímetro é uma tarefa que, à primeira vista, parece simples. Entretanto, pode ser uma das tarefas mais difíceis na etapa de isolamento do local. A dúvida sobre o tamanho da cena de crime é uma constante preocupação de todos os investigadores. A principal tarefa é descobrir qual será a área necessária a ser isolada para que a perícia possa procurar todos os vestígios relacionados ao fato. Uma regra prática a ser levada em consideração é a providência de isolar a maior área possível dentro do contexto e da situação existentes, pois áreas demasiado pequenas trazem o risco de contaminação ou perda de vestígios importantes para a apuração dos fatos. Atualmente, é preconizado que no ambiente do local de crime existam dois níveis de isolamento que por sua vez delimitam duas áreas distintas: o perímetro de processamento e o perímetro de segurança. O perímetro de processamento compreende as áreas onde podem ser encontrados vestígios e é o foco do trabalho da equipe pericial. O perímetro de segurança compreende uma área destinada à circulação de um número restrito e controlado de pessoas. É neste espaço que autoridades e agentes da segurança pública exercerão suas atividades. Os populares, imprensa e demais pessoas que porventura possam estar próximas ao local do crime permanecerão além do perímetro de segurança. 2.5 Isolamento físico do local Após a definição do tamanho da área a ser isolada, deverá ser providenciado o isolamento físico. Isso evitará um desgaste com populares, com a imprensa, com outras polícias e mesmo com diversos tipos de autoridades. Essa delimitação física, por meio de uma fita de isolamento, mostra claramente que aquela área está sob investigação. É uma área de interesse da polícia. Sem a delimitação física, é preciso um grande número de pessoas para ficar vigiando. A fita de isolamento torna o trabalho de isolamento e preservação da área muito mais eficiente. Caso não exista uma fita padrão à disposição, poderão ser providenciadas outras barreiras físicas, tais como cones, cordas, cavaletes ou qualquer outro meio que mostre que aquela área está sob investigação da polícia. 2.6 Variáveis presentes nas cenas de crime Visando a uma maior compreensão do trabalho de isolamento de locais, algumas variáveis presentes na maioria das cenas de crime são, a seguir, relacionadas. Figura 1 - Delimitação do perímetro. 2.6.1 Imprensa O principal trabalho da imprensa é manter a sociedade informada acerca dos fatos acontecidos. Em locais de crime, seu trabalho é descobrir, no menor tempo possível, informações sobre o ocorrido. Essa premente necessidade de informação leva muitas vezes o profissional da imprensa a tentar furar bloqueios e penetrar em áreas reservadas. Contudo, numa cena de crime ainda em processamento é importante que o profissional da imprensa saiba que suas necessidades de obter informação poderão prejudicar uma análise adequada do local. A imprensa deve ser tratada com ética e profissionalismo. Os policiais devem assegurar aos profissionais de imprensa ali presentes que todas as informações que puderem ser divulgadas ao público o serão na ocasião mais apropriada aosinteresses da investigação e da apuração da verdade. Os repórteres e demais pessoas da imprensa precisam entender que, naquele momento, a prioridade maior é manter o isolamento da área, para que a perícia possa realizar seus exames. Em locais de crime de grande repercussão, é importante que um policial fique à disposição da imprensa e que apenas ele seja o porta-voz do grupo. Todos devem evitar falar sobre as hipóteses do crime. A palavra de um policial no local é muito importante. No início das investigações, muitas teorias e conjecturas a respeito do crime são elaboradas. O resultado da perícia poderá levar alguns dias, e as hipóteses iniciais poderão ir sendo descartadas à luz dos novos conhecimentos obtidos. Mas, caso essas hipóteses sejam informadas à imprensa ainda no local do crime, elas poderão ser divulgadas, atrapalhando a investigação ou, até mesmo, prejudicando e colocando em risco outras pessoas. Em alguns crimes, caso seja necessário, pode-se até solicitar a ajuda da imprensa para a divulgação de certos fatos que venham a contribuir para o andamento das investigações, por intermédio da autoridade policial. Porém, essas decisões devem ser tomadas com muito critério, pois não se pode prever o impacto da informação no seio da sociedade. 2.6.2 Populares A presença de populares em locais de crime é talvez o fator mais comum a todas as cenas. Para se ter um eficaz controle e para que os populares não invadam o local, é necessário o uso efetivo da fita de isolamento de área. Dificilmente um popular adentrará em uma área cuja delimitação, feita pela polícia, esteja bastante clara. Sem a delimitação física da mesma, o trabalho de manter os populares afastados torna-se muito mais difícil. 2.6.3 Vítimas A presença de vítimas no local altera o procedimento inicial de isolamento da área, pois, nesse caso, a principal medida é providenciar socorro às mesmas. 2.6.4 Parentes Os parentes das vítimas, muitas vezes, ficam ansiosos por informações e devem ser tratados com respeito e profissionalismo. Porém, não podem penetrar na área delimitada, salvo em caso de necessidade urgente e comprovada. 2.6.5 Autoridades A presença de autoridades em locais de crime é muito mais comum do que se imagina. Muitas vezes, essas autoridades não possuem, em sua formação, o conhecimento necessário sobre o processamento de local de crime. É dever do policial informá-las acerca de todos os procedimentos que serão realizados e que, portanto, devem permanecer fora da área delimitada para que os trabalhos possam ser levados a termo adequadamente. 2.6.6 Outras forças policiais Muitas vezes, existem questionamentos a respeito de quem detém a responsabilidade pela apuração dos fatos envolvidos em um determinado local. Independentemente de quem seja o responsável, o local deve ser isolado e preservado até a chegada da perícia. Todas as forças policiais ali presentes, militares ou civis, devem estar conscientes sobre a importância da delimitação e isolamento da área para garantir a coleta dos vestígios relacionados ao crime. 2.6.7 Dificuldades estruturais Consideram-se dificuldades estruturais todas aquelas variáveis que podem dificultar o isolamento de uma determinada área. Como exemplo, pode ser citado o caso de um crime que aconteceu na principal avenida de uma determinada cidade, na hora de maior movimento. Existe claramente um confronto entre a necessidade de se isolar a área e a garantia do funcionamento dos serviços envolvidos (trânsito, transportes coletivos, etc.) e a segurança nas vias públicas. Nessa situação, existe uma regra específica trazida pela Lei nº 5.950/73, que permite o não isolamento e o desfazimento do local em casos de acidente de trânsito que tenham vítimas ou que estejam prejudicando o tráfego. Não há uma regra prática clara sobre o que fazer em situações como essa, porém, o bom senso, o diálogo e a capacidade de ouvir as opiniões de todos, das corporações envolvidas, batalhões de trânsito, bombeiros, companhia elétrica, etc. poderão determinar a melhor maneira de se isolar a área, minimizando os danos à comunidade e ao local a ser preservado. 2.6.8 Intempéries climáticas Em alguns locais, as intempéries climáticas poderão colocar em risco vários tipos de vestígios como, por exemplo, uma pegada na areia na iminência de uma forte tempestade. O bom senso e a percepção dos policiais presentes poderão determinar condutas que poderão preservar os vestígios. Assim, os vestígios poderão ser cobertos, caso seja possível. Em alguns casos, se isso não for possível, os policiais devem tirar fotografias e realizar medições ou mesmo procurar desenhar um croqui, pois a escolha será entre o vestígio coletado inadequadamente e aquele não coletado. O que prevalecerá nesses casos é o bom senso. 3 Etapas de processamento do local 3.1 Preparação Essa fase antecede todo o trabalho e se inicia quando o perito criminal toma conhecimento do local e adota todas as providências para garantir que se possam aglutinar recursos humanos/materiais necessários à realização dos exames. Caso entenda necessário, o perito pode elaborar check list próprio de modo que a cada acionamento o mesmo seja preenchido de forma a não se esquecer de detalhes importantes, ou ainda estabelecer regras para suprir possíveis materiais que tenham se exaurido em um dado exame após o seu término. NOTA: o ideal para se evitar improvisos é que o perito de sobreaviso do dia faça uma checagem de todo o material de local de crime antes mesmo que haja algum acionamento, logo no início do dia. Pode-se ter um check list ao lado da mala de local e da maleta de vestígios biológicos para que se faça uma conferência rápida de todo o material e, se necessário, realizar as devidas reposições. Essa prática agiliza o deslocamento da equipe pericial num eventual acionamento e garante que todo o material necessário está sendo levado. 3.1.1 Obtenção de informações adicionais sobre o local Essa é uma etapa muito importante e não pode ser descartada. É realizada quase que de maneira intuitiva. Nela devem ser obtidas mais informações sobre o que será encontrado, de maneira sistematizada e organizada. Algumas informações são muito importantes e muitas vezes são deixadas de lado como, por exemplo, o próprio endereço, coordenadas, pontos de referência, etc. Essas informações ajudarão a uma chegada mais rápida ao local, bem como a definir o tipo de transporte a ser solicitado. Comparecer a um local de crime sempre envolve o transporte de pessoas e equipamentos. A escolha adequada do tipo de transporte, e mesmo da equipe de apoio, é facilitada quando se conhece mais sobre o local. Não se deve ir ao local sem um meio eficiente de transporte que confira autonomia à perícia para decidir sobre o tempo necessário para realizar os exames. 3.1.2 Tipo de local/crime Esse dado é necessário para saber quais os possíveis vestígios a serem encontrados. Essa informação é crucial para a definição do material e equipamento a serem separados ou providenciados e com que tipo de ajuda se poderá contar. Por exemplo, em se tratando de um local envolvendo explosivos, é bom contar com o apoio de pessoal com conhecimentos especializados em bombas e explosivos. Dependendo do tamanho da cena a ser processada, deve- se solicitar ou pedir ajuda para montar uma equipe. Não se deve tentar resolver tudo sozinho. 3.1.3 Material e equipamento necessários Muitos locais exigirão embalagens específicas e equipamentos adequados. O tipo de exame a ser realizado e os prováveis vestígios a serem coletados definirão os materiais eequipamentos a serem providenciados. Caso não se possua uma viatura adequada para exames de local em que os materiais já estejam disciplinarmente guardados, é preciso providenciar o material necessário antes de chegar ao local. Neste último caso, então, o processamento do local poderá ficar prejudicado, seja por atraso, seja por falta de equipamentos e materiais de coleta adequados. Planejar é o ponto importante e crucial nessa etapa. A seguir apresenta-se uma lista para auxiliar a lembrar que tipos de materiais podem ser necessários na quase totalidade dos locais. prancheta; marcadores de vestígios; papel branco e milimetrado; trena; caneta, lápis, borracha; etiquetas autoadesivas; pincel atômico; fita adesiva; máquina fotográfica com flash; lupa; tripé para máquina fotográfica; pinça; escala para fotografia; lanterna; filmadora; fita de isolamento; pilha e baterias sobressalentes; equipamento de GPS; embalagens variadas (sacos plásticos e de papel, envelopes); caixa de ferramentas com alicate, chave de fenda, etc.; material para coleta de vestígios biológicos; caixa de papelão rígido para fixação de objetos. 3.1.4 Meios de comunicação É importante providenciar meios de comunicação entre a equipe que vai ao local e a base (superintendência regional, delegacia ou INC). Em algumas situações, apoio adicional, não originalmente previsto nas etapas de preparação e planejamento, pode ser necessário. Essa comunicação geralmente pode ser feita por meio de celulares ou rádio. Caso se trate de uma cena de crime grande, é recomendado que os membros da equipe de processamento possuam um rádio que propicie uma comunicação eficiente durante os exames, possibilitando assim uma interação em tempo real entre todos os membros da equipe com respeito às observações surgidas durante a análise do local. 3.1.5 Urgência do exame Existirão situações em que a urgência da chegada ao local pode se sobrepor ao planejamento. Nesses casos, a etapa de planejamento fica prejudicada. Isso pode ser minimizado com o envio de uma parte da equipe para avaliar a cena e as condições, enquanto outra parte da equipe providencia os materiais e equipamentos, mantendo-se ambas as partes em estreito contato para facilitar a preparação de materiais e equipamentos necessários. 3.2 Chegada ao local No deslocamento até o local, a equipe pode iniciar um intercâmbio sobre o que poderá encontrar e quais as melhores estratégias para a condução dos trabalhos. Neste momento poderão, até mesmo, distribuir as tarefas a serem realizadas. 3.2.1 Cadeia de comando Se a equipe de peritos ainda não possui um chefe, esse é o momento para se escolher um. O estabelecimento de uma cadeia única de comando quanto ao processamento do local ajuda a dinamizar e tornar os trabalhos mais eficientes. 3.2.2 Assumir o local O perito designado como chefe de equipe deve assumir o local de maneira formal, segura e clara. Isso quer dizer que deve esclarecer aos policiais presentes na cena de crime que esta se encontra agora sob controle da Perícia. A pressa é a principal fonte de erro no processamento de um local, e o ponto mais crucial no qual ela pode ser sentida é no trabalho de busca e documentação dos vestígios. No início dos trabalhos quando se assume o local, deve-se esclarecer aos policiais e às demais autoridades ou pessoas presentes no local que o trabalho não será feito rapidamente, devido à importância de uma coleta de vestígios eficiente para todo o processo penal. Pressões existirão para que a perícia seja rápida, e o perito deve saber contorná-las. Uma breve exposição sobre como serão conduzidos os trabalhos e qual o foco da análise ajudará a criar em todos um espírito de cooperação. Deve-se ter em mente que muitos policiais já estarão há algum tempo aguardando a Perícia. Logo, explicar-lhes que a perícia pode demorar pode minimizar-lhes a ansiedade. O perito deve otimizar seus trabalhos sem prejuízo da qualidade técnica, porque só existe uma oportunidade para se processar um local de maneira adequada. 3.2.3 Reunião preliminar Até o momento da chegada dos peritos ao local, as informações conhecidas sobre o mesmo eram fornecidas por terceiros via telefone ou rádio, entretanto, após a chegada ao local, a cena pode ser presenciada, sentida e, portanto, melhor avaliada. Então, assim que se chega, deve-se proceder a uma reavaliação do perímetro de isolamento encontrado e, dependendo do caso, solicitar que o mesmo seja ampliado ou diminuído. Como fruto dessa avaliação preliminar do local, o perito chefe deve promover uma reunião com todos os membros da equipe após assumir o local. Essa é uma reunião informal em que todos podem e devem oferecer seu ponto de vista sobre a cena encontrada. Realizar essa reunião assim que se chega é de grande ajuda, pois nesse momento podem ser ouvidas sugestões que podem direcionar os trabalhos e avaliar a segurança da equipe. Se ainda não foram estabelecidas as tarefas de cada um, elas devem ser distribuídas neste momento. 3.2.4 Entrevistas Essas entrevistas devem ser feitas com possíveis testemunhas ou pessoas que estavam presentes no local antes da chegada dos peritos. Podem ser realizadas por qualquer membro da equipe, inclusive enquanto são efetivados os preparativos. O que se espera conseguir com essas entrevistas são informações adicionais que ajudarão a entender o ocorrido. Estas podem agilizar os trabalhos ou mesmo direcioná-los. Alguns cuidados precisam ser tomados na realização dessas entrevistas. Deve-se ter sempre em mente que as informações obtidas podem ajudar a encontrar os vestígios materiais. Mas as informações fornecidas por testemunhas ou outras pessoas, por serem subjetivas, não serão objeto de avaliação no laudo. Mesmo que existam vestígios que comprovem a informação, o perito só deve considerar os vestígios para suas conclusões. O teor das entrevistas serve para direcionar e agilizar os trabalhos. Informações acerca da cena de crime antes do ocorrido podem ajudar a entender o local e, portanto, a realização dos trabalhos. 3.3 Busca no local 3.3.1 Busca inicial O perito encarregado do local deve proceder a uma busca preliminar que visa a conhecer melhor a cena em questão e a planejar a busca mais detalhada e completa. O principal cuidado para a realização dessa busca é estabelecer as rotas de entrada e saída que deverão ser então usadas por todos que necessitarem entrar no local. Para isso o perito pode se utilizar de marcadores próprios, fitas ou ainda setas desenhadas no chão. A rota de entrada deve minimizar ao máximo os possíveis danos aos vestígios materiais presentes. 3.3.2 Busca completa Esta etapa visa a encontrar os vestígios materiais inerentes ao local em processamento. Os tipos de vestígios dependerão de cada local e, nesta unidade, serão descritos os modos de se realizar uma busca. O perito que participar da busca deve ser cauteloso, observador e estar com a mente o mais livre possível. Possuir uma pré-concepção do fato na mente, mas ao mesmo tempo estar apto a reconhecer uma mudança de direção nas análises frente a um novo vestígio. Preocupações de ordem diversa das relacionadas ao local de crime atrapalharão a busca, principalmente quando o que se está procurando são pequenos vestígios ou microvestígios. A maneira de se proceder a uma busca dependerá do tipo de cena a ser trabalhada. 3.3.3 Padrões de buscas Os padrões de busca visam a cobrir a área questionada e a facilitar o trabalho de encontrar os vestígios. Sempre que um vestígio for encontrado,o mesmo deve ser marcado, para que possa ser descrito, fotografado e assinalado em um croqui. Vários métodos de busca podem ser utilizados, depende de cada caso e da metodologia seguida pelos peritos. A seguir, serão descritas as principais e mais simples de serem utilizadas. a) Busca em espiral Esse tipo de busca é geralmente aplicado quando a área a ser pesquisada é pequena e se dispõe de poucas pessoas. A busca em espiral inicia-se na parte periférica e vai-se contornando a cena até se chegar ao ponto central. Geralmente, é no ponto central em que pode ser encontrada a maioria dos vestígios. O caminhamento em forma de espiral pode sofrer pequenas variações no percurso em função dos obstáculos e da localização dos vestígios encontrados na área examinada. O ponto principal dessa busca é caminhar de forma calma, tranquila e atenta, procurando não destruir ou contaminar os vestígios encontrados. b) Busca em linha É utilizada quando a área a ser coberta é extensa e se dispõe de uma quantidade suficiente de pessoas. Para a formação da linha de busca, os profissionais devem estender os braços e se posicionar de modo a ficar a uma distância de dois braços um do outro. Nesse tipo de busca, por envolver uma grande quantidade de pessoas, recomenda-se muita atenção no deslocamento e na movimentação delas. A melhor forma de conseguir isso é escolher um homem base para comandar a linha, a qual passará então a movimentar-se pelo comando dessa pessoa. Cada integrante da linha deve procurar, detalhadamente, os vestígios na região de interesse imediatamente à sua frente, e quando os encontrar deverá gritar a palavra “alto”, para que toda a linha pare e aguarde que ele faça a marcação do vestígio encontrado. c) Busca em linha cruzada É utilizada no mesmo sistema da busca em linha tradicional, somente repetindo-se a uma segunda busca numa direção perpendicular à primeira. É uma busca mais completa, porém mais trabalhosa. Primeiramente, realiza-se a busca em linha normal. Depois, por uma das laterais da área a ser Figura 2 - Busca em espiral. Figura 3 - Busca em linha. Figura 4 - Busca em linha cruzada. analisada, repete-se a formação da linha e procede-se então a uma nova varredura. d) Busca por quadrante Utilizada quando se necessita dividir a cena de crime em quadrantes e realizar uma busca em cada um. Dependendo da situação, pode ser interessante aplicar outra metodologia de busca dentro de cada quadrante. Os padrões de busca aqui apresentados visam a promover um acesso à cena de crime de maneira a minimizar a contaminação dos vestígios e a promover uma forma organizada de encontrá- los. Cada vestígio material, quando encontrado, deverá ser marcado, pois evitará que outras pessoas que não o viram possam destruí-lo ou prejudicá- lo. Existem diversos tipos de marcadores e seu uso dependerá de cada caso. NOTA: os vestígios não devem ser coletados assim que encontrados. Devem ser marcados para que possam ser descritos, fotografados e ter sua posição anotada no croqui. 3.3.3.1 Premissas básicas para a realização de uma busca Normalmente, a melhor maneira de se conduzir uma busca é a mais difícil e a que mais consome tempo. Lembre-se: um vestígio material nunca pode ser demasiadamente documentado, isto é, quanto mais soubermos sobre o mesmo, quanto mais conhecê-lo, melhor será. Não há como pensar que o mesmo foi documentado excessivamente de modo que isso possa prejudicar sua análise. O ponto chave limitante na documentação é o tempo que se pode dedicar a essa tarefa. Utilizar anotações, fotografias, filmagens ou outras formas de documentação é muito útil para as análises que se farão posteriormente; Figura 5 - Busca por quadrante. proceda a uma busca cautelosa nas áreas visíveis de modo a evitar perda ou contaminação de vestígios; promova uma busca vigorosa por áreas escondidas e dissimuladas; não se esqueça que a cena de um crime é tridimensional, portanto proceda também a uma busca por vestígios que possam estar acima da linha dos olhos, como teto e árvores; conduza a busca do geral para o específico; só existe uma chance de processar o local de maneira adequada. 3.4 Coleta de vestígios Somente depois que cada vestígio encontrado tiver sido posicionado no croqui, fotografado e, se possível, descrito, é que se procederá à sua coleta. Os métodos de documentação do local e dos vestígios serão abordados em detalhes na seção 4. Alguns vestígios serão coletados e levados pelo próprio perito como, por exemplo, no caso de amostras de algum material ou de outros objetos que deverão ser submetidos a exames posteriores. Outros vestígios serão fotografados e discriminados na documentação, mas serão deixados a cargo do delegado para proceder à apreensão dos mesmos. 3.4.1 Amostragem Quando for necessária a amostragem para encaminhamento a laboratório, é preciso usar uma metodologia adequada. A amostragem deve ser em quantidade e número suficiente. Em caso de dúvida sobre a amostragem do material em questão, o perito deverá consultar as instruções técnicas da área ou contatar o pessoal responsável pelos futuros exames de modo a receber deles as orientações devidas quanto aos procedimentos de amostragem, tais como quantidade e tamanho das amostras, necessidade de amostras controles, etc. 3.4.2 Amostras padrão ou controle Este é um procedimento que deve ser realizado quando o vestígio a ser coletado estiver impregnado ou depositado em um suporte, e o mesmo não puder ser totalmente encaminhado para análises. Como regra geral, o melhor vestígio é aquele que poderá ser encaminhado de forma integral para os exames, pois fornecerá uma maior quantidade de informações ao perito que for analisá-lo posteriormente, mas isso nem sempre é possível, seja por dificuldades de transporte, seja por impossibilidades técnicas. Esta situação pode ser melhor compreendida por meio do seguinte exemplo: no processamento de um local foi encontrada uma mancha suspeita impregnada no carpete de uma sala. Não se pensa em remover e encaminhar completamente o carpete, isso não é viável. O perito então recorta o pedaço do carpete que contém a mancha e o encaminha. Para que essa análise seja possível e conclusiva, pode ser que o laboratório precise de uma amostra do carpete isenta da mancha para que possa analisar as possíveis interações entre a substância que gerou a mancha e o carpete. Logo, deve ser providenciada uma amostra do carpete isenta da mancha. Esta segunda amostra do carpete, sem impregnações da substância suspeita, é denominada de amostra controle ou amostra padrão. Como no momento da realização do exame no local do crime ainda não é possível determinar a necessidade da coleta de uma amostra padrão para dirimir futuras dúvidas relacionadas a interações entre o vestígio e seu suporte, a regra geral é coletá-la. 3.5 Reunião final Essa reunião é o passo que antecede a finalização dos trabalhos e deve ser realizada com todos os membros da equipe, tendo como principal pauta: “Fizemos tudo o que era necessário para um processamento efetivo deste local?” Caso o entendimento global seja que sim, o chefe da equipe conduzirá uma busca final pelo local, para se certificar das condições do mesmo antes da entrega. Nessa reunião, faz-se uma checagem final de todos os aspectos levantados no local, verificando se: a) a documentação está devidamente preenchida; b) todos os vestígios foram fotografados e posicionados no croqui; c) os vestígios foram coletados adequadamente; d) as amostras controle necessáriasforam coletadas; e) os vestígios estão embalados e identificados adequadamente; f) existem meios para se transportar adequadamente os vestígios. Diante das afirmativas referentes aos questionamentos acima, parte-se então para a etapa de liberação do local. 3.6 Liberação do local A entrega do local e sua liberação será feita pelo chefe da equipe de maneira formal, podendo até fazê-lo por meio escrito em formulário próprio. Geralmente é feita verbalmente e consignada no laudo. Caso existam outras providências necessárias à liberação do local, estas devem ser informadas à autoridade que receberá o local. O perito chefe deverá informar, nessa ocasião, sobre quaisquer informações pertinentes ao local, bem como de que outros materiais devem ser apreendidos e encaminhados para a perícia e a que cuidados os mesmos devem ser submetidos. 4 Documentação do local 4.1 Descrição narrativa A descrição narrativa deve abranger tudo o que for encontrado no local. A cena deve ser descrita do geral para o específico. Em princípio, nenhum item é insignificante e não pode ser descartado da documentação. Essa descrição pode ser feita de várias formas: escrita, gravada em áudio (gravador), gravada em áudio e vídeo (filmadora), etc. O perito deve esforçar-se para realizá- la da melhor maneira, evitando confiar em sua memória. Muitas vezes as condições inóspitas do local podem levar o perito a deixar para escrever no momento em que for relatar o laudo. No entanto, a experiência mostra que a melhor oportunidade e o melhor lugar para descrever tudo é na cena de crime, pois quanto mais completa e organizada a descrição do local, mais completo o trabalho de processamento a ser feito, e mais fácil a redação e conclusão do laudo. 4.2 Fotografia Deve ser iniciada assim que se chega ao local, o mais rápido possível. Tirar fotos globais da cena assim que se chega é uma recomendação baseada em fundamentos que podem esclarecer qual o estado da cena quando da chegada da perícia. A etapa fotográfica permeia todo o trabalho de análise da cena. Não é uma etapa estanque. Inicia-se com a chegada e continua até a liberação do local. É uma importante forma de registro. Além dessas recomendações, o perito designado a fazer o levantamento fotográfico deve planejar a tomada de fotos, e não apenas sair fotografando a esmo, pois sem o planejamento pode fotografar a cena muitas vezes de um mesmo ângulo, de um mesmo ponto, e deixar de registrar outros focos importantes. Uma estratégia útil e que facilita o trabalho de planejamento fotográfico é a de se imaginar contando a história narrativa do local a outras pessoas, evidenciando os principais aspectos da cena. O levantamento fotográfico, quando feito de maneira planejada, remete os clientes do trabalho da Perícia (ex.: juízes, promotores, advogados, entre outros) à cena do crime e proporciona um melhor entendimento daquilo que a Perícia está relatando. O levantamento fotográfico funcionará como um livro de imagens em que as pessoas que não foram ao local possam entendê-lo na forma mais completa possível. Se algo no local tiver relevância, deverá ser fotografado. Mas como durante os exames nem sempre é possível saber quais são os pontos relevantes, utiliza-se a regra geral de se fotografar todos os vestígios que não forem evidentemente ilusórios. Ao efetuar o planejamento fotográfico um bom procedimento é partir de fotos gerais, panorâmicas, seguidas de fotos a uma distância média para depois obter fotos de objetos específicos e então fotos em “close”. Caso fotografe desordenadamente, corre-se o risco de deixar de registrar partes importantes do local e mesmo se confundir na hora de olhar as fotos e relatar o laudo. 4.2.1 Fotografias de vestígios O vestígio deve ser fotografado no local, antes de sua coleta. Podem ser tiradas quantas fotografias forem necessárias de cada vestígio, caberá ao perito decidir. A recomendação (regra geral) é de que sejam, no mínimo, três de cada vestígio: a) uma fotografia do vestígio contextualizado no local, isto é, que mostra claramente o vestígio associado aos demais aspectos do local; b) uma fotografia bem próxima ao vestígio, em close, que deve ser tirada a uma curta distância para mostrar claramente suas características. A ausência de escala nesta foto é uma recomendação para análises futuras desse vestígio, pois já houve casos de se colocar indevidamente a escala sobre outros vestígios menores que não estavam visíveis no processamento do local, mas que foram revelados quando a foto foi analisada. c) a terceira fotografia refere-se a uma foto em close, idêntica à anterior só que dessa vez com a escala. O uso da escala é necessário para se estimar futuramente o tamanho do vestígio e analisar sua grandeza por meio de uma foto. 4.2.2 Registro fotográfico Esse registro serve para conferir ao fotógrafo uma certeza de que todos os vestígios encontrados foram fotografados de maneira adequada. Em alguns locais, a quantidade de fotografias é muito grande. A ausência de um registro fotográfico adequado pode causar confusão. Esse registro nada mais é que uma tabela indicativa de cada vestígio e das fotos já realizadas de cada um. Exemplo de formulário para processamento de um local, inclui o registro fotográfico e outros controles que podem ser realizados. Vestígio (número do marcador) Descrição Posicionado no croqui Fotografia de contexto Fotografia em close sem escala Fotografia em close com escala Coletado Amostra controle 45 cartucho de arma de fogo calibre 9 mm X X X X 34 mancha suspeita de sangue próxima à entrada X X X X X X 4.2.3 Outras recomendações Obter fotos dos pontos de acesso ao local (portas, janelas, estradas, corredores, etc.) e de áreas adjacentes ajuda a entender a cena do crime e a elaborar o laudo. Considerar, se for o caso, a necessidade de uma fotografia aérea ou mesmo de uma imagem de satélite de alta resolução (ex.: Spot, Google Earth). Fotografar ao nível dos olhos, pois essa é a posição normal de um observador ao entrar na cena de crime. Não hesitar em fotografar algo que, à primeira impressão, não terá importância. O perito poderá ter apenas uma chance de acesso à cena de crime e, se precisar de fotos adicionais, poderá ser tarde demais. 4.3 Croqui 4.3.1 Propósito do croqui Registrar a posição dos vestígios no local de crime de modo a contextualizá-los para futuras referências. É importante que ele expresse todas as relações de espaço existentes entre os diversos vestígios observados durante os exames. Existem, ainda, alguns tipos de croquis de uso específico para serem utilizados em exames de locais de crime contra a pessoa, nos quais podem ser plotados os diversos tipos de lesões encontradas no corpo humano. 4.3.2 Formas de medições usadas para se obter um croqui Os métodos de medidas para se posicionar um vestígio material podem variar de local para local e a escolha é do profissional que o utilizará. a) Método da triangulação Consiste em posicionar o vestígio, obtendo sua distância a partir de dois referenciais fixos (naturais, artificiais ou mesmo criados pelos peritos no momento do exame). Este é um método muito usado pela sua simplicidade e facilidade de reprodução em um croqui. Para agilizar os trabalhos quando se usa trenas tradicionais, recomenda-se duas pessoas para realizar as medidas (uma no referencial para fixar o equipamento e outra tomando as medidas). Isso pode ser dispensado quando trabalhamos com trenas eletrônicas. Quandonão existem referenciais físicos no local que possam indicar a localização dos vestígios, é importante indicar o rumo (Norte, Sul, Leste, Oeste) em relação aos pontos fixos escolhidos, pois sem essa indicação, os vestígios poderiam ser espelhados para o rumo oposto. Esse método é bastante usual. Seus pontos fortes são a facilidade de utilização e a precisão. O principal aspecto limitante do mesmo é a escolha adequada de dois referenciais fixos permanentes, coerentes com o local e com os vestígios. Os referenciais devem proporcionar uma facilitação das medidas. Objetos pequenos em relação ao tamanho da cena necessitam de apenas uma triangulação; porém, aqueles cujo tamanho seja considerável em relação à cena de crime analisada, necessitam de duas triangulações, uma em cada extremidade. Essas duas triangulações fornecem posição, localização e até mesmo o tamanho do vestígio. Figura 6 - Método de triangulação. b) Método das coordenadas cartesianas É um método bastante prático para ser usado em áreas fechadas. São realizadas medições como em um plano cartesiano. Uma das paredes pode ser o eixo “x” e a outra o eixo “y”. Na possibilidade de se produzir croquis em 3D e quando se quer indicar a localização de um vestígio em relação à altura do solo, usam-se os eixos “x” e “y” combinados com um eixo “z”. Fig ur a PC F M ar cel o Jo Figura 7 - Método das coordenadas cartesianas. c) Método das coordenadas polares Pode ser usado em áreas abertas nas quais fica difícil estabelecer um segundo ponto de referencial. Caso não haja um referencial adequado, mesmo que único, podem ser realizadas as medições a partir de um referencial artificial criado especificamente para isso, que neste caso seria uma haste metálica enterrada, que poderia ser localizada posteriormente, por meio de um detector de metais. A medida dos ângulos pode ser feita a partir de uma linha escolhida, que pode ser recriada posteriormente, ou mesmo a partir de um referencial dos pontos cardeais (Norte é o mais usual). É importante deixar claro o método de medição do ângulo utilizado, bem como a direção em que se realizou a medida (sentido horário ou anti-horário). Fig ur a PC F M arc elo Jos t Figura 8 - Método das coordenadas polares. A medida do ângulo pode ser feita com uma bússola, um GPS ou por meio de cálculos matemáticos (o que é mais difícil). d) Método da linha base É um método que pode ser usado quando existe uma concentração de vestígios em uma mesma direção. Para obter resultados com praticidade e rapidez, nessas medidas podem ser usadas duas trenas. Uma delas servirá como linha base, e a outra será utilizada para realizar as medidas do vestígio até a linha base, sempre ortogonalmente. Do mesmo modo que no método da triangulação, quando não existem referenciais físicos no local que possam indicar a localização dos vestígios, é importante indicar o rumo em relação aos pontos fixos escolhidos, pois sem essa indicação, os vestígios poderiam ser espelhados para o rumo oposto. Fig ur a PC F Ma rce lo Jos Figura 9 - Método da linha base. 4.3.3 Uso de softwares na produção de croquis O uso de sistemas computacionais para ilustrar a cena de um crime facilita e dá maior velocidade e precisão ao trabalho. Atualmente, com a possibilidade de uso de softwares, existe um rompimento com a ênfase do croqui bidimensional, colocando o ambiente tridimensional como uma opção que permite aos clientes do laudo pericial uma visualização do local do crime mais próxima da realidade, permitindo, assim, uma melhor análise das possíveis interações existentes entre os vestígios retratados. Como exemplo de programas que podem ser utilizados para produção de croquis temos o Visio, AutoCAD e o SketchUp. Os primeiros, nas representações bidimensionais e o último, nas tridimensionais. O SketchUp é um programa relativamente simples e de fácil interatividade, muito mais amigável que o AutoCAD, melhorando a legibilidade do croqui, pois trabalha diretamente sobre a terceira dimensão. Além disso, possui uma versão gratuita que pode ser baixada do site <sketchup.google.com>. Fi g u r a P C F M ar c el o Jo s t 5 Considerações finais 5.1 Sugestões para processamento de locais de crime prepare material de coleta e embalagem em quantidade suficiente para a cena de crime a ser processada. Uma vez no local, é mais difícil e trabalhoso encontrar material de embalagem e equipamento adequados para as coletas; prepare os formulários e materiais que o auxiliarão no processamento do local: registro fotográfico, formulário de liberação de local, papel milimetrado, prancheta, lápis, borracha, régua, etc.; discuta os procedimentos de busca com a equipe antes da chegada ao local, se possível; identifique/contate, se possível, os responsáveis pelo local (isolamento/preservação) antes da chegada; caso seja possível e possua elementos para isso, designe o pessoal para tarefas específicas (fotografia, preparador do croqui, equipe de busca) antes da chegada ao local. Esse procedimento visa a agilizar as atividades e não deixar tarefas a fazer. Uma sugestão de divisão da equipe: uma pessoa encarregada (chefe do local); uma para as fotos; uma para preparar o croqui; uma para catalogar o que for encontrado. Se forem apenas dois peritos, ou no pior dos casos, apenas um, lembre-se de cumprir todas as etapas do processamento do local; considere a segurança e o conforto da sua equipe. Esteja preparado para encontrar locais potencialmente perigosos ou em condições climáticas desfavoráveis. Prepare-se, portanto, com relação a: tipo apropriado de roupa; equipamentos de comunicação; armamento; lanternas; capacetes (se for o caso); alimentação e transporte; assistência médica; tipos de equipamentos necessários ao local; no caso de locais onde o processamento pode se prolongar, divida a equipe em turnos, lembrando sempre de manter os registros/documentação dos procedimentos realizados. 5.2 Tarefas pertinentes aos integrantes da equipe A) Cabe ao PCF chefe da equipe: estabelecer os contatos e a cadeia de comando com outros policiais/instituições presentes no local; anotar os dados relativos ao recebimento do local, às pessoas presentes e às condições do isolamento; preencher formulários no local; fazer a descrição narrativa; realizar a busca preliminar; verificar as condições de segurança do local e de trabalho da equipe e, se for o caso, providenciar os meios adequados de trabalho; organizar reuniões periódicas com a equipe durante a busca; decidir quanto à liberação do local e entregá-lo às autoridades competentes. B) Cabe ao perito incumbido de fotografar o local: planejar o trabalho de fotografia; tirar fotografias dos vestígios em close, contextualizados e fotos gerais da cena; preencher o controle das fotografias; garantir que tudo foi fotografado. C) Cabe ao perito incumbido de preparar o croqui: tomar as medidas de posicionamento dos vestígios e solicitar ajuda para tal tarefa (se for o caso); documentar os vestígios, posicionando-os no do contexto do local. D) Cabe ao perito incumbido de catalogar os vestígios coletados/encontrados: fazer a correta descrição do que for encontrado. Nessa tarefa, é importante não economizar na escrita, pois, no momento do local, sempre se pensa que já se fez muito, mas depois, quando da redação do laudo, poderão
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