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A IMPORTANCIA DA FAMILIA NO TRATAMENTO DO USUARIO

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151 
Encontro 
Revista de Psicologia 
Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 
Carolina Santos de Azevedo 
Faculdade Anhanguera do Rio Grande 
carollinaazevedo@hotmail.com 
Rodrigo Sinnott Silva 
Faculdade Anhanguera do Rio Grande 
rodrigo.ss.79@hotmail.com 
 
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO TRATAMENTO 
DO DEPENDENTE QUÍMICO 
RESUMO 
Independente da estrutura, a família se faz necessária na vida do 
usuário de drogas, na qual é preciso uma imposição de limites, respeito 
e conversas entre os membros, uma vez que todos os componentes 
desse âmbito familiar se influenciam, devendo haver uma coesão entre 
eles. Este estudo tem como objetivo analisar a importância que o 
familiar exerce no tratamento do usuário, sob o olhar do próprio 
dependente e do familiar. A amostra foi composta por 25 familiares e 
53 usuários que frequentam os grupos de apoio/reabilitação do Centro 
de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS Ad), da 
Prefeitura Municipal do Rio Grande e no Centro Regional de Estudos, 
Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos (CENPRE), da 
Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Os familiares são de 
suma importância no tratamento da dependência química, o qual deve 
incluir desde a família nuclear até a família extensa. 
Palavras-Chave: Dependência química; família, drogas; usuário. 
ABSTRACT 
Regardless of the structure, the family is necessary in the user’s drug 
life in which is necessary an imposition of limits, respect and dialog 
among members once all of them use to influence each other and 
cohesion between them must exist. The objective of this article is to 
analyze the importance that the family has in the treatment of the user, 
from the perspective of this one and from the family’s. The sample 
consists of 25 family members and 53 users who go to support groups/ 
rehabilitation in Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas 
(CAPS Ad), which belongs to Rio Grande Municipality and in Centro 
Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes 
Químicos (CENPRE), which belongs to Universidade Federal do Rio 
Grande (FURG). Relatives are very important in the treatment of 
chemical dependence, which should include from the nuclear family to 
the extended family. 
Keywords: chemical dependence; Family; drugs; addict. 
Anhanguera Educacional Ltda. 
Correspondência/Contato 
Alameda Maria Tereza, 4266 
Valinhos, São Paulo 
CEP 13.278-181 
rc.ipade@anhanguera.com 
Coordenação 
Instituto de Pesquisas Aplicadas e 
Desenvolvimento Educacional - IPADE 
Artigo Original 
Recebido em: 12/12/2012 
Avaliado em: 10/02/2013 
Publicação: 18 de dezembro de 2013 
152 A importância da família no tratamento do dependente químico 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
1. INTRODUÇÃO 
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), a dependência química 
consiste em uma “reunião de sintomas fisiológicos, comportamentais e cognitivos que se 
propagam após o consumo da droga, por vezes consecutivas“. Ainda explica a CID 10, o 
desejo de consumir, bem como a relutância em conseguir controlar o uso, mesmo sendo 
percebíveis as consequências negativas que a droga irá causar, se torna essencial e 
prioritária na vida do indivíduo. 
Segundo Kalina (1987), em sua grande maioria, as dependências têm sua origem 
dentro da família ou meio no qual o indivíduo está inserido, ninguém nasce com essa 
patologia instalada. Para ele, há dois modelos de famílias preponderantes nesse 
sofrimento. As simbióticas são caracterizadas por serem invasoras, todo mundo está 
dentro da vida de todo mundo, não havendo liberdade, autonomia dentro da sua própria 
vida. Já nas famílias cismáticas, não há invasão de um indivíduo na vida do outro, mas a 
comunicação só vai ocorrer individualmente, não sendo possível haver encontros e 
conversas grupais em família sem que haja desentendimento. 
A família, segundo Michuchin e Fishman (1990, p.21) é formada por: “um grupo 
natural que desenvolve padrões de interação, que governam o funcionamento dos 
membros da família, delineando seus comportamentos e facilitando seu convívio, 
constituindo um sistema.” Além disso, elucidam que dentro desse sistema familiar, pode 
haver subgrupos compostos por afinidades, gênero e idade, onde o comportamento de 
um membro influenciará o comportamento dos outros membros. 
Muitas famílias usam drogas como o álcool em casa e acabam oferecendo desde 
cedo aos filhos, iniciando o consumo dentro do próprio lar. Além deste fator, deve-se 
levar em conta a não estruturação do núcleo familiar, onde não existem definições 
específicas de papéis, conflitos e o não estabelecimento de regras e limites (HERMETO; 
SAMPAIO; CARNEIRO, 2010). 
Além disso, de acordo com Lehen (1996), o indivíduo não nasce inserido na 
sociedade, vai ser o convívio com a família que vai inseri-lo e atribuir valores. As práticas 
educativas e os modos de viver de cada família poderão ou não servir de estimulante para 
seus filhos buscarem o uso das drogas como fonte prazerosa e de fuga. Outro fator que 
merece atenção segundo Lehnen (1996), é quando o sintoma drogadição já está instalado 
dentro do contexto familiar. As atenções ficam em torno da espera pelo usuário ou pela 
sua saída de casa. Esse fato de estar ausente ou presente no ambiente familiar serve para o 
casal acobertar seus problemas e com isso manter a homeostase familiar. Ressalta que 
 Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva 153 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
sempre existe um membro da família, que vai ser uma espécie de cúmplice do usuário, 
que geralmente é a mãe, caracterizando uma relação simbiótica. Esta relação mãe e filho 
sugere uma exclusão da figura paterna, o que é uma mistificação. O que ocorre é que a 
figura paterna permite que a mãe assuma o posto de cuidadora, assumindo o posto 
maternal como era na infância. Consequentemente quando se dá a recuperação, os pais 
vão se configurar novamente como um casal, porém o sistema familiar sofre novamente 
com interações disfuncionais, que vai acarretar outra vez na busca do sintoma, sendo um 
processo cíclico. 
Para Kalina (1983), dependência química é o resultado de uma espécie de fuga 
dos problemas vivenciados no dia a dia do sujeito. No âmbito familiar, há um 
“escolhido”, que vai ser o culpado por essas tensões e que acaba se tornando dependente 
químico com o intuito de diminuir e conseguir aguentar fatores como: depressão, tristeza 
e ansiedade em que se encontra. 
Segundo Souza, Kantorski e Mielke (2006), o âmbito de recuperação é formado 
pela união da família, amigos e demais pessoas que são importantes para o usuário. É 
necessário que as famílias se livrem de preconceitos e busquem informações sobre 
assuntos relacionados à patologia e, com isso, saber lidar melhor com as articulações que 
poderão ocorrer por parte do usuário. A participação da família no tratamento já é algo 
acordado e referido por vários autores que dão ênfase e partilham um pensamento 
certificado de que todos, dentro do sistema familiar, estão ligados e a mudança no 
comportamento do usuário provocará melhora em todo o restante da família. 
Este estudo teve como seu objetivo analisar a importância que o familiar tem no 
tratamento do dependente, sob o olhar do próprio familiar e do usuário. 
2. METODOLOGIA 
Consiste em uma pesquisa de campo transversal, com teor quantitativo, com o objetivo de 
analisar a importância que o familiar exerce no tratamento do usuário, sob olhar do 
próprio dependente e do familiar. 
A pesquisa foi realizada com indivíduos que frequentam grupos de 
apoio/reabilitação no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS ad) 
da PrefeituraMunicipal do Rio Grande e no Centro Regional de Estudos, Prevenção e 
Recuperação de Dependentes Químicos (CENPRE) da Universidade Federal do Rio 
Grande (FURG). A aplicação do instrumento foi na totalidade dos indivíduos que estavam 
em atendimento nos locais estabelecidos, no período de um mês. A seleção desses se deu 
154 A importância da família no tratamento do dependente químico 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
através da disponibilidade dos mesmos a participarem. Foram excluídos aqueles que não 
tinham condições de responder ao instrumento, por estarem em uso de alguma substância 
química no momento das entrevistas, desta forma, ficando incapacitados de responder as 
questões abordadas. Também foram entrevistados os familiares, com um instrumento de 
onze perguntas, resultando em uma amostra de vinte e cinco familiares, enquanto o 
instrumento utilizado nos usuários, contou com quinze perguntas, onde a amostra foi de 
cinquenta e três usuários. Cada aplicação levou em média, dez minutos e as abordagens 
foram realizadas individualmente. Os participantes assinaram o termo de consentimento 
livre e esclarecido e o projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa 
sob o parecer número 75850. 
A entrevista foi aplicada pela pesquisadora responsável. A análise dos dados foi 
realizada através do programa estatístico Statical Package for the Social Science (SSPS) – 
versão 13.0 (1999) para Windows e teve como objetivos, obter as frequências de todas as 
variáveis de interesse, examinar as suas distribuições e escolher pontos de corte para as 
variáveis quantitativas. O teste Qui – quadrado foi utilizado, com objetivo de descrever a 
amostra segundo a prevalência associada às variáveis independentes. 
3. RESULTADOS 
Resultado do instrumento aplicado aos familiares 
A amostra foi composta de 25 familiares, que participam de grupos de apoio a famílias 
nos centros já citados. A idade média desses indivíduos foi de 53 anos, variando entre 37 
até 68 anos, distribuídos de 37 a 47 anos (28%), 48 a 57 anos (28%) e 58 e 68 anos (44%). 
Em relação ao gênero, 16% são do gênero masculino, enquanto 84% feminino. 
Destes, 84% tem o ensino fundamental incompleto, 12% o ensino fundamental completo e 
4% o ensino superior. Dentre as profissões, 48% são autônomos, 48% aposentados e 4% 
professores. 
Quanto ao grau de parentesco, predominam as mães (64%), seguido por pai 
(16%), cônjuge (16%) e irmão (4%). No que diz respeito a quando este familiar percebeu o 
uso, 44% perceberam algum tempo após o início, 28% perceberam no início do uso e 24% 
quando já estava em estado avançado. 
Os familiares dos usuários, em sua maioria, acreditam que o meio que o usuário 
vivia foi determinante para que ele iniciasse o uso (40%), enquanto outros acreditam que 
foram problemas pessoais, como falta de emprego, separação, entre outros (36%) e os 
outros 24%, atribuem o início do uso devido à falta de apoio familiar. 
 Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva 155 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
No que se refere ao apoio familiar ser essencial ao tratamento, os familiares, em 
sua maioria (84%), disseram ser fundamental, enquanto 8% acreditam ser indiferente e 4% 
dos familiares, dizem não ser essencial o apoio para que o parente se mantenha no 
tratamento. (Gráfico 1). 
Em caso de recaída, 96% propiciam ajuda e apenas 4% dizem não ajudar caso isto 
venha a acontecer. 
Os familiares acreditam que 88% dos parentes reconhecem o apoio, enquanto 8% 
é indiferente ao apoio familiar e 4% dizem que o usuário se sente pressionado. Por fim, 
estes familiares atribuem valores de um a cinco, ao valor que o apoio familiar tem no 
tratamento de seu parente, onde 72% atribuem o valor máximo, 20% o valor quatro e 4% o 
valor três e alguns não souberam dar um valor ao apoio familiar (4%). (Gráfico 3). 
Associando as seguintes variáveis: grau de escolaridade e quando percebeu o uso 
de drogas do familiar, obteve-se o seguinte: familiares com ensino fundamental 
incompleto, perceberam o uso no início (85,7%), enquanto os que têm o ensino 
fundamental completo perceberam o uso em estado avançado (16,7%) e os que têm o 
terceiro grau, perceberam em estado avançado também (9,1%). No entanto, não foram 
diferenças estatisticamente significativas (P: 0,999). 
Resultado do instrumento aplicado com usuários 
A amostra de usuários foi composta por 53 indivíduos, onde 73,6% são do gênero 
masculino e 26,4% do gênero feminino. A média de idade entre eles foi de 37 anos, 
distribuídos de 15 a 21 (15%), 22 a 31 (24,5%), 32 a 41 (18,9%), 42 a 51 (18,9%) e 52 a 63 
(22,6%). 
Em relação ao estado civil, os solteiros são a maioria (58,5%), os casados 28,3% e 
os separados são 13,2%. O grau de escolaridade dos mesmos varia entre ensino 
fundamental incompleto (50,9%), ensino fundamental completo (20,8%), ensino médio 
completo (15,1%), ensino médio incompleto (9,4%) e terceiro grau incompleto (3,8%). 
Desses, predominam autônomos (77,4%), seguidos por estudantes (17%) e aposentados 
(5,7%). 
Da amostra obtida, há um predomínio de indivíduos que moram com a mãe 
(45,3%), seguidos pelos que moram com cônjuge (35,8%), também os que moram sozinhos 
(11,3%), os que moram com irmão (5,3%) e apenas 1,9% moram com a figura paterna. 
A maioria dos usuários iniciou o consumo antes dos quinze anos (34%), até os 20 
anos (41,5%), depois dos vinte anos (20,8%) e com mais de trinta anos (1,9%). Eles 
156 A importância da família no tratamento do dependente químico 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
acreditam em sua maioria, que iniciaram o uso por falta de apoio familiar (32,1%), outros 
acreditam que tenha sido a falta de apoio familiar, mas não foi o único fator (26,4%), 
existem os que acreditam que a família contribuiu quase nada para que iniciassem o uso 
(15,1%) e os que acreditam que a família foi indiferente para isto formam (3,8%) e uma 
parcela diz que a família não contribuiu em nada para o início do uso 22,6%. Grande parte 
acredita que o meio foi influente para iniciar o uso (58,5%), outra parcela diz que o meio 
contribuiu bastante, porem existem outros fatores aliados (32,1%), uma parte diz que 
contribuiu muito pouco (3,8%) e os que dizem não ter contribuído formam 1,9%. 
No que se refere à contribuição familiar para o sucesso do tratamento, os usuários 
consideram fundamental (62,3%), outros consideram que contribui bastante, mas não é 
fundamental totalizando 20,8%, enquanto os que consideram indiferente, ou não contribui 
em nada formam 11,4% e os que dizem contribuir muito pouco (1,9%). (Gráfico 1) 
 
Gráfico 1. Contribuição familiar ao tratamento. 
Quanto à recaída, os usuários consideram que o apoio vai ser fundamental para 
retomar o tratamento (58,5%), outros acreditam que contribui bastante (20%), a 
contribuição é pouca (9,4%), para alguns não contribuiu em nada (7,5%) e para alguns 
esse auxílio se configura como indiferente (3,8%). (Gráfico 2) 
 Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva 157 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
 
Gráfico 2. Recaída. 
Se existisse uma maior contribuição, um maior auxílio da família no 
enfrentamento do tratamento, uma grande parcela acredita que contribuiria bastante 
chegar à reabilitação (56,6%), outros consideram que esse fato seria de suma importância, 
se caracterizando como fundamental (18,9%), alguns dizem que a família já contribui o 
bastante e se configura como algo indiferente (5,7%), enquanto os que acham que 
contribuiria muito pouco ou não contribuiria em nada são 7,2%. 
No que se refere na uniãodo tratamento com o apoio recebido pelos familiares, 
58% dos usuários, dizem ter recuperado amizades, convivência familiar, bens materiais, 
22,6% dizem que contribui bastante, mas não são os únicos fatores, os que acreditam 
contribuir pouco são 9,4%, os que acreditam ser indiferente a união desses fatores são 
5,7% e os que dizem não contribuir em nada formam 1,9%. 
Quanto aos valores atribuídos à importância familiar, em uma escala, onde cinco 
corresponde ao maior valor e um ao menor, a maioria dos usuários considerou que a 
família recebe o valor máximo (71,7%), 11,4% o valor quatro, apenas 1,9% atribuiu o valor 
três, seguidos por dois que abrangeu 5,7% enquanto o valor mínimo foi atribuído por 
9,4% dos participantes. (Gráfico 3). 
158 A importância da família no tratamento do dependente químico 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
 
Gráfico 3. Escala de valor atribuído ao apoio da família. 
4. DISCUSSÃO 
Segundo Sharanck e Olschowsky (2007, p. 129): 
A família consiste em uma unidade cuidadora, nas situações de saúde e doença de seus 
membros. Assim o tratamento não se restringe a internações e medicamentos, mas em 
ações e procedimentos que visem à reintegração familiar, bem como uma melhoria na 
qualidade de vida do doente e do familiar. 
Desta forma, através dos resultados podemos observar a mencionada 
importância da família na participação do tratamento dos usuários. Indicou que as mães 
são a maioria dentro dos centros de apoio, elas compõem 64%, enquanto cônjuge 16%, pai 
16% e irmãos apenas 4%. Esses familiares constituem uma parte de suma importância no 
tratamento da dependência química, onde se deve incluir o maior número de pessoas 
desde a família nuclear até a família extensa. Quanto mais cedo forem incluídos os 
familiares no tratamento, melhores as chances de adaptação e engajamento do usuário 
(SEADI; OLIVEIRA, 2009). 
No que se refere à importância do apoio durante o tratamento, tanto os 
familiares, quanto os usuários em tratamento, consideram fundamental o apoio e 
participação da família para se manterem no tratamento e consequentemente, 
recuperarem bens, convívio com amigos, coisas que com o uso de drogas haviam perdido. 
Isso vai ao encontro do que Kalina (1999, apud MOREIRA, 2004) enfatizou: “A família está 
sendo focalizada em diversas modalidades de tratamento em saúde. A importância da sua 
colaboração para adesão e manutenção de programas já oferecidos, foi mencionada e 
 Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva 159 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
estudada em diversos trabalhos científicos, principalmente no que se refere à saúde 
mental”. 
É interessante observar o fato de que os familiares não atribuem o fato de seu 
parente ter iniciado o uso de substâncias por falta de apoio ou suporte familiar, eles 
atribuem o fato ao meio que estão inseridos ou a problemas pessoais. No entanto, deve-se, 
de acordo com Seleghin, Marangoni, Marcon e Oliveira (2011), salientar que a família é 
um dos elos mais importantes que pode levar ao uso de drogas, assim como atuar como 
fator de proteção. A falta do apoio dos familiares e de uma hierarquia configura um 
espaço favorável ao uso de substâncias. Atitudes permissivas, o uso dentro do próprio 
ambiente familiar, falta de controle sobre os filhos, são fatores que tendem a dar 
continuidade ao uso ou iniciar o consumo de drogas. Ainda explicam Hermeto, Sampaio e 
Carneiro (2010), que o uso de drogas é uma espécie de fuga, fazendo o papel de entidade 
protetora, enquanto o indivíduo está sendo recusado e excluído pelos demais que o 
cercam. Desta forma recorrem ao uso de drogas, como forma de terem atenção, de serem 
colocados em primeiro plano dentro do âmbito familiar, com isso, a família também deixa 
de lado seus problemas, colocando toda sua atenção e tensões em cima do usuário, 
formando um ciclo, que pode indicar a sobrevivência familiar. 
Como resultado do cruzamento do gênero com a idade, o estudo indica que a 
maioria são homens, que iniciaram o uso antes dos 15 anos de idade (43,6%), enquanto as 
mulheres iniciaram até os 20 anos 53,8% (P = 0,035), o que corrobora com as ideias de 
Broecker e Jou (2007), onde as primeiras experiências com drogas ocorrem na 
adolescência, quando as regras começam a serem questionadas, se sentem fora do 
contexto familiar e querem pertencer a algum grupo, época esta que também ocorre o 
primeiro conflito dentro do núcleo familiar. Já no que se refere ao gênero, como lembra 
Elbreder, Laranjeira, Siqueira e Barbosa (2008), pesquisas indicam que o consumo está 
aumentando entre as mulheres e devido ao efeito das drogas acontecerem de uma forma 
mais lenta, elas tem uma predisposição maior em relação aos prejuízos causados pelo 
consumo. Também costumam abandonar o tratamento antes do término, o que pode 
justificar o número ínfimo de mulheres nos centros de tratamento. 
De acordo com Halpern (2001, apud SEADI; OLIVEIRA 2009): “Para cada pessoa 
que utiliza alguma substância psicoativa, se tem ideia de que quatro ou cinco pessoas 
também serão afetadas direta ou indiretamente.” Quando se dá a recaída de um 
dependente, acaba envolvendo uma grande parte dos familiares, tentando solucionar o 
acontecido. Uma grande parcela dos usuários (58,5%) considera que, quando há recaída, o 
apoio familiar se configura como algo fundamental, enquanto 96% desses familiares de 
160 A importância da família no tratamento do dependente químico 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
usuários em tratamento dizem que quando acontece a recaída ajudam seu familiar. Para 
Rigotto e Gomes (2002), a recaída consiste em: “um retorno ao uso de drogas após um 
determinado período de abstinência.” Essa experiência de recaída é associada a situações 
como falta de apoio familiar, falta de acompanhamento, reencontro com amigos usuários, 
tal como frustração diante algumas circunstancias de sua vida. 
Outro dado de suma importância é o fato de terem poucos familiares de usuários 
nos centros de tratamento. Diante do uso abusivo de drogas, a família se coloca em uma 
situação que não estava prevendo ou esperando, focando na droga e não no sujeito que 
está usando. Não reconhece de imediato que o familiar necessita de apoio e não admite 
que a drogadição está instalada. O familiar vê a droga como algo externo ao meio familiar, 
pertencente aos amigos e conhecidos. A família se configura co-dependente deste 
problema. Muitas vezes, desejam o imediatismo, eliminar o problema rapidamente, não 
conseguindo lidar com as frustrações advindas durante o tratamento (ZEMEL 2001). 
Ainda lembra Moraes et al. (2009), que esses familiares que são co-dependentes, têm 
dificuldades de aceitar e buscar ajuda, tornam-se extremamente dependentes de seu 
parente usuário, não conseguem impor regras nem limites, deixando de lado sua própria 
vida e afazeres, sentindo-se úteis somente frente ao dependente químico. Por 
consequência, esses familiares acreditam que estão ajudando seu parente adicto, no 
entanto, na maior parte das vezes estão dificultando o tratamento. 
“A esfera familiar tem um papel importante nas condições tanto ao uso abusivo 
de drogas (...) quanto aos fatores de proteção, funcionando igualmente como um antídoto, 
quando o uso de drogas já estiver instalado.” (LIDDLE; DAKOFF 1995, apud SCHENKER; 
MYNAYO, 2004). 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Este trabalho teve como finalidade analisar a importância dos familiares no tratamento do 
dependente químico, entendendo que a família compõe um sistema e todos os 
componentes desse sistema influenciam o comportamento uns dos outros. São os 
familiares que exercemo papel de motivadores ou desmotivadores no percurso do 
tratamento do farmacodependente, ficando evidente sua importância. 
Foi observado um número pequeno de familiares dentro dos centros de 
tratamento, onde mães são em maior número. Devemos levar em conta que a 
dependência química é uma doença, porém é importante salientar que essa patologia, 
indica que alguma coisa dentro do contexto familiar não está bem e, com esse filho ou 
 Carolina Santos de Azevedo, Rodrigo Sinnott Silva 161 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 151-162 
esposo (ou qualquer outro familiar) estando doente, tira todo o foco de cima do outro 
problema existente no meio familiar e com isso mantêm o equilíbrio entre os membros 
dessa família. 
Diante disso, fica claro que trazer a família para o tratamento é um dos meios 
mais concretos de chegar à reabilitação dos familiares. Com a família participando de 
grupos, sabendo como lidar em casos de recaída, vai permitir que esses familiares 
também sejam acompanhados. 
Salienta - se a importância de novas pesquisas acerca deste tema, uma vez que se 
trata de um tema relevante e de importância para o meio acadêmico e sociedade em geral. 
Sugere-se pesquisas que priorizem sobre as mães que são a prevalência de familiares que 
participam desses grupos. 
REFERÊNCIAS 
BROECKER, Carla Zart; JOU, Graciela Inchausti de. Práticas educativas parentais: a percepção de 
adolescentes com e sem dependência química. Psico-USF, Itatiba, v.12, n.02, dez. 2007. Disponível 
em: <http//www.scielo.br/scielo.php¿script=sci_arttext&pid=S141382712007000200015& 
lng=pt&nrm=isso>. Acesso em: 08 maio 2012. 
ELBREDER, Márcia Fonsi et al . Perfil de mulheres usuárias de álcool em ambulatório 
especializado em dependência química. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 57, n. 1, 2008 . 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-
20852008000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 nov. 2012. 
http://dx.doi.org/10.1590/S0047-20852008000100003. 
HERMETO, Edyr Marcelo Costa; SAMPAIO, José Jackson Coelho; CARNEIRO, Cleide. Abandono 
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Carolina Santos de Azevedo 
Curso de psicologia pela Faculdade Anhanguera 
do Rio Grande. 
Rodrigo Sinnott Silva 
Professor e coordenador do curso de psicologia da 
Faculdade Anhanguera do Rio Grande. Professor 
da pós graduação em dependência química 
FURG/ Rio Grande.

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