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Processo Penal Aplicado Aula 2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E GERAIS INFORMADORES DO PROCESSO PENAL Deve-se reconhecer a importância da integralização dos princípios como única forma de se garantir um processo justo e garantista. Princípios são mandamentos de um sistema. Muitas vezes as respostas para determinadas questões que surgem no curso de um processo penal encontram-se nos princípios que o informam. Há quem diga que o código de processo penal nada mais é do que uma espécie de prolongamento do capítulo da CR concernente aos direitos e garantias fundamentais do indivíduo. DEVIDO PROCESSO LEGAL art.5 LIV CR\88 “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.” DUE PROCESS OF LAW Dos princípios gerais este é o mais importante. Todos os demais princípios são corolários deste. Devem ser respeitadas todas as formalidades previstas em lei. É uma garantia dada ao cidadão de que seus direitos são respeitados. A origem deu-se na cláusula 39 da Magna Carta outorgada pelo Rei John Lackland (João sem Terra), aos barões ingleses no ano de 1215, com o escopo de limitar o comportamento do Rei perante os senhores feudais, quando tivesse que agir como juiz ou no exercício da atividade administrativa. 1) Procedimental Sob aspecto formal, procedimental significa o respeito ao procedimento previsto em lei, as garantias processuais foram respeitadas. 2) Substancial Sob aspecto substancial, material, ou seja, processo legal que não seja indevido, isto é um processo legal que seja sinônimo de processo justo, com a máxima efetividade às garantias constitucionais e processuais. Como um processo justo, isto é, um processo em que seja assegurado um tratamento isonômico, contraditório equilibrado, em que se busque um resultado efetivo. Princípio do favor rei ou favor libertatis É um princípio implícito. Confere-se ao acusado benesses processuais que tem por escopo minimizar a natural desigualdade existente entre o Estado e o réu, de maneira a permitir uma paridade de armas. No conflito entre o ius puniendi do Estado e o ius libertatis do acusado, a balança deve inclinar-se para esse último. Favor rei é o Estado soberano através do Poder legislativo confiando ao réu uma série de benesses, de favores processuais penais. Favor libertatis no sentido de que são favores que tem como destinatário o réu, e, portanto, tem como destinatário a sua própria liberdade. Exemplos: artigo 386, VII do CPP, assim na dúvida não se condena, na dúvida se absolve. O legislador fez uma opção pró acusado. Artigo 617 CPP em que se proíbe a Reformatio in pejus em recurso exclusivo da defesa. Recursos privativos da defesa, revisão criminal. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA Art. 5, inciso LV CR/88 “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.” São princípios distintos. O exercício do contraditório possibilita a ampla defesa. Contraditório é a ciência bilateral de todos os atos do processo. Exige-se ciência e participação efetivas das partes ao longo de todo o processo. A sentença final reflete o trabalho intelectual do julgador mas também das partes. Ao lado do contraditório temos a ampla defesa. E essa também possui um enfoque formal e material. Afirmar que um réu está formalmente assistido significa tão somente que o réu está regularmente assistido por um advogado. Mas isso não é suficiente, é fundamental que ele esteja também materialmente defendido. No processo penal a ampla defesa se divide em: Defesa técnica - apresentada pelo advogado, defensor. Defesa técnica combativa, não necessariamente talentosa. É indispensável. Autodefesa ou defesa pessoal - é aquela apresentada pelo próprio acusado, no interrogatório por exemplo. No momento em que o acusado exerce sua autodefesa ele tem o direito de permanecer calado, conforme previsto na Constituição. Tem também o direito de não produzir provas contra si mesmo (nemo tenetur se detegere). PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL Artigo 5º INCISO LIII “ninguém será processado nem sentenciado senão por autoridade judiciária competente. “ Artigo 5º inciso XXXVII “não haverá juízo ou tribunal de exceção.” O princípio do juiz natural possui especial relevância para a aplicação de um processo penal garantista e à luz dos postulados constitucionais. Traduz uma tríplice garantia: só podem exercer a jurisdição os órgãos instituídos pela constituição, ninguém pode ser julgado por um órgão instituído após o fato; entre juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja. A garantia do juiz natural se pauta em regras gerais, impessoais e abstratas que predeterminam um juízo competente para a causa. O foco não é a pessoa física do juiz mas sim o órgão jurisdicional. E quando o constituinte veda a existência de juízes e tribunais, na realidade está querendo evitar os chamados julgamentos por encomenda, juízos criados, Tribunais criados para tão somente processar e julgar determinada demanda. Paralelamente ao princípio do juiz natural, a doutrina também propõe a garantia do promotor natural e teria previsão no artigo 127 & 1 CR/88, sendo um consectário lógico da própria independência funcional dos membros do Ministério Público. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ Art.399 parágrafo 2 do Código de Processo Penal “O juiz que preside a instrução será o mesmo que irá proferir a sentença.” Está associado ao princípio da oralidade, ou seja, contato imediato do juiz com a prova . A reforma de 2008 consagrou, expressamente o princípio da identidade física do juiz , uma vez que concentrou todos os atos em uma só audiência. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU NÃO CULPABILIDADE Artigo 5º, LVII CR/88 “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Evita-se o arbítrio do Estado. Mais vale um culpado solto do que um inocente preso. ATENÇÃO: se o réu não pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, também não pode ser presumidamente inocente. A Constituição não presume a inocência, mas declara que ninguém será considerado culpado. Assim, a decretação da prisão antes da sentença penal condenatória em nada fere o princípio, isto porque a própria Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LXI admite a prisão processual, como medida excepcional em casos de flagrante delito ou por ordem de autoridade judiciária competente. Prisão pena não se confunde com prisão processual. PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL OU SUBSTANCIAL Parte da ideia de que a função punitiva do Estado só pode fazer-se valer em face daquele que, realmente, tenha cometido uma infração. Crítica à expressão verdade real. É uma utopia. A finalidade é a prolação de uma sentença que se aproxime ao máximo da verdade real dos fatos. No processo se trabalha com teses, versões. O que temos é a verdade processual, ou seja, a verdade produzida no processo que pode ou não ser a verdade real dos fatos. A verdade real foi dogma do sistema inquisitorial. E com isso a prática das torturas para que se obter a confissão do acusado. Atualmente há quem afirme que a busca pela verdade real dos fatos se mostra relativizada, nas infrações de menor potencial ofensivo e até mesmo em médio potencial ofensivo, com a possibilidade da aplicação das medidas despenalizadoras. INQUÉRITO POLICIAL Aula 3 Persecução penal Quando um agente descumprir a norma geral e abstratanasce para o Estado o direito de aplicar a sanção descrita no tipo penal. Mas o Estado necessita de órgãos para fazer valer a norma legal apurando todos os fatos e garantindo ao agente meios de defesa, assegurado pelo Estado Democrático de Direito. A persecução penal é o caminho percorrido pelo Estado Administração para que seja aplicada uma pena ou medida de segurança àquele que cometeu uma infração penal. Surge assim a persecução penal que se desenvolve em 03 etapas : ✓ Investigação preliminar ✓ Ação penal ✓ Execução penal A primeira fase se desenvolve através do inquérito policial. Segundo a Constituição Federal , em seu artigo 144 §1º, IV e §4º - confere à polícia judiciária, a atribuição para investigar infrações penais, que é exercida pela Polícia Federal e Polícia Civil. Natureza jurídica: procedimento administrativo Conceito: procedimento investigatório, que se caracteriza por um conjunto de diligências realizadas com a finalidade de apurar o crime e respectiva autoria possibilitando a regular instauração da ação penal. Características do inquérito policial Inquisitivo ou inquisitorial: a autoridade policial o conduz discricionariamente, realizando as diligências que lhe pareçam necessárias. Na fase pré- processual não se verifica o contraditório e a ampla defesa, não havendo acusação formal. O indiciado é mero objeto de investigação. Escrito ou formal: as peças serão reduzidas a escrito, prevalecendo a forma documental. Sigiloso: O Código de Processo Penal em seu artigo 20 prevê o sigilo na condução das investigações para que a investigação não seja frustrada. OBS: artigo 7º XIV da Lei 8.906/94 concede como prerrogativa aos advogados o livre acesso aos autos do Inquérito policial VER SÚMULA VINCULANTE Nº 14 do STF : É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa Dispensável: O inquérito policial não é uma peça imprescindível para a ação penal. Assim, esse procedimento investigatório poderá ser dispensável. O Ministério Público poderá oferecer a ERSECUTIO SIGNIFICA PERSEGUIR, SEGUIR, IR AO ENCALÇO denúncia com base em peças de informações equivalentes, conforme o disposto nos artigos 12 ,27 e 39 § 5º do Código de Processo Penal. Art. 39§ 5º “O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 (quinze) dias.” Formas de instauração do inquérito policial Crimes de ação penal pública incondicionada: De ofício pela autoridade policial ( por portaria ) a partir da notitia criminis ( notícia do crime ). Notitia criminis é o conhecimento pela Autoridade Policial ,espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente criminoso. Espécies de notitia criminis I. De cognição imediata (direta): atividades rotineiras. O inquérito policial se inicia através de portaria. II. De cognição mediata (indireta): de requerimento da vítima, requisição do Ministério Público ou da “autoridade judiciária”. III. De cognição forçada ou coercitiva: ocorre no caso de prisão em flagrante, onde a notícia do crime se dá com a apresentação do autor. O inquérito se inicia com o auto de prisão em flagrante. Crimes de ação penal pública condicionada à representação ou a requisição do Ministro da Justiça: Artigo 5 §4º CPP “o inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.” Crimes de ação penal privativa do ofendido: Artigo 5º §5º “nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.” Instauração do inquérito X denúncia anônima Art. 5 §3º “ qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento d existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial,e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.” Instauração de inquérito X crimes de menor potencial ofensivo No caso das infrações de menor potencial ofensivo ( pena máxima não superior a 02 anos ), determina o artigo 69 da Lei 9099/95 a mera lavratura do termo circunstanciado. Prazo para conclusão do inquérito policial 10 dias indiciado preso / 30 dias indiciado solto. Este prazo é em regra, há prazos específicos na legislação extravagante, como por exemplo na lei de drogas , em que o prazo será de 30 dias se o indiciado estiver preso e 90 dias se estiver solto. Concluído o inquérito, a autoridade policial irá relatar os fatos, encaminhando os autos do inquérito ao Ministério Público. Providências que podem ser tomadas pelo Promotor de Justiça ✓ Oferecer denúncia - artigo 24 CPP ✓ Determinar a devolução dos autos para que sejam realizadas novas diligências – artigo 16 CPP ✓ Requerer o arquivamento do inquérito policial – artigo 28 CPP Arquivamento do inquérito policial – artigo 28 CPP “Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do ministério público para oferecê-la , ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender”. Desarquivamento do Inquérito policial De acordo com o artigo 18 do CPP, mesmo após ter sido determinado o arquivamento do inquérito policial por falta de base para a denúncia, a autoridade policial pode realizar novas diligências a fim de obter provas novas, se da existência delas tiver notícia. Em regra, a decisão que determina o arquivamento do Inquérito fará coisa julgada tão somente formal. Súmula 524 STF “arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem provas novas.” TEORIA GERAL DA PROVA Aula 4 Segundo o Jurista Francesco Carnelutti prova é o centro nervoso do processo. Conceito de prova: é qualquer informação qualificada pelo crivo do contraditório. ✓ Prova como atividade probatória – formação da convicção do julgador ✓ Prova como resultado - existência ou não de uma situação fática ✓ Prova como meio - instrumentos aptos a formar a convicção do órgão julgador Natureza jurídica da prova: inerente ao próprio direito de ação e de defesa. O titular do direito de ação é, simultaneamente titular do direito á prova. E todo acusado, porque titular do direito de defesa também é titular do direito à prova. Destinatário da prova : o destinatário da prova é o órgão jurisdicional ( juiz, Desembargador, Ministro ) e não o Ministério Público. Este é destinatário dos elementos de informação. Sujeitos da prova: São as pessoas responsáveis pela produção da prova. Objeto de prova / Thema probandum: são as afirmações sobre fatos naturalísticos, pretéritos,controvertidos e qualificados juridicamente. Em regra, feitos pela parte acusadora e negada pelo acusado. Tudo o que as partes querem demonstrar. Fonte de prova A doutrina aponta 02 aspectos : I) É tudo aquilo que indica algum fato ou afirmação que necessita de prova. II) São as pessoas ou coisas das quais se pode conseguir a prova. Fonte de prova / Meio de prova Exemplo 1: João viu José matar Joaquim.João é meio de prova. É meio de que dispõe o Ministério Público para provar que José matou Joaquim. São os elementos que podem jusitificar ou esclarecer os fatos que se apuram. Exemplo 2: Maria, esposa de João não viu nada. Mas João chegou em casa e contou a Maria que viu José matar Joaquim. Maria é fonte de prova. Fonte da informação sobre a existência de um determinado meio de prova. Fatos que independem de prova Fatos notórios – os que não precisam ser provados, que fazem parte da nossa cultura, como por exemplo, não precisa provar que dia 07 de setembro comemora-se a Independência do Brasil. Presunções absolutas ou legais – decorrem da conclusão da própria lei, não admitindo fato em sentido contrário. Fatos inúteis ou irrelevantes – fatos que não influenciam no deslinde da causa, como por exemplo qual a raça do cão que passava pela rua no momento do crime. Fatos axiomáticos ou intuitivos – são aqueles evidentes por si mesmo, a convicção já se encontra formada. Ex : se um homem respira, anda e fala não precisa provar que ele está vivo. Classificação das provas Quanto ao objeto A) Direta: demonstra o fato de forma imediata, tal como o flagrante, corpo de delito. B) Indireta: afirma um fato do qual se infira por dedução ou indução, a existência do fato que busque provar, por exemplo, indícios, presunções e suspeitas. Quanto ao sujeito A) Real: algo extraído dos vestígios deixados pelo crime B) Pessoal: quando emanar da manifestação consciente do ser humano, tal como assinatura do laudo pelos peritos. Quanto às formas A) Testemunhal: feita por afirmação pessoal B) Documental: feita por prova escrita ou gravada C) Material: elemento para o convencimento do juiz sobre o fato provando, tal como exame de vistorias, corpo de delito etc. Quanto o valor ou efeito A) Plena; perfeita; completa: capaz de conduzir o convencimento do juiz pela sua veracidade, prevalecendo o in dúbio pro reo. B) Não plena; imperfeita; incompleta: quando há insuficiência para a existência do fato, trazendo um juízo de mera probabilidade. ATOS DE INVESTIGAÇÃO E ATOS DE PROVA Artigo 155 do CPP “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.” Ônus da prova Artigo 156 do CPP “a prova da alegação incumbirá à quem a fizer, sendo porém facultado ao juiz “ Corrente majoritária: a acusação irá provar a existência de fato típico, autoria, relação de causalidade e o elemento subjetivo. Enquanto que a defesa terá que provar eventuais fatos modificativos, impeditivos e extintivos. ✓ Fato modificativo: excludentes da ilicitude ✓ Fato impeditivo: excludentes da culpabilidade ✓ Fato extintivo: causas extintivas da culpabilidade Corrente minoritária: De acordo com o princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado, o Ministério deverá provar tudo pois na dúvida, deve absolver o acusado. Assim, o Ministério Público deverá provar não só a tipicidade, mas também a ilicitude e culpabilidade do agente. Artigo 386 CPP – O juiz absolverá o réu, mencionando a causa dispositiva, desde que reconheça : VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts.20,21,22,23,26 e § 1º do artigo 28, todos do Código Penal ), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência. Portanto, se ao final do processo o juiz tem dúvida se ele matou ou não em legítima defesa, se estiver na dúvida quanto a uma excludente da ilicitude, ou da culpabilidade ele deverá absolver em razão do in dúbio pro reo. Assim, a redação do artigo 386 reforça a segunda corrente, eis que a defesa não possui mais esse ônus, pois a dúvida autoriza a absolvição, não falando mais em ônus da prova para a defesa no processo penal. Processo Penal Aplicado Aula 5 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ÀS PROVAS E A VEDAÇÃO DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS FASES DA ATIVIDADE PROBATÓRIA • PROPOSTA DE PROVA • AQUISIÇÃO DA PROVA • INTRODUÇÃO DA PROVA • VALORAÇÃO DA PROVA Cada um desses itens cuida de questões diferentes sobre a prova. PRINCÍPIOS RELACIONADOS À PROVA 1 – Princípio da Busca da verdade pelo Juiz. Em um sistema acusatório, não poderá o Juiz agir de ofício em busca da verdade material dos fatos. Crítica ao artigo 156, incisos I e II do Código de Processo Penal. Artigo 156 CPP Inciso I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; Inciso II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Posição garantista: em relação à possibilidade de produção de prova determinada de ofício pelo juiz, esse desenvolveria quadros mentais paranoicos, pois ficaria psicologicamente comprometido com o resultado do processo, ou seja, com a condenação do sujeito passivo. Assim, o juiz, ao agir na busca na busca da prova, estará pré-julgando os fatos e, consequentemente, violando os direitos do acusado, assegurados constitucionalmente, notadamente o da Presunção de inocência, pois a dúvida deverá sempre ser interpretada em favor do acusado. 2 – Princípio do Nemo tenetur se detegere De acordo com tal princípio ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Encontra-se previsto na Convenção Americana dos Direitos Humanos, Pacto São José da Costa Rica. Artigo 8º - Garantias judiciais 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada a sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem se confessar culpada. PRINCÍPIO DO NEMO TENETUR SE DETEGERE Sua abrangência: . Direito ao silêncio ou direito de ficar calado. Artigo 5º, inciso LXIII CR/88 – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado. (grifo nosso) Quem seria o titular do Direito ao silêncio? Embora a Constituição assegure o direito ao silêncio ao preso, também poderá permanecer calado o acusado solto, bem como qualquer pessoa que se encontre na situação fática equiparada ao do acusado, mesmo que tenha sido arrolado como testemunha. Atualmente, o Código de Processo penal, garante ao acusado o direito ao silêncio durante o seu interrogatório sem que isso importe confissão, e ainda, não poderá haver qualquer tipo de interpretação prejudicial à defesa com o exercício do mesmo (posicionamento do STF). Gravações feitas pela imprensa ou de conversa informal do preso com policiais, sem advertência formal quanto ao direito ao silêncio, torna ilícita a prova que contra si produza o acusado, violando a regra prevista no artigo 5º, LXII CR/88. Artigo 186 do CPP – Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. ATENÇÃO: 2 momentos do interrogatório, quais sejam : → Interrogatório de qualificação → Interrogatório de mérito No Tribunal do Júri, o Direito ao silêncio não pode ser usado como argumento para convencer os jurados. Artigo 478 do CPP – Durante os debates, as partes não poderão, sob penade nulidade, fazer referências: Inciso II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuíz . PRINCÍPIO DA COMUNHÃO DA PROVA A prova uma vez anexada ao processo a todos pertence. PRINCÍPIO DA AUTO RESPONSABILIDADE DAS PARTES As partes têm responsabilidade na produção das provas, devendo observar o momento adequado para sua produção, prazos. PRINCÍPIO DA LIBERDADE DAS PROVAS I. Provas nominadas: são aquelas provas previstas pelo legislador a partir do artigo 158 do CPP II. Provas inominadas: não estão previstas pelo legislador, mas como vigora o princípio da liberdade das provas, podem ser usadas III. Prova típica: é aquela prova que possui procedimento probatório específico IV. IV. Prova atípica: é aquela que não possui procedimento probatório específico previsto pelo legislador. O procedimento da reconstituição do crime (reprodução simulada dos fatos) está prevista no artigo 7º do Código de processo penal, mas o legislador não falou sobre o procedimento. Assim, é uma prova nominada, porém atípica. DOS LIMITES AO DIREITO À PROVA O processo penal é de natureza pública, e assim o meio probatório deve ser ilimitado. Porém, o direito das partes à introdução, no processo das provas que entendam úteis e necessárias à demonstração dos fatos em que se assentam suas pretensões, embora de índole constitucional não é, entretanto, absoluto. Ao contrário, como qualquer direito também está sujeito às limitações decorrentes da tutela que o ordenamento confere a outros valores e interesses igualmente dignos de proteção. Correlato ao direito à prova existe também o direito à exclusão das provas inadmissíveis. A admissibilidade da prova consiste numa valoração prévia feita pelo legislador; já a nulidade da prova é uma consideração posterior à colheita da prova com vícios. Provas ilegais (gênero): provas ilegítimas / provas ilícitas. Provas ilegítimas são aquelas produzidas com violação de normas processuais. Provas ilícitas são aquelas obtidas com violação de normas materiais ou de garantias constitucionais, como por exemplo confissão mediante tortura. A CR/88 ao assegurar a inadmissibilidade processual da prova ilícita, estabeleceu uma ponte entre os dois planos. A inadmissibilidade é uma sanção processual, para uma violação de regra material. Artigo 5º LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Conclui-se, portanto, que o Estado não pode exercer o seu direito de punir se tal direito veio em decorrência da utilização de provas ilícitas. O motivo da proibição da utilização das provas ilícitas está no seio do devido processo legal. A prova ilícita será desentranhada do processo, ou seja, será retirada dos autos (direito de exclusão). Já a prova ilegítima, a solução se dá pela nulidade, o ato será nulo. DA ILICITUDE DAS PROVAS Artigo 157 do CPP → São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. Parágrafo 1º - são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
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