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Cálculo II UTILIZAÇÃO DAS SÉRIES DE POTÊNCIAS NA RESOLUÇÃO DE EQUAÇÃO DIFERENCIAL ORDINÁRIA (EDO) 1 Sumário Introdução .................................................................................................................................... 2 Objetivos ....................................................................................................................................... 2 1.Equação diferencial ordinária ................................................................................................... 2 1.1. Primeiros passos .......................................................................................................... 2 1.2. Definição ....................................................................................................................... 2 1.3. Sugestão de passo a passo .......................................................................................... 4 2.Resolução analítica da Equação diferencial ordinária ............................................................ 6 2.1 Ponto ordinário e ponto singular..................................................................................... 6 2.2 Existência de soluções ..................................................................................................... 7 Exercícios ...................................................................................................................................... 8 Gabarito ........................................................................................................................................ 8 Resumo ....................................................................................................................................... 10 2 Introdução Todo o estudo de séries de potências leva ao assunto desta aula. Aprendemos até agora que este tipo de série é útil na generalização de funções, dentro das restrições de continuidade estabelecidos, que reverberam na derivabilidade e integrabilidade. Agora que já sabemos um pouco mais sobre séries de potências, identificar características e comportamento, e como elas definem uma série de funções, podemos dar mais um passo e aprender como aplicar as funções definidas por séries de potência para calcular soluções de equações diferenciais ordinais. Vamos lá? Objetivos • Calcular a solução de EDO’s utilizando séries de potência. 1.Equação diferencial ordinária 1.1. Primeiros passos Sabemos que uma equação diferencial ordinária de ordem 𝑛 tem a forma ( )( , , ', y'',...,y 0nF x y y = e sua ordem é definida por 𝑛, que é a maior derivada na equação. Existem diversos métodos para a resolução de um EDO, seja ela implícita ou não. Vamos nos ater às soluções para séries funções que compõem uma EDO. 1.2. Definição Vamos supor uma equação diferencial ordinária linear na forma 𝑎(𝑥)𝑦′(𝑥) + 𝑏(𝑥)𝑦 = 0, que possui uma solução da forma 0 01 ' ( ) ( ) ! n n y x y x x x n = = − , ou seja, ela pode ser descrita como uma série de potências. 3 EXEMPLO A solução geral de uma EDO linear de primeira ordem ' 2 ( ) 0y xy x− = é 2 1 1( ) xy x c e= . Temos assim uma função que pode ser descrita como uma série de potências: 2 2 01 ( ) ( ) ! n x n n x e x x n = = − para qualquer 𝑥 real. Assim, temos uma solução geral, através da série para 𝑒𝑥 2 , do tipo 0 ( ) nnny x a x = , com derivada. Fazendo os cálculos para o exemplo, temos: 1 0 0 '2xy 2 0n nn nn ny na x x a x − = = = − = 1 1 22 ( 2 ) 0nn nna na a x − −= + − = A equação é válida para coeficientes nulos, ou seja, 1 2 0 2 0, se n 2n n a e na a − = − = que chamamos de relação de recorrência. Verificando os valores de 𝑛 positivos e diferentes de zero, concluímos que os coeficientes pares possuem a forma 2 0 1 ! na a n = e os coeficientes ímpares possuem a forma 2 1 0na + = . Substituindo os coeficientes na solução 𝑦(𝑥), temos 2 2 2 20 2 0 00 0 0 ( ) x a ! ! n n n x nn n n a x y x a x a e n n = = = = = = = Que é a solução apresentada, ainda com uma constante arbitrária. 4 1.3. Sugestão de passo a passo Vamos elaborar um passo a passo para a solução pelo método das séries de potência de uma EDO do tipo ''( ) '( ) ( ) 0y x y x y x+ + = : 1) Vamos definir que a solução geral 𝑦(𝑥) tem a forma trivial de uma série de potências 1 1 '( ) nnny x na x − = = , contínua e derivável no intervalo de convergência da série. A primeira derivada fica 1 1 '( ) nnny x na x − = = , e a segunda derivada fica 2 2 ''( ) ( 1) nnny x n n a x − = = − . 2) Substituímos na EDO as séries que definimos para , ' e ''y y y . 3) Usamos a relação de recorrência para encontras coeficientes arbitrários termo a termo. 4) Encontramos a expressão geral para os coeficientes arbitrários; 5) Substituímos a expressão geral na solução 𝑦(𝑥), para determinar a solução geral da EDO. 5 EXEMPLO A solução geral da EDO 4 '' ( ) 0y y x+ = é 2( ) c cos sin 2 2 a x x y x c= + . Vamos fazer os passos listados acima: 1) 0 ( ) nnny x a x = = , 1 0 '( ) nnny x na x − = = e 2 0 ''( ) ( 1) nnny x n a x − = = + 2) Substituímos , ' e y''y y na EDO: 2 0 0 4 '' y 0 4 n(n 1) 0n nn nn ny a x a x − = = + = − + = 220 4 ( 1)( ) 0 n n nn n n a a x − −= − + = Logo, temos 2 4 ( 1) n an a n n − = − − com 2n . 3) Calculamos os coeficientes arbitrários: 2 2 3 2 4 2 0 2 3 4 4 , , ,... 4.2(2 1) 4.3(3 1) 4.4(4 1) 4!.2 a a a a a a− − −= − = − = − = − − − 4) Deduzimos a expressão geral dos coeficientes em termos de 𝑎0 e 𝑎1: para 𝑛 ≥ 0, temos 1 2 2 12 2 1 ( 1) 0 ( 1) 2 e ; (2 )"2 (2 1)"2 n n a n nn n a a a n n + + − − = = + 𝑎2𝑛 = 5) Substituímos a expressão geral em 𝑦(𝑥): 2 2 10 1 2 2 10 0 ( 1) ( 1) 2 '( ) x x (2 )!2 (2 1)!2 n n n n n nn n a a y x n n + += = − − = + + 0 1( ) cos sin 2 2 x x y x a a= + Que é a solução apresentada para coeficientes arbitrários. 6 Importante ressaltar que os passos 4 e 5 não são triviais. Para facilitar o entendimento desta aula, vamos propor uma solução analítica e suprimir no momento estes dois passos. 2.Resolução analítica da Equação diferencial ordinária 2.1 Ponto ordinário e ponto singular Chamamos de solução analítica uma função localmente definida por uma série de potências convergentes, ou seja, em um ponto 𝑥 = 𝑥0. Ela pode ser desenvolvida em uma série de Taylor, com raiode convergência maior do que zero. Vamos pensar em uma EDO de segunda ordem do tipo A(y') ' B(x) y' C(x) y 0+ + = . Tomando ( ) ( ) ( ) B x p x A x = e C( ) q( ) ( ) x x A x = , podemos reescrever '' ( ) ' ( ) 0y p x y q x y+ + = , dizemos que 𝑥 = 𝑥0é o ponto ordinário dessa EDO se nesse ponto 𝑝(𝑥) e 𝑞(𝑥) são funções analíticas. Um ponto que não é ordinário é chamado de singularidade da EDO. EXEMPLO Suponha a EDO '' (sin ) ' ( 1cos ) y( ) 0xy x y x x+ + − = . Tomamos sin( ) ( ) x p x x = e 1 cos( ) ( ) x p x x + = e temos 𝑦′′ + 𝑝(𝑥)𝑦′ + 𝑞(𝑥)𝑦(𝑥) = 0. Nesta EDO todos os pontos são ordinários, inclusive zero. Para visualizarmos melhor isso, vamos tomar as séries de potências conhecidas de sin 𝑥 e cos 𝑥: 3 5 7 2 4 6 2 4 6 3 5 1 1 sin ... 1 ... 3! 5! 7! 3! 5! 7! 1 1 cos ... ... 2! 4! 6! 2! 4! 6! x x x x x x x x x x x x x x x x x x x = − + − + = − + − = + − + = + + + Que são séries de Taylor relativas a 𝑥 = 0. 7 Há uma regra simples para identificar se uma EDO possui um ponto ordinário ou singular. Se 𝐴(𝑥) ≠ 0, ela possui um ponto ordinário, se 𝐴(𝑥) = 0, possui um ponto singular. EXEMPLO 2.2 Existência de soluções Supondo que 0x x= é um ponto ordinário da equação diferencial, existem sempre duas séries de potências que definem soluções linearmente independentes; cada série possui o mesmo raio de convergência 𝑅, definido pela distância linear do ponto ordinário ao ponto singular, e converge no intervalo ]𝑥0 − 𝑅, 𝑥0 + 𝑅[. EXEMPLO Seja a EDO 2( 1) '' 2 ' 6 ( ) 0x y xy y x− + + = . Tomamos 2( ) 0 1 0 1A x x x= − = = . Portanto os pontos 𝑥 = 1 e 𝑥 = −1 são pontos singulares; todos os demais são pontos ordinários. Agora vejamos a EDO 2 2( 1) '' ( 1) ' ( 1) ( ) 0x y x y x y x− + − + − = . Tomando um ( ) ( 1)p x x= + e ( ) ( 1)q x x= − temos '' ( ) ' q(x) y(x) 0y p x y+ + = , e ( ) 0 1 0A x x= − = , temos que 𝑥 ≠ 1. Portanto a EDO não tem ponto singular, todos os pontos são ordinários. Seja ( 1) '' ' ( ) 0x y xy y x− + + = , e um ponto ordinário 𝑥 = 4. O ponto singular da EDO é 0 0 10 1 0x x x == − = sim, o raio de convergência é obtido por 0 4 1 3R x x= − = − = . Logo, o intervalo de convergência é definido por 0 0] , [ ]4 3,4 3[ ]1,7[x R x R− + = − + = . 8 Exercícios 1. Calcule a solução para as EDO’s centradas em 𝑥 = 0. a. 23 ' 0x y y− = b. ' 2 3y xy x− = c. '' 2 ' 0y xy y− + = Gabarito 1. a. Vamos assumir que a EDO pode ser descrita pela série 0 ( ) nnny x a x = = . Logo, 1 0 '( ) nnny x na x − = = . Substituindo na EDO temos 2 2 1 0 0 3 ' 0 3 0n nn nn nx y y x na x a x − = = − = − = 1 10 0 0 3( 1) [3(n 1) ] 0n n nn n n nn n nn a x a x a a x − += = = + − = + − = Assim, temos: . 1 1[3(n 1) ] 0 3( 1) n n n n a a a a n + ++ − = = + Se 0a c= , encontramos que: 1 1 2 2 2 3 3 3 3 4 3 4 3 3.2 3 .2 3.3 3 .2.2 3 .3! 3.4.3 .3! 3 .4! c a a c a a c c a a c a = = = = = = = = … Resultando em 3 .n! n n c a = Portanto a solução é 0 ( ) 3 .n! n nn cx y x = = b. Vamos assumir que a EDO pode ser descrita pela série 0 ( ) nnny x a x = = . Logo, 1 0 '( ) nnny x na x − = = . Substituindo na EDO temos 9 1 1 1 1 1 11 1 1 2 0 1 11 ' 2 3 2 3 ( 1) 2 3 2 ( ) [( 1) 2 ] 3 n n n nn n n n n nn n n n n nn y xy x na x x a x x n a x a x a x a a n a x a x x − − = = + −= = + += + = + = + + = + + + + + = Assim, temos: 0 1 0 2 0 0 2 2 3 3 ;2 ( ) 3 2 2 a a x a a x a a a= + = + = − = 1 2 2 2 0 1 n n n n a a a a n + − ++ = = − + Se 𝑎0 = 𝑐, encontramos que: 1 0 2 1 3 2 4 3 5 4 6 0 3 3 2 2 2 0 2 2 2 3 . 3 3 2 2 0 4 2 2 3 2 . . . 3 3 2 3 a a c a a a a c a c a a a a c c = = = = = = − = = = − − = = − = = = … Resultando em 3 2 . . 2 3 na c = . Portanto a solução é 1 1 2 1 3 2 ( ) ( 1) . . . 2 3 n n n n y x c x − + = = + − c. Vamos assumir que a EDO pode ser descrita pela série 0 ( ) nnny x a x = = . Logo, 1 0 '( ) nnny x na x − = = e 2 0 ''( ) ( 1) nnny x n n a x − = = − . Substituindo na EDO temos 2 1 0 0 0 '' 2 ' 0 ( 1) 2 ( 1) 0n n nn n nn n ny xy y n n a x x n n a x a x − − = = = − + = − + − + = 2 2 01 [( 2)(n 1) 2 ] 2 0nn n nn n a x na a a a += + + − + + + = Resultando em 2 (2 1) ; ( 2)(n 1) n n n a a n + − = + + ; Se 0a c= , encontramos que: 10 1 0 2 1 3 2 4 3 5 4 6 5 7 2 2 3.2 3.2 3! 3 1 3 . 4.3 4 2 4.3 4! 5 1 5 . 5.4 4 3.2 4.3.2 k! 7 7 7 7.3. . 6.5 6.5 4.2 6.5.4.2 6! 9 9 9.5. . 7.6 7.6 4.3.2 7! a k a c a a k k a a c c c a a k k k a a c c c a a k k a = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = … Portanto a solução é 2 2 1 2 1 2 ( ) ( ) ( ) 2 (2 1) (2 )! n n n n cx A n kx B n cx y x c kx n n + = = = + + + + + , em que ( ) 4 3. ( 1), 1 1, 1 A n n A n n n = − − = e B( ) 4 1.B( 1), 1 3, 1 n n n n n = − − = . Resumo Há muitos detalhes envolvidos na solução da equação diferencial ordinária utilizando séries de potências, como vimos nesta aula. Podemos encontrar a solução geral de uma EDO supondo que a função y que procuramos pode ser escrita na forma de uma série de potências. De fato, uma vez que sabemos as características de continuidade, derivação e integração de uma função descrita por uma série, podemos calcular uma solução para y. Esta solução segue alguns passos, que nem sempre são simples de realizar, principalmente a tarefa de definir o termo geral da série e aplicar o termo à função. Por isso, a solução analítica através das séries de Taylor pode ser uma boa alternativa. Lembrando que, mesmo definindo o termo geral da série, estamos tratando de coeficiente arbitrários na série. Na solução analítica, conseguimos definir o termo geral, mas sempre em torno de um ponto 𝑥0 e dentro de um raio de convergência 𝑅 da série. 𝑅 por sua vez é definido como a distância linear entre o ponto ordinário e o ponto singular, e converge no intervalo 0 0] , [x R x R− + . 11 Referências bibliográficas GUIDORIZZI, H. L. Um curso de cálculo. Volume 4. São Paulo: LTC, 2002. SIMMONS, G. F. Cálculo com geometria analítica. Volume 2. São Paulo: Pearson, 2010. COUTO, R. T. Notas de aula de Equações diferenciais IME - UFF. Disponível em: http://www.professores.uff.br/mjoao/wp-content/uploads/sites/78/2017/08/edos.pdf. Acessado em: 26/04/19 às 22h40min.
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