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IESI - CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PÓS-GRADUAÇÃO Letramento em LIBRAS Unaí/ MG 2016 Letramento em LIBRAS A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS LIBRAS é a Língua de Sinais usada pelas comunidades de surdos no Brasil, foi desenvolvida a partir da língua de sinais francesa, reconhecida pela Lei 10.436e essa mesma lei foi regulamentada em 2005 pelo Decreto 5.626/05, que dispõe: "O sistema educacional federal e sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua 15 Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente" (BRASIL, 2005). Ela não é uma simples gestualização, assim como as diversas línguas naturais e humanas existentes, ela é composta por níveis linguísticos, a diferença está pautada na sua modalidade de articulação, visual-espacial. Assim sendo, para se comunicar em LIBRAS, não basta apenas conhecer sinais. É necessário conhecer a sua gramática para combinar as frases, estabelecendo comunicação. Assim, a LIBRAS se apresenta como um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. A comunidade surda lutou muito para que a lei fosse aprovada e para que eles pudessem ter os mesmos direitos de pessoas ouvintes, esses mesmos que marcaram com muita luta, opressão e imposição. Como toda língua, as línguas de sinais aumentam seus vocabulários com novos sinais introduzidos pelas comunidades surdas em resposta às mudanças culturais e tecnológicas. Assim a cada necessidade surge um novo sinal e, desde que se torne aceito, será utilizado pela comunidade. Acredita-se também que somente exista uma língua de sinais no mundo, mas assim como as pessoas ouvintes em países diferentes falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo, que estão inseridas em “Culturas Surdas”, possuem suas próprias línguas, existindo, portanto, muitas línguas de sinais diferentes, como: Língua de Sinais Francesa, Chilena, Portuguesa, Americana, Argentina, Venezuelana, Peruana, Brasileira, Inglesa, Italiana, Japonesa, Chinesa, Uruguaia, Russa, Urubus-Kaapor (Índios), citando apenas algumas. Estas línguas são diferentes uma das outras e independem das línguas orais auditivas utilizadas nesses e em outros países, por exemplo: o Brasil e Portugal possuem a mesma língua oficial, o português, mas as línguas de sinais destes países são diferentes. O mesmo acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra, entre outros. Também pode acontecer que uma mesma língua de sinais seja utilizada por dois países, como é o caso da Língua de Sinais Americana que é usada pelos surdos dos Estados Unidos e do Canadá. Ainda que cada língua de sinais tenha sua própria estrutura gramatical, surdos de países com línguas de sinais diferentes comunicam-se com mais facilidade uns com os outros, fato que não ocorre entre falantes de línguas orais, que necessitam de um tempo bem maior para um entendimento. Isso se deve à capacidade que as pessoas surdas têm em desenvolver e aproveitar gestos e pantomimas (Arte ou ato de expressão por meio de gestos; mímica) para a comunicação e estarem atentos às expressões faciais e corporais das pessoas e devido ao fato dessas línguas terem muitos sinais que se assemelham às coisas representadas. No Brasil, as comunidades surdas urbanas utilizam a LIBRAS, mas além dela, há registros de outra língua de sinais que é utilizada pelos índios Urubus-Kaapor na Floresta Amazônica. Muitas pessoas acreditam que a LIBRAS é o português feito com as mãos, que os sinais substituem as palavras desta língua, e que ela é uma linguagem como a linguagem das abelhas ou do corpo, como a mímica. Entre as pessoas que acreditam que a LIBRAS é realmente uma língua, há algumas que pensam que ela é limitada e expressa apenas informações concretas, e que não é capaz de transmitir ideias abstratas. Esses mitos precisam ser desfeitos porque a LIBRAS, como toda língua de sinais, é uma língua de modalidade gestual-visual que é utilizada como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão; portanto, diferencia da Língua Portuguesa, uma língua de modalidade oral-auditiva, que utiliza, como canal ou meio de comunicação, sons articulados que são percebidos pelos ouvidos. Mas as diferenças não estão somente na utilização de canais diferentes, estão também nas estruturas gramaticais de cada língua. Uma semelhança entre as línguas é que todas são estruturadas a partir de unidades mínimas que formam unidades mais complexas, ou seja, todas possuem os seguintes níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. Entre as línguas é que os usuários de qualquer língua podem expressar seus pensamentos diferentemente, por isso uma pessoa que fala uma determinada língua utiliza essa língua de acordo com o contexto e o modo de se falar com um amigo não é igual ao de se falar com uma pessoa estranha, assim, quando se aprende uma língua está aprendendo também a utilizá-la a partir do contexto. Também é que todas as línguas possuem diferenças quanto ao seu uso em relação à região, ao grupo social, à faixa etária e ao gênero. O ensino oficial de uma língua sempre trabalha com a norma culta, a norma padrão, que é utilizada na forma escrita e falada e sempre toma alguma região e um grupo social como padrão. Ao se atribuir às línguas de sinais o status de língua é porque elas, embora sendo de modalidade de diferente, possuem também estas características em relação às diferenças regionais, socioculturais, entre outras, e em relação às suas estruturas porque elas também são compostas pelos níveis descritos acima. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas são denominados sinais nas línguas de sinais. Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros. Ao contrário do que se pensa a língua de sinais não é universal, pois acabam sofrendo influências de suas regiões, isso se dá de acordo com cada país ou estado, e também não são apenas mímicas, ou gestos limitados expressando apenas informações concretas. A Língua de Sinais é uma língua de modalidade gestual-visual porque utiliza, como meio de comunicação movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão. Portanto, ela é diferenciada da Língua Portuguesa de ouvintes que é uma língua oral- auditiva, porque na Língua Portuguesa utilizamos sons que são emitidos pela voz, que para um surdo é impossível de se perceber. Nas Orientações Curriculares: A Língua Brasileira de Sinais tem, para as pessoas surdas, a mesma função que a Língua Portuguesa na modalidade oral tem para as ouvintes e é ela, portanto, que vai possibilitar às crianças surdas atingirem os objetivos propostos pela escola, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa na modalidade escrita. (PEREIRA, 2008, pg.22) Os sinais são formados a partir de combinações das formas e movimentos das mãos e expressões faciais. As mãos têm importância fundamental, pois elas são utilizadas para a datitologia que é quando se utiliza o alfabeto com as mãos, como é no caso da Linguagem de Libras.Os movimentos podem ser utilizados ou não, isso irá depender de cada palavra, como nos utilizamos o som da voz eles utilizam os movimentos e expressões corporais para que se possam entender. As expressões faciais são as mais importantes para o entendimento real dos sinais, porque são elas que irão tomar o lugar dos sons, assim o tom da voz será com expressões faciais ou corporais, que dizem melhor quando há dor, quando há saudade e outras expressões que podemos utilizar para nos comunicar com outras pessoas sem que utilizemos palavras. Há algumas particularidades simples, que facilitam o entendimento da língua, como o fato de os verbos aparecerem todos no infinitivo e os pronomes pessoais não serem representados, sendo necessário apontar a pessoa de quem se fala para ser entendido. Há ainda algumas palavras que não tem sinal correspondente, como é o caso dos nomes próprios. Nessa situação, as letras são sinalizadas uma a uma para expressar tal palavra, utilizando assim o alfabeto. O alfabeto é representado pelos seguintes sinais: O alfabeto são os primeiros sinais a serem ensinados e mostrados aos seus aprendizes, sendo que eles possam ser ouvintes ou surdos, através dos sinais com as letras os aprendizes podem formar palavras, ou ate mesmo treinar para não ter tanta dificuldade em aprender os outros sinais que são representados por palavras, já que querendo ou não é necessário que os aprendizes consigam decorar ou memorizar os sinais. O treino para que não se esqueça os sinais é muito importante. A língua de sinais é uma língua natural porque assim como as línguas orais sugiram espontaneamente da interação entre pessoas. A sua estrutura permite a expressão de qualquer conceito - descritivo, emotivo, racional, literal, metafórico, concreto e abstrato enfim, permite a expressão de qualquer significado decorrente da necessidade comunicativa e de expressão do ser humano. A LIBRAS é dotada de uma gramática constituída a partir de elementos constitutivos das palavras, que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos, sintáticos e semânticos que apresentam especificidade, mas seguem também princípios básicos gerais. Estes são usados na geração de estruturas linguísticas de forma produtiva, possibilitando a produção de um número infinito de construções a partir de um número finito de regras. É dotada também de componentes pragmáticos convencionais, codificados no léxico e nas estruturas da LIBRAS e de princípios pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos metafóricos, ironias e outros significados não literais. Estes princípios regem também o uso adequado das estruturas linguísticas da LIBRAS, isto é, permitem aos seus usuários usar estruturas nos diferentes contextos que se lhes apresentam de forma a corresponder às diversas funções linguísticas que emergem da interação do dia a dia e dos outros tipos de uso da língua. A fonologia da língua de sinais identifica a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos da língua. A fonologia estuda as unidades mínimas que formam os sinais, suas combinações e suas variações, como configurações de mãos, ponto de circulação (que é a localização da mão), movimento, orientação da mão e aspectos não manuais dos sinais. Então todo movimento primário ou inicial das línguas de sinais são considerados fonológicos, para ficar mais fácil de entender, podemos citar que os principais parâmetros fonológicos de sinais são as configurações das mãos, os pontos de articulações, os movimentos e orientações das mãos. O movimento é muito importante porque participa ativamente na produção do sinal, dando graça e beleza. Os pontos de articulações são as parte do corpo ou do espaço em que ou perto do qual o sinal é articulado, como exemplos têm a cabeça, o tronco, a mão e o espaço. A orientação da mão é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal, como para cima, para frente, para a direita e para a esquerda. A morfologia estuda a estrutura interna das palavras ou dos sinais e das regras que formam as palavras ou sinais, assim como as palavras, a língua de sinais pertence a categorias lexicais ou a classe de palavras, tais como nome, verbo, adjetivo e advérbio. Atualmente muitas pessoas procuram o curso de libras, educadores, pais, e até mesmo pessoas que trabalham no comércio ou que trabalham com vários tipos de pessoas. O curso não só esta capacitando como fazendo a inclusão de pessoas com necessidades especiais auditivas em todos os lugares, pois as empresas estão incluindo essas pessoas nos seus espaços de trabalho e assim fazem com que seus funcionários se capacitem para que possa haver uma comunicação. A LIBRAS diminui os temores do surdo e é o que o constitui como cidadão. A ESTRUTURAÇÃO DA LIBRAS Classificadores- Um classificador (CL) é uma forma que estabelece um tipo de concordância em uma língua. Na LIBRAS, os classificadores são formas representadas por configurações das mãos, braços, dedos e todos o corpo para transmitir ações, formatos de objetos e situações, que lembram à realidade complementando o sentido da frase, situação ou sinal. Ajudam construir sua estrutura sintática, através de recursos corporais que possibilitam relações gramaticais altamente abstratas. Expressões Corporais e Faciais É a movimentação do corpo, braço, dedos, rosto, boca e olhos para o auxilio da sinalização. Usamos para identificar sujeitos, objetos e ações. Auxilia no processo de comunicação, pois a nossa comunicação com um surdo estará bem ligada a expressões faciais e posicionamento corporal, pois muitos sinais em sua configuração têm como traço diferenciador as expressões. Iconicicadade - A modalidade gestual-visual-espacial pela qual a LIBRAS é produzida e percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais são o “desenho” no ar do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a realização de um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a que se refere, mas isso não é uma regra. Mas a grande maioria dos sinais da LIBRAS são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu referente. Histórico e Cultura - Muitos sinais principalmente no Brasil são carregados de uma história de formação e cultura. Para entender por que ele recebe esta formação devem ser analisados os fatos e acontecimentos anteriores a seu uso. Com o passar do tempo, muitos outros sinais passam a ser criados ou modificados de acordo com a necessidade e surgimento de fatos na história da comunidade surda, e muitos outros vem sendo substituídos e modificados com o tempo. Além de passarmos pelo processo do dialeto do País, temos Regional e Social dando a possibilidade de variações destes. Empréstimos Linguísticos - Como em toda língua a LIBRAS se apropria de alguns sinais são realizados através da soletração, uso das iniciais das palavras, cópia do sinal gráfico pela influência da Língua Portuguesa escrita. Estes empréstimos sofrem mudanças formativas e acabam tornando-se parte do vocabulário da LIBRAS. Além de passar a fazer empréstimos de outros sinais provenientes de países com a Língua de Sinais mais desenvolvida. Sinais - Da mesma forma que nas línguas orais-auditivas existem palavras, nas línguas de sinais também existem itens lexicais, que recebem o nome de sinais, que são gestos específicos usados para identificar uma pessoa, objeto, animal ou ação. Os sinais surgem da combinação de configurações de mão, movimentos e de pontos de articulação no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos, os quais, juntos compõem as unidades básicas da LIBRAS. AspectosLinguísticos - A LIBRAS como o português tem sua estrutura linguística, desde a Fonologia - que denominamos os Parâmetros-, morfologia, sintaxe, semântica, lexicologia e pragmática. LIBRAS - Está é a Língua de Sinais usada pelas comunidades de surdos no BRASIL, reconhecida pela Lei 10.436. Ela não é uma simples gestualização, assim como as diversas línguas naturais e humanas existentes, ela é composta por níveis linguísticos, a diferença está pautada na sua modalidade de articulação, visual-espacial. Assim sendo, para se comunicar em LIBRAS, não basta apenas conhecer sinais. É necessário conhecer a sua gramática para combinar as frases, estabelecendo comunicação. Assim, a LIBRAS se apresenta como um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. DATILOLOGIA A Datilologia, arte de conversar usando os dedos, é usada em muitas línguas gestuais, com vários propósitos: representar palavras (especialmente nomes de pessoas ou de localidades) que não têm gesto equivalente, para ênfase ou classificação, para se ensinar ou aprender uma determinada língua gestual usando a oral como referência. Fazemos grande uso desta para, soletrar palavras ou nomes próprios, usar os numerais, recursos matemáticos e ditar textos. A Datilologia tem a sua origem em Espanha. A sua fonte conhecida mais antiga, a obra do monge franciscano Mechor Sánchez de Yebra (1526-1586), foi publicada em 1593. Outro monge espanhol, contemporâneo de Sánchez Yebra, Pedro Ponce de León (1508-1584), também tinha feito uso de um alfabeto manual para educar vários meninos surdos. A difusão alcançada pelo alfabeto manual de Sánchez de Yebra. Pablo Bonet era secretário da família Fernandez de Velasco, que tinha vários surdos, por causa dos frequentes casamentos entre parentes, realizados para manter o patrimônio vinculado à família. No século XVIII, a Datilologia surgiu em França, através de Jacob Rodriguez Pereira e em 1816, através de Thomas Hopkins Gallaudet, e foi levada para os EUA. Assim a Datilologia foi inserida nas línguas gestuais, por educadores, tanto ouvintes como surdos, servindo como ponte entre a língua gestual e a língua oral que a rodeia. Hoje a Datilologia se apresenta nas seguintes formas: ALFABETO MANUAL O Alfabeto Manual é a representação em sinais da escrita da língua oral, por sua vez, saber usar e conhecer o alfabeto não é sinônimo de conhecer a língua de sinais. O alfabeto manual segue a mesma estrutura de sequência do alfabeto oral do país, assumindo muitas vezes as formas que as letras se assemelham quando as mãos se movimentam. REPRESENTAÇÃO NUMÉRICA: Os numerais são as variações que a mão predominante assume se assemelhando ao referente: números de Quantidade, Ordinais, Cardinais, variações. Fazemos uso destes quando precisamos sinalizar; número de casa, idade, aulas de matemática, horas, quantidades, ordem e outros. Quando usamos números de mais de 2 dígitos movimentamos a mão da esquerda para a direita, separando bem dando melhor visual da escrita espacial. CARDINAL São usados para definir valor numérico, como número de telefone, casa e operações matemáticas. Nas dezenas a mão fica parada. Nos números de 1-4 a palma da mão fica virada para o corpo. Nos números que tem o zero a esquerda, apenas rotacionará o pulso. Os números 11, 22, 33, 77 são sinalizados com o dedo indicador para frente e vibratório, não repetitivo. QUANTIDADE Estes são usados para definir quantidade específica de algo. As quantidades de 1 ao 4 são sinalizadas a partir do dedo indicador virados com as pontas para cima. As quantidades de acima de 5 são sinalizadas da mesma maneira que os números cardinais. ORDINAIS Os sinais para 1º a 9º são feitos com a mão tremendo. Os sinais para dezenas (10º, 20º, etc.) São feitos com a mão parada. Variando as situações, classificaremos o contexto para perceber que se trata de um numeral ordinal. Valores Os valores referentes a R$1,00 a R$9,00 são feitos com a mão rotacionando em mesmo sentido. Já os valores de R$10,00 em diante são usados os números cardinais com o sinal de real na sequência. ACENTUAÇÃO E PONTUAÇÃO Como na língua portuguesa, precisamos usar também acentuação e pontuação nas palavras ou frases soletradas, de acordo com a necessidade. Assim toda acentuação e soletração, é desenhada com o dedo indicador da mão predominante ou ambas. MATEMÁTICOS Para efetuar contas precisaremos utilizar tal recurso, assim articularemos os dedos indicadores e outros assemelhando a mão aos símbolos matemáticos aos quais se referem. SOLETRAÇÃO RÍTMICA (SINAIS SOLETRADOS) Além dos sinais comuns que tem semelhança com seu referente, muitas vezes a língua de sinais faz empréstimos do português de palavras simples e muito usadas, assim denominamos estas palavras soletradas por todas as letras ou as suas iniciais como Sinal Soletrado. SOLETRAÇÃO Na soletração, é de suma importância configurar bem as mãos, destacando altura necessária (preferencialmente usando um pano de fundo, que é o peitoral), suavizar a mudança entre as letras e pausar quando necessário em uma palavra composta. Para isto, é expresso na última configuração articulada uma ênfase levantado, abaixando ou fazendo um leve movimento rápido na última letra da palavra. Quando usamos nossas mãos para soletrar, podemos comparar com uma árvore, o tronco não se meche apenas as folhas balançam ao vento, ou seja, não precisamos movimentar o braço nem sair com ele do lugar. Para perceber bem a soletração devemos sempre atentar para as sílabas, não letras isoladas, e ler a palavra como um todo ao invés de ler as letras separadas. SAUDAÇÕES O cumprimento é uma forma de saudação amigável entre duas pessoas ou entidades, geralmente com algum gesto ou fala. Em toda e qualquer cultura ou povo, se prioriza fazer uso deste. Os gestos que simbolizam os cumprimentos variam de cultura para cultura. No Ocidente e na maioria do mundo, entre homem-homem costuma-se utilizar o aperto de mão. Entre homem-mulher, mulher-mulher que não tem certa intimidade, também. É comum se utilizar um, dois ou até três beijos no rosto entre homem-mulher, mulher- mulher que já são colegas ou amigos há algum tempo. Na língua de sinais seguimos os mesmos padrões culturais de formalidade e informalidade. Apenas a maneira de expressa-los será diferente. No geral os cumprimentos têm a base do sinal para BOM seguindo do momento do dia que a pessoa está vivenciando no momento. O Letramento e a Alfabetização na Educação de alunos portadores de Necessidades Auditivas A palavra letramento é recente em nosso vocabulário de Educação linguística no Brasil, e foi citada pela primeira vez por volta dos anos 1980. Para Magda Soares (1999, p.86) letramento pode ser, estado ou condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as praticas sociais da leitura e escrita, que circulam na sociedade em que vivem, conjugando-as com as praticas sociais de interação oral. Leda V. Tfouni que utiliza a palavra Letramento em seu livro “Adultos não Alfabetizados: o avesso do avesso(1988)”, emprega o termo e faz a diferença entre as palavras Alfabetizado e Letrado como: Alfabetizado sabe ler e escrever, e Letrado vai além de saber ler e escrever, o letrado faz o uso da língua. A verdade é que muitos autores utilizam e falam sobre Alfabetização e letramento de uma forma ou de outra igualmente, cada um defende sua teoria, mas que acaba tendo o mesmo significado, o de que a alfabetização não é meramente a habilidade para decodificar e compreender a escrita, mas quando todos são ou estão alfabetizadoseles utilizam a leitura para a execução das praticas que constituem sua cultura. Já o Letramento promove e desenvolve os processos mentais, tais como o raciocínio, a memória ativa, a resolução de problemas e a superar dificuldades encontradas no dia-a-dia, não significando que pessoas não alfabetizadas possam ser incapazes de resolver ou desenvolver tais processos. Letramento é um estado ou condição que se adquire pela apropriação dos atos de ler e escrever como novas formas de expressão da identidade humana e da comunicação social é uma pratica social e um processo sócio histórico, pois ele cresce e evolui conforme a sociedade evolui. Não se pode alfabetizar alguém no sentido de informar-lhe a tecnologia de decodificação e codificação da língua escrita. É preciso alfabetizar letrando, é necessário oportunizar praticas sociais da língua escrita, e é preciso levar em conta os diversos contextos nos quais as praticas sociais da língua escrita se dão, considerando o meio onde vivem os sujeitos, criando assim as oportunidades de letramento. Principalmente para os órgãos governamentais, ser alfabetizado basta apenas para assinar ou reconhecer o próprio nome, mas todos sabem que isso apenas não é suficiente para, adquirir ou manter um emprego ou para lidar com as instituições das sociedades. O que leva a crer que a educação sempre será um dos instrumentos mais importantes para que a sociedade possa lutar contra as desigualdades, e para enfrentar processos de exclusão social, e assim poder ampliar os valores cívicos e democráticos sem exclusão de qualquer indivíduo, seja ele deficiente físico, mental, idoso, criança, rico ou pobre. O importante é que todos tenham e possam desenvolver um crescimento pessoal melhorando sua qualidade de vida, principalmente para o indivíduo com necessidades especiais como a surdez que hoje já está sendo incluído nas salas de aula com a perspectiva que compreende que o indivíduo surdo deve adquirir sua língua materna, a língua de sinais, e a língua oficial do seu país. O indivíduo surdo é bi cultural, pois está inserido em culturas diferentes, porque a cultura de um ouvinte não é a mesma que a de um surdo. Então para que aluno com de necessidade especial como a surdez seja alfabetizado e letrado em língua portuguesa, é necessário que primeiro conheça a Língua Brasileira de Sinais, que será utilizada para se comunicar com varias pessoas, sejam elas ouvintes ou surdas. O surdo irá a uma escola seja de ensino regular ou especial usar o bilinguismo, que o ajudará a ter o desenvolvimento linguístico e cognitivo semelhante ao observado em crianças ouvintes. Para as Orientações Curriculares: Numa educação bilíngue, [...] a Língua Portuguesa é considerada a segunda língua dos alunos surdos, o que significa que seu aprendizado vai se basear nas habilidades linguísticas adquiridas na Língua Brasileira de Sinais. (PEREIRA, 2008, pg.22) O bilinguismo é um dos movimentos da inclusão de alunos com deficiência auditiva nas salas de aula, porque ele tem por base o reconhecimento e a aceitação social, criando assim condições para que diferentes pessoas em diferentes regiões possam criar ou ter oportunidades no convívio social. Para uma educação bilíngue, a escola deve oferecer intérpretes de língua de sinais, educadores surdos ou que possuem a linguagem de sinais e professores ouvintes que sejam usuários da língua de sinais e capacitados para o ensino do português como segunda língua. Precisa também elaborar um currículo que respeite a diferença da surdez, para os surdos identificarem-se com a cultura de sua comunidade e não somente com a cultura dos ouvintes. Não se pode esquecer que a língua de sinais deve ser a primeira que o aluno deve aprender, e que o bilinguismo só deve ser passado ou transmitido ao aluno depois dele ter aprendido a língua de sinais, que é a mais importante para ele, e que fará com que possa conhecer o mundo e possa ter sua independência. Alunos Alfabetizados ou Letrados Para que se possa entender todo o processo de alfabetização e letramento de alunos com necessidades auditivas troca-se experiências através de entrevistas e conversas com professores que trabalham diretamente com alunos surdos. Compreende-se que a LIBRAS faz com que os alunos tenham o primeiro contato com o mundo a sua volta, assim ele realiza a leitura da palavra ou a leitura do gesto, então é importante que o aluno seja alfabetizado em LIBRAS de acordo com a sua realidade, desta forma ele ira bem além da memorização da interpretação de códigos. Dessa forma a alfabetização em LIBRAS desse ser a porta de entrada para o individuo no mundo. O letramento do aluno é preciso que ele em primeiro lugar tenha consciência ou noção da diferença entre significação e tema, os alunos devem entender que as palavras têm significados, mas que ganham sentido quando ganham sentido na experiência individual. Dessa forma podemos dizer que a alfabetização e o letramento dos alunos portadores de necessidades especiais auditivas são como de pessoas que não possuem, pois ambas são alfabetizadas com a teoria e letradas com as experiências vividas do individuo, a diferença é que o portador de necessidades auditivas utiliza-se de sinais para se comunicar, e a maior parte deles é memorizada, então é preciso que se trabalhe muito a memorização. É preciso alfabetizar e letrar o surdo em LIBRAS, para que adquira habilidades, na escrita do Português e vá além de sua mera decodificação. A LIBRAS simboliza a língua falada, tornando-a objeto de interação espontânea e entendimento, que são os requisitos para capacitar uma pessoa como letrada. A alfabetização da escrita é um processo lento que nem sempre há sucesso por total, muito dos alunos não conseguem chegar a escrever textos inteiros ou ler textos por completo, apenas chegam a escrever algumas palavras, dessa forma não conseguem percorrer por todo o processo da escrita. Para se alfabetizar um aluno surdo o professor mostra figuras e logo mostra os sinais, assim a criança vai assimilando figura e sinal. O processo vai de acordo com a criança, nem sempre a maneira que uma criança aprende será o mesmo que a outra criança, isso irá depender muito de cada criança e de seus processos individuais. A criança com maior dificuldade terá um aprendizado diferenciado, mais isso não significa que ela não ira aprender. Segundo Svartholm (1998): A única forma de assegurar que os textos se tornem significativos para os alunos surdos, é interpretá-los na língua de sinais, em um processo semelhante ao observado na aquisição de uma primeira língua. (apud PEREIRA, 2008, pág.2008) Por isso a importância da primeira língua que é a LIBRAS. Outro aspecto muito importante também no processo de alfabetização na escrita é o aspecto emocional, a criança deve estar preparada e amparada pelos pais. Ninguém fala a mesma língua sobre a alfabetização de surdos O consenso a respeito da Educação para esse público só será possível quando discurso e prática estiverem ajustados Quando se trata de alfabetização de crianças e jovens surdos, não existe unidade no país. De um lado, há quem defenda uma Educação inclusiva em escolas regulares, sob o argumento principal de que a convivência com os demais alunos é fundamental ao desenvolvimento. De outro, está grande parte da comunidade surda, que crê que esse público está mais bem assistido, até ao menos o 5º ano do Ensino Fundamental, em instituições de ensino bilíngues, que têm a língua brasileira de sinais (LIBRAS) como primeiro idioma. Em um ponto, todos concordam: para que alunos com surdez aprendam a língua portuguesa, precisamser alfabetizados em LIBRAS, e a escola tem um papel fundamental nesse processo. O psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934) afirma no livro A Formação Social da Mente (186 págs., Ed. Martins Fontes, tel. 11/3116-0000, edição esgotada) que a língua não é somente uma forma de comunicação, mas também uma função reguladora do pensamento. Aprender a linguagem de sinais é, portanto, imprescindível para que a criança surda tenha plenas chances de se desenvolver. Como mostra o Programa de Avaliação Nacional do Desenvolvimento Escolar do Surdo Brasileiro (Pandesb), quem sabe libras aprende mais e melhor a ler e escrever em português. A prova mediu competências como compreensão de textos e de sinais e qualidade da escrita de mais de 9 mil estudantes com surdez em 15 estados. É crucial, então, colocar em discussão as políticas necessárias para garantir esse aprendizado. A defesa da escola inclusiva, aberta a todos, tem como fundamento a noção de que o processo de desenvolvimento passa pelo convívio com as diferenças. Afinal, é na Educação Básica que se constrói o alicerce para uma sociedade também inclusiva. Em uma atuação pedagógica voltada a atender cada um - com variados ritmos e formas de aprendizagem, são adotadas diversas estratégias de ensino benéficas a todos. A convivência possibilita aos ouvintes se apropriarem da LIBRAS, enquanto as crianças surdas criam outros meios de se comunicar para além da língua de sinais. No âmbito político e pensando no que seria ideal para o país, temos de reivindicar escolas públicas para todos, capazes de incluir e garantir o aprendizado a cada aluno. O cerne da questão é como fazer com que isso funcione na prática e que medidas tomar enquanto os problemas não se resolvem. O discurso inclusivo, infelizmente, não veio acompanhado de políticas públicas que o viabilizassem, como investimento em formação adequada de professores para o ensino da LIBRAS. O Programa Nacional para Certificação de Proficiência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais (ProLIBRAS), do Ministério da Educação (MEC), por exemplo, certificou somente 6.507 profissionais entre 2006 e 2012, sendo que o país conta com mais de 2 milhões de professores. Soma-se a isso a falta de intérpretes e a ausência de uma estrutura inclusiva nas escolas. Uma pesquisa realizada por Maura Corcini Lopes e Eliana da Costa Pereira de Menezes, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), mostrou que, de 466 alunos surdos contactados, 116 estudavam em 43 escolas inclusivas. Para atendê-los, havia só 23 intérpretes, sendo que 12 atuavam em outras funções, seis eram professores em sala e um trabalhava como itinerante. Em 74% das escolas, não havia outro surdo, além do aluno em questão. Escolas bilíngues Esses problemas dão força aos argumentos dos defensores da escola bilíngue em libras-português. O principal deles é que não existe na instituição pública regular uma Educação que trate libras como a língua materna desses alunos, apesar de a Lei nº 9394/96 e o Decreto Federal nº 5.626, de 2005, estabelecerem esse direito. Quando há o Atendimento Educacional Especializado (AEE), ele ocorre, na maioria das vezes, no contra turno e poucos dias por semana, tempo insuficiente para o aprendizado da LIBRAS como primeiro idioma. Sem desenvolver o conhecimento da língua materna, os gestos realizados pelo intérprete não passam de mais códigos sem sentido para a criança surda, assim como são as palavras e os números. Além disso, o método de alfabetização adotado em muitas escolas é o fônico, apoiado nos sons das letras. Nesse caso, a tradução literal feita em sala por um intérprete não funciona. É necessário ensinar o português com uma metodologia condizente com as necessidades do aluno, mais apoiada no uso de recursos visuais. Os problemas se refletem na baixa presença de crianças surdas nas escolas comuns. Embora as matrículas estejam aumentando, ainda são pouco significativas. De acordo com o Censo Escolar 2012, há 27.540 alunos com surdez matriculados em turmas regulares (leia o gráfico abaixo). Segundo o Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, há 800 mil pessoas surdas ou com deficiência auditiva até 17 anos no país. Na tentativa de garantir a aprendizagem dessas crianças, a comunidade surda se agarra a um tipo de ensino voltado exclusivamente às necessidades delas. Por influência desse grupo, a meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020, em tramitação no Congresso, foi modificada, abrindo a possibilidade de atendimento em escolas bilíngues. Essa opção, no entanto, não é a ideal, porque não garante o acesso a todos. Manter escolas bilíngues em todos os bairros do país é uma tarefa quase impossível e o acesso escolar é um direito. Além disso, priva a criança de conviver com o diferente. O melhor seria que as instituições regulares fossem capacitadas para atender a todos. A solução, portanto, pressupõe a elaboração e implementação urgente de políticas públicas que deem suporte à inclusão de crianças surdas. A escola tem de se tornar uma comunidade bilíngue, com livros, filmes e outros materiais adaptados, sinalizações nas duas línguas, oportunidades de trabalho a funcionários surdos e realização de palestras e cursos de libras a todos. O primeiro passo é investir em formação de educadores, fazendo com que a LIBRAS seja parte do cotidiano, não se restringindo à sala de AEE. Enquanto o país postergar a adoção de tais medidas, a inclusão desses estudantes existirá apenas no discurso. Matrículas de surdos Cresce acesso à escola regular Apropriação do Sistema de Escrita Alfabética – SEA Quando falamos em escrita nos remetemos rapidamente à questão do som. Porém, as pessoas surdas que não têm o som como base para o aprendizado da escrita, acabam encontrando algumas dificuldades no momento desse processo. Conforme Leal e Morais (2010), no SEA os grafemas representam as consoantes e as vogais, há a relação entre a grafia e a pauta sonora, representando o significante e não o significado. As combinações das letras, que são símbolos convencionais, formam as diferentes sílabas. Atualmente, nem todas as línguas adotam o SEA, embora a maioria o utilize por sua possibilidade de notar diversos tipos de sons, sem a necessidade de memorizar centenas ou milhares de símbolos. É importante ressaltar que o SEA não é um código, aonde você aprende as letras e simplesmente agrupa-as formando as palavras, trata-se de um sistema notacional, no qual, se deve compreender como as palavras são formadas e as regras desse sistema. Segundo Leal e Morais (2010), os aprendizes do SEA precisam desvendar a lógica de funcionamento desse sistema. Relacionamos, a seguir, os conhecimentos que o indivíduo precisa construir para entender as propriedades desse sistema: a) Escreve-se com letras, que não podem ser inventadas, que têm um repertório finito e que são diferentes de números e outros símbolos; b) As letras têm formatos fixos e pequenas variações produzem mudanças na identidade das mesmas (p, q, b, d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p, P, p); c) A ordem das letras é definidora da palavra que, juntas, configuram e uma letra pode se repetir no interior de uma palavra e em diferentes palavras; d) Nem todas as letras podem vir juntas de outras e nem todas podem ocupar certas posições no interior das palavras; e) As letras notam a pauta sonora e não as características físicas ou funcionais dos referentes que substituem; f) Todas as sílabas do português contêm uma vogal; g) As sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes, vogaise semivogais (CV, CCV, CVSv, CSvV, V, CCVC...), mas a estrutura predominante é a CV (consoante-vogal); h) As letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos; i) As letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra (LEAL E MORAIS, 2010 p. 36). Assim, cabe ao professor ajudar seus alunos a descobrirem essas propriedades, criando atividades que oportunizem a reflexão sobre o SEA. Até que compreendam o seu funcionamento, os aprendizes passam por um processo evolutivo. A partir disso, pensamos na apropriação da escrita pelas pessoas surdas que ocorre de forma diferente, já que elas têm impedimento auditivo o que torna a apropriação da escrita mais complexa. Assim, Pela mediação de leitores experientes, a criança ouvinte estabelece relações significativas entre oralidade e representação escrita das palavras. Assim, torna-se capaz de evocar o som e o significado de palavras e sentenças ao perceber visualmente a escrita. No caso da criança surda, o domínio da língua escrita ocorre pelo canal visual. Ela percebe visualmente um determinado símbolo gráfico que a remete à recuperação mental do sinal também visual, em Libras, e este, por sua vez, permite significar a palavra escrita (FERNANDES, 2003, p. 20). O caminho percorrido pela pessoa surda durante o processo de apropriação da escrita através de estímulos visuais faz com que esse processo tenha mais sentido para a pessoa surda. A LIBRAS é o elemento indispensável para que essa apropriação aconteça com sucesso, pois é a língua que dará o subsídio necessário, visto que, ela é a língua natural da pessoa surda. No entanto, atualmente a aquisição do português escrito por crianças surdas ainda é baseada no ensino do português para crianças ouvintes que adquirem o português falado. A criança surda é colocada em contato com a escrita do português para ser alfabetizada em português seguindo os mesmos passos e materiais utilizados nas escolas com as crianças falantes de português. Várias tentativas de alfabetizar a criança surda por meio do português já foram realizadas, desde a utilização de métodos artificiais de estruturação de linguagem até o uso do português sinalizado (QUADROS; SCHMIEDT, 2006, p. 23). A língua de sinais e a Língua Portuguesa na modalidade oral são a base do letramento de crianças surdas e ouvintes respectivamente, porém como a estrutura da língua de sinais é diferente da Língua Portuguesa, já que a primeira é espaço visual e a segunda oral auditiva, a unidade mínima da palavra (fonema) não faz sentido para o indivíduo surdo. O ouvinte associa o som do fonema /s/ com a escrita da palavra sapo, por exemplo, já para o surdo, a escrita da palavra sapo nada tem a ver com a configuração de mão (forma da mão) que é utilizada na composição do sinal da palavra sapo, dificultando o aprendizado da Língua Portuguesa escrita pelo sujeito surdo. O desafio de ensinar Língua Portuguesa a alunos surdos Conheça as expectativas de aprendizagem para esses estudantes, desde a Educação Infantil até o 9º ano. Flexibilizar atividades e investir em experiências visuais contribuem para a inclusão Ensinar uma língua escrita para quem desconhece a oralidade é um desafio para todos os professores com alunos surdos em suas turmas. As principais dificuldades não decorrem da surdez em si, mas da falta de conhecimento da Língua Portuguesa falada. Hoje, boa parte desses estudantes comunica-se com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), uma língua visual-espacial, que possui estrutura própria. Para ajudá-lo a incluir os estudantes com deficiência auditiva, organizamos uma síntese das principais expectativas de aprendizagem para esses alunos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, quando matriculados em turmas regulares, com base nas principais orientações curriculares para o ensino de Língua Portuguesa para pessoas surdas, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. É importante lembrar que, mesmo que não alcancem os mesmos resultados obtidos pelos alunos ouvintes, os estudantes com deficiência auditiva precisam participar de todas as aulas. Se o aluno surdo ainda não for capaz de escrever um texto, faça com que ele contribua para as atividades escrevendo listas ou frases sobre o tema abordado. Produções coletivas ou em pequenos grupos também ajudam o aluno a se expressar melhor pela escrita. O importante é que ele sempre conte com o apoio visual da escrita. O professor deve registrar todas as atividades e utilizar recursos diferenciados - como letras móveis ou cores diferentes para designar elementos distintos de uma frase, por exemplo. Fazer com que o aluno surdo sente-se nas carteiras da frente é outra medida essencial, assim como atuar em conjunto com o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Educação Infantil A maioria das crianças surdas nasce em famílias de ouvintes. Por isso, só aprende LIBRAS quando entra na creche ou na pré- escola. Ao final desse período, espera-se que essas crianças consigam narrar histórias simples na língua de sinais. Utilizar cartazes com a representação de palavras em LIBRAS e em Língua Portuguesa é uma ação que ajuda a por as crianças com deficiência auditiva em contato com a Língua Portuguesa escrita desde cedo - já que a apreensão desta língua é visual para o aluno surdo. As imagens também devem ser bem exploradas pelos educadores durante os momentos de leitura. É importante que os pequenos possam observar as ilustrações e compreendê-las como elementos complementares à narrativa. O mesmo vale para a elaboração de listas. O educador pode organizá-las com as imagens dos objetos e os nomes correspondentes escritos em português e em sinais. O uso de DVDs de histórias contadas em LIBRAS por outras crianças ou de DVDs de brincadeiras com regras interpretadas em LIBRAS associadas às imagens são recursos importantes no dia a dia da pré-escola. Embora todas as escolas regulares com alunos surdos matriculados tenham o direito de contar com um intérprete de LIBRAS, é imprescindível que, desde muito pequena, a criança com deficiência auditiva seja orientada a olhar para o rosto do interlocutor. Assim, ela poderá observar expressões, gestos e sinais para, aos poucos, adquirir a capacidade de fazer a leitura orofacial, que será útil para as aprendizagens futuras e para a interação com os outros. Ensino Fundamental I O erro mais comum Tentar "oralizar" a criança surda - mesmo as que possuem resquícios de audição. O ideal é que todos dominem LIBRAS para então aprender uma segunda língua, que é a Língua Portuguesa em sua modalidade escrita. A tentativa de oralização prejudica o desenvolvimento, pois impede que a criança aprenda tanto a Língua Portuguesa falada quanto a LIBRAS. Ao chegar ao 1º ano, espera-se que os alunos com deficiência auditiva que passaram pela Educação Infantil saibam comunicar-se em Libras e sejam capazes de escrever o próprio nome. Mas vale lembrar que essas crianças começam o Ensino Fundamental sem conhecimento da Língua Portuguesa falada e, por isso, não partem do mesmo princípio que os alunos ouvintes para aprender a ler e a escrever. A apropriação do sistema alfabético, nesses casos, se dá através da visão e, por isso, o planejamento de atividades intensas de leitura com interpretação em Libras e com a utilização de recursos visuais (como imagens e letras móveis) são ações fundamentais para que a criança seja alfabetizada em um contexto de letramento. Orientações Ao contar histórias para o aluno com deficiênciaauditiva, faça com que ele observe detalhes da escrita e da ilustração. As palavras grafadas sempre devem estar associadas ao seu significado interpretado em Libras. Elabore atividades de escrita de listas e organize coleções com a turma. Crachás com os nomes de todos podem ser usados em sala, assim como desenhos relacionados a palavras - a memória visual, para a criança com deficiência auditiva é muito importante. O maior desafio para o aluno surdo é que ele compreenda a língua como prática social. O acesso a diferentes materiais escritos, portanto, é crucial para ampliar o conhecimento linguístico do aluno e fazer com que ele consiga produzir textos coerentes em Língua Portuguesa até o final do 5º ano. Alunos surdos cantam, dançam e interpretam na aula de Arte Trabalhar música, dança e teatro com alunos surdos ainda é raridade. Conheça três exemplos de professores que fazem isso com qualidade TEATRO INCLUSIVO Na EM Severino Travi, alunos ouvintes e surdos exibem-se em palcos de festivais e outras escolas Há muito tempo, se fala em inclusão de crianças com deficiência nas escolas. Cenas como a da foto acima, porém, continuam sendo raras. Trata-se de um grupo de teatro escolar que mistura alunos deficientes auditivos com ouvintes. Na EM Severino Travi, em Canela, a 122 quilômetros de Porto Alegre, as atividades de Arte integram normalmente os surdos. A trupe teatral já participou de vários festivais, ganhou prêmios e sempre é muito aplaudida. Além disso, a garotada tem uma fanfarra - e todos concordam que o contato com as diferentes expressões artísticas ajuda a turma também nas outras disciplinas, sem falar na integração entre os alunos. O Severino Travi, no entanto, ainda é exceção. Mas, ainda que o número de surdos matriculados em escolas regulares venha aumentando (só nos últimos dois anos, o crescimento foi de 21%, segundo o Censo Escolar), os próprios especialistas têm dificuldades em indicar boas experiências de ensino de Arte que incluam esse público específico. Felizmente, há (sim) professores desenvolvendo bons trabalhos de Arte que incluem crianças e jovens que sofrem em algum grau, com a deficiência auditiva. E, como acontece com as outras disciplinas, os resultados são sempre muito animadores. Os surdos estão mais habituados a gesticular e perceber emoções nos outros. Por isso, quando convocados a se expressar por meio de caras, bocas e movimentos do corpo, eles tiram de letra. Para ficar no exemplo do teatro, é possível montar um espetáculo falado na Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS), trabalhar com mímica ou mesmo criar personagens que não falam, mas interagem com os outros. Basta lembrar que, antes de surgir a tecnologia que permitiu criar filmes falados, todo mundo entendia o cinema mudo. Nas artes visuais, a audição não costuma ser o sentido mais importante. E muita gente sabe que, para dançar, basta sentir a vibração da música (e não é preciso ouvir para sentir essa vibração). Nesta reportagem, você vai conhecer as histórias de três escolas que desenvolvem projetos de qualidade que incluem jovens surdos em atividades de teatro, dança e música. Afinal, como escreveu o russo Leon Tolstói (1828-1910), a Arte é mesmo "um dos meios que unem os homens". Boas formas de usar o intérprete nas aulas de teatro Vale lembrar que foi só em 2005 que entrou em vigor a lei que garante o direito de ter um intérprete na sala de aula. Mas outra mudança, dizem os especialistas, também foi fundamental para aumentar a participação dos surdos nas escolas regulares. "As famílias estão mais conscientes sobre as possibilidades dos filhos. Essa mudança de postura foi a grande responsável pelo aumento do número de matrículas", diz Maria Sílvia Cárnio, coordenadora de um grupo de teatro com surdos e docente do curso de Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo (USP). "Ser participante de uma manifestação artística melhora muito a visão que o aluno tem de si próprio. No palco, ele está no centro e se sente ainda mais integrado", completa. No dia a dia, há outros benefícios importantes. O teatro auxilia também no aprendizado da Língua Portuguesa. "A leitura das peças melhora a escrita e ajuda a entender as regras gramaticais, a ampliar o repertório cultural e a desenvolver a oralização daqueles que conseguem falar", destaca Maria Sílvia. Em Rio Branco, todos têm muito contato com a língua escrita: ao apreciar montagens em vídeo, acompanham as histórias com legendas e, ao ler textos teatrais, aprendem a importância da pontuação para transmitir as ideias - como não existem pontuação e entonação em libras, aprender o português formal não é tão simples para os deficientes auditivos. Ensinar música para surdos pode parecer muito difícil. Mas basta lembrar que Beethoven (1770-1827) se tornou um gênio do cenário erudito depois que perdeu a audição. Por não ouvirem, os surdos têm os outros sentidos mais aguçados, o que lhes permite, por exemplo, captar com relativa facilidade as oscilações geradas pelas ondas sonoras. É por isso que eles conseguem notar a aproximação de uma pessoa. E é essa vibração a chave para atividades com instrumentos em classe. A EM Severino Travi, citada no início deste texto, faz isso há algum tempo com a garotada de 5º ano. O professor Rogério Heurich é também o maestro da fanfarra da escola, que conta com a participação de vários estudantes deficientes auditivos - quase todos eles tocam instrumentos de percussão. No início, os gestos usados para reger se confundiam com os sinais de LIBRAS. Junto com o intérprete da escola, ele bolou um jeito diferente de reger e acabou com os problemas de comunicação (leia mais na legenda da foto da página seguinte). "A surdez não é uma barreira. Como esses meninos são mais sensíveis às vibrações sonoras, conseguem grande precisão na hora de usar a força", explica Rogério. Quer saber mais? Laboratório de Leitura e Escrita da Fonoaudiologia da USP, tel. (11) 3091-7453 Lúcia Reily Cidadania, Surdez e Linguagem, Ivan Rodrigues Silva, Samira Kauchakje e Zilda Maria Gesueli (Orgs.), Ed. Plexus Explorando as imagens para dançar IMAGENS QUE VIRAM MOVIMENTO Primeiro, foram selecionadas imagens que inspiravam movimentos. Em seguida, os estudantes montaram uma sequência. Assim, as meninas surdas do CE Colemar Natal e Silva, em Goiânia, acompanharam as aulas de dança. "Os alunos podem inventar passos, analisar movimentos e pensar sobre o conteúdo, em vez de só copiar a coreografia", diz a professora Ana Paula Ruggiero. Na dança, a oscilação do som também tem papel importante. A vibração da música ajuda a marcar o ritmo - assim como o sapateado ou a marcação num tambor. Mas há várias outras formas de trabalhar coreografias em classe. "Luzes permitem indicar tempos no espetáculo", lembra Ana Paula Ruggiero, do CE Colemar Natal e Silva, em Goiânia. Ela conta que, no começo, sofreu para se comunicar com os alunos surdos do 5º ano, pois eles confundiam os sinais de libras com movimentos que a professora queria ensinar. A solução encontrada por Ana Paula foi explorar o sentido da visão. Em vez de partir diretamente para exercícios corporais, ela utilizou algumas aulas para trabalhar com imagens que remetem a movimentos, escolhidas pelos próprios alunos (leia mais na legenda da foto da página à esquerda). Ao combinar com eles o que cada ilustração queria dizer, no contexto da montagem que o grupo estava fazendo, ficou mais fácil para todos. Em vez de gesticular, a professora espalhou os desenhos pelas paredes da sala, o que permitiu que a moçada seguisse os passos da coreografia ensaiadaem conjunto. "Pegar a foto de uma bailarina em cena e fazer com que os alunos apenas copiem não aproveita o poder de criação que eles têm. Até figuras abstratas podem ser trabalhadas com a turma desde que o professor atribua um sentido às imagens e avance nessa aprendizagem", afirma Lúcia Reily, especialista em Arte na Educação Especial da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo. Como você viu aqui, incluir crianças e jovens com deficiência auditiva traz vantagens para todos. Os surdos, que muitas vezes se fecham num grupo (pela dificuldade de se comunicar), passam a se integrar mais. Já os ouvintes têm acesso à linguagem de sinais, o que facilita o contato com os colegas. Nas aulas de Arte, que naturalmente favorecem as trocas, esse interesse em compreender o outro aumenta. Os professores entrevistados contam que os surdos ficam mais sociáveis e, ao descobrir novas formas de se expressar, passam a se interessar mais pelas outras disciplinas também. Falar com as mãos Levar os surdos para a sala regular exige nova postura do professor, tato para lidar com o intérprete e, acredite, muitas explicações orais A inclusão de crianças com deficiência auditiva sempre foi polêmica, mas recentemente ganhou um novo rumo em nosso país. De acordo com a política do governo federal, elas não devem mais ficar segregados nas escolas especiais e precisam estudar desde cedo em unidades comuns, com um intérprete que traduza todas as aulas para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e o contra turno preenchido por atividades específicas para surdos. Problema resolvido? Nem de longe. Enquanto entidades do setor ainda denunciam a falta de estrutura para a implementação das regras, os docentes já começam a receber parte dessa nova clientela e estão criando formas próprias de trabalho - muitas com sucesso. Não é uma tarefa fácil nem existe uma fórmula conceitualmente correta para lidar com a situação. Cada caso é um caso. Para ensinar quem não ouve, tem que falar mais. E mudar deixar o giz em segundo plano. Cada tipo de relevo, clima e vegetação precisava de fotografias, desenhos, gravuras e muitos exemplos verbais. Em vez de simples mapas, o mundo passou a ser representado em bolas de isopor para facilitar a compreensão dos meridianos. Maria Inês Vieira, coordenadora do Programa de Acessibilidade da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Derdic-PUC), explica o motivo da necessidade de rever o uso do quadro-negro. "Mesmo que o surdo já saiba ler e escrever em português, ele demorará mais para entender orientações por escrito", diz. A especialista ensina que o ouvinte entende a sequência de palavras escritas porque tem uma cultura prévia oral. Já quem não ouve está sendo apresentado ao português como um todo e não conhece a organização da língua. "Os conjuntos de palavras podem não fazer sentido na maneira como ele aprendeu a pensar. É como traduzir apenas as palavras de um texto em alemão ou chinês. Não é o suficiente para a compreensão do todo", diz. Recursos diferenciados para a turma heterogênea O professor tem que perceber que quase tudo precisava ser adaptado: a postura, a maneira de falar, a avaliação e, principalmente, os materiais. Uma pessoa que cresceu sem escutar aprende por observação. Ela precisa ver, montar e perceber os conceitos de forma concreta. Com aulas visuais e exemplos palpáveis, que o professor conseguirá lecionar. Uso de material emborrachado, quadrados, cubos, jogos, dados e desenhos. Ensinar adição, por exemplo, com objetos que se agrupam. Para a multiplicação, dividir os próprios alunos da sala em quadrados desenhados no chão: três turmas de quatro igual a 12, cinco grupos de cinco crianças resultavam em 25. Trabalhar as frações com círculos desenhados na mesa em formato de pizza: com dois pedaços do total de oito, se faz um quarto. Até a probabilidade pode se tornar mais fácil com uma boneca de papel e várias roupas para combinar. No entanto, mesmo com materiais diferenciados e maior número de explicações orais, um cuidado essencial deve ser tomado para garantir um trabalho de sucesso. O educador precisa se policiar para não fazer duas versões da aula - uma para os alunos que escutam e outra para os deficientes auditivos. Como explica Ronice Muller, coordenadora do primeiro curso de licenciatura Letras-LIBRAS do país, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a base da inclusão é a integração total entre os alunos. "A escola deve se tornar bilíngue. Os colegas têm de aprender LIBRAS, afinal, no futuro, eles vão falar com os surdos inclusos na sociedade", afirma. Para isso, professores da língua de sinais devem dar aulas aos ouvintes e incentivar trabalhos em grupo. A falta que os intérpretes fazem na inclusão de alunos surdos Devido à ausência deste profissional nas escolas, entidades do setor ainda defendem a Educação especial segregada até o fim do Ensino Fundamental Em 2008, dos 64.150 alunos surdos recenseados pelo Ministério da Educação no Brasil, 54% estavam em classes regulares. Mas o primeiro levantamento que cruzará o número de intérpretes com as matrículas dos deficientes auditivos só deve ser feito este ano. Mesmo antes da divulgação dos resultados, especialistas e autoridades imaginam o que ele dirá: não há profissionais suficientes. É por causa da carência que entidades do setor ainda defendem as escolas especiais segregadas até o fim do Ensino Fundamental. Em muitas unidades de ensino regulares, alunos surdos ainda estudam sem intérpretes, o que revolta integrantes da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). "A inclusão não está funcionando", diz o diretor da entidade em São Paulo, Neivaldo Augusto Zovico. "Os professores estão despreparados e as secretarias de Educação não contratam intérpretes. Os alunos acabam frustrados por não entender nada e desistem", reclama. A coordenadora do Programa de Acessibilidade da Derdic-PUC, Maria Inês Vieira, defende o mesmo ponto de vista. "Acredito em inclusão na sociedade, mas não na Educação Básica", diz. Ela explica que, para o aluno surdo, o português é uma segunda língua e deveria ser ensinado após a primeira, LIBRAS. A diretora de Educação Especial da Secretaria de Educação Especial do MEC, Martinha Dutra, afirma que a inclusão total é uma questão de tempo. "Faltam profissionais porque tudo é muito novo. A própria regulamentação do intérprete no Ministério do Trabalho ainda está em curso, mas isso vai ser acelerado com a multiplicação do conhecimento de LIBRAS", argumenta. Pela nova perspectiva de trabalho das autoridades, as instituições especializadas deixam de receber verbas por crianças atendidas de maneira segregada, em escolas especiais. No novo modelo, essas entidades devem usar a experiência acumulada para ajudar a inclusão na rede pública, em contratos com estados e municípios, por exemplo. Outro fator que incentiva essa modernização é um decreto federal, assinado em 2008, que dobra o valor do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação (FUNDEB) para alunos com deficiência inclusos na rede regular, se atendidos pelo contra turno público e estudando regularmente com intérprete, como manda a lei. Texto complementar Literatura, prática e teoria Um amigo especial Síndrome de Down é o tema desta coleção. Em um dos enredos, um menino passa por vários questionamentos ao observar a rotina de seu vizinho esquisito. Vencendo a timideze o preconceito, inclusive dos pais, ele conclui que seu amigo Down é apenas diferente. EM CLASSE Utilize o livro para valorizar as infinitas diferenças que existem entre cada criança, e não para fortalecer a imagem do aluno com síndrome de Down como "o diferente". Procure fazer com que todos se habituem a falar do quanto são diferentes e do quanto isso é estimulante. Depois, peça a todos que escrevam ou falem para o grupo aquilo que acham mais diferente em si. Meu amigo down na rua; Meu amigo down na escola; Meu amigo down em casa, Claudia Werneck, 24 págs. cada um, Ed. WVA, tel. (21) 2493-7610. Ver e enxergar A história de Rodrigo é contada pelo seu melhor amigo, André, o primeiro a perceber que ele era cego, mas podia enxergar tudo. O autor não vê desde bebê, mas cresceu empinando pipa e brincando de carrinho de rolimã. Só mais tarde conheceu o preconceito e viu que em parte ele se deve à desinformação. EM CLASSE O livro é um guia prático que inspira atividades em sala. No enredo, a professora ajuda todos a entender como Rodrigo enxerga: de olhos vendados as crianças tocam em grãos de feijão e em chocolate e ouvem sons como barulho de chaves. Proponha a atividade à sua turma. Rodrigo enxerga tudo, Markiano Charan Filho, 36 págs., Ed. Nova Alexandria, tel. (11) 5571-5637. Mundão de tons sem fim Este é um dos cinco volumes da série Mundinho, para "leitores" de 2 a 5 anos. Com ilustração e texto em braile, o livro - que é quadrado só no formato - começa com a descrição das incontáveis cores presentes na natureza. EM CLASSE Aproveite o exemplo e faça com a turma uma lista de cores ligando-as a frutas, flores, animais e outros elementos encontrados na escola, no jardim ou na f eira. Vale também trabalhar a idéia do conviver com as diferenças, falando dos habitantes dos hemisférios norte e sul ou de pessoas com deficiência. UM MUNDINHO PARA TODOS, de Ingrid B. Bellinghausen, 24 págs., Ed. DCL, tel. (11) 3932-5222. Da cor de Flicts O autor trata o tema da diversidade com muito colorido. Literalmente. No lugar de crianças, ele conta a história de Flicts, uma cor rara e triste, que se sente excluída, feia e aflita por não existir no mundo nada que seja como ela. Um dia resolve sumir, e o destino de Flicts é uma singela surpresa. EM CLASSE Peça à turma que recorte muitos papéis de tonalidades diferentes. Com a colagem dos pequenos pedaços de papel, a garotada vai fazer uma bandeira representando uma classe que inclui todas as cores. FLICTS, Ziraldo, 48 págs., Ed. Melhoramentos, tel. (11) 3874-0880, Diferentes, mas iguais Versos e rimas descrevem uma escola onde todos são iguais mesmo sendo diferentes. “Lá na minha escola/ninguém é diferente/cada um tem seu jeito/o que importa é ir pra frente”. EM CLASSE A última página vale uma cópia colorida ampliada: os versos merecem atenção e o lindo desenho pode inspirar uma produção de mural coletivo com fotos 3x4 de todos, formando um grande círculo, como um planeta Terra. NA MINHA ESCOLA TODO MUNDO É IGUAL, Rossana Ramos, 20 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3864-0404, Oba, escola nova! Júlia tem 8 anos e adora ler, brincar com o dicionário e dar nome para tudo, até para três amigas especiais: Felizberta e Felizbina, suas muletas, e Joaninha, sua cadeira de rodas. Júlia vai entrar numa nova escola e quase não consegue dormir de tão ansiosa, pois antes estudava só com crianças com deficiência. EM CLASSE Consiga uma cadeira de rodas emprestada e promova passeios pela escola e pela vizinhança para detectar obstáculos e propor mudanças para a melhoria do acesso. JÚLIA E SEUS AMIGOS, Lia Crespo, 32 págs., Ed. Nova Alexandria, tel.(11) 5571- 5637, Muito prazer, Sílvia! Sílvia é uma menina que faz cara feia e bonita, canta, brinca de gangorra e de pirata com a mamãe, faz travessuras, fica de castigo, dança com o vovô e cavalga com o papai, nada como um peixe... e tudo em uma cadeira de rodas. EM CLASSE Depois da leitura, pergunte se algum dos desenhos poderia levá-los a perceber que Sílvia não anda. Quando ela brinca de pirata, por exemplo, a mãe segura as pernas dela com as próprias pernas. ESTA É SÍLVIA, Jeanne Willis e Tony Ross, 32 págs., Ed. Salamandra, tel. (11) 6090- 1500, Ninguém é perfeito Um acidente de carro e uma consequente paraplegia fazem a vida de Marcella dar uma guinada. A menina que arrasava nos jogos de vôlei se transforma numa pessoa triste, revoltada e sem esperança. Aos poucos, ela se recupera com a ajuda de diversas pessoas, entre elas o irmão, que, no final, conclui “...a gente é como um pedaço da noite. De longe, estrelas perfeitas. De perto, estrelas tortas!” EM CLASSE Proponha aos jovens que façam um levantamento no bairro sobre a acessibilidade física e estimule-os a redigir um relatório e enviá-lo à Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência. ESTRELAS TORTAS, Walcyr Carrasco, 104 págs., Ed. Moderna, tel. (11) 6090-1300, Um dia de glória Divertida e cheia de lições é a história dos garotos do time reserva de futebol da escola que nunca entram em campo, até que, um dia, os titulares pegam caxumba e não podem jogar a final. EM CLASSE O texto facilita a dramatização, atividade que pode estimular o difícil exercício de colocar-se no lugar do outro, e suscita o debate sobre a tolerância. DESPREZADOS F.C., Júlio Emílio Braz, 80 págs., Ed. Saraiva, tel. (11) 3613-3000, 15,90 reais Brincadeira de mau gosto Jéssica, 10 anos, é negra e enfrenta preconceito racial na escola. Nem a professora considera ofensivas as brincadeiras dos colegas. Mas um dia ela reage. EM CLASSE Para facilitar o debate, o texto destaca expressões pejorativas e faz refletir se a escola garante o crescimento intelectual e afetivo de crianças negras. TRAMAS DA COR: ENFRENTANDO O PRECONCEITO NO DIA-A-DIA ESCOLAR, Rachel de Oliveira, 112 págs., Ed. Selo Negro, tel. (11) 3872-3322, Medos e amizades Antônia e H são amigos, mas diferentes. Ela fala demais e ele de menos. Ele adora ler e ela só abre os livros que a professora manda. Ele faz o tipo bonitão e ela aquela em quem ninguém repara. Quando começam a confiar um no outro, passam a compartilhar seus medos. EM CLASSE Pergunte: o diferente pode causar medo? Peça aos alunos que respondam sem se identificar e troquem entre si as redações. Depois, cada um se manifesta sobre o medo do outro e diz o que pode ser feito para superá-lo. AMIGO SE ESCREVE COM H, Maria Fernanda Heredia, 128 págs., Ed. Nova Fronteira, tel. (21) 2537-8770, Educação de surdos: uma releitura da primeira escola pública para surdos em Paris e do Congresso de Milão em 1880 Um caminho para a releitura No início deste século, os debates no campo educacional assumem os discursos da inclusão social, colocando-se em pauta a problematização desse tema com vistas, entre outras coisas, a se propor uma escola que acolha a todos em suas diferenças. A educação, enquanto ciência precisa investigar o significado desses discursos e suas consequências no contexto educacional. Caso contrário, interpretações tendenciosas poderão apagar a luta histórica de vários grupos sociais que vêm resistindo à subserviência ideológica de dominação. O ato de acolher a todos em suas diferenças não implica numa submissão ao grupo dominante. Os surdos revelam-se como um bom exemplo. Apesar de esmagados pela hegemonia ouvinte que tenta anular a sua forma de comunicação (a língua de sinais), procurando assemelhá-los cultural e linguisticamente aos ouvintes, resistem a essa imposição, reivindicando seus direitos linguísticos e de cidadania. Neste texto, pretende-se, à luz das reflexões de alguns autores,tais como Sánchez (1990), Skliar (1997), Japiassu (1991) entre outros, historicizar4 o processo de inclusão dos surdos no espaço educacional, através de dois fatos considerados determinantes na história da educação de surdos: a criação da primeira Escola Pública para Surdos em Paris e o Congresso de Milão, em 1880. A primeira escola pública para surdos em Paris Historicizar esta temática a partir de dois fatos considerados determinantes na história da educação de surdos não é um exercício simples, porque, a rigor, a história do surdo como um ser mediatizado pela realidade, construída através dos tempos, não pode ser entendida à parte, fora das transformações sociais e do próprio processo histórico. Por isso, poder-se-ia iniciar este estudo a partir da experiência5 que Girolamo Cardano (1501–1576) realizou e cujo resultado rompeu com a visão de que os surdos eram incapazes de aprender. Segundo Soares (1999:17), Cardano reconheceu publicamente a habilidade do surdo em raciocinar, pois entendia que a escrita poderia representar os sons da fala ou ideias do pensamento; sendo assim, a surdez não seria um obstáculo para o surdo adquirir o conhecimento. Apesar da relevância dos resultados da pesquisa para os surdos, devido à ruptura de uma lógica dominante, o episódio teve pouca repercussão, pois a educação de surdos, na época, se destinava aos filhos de ricos e nobres, que queriam garantir a continuidade de seus bens materiais no próprio seio familiar, pois o filho surdo, em alguns casos, teria que ter alguns conhecimentos para administrar os bens da família. Um exemplo prático está na atuação do monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1510-1584)7, que se dedicou à educação desses surdos da corte espanhola. Enquanto o monge beneditino se preocupava com a educação de surdos ricos e nobres, os surdos que não nasceram em berço de ouro provavelmente estariam no rol dos chamados vagabundos8, em situações de verdadeira miséria, pelo isolamento social e pela falta de trabalho. Como bem coloca Castel (1998:140), ao referir-se à carta que um controlador geral, na França, em 1764, dirigiu aos intendentes com o seguinte conselho: é preciso que a jurisdição de prebostes prendam poucos vagabundos e mendigos ao mesmo tempo; talvez até suas diligências devam voltar-se principalmente para “mendigos inválidos” mais do que para os válidos porque, como os primeiros não têm o recurso de poder trabalhar, é mais difícil impedi- los de mendigar e porque os mendigos válidos, que verão prender até mesmo os inválidos, ficarão muito mais apavorados e muito mais depressa se determinarão a arrumar uma profissão. São justamente os surdos vagabundos que viviam nas ruas de Paris que, junto com um ouvinte, o abade L’Epée, viabilizam uma mudança drástica, porém, positiva, na história da educação dos surdos. Esse agrupamento de surdos permitiu a criação da primeira Escola Pública para Surdos em Paris, em 1760, provavelmente movido pelos fortes ventos que assolavam a sociedade francesa. Esse fato, vinculado à história das instituições de surdos, é um fato determinante no processo de construção e de expansão da organização política, social e educacional dos surdos no continente europeu e em diversos países do continente americano. Para compreender a relevância desse fato na história da educação dos surdos, é necessário perceber que a França, no século XVIII, era um verdadeiro barril de pólvora. Os levantes eram permanentes e a pequena burguesia em expansão, apoiada pelos camponeses e artesãos, não admitiam mais as benesses feudais que ainda predominavam na monarquia francesa, principalmente no Primeiro e Segundo Estado. Para a crescente burguesia, os regulamentos, restrições e contenções do comércio e da indústria, a concessão de privilégios à nobreza e ao clero, os obstáculos ao progresso da ciência e as novas leis não estavam permitindo a expansão de mercado. Portanto, para assegurar seus interesses, a única alternativa que lhe restava era fazer uma incursão mais forte, ou seja, apoiar os levantes e contribuir para uma mudança política na sociedade francesa. É nesse cenário que os membros do Terceiro Estado, camponeses, artesãos e burguesia unem-se, teoricamente, através de um denominador comum: acabar com os privilégios do Primeiro e do Segundo Estado. Todos queriam ser alguma coisa, como relata um de seus líderes, o abade Sieyès citado por Huberman (1986:150) num folheto popular intitulado: “O que é o Terceiro Estado?”. Devemos formular três perguntas: Primeira: O que é o Terceiro Estado? Tudo. Segunda: O que tem ele sido em nosso sistema político? Nada. Terceira: O que quer ele? Ser alguma coisa. No processo revolucionário, enquanto a burguesia fornecia a liderança, os artesãos e camponeses lutavam. No entanto, durante e após a luta, apenas a burguesia solidifica seus interesses, ampliando seu poderio econômico e conquistando a força política para realizar suas transformações. Os outros grupos, artesãos e camponeses, passam a ser a força de trabalho e o exército de reserva, principalmente com o deslocamento das pessoas do campo e das oficinas artesanais para as fábricas nas cidades. A concentração de pessoas nos centros industriais disponibilizou a mercadoria vital ao modo capitalista de produção, a força de trabalho e, ao mesmo tempo, foi determinante para o surgimento e organização das comunidades surdas. Mas de que forma essas transformações sociais permitiram a organização política, social e educacional dos surdos? Manacorda (1999:249) relata que, na segunda metade do século XVIII, “a nova produção de fábrica gera o espaço para o surgimento da moderna instituição escolar pública. Fábrica e escola nascem juntas.” É justamente nesse período que se deu a criação da primeira Escola Pública para Surdos em Paris. A educação, frente às novas relações sociais impostas pelo meio produtivo, passou a traduzir o interesse da burguesia em ascensão, ao privilegiar, no processo educacional, as artes mecânicas: A especulação e a prática constituem a principal diferença que distingue as ciências das artes. Em geral, pode-se dar o nome de arte a qualquer sistema de conhecimentos que é possível traduzir em regras [...] Mas assim como existem regras para as operações da inteligência ou a alma, assim também existem regras para as operações do corpo [...] Daí a distinção das artes liberais e mecânicas e a superioridade que se dá às primeiras sobre as segundas [...] superioridade que, sem dúvida, é injusta por muitos motivos (D’Alembert, citado por Manacorda, 1999: 240). Nesse momento histórico, educar todos os homens e reorganizar o saber através das artes mecânicas são os grandes objetivos da burguesia, de utopistas, reformadores e revolucionários, passando a ser o eixo estruturante e organizativo das Escolas Públicas. E de novo os interesses da burguesia prevalecem. Os surdos que faziam parte do Terceiro Estado, mesmo que sujeitos às relações sociais vigentes, provavelmente como os artesãos e camponeses, também queriam “ser alguma coisa”, como bem disse o abade Sievès. Partícipes desse cenário revolucionário, com transformações profundas no tecido social, juntam-se ao abade L’Epée, talvez por saberem, como ensina Marx (1996:378), que “a força do homem isolado é mínima, mas a junção dessas forças mínimas gera uma força total maior do que a soma das forças reunidas” e, nessa junção de forças, criam a primeira Escola Pública para Surdos em Paris. No convívio com os surdos, o abade L’Epée percebe que os gestos cumpriam as mesmas funções das línguas faladas e, portanto, permitiam uma comunicação efetiva entre eles.
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