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RESENHAS

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DANIELLE SOUSA E SILVA – RA: F046JE0
 JORNALISMO
 UNIVERSIDADE PAULISTA
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESENHA CRÍTICA DOS FILMES
 “MERA COINCIDÊNCIA”
 E
 “O 4º PODER”
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO
 2019
RESENHA MERA COINCIDÊNCIA
O presidente dos Estados Unidos (Michael Belson), a poucos dias antes da eleição, se vê envolvido em um escândalo sexual e, diante deste quadro, não vê muita chance de ser reeleito. Assim, um dos seus assessores entra em contato com um produtor de Hollywood (Dustin Hoffman) para que este "invente" uma guerra na Albânia, na qual o presidente poderia ajudar a terminar, além de desviar a atenção pública para outro fato bem mais apropriado para interesses eleitoreiros.
Questionamentos sobre os limites da permissividade ética no campo político podem ser levantados aos montes no decorrer de Mera Coincidência (1997), filme de Barry Levinson vencedor do prêmio do júri no Festival de Berlim. Em uma sátira ao ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e seu infame escândalo sexual com Monica Lewinsky, esta comédia sequer apresenta o rosto do governante norte-americano ficcionalmente proposto, e se restringe a uma aprofundada e imaginativa viagem pelo universo comunicacional que circunda os bastidores de assuntos do gênero.
Robert De Niro, Dustin Hoffmann e Anne Heche compõem o triângulo advindo de diferentes áreas da comunicação requisitado para lidar com uma grande polêmica presidencial que ocorre próxima ao período eleitoral. A trinca, que parece ignorar quaisquer conceitos sobre a verdade e justiça, forja uma guerra para desviar a atenção do problema e incumbe-se de fazer isso se valendo de importantes estratégias, que incluem um hino, um símbolo e até mesmo um herói. Enquanto o saldo com os feitos parece ser cada vez mais positivo, cada um deles descobre razões diferentes para questionar suas ações e repensar decisões tomadas até então – seja para o bem ou para o mal.
Os conceitos de ética e moral já são subvertidos nos primeiros momentos do longa, quando os protagonistas do filme são convocados às pressas para lidar com a situação supracitada. Suas decisões e escolhas quebram códigos normativos sociais e comunicacionais, pois são pautadas em omissões e mentiras, além de prejudicarem envolvidos direta e indiretamente com o caso. Filmes como Obrigado Por Fumar (2005), de Jason Reitman, e mais recentemente o chileno No (2012), de Pablo Larraín, são igualmente bem sucedidos ao explorarem perspectivas diferentes para dilemas semelhantes.
O utilitarismo proposto por Kant, que pregava que o agir correto é aquele que visa uma ação que possa ser universalizada, é simplesmente ignorado pela ética apresentada em Mera Coincidência. No incisivo roteiro indicado ao Oscar de David Mamet e Hilary Henkin, os protagonistas elegem suas ações visando exclusivamente o fim, que é a reeleição do presidente, independente dos meios que sejam escolhidos para isso. No campo da comunicação, um dos maiores absurdos sugeridos pelo filme, porém infelizmente plausível, está na manipulação midiática e populacional – campos da sociedade que passam a dedicar sua atenção para uma causa que sequer existe. 
Por fim, temos uma série de consequências geradas pelas ações dos protagonistas, e, por meio delas, os juízos de valores. Estes últimos são extremamente sérios, porém igualmente cômicos na abordagem ácida e sagaz proposta por Barry Levinson. O produto final é uma comédia política como poucas, de roteiro e diálogos ágeis e inteligentes, e uma grande mensagem, talvez sublimada pelo espírito leve e despretensioso do filme.
RESENHA O 4º PODER
O longa metragem MAD CITY – O QUARTO PODER (1997), do diretor Costa Gavras, é um filme americano do gênero Policial/Drama onde podemos observar que os bastidores da notícia nem sempre refletem a realidade como um todo, e podem esconder muito mais do que se supunha. Trata-se, no entanto, da manipulação exacerbada dos fatos, das barganhas e acordos realizados por certos profissionais e empresas oportunistas que visam, acima de tudo, a sua projeção no cenário midiático.
A partir do momento em que a personagem Sam Baily, interpretado pelo ator John Travolta, adentra armado em um museu de história, situado na cidade americana de Madeline, Califórnia, para tentar reaver o seu emprego de segurança, uma série de acontecimentos inesperados começa a desenrolar-se no decorrer da trama. Um tiro acidental que acaba ferindo seu colega de profissão o coloca em uma situação delicada, na qual ele se obriga a fazer algo que não queria até o momento, como manter um grupo de crianças como reféns. É quando, coincidentemente, entra em cena a figura de Max Brackett, interpretado pelo ator Dustin Hoffman, um jornalista decadente que enxerga nesse fato um furo jornalístico e ainda a possibilidade de uma rápida ascensão no meio televisivo. Inicia-se, então, uma sucessão inusitada de ocorrências, onde todos os passos de Sam e até da própria polícia são mediados por Brackett, numa suposta tentativa sua de amenizar o problema na busca por uma solução. Brackett consegue, entre outras coisas, convencer o diretor da emissora de tv, na qual ele trabalha como freelance, a entrar no ar ao vivo mostrando uma entrevista exclusiva com Sam, mesmo a contragosto de Kevin Hollander, o âncora desta emissora. A maneira como ele conduz a entrevista, direcionando perguntas e respostas previamente analisadas, apresentando Sam como uma vítima em potencial desse incidente, fica claro e evidente a manipulação dos fatos. A personagem de Sam, por sua vez, é realmente um indivíduo carismático, ingênuo e bastante influenciável, a porta de entrada utilizada por Brackett para assumir o controle da situação e até comover a opinião pública, atingindo assim o emocional do espectador, embora que tudo seja em seu próprio favor. A situação se complica quando Cliff, o segurança baleado, morre no hospital, complicando de vez a imagem de Sam. Vendo finalmente a que ponto chegou sua situação, Sam desiste do sequestro e libera a diretora do museu e as crianças, explodindo em seguida o local num ato suicida. Brackett, que a essa altura havia deixado de lado os seus sentimentos, deixa prevalecer a sua compaixão e conclui que, através da força imposta pela mídia, acabara de tirar a vida de um ser-humano.
Como ficou demonstrado no filme, a ética no Jornalismo sempre bateu de frente com o sensacionalismo desmedido e com a falta de responsabilidade em muitos conteúdos divulgados. A construção de uma notícia, bem como a credibilidade de uma empresa do ramo da comunicação, está longe de ser considerado o espelho do real. O filme mostra, de forma pertinente, o poder da mídia em construir ou desconstruir uma imagem, ou seja, de manipular a realidade de tal forma que chega a ser inquestionável.
Abrangendo o entendimento da mídia, no filme, vemos claramente o uso da Teoria Crítica. Em primeira instância, o público aceitou passivamente a imagem de sociopata de Sam Bailey. Quando o repórter MAx Bracket, reverter a situação e vender Sam, como um produto fruto do seu meio, que em um momento de desespero, tentou recuperar seu emprego de um jeito equivocado. O público simplesmente esqueceu o sociopata e criou uma identificação com o pai de família. Influenciado, o telespectador faz uma grande campanha a favor de Sam, usam camisetas e o idolatram em questão de segundos.

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