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0 1 ANDREIA PAGANI MARANHÃO EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL 1ª Edição - 2017 2 SUMÁRIO Palavra do Professor autor Sobre o autor Ambientação Trocando ideais com os autores Problematizando UNIDADE 1: INFÂNCIA E DESENVOLVIMENTO Idade Média – Infância como defeito e como destino Séculos XV e XVI – A descoberta da infância Séculos XVIII e XIX – Centralidade da educação Séculos XIX e XX – Novas tecnologias e o direito da criança Século XXI – O fim da infância? ATIVIDADES UNIDADE 2: PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – EDUCAÇÃO FÍSICA COMO COMPONENTE CURRICULAR OBRIGATÓRIO A cultura corporal no ensino fundamental – premissas legais Conteúdos Conhecimentos sobre o corpo Esportes, jogos, lutas e ginásticas Atividades rítmicas e expressivas Primeiro ciclo (1º ao 3º ano) – ensino e aprendizagem Objetivos e conteúdos do primeiro ciclo Segundo ciclo (4º ao 6º ano) – ensino e aprendizagem Objetivos e Conteúdos para o segundo ciclo Terceiro ciclo (7º ao 9º ano) – ensino e aprendizagem Objetivos e Conteúdos para o terceiro ciclo 3 ATIVIDADES UNIDADE 3: ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO Planejamento – a chave do ensino Análise da realidade Definição dos objetivos Formas de Mediação ATIVIDADES Bibliografia Sites de interesse Pesquisas 4 PALAVRA DO PROFESSOR AUTOR Caro estudante, Parabéns pela disposição em estudar Educação Física no Ensino Fundamental. Neste texto, você encontrará subsídios para um trabalho coerente na Educação Física no Ensino Fundamental. Neste nível de ensino, é muito importante consolidar os saberes sobre a cultura corporal com as crianças, especialmente porque este é o momento em que realmente a educação é universalizada no país, sendo de fato o período em que o maior número de crianças tem a oportunidade de conhecer a Educação Física. Como futuro docente, você encontrará diversas concepções filosóficas e metodológicas para o trabalho com as crianças deste nível de ensino e o estudo destas diferentes matrizes é necessário para a construção de sua prática profissional, pois a partir destes saberes, você poderá desenvolver sua própria metodologia e didática. Como os anos do ensino fundamental atravessam diferentes fases do desenvolvimento da criança, você poderá compreender como ajustar seu trabalho a situações e níveis cognoscitivos diferenciados. Os conteúdos desenvolvidos neste material foram sistematizados de modo a tornar claro o direcionamento previsto nos parâmetros legais da organização do trabalho pedagógico e as metodologias adaptadas para construir os saberes fundamentais da cultura corporal neste período. Bons estudos. 5 SOBRE A AUTORA ANDREIA PAGANI MARANHÃO. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Especialista em Docência na Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e em Acupuntura pela Associação Brasileira de Acupuntura – ABA. Possui licenciatura plena em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Tem experiência em gestão pública, projetos sociais e na docência – no ensino básico e superior. Atualmente é professora do Centro Universitário UNINTA. 6 AMBIENTAÇÃO Sejam bem – vindos! à disciplina de Educação Física no Ensino Fundamental! Aqui vocês terão a oportunidade de conhecer sobre a organização da área neste nível de ensino, que é o mais longo da escolarização básica. Vamos iniciar nossos estudos conhecendo melhor as diferentes concepções de infância que se desenharam na história humana, para entendermos os significados atribuídos por diferentes povos às crianças e ao ensino das mesmas. Assim, você poderá entender melhor as crianças de hoje, e as diferenças entre os gostos, costumes e modos de trabalhar com elas. Num segundo momento, vamos estudar os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. Estes documentos normatizam os princípios que devem reger o ensino nas escolas básicas. Vamos identificar a cultura corporal como objeto do conhecimento da Educação Física e conhecer seus elementos e as especificidades do ensino dos esportes, jogos, brincadeiras, lutas, danças, ginásticas, capoeira, atividades na natureza, conhecimentos sobre o corpo, etc. Por fim, vamos desenvolver aspectos relacionados à organização do trabalho pedagógico, ou seja, sua preparação para o exercício das atividades docentes. O planejamento é a chave do ensino, então vamos estudar como organizar bem um planejamento, sistematizando todo o trabalho em unidades temáticas. 7 TROCANDO IDEIAS COM OS AUTORES AGORA É O MOMENTO DE TROCAR IDEIAS COM OS AUTORES. Este é um dos livros mais conceituados sobre a história da infância. É um clássico, cuja leitura é obrigatória a todos aqueles que desejam seguir as trilhas da docência. Ariès faz um estudo denso sobre a tradição familiar europeia e o lugar da criança nas sociedades, demonstrando que em diferentes momentos, os adultos projetaram papéis para as crianças. Se apenas na contemporaneidade, a criança passou a ser vista como um sujeito de direitos, é porque neste momento, a noção de cidadania é hipertrofiada em relação ao desenvolvimento de valores e caráter. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. Este é um livro polêmico, cuja leitura deixa a impressão que é preciso estudar mais e mais. Postman explica sua tese de que as crianças estão retomando o todo da vida social, não havendo mais uma distinção educativa que consagre a pureza da infância. A ampliação da informação permitiu às crianças o acesso às esferas que outrora eram vetadas, como o crime, a morte, o sexo, a violência. E isso faz com que as crianças não tenham mais a ‘inocência’ preconizada nos séculos XVIII e XIX, retomando as noções medievais de igualdade entre diferentes condições e participação ativa na vida social. POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Rio de Janeiro: Grafhia Editorial, 1999 8 GUIA DE ESTUDO: Após a leitura das obras, explique a posição de Postman, com base no comportamento das crianças que você conhece, indicando possibilidades e desafios para o ensino contemporâneo. 9 PROBLEMATIZANDO De acordo com Fonseca et al, a vulnerabilidade está ligada à ideia de fragilidade e de dependência. Isso pode ser articulado à noção de criança e adolescente, especialmente dos estratos sociais mais pobres. Nesta situação, as crianças e adolescentes encontram-se submetidas ao ambiente físico e social em que se encontram, podendo ser marcadas, psíquica, social ou fisicamente por tais condições (cf. FONSECA et al, 2013). O sistema educacional passou a ser visto como umaescapatória ao sistema penal durante o século XX, já que a maioria dos jovens se encontrava nas condições acima descritas de vulnerabilidade, abandono ou maus tratos. No ano de 1922, a assistência de proteção à infância foi discutida no Brasil e as primeiras normas de seguridade da criança e do adolescente foram estabelecidas. Pela primeira vez, os cuidados com a proteção da criança foram pensados como elementos da esfera educacional. No Brasil, apenas depois da reabertura democrática e da construção do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que a infância foi recolocada na vida social como uma fase singular, onde a proteção, o cuidado e a educação ampliam o exercício da cidadania. Foram assegurados os direitos fundamentais da criança, pessoa até doze anos de idade e do adolescente, pessoa entre doze e dezoito anos de idade. Seus direitos incluem a proteção integral, e todos os direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito à vida e à saúde, direito à liberdade, respeito e dignidade, direito à convivência familiar e comunitária, direito à família natural ou substituta, direito à educação, cultura, esporte e lazer, à proteção no trabalho e à profissionalização adequada a partir dos catorze anos, e atendimento prioritário. Entretanto, as vulnerabilidades manifestam-se em violência cotidiana, no contexto familiar e escolar, obrigando crianças e adolescentes a se inserirem precocemente no mercado de trabalho e/ou no tráfico de drogas. 10 GUIA DE ESTUDO: A partir desta situação-problema, considere o papel da educação na transformação de contextos sociais produtores de vulnerabilidade de crianças e adolescentes. Elabore um texto argumentativo e compartilhe sua opinião no fórum. Vídeo de Apresentação: https://vimeo.com/295194574 11 INFÂNCIA E DESENVOLVIMENTO 1 CONHECIMENTOS Compreender a História social da infância e os processos de desenvolvimento da criança. HABILIDADES Identificar as diferentes noções de infância no decorrer do tempo; Projetar histórica e criticamente o próprio entendimento sobre a infância e os processos de desenvolvimento; ATITUDES Aplicar os conceitos de infância e desenvolvimento às atividades pedagógicas; 12 IDADE MÉDIA – INFÂNCIA COMO DEFEITO E COMO DESTINO Você sabia que a ideia de infância é uma construção social muito recente? Até o início da modernidade capitalista, a noção que existia sobre a criança era bastante diferente da que adotamos hoje, de um sujeito de direitos. Vale a pena considerarmos que os principais estudiosos que pesquisaram o conceito de infância o fizeram com base na tradição europeia, e portanto, os significados contidos nas civilizações ameríndias ainda estão em processo de discussão. Não podemos tomar o modelo europeu como uma forma universal, mas como um ponto de partida para nosso entendimento. Para entendermos as diferentes concepções de infância no decorrer do tempo, vamos utilizar como base o livro de Philippe Ariès, História Social da Criança e da Família, publicado pela primeira vez no Brasil em 1973. O autor se preocupa em investigar o surgimento da ideia moderna de infância, que atribui – como já explicamos – ao início do período moderno. Isso porque até o fim da Idade Média, as crianças não eram vistas da mesma forma que o são hoje. Em geral, não havia uma noção de desenvolvimento e aprendizagem que integrassem aos poucos as crianças ao mundo dos adultos. Elas simplesmente eram incorporadas às tradições e ritos sociais. Embora saibamos que os gregos tenham inventado a escola como algo tipicamente infantil, as crianças eram submetidas às mesmas leis e regras sociais que os adultos. Apenas no século V a.C, os romanos estabeleceram a noção de ‘vergonha’ para distinguir os adultos das crianças, e com isso, estabeleceram uma diferença entre as possibilidades de cada faixa etária. Apenas com a evolução das sociedades e dos estudos sobre a infância, a criança passou a ser percebida como alguém que precisava de proteção e cuidados especiais, e deveria ser educada para se transformar num cidadão. Nas sociedades tradicionais, a criança não era vista como tal. A duração da infância era reduzida apenas ao período no qual a criança precisava de cuidados 13 mais fundamentais para sua sobrevivência, enquanto não podia alimentar-se, mas logo era misturada aos adultos, partilhando das regras sociais de convivência e lazer. “A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral, a socialização da criança não eram portanto nem asseguradas nem controladas pela família” (ARIÈS, 1975, p. 05). A passagem da criança pela família era algo insignificante em sua vida, e a sociedade como um todo é que determinava a direção de sua formação. De forma geral, a família não tinha uma função afetiva. Se o tivesse, bem, mas não era a regra. O sentimento de amor e fraternidade não era o que unia as famílias, mas um meio indistinto de vizinhos, amigos, amos e criados, crianças, velhos, homens e mulheres que conviviam entre si. Este é o conceito tradicional de sociabilidade. Como as condições sanitárias medievais eram bastante precárias, é natural que a mortalidade infantil fosse mais elevada. Mas além deste fato, as sociedades europeias viam as crianças como seres frágeis, incapazes, incompletos. Daí a noção de que a criança não tinha vontade ou querer, pois seria débil em sua moral. Apenas as crianças das elites podiam desfrutar de cuidados, que eram feitos pelas criadeiras ou amas de leite, mulheres das classes pobres que precisavam dedicar seu tempo e seu leite aos filhos dos seus patrões. Daí surge a babá, figura moderna daquela mulher que toma conta das crianças cujas mães precisam trabalhar fora ou simplesmente não desejam ter os incômodos dos cuidados infantis. As meninas eram recebidas pelas famílias com muito menos efusão do que os meninos. Acreditava-se que o nascimento de uma menina era um mau sinal, especialmente se ela fosse a primeira filha. Já os meninos eram recebidos como bênçãos que indicavam prosperidade e força às famílias. As crianças não tinham propriamente uma personalidade. Ao contrário do que ocorre hoje, que ensinamos às crianças seus nomes, sobrenomes, datas de aniversário e coordenadas cartográficas de localização doméstica, os pequenos 14 nascidos entre os séculos XI e XV não eram sequer registrados. O registro era algo feito na adultez, quando a pessoa adulta pudesse se expressar autonomamente. O nome em si era algo da esfera privada, um apelido usado em casa e não significava nada na vida social, onde o sobrenome, muitas vezes o nome do lugar era o critério distintivo de identidade. A noção de idade foi muito relacionada às reformas da igreja, movimentos que passaram a estabelecer censos populacionais e registros precisos de datas. De todo modo, não era um costume dos povos. “Apesar dessa importância que a idade adquiriu na epigrafia familiar no século XVI, subsistiram nos costumes curiosos resquícios do tempo em que era raro e difícil uma pessoa lembrar-se de sua idade” (ARIÈS, 1975, p. 24). As imagens de ciclo de vida passaram a compor o ideário popular muito lentamente, a noção de ciclo da natureza e organização da sociedade tinham a mesma significação. Então, o sentimento de desenvolvimento era muito distante da realidade social, e portanto, não cabia para explicar o tratamentodado às crianças. SÉCULOS XV E XVI – A DESCOBERTA DA INFÂNCIA Na baixa Idade Média, vários movimentos artísticos e intelectuais passaram a promover uma integração na Europa, difundindo saberes e propiciando o que fora chamado na literatura como “Renascimento”. As cidades começaram a ser construídas e com elas, meios de transportes e comunicação mais operantes, e novas ideias passaram a fazer parte do imaginário social. A criança passou a ser vista como um adulto em construção, cujo resultado dependeria do investimento que lhe fosse feito. Neste período a escolarização adquire uma importância fundamental para a formação de sujeitos socialmente adequados. Então, foram concebidas fases. A primeira fase ou estágio da criança era associado à fala. Quando esta alcançava o domínio da língua oral, passava para a segunda fase, que era o domínio da língua escrita. A distinção entre criança e adulto passou a ser baseada na capacidade de leitura. Neste momento, adaptava-se toda a vida da criança aos moldes dos adultos, vestuário, formas de se tratar e círculos sociais frequentados. 15 Neste período ocorre algo inédito na Europa. A escola passa a substituir a sociedade no processo de formação da criança. A criança não é mais misturada aos adultos e aprende nessa sociabilidade. É separada deles e mantida à distância, em instituições que em muito se assemelham a prisões. A razão escolar passa a ser uma regra de convívio e uma normatização paralela imposta às crianças, e de alguma forma, a vida social permitiu que esse processo se desenvolvesse. A família passou a ser o lugar de carinho e afeição, e a escola, o lugar da aprendizagem de regras e valores. Pela primeira vez, a família se organizou “em torno da criança” e lhe atribuiu importância tal que seria impossível substituí-la. Ariès chama esse processo de “revolução escolar” (idem, ibidem, p. 06) e mostra que isso contribuiu para a redução da natalidade, pois os pequenos passaram a requerer mais cuidados e atenção por parte dos adultos. A mudança econômica e social que afetou as sociedades europeias neste período também se produziu no âmbito da educação, que passou a ser responsável diretamente pela aprendizagem das crianças (papel outrora absorvido pela sociedade como um todo). Isso impôs uma classificação etária, uma organização das crianças por níveis de desenvolvimento e neste contexto é que emerge o conjunto de teorias psicológicas e sociológicas para definição da infância como período ou fase da vida. O fato de ajudar a natureza a fazer desaparecer criaturas tão pouco dotadas de um ser suficiente não era confessado, mas tampouco era considerado com vergonha. Fazia parte das coisas moralmente neutras, condenadas pela ética da Igreja e do Estado, mas praticadas em segredo, numa semiconsciência, no limite da vontade, do esquecimento e da falta de jeito (ARIÈS, 1975, p. 12). Pela primeira vez temas como o infanticídio foram debatidos pela sociedade, e esta que era uma prática veladamente tolerada, passou a ser considerada um crime. A vida da criança passou a ser considerada como um dever da família, do Estado e da igreja. Paralelamente, o cuidado com a vida espiritual da criança passou a fazer parte das preocupações sociais e o batismo se tornou uma prática ocidentalmente dominante. 16 Esta nova perspectiva ressignificou a ideia de família, que passou a ser percebida como uma entidade nuclear, baseada na centralização da mulher e da criança, e numa elevação do estatuto da mulher como elo de sustentação doméstico. O sentimento de família, assim como o sentimento de classe se tornam manifestações da intolerância à diversidade e de uma preocupação com a uniformização social. Nas belas palavras de Ariès: “a família moderna, ao contrário, separa-se do mundo e opõe à sociedade o grupo solitário dos pais e filhos. Toda a energia do grupo é consumida na promoção das crianças, cada uma em particular, e sem nenhuma ambição coletiva: as crianças, mais do que a família” (ARIÈS, 1975, p. 264). SÉCULOS XVIII E XIX – CENTRALIDADE DA EDUCAÇÃO Nestes anos, dois pensadores influenciaram muito a concepção de infância. John Locke1 defendia que a criança era como uma folha em branco, uma “tábula rasa” onde se poderia imprimir quaisquer sentidos a partir da experiência. Não haveria uma dimensão inata na criança. Tudo que ela fosse, e todas as habilidades cognitivas, físicas, emocionais e sociais seriam aprendidas. Tudo dependeria da sociedade e do meio no qual ela estivesse inserida. Tudo dependeria da educação. Jean-Jacques Rousseau2 entendia que a criança tinha uma psicologia diferente, que deveria ser valorizada em si mesma, pois estaria em estado de “natureza”, ou seja, dominada pelos instintos. Caberia então aos adultos educar as aptidões da compreensão, curiosidade e sinceridade, orientando-as para a alfabetização, razão, autocontrole e senso moral. De acordo com Rousseau, a escola tradicional seria uma “poda” no crescimento e desenvolvimento das crianças, corrompendo-as, naturalizando as lógicas sociais já estabelecidas. 1 John Locke foi um filósofo e político nascido em 1632, na cidade de Wrington, na Inglaterra. Defendia o liberalismo, o empirismo, a tolerância religiosa e ficou famoso pela sua teoria do contrato social. 2 Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, em 1712 e foi um filósofo, político e compositor, considerado um dos principais pensadores do iluminismo. Para ele, a educação corrompe a natureza humana, retirando-lhe a liberdade. Um novo homem e uma nova sociedade deveriam ser constituídos a partir da própria natureza, com a evolução dos sentidos em vista da liberdade. 17 A escolarização em massa ocorrida na Europa no século XVII se tornou o modelo social dominante em menos de um século. Mas apenas os meninos eram educados. As meninas iriam muito tardiamente à escola, e facilmente se confundiam às mulheres em seus lugares sociais e trajes. O prolongamento – ou a distinção escolar da infância – foi um direito apenas dos meninos. O sentimento da infância beneficiou primeiro meninos, enquanto as meninas persistiram mais tempo no modo de vida tradicional que as confundia com os adultos: seremos levados a observar mais de uma vez esse atraso das mulheres em adotar as formas visíveis da civilização moderna, essencialmente masculina (ARIÈS, 1975). Neste período surge um novo conceito – o jovem. A juventude apareceu como futuro, como promessa de novos valores para reavivar a sociedade. A consciência da juventude se tornou pela primeira vez um fenômeno social, especialmente entre os países beligerantes, que passaram a utilizar os jovens como soldados. O adolescente passou a se tornar um sujeito social, que poderia lutar, casar, trabalhar. A adolescência passou a ser a época favorita da sociedade enquanto a velhice, tão valorizada nas sociedades ancestrais, passou a ter um significado subalterno. Tem-se a impressão, portanto, de que, a cada época corresponderiam uma idade privilegiada e uma periodização particular da vida humana: a "juventude" é a idade privilegiada do século XVII, a "infância", do século XIX, e a adolescência", do século XX (ARIÈS, 1975, p. 41). A escola passou a tratar de forma mais ampla o processo de educação da criança, onde os jogos também foram parte de um ideário que e alterou substancialmente. Da violência característica das sociedades antigas, a ginástica e o treinamento militar vieram trazer a moral, a saúde e a noção de cidadania aos jovens das camadasmais ricas da sociedade europeia. Uma evolução similar ampliou a cultura dos jogos das camadas populares a toda a sociedade. A literatura foi outro aspecto da vida social que encontrou grandes mutações neste período. Como a criança passou a ser considerada alguém em processo de formação e desenvolvimento, o gênero infantil e infanto-juvenil se popularizou e os contos se tornaram formas de envolver e ensinar as crianças sem a rigidez, característica da escola. 18 A filosofia passou a fazer parte das narrativas, e as tradicionais histórias orais ganharam novas morais e personagens, que fizeram grande sucesso editorial. Uma cultura propriamente infantil e juvenil passou a ser produzida para possibilitar às crianças e jovens um acesso melhor e uma transição mais tranquila ao mundo dos adultos e aos valores da civilização burguesa. Com isso, uma noção nova de inocência infantil se impôs na mentalidade social e a criança passou a ser vista como alguém puro. A castidade passou a compor o conceito de criança e todas as relações com sexo, morte, dor e violência foram evitadas de forma direta e no máximo, tratadas pedagogicamente. Os manuais de boas maneiras passaram a compor um roteiro básico para a educação infanto-juvenil, e todas as dimensões possivelmente traumáticas à inocência foram eliminadas, inclusive da literatura. As palavras também foram censuradas – surge a noção de palavrão, ou seja, aquilo que é impróprio para os pequenos falarem e ouvirem. A comparação de crianças com anjos se tornou um chavão tão comum que basicamente todo o século XIX foi influenciado por essa ideia. SÉCULOS XIX E XX – NOVAS TECNOLOGIAS E O DIREITO DA CRIANÇA O desenvolvimento do telégrafo, rádio e da televisão modificaram substancialmente o conteúdo e a informação que se podia acessar socialmente. Até este momento, a impressa escrita era a forma mais importante de conhecimento formal. Paralelamente ao avanço tecnológico, a fotografia, o telefone, o cinema e mesmo novas formas de leitura como as revistas e iconografias passaram a fazer parte da vida quotidiana. A imagem e o som passaram a contribuir para o entendimento das informações, e em muitos casos, substituíram os saberes escolásticos em grau de relevância. A escola passou a disputar com a TV e com o rádio a primazia das opiniões e aos poucos, as fronteiras que separavam o universo dos escolarizados dos “analfabetos” foram se diluindo e se limitando à formalidade dos títulos. 19 No Brasil, pode-se dizer que o século XIX marca a delimitação de uma infância com recorte de classe e etnia. Pedro Paulo Barbosa, em seu estudo sobre o trabalho dos menores no Brasil, explica que em 1891 o trabalho infantil foi regulamentado, através de um decreto. Para o autor, o Estado passou a assumir a função de organizar a indústria a partir do trabalho de crianças e adolescentes, intervindo nas questões sociais e trabalhistas que envolviam a infância. A infância das camadas mais pauperizadas da sociedade brasileira era destinada ao trabalho semi-escravo. Já que havia a necessidade de mão de obra mais barata para fortalecer os lucros das indústrias e das lavouras brasileiras, e a escola não era possível para todos, os jovens pobres deveriam ser empregados para não se tornarem “criminosos e vadios”, para serem “pessoas de bem” e tivessem uma profissão “honrosa e lucrativa” (BARBOSA, 2015). A legislação brasileira previa a criação de escolas agrícolas e reforçava que o emprego de mão de obra juvenil substituía o trabalho escravo. Para diversos setores sociais, a legislação era um avanço, pois limitava as horas de trabalho e tornava o serviço dos jovens um ato patriótico. A sociedade civil como um todo aprovava a resolução, enfatizando a necessidade de fiscalização especialmente nas fábricas, onde as crianças substituíam os adultos no trabalho operário. Barbosa (2015) explica que mesmo que a legislação regulamentasse o trabalho das crianças, não havia condições do Estado assegurar o cumprimento da lei nas inúmeras empresas que utilizavam a mão de obra infantil. O trabalho das crianças era essencial à manutenção da renda familiar e ao mesmo tempo, lucrativa para os empregadores. Esta foi uma convergência de interesses que determinou a construção de uma política dual no país. Por um lado, a noção de infância e escolarização crescente para os filhos das camadas mais abastadas, por outro, a ideia de jovens trabalhadores, mulheres e crianças como construtores da pátria industrial. A partir dos oito anos, as crianças poderiam ser empregadas em jornadas de até sete horas diárias. Entre 12 e 15 anos, até nove horas nas lavouras, sem que excedessem quatro horas de trabalho contínuo. Havia na lei a preocupação que as 20 atividades estivessem de acordo com as condições físicas e intelectuais das crianças, embora não houvesse uma fiscalização que assegurasse o cumprimento integral da mesma, o que, segundo o autor, contribuiu para que não fossem alteradas as condições fundamentais do exercício laboral das crianças. A judicialização da infância é um tema que nasceu nos Estados Unidos da América, expandindo-se pela Europa e pelas Américas. A temática propunha, em pleno século XX, sanções sociais, civis e penais às crianças e adolescentes. Se por um lado, se popularizava a ideia de uma fase de desenvolvimento com características próprias e necessidades especiais, por outro, surgia a ideia de marginalização e a regulamentação de espaços de reclusão juvenil como “espaços privilegiados do sistema penitenciário” (ZANELLA, 2015). Os sistemas de reformatórios foram adotados por diversos países, em formatos de escolas industriais, campestres ou centros de formação. A 8ª Conferência Internacional das Prisões, realizada em Washington –EUA em 1910, definiu que não poderia distinguir os delinquentes dos abandonados e maltratados, pois não seria possível protegê-los ou controlá-los separadamente. Desta forma, os jovens pobres em situação de maior vulnerabilidade eram tornados marginais e sobre eles pesariam as leis do sistema penal, e não do sistema educacional, pois eram recolhidos indistintamente em instituições de controle. O sistema educacional passou a ser visto como uma escapatória ao sistema penal durante o século XX, já que a maioria dos jovens se encontrava nas condições acima descritas de vulnerabilidade, abandono ou maus tratos. No ano de 1922, a assistência de proteção à infância foi discutida no Brasil e as primeiras normas de seguridade da criança e do adolescente foram estabelecidas. Pela primeira vez, os cuidados com a proteção da criança foram pensados como elementos da esfera educacional. No século XX, a popularização da internet permitiu que camadas cada vez maiores de pessoas oriundas dos estratos sociais baixos pudessem acessar informações e fazer parte de redes digitais. Neste mesmo período, a criança passou 21 a ser vista como um sujeito de direitos. No Brasil, especialmente após a reabertura democrática e a construção do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a infância foi recolocada na vida social como uma fase singular, onde a proteção, o cuidado e a educação ampliam o exercício da cidadania. Foram assegurados os direitos fundamentais da criança, pessoa até doze anos de idade e do adolescente, pessoa entre doze e dezoito anos de idade. Seus direitos incluem a proteção integral, e todos os direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito à vida e à saúde, direito à liberdade, respeito e dignidade, direito à convivênciafamiliar e comunitária, direito à família natural ou substituta, direito à educação, cultura, esporte e lazer, à proteção no trabalho e à profissionalização adequada a partir dos catorze anos, e atendimento prioritário. Nos anos 1990, a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica – LDB coloca no âmbito do Estado e da família a responsabilidade de assegurar a educação nos anos iniciais da criança. Do ponto de vista estatal, essa garantia seria assegurada pelo atendimento universal e gratuito das crianças de idade de zero a dezessete anos na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e Médio. SÉCULO XXI – O FIM DA INFÂNCIA? Ao colocar a infância em perspectiva, percebemos que este conceito carrega marcas das condições sociais que caracterizam e definem as sociedades. As transformações que alteram a cultura contemporânea também são impressas nos modos de ser e vivenciar a infância, bem como nas representações que fazemos da criança hoje. As relações de consumo são tão importantes que hoje definem o lugar social de cada pessoa e com as crianças isso não é diferente: elas querem ter coisas diferentes, objetos, produtos alimentícios industrializados, artefatos culturais e se projetam como adultos num contexto midiático. São inúmeras as notícias veiculadas na mídia sobre as novas configurações da infância, as discussões sobre as brincadeiras contidas e suas aspirações cada vez mais globais. Elas vivem e se constroem num mundo onde as fronteiras de classe, gênero e geração estão permanentemente em mutação. A criança é 22 fundamentalmente um espectador da mídia e um sujeito desejante de bens de consumo. A indústria cultural tem um papel determinante na formação das crianças, cuja centralidade escapa ao projeto de escolarização. Elas se importam com os ídolos da internet, com as roupas, as modas, os produtos, têm gostos mais claramente definidos e são capazes de opinar em assuntos outrora reservados aos adultos. As crianças não só imitam os adultos, mas incorporam, à sua maneira, as formas de ser que caracterizam os tipos sociais mais comuns: a modelo blogueira, o traficante, o policial, o professor. A beleza e a estética do corpo são temas que emergem antes mesmo das condições de maturação biológica da adolescência. As crianças desejam aparecer para ser parte da sociedade, associam dinheiro à felicidade e antecipam as formas de obtê-lo. Para isso, usam maquiagens, tatuagens temporárias, piercings, pintam os cabelos, escolhem roupas, calçados e acessórios que as representem no contexto em que desejam ser inseridas. A emergência de uma infância tecnológica é evidente e com isso, pode-se falar na destruição das fronteiras entre infância e adultez. Primeiro, porque as tecnologias (televisão, e mais atualmente, os tablets e celulares) não exigem formas complexas de treinamento e podem ser acessadas por pessoas de idades cada vez mais tenras; em segundo lugar, não segregam os públicos, produzem e difundem conteúdos para as mais variadas idades e graus de saber, sendo um âmbito educativo paralelo à escola formal. Por fim, reconecta a criança ao todo da vida social, tornando possível o acesso a conteúdos vedados na escola, como o sexo, o crime, a morte etc. Para Postman, é uma retomada do modelo medieval, onde não havia infância porque não havia um tratamento exclusivo à criança (Cf. POSTMAN, 1999). ATIVIDADES Nestas atividades, espera-se que o estudante articule a leitura do texto escrito a outras leituras, produzindo uma intersecção de saberes e uma síntese singular de 23 seu entendimento, localizando as distintas perspectivas da infância e se apropriando das mesmas de forma criativa e amparada em argumentos consistentes. 1) Assista ao documentário “A invenção da infância”, dirigido por Liliana Sulzback, disponível no site Porta Curtas da Petrobrás, através do link http://portacurtas.org.br/filme/?name=a_invencao_da_infancia e responda às questões: a) Duas concepções de infância são estabelecidas no filme: uma pré e uma pós moderna. Explique o ponto de vista da autora, fazendo as distinções necessárias entre ambas num texto dissertativo. b) Comente o sentido da expressão “ser criança não significa ter infância”. c) A polêmica em torno do uso de aparelhos eletrônicos (especialmente celulares e tablets) por crianças divide pais e professores em todo o país. Apresente seu ponto de vista sobre o assunto, fundamentando sua opinião com dados e/ou argumentos consistentes. Você pode utilizar pesquisas, reportagens, artigos de opinião ou reflexões sobre suas próprias experiências. Lembre-se de citar as fontes. 24 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – EDUCAÇÃO FÍSICA COMO COMPONENTE CURRICULAR OBRIGATÓRIO 2 CONHECIMENTOS Diretrizes e Bases da Educação Básica aplicadas à Educação Física com ênfase no Ensino Fundamental. HABILIDADES Interpretar as legislações vigentes e articulá-las num plano de ensino integrado à proposta de formação no Ensino Fundamental. ATITUDES Organizar o ensino dos conteúdos da Educação Física nos anos ciclos fundamentais da escolarização. 25 A CULTURA CORPORAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – PREMISSAS LEGAIS A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB trouxe uma nova concepção para o ensino obrigatório no país: a ideia de Educação Básica. Composta pela integralidade dos níveis de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio), a proposta preconizada na lei é de tornar universal todo o processo de escolarização, assegurado pelo Estado. A partir da promulgação da lei, houve um avanço em relação ao acesso, isto é, mais escolas foram criadas em localidades distantes das cidades, e populações que até então viviam sem oportunidades de estudar formalmente, puderam fazê-lo de forma inédita. Contudo, a lei precisava de planos de ação política para ser realmente efetivadas, daí a construção do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, válido até 2022. A grande mudança que houve após a vigência do plano foi o desenho da qualidade educacional para além da política de expansão. A ampliação do número de séries (inclusão do 9º ano) se tornou diferente devido aos mecanismos de financiamento. A permanência do aluno na escola passou a ser um dos indicadores da qualidade do ensino, assegurados especialmente pelas políticas de redistribuição de renda (p. ex. Bolsa Família) e isso mudou a relação das famílias com a escola. O fato dos índices de qualidade serem baseados no quantitativo pode ser considerado um problema. Mas também a permanência nas escolas de crianças que, em outras situações, estariam no mercado de trabalho informal, submetidas a condições ainda mais precárias pode ser uma aposta para os educadores. Para construir uma educação de qualidade social é necessário articular a expansão do ensino com a gestão democrática e o aumento da qualidade. Como professores, devemos trabalhar no sentido de assegurar o ensino consistente e crítico dos conteúdos da cultura corporal, bem como participar dos espaços de discussão na escola em que trabalhamos e na cidade em que vivemos. 26 Um bom ponto de partida é conhecer os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. A sigla já é bastante conhecida dos professores e estudantes, mas é preciso entender bem seu conteúdo e sua proposta. Os PCN são documentos elaborados pelo Ministério da Educação para organizar a práxis pedagógica dos professores da Educação Básica a partir dos fundamentos da Lei deDiretrizes e Bases. É um texto extenso, dividido em dez volumes. No primeiro, encontra-se uma introdução geral da proposta e os fundamentos político-pedagógicos que a sustentam, bem como as questões referentes aos Temas Transversais e Ética. Existem ainda seis volumes com os documentos referentes às áreas de conhecimento, no qual a Educação Física está apresentada no volume 7. E por fim, três volumes que explicam as propostas de integrar os temas transversais e ética, pluralidade cultural, orientação sexual, meio ambiente e saúde na proposta de formação básica. Todos os documentos oficiais são disponibilizados em todas as escolas da rede pública, bem como na internet, em formato PDF, através do site www.portal.mec.gov.br. Neste capítulo, iremos apresentar linhas gerais dos PCNs, afim de esclarecer sobre os marcos legais e subsidiar a posterior discussão sobre os mecanismos para organização do trabalho pedagógico da Educação Física neste período. No contexto dos anos 1990, o construtivismo era uma pedagogia em evidência no Brasil. O país passava por uma inédita reestruturação do mercado e muitas mulheres foram inseridas como mão de obra nos postos de trabalho substituindo as crianças que trabalhavam informalmente. Era crescente a necessidade de instituições que pudessem sustentar a política de expansão dos mercados e a ampliação dos níveis de escolaridade foi considerada uma urgência. O Estado nacional, que se ajustava aos mecanismos de internacionalização da produção, passou a fazer parte de conferências internacionais, especialmente aquelas vinculadas ao Banco Mundial e à Organização das Nações Unidas. Dentre estes espaços, vale destacar a “Conferência Mundial de Educação para Todos”, 27 ocorrida em 1990 na Tailândia. Este evento é um marco da educação básica, pois os países com grande índice de analfabetismo tiveram que se preocupar em assegurar uma educação de qualidade, revertendo o quadro até então vigente através de políticas educacionais para acessar os mecanismos de empréstimo junto aos organismos multilaterais. Após a conferência, o Brasil passou a formular diversos programas de acesso e permanência das crianças na escola, descentralizando a educação, onde a infância passou a ser de responsabilidade dos municípios, e a adolescência, dos estados. O nível fundamental foi partilhado de forma diferente em cada estado da federação: algumas escolas estaduais ofertavam ensino fundamental e médio, escolas municipais ofertavam educação infantil e ensino fundamental. A expansão da educação básica foi considerada uma meta para assegurar a proteção das crianças e a minimização da pobreza, bem como uma condição fundamental para a aquisição de empréstimos junto aos organismos multinacionais. O ensino fundamental se tornou a prioridade, sendo obrigatório a todas as crianças em idade escolar, ou seja, passou a ser uma responsabilidade civil, um dever das famílias junto ao Estado. Os Parâmetros Curriculares são, portanto, documentos de indução que normatizam e orientam o trabalho docente no respectivo nível de ensino. Daí a importância de firmarmos nossos estudos num currículo de base nacional comum. A estrutura dos PCN encontra-se subdividida em blocos com ênfases diversas, objetivando uma integração da formação escolar. É uma proposta aberta e até certo ponto, flexível às diversas posições político-pedagógicas. A concepção de cultura corporal amplia a contribuição da Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, na medida em que, tomando seus conteúdos e as capacidades que se propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma como direito de todos o acesso a eles. Além disso adota uma perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores e princípios democráticos. O trabalho de Educação Física abre espaço para que se aprofundem discussões importantes sobre aspectos éticos e sociais, alguns dos quais merecem destaque (BRASIL, 1997, p. 24). 28 De acordo com os PCN, a cultura corporal permite que a criança se aproprie da realidade e lhe atribua sentido, daí que o professor ou a professora deva organizar situações didáticas onde os conteúdos sejam trabalhados de forma lúdica, com a interação entre as crianças. Pode-se dizer que a participação de todos e o exercício crítico da reflexão sobre as práticas ganha o status de método de ensino, não sendo apenas um conteúdo (cf. BRASIL, 1997, p. 28-32). O processo de ensino e aprendizagem em Educação Física, portanto, não se restringe ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada (BRASIL, 1997, p. 27). Conforme pudemos observar no próprio documento, a autonomia é a base para o ensino da cultura corporal, e o ensino deve ser integrado à vida concreta dos alunos, ou seja, deve ser contextualizado com a cultura e com a história, com as tradições e possibilidades de desenvolvimento, proporcionando uma grande diversidade de experiências para que as crianças possam identificar os diversos tipos de movimentos e encontrar relações entre eles. De forma específica, a primeira questão desenhada nos PCNs diz respeito à conquista de automatismos. A partir da tendência humana em automatizar o controle na execução dos movimentos, observa-se uma tendência a repetição infinita de exercícios sem sentido, cujos esquemas corporais já estão definidos e a atenção já não é necessária, como por exemplo, na execução arbitrária de ‘fundamentos’ técnicos dos esportes. Mas não é este o sentido. O trabalho do professor consiste justamente em requisitar a atenção dos alunos para a realização de atividades progressivamente mais complexas, criando soluções e variáveis de movimentos em cada tarefa. As atividades lúdicas competitivas ou não favorecem a aprendizagem, pois permite que os alunos resolvam problemas imprevisíveis, interajam entre si e mantenham o interesse pelas atividades. Na aprendizagem da cultura corporal – especialmente nas práticas e vivências – os afetos, sentimentos e sensações dos alunos são aflorados de forma 29 multidimensional. Características individuais, experiências anteriores e a exposição sob determinados contextos podem ser elementos importantes na construção de um estilo de vida e das relações interpessoais desenvolvidas no contexto escolar. Os riscos físicos e emocionais são inerentes ao ato de aprender, mas cabe ao professor e à professora o cuidado com as crianças, a minimização dos riscos de pequenos incidentes e a promoção de um ambiente respeitoso e plural. A inclusão é uma conquista das pessoas com deficiência e representa um grande avanço na garantia de seus direitos. Em muitos casos, existem as atividades, adaptando as tarefas para possibilitar a participação de todos. Isso implica, evidentemente, em uma dinâmica de estudos aprofundados sobre as deficiências, as possibilidades pedagógicas e, sobretudo, no cuidado com o planejamento. Necessidade de um cuidador – responsável pela atenção individualizada à criança com deficiência. Os objetivos gerais para a Educação Física no ensino fundamental são: • participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por característicaspessoais, físicas, sexuais ou sociais; • adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência; • conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais; • reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da saúde coletiva; • solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, regulando e dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades, considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem ocorrer de modo saudável e equilibrado; • reconhecer condições de trabalho que comprometam os processos de crescimento e desenvolvimento, não as aceitando para si nem para os outros, reivindicando condições de vida dignas; • conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética corporal que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito; • conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão (BRASIL, 1997, p. 34). 30 CONTEÚDOS Evidentemente, os conteúdos devem variar a partir da realidade e da cultura local, das capacidades e do desenvolvimento das crianças que – concretamente – estarão sendo ensinadas. Contudo, nos marcos legais da Educação Básica, existem diretrizes que efetivam um “currículo mínimo”, isto é, o mínimo de unidade entre os saberes que devem ser desenvolvidos na escola afim de assegurar seu papel universalista na formação da criança. Os conteúdos devem ser tratados simultaneamente como referências que vão se ampliando no pensamento da criança. Os conteúdos devem ser selecionados e organizados de acordo com a relevância social, as características dos alunos e suas culturas, assim como levando em consideração a contemporaneidade dos saberes, isto é, incorporando progressivamente as descobertas e avanços da Educação Física. De forma geral, são organizados em três blocos a serem desenvolvidos durante os 9 anos da escolarização fundamental, embora sejam especificados no documento apenas os dois primeiros ciclos. O trabalho docente deve constituir uma unidade que dê sentido aos objetivos e conteúdos diferentes em dinâmicas e atividades integradas. 31 Figura 1 – Blocos de conteúdos da Educação Física no Ensino Fundamental Fonte: BRASIL, 1997, p. 35. CONHECIMENTOS SOBRE O CORPO Este bloco é uma base de subsídio das práticas corporais. Para conhecer o corpo, é preciso saber bases de anatomia, fisiologia, biomecânica e bioquímica de forma contextual e aplicada às percepções sobre as práticas corporais, atividades desenvolvidas e especialmente, adequadas às possibilidades de desenvolvimento dos alunos. Na anatomia, deve-se abordar a estrutura muscular e óssea, com ênfase na consciência corporal. Na fisiologia, deve-se trabalhar para que os alunos entendam as alterações que ocorrem durante e após a atividade física (ex. frequência cardíaca, perda de água, queima de energia, aumento da força e flexibilidade, melhora da condição cardiorrespiratória etc). Na bioquímica, devem ser ensinados aspectos referentes ao metabolismo – produção energética, eliminação e reposição de nutrientes. Na biomecânica, a ênfase é sobre a análise postural e a percepção de movimento. Os hábitos posturais e costumes com o corpo devem ser trabalhados na direção da aquisição de percepções amplas sobre a construção da corporeidade, como traços distintivos de uma cultura. Por exemplo, dormir de rede ou em camas, lavar a roupa agachado, sentar-se de cócoras, esperar colocando o peso do corpo sobre um pé só, ou flexionar lateralmente a cabeça para tirar fotos são elementos da construção corporal que devem ser ressignificados nas aulas. Também as práticas de ‘cuidado’ com o corpo são problematizadas, por exemplo, o uso de suplementos, Jogos, esportes, lutas e ginásticas Atividades rítmicas e expressivas Conhecimentos sobre o corpo 32 vitaminas sintéticas e esteroides anabólicos, os recursos ‘mágicos’ das dietas milagrosas, cirurgias estéticas, piercings, tatuagens, escarificações e outros procedimentos que constituem a identidade de grupos sociais e etários. As capacidades físicas e habilidades motoras devem ser reconhecidas, desenvolvidas e testadas em prazos variáveis. ESPORTES, JOGOS, LUTAS E GINÁSTICAS Os conceitos de jogo, brincadeira e esporte surgem de forma indistinta no contexto do ensino. Iguais e diferentes, são elementos que se dividem muito mais pelo grau de sistematização das regras e pela formalidade universal que adquirem nas sociedades do que propriamente pelos seus conteúdos. Devem ser adaptados aos contextos reais e aos diferentes processos de desenvolvimento das crianças, bem como aos objetivos definidos para o aprendizado. A brincadeira pode ser definida como uma “atividade espontânea, voluntária, sem regras fixas, que proporciona prazer e diversão e não tem finalidade ou sentido além ou fora de si” (HELAL, 1990, p. 24), ou seja, o prazer da brincadeira é o próprio ato de brincar. A diferença entre a brincadeira e o jogo será definida pela existência a priori de regras fixas. Por exemplo, amarelinha, xadrez, damas, futevôlei e queimada são jogos, pois as regras são determinadas pelos competidores antes de início da partida. Por um lado, as regras limitam a espontaneidade e a ludicidade presentes na brincadeira, mas por outro, dificulta o alcance dos objetivos, estimulando novas estratégias e tensões, que resultam na criatividade e no desenvolvimento progressivo. Os jogos podem ser não competitivos ou competitivos. Os primeiros podem estar ligados a um objetivo comum de grupo e serem cooperativos, representativos, simbólicos. Os últimos tendem a explorar a tensão e a imprevisibilidade da disputa para assegurar a diversão. Em ambos os casos, são atos intencionais que modificam a realidade de forma imaginativa. Satisfazem as necessidades de ação e 33 movimento das crianças, sendo um fator de desenvolvimento na estimulação do pensamento, da reação, da estratégia e da criatividade. O jogo e o esporte são diferentes porque no esporte existe uma estrutura burocrática além do interesse dos jogadores, uma organização, federação, liga ou entidade semelhante, que define os critérios de forma externa. Além disso, a disputa física e a competição são características necessárias ao esporte, que podem estar ou não presentes nos jogos. Outro elemento distintivo do esporte é a presença de estruturas de rendimento profissionais como contratos, patrocínios, custos da plateia, torcidas organizadas etc. Figura 2 – Relação entre jogo, brincadeira e esporte Brincadeira Brincadeira organizada (jogo) Jogos não competitivos Jogos competitivos Competições intelectuais Competições físicas universais (esportes)Fonte: HELAL, 1990, p. 30, adaptado. A questão que deve orientar as escolhas docentes é “que conteúdos os alunos deverão adquirir sobre os jogos para se tornarem aptos a enfrentar as exigências da vida social, exercerem sua cidadania e lutarem por melhores condições de vida, trabalho e lazer?” (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, 2012, p. 65). Com o passar do tempo, o caráter de criança vai sendo observado nas brincadeiras e jogos, que evoluem de situações imaginárias, como túneis e cabanas para os jogos de construção como os blocos de montagem até aqueles cujo domínio das regras é objetivo, como no caso dos esportes. O importante é que sejam escolhidos de acordo com as características das crianças e de suas culturas e possam oportunizar maneiras diversas de desenvolvimento. 34 As lutas conformam atividades de oposição, cujas estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão exige um espaço específico e a combinação de ações de ataque e defesa. Têm a característica especial de trabalhar temas como a violência e a lealdade. Incluem atividades de oposição como cabo-de guerra, braço de ferro até as práticas complexas da Capoeira, Judô ou Karatê. Cabe ao professor e à professora a tarefa de pesquisar na cultura lúdica de sua região brincadeiras e jogos que possam desenvolver cada um dos aspectos relacionados aos temas, projetando, sempre de forma intencional, novos saberes e novas exigências no âmbito do ensino. O esporte como tal – da forma competitiva e excludente que se apresenta na realidade – logicamente não cabe como um conteúdo da Educação Física no contexto escolar. Entretanto, vários elementos da cultura esportiva estão presentes na realidade das crianças e devem ser desenvolvidos dentro da perspectiva da vivência, como formas que privilegiem o coletivo, a solidariedade, a participação e a cooperação. Por exemplo, chutar e arremessar uma bola devem ser estimulados em atividades diversas e só aos poucos devem ganhar a forma de jogo com regras. A competição deve ser trabalhada como um dos elementos, não o único nem o mais importante. Vale ressaltar que os objetivos da Educação Física na escola não são relacionados à formação de atletas, mas ao desenvolvimento de pessoas em suas diversas possibilidades. Os jogos têm maior flexibilidade e por isso, tendem a ser conteúdos prioritários em relação ao esporte – que exige uma estrutura muitas vezes irreal para os contextos escolares. O gesto técnico será ensinado no momento em que as crianças dominem tanto corporal como psiquicamente as noções fundamentais do esporte e ajustando sempre às condições de desenvolvimento dos alunos. As ginásticas são técnicas de trabalho corporal que assumem um caráter individualizado e constituem bases fundamentais da corporeidade. Engloba atividades de manifestações diversas, desde as formas básicas do atletismo 35 (caminhadas, corridas, saltos, arremessos), às formas corporais que exijam diferentes graus de habilidade (pular, empurrar, levantar, carregar, esticar, equilibrar, rolar, balançar, inverter, girar) e incluem exercícios com aparelhos (barras, traves, plintos, arcos, cordas, fitas) e algumas formas de luta. Atualmente, existem muitos tipos de ginástica, que desempenham papeis diferentes na construção da corporeidade e podem ser utilizadas com finalidades diversas no âmbito escolar. Figura 3 – Classificação das ginásticas Tipo de ginástica Definição/objetivos Exemplos Ginástica de condicionamento físico Aquisição melhora ou aprimoramento das capacidades físicas e/ou estéticas Musculação, hidroginástica, ginásticas de academia como funcional, calistenia, jump, step etc Competitiva Modalidades esportivas Artística, rítmica, acrobática, aeróbica, trampolins Demonstrativa Interação social e vivência. Reúne elementos de todas as ginásticas Ginástica geral Ginástica escolar Laboral Realizada no ambiente de trabalho. Profilaxia de DORTs Alongamento, relaxamento, exercícios posturais Terapêutica Prevenção ou tratamento de doenças congênitas ou adquiridas RPG, Pilates Alternativa Percepção corporal, interlocução multicultural, auto conhecimento Yoga, tai chi, bioenergética, antiginástica, massagens etc Fonte: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, 2011 (adaptado) Como se pode observar, as ginásticas são elementos riquíssimos da cultura corporal e sua oferta na escola abre inúmeras possibilidades para o trabalho com as crianças, ampliando suas vivências sob prismas que vão muito além dos exercícios. Embora seja importante que ao longo dos anos de escolarização a criança conheça os diversos tipos de ginástica, a ênfase no ensino fundamental deve ser dada aos movimentos globais que lhes assegurem compreensão do sentido e do significado desta prática, que permitam a participação de todos e respeitem os limites de cada criança. Por isso, o ensino da Ginástica Geral é a forma mais adequada de tratar este conhecimento. 36 A Ginástica Geral é uma manifestação gímnica sem caráter competitivo e portanto, sem regras fixadas universalmente. Permite a participação de todos, buscando a liberdade dos gestos e a valorização das experiências individuais e coletivas dos alunos. Pode-se dizer que esta é forma educativa da ginástica. De acordo com a Federação Internacional de Ginástica,3 a Ginástica Geral é orientada para o lazer, e oferece um programa de exercícios adequado para todas as idades, desenvolvendo a saúde, a condição física e a interação social. Proporciona experiências multiculturais e aberturas estéticas a outras culturas e formas corporais. Nas cidades, danças como o Hip Hop e atividades como o Le Parkour representam possibilidades criativas para o trabalho com a ginástica ocupando os espaços públicos existentes. Também a utilização de equipamentos presentes na cultura juvenil como Slack Line e o Skate podem ser adaptados para diversificar e ampliar o grau de socialização e apropriação cultural das crianças. Na natureza, as potencialidades são imensas. Cada vez mais existe possibilidade de acessar atividades naturais que desenvolvem a consciência de todo universal na criança e permitem vivências ímpares com alturas, água e ambientes diferentes. Entre as mais procuradas, atividades em pedalinhos, remo, stand up, escaladas, tirolesa, são exemplos de como os conteúdos podem ganhar uma dimensão de prazer e ludicidade fora do ambiente da escola. Uma parcela das possibilidades que podem ser trabalhadas e ampliadas na escola, nos contextos do ensino fundamental inclui: • jogos pré-desportivos: queimada, pique-bandeira, guerra das bolas, jogos pré- desportivos do futebol (gol-a-gol, controle, chute-em-gol-rebatidadrible, bobinho, dois toques); • jogos populares: bocha, malha, taco, boliche; • brincadeiras: amarelinha, pular corda, elástico, bambolê, bolinha de gude, pião, pipas, lenço-atrás, corre-cutia, esconde-esconde, pega-pega, coelho sai-da-toca, duro-ou- mole, agacha-agacha, mãe-da-rua, carrinhos de rolimã, cabo-de-guerra, etc.; 3 http://www.fig-gymnastics.com/site/ 37 • atletismo: corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos, de revezamento; saltos em distância, em altura, triplo, com vara; arremessos de peso, de martelo, de dardo e de disco; • esportes coletivos: futebol de campo, futsal, basquete, vôlei, vôlei de praia, handebol, futvôlei, etc.; • esportes com bastões e raquetes: beisebol, tênis de mesa, tênis de campo, pingue- pongue;• esportes sobre rodas: hóquei, hóquei in-line, ciclismo; • lutas: judô, capoeira, caratê; • ginásticas: de manutenção de saúde (aeróbica e musculação); de preparação e aperfeiçoamento para a dança; de preparação e aperfeiçoamento para os esportes, jogos e lutas; olímpica e rítmica desportiva (BRASIL, 1997, p. 38). ATIVIDADES RÍTMICAS E EXPRESSIVAS De forma geral, a criança deve organizar progressivamente os dados da realidade que a rodeia e expressar esta organização através de linguagens corporais adequadas. Deve conseguir estabelecer relações entre gestos, posturas e ritmos afim de que possa se comunicar criativamente, se apropriando dos significados culturais dos movimentos e da dança como linguagem artística. A dança é uma das formas de expressão mais representativas da cultura. É uma linguagem social que transmite afetividades, hábitos, costumes e valores de um povo. É uma representação da realidade, de forma estilizada e simbólica, onde a intencionalidade do gesto produz uma articulação singular entre a cultura corporal e a arte. A percepção rítmica – desde a respiração até a execução de movimentos sincronizados envolve um longo aprendizado – que deve ser fundamentado na infância e desenvolvido nos anos do ensino fundamental. A riqueza cultural de um país continental exige que as manifestações da dança sejam tão variadas quanto possível. São muitas influências, misturas e formas de dançar. São muitas as danças que surgem e rapidamente entram na cultura das crianças através de coreografias difundidas na internet e na televisão. 38 Qual seria então o ponto de partida para pensar a dança na escola? Certamente a cultura, a tradição, os elementos corporais que ensinem bases rítmicas e expressivas às crianças, que lhe permitam criar e sentir a música, a cultura e a história dos povos. A dança deve permitir ao aluno o acesso aos símbolos da cultura, bem como ampliar sua expressão corporal como suporte de sua comunicação. As danças que acontecem em festas, clubes e nas ruas podem ser apreciadas na televisão e suas coreografias espalham-se rapidamente em tutoriais na internet. Na escola, geralmente se prioriza o ensino das danças eruditas, tradicionais e contemporâneas. As noções de ritmo, espaço e energia devem ser desenvolvidas em abordagens sistemáticas, desenvolvendo cadências e estruturas melódicas, frases corporais, mas também dando intensidades, formas, trajetos, direções e sentidos aos movimentos e permitindo graus diferentes de tensão e relaxamento, forte e fraco, rápido e lento, fluido e interrompido. A base deve estar na livre interpretação da criança, com o sentido da musicalidade não sendo imposta de forma externa. As relações espaço-temporais e a interação devem ser estimuladas tanto quanto possível. Os temas expressivos da cultura também devem ganhar espaço na produção coletiva de apresentações com os alunos. Aqui vale utilizar a criatividade e ir além das datas comemorativas oficializadas, mas recuperar sentidos, tradições, narrativas e singularidades em cada realidade, transformando-as em temas das apresentações, trabalhando algumas noções técnicas que permitam aos alunos construir suas próprias coreografias e improvisações. Algumas das atividades rítmicas e expressivas que devem ser abordadas no ensino fundamental: • danças brasileiras: samba, baião, valsa, quadrilha, afoxé, catira, bumba meu- boi, maracatu, xaxado, etc.; • danças urbanas: rap, funk, break, pagode, danças de salão; • danças eruditas: clássicas, modernas, contemporâneas, jazz; • danças e coreografias associadas a manifestações musicais: blocos de afoxé, olodum, timbalada, trios elétricos, escolas de samba; • lengalengas; • brincadeiras de roda, cirandas; • escravos-de-jó (BRASIL, 1997, p. 40). 39 PRIMEIRO CICLO (1º AO 3º ANO) – ENSINO E APRENDIZAGEM As crianças chegam ao ensino fundamental com uma série de conhecimentos sobre o corpo e a cultura corporal, resultantes da experiência prévia que tiveram nas suas vivências pessoais, dos conteúdos ensinados na escola durante os anos da educação infantil e da veiculação midiática. Embora já saibam de muitas coisas, a escola deve ser um espaço que privilegie a aquisição de novos saberes e sentidos sobre o que já conhecem. É preciso ampliar a cultura de base. Já é bastante conhecida a premissa de trabalhar com a realidade local, mas a escola precisa ir além dela, promovendo experiências diversas que incluam novas referências aquelas que são trazidas pelas crianças. A expectativa pela aula de Educação Física às vezes é tão grande que os alunos ficam agitados e não conseguem se organizar para as atividades. Distribuir- se no espaço, formar grupos, ouvir, arrumar os materiais e preparar as atividades são procedimentos que devem ser permanentemente trabalhados para desenvolver a autonomia e a capacidade de organização. É importante também estabelecer as regras e buscar acordo com os alunos, evitando ao máximo assumir o papel de juiz, necessário eventualmente. A busca coletiva de saídas para os conflitos envolvendo disputas deve ser trabalhada como formas de ampliar as capacidades argumentativas e as experiências diplomáticas. Vale lembrar que as habilidades motoras devem ser trabalhadas, mas o foco não é a especialização dos movimentos mediante treinamento. Ao contrário, espera- se que a educação física oportunize ampliação das vivências motoras tanto para aquelas crianças com extrema habilidade com atividades físicas e práticas corporais, como para aquelas que têm muita dificuldade de se expressar corporalmente. A tarefa docente é promover atividades que exijam competências diversificadas e capacidades individuais sejam valorizadas e respeitadas. Uma outra questão diz respeito às diferentes capacidades que meninos e meninas desenvolvem socioculturalmente. De forma geral, os meninos tiveram mais experiências corporais com jogos e manuseio de bolas e as meninas, experiências expressivas, de coordenação e ritmo. Isso implica que as habilidades se tornam 40 diferentes num determinado momento, não que o sejam naturalmente. O papel do professor e da professora é oportunizar vivências múltiplas e não reforçar os estereótipos pré-existentes na sociedade. Todos os conteúdos devem ser desenvolvidos com ambos os sexos e o trabalho docente deve ser pensado de forma a articular os saberes e mobilizar competências diversas para desenvolver o aprendizado de forma integral. Ao final do primeiro ciclo do ensino fundamental, espera-se que os alunos sejam capazes de: • participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais; • conhecer algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer algumas metas pessoais (qualitativas e quantitativas); • conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano; • organizar autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais simples (BRASIL, 1997, p. 47). OBJETIVOS E CONTEÚDOS DO PRIMEIRO CICLO Nestes anos, a criança passa por transições nas quais as regras e os jogo sociais passam a fazer sentido. Os saberes referentes ao corpo e às manifestações da cultura corporal são sistematizados inicialmente: os movimentos ganham nomes, identificam-se padrões e relações entre as coisas, causas e consequências, semelhanças e diferenças. A inclusão de regras segue umalinha de crescente complexidade. As linhas demarcatórias e os pontos marcados são elementos que constituem desafios para o movimento delas e são particularmente estimulantes. As diferenciações entre as habilidades de meninos e meninas devem ser o foco de conteúdos ‘unissex’, ou seja, que contemplem ambos os grupos e promovam interação entre eles. Jogos de ocupação de espaço têm um lugar de destaque, pois ampliam a consciência corporal e as noções referentes ao próprio corpo, bem como contribuem para integração de grupo. A maior diversidade de movimento possível deve ser trabalhada, em situações variadas, pois a exploração dos movimentos e do corpo é 41 um processo longo, assimétrico e fundamentalmente individual. Por isso a inclusão de atividades com obstáculos favorece as capacidades e habilidades de forma especial neste momento. De forma geral, os conteúdos da Educação Física no primeiro ciclo do ensino fundamental devem contemplar (BRASIL, 1997, p. 48-49): • participação em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e não discriminando os colegas; • explicação e demonstração de brincadeiras aprendidas em contextos extra- escolares; • participação e apreciação de brincadeiras ensinadas pelos colegas; • resolução de situações de conflito por meio do diálogo, com a ajuda do professor; • discussão das regras dos jogos; • utilização de habilidades em situações de jogo e luta, tendo como referência de avaliação o esforço pessoal; • resolução de problemas corporais individualmente; • avaliação do próprio desempenho e estabelecimento de metas com o auxílio do professor; • participação em brincadeiras cantadas; • criação de brincadeiras cantadas; • acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo; • apreciação e valorização de danças pertencentes à localidade; • participação em danças simples ou adaptadas, pertencentes a manifestações populares, folclóricas ou de outro tipo que estejam presentes no cotidiano; • participação em atividades rítmicas e expressivas; • utilização e recriação de circuitos; • utilização de habilidades (correr, saltar, arremessar, rolar, bater, rebater, receber, amortecer, chutar, girar, etc.) durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças; • desenvolvimento das capacidades físicas durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças; • diferenciação das situações de esforço e repouso; • reconhecimento de algumas das alterações provocadas pelo esforço físico, tais como excesso de excitação, cansaço, elevação de batimentos cardíacos, mediante a percepção do próprio corpo SEGUNDO CICLO (4º AO 6º ANO) – ENSINO E APRENDIZAGEM As crianças ingressam no segundo ciclo de ensino com maior independência e domínio de vários conhecimentos. É momento para aprofundar e complexificar o que já sabem sobre brincadeiras, jogos, esportes, lutas, danças e ginásticas, assim como para ampliar a consciência e a formação de base corporal. 42 Os jogos já são mais complexos e desafiadores. As atividades preferidas são auto - organizadas nos momentos de lazer. As regras já fazem parte do quotidiano, assim como as estratégias utilizadas para vencer o jogo. Os movimentos já adquirem um grau de sofisticação muito próximo às técnicas socialmente referenciadas e o espaço já é um elemento de domínio comum. O momento é propício também para a formação de grupos por afinidades, e para possibilitar a experimentação e os treinos de movimentos mais difíceis. Os alunos são capazes de perceber a beleza e as formações de padrões nos movimentos, já apreciam determinadas modalidades em detrimentos de outras. É a oportunidade para salientar a riqueza cultural e a diversidade das pessoas e atividades, legitimando-as como um todo multiforme, trabalhando com atenção no combate aos preconceitos e estereotipias de gênero, classe, etnia, orientação sexual ou religiosa. Meninos e meninas se reaproximam, surgem namoros e os primeiros medos da puberdade, as primeiras experiências com álcool, drogas e sexo, a vergonha do corpo e a necessidade de se afirmar num grupo ou galera. Os confrontos morais, existenciais e afetivos. É preciso muita calma, porque o trabalho docente neste período perpassa uma série de dimensões muito delicadas na formação do caráter de pessoas que são quase adultos e quase crianças. Ao final do segundo ciclo, espera-se que eles sejam capazes de: • participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando algumas de suas características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus colegas, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; • adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, buscando solucionar os conflitos de forma não violenta; • conhecer os limites e as possibilidades do próprio corpo de forma a poder controlar algumas de suas atividades corporais com autonomia e a valorizá-las como recurso para manutenção de sua própria saúde; • conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal, adotando uma postura não-preconceituosa ou discriminatória por razões sociais, sexuais ou culturais; • organizar jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais, valorizando-as como recurso para usufruto do tempo disponível; 43 • analisar alguns dos padrões de estética, beleza e saúde presentes no cotidiano, buscando compreender sua inserção no contexto em que são produzidos e criticando aqueles que incentivam o consumismo (BRASIL, 1997, p. 53). OBJETIVOS E CONTEÚDOS PARA O SEGUNDO CICLO Neste período, é fundamental que o professor e a professora corrijam a posição dos alunos a partir de um diálogo, trazendo-lhes conforto e segurança. Deve-se evitar constrangimentos e exposições, constituindo um ambiente no qual todos se sintam acolhidos e protegidos, e com isso, desenvolva sua confiança e respeito. As atividades já podem exigir criações e soluções de problemas mais complexos e as habilidades corporais devem requerer capacidades múltiplas. Os alunos já refletem sobre seu contexto, observam posturas e tipificam coisas simples. Conhecer mais profundamente sua realidade é uma tarefa particularmente estimulante, permitindo a pesquisa multidisciplinar socialização das atividades de seus grupos, de seu bairro e suas próprias narrativas. As noções de corpo não são tão egocentradas, mas incluem diferentes pontos de vista e permitem antecipações mentais. Os temas relacionados ao desenvolvimento e maturação sexual vão aos poucos se tornando objetos de curiosidade crescente. Os esportes – ocupando um lugar de destaque na sociedade – se torna um dos conteúdos prediletos e os jogos pré-desportivos podem ser predominantes quando tratados de forma a ampliar as possibilidades de movimento. Nas atividades rítmicas e expressivas os movimentos são coordenados de forma complexa e a indústria cultural pode ser analisada e ressignificada a partir de seus próprios saberes, com trabalhos de paródias e replicações coreográficas. Neste período, os conteúdos devem propiciar: • participação em atividades competitivas, respeitando as regras e não discriminando os colegas, suportando pequenas frustrações, evitando atitudes violentas; • observação e análise do desempenho dos colegas, de esportistas, de crianças mais velhas ou mais novas; 44 • expressão de opiniões pessoais quanto a atitudes e estratégias a serem utilizadas em situações de jogos, esportes e lutas; • apreciação de esportes e lutas considerando alguns aspectos técnicos, táticos eestéticos; • reflexão e avaliação de seu próprio desempenho e dos demais, tendo como referência o esforço em si, prescindindo, em alguns casos, do auxílio do professor; • resolução de problemas corporais individualmente e em grupos; • participação na execução e criação de coreografias simples; • participação em danças pertencentes a manifestações culturais da coletividade ou de outras localidades, que estejam presentes no cotidiano; • apreciação e valorização de danças pertencentes à localidade; • valorização das danças como expressões da cultura, sem discriminações por razões culturais, sociais ou de gênero; • acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo, em coordenação; • participação em atividades rítmicas e expressivas; • análise de alguns movimentos e posturas do cotidiano a partir de elementos socioculturais e biomecânicos; • percepção do próprio corpo e busca de posturas e movimentos não prejudiciais nas situações do cotidiano; • utilização de habilidades motoras nas lutas, jogos e danças; • desenvolvimento de capacidades físicas dentro de lutas, jogos e danças, percebendo limites e possibilidades; • diferenciação de situações de esforço aeróbico, anaeróbico e repouso; • reconhecimento de alterações corporais, mediante a percepção do próprio corpo, provocadas pelo esforço físico, tais como excesso de excitação, cansaço, elevação de batimentos cardíacos, efetuando um controle dessas sensações de forma autônoma e com o auxílio do professor (BRASIL, 1997, p. 54-55). TERCEIRO CICLO (7º AO 9º ANO) – ENSINO E APRENDIZAGEM Os Parâmetros Curriculares tornam implícitos os objetivos e mecanismos de aprendizagem específicos para os ciclos finais da escolarização fundamental. Entretanto, após a leitura atenta dos princípios gerais e da construção teórico- pedagógica realizada para os anos iniciais, é possível estabelecer elementos que auxiliem o professor e a professora na tarefa de organizar o currículo para o ensino da Educação Física nestes anos. Utilizamos como suporte o livro Metodologia do Ensino da Educação Física, do Coletivo de Autores e o Caderno de Formação, organizado por Suraya Darido, cujas referências completas encontram-se nas indicações de estudos para o aprofundamento dos temas. O terceiro ciclo é um ciclo onde a sistematização dos conhecimentos deve ser ampliada, ou seja, as referências conceituais devem ser mais amplas no pensamento e nas práticas dos alunos, eles devem ter consciência das atividades teóricas e imaginativas, sendo capazes de reconstruir os conceitos no pensamento e 45 expressá-los de forma discursiva. Quando os alunos reorganizam os dados da realidade e estabelecem planos teóricos ou explicativos, eles dão um salto qualitativo na aprendizagem. É preciso imprimir sentidos e significados sociais às práticas corporais, de forma a estabelecer relações objetivas com os grandes problemas sociopolíticos, como ecologia, gênero, relações de trabalho, deficiência, envelhecimento, racismo, machismo, mobilidade urbana etc, pois o aluno deve apreender a realidade social como um todo, e identificar na cultura corporal elementos que permitam esta articulação. Neste período da vida, os alunos estão desenvolvendo a maturação sexual. É comum que os temas relacionados ao corpo e à sexualidade sejam prediletos, embora ainda haja muitos tabus entre eles. O professor e a professora devem tratá- los com naturalidade e sem estigmas, focando sempre num projeto de formação da pessoa humana, e informando sobre os cuidados necessários para a imersão na vida sexualmente ativa. A formação de galeras e turmas por afinidade identitária é comum nestes anos. As percepções sobre corpo e estética estão se tornando elementos distintivos nas relações sociais e cabe ao docente continuar ampliando as referências de belo, as noções estéticas nas artes do corpo e na música. O foco é o trabalho da diversidade, fortalecendo uma cultura de inclusão e respeito mútuo. As atividades auto-organizativas são fundamentais neste período, onde cada grupo deseja a maior autonomia possível. Promover festivais multiculturais de danças e esportes variados é uma alternativa bem interessante para que os alunos produzam saberes relacionados ao seu convívio e tenham oportunidades de experienciar práticas diversificadas. Outro ponto importante é a vivência das práticas ‘alternativos’, realizados em praças e outros espaços públicos. Por práticas alternativas estamos entendendo as atividades que não são hegemônicas ou dominantes no seio da escola, por exemplo, os esportes radicais ou as atividades na natureza. Atividades de Calistenia, Skate, 46 Le Parkour, Slack Line, Capoeira, e as formas ‘populares’ do esporte como o basquete de rua, o futebol Free Stile entre outros, devem ser valorizadas e proporcionadas aos alunos, para que experimentem e percebam opções reais de construir cultura corporal em sua realidade. Os exercícios terapêuticos devem ser abordados com especial cuidado neste ciclo, pois a intensidade das atividades tende a aumentar, seja na escola, seja fora dela. O cuidado com a respiração e a postura, práticas de alongamento e consciência corporal devem ganhar formas criativas e ser inseridas nos contextos de ensino, de modo a ampliar a noção de totalidade do corpo. OBJETIVOS E CONTEÚDOS PARA O TERCEIRO CICLO Conforme estudamos, a Educação Física tem um amplo repertório de saberes a serem ensinados durante todo o processo de escolarização. Os conteúdos da cultura corporal são aqueles elementos que durante anos foram desenvolvidos pelos homens e mulheres na constituição de sua humanidade, através do trabalho consciente de sua corporeidade. Compõem um acervo amplo de brincadeiras, mímicas, jogos, ginásticas, danças, lutas, esportes, acrobacias, atividades na natureza, práticas corporais alternativas etc. Os alunos devem ter oportunidade de conhecê-los de forma ampla e sistemática, ou seja, organizados de tal forma que ao mesmo tempo em que aprendam a dançar e se expressar ritmicamente, por exemplo, compreendam os benefícios e os sentidos de tais práticas na sua cultura. Isso implica que não é possível restringir os conteúdos às afinidades do professor e da professora. Os alunos têm direito de conhecer e vivenciar a cultura corporal e os professores, o dever de ensiná-la. Evidentemente, não se pode trabalhar com todos os elementos ao mesmo tempo. Há uma seleção e uma ordenação dos conteúdos que serão ensinados, definindo prioridades que devem ser baseadas na ampliação dos saberes, ou seja, na apresentação de conteúdos variados e diversos, na sistematização dos dados referentes às diversas 47 modalidades e nas atividades que aumentem as capacidades técnico-táticas e críticas dos alunos. Seguem algumas orientações gerais de conteúdos para a organização dos currículos no terceiro ciclo do ensino fundamental. Vale lembrar que não se trata de transpor para sua escola tudo que está aqui, mas de se inspirar para construir seu plano de ensino respeitando as dinâmicas internas de cada realidade escolar. Os conteúdos do terceiro ciclo devem ser organizados de forma a ampliar as referências culturais dos alunos no sentido de uma maior sistematização. Isso implica na inclusão de sistemas técnicos e táticos, nos desafios que regulem a auto arbitragem e outros critérios de julgamento, nas noções de organização de eventos e outras atividades expositivas como apresentações, festivais e campeonatos externos, na construção de materiais pedagógicos e na criação coletiva de jogos ouatividades. O jogo especialmente ganha uma multidimensionalidade que atravessa o esporte, mas não se reduz a ele. Um programa de ensino para estes anos deve incluir: a) Jogos cujo conteúdo implique a organização técnico-tática e o julgamento de valores na arbitragem dos mesmos. b) Jogos cujo conteúdo implique a necessidade do treinamento e da avaliação individual e do grupo para jogar bem tanto técnica quanto taticamente. c) Jogos cujo conteúdo implique a decisão de níveis de sucesso (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 47). O esporte, por sua vez, já tem o apelo midiático necessário para ser um tema incontornável nas aulas de Educação Física. É preciso cuidado para não esportivizar a cultura corporal que será tratada neste período, e construir práticas que tragam o conteúdo dos esportes adaptado para as realidades escolares. A manifestação cultural do esporte é complexa e envolve códigos, regulamentações e valores sociais, relacionados à exigência técnica, ao rendimento, à alta competitividade e à exclusão dos menos aptos. Isso precisa ser redimensionado no trato pedagógico, resgatando valores de inclusão, solidariedade e coletividade. Além disso, os sentidos sociais e econômicos precisam ser 48 problematizados de forma que o esporte seja ‘desmistificado’ na escola, bem como expandido para além dos ‘quatro cavaleiros’ (vôlei, basquete, handebol e futebol). O futebol é sem dúvida um elemento distintivo na cultura corporal do Brasil. É um fenômeno amplo e merece ser tratado de forma multidimensional. Os mercados, as redes profissionais, as relações econômicas e de poder implícitas precisam ser trabalhadas nas aulas. Também as dimensões táticas e técnicas devem ser ensinadas como dispositivos transitórios. O Free Stile ganha aqui status de elemento central, pela liberdade de movimentos, pelas possibilidades criativas, pelos dispositivos culturais e pelas diferentes estruturas, desde o jogo, equipamentos e arbitragem. O atletismo é um dos fundamentos da organização corporal. É um esporte que está na base da formação das capacidades físicas e tem muitos sentidos sociais que merecem atenção. Cada fundamento se materializa em provas que podem ser adaptadas aos contextos escolares e despertam outros sentidos para os alunos, imprimindo um desafio em cada atividade. Atividades de corridas de resistência, velocidade, cross country, de rua, de revezamento devem ser executadas nas aulas, bem como saltos horizontais e verticais. Os arremessos e lançamentos com materiais oficiais ou alternativos devem ser trabalhados no sentido de otimizar as atividades da vida diária, bem como elevar os saberes dos alunos sobre este esporte pouco trabalhado nas escolas. O voleibol se tornou febre nacional na segunda metade dos anos 2000. Os fundamentos são razoavelmente conhecidos pelos alunos. Cabe ao professor e à professora organizar atividades respeitando o estágio de desenvolvimento do aluno. Neste período, a sofisticação dos fundamentos táticos e técnicos pode ser iniciada, especialmente o trabalho de levantamento e bloqueio que devem ser desenvolvidos. Jogos que contenham estes elementos com número variável de participantes (duplas, trios, quartetos, octetos etc) além dos tradicionais sextetos podem ser trabalhados como acervos culturais e formas adaptadas de inclusão técnica e tática, bem como adaptações nas dimensões da quadra e da rede (ex. minivoleibol). 49 O basquetebol se tornou um esporte de difícil execução, devido às novas regras que o tornam mais veloz e explosivo. O manejo da bola, os dribles e os passes diversos, entretanto, auxiliam de forma ampla no desenvolvimento de habilidades corporais e multilateralidade. Também este esporte já foi desenvolvido de forma educativa e adaptada na literatura para a iniciação, com o minibasquete, jogo em que o aluno aprende os fundamentos de forma global. A cultura de rua trouxe formas alternativas de praticar o basquete, que se institucionalizaram de tal forma que hoje é impossível tratar o basquete sem abordar o basquete de rua. O redimensionamento da quadra, a cesta única e a criatividade dos movimentos devem ser exploradas nas aulas para que os alunos ressignifiquem o espaço da prática esportiva, bem como valorizem as alterações populares das práticas formais do esporte. Não se pode dizer que a capoeira seja um esporte, apesar de uma forma esportivizada ser dominante na sociedade. Ela é uma manifestação cultural que ultrapassa bastante as dimensões do esporte, pois contem em si elementos de dança, ginástica, acrobacia, jogo, luta, musicalidade, identidade cultural e ética de muitos povos brasileiros. Este conteúdo deve ser tratado em toda sua diversidade na escola, e não pode ser limitado à abordagem técnica. A ginástica se diversifica muito neste período. Desde o apelo midiático até as práticas mais comuns nas academias e os ideais estéticos deles decorrentes, o esporte se torna um foco de interesse novamente neste período. A distinção entre os tipos de ginástica (explicada na figura 3, página 21) pode ser melhor desenvolvida neste ciclo, e as práticas alternativas e de cuidado também ganham sentido neste contexto. Neste período, o foco do ensino deve contemplar “programas de formas ginásticas, tecnicamente aprimoradas considerando os objetivos e interesses dos próprios alunos e a formação de "grupos ginásticos" que pratiquem e façam exibições dentro e fora da escola, envolvendo a comunidade” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 56). 50 As danças e atividades expressivas também ganham corpo técnico mais sofisticado. Os ritmos musicais já se constituem como elementos de sociabilidade entre os alunos e neste período, é importante desenvolver a corporeidade como suporte da comunicação, como uma imagem que tem sentido na interação social. Os valores e as mensagens passadas na dança e na música devem ser contextualizados, problematizados e ressignificados em cada movimento. As danças devem atender as necessidades e os interesses dos alunos, mas não devem ser restritas à cultura de massa. A criação de espetáculos e apresentações em caráter de festival deve ser estimulada neste período. ATIVIDADES Espera-se que o estudante constitua elementos de sua identidade e da sua história de vida a partir do registro das suas memórias nas aulas de Educação Física. Esta fala compartilhada potencializa a redescoberta de sentidos para a docência e desperta para as atitudes necessárias a um bom professor ou boa professora, bem como permite uma reflexão articulada sobre os conteúdos e métodos de ensino. 1-“Para boa parte das pessoas que frequentaram a escola, a lembrança das aulas de Educação física é marcante: para alguns, uma experiência prazerosa, de sucesso, de muitas vitórias; para outros, uma memória amarga, de sensação de incompetência, de falta de jeito, de medo de errar” (BRASIL, 1997, p. 15). a) Quais foram suas experiências mais marcantes nas aulas de Educação Física na escola? Que atitudes são necessárias para um bom professor e uma boa professora de Educação Física? Por quê? 2-O brinquedo e a brincadeira constituem um mundo imaginário da criança, que varia conforme a idade. Inicialmente, é carregado de fantasia. A partir de então, aos poucos, esse imaginário integra elementos da realidade, até se tornar um jogo carregado de estratégias, nos anos finais do ensino fundamental. A Educação deve 51 incorporar a cultura corporal e ressignificar as brincadeiras de rua, os jogos populares e as cantigas de roda, que compõemas tradições lúdicas dos povos. A partir desta ideia, responda: a) O que você acha das brincadeiras e dos jogos populares serem trabalhadas na Educação Física? Por quê? b) Você acha que as crianças atualmente têm acesso às mesmas brincadeiras que você teve? O que mudou? Qual deve ser o papel do professor e da professora diante destas mudanças? c) Apresente dois jogos que seriam adequados para trabalhar em cada ciclo de escolarização e explique o porquê de suas escolhas. d) Como a Educação Física pode utilizar as ginásticas e as atividades rítmicas como formas de proporcionar aprendizagens no ensino fundamental? 3-Conforme ficou evidenciado no texto, os conteúdos devem ser trabalhados em diferentes dimensões, ora destacando as capacidades de ação esperadas dos alunos, ora destacando aspectos relativos à sua compreensão crítica da realidade. Analise a proposta de diversificação dos conteúdos do terceiro ciclo do ensino fundamental, destacando os pontos mais interessantes e opções alternativas para organizar os conteúdos neste nível de escolarização. 52 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO 3 CONHECIMENTOS Compreender a Organização curricular e o Planejamento docente. HABILIDADES Realizar um planejamento escalonado do trabalho pedagógico na Educação Física do Ensino Fundamental. ATITUDES Registrar sistematicamente os planos de aula e as observações sobre os alunos. 53 PLANEJAMENTO – A CHAVE DO ENSINO Neste capítulo, você estudará sobre o trabalho pedagógico, ou seja, como ensinar Educação Física durante os anos do ensino fundamental. Para isso, deverá aprender o que deve compor os conteúdos de ensino e como planejar a organização de seu tempo da forma mais racional possível, afim de traduzir-se numa atividade pedagógica consistente. Além disso, os temas relacionados à avaliação também serão discutidos, para que você consiga observar e registrar o desenvolvimento dos alunos de forma contínua e sistemática. Em primeiro lugar, é importante registrar que as atividades da cultura corporal têm significados variados em cada região do país e também mudam com o tempo. Você deve observar concretamente as crianças com as quais trabalha, percebendo seus recursos, suas possibilidades e limitações de forma específica, afim de produzir um trabalho otimizado. As orientações didáticas dos conteúdos seguem como mecanismos gerais, mas o trabalho pedagógico é sempre um encontro singular, realizado num contexto único com crianças particulares, que merecem atenção e uma análise cuidadosa. Não substituem o seu planejamento, ao contrário, devem fomentar novas formas de integrar os saberes na dinâmica de ensino real. Uma condição preliminar para ensinar escolares é saber que tipo de adulto se espera que elas sejam, que visão de mundo, que valores e conhecimentos se espera que elas tenham e como esta proposta se articula especificamente aos saberes da Educação Física. Embora pareça bastante abstrato, estamos falando de currículo. O currículo é o percurso da criança no seu processo de apreensão dos saberes científicos ensinados pela escola. É o projeto de escolarização, ordenado de acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola, com os documentos oficiais norteadores (PCN) e com as referências que o professor ou a professora constrói na sala de aula, permitindo que os alunos desenvolvam determinadas capacidades. 54 OBJETIVO AVALIAÇÃO ATIVIDADES O planejamento do trabalho pedagógico implica numa visão geral de formação, que se sustenta numa análise crítica do currículo a partir da realidade local, na definição realista dos objetivos e numa aplicação específica para a organização curricular dos conteúdos. É um erro muito grande pensar quais atividades serão desenvolvidas de forma isolada. É muito mais lógico começar ao contrário, pensando nos objetivos. Assim você substitui a pergunta “o que vou passar hoje aos meus alunos?” por “o que meus alunos precisam aprender hoje?”, cuja resposta é mensurável e permite que você saiba, dia a dia, se está atingindo seu objetivos. Então você saberá porque está ensinando determinado conteúdo e o resultado que espera deste processo. Daí poderá desenvolver melhor as atividades que comporão o corpo da sua aula. A sequência de planejamento é, portanto, inversa à sequência de ensino. ANÁLISE DA REALIDADE Todo planejamento requer uma análise diagnóstica preliminar. Deve-se avaliar a realidade local e as possibilidades de intervenção concretas. A aula deve ser um espaço “intencionalmente organizado para possibilitar a direção da apreensão, pelo aluno, do conhecimento específico da educação física e dos diversos aspectos das suas práticas na realidade social” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 62). Desta maneira, a avaliação não pode ser considerada apenas como um momento, mas ela deve ser permanente e sistemática, isto é, deve orientar o professor e a professora na organização do trabalho pedagógico. Muitas escolas desenvolvem mecanismos avaliativos ou instrumentais padronizados. Estes não podem ser vistos como formulários a serem preenchidos, devem fazer sentido para o professor e a professora, e orientar o trabalho docente 55 no planejamento e replanejamento das atividades. Devem permitir que haja algum grau de formalidade, isto é, que os alunos saibam o que se espera deles; mas também devem assegurar registros informais do aprendizado e do desenvolvimento das crianças para servir de referências ao professor e à professora construir novas formas de intervenção mais ajustadas. A problematização do tema da aula (p. ex. “quem sabe dar cambalhotas?”) constitui um mecanismo avaliativo preliminar que auxilia no desenvolvimento de atividades coerentes com o nível de conhecimento dos alunos. A observação e o registro sistemático do desempenho dos alunos nas tarefas propostas também constituem meios de identificar padrões de desenvolvimento e intervir para ampliar os saberes sobre os temas trabalhados em sala, atuando sobre as dificuldades que surgirem concretamente. Por fim, a síntese final da aula, onde os alunos podem falar ou onde o professor e a professora verificam a aprendizagem do tema em questão, também é um momento rico para a continuidade do trabalho. O importante é que o professor e a professora conheçam bem a realidade de seus alunos, sua cultura de base, suas condições socioeconômicas, suas referências familiares, suas tradições religiosas e especialmente, suas atividades lúdicas e as possibilidades de realização dos movimentos que eles já conquistaram, ou seja, deve saber precisamente “onde estamos” para poder definir “para onde vamos”. DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS Os objetivos devem pautar toda a organização do trabalho pedagógico, pois eles devem ser atingidos ao final de cada etapa da escolarização e consequentemente, precisam ser trabalhados no dia a dia. Então, a primeira coisa a fazer é identificar de forma realista os objetivos gerais e específicos para cada turma a ser ensinada. A aula implica numa noção de rotina. Isso não quer dizer mera repetição, mas a criação de um hábito, de um costume, de um conjunto de instruções que organize o espaço e o tempo, indicando para a criança que agora é o momento da aula. 56 Desde muito pequenas, as crianças precisam de rotinas para facilitar a vida dos pais e também para tornar previsíveis as ações de cuidado, como a amamentaçãoe o sono. A transição para a fase escolar muitas vezes implica na quebra da rotina doméstica da criança e neste momento, ela pode perder as referências. A partir do segundo ciclo do ensino fundamental, novas disciplinas são incluídas e as aulas se tornam mais variadas, as responsabilidades aumentam e eles têm de lidar com vários professores durante a semana. É importante construir uma nova rotina em cada um destes momentos, para que os alunos se sintam seguros em relação ao que está havendo, ou seja, para que sintam que está tudo bem, tudo normal. A maioria das escolas trabalha em torno de uma rotina, cujos horários para aulas e lanche são pré-fixados, assim como a entrada e a saída das crianças. Ainda que esta rotina seja aberta o bastante para as demandas próprias de cada idade, cabe ao professor ou a professora assumir o papel de construir rotinas em todos os níveis de ensino. No caso da Educação Física, é preciso que desde cedo elas sejam capazes de distinguir a liberdade que desfrutam no recreio dos saberes que desenvolvem durante as aulas. E para isso, devem entender exatamente as tarefas do dia. Os ambientes, materiais e atividades devem ser planejadas antecipadamente, de acordo com o tempo necessário à aprendizagem, e obviamente, com o tempo disponível para a aula. Propor projetos interdisciplinares bem como integrar temas transversais às aulas pode ser uma boa forma de imprimir sentidos saberes da cultura corporal, além de permitir parcerias com outros professores e professoras. Uma formação integral da pessoa, conforme preconizada nos PCN, exige uma abordagem que trabalhe a totalidade do ser humano, não apenas as matérias priorizadas nas avaliações municipais. Os saberes devem se conectar e fazer sentido entre si, os conhecimentos devem ser articulados na direção de graus sempre crescentes de síntese e sistematização. E não se pode perder de vista o projeto mais amplo de formação, isto é, o tipo de pessoa que se deseja formar. 57 CICLO ANO UNIDADE AULA Os objetivos são melhor traduzidos em aulas e atividades adequadas quando partem de um ponto de vista mais geral, ou seja, como partes de uma unidade, como domínio de um conceito maior. O planejamento dos objetivos deve seguir a sequência inversa do quotidiano docente e ser construído do macro para o micro, ou seja, parte-se dos objetivos gerais para aquele ciclo de ensino e define-se o que será alcançado no ano em questão. A partir daí você estabelece os objetivos de cada unidade de ensino e por fim, aqueles que devem ser conquistados em cada aula. Os objetivos devem ser realistas, isto é, possíveis de serem alcançados a partir da intervenção do professor e da professora. Para isso, devem ter quatro características fundamentais: Viáveis: Devem ser potencialmente atingidos ao final de cada aula. Mensurávei: O sucesso da conquista deve ser percebido pelo professor e pelos alunos. Definidores: Guiam as atividades a serem desenvolvidas. Prioritários: Focados no que é mais importante para o desenvolvimento dos alunos. FORMAS DE MEDIAÇÃO Entre a realidade que “temos” e aquela que “queremos”, existe o trabalho do professor e da professora, para construir intencionalmente novas realidades nos alunos, com novos saberes, novas práticas, novas atitudes, novas formas de ver o mundo e os outros. Aqui os conteúdos que serão ensinados devem ser organizados, tendo em vista as possibilidades concretas e as necessidades de cada turma. Deve-se prever o número de aulas para cada unidade, as estratégias metodológicas utilizadas para 58 desenvolver cada conteúdo, as atividades, ideias de projetos e organização, ou seja, como serão trabalhados cada um dos itens referentes ao plano de ensino. É importante que o professor e a professora preparem um roteiro para cada aula. O primeiro momento da aula – a problematização – deve despertar a curiosidade dos alunos sobre o tema do dia, direcionando a construção do conhecimento e as atividades que serão desenvolvidas. Neste momento o professor e a professora podem avaliar o conhecimento prévio e as habilidades dos alunos sobre o conteúdo. Também aqui deve-se incluir uma rotina, como por exemplo, sentar-se em círculo para iniciar a aula e apresentar o tema e as tarefas do dia. O segundo momento – a experimentação – deve permitir que o aluno vivencie as atividades de forma experimental, que ele se permita novas descobertas e aprendizados. É importante que as atividades sejam direcionadas e orientadas pelo professor ou professora, que os alunos menos hábeis sejam assessorados e os mais hábeis tenham oportunidades de auxiliar os colegas, contribuindo para o desenvolvimento geral da turma. A exploração da criatividade e da verbalização sobre as experiências contribui para a identificação de novas questões a serem trabalhadas pelo professor. O último momento – a síntese – é o momento de fechamento da aula, onde o professor finaliza as atividades com considerações sobre o trabalho dos alunos. A estimulação positiva e a valorização das boas atitudes são particularmente interessantes, bem como uma pequena revisão do que foi aprendido no dia, ou avaliação informal, proposta como desafio sobre a matéria do dia. Aqui se deixa a ideia geral para fixar a aprendizagem. Os recursos, ou seja, os meios materiais que permitirão o desenvolvimento de cada aula e atividade devem ser previstos e preparados com antecipação. O que existe na escola, o que deverá ser feito pelo professor ou professora, o que será construído pelos alunos, o que precisa da ajuda da família, que outros espaços podem ser trabalhados em aula (aulas de campo, visitas a parques, teatros etc), a checagem dos equipamentos como vídeos, projetores, microfones, sons, enfim, tudo 59 que será necessário para a realização da aula deve estar ajustado para minimizar os riscos de imprevistos. Por fim, os registros. É importante que o professor e a professora construam para si mecanismos sistemáticos de registros das suas aulas, para seu controle próprio. Como cada tema será avaliado – e em que dimensões, que estratégias deram certo e quais podem ser melhoradas, o que deve ser repensado no próximo encontro... Ao longo do tempo, cada professor desenvolve uma dinâmica própria de sistematizar, mas é fundamental que haja uma memória material do trabalho. Figura 4. Esquema simplificado para o planejamento de unidade. Análise da realidade Em relação aos alunos Em relação às necessidades de aprendizado Objetivos Avaliação Formas de mediação (expor as metodologias, que devem prever a dinâmica de ensino, quando e como os alunos vão interagir, como serão organizadas a sala e os materiais, recursos necessários etc) Tempo total/ quantidade de aulas Tarefas/projetos Recursos Registros Fonte: VASCONCELLOS (2002) e LEMOV (2011), adaptado. Figura 5. Esquema simplificado para o roteiro diário (Plano de Aula) Plano de aula Título da aula (tema) Data 1. Dados de identificação Escola Professor/a Disciplina Ano/Série 60 Turma Período 2. Tema Tema específico a ser trabalhado nesta aula Conceitos de referência 3. Objetivos Objetivo geral (em relação ao conteúdo e às necessidades dos alunos de forma ampla) Objetivos específicos (observáveis na aula) 4. Conteúdos (organizados em tópicos) 5. Formas de mediação Tempo M et od o L og ia Problematização Experimentação SínteseRecursos Registro e avaliação (baseados nos objetivos) ATIVIDADES Espera-se que os estudantes reflitam e pratiquem os princípios da organização racional do trabalho pedagógico, constituindo bases para um planejamento de ensino. 1. Escolha uma das metas de aprendizagem preconizadas pelos PCNs, presentes no capítulo 2. Liste todos objetivos você precisa alcançar para que seus alunos possam dominá-la completamente. Divida a meta em uma série de objetivos viáveis e mensuráveis, que tenham uma sequência lógica, desde a introdução da ideia ao domínio completo do assunto. 2. Avalie os objetivos preconizados nos PCNs para a aprendizagem de crianças do segundo ciclo do ensino fundamental: 61 ● participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando algumas de suas características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus colegas, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; ● adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, buscando solucionar os conflitos de forma não violenta; ● conhecer os limites e as possibilidades do próprio corpo de forma a poder controlar algumas de suas atividades corporais com autonomia e a valorizá-las como recurso para manutenção de sua própria saúde; ● conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal, adotando uma postura não- preconceituosa ou discriminatória por razões sociais, sexuais ou culturais; ● organizar jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais, valorizando-as como recurso para usufruto do tempo disponível; ● analisar alguns dos padrões de estética, beleza e saúde presentes no cotidiano, buscando compreender sua inserção no contexto em que são produzidos e criticando aqueles que incentivam o consumismo (BRASIL, 1997, p. 53). Dê notas mais altas aqueles que obedecem aos critérios do realismo (viável, mensurável, definidor e prioritário). Conserte o que você considera que pode ser melhorado e explique como você poderia avaliar o sucesso de cada um destes objetivos em sua aula. Nesta atividade, os estudantes devem conseguir visualizar o currículo de forma integrada, incorporando referências de diferentes conteúdos à perspectiva de ensino. 3. Abaixo segue um desenho de planejamento para a inclusão da Ginástica nos conteúdos de ensino do Ensino Fundamental tomando como base os Parâmetros Curriculares Nacionais e o livro Metodologia do Ensino da Educação Física, do Coletivo de Autores. Analise-o. 62 Ginástica – Ensino Fundamental FORMAÇÃO GERAL Ampliar os conhecimentos da ginástica como elemento da cultura corporal Conteúdos Objetivos/descritores (PCNs + Coletivo de autores) OBJETIVOS GERAIS Blocos: Conhecimentos sobre o corpo + esporte + atividades rítmicas e expressivas Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência; Conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais; Reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da saúde coletiva; Solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, regulando e dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades, considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem ocorrer de modo saudável e equilibrado; Reconhecer condições de trabalho que comprometam os processos de crescimento e desenvolvimento, não as aceitando para si nem para os outros, reivindicando condições de vida dignas; Conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética corporal que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito; Conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão. Primeiro ciclo – 1º ao 3º ano Formas ginásticas organizadas para possibilitar a identificação de sensações afetivas e/ou cinestésicas, tais como prazer, medo, tensão, desagrado, enrijecimento, relaxamento etc. Formas ginásticas que contribuam para promover o sucesso de todos. Formas ginásticas com fundamentos iguais para os dois sexos. Participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais; Formas ginásticas que impliquem diferentes soluções aos problemas do equilibrar, trepar, saltar, rolar/girar, balançar/embalar. (Sugere-se o início com técnicas rudimentares, criativas Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano; 63 dos alunos, evoluindo para formas técnicas mais aprimoradas.) Formas ginásticas que impliquem as próprias possibilidades de saltar, equilibrar, balançar e girar em situações de: Desafios que apresenta o ambiente natural (p. ex. acidentes do terreno como declives, buracos, valas etc, ou árvores, colinas etc); Desafios que apresenta a própria construção da escola, praça, rua, quadra etc. onde acontece a aula; - Desafios propostos por meio de organização motivadora de materiais ginásticos, formais ou alternativos. Formas ginásticas coletivas em que se combinem os cinco fundamentos: saltar, equilibrar, trepar, embalar/balançar e rolar/girar. Recomenda-se promover a exibição pública das habilidades ginásticas desenvolvidas, bem como a avaliação individual e coletiva para evidenciar o significado das mesmas na vida do aluno. Organizar autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais simples. Segundo ciclo – 4º ao 6º ano Percepção do próprio corpo e busca de posturas e movimentos não prejudiciais nas situações do cotidiano; Diferenciação de situações de esforço aeróbico, anaeróbico e repouso; Conhecer os limites e as possibilidades do próprio corpo de forma a poder controlar algumas de suas atividades corporais com autonomia e a valorizá-las como recurso para manutenção de sua própria saúde; Reflexão e avaliação de seu próprio desempenho e dos demais, tendo como referência o esforço em si, prescindindo, em alguns casos, do auxílio do professor; Formas ginásticas coletivas como pirâmides, formações em quartetos, quintetos e sextetos, etc. Participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando algumas de suas características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus colegas, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; Participação em atividades competitivas, respeitando as regras e não discriminando os colegas, suportando pequenas frustrações,evitando atitudes violentas; Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, buscando solucionar os conflitos de forma não violenta; Participação na execução e criação de coreografias ginásticas simples; Acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal, adotando uma postura não- preconceituosa ou discriminatória por razões sociais, sexuais ou culturais; 64 do corpo, em coordenação; Participação em atividades pertencentes a manifestações culturais da coletividade ou de outras localidades, que estejam presentes no cotidiano; Observação e análise do desempenho dos colegas, de esportistas, de crianças mais velhas ou mais novas; Expressão de opiniões pessoais quanto a atitudes e estratégias a serem utilizadas em situações de pressão e esforço; Formas técnicas de diversas ginásticas (artística, ou olímpica rítmica desportiva, ginásticas suaves, ginástica aeróbica etc). Organizar jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais, valorizando-as como recurso para usufruto do tempo disponível; Organização de projetos individuais e coletivos de prática/exibições das ginásticas na escola e na comunidade Apreciação das ginásticas considerando alguns aspectos técnicos, táticos e estéticos; Análise dos padrões estéticos presentes nas imagens veiculadas pela mídia e relação destas com a realidade. Analisar alguns dos padrões de estética, beleza e saúde presentes no cotidiano, buscando compreender sua inserção no contexto em que são produzidos e criticando aqueles que incentivam o consumismo. Terceiro ciclo – 7º ao 9º ano Formas ginásticas tecnicamente aprimoradas considerando os objetivos e interesses dos próprios alunos Solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos, regulando e dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades, considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem ocorrer de modo saudável e equilibrado; Formação de "grupos ginásticos" que pratiquem e façam exibições dentro e fora da escola, envolvendo a comunidade. Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; Participação em atividades gímnicas alternativas como Le Parkour, slack line e atividades na natureza como rapel, tirolesa, escaladas etc. Conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão. 65 Observe que a partir do detalhamento dos objetivos e das linhas gerais dos conteúdos a serem desenvolvidos, fica muito mais fácil e claro para o professor e a professora estabelecer seus objetivos específicos e as tarefas para o dia, selecionar o que irá trabalhar e como irá construir as dinâmicas de ensino em cada aula. Também fica claro como pode articular diferentes objetivos em uma só atividade, ou várias atividades como estratégia para alcançar um objetivo. Discuta com seus colegas no fórum sobre as possibilidades de organizar o planejamento a partir de uma visão global, ou seja, dos grandes objetivos. Anote sugestões e críticas para sistematizar sua própria dinâmica de planejamento. A partir do exemplo de conteúdos da ginástica, estabeleça linhas gerais para atividades de ensino que contemplem a inclusão da capoeira no segundo ciclo do ensino fundamental. Os objetivos e descritores de referência seguem abaixo, para facilitar seu trabalho. Você pode estudar o texto de Souza e Oliveira, Estruturação da capoeira como conteúdo da Educação Física no Ensino Fundamental e Médio para estruturar melhor suas respostas. A referência encontra-se no item Estudos Complementares. 4º ao 6º ano – Capoeira FORMAÇÃO GERAL Identificar a capoeira como elemento da cultura corporal Atividades Conteúdos Objetivos/descritores (PCNs +Coletivo de autores) Percepção do próprio corpo e busca de posturas e movimentos não prejudiciais nas situações do cotidiano; Ampliação dos fundamentos da ginga espelhada e trocada, base gringa e paralela; Conhecer os limites e as possibilidades do próprio corpo de forma a poder controlar algumas de suas atividades corporais com autonomia e a valorizá- las como recurso para manutenção de sua própria saúde; Trabalhar as defesas (cocorinha, queda de quatro, negativa e esquivas) e ataques (giratórios, meia lua de frente e compasso com as duas mãos, armada, queixada, martelo e parafuso simples) nas rodas de capoeira de forma inclusiva Participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando algumas de suas características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus colegas, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais; 66 e respeitosa; Formas de desequilíbrios como a rasteira Participação em atividades de rodas extra classe, respeitando as regras e não discriminando os colegas, suportando pequenas frustrações, evitando atitudes violentas; Trabalho de toques de berimbau, pandeiro e atabaque Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, buscando solucionar os conflitos de forma não violenta; Confecção de instrumentos Histórico da capoeira e origem dos instrumentos; Vertentes ou tipos de capoeira; Acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo, em coordenação. Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações da cultura corporal, adotando uma postura não- preconceituosa ou discriminatória por razões sociais, sexuais ou culturais; 67 Bibliografia ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. BARBOSA, Pedro Paulo L. O trabalho dos menores no Decreto 1313 de 17 de janeiro de 1891. Revista Angelus Novus – USP. Ano VI, nº 10, 2015. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília – DF: MEC/SEF, 1998, 3vol. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC, 2006, Vol. 2. In: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12579%3Aeducacaoinfa ntil&Itemid=859>. Acesso em: 03/09/17. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. HELAL, Ronaldo. O que é sociologia do esporte? São Paulo: Brasiliense, 1990. LEMOV, Doug. Aula nota 10 – 49 técnicas para ser um professor campeão de audiência. 6ª reimp. São Paulo: Da boa prosa/Fundação Lemann, 2011. 68 POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Rio de Janeiro: Grafhia Editorial, 1999. SOUZA, Sérgio A. R. e OLIVEIRA, Amauri A. Bássoli. Estruturação da Capoeira como conteúdo da Educação Física no Ensino Fundamental e Médio. Revista da Educação Física/UEM.Maringá, v. 12, n. 2, p. 43-50, 2º sem. 2001. Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/3745/2577 Acesso em 07/09/17. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação – formação de professores didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de ensino- aprendizagem e Projeto Político Pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. 10ª ed. São Paulo: Libertad, 2002. 69 SITES DE INTERESSE Acervo Educa Rede – projetos para o ensino fundamental. Disponível em: http://www.aberta.org.br/educarede/turbine-sua-aula/disciplina/educacao-fisica/ Portal do professor – Ministério da Educação. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/portal-do-professor. Reencantando a infância com cantigas, brincadeiras e diversão – Cartilha do Ministério do Meio Ambiente para educação em áreas rurais. Disponível: http://www.mma.gov.br/estruturas/pda/_arquivos/cartilha_reencantando_a_infncia_c om_cantigas_51.pdf Revivendo as brincadeiras de criança – Documento de Solidariedade França-Brasil. Disponível em http://www.sfb.org.br/site2015/br/wp- content/uploads/2010/06/Cartilhas-das-Brincadeiras-BD.pdf. PESQUISAS Biblioteca Virtual de Saúde. Disponível em: http://ses.sp.bvs.br/ Inventários documentais da FUNDAJ. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=356&Itemi d=411