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3 1- INTRODUÇÃO O adolescente tem o direito ao atendimento à saúde sem autorização e desacompanhado dos pais, como também direito da privacidade, da confidencialidade e do sigilo no momento da avaliação, bem como de consentir ou recusar o atendimento e ter a informação sobre seu estado de saúde. O atendimento ao adolescente deve sempre levar em conta, dentre outras variáveis, o processo de crescimento e desenvolvimento e sua vulnerabilidade a inúmeros agravos físicos, psíquicos e sociais, cuja análise permitirá a identificação dos fatores protetores que devam ser promovidos e os riscos que deverão ser afastados e/ou atenuados. O enfoque no risco auxilia o profissional a planejar o acompanhamento do adolescente priorizando as ações preventivas e assistenciais. Didaticamente os riscos podem ser classificados em: risco biológico (obesidade, doença crônica, etc.); risco emocional (depressão, uso abusivo de drogas e álcool, etc.); risco familiar (pais alcoolistas, com transtornos mentais, etc.); risco social (morar em área de trafico de drogas, pobreza extrema, etc.) (LOPES,2009). O uso de drogas é um fenômeno bastante antigo na história da humanidade e constitui um grave problema de saúde pública, com sérias consequências pessoais e sociais no futuro dos jovens e de toda a sociedade. A adolescência é um momento especial na vida do indivíduo. Nessa etapa, o jovem não aceita orientações, pois está testando a possibilidade de ser adulto, de ter poder e controle sobre si mesmo. É um momento de diferenciação em que "naturalmente" afasta-se da família e adere ao seu grupo de iguais. Se esse grupo estiver experimentalmente usando drogas, o pressiona a usar também. Ao entrar em contato com drogas nesse período de maior vulnerabilidade, expõe-se também a muitos riscos. O encontro do adolescente com a droga é um fenômeno muito mais frequente do que se pensa e, por sua complexidade, difícil de ser abordado. O uso de drogas já é tido como um problema epidemiológico mundial. No mundo todo, cerca de 200 milhões de pessoas - quase 5% da população entre 15 e 64 anos usam drogas ilícitas. Aproximadamente metade dos usuários usa drogas regularmente; isto é, pelo menos uma vez por mês (FIGUEIREDO, 2008). 4 A consulta de enfermagem fundamenta-se no processo de interação, investigação, diagnóstico, educação e intervenção, baseada em uma relação de confiança e empatia onde o enfermeiro deve manter uma postura de compreensão e atenção a todas as informações, queixas e necessidades que levaram o adolescente a procurar esse atendimento. 5 2 OBJETIVOS: 2.1 Objetivo geral Conhecer o tema Drogadição na infância e adolescência. 2.2 Objetivo Especifico Conhecer período da adolescência, drogadição na infância e adolescência a abordar a definição, epidemiologia , ações do enfermeiro diante desse problema. 6 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Álcool e outras Drogas Pesquisa realizada em todas as capitais sobre o consumo de tabaco29, que progressivamente está sendo reduzido no Brasil, apontou uma prevalência de 16% de fumantes, sendo o consumo maior entre homens na faixa etária de 40-50 anos (GONÇALVES,2007). Os estudos realizados até hoje sobre o consumo de álcool e de outras drogas, no entanto, ressaltam o alto consumo destas substâncias entre crianças e adolescentes de 9 a 19 anos e jovens de 20 a 24 anos. As bebidas alcoólicas ocupam o topo da lista, tornando-se um importante problema de saúde pública. Considerando tal cenário epidemiológico, a ênfase destas diretrizes dar-se-á na análise do uso abusivo de álcool. I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, de 2007 , aponta que o início do consumo desta substância, em adolescentes de 14 a 17 anos, está na média de 13,9 anos que é mais baixa que nos jovens dos 18 aos 25 anos, cuja média é 15,3 anos. Com relação ao consumo regular observa-se que os adolescentes (14-17 anos) adquiriram este comportamento em média aos 14,6 anos. Já os jovens (18-25 anos) começaram por volta de 17,3 anos. Nos adolescentes pesquisados (n=661), quase a metade dos que beberam no último ano consumiu três doses ou mais por situação habitual. Há uma diferença na quantidade do consumo de doses entre as adolescentes e os adolescentes: quase um terço dos homens adolescentes que bebem consumiu cinco doses ou mais no último ano, enquanto que 11% das mulheres adolescentes consumiu essa mesma quantidade de doses (LOPES,2009). O referido estudo evidencia que não há diferenças significativas na frequência de consumo entre os gêneros. Dois terços dos adolescentes de ambos os gêneros são abstinentes, mas os que bebem consomem quantidades importantes. Como este universo pesquisado é representativo das várias regiões do país e de áreas urbanas e rurais, merece atenção o fato de 35% de adolescentes menores de 18 anos de idade consumirem bebida alcoólica ao menos uma vez por ano e 24% beberem, pelo menos, uma vez ao mês (FIGUEIREDO,2008). 7 3.2 Epidemiologia Os levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de álcool e outras drogas entre os jovens no mundo e no Brasil mostram que é na passagem da infância para a adolescência que se inicia esse uso. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de três milhões de crianças e adolescentes fumem tabaco. O álcool é usado pelo menos uma vez por mês por mais de 50% dos estudantes das últimas séries do que corresponde ao nosso ensino médio, sendo que 31% chega a se embriagar mensalmente. O encontrou na população jovem americana (13 a 18 anos) as seguintes taxas de uso de tabaco, álcool e drogas: 12% de fumantes pesados (um maço ou mais ao dia); 15% de bebedores pesados (cinco ou mais doses por dia em três ou mais dias dos últimos 15); 5% fazem uso regular de maconha (20 ou mais dias no último mês); e 30% fazem uso frequente de cocaína (três ou mais vezes no último mês).O uso de drogas varia de acordo com o sexo e, em meninos, esse uso aparece associado com mais frequência à delinquência (DUNCAN, 2004). No Brasil, o panorama mudou completamente nas últimas décadas. Até o início da década de 80, os estudos epidemiológicos não encontravam taxas de consumo alarmantes entre estudantes. No entanto, levantamentos realizados a partir de 1987 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre as Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (CEBRID) têm documentado uma tendência ao crescimento do consumo. Esses levantamentos foram realizados entre estudantes de primeiro e segundo graus em dez capitais brasileiras e também em amostras de adolescentes internados e entre meninos de rua. Em 1997, o CEBRID mostrou que existe uma tendência ao aumento do consumo dos inalantes, da maconha, da cocaína e de crack em determinadas capitais. No entanto, o álcool e o tabaco continuam de longe a ocupar o primeiro lugar como as drogas mais utilizadas ao longo da vida e no momento atual (último mês) e com mais problemas associados, como por exemplo, os acidentes no trânsito e a violência (COSTA, 1999). Segundo Lopes,2009 o estudo realizado em 1997 pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, avaliou 3.139 estudantes da quintasérie do primeiro grau à terceira série do segundo grau de escolas públicas, possibilitando comparar as taxas de uso experimental ao longo da vida com as de uso habitual (últimos 30 dias). O estudo 8 encontrou um consumo ao longo da vida e nos últimos 30 dias, respectivamente, de 77,7% e 19,5% para álcool; 34,9% e 4,6% para tabaco; 9,2% e 2,8% para inalantes; 7,1% e 1,6% para tranquilizantes; 6,3% e 2,0% para maconha; e 1,9% e 0,6% para cocaína . Entre os fatores que desencadeiam o uso de drogas pelos adolescentes, os mais importantes são as emoções e os sentimentos associados a intenso sofrimento psíquico, como depressão, culpa, ansiedade exagerada e baixa auto-estima 3.3 Diagnóstico Outro aspecto muito importante desse tema é como realizar a identificação do jovem que usa drogas e tem problemas relacionados, o "adolescente de risco". O uso de drogas é um fenômeno multidimensional, que pode acontecer durante a adolescência, quando também podem surgir outros transtornos psicológicos, comportamentais e sociais. Entre as psicopatologias que mais incidem na puberdade (depressão maior, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e do comportamento disruptivo) detectam-se sinais e sintomas semelhantes àqueles também observados com o uso dessas substâncias, dificultando o diagnóstico diferencial (PECHANSKY,2004). Assim, uma avaliação inicial cuidadosa do jovem que procura tratamento pode auxiliar o diagnóstico e melhorar o prognóstico, pois essa população não busca ajuda por conta própria, principalmente quando estão em dificuldades relacionadas ao uso de drogas. Eles pouco relacionam possíveis alterações de seu comportamento, pensamento e mesmo de seu funcionamento orgânico com o uso dessas substâncias, pois essas mudanças muitas vezes decorrem também da adolescência normal. Quando o fazem, minimizam ou negam as evidências e, dentro de uma postura ainda ambivalente, dizem que "isso não é nada" e que poderão resolver tudo sozinhos. Portanto, esse momento é muito especial e, dependendo da forma de abordar o problema pelos familiares, amigos ou mesmo pelo profissional, a resistência pode aumentar e a chance de intervir diminuir. Portanto, o primeiro passo da intervenção com um jovem é adequar esse contato, por meio de uma entrevista afetiva, ativa, objetiva e clara, buscando a cooperação do paciente e reforçando o 9 sigilo das informações. Deve-se propiciar uma anamnese livre, na qual o jovem responda a duas questões básicas: por que ele veio para a consulta e o que ele pensa que está errado com ele (GONÇALVES,2007). O profissional deve conduzir esse contato tentando vencer a resistência do jovem e obtendo as informações necessárias para um diagnóstico mais preciso. A confidencialidade e a importância da percepção por parte do adolescente de que tem um papel a assumir no processo de mudança que ali se inicia são amplamente debatidos e garantidos. Esses cuidados são imprescindíveis para desenvolver um bom rapport, o objetivo principal dessa primeira entrevista (DUNCAN, 2004). São objetivos dessa avaliação: estabelecer o vínculo; investigar sobre a saúde física e mental; sobre o comportamento e o relacionamento social e familiar; o ajustamento escolar ou profissional; sobre seu lazer; e, finalmente, sobre o uso de drogas e os problemas a ele associados, estabelecendo uma história sobre o uso de drogas na vida. Após essa avaliação global do adolescente, por meio da investigação das diversas áreas de sua vida, realiza-se o exame físico e solicitam-se exames laboratoriais, se necessário. O jovem deve receber todos os resultados dessa investigação. A seguir, define-se a gravidade do uso de drogas e suas consequências, desenvolvendo um plano de intervenção subsequente, com metas e critérios de sucesso esperados com o tratamento. Se não for possível aplicar tal estratégia, é melhor encaminhar o jovem para um serviço especializado (ALVES, 2008). Sabe-se da importância do sistema familiar nas intervenções para prevenção e tratamento da dependência de álcool e outras drogas. Para a maioria dos jovens, o suporte socioeconômico vem dos pais e, para eles, os serviços de tratamento devem um esclarecimento legal sobre alguns problemas. Garantindo ao jovem o sigilo das informações pessoais, os pais devem saber compulsoriamente sobre risco de suicídio, síndrome de abstinência grave, intoxicação grave e abuso sexual. Muitas famílias também devem ser inseridas no tratamento (COSTA, 1999). Em função da complexidade da questão, é muito importante que se utilize questionários, inventários e escalas desenvolvidos para o jovem, com o objetivo de fundamentar o diagnóstico e o encaminhamento do caso.Para o diagnóstico, recomenda-se a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da 10 Organização Mundial da Saúde. No capítulo sobre transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas, encontram-se os critérios diagnósticos para vários estados, sendo os mais importantes: intoxicação aguda, uso nocivo, síndrome de dependência, estado de abstinência, entre outros. Um diagnóstico de síndrome de dependência usualmente só deve ser feito se três ou mais dos seguintes requisitos estiveram presentes durante o último ano (LOPES,2009). Um forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substância; Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de seu início, término ou níveis de consumo; Um estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por: a síndrome de abstinência característica para a substância ou o uso a mesma substância (ou de uma substância intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar sintomas de abstinência; Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas (exemplos claros disso são encontrados em indivíduos dependentes de álcool e de opiáceos, que podem tomar doses diárias suficientes para matar ou incapacitar usuários não tolerantes); Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância psicoativa, aumento da quantidade de tempo necessária para obter ou tomar a substância ou para se recuperar de seus efeitos; Persistência do uso da substância, a despeito da evidência clara de consequências manifestamente nocivas. Deve-se fazer esforços para determinar se o usuário estava realmente (ou se poderia esperar que estivesse) consciente da natureza e extensão do dano. 11 3.4 Tratamento Como tratar o adolescente com problemas relacionados ao uso de álcool ou outras drogas? Os estudos de metanálise sobre a efetividade dos diversos tratamentos psicoterápicos para adolescentes conseguiram reunir em torno de 400 tipos diferentes de terapias utilizadas para adolescentes. Além dessa diversidade de intervenções, a escolha do tratamento dependeu de fatores extrínsecos, isto é, da disponibilidade do tratamento mais adequado para o jovem (próximo ao local de sua residência e compatível com sua condição socioeconômica e com seu sistema familiar), como também de fatores intrínsecos, como a motivação do jovem e a gravidade de seu diagnóstico como um todo. O tratamento do adolescente deve levar em consideração também, o tipo da droga utilizada e a frequência do consumo. Até 1974, os adolescentes dependentes de álcool ou outras drogas recebiam tratamentos desenvolvidos originalmente para adultos. Wheeler e Malmquist30 propuseram oprimeiro tratamento para jovens dependentes de álcool em regime de internação (28 dias), utilizando o modelo Minnesota, uma intervenção em grupo com o programa dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. Estes autores levaram em consideração algumas diferenças entre o adolescente e o adulto, aplicando uma técnica essencialmente comportamental e diretiva (GONÇALVES,2007). Cerca de 80% dos jovens com problemas associados ao uso de drogas são tratados em ambulatórios por meio de abordagens individual, grupal, familiar ou uma combinação dessas, aplicando-se modelos teóricos variados. O tratamento pode ser feito em regime de internação parcial hospital-dia e em regime de internação integral, utilizando-se a psicanálise, a terapia comportamental, a cognitivo- comportamental, a interacional e a sistêmica, entre outras. Nas abordagens psicodinâmicas são privilegiadas formas de tratamento que promovam o desenvolvimento de modos mais satisfatórios de relação consigo mesmo e com os outros. Dessa forma, o recurso ao uso da substância deixa de ter a função anteriormente utilizada, ou seja, a resolução temporária de motivações inconscientes. Outras formas de tratamento se associam à psicoterapia, que pode tornar possível o encontro do indivíduo com aspectos seus anteriormente 12 inacessíveis ao seu consciente. Tal encontro possibilita que o indivíduo ultrapasse impasses existenciais, vá além das repetições inconscientes de comportamentos que impedem o desenvolvimento de sua maturidade e autonomia e permite que ele expanda o seu repertório de recursos para enfrentar as vicissitudes do dia a dia (LOPES,2009). Já o modelo mais utilizado e recomendado entre os norte-americanos e os ingleses é o da terapia cognitivo-comportamental. A Teoria do Aprendizado Social de Bandura é a base teórica dessa intervenção, sendo o uso de drogas considerado um comportamento aprendido, desencadeado e mantido por eventos e emoções específicos e, portanto, possível de ser modificado. A família é considerada parte dessa disfunção e deve ser abordada (FIGUEIREDO,2008). Qualquer que seja o modelo teórico, o tratamento deve estar estruturado em três níveis: o desenvolvimento global do adolescente; a modificação do comportamento de uso de álcool ou drogas e a resolução dos problemas associados, além do reajuste familiar, social e ambiental. O tratamento do dependente de substâncias psicoativas é bastante complexo e os estudos sobre a efetividade dos tratamentos para essa população adolescente devem ser replicados, pois os resultados ainda são pouco animadores. Para a população adulta, a literatura mostra que tratar é melhor que não tratar, mas não existe nenhum tratamento mais efetivo até o momento. A recaída, o desejo pela droga o pouco envolvimento nas tarefas escolares ou no trabalho, o lazer insatisfatório, a polidependência, o início de uso do álcool muito cedo na vida, as alterações de comportamento e o envolvimento criminal são fatores que contribuem para tornar o tratamento menos efetivo. A abstinência e o redimensionamento do funcionamento escolar, familiar e social são recomendados para aumentar a efetividade das intervenções (DUNCAN, 2004). 3.5 A Atenção Integral no Uso Abusivo de Álcool e de Outras Drogas em Pessoas Jovens 13 Dentre todas as drogas, o álcool é a mais utilizada no mundo inteiro. No Brasil, especialmente a cerveja e a aguardente, fazem parte do contexto cultural como componente de socialização e também de festividades. Ou seja, o consumo de bebidas alcoólicas está inserido na cultura brasileira como fato social não só aceito, mas frequentemente reforçado. Por outro lado, o uso de álcool é, certamente, um dos maiores fatores de adoecimento e que também contribui para situações de risco para a população brasileira, especialmente a população jovem. Diversos estudos epidemiológicos mostram um quadro preocupante, com uma tendência mundial à iniciação cada vez mais precoce e de forma mais pesada, no uso abusivo de substâncias psicoativas. De acordo com dados de três estudos nacionais realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas , da Universidade Federal de São Paulo o consumo de bebidas alcoólicas tem aumentado entre jovens e, consequentemente, os problemas que derivam do seu uso. No campo das drogas ilícitas, o consumo de crack pelos jovens, especialmente aqueles que vivem nas ruas das grandes regiões metropolitanas brasileiras, é igualmente preocupante (LOPES,2009). Expostos a várias 5 situações de violência, os consumidores desta substância demandam, não só alternativas de saúde (tratamento para dependência de drogas, serviços básicos de saúde, testagem/tratamento para DST/ Aids), mas de intervenções de geração de renda, moradia, educação, serviços sociais que possam permitir a chance do desenvolvimento de outras perspectivas de vida. O I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, de 2007, aponta que o início do consumo desta substância em adolescentes de 14 a 17 anos, que está na média de 13,9 anos, é mais baixa que nos jovens dos 18 aos 25 anos, com a média de 15, 3 anos de idade. Com relação ao consumo regular observa-se tendência semelhante (ALVES, 2008). Posto isso, é importante, para o planejamento de políticas públicas preventivas e de atenção integral a adolescentes, que: o padrão de consumo das bebidas alcoólicas deste grupo populacional, de ambos os gêneros, seja conhecido uma vez que há diferenças na quantidade do consumo de doses; a Política para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas e o PEAD, preconizam a mudança de modelos assistenciais de atenção integral que contemplem as reais necessidades de pessoas que consomem álcool e outras drogas. ampliação da rede 14 de CAPS-ad para álcool e outras drogas; de CAPSi, infanto-juvenil, ambulatórios e CAPS-III, de 24 horas, capacitação para os profissionais da rede CAPS, hospitais gerais para melhor acolhimento e atenção aos adolescentes e as pessoas jovens no uso abusivo de álcool e outras drogas; fortalecer as parcerias intersetoriais com os órgãos de trânsito, segurança pública, para a realização de ações educativas que incidam sobre a relação entre uso de álcool outras drogas e acidentes de trânsito e o aumento da criminalidade; incentivar os governos estaduais e municipais a adotarem medidas de restrição ao acesso de bebidas alcoólicas, em respeito à Lei que proíbe o uso de bebidas alcoólicas para pessoas menores de 18 anos de idade, buscando diminuir o seu uso; vários indicadores mostram que o uso abusivo e a dependência de drogas, ilícitas ou lícitas, têm atingido proporções preocupantes nas últimas décadas tornando-se fonte de alarme para a sociedade (FIGUEIREDO,2008). Os custos sociais, cada vez mais elevados e que estão atrelados a este uso, pedem urgentemente uma ação sinérgica e resolutiva em saúde pública;, incentivem a participação juvenil nos espaços de discussão e deliberação para subsidiar as ações e estratégias de prevenção ao uso prejudicial de álcool e outras drogas; fomentem a educação em saúde nas escolas e outros espaços de participação juvenil visando a mudança de comportamentos não saudáveis; capacitem adolescentes e jovens como promotores de saúde para uma atuação qualificada entre pares favorecendo novas estratégias de abordagem, comunicação e linguagem; promovam a realização de ações integradas de promoção de saúde com as representações juvenis a fim de incluí-las como parceiras e co–responsáveis nas agendas e políticas locais. articulem as políticas sociais por meio dos serviçosdos CRAS e CREAS proporcionando melhorar o acesso e a assistência às famílias , aos adolescentes e aos jovens que vivenciam situações de uso abusivo de álcool e outras drogas; favoreçam e busquem o diálogo com as varas e promotorias da infância e juventude e outros operadores de direitos de modo a evitar a judicialização desta temática e fortalecer a rede de garantia de direitos; promovam campanhas educativas integradas com outras políticas públicas para sensibilizar e conscientizar a população sobre a temática (DUNCAN, 2004). A Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), prescreve medidas para prevenção do uso 15 indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares dentre outras disposições. Ressalta-se que esta aproxima o entendimento sobre o consumo pessoal de drogas do campo da saúde e incorpora os princípios do Sistema Único de Saúde, não restringindo suas disposições ao campo da segurança pública (GONÇALVES,2007). Já o Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas no Sistema Único de Saúde (PEAD 2009- 2010), do Ministério da Saúde, preconiza a mudança de modelos assistenciais de atenção integral que contemplem as reais necessidades de pessoas que consomem álcool e outras drogas. O PEAD prioriza ações para crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade. As especificidades do grupo etário de adolescentes e de jovens, com suas necessidades, demandas e particularidades, necessitam da análise das variáveis importantes do padrão de consumo, contextualizadas socialmente, economicamente e culturalmente, trazendo a oportunidade de ter dados reais e científicos para a reflexão sobre os fatores que influenciam nesse padrão de uso nesse grupo, eliminando os mitos existentes. Isto possibilita um direcionamento mais proveitoso para o desenvolvimento de políticas públicas, incluindo prevenção e tratamento que influam nas relações destrutivas (COSTA, 1999). 3.6 CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE ORIENTAÇÕES A consulta de enfermagem fundamenta-se no processo de interação, investigação, diagnóstico, educação e intervenção, baseada em uma relação de confiança e empatia onde o enfermeiro deve manter uma postura de compreensão e atenção a todas as informações, queixas e necessidades que levaram o adolescente a procurar esse atendimento (PECHANSKY,2004). Durante a primeira consulta é importante estabelecer um “pacto” ou “contrato” com o adolescente e sua família, sendo informados sobre o sigilo da consulta, a partir do qual, o que for dito pelo adolescente só será repassado aos pais com o consentimento deste, exceto em situações de risco de vida próprio ou de terceiros. É fato que qualquer criança ou adolescente não precisa de acompanhantes para passar em consulta em qualquer instituição de saúde, e a 16 presença dos pais onde há conflitos familiares presentes associa os “contratos” ao adulto e não ao próprio adolescente. Seguindo estes mesmos princípios, quando o adolescente procurar o atendimento sozinho e mostrar maturidade para se responsabilizar por seu tratamento, seus pais serão convidados a comparecer somente, se ele estiver de acordo. É fundamental dispor de um tempo adequado para cada atendimento, principalmente para a realização de uma abordagem integral e de orientações preventivas. Alguns retornos podem ser necessários para estabelecer um vínculo de confiança e esclarecer situações mais complexas. No caso do Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família, ao identificar um adolescente com questões de risco ou de saúde mais complexa tem a necessidade de tentar expandir seu vínculo através do Agente Comunitário de Saúde para auxiliá-lo no acompanhamento, incentivá-lo a buscar mais vezes esse profissional para discutir e refletir sobre seus problemas como também envolver toda a família (ALVES, 2008). No Histórico de Enfermagem ou levantamento de dados é importante abordar como ele está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas quais está passando, ao seu relacionamento com a família e com seus pares, a forma como utiliza as horas de lazer, as suas vivências anteriores no serviço de saúde, as expectativas quanto ao atendimento atual e a seus planos para o futuro se conhece a rede da região. Além disso, a menarca, a espermarca, ciclo menstrual, tristeza, melancolia, dificuldade em lidar com as frustrações, não se sentir compreendido, rejeições, uso de drogas e ideia ou tentativa de suicídio, são temas que podem estar presentes na vida de alguns adolescentes e o fato de perguntar (se preocupar) é importante e estratégico, pois abre uma possibilidade de identificação e pode reforçar a empatia entre o profissional e o adolescente. Se o adolescente não estiver à vontade para responder, o profissional poderá postergar essas questões para outro encontro (COSTA, 1999). 3.7 ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO Atuação dos enfermeiros aos usuários de drogas Saber o que perguntar e como perguntar ao paciente se ele faz uso de drogas deve fazer parte do processo de aprendizado do enfermeiro. A reação do cliente as perguntas realizadas pelos profissionais, muitas vezes, está condicionada à forma como é feita a abordagem. Pesquisa realizada sobre Atuação do Enfermeiro na Atenção ao Usuário de Álcool e 17 outras Drogas nos serviços extra hospitalares, evidencia a importância dessa interlocução . O profissional por crenças e estigmas que carrega acerca do usuário de drogas leva-o a um enfrentamento da sua própria ansiedade, insegurança, preconceitos e limitações em lidar com a situação. O paciente por sua vez, pode se sentir não muito a vontade de falar em seu problema por toda questão social que envolve a utilização de substâncias químicas, onde o usuário é visto como marginal e como tal vai ser olhado de maneira diferente e até mesmo desprezado em suas necessidades de cuidados. Assumir-se usuário e doente pode implicar em se assumir marginal e excluído da sociedade (FIGUEIREDO,2008). O enfermeiro pode descobrir que a empatia é seu instrumento mais valioso ao comunicar-se com seus pacientes . A empatia pode ser um facilitador de aproximação entre o paciente e o profissional levando a redução de dificuldades nessa relação. A irritação titulada pelos estudantes de enfermagem pode ser reduzida ou até mesmo não existir se ocorrer empatia entre paciente e enfermeiro . Saber como se aproximar do paciente, reconhecendo a sua individualidade e o respeito como um ser cidadão são ferramentas inexoráveis para evitar o constrangimento, além de se constituir em um arcabouço de medidas para minimizar as dificuldades na interlocução com o paciente . Ainda numa perspectiva de negação sobre a abordagem do paciente usuário de drogas, os estudantes acreditam que o enfermeiro não goza da confiança dos usuários para falar com este sobre o seu uso de substâncias . Um importante passo para uma positiva interlocução com pacientes que usam drogas é o acolhimento com posterior vinculação aos mesmos. Esse vínculo será fundamental para que o paciente confie e se sinta a vontade para falar e responder o que lhe for perguntado pelo profissional sem mentiras, sem máscaras. É necessário compreendermos que os usuários são pessoas que adoeceram e requerem ser auxiliadas, portanto, não devem ser vistas como portadoras de defeito moral, não devendo ser rejeitadas ou punidas . Entretanto ainda há uma visão distorcida por parte dos enfermeiros que classificam estas pessoas como complicadas de se lidar,um pouco delinquentes, que vão mentir e enganar o profissional cuidador (PECHANSKY,2004). O vínculo terapêutico favorece a assistência à medida que o paciente se sente mais a vontade para falar do seu problema ou até mesmo silenciar se for mais conveniente para ele. Desse modo, o vínculo terapêutico também é um balizador das atitudes dos profissionais que geram em 7 contrapartida a segurança e a 18 confiança do paciente . Confiando e se sentindo seguro e protegido o paciente dificilmente terá pudor em falar sobre seu uso de drogas e consequentemente não faltará com a verdade para com o profissional de sua confiança. Por outro lado não podemos perder de vista que muitas dessas dificuldades de inter-relação estão associadas à falta de conhecimento dos enfermeiros para lidar com um problema com a dimensão do fenômeno das drogas, bem como, o pouco envolvimento dos cursos de formação com o desenvolvimento desta temática, retardando o preparo desse profissional para agir com competência neste campo que é ao mesmo tempo multicausal, interdisciplinar e multifacetado (DUNCAN, 2004). Os estudantes acreditam que independente da condição do uso de substâncias o contato que o enfermeiro tiver com o paciente para falar sobre o seu uso será sempre produtivo. Quando se manifestam de maneira positiva em relação à interlocução com o paciente usuário de drogas, os estudantes compartilham de uma prerrogativa em que o enfermeiro tem um importante papel de educador em saúde, e para que sua função como tal seja exercida corretamente é necessário que estes enquanto educadores dispam-se de qualquer preconceito para que a assistência prestada a esses pacientes seja eficaz, adequada e irrefutavelmente humana. Pois, reconhecer o outro como sujeito é uma imposição àqueles que desejam exercer sua profissão na assistência ao usuário de drogas . Em menor percentual mais ainda preocupante, segue aqueles que acreditam na falta de produtividade em um diálogo com usuários de drogas. Isso mostra que ainda predomina o preconceito da sociedade e dos profissionais em relação ao usuário de álcool e outras drogas e a falta de conscientização destes sobre a importância da aceitação da diferença (COSTA, 1999). 19 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O abuso de álcool e outras drogas por adolescentes é considerado, atualmente, um grave problema de saúde pública. Devido à complexidade que envolve essa questão, considera-se que a mesma extrapola o campo da saúde pública, exigindo um olhar interdisciplinar, tanto na investigação de suas condições de surgimento, quanto na produção de respostas de enfrentamento. O uso de drogas já é tido como um problema epidemiológico mundial. No mundo todo, cerca de 200 milhões de pessoas quase 5% da população entre 15 e 64 anos - usam drogas ilícitas. Aproximadamente metade dos usuários usa drogas regularmente; isto é, pelo menos uma vez por mês Atuação dos enfermeiros aos usuários de drogas Saber o que perguntar e como perguntar ao paciente se ele faz uso de drogas deve fazer parte do processo de aprendizado do enfermeiro. A reação do cliente as perguntas realizadas pelos profissionais, muitas vezes, está condicionada à forma como é feita a abordagem. O enfermeiro tem um papel relevante frente às ações preventivas para este público, pois são agentes-chave no processo de transformação social, por meio da promoção à saúde. Faz-se necessário, no entanto, o preparo de profissionais para atuarem junto a essa clientela, pois a assistência deve voltar-se para a necessidade de diagnosticar o abuso de drogas e os prejuízos causados por ela à vida do adolescente de forma precoce, com isso os problemas levantados poderão ser amenizados . As atividades de promoção de saúde ajudam o cliente a manter-se saudável, melhorando seu nível de bem-estar atual ou futuro. As atividades de prevenção de doenças são direcionadas à proteção do paciente contra as ameaças reais ou potenciais à saúde. Ambas são orientadas para o futuro; as diferenças entre elas envolvem motivações e objetivos. As atividades de promoção à saúde tendem a motivar o paciente a agir de forma positiva para alcançar o objetivo de um nível superior de saúde e bem-estar. As atividades de prevenção de doenças são destinadas a motivar o indivíduo a evitar uma condição negativa, mais do que assumir uma ação positiva, com o objetivo de manutenção do nível de saúde (GONÇALVES, 2007). De tal modo cabe ao enfermeiro ampliar o olhar aos motivos que levam os indivíduos a fazer uso de drogas ilícitas na perspectiva de poder contribuir com a sociedade com ações preventivas, bem como ofertar um cuidado adequado aos 20 indivíduos usuários de drogas extensivo aos seus familiares, contribuindo assim para uma sociedade melhor estruturada, livre das drogas. 21 5.REFERÊNCIAS; ALVES, J.E.D. O planejamento familiar . Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE; Brasília-DF, 2008 acesso em 29 setembro 2019, Disponivel< http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/texto_pf_jeda_05jun10.pdf COSTA, A.M. Parte IV - Serviços de saúde; Desenvolvimento e implementação do PAISM no Brasil . de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999 acesso em 11 outubro 2019, Disponivel em <http://books.scielo.org/id/t4s9t/pdf/giffin-9788575412916-18.pdf DUNCAN,B.B. Medicina ambulatorial : Condutas na Atenção Primaria Baseada em Evidencia. 3 edição . Porto Alegre, Artemed editora. 2004. FIGUEIREDO,N.M.A. Ensinando a cuidar em saúde pública. 1 ed . São Caetano do Sul-SP .Editora YENDIS ,2008 GONÇALVES SSPM. Atuação do enfermeiro na atenção ao usuário de álcool e outras drogas nos serviços extra hospitalares. Esc Anna Nery Rev Enferm 2007; 11(4): 586-92. Acesso em 05 outubro 2019. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000600009 LOPES G.T . Concepções de acadêmicos de enfermagem sobre usuários de drogas. Rev Bras Enferm, Brasília 2009 jul-ago; 62(4): 518-23.acesso em 01 outubro 2019 disponivel em <http://www.senaaires.com.br/wp- content/uploads/2017/05/A-ATUA%C3%87%C3%83O-DO-ENFERMEIRO-AOS- ADOLESCENTES-USU%C3%81RIOS-DE-DROGAS.pdf PECHANSKY F,. Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos. Rev. Bras. Psiquiatr. 2004;acesso em 02 outubro 2019, disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516- 44462004000500005&script=sci_abstract&tlng=pt