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Trabalhista - 03

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE TRABALHO DA 1ª VARA DO TRABALHO DE PELOTAS/RS
Autos n° 0001022-20.2019.504.0001
Ação: Reclamação Trabalhista
Miguel Antônio dos Santos, já qualificado nos autos da reclamatória trabalhista em epígrafe, a qual move contra AZ Automóveis S/A, inconformado com a respeitável sentença de fls. ..., vem, tempestiva e respeitosamente á presença de Vossa Excelência, interpor
RECURSO ORDINÁRIO
com base no artigo 895, inciso I da CLT, de acordo com as razões em anexo as quais requer que sejam recebidas e remetidas ao Egrégio Tribunal Regional da 4ª Região.
DAS RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO
RECORRENTE: Miguel Antônio dos Santos
RECORRIDO: AZ Automóveis S/A
PROCESSO DE ORIGEM N° 0001022-20.2019.504.0001
JUÍZO DE ORIGEM: JUIZO DA 1ª VARA DO TRABALHO DA COMARCA DE PELOTAS/RS
Egrégio Tribunal Regional da 4ª Região,
Colenda Turma,
Nobres Julgadores
I – DOS FATOS
O Trabalhador Miguel alega que foi contratado para exercer as funções de operador de produção, realizando suas atividades entre 00:00 horas e 06:00 horas. Afirma que em 16/11/2018 foi vítima de acidente de trânsito enquanto se dirigia para o trabalho, razão pela qual deve ser considerado como acidente de trajeto. 
Em função do evento danoso assevera que sofreu fratura na perna direita, tendo ficado afastado de suas atividades laborativas até o dia 02/01/2019, isto é, retornou ao trabalho em 03/01/2019, tendo trabalhado normalmente até sua dispensa imotivada. No mencionado interregno recebeu auxílio doença acidentário junto ao INSS. 
O trabalhador ainda destaca que o local de trabalho não era servido por transporte público no horário em que tinha que prestar serviços, o que o obrigava a utilizar veículo próprio para realizar o deslocamento. Diante do exposto, requereu a condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), assim como à sua reintegração ao emprego ou recebimento de indenização substitutiva. Atribuiu à causa o valor de R$ 76.000,00 (setenta e seis mil reais). Juntou documentos.
A reclamada apresentou contestação por meio eletrônico, aduzindo que o acidente em questão não pode ser classificado como de trajeto, vez que não foi na rota que o reclamante normalmente utilizava para se deslocar de casa para o trabalho. Afirma que havia transporte público em horário compatível com o trabalho e que foi o obreiro que optou por não o utilizar, preferindo se dirigir ao estabelecimento comercial com sua própria motocicleta.
A empresa pugnou pela improcedência do pleito de reparação civil, ao fundamento de que o reclamante não exercia atividade de risco, assim como pelo fato de a reclamada não ter contribuído para o acidente de trânsito. Afirmou, também, o abalroamento se deu por fato de terceiro, ou seja, que o veículo que atingiu a motocicleta do reclamante avançou o sinal vermelho, além de seu condutor estar sob efeito de álcool, o que afasta qualquer dever de indenizar. 
Em atenção ao princípio da eventualidade, pugnou pelo arbitramento de indenização por danos morais em montante inferior ao pretendido. Fixados os pontos controvertidos e definido o ônus da prova, consensualmente, procedeu-se à oitiva das partes e de uma testemunha de cada parte. Como declararam que não desejavam produzir outras provas, encerrou-se a instrução.
Em sentença, o magistrado julgou parcialmente procedente os pedidos, condenando a reclamada à reintegração do reclamante, assim como ao pagamento dos salários devidos desde a extinção do contrato de trabalho até ao efetivo retorno do obreiro às suas atividades laborativas. E julgou os demais pleitos improcedentes. Condenou honorários advocatícios de 10% pelo reclamante e 5% pela reclamada, devendo ser calculado o valor a ser apurado em liquidação de sentença.
Arbitrou o valor da condenação em R$ 30.000,00 (trinta mil reais), com custas de R$ 600,00 (seiscentos reais), nos termos do art. 789, da CLT, a cargo da reclamada.
II – DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL
Da Tempestividade
De acordo com os artigos 775 e 895, inciso I da CLT, para interpor recurso ordinário o prazo é de 8 (oito) dias úteis.
Art. 775 – os prazos estabelecidos neste título serão contados em dias úteis, com exclusão do dia do começo e inclusão do dia do vencimento.
Art. 895 – cabe recurso ordinário para a instância superior:
I – das decisões definitivas ou terminativas das Varas e Juízos, no prazo de 8 (oito) dias;
Assim, como a decisão foi publicada no dia 02/10/2019, o Recorrente tem como prazo final o dia 14/10/2019.
Do depósito recursal e das custas de preparo
É importante frisar que o recurso deve ser recebido, pois o depósito recursal e as custas de preparo estão garantidas por seguro garantia, seguindo o que estabelece o artigo 899, §11 da CLT.
Art. 899 – os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste título, permitida a execução provisória até a penhora.
§11 – o depósito recursal poderá ser substituído por fiança bancária ou seguro garantia judicial.
Portanto preenchidos os requisitos legais, o presente recurso merece ser recebido.
III – DO MÉRITO
Danos Morais
A sentença julgou improcedente o pedido de indenização por danos morais ao fundamento de que não se aplica ao caso a teoria da responsabilidade civil objetiva, haja vista que o trabalhador não desempenhava atividade de risco. Também afastou o dever reparatório levando-se em conta a teoria subjetiva, pois ausente ação ou omissão da reclamada, assim como inexistente o nexo de causalidade.
A lei 8.213/91 determina que acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, porém em seu artigo 21, inciso IV, “d”, prevê a equiparação do acidente ocorrido no trajeto para o trabalho ao acidente de trabalho.
Art. 21 – equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
[...]
IV – o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
[...]
d) no percurso da residência para local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
Assim, no que que se refere à responsabilidade civil na esfera trabalhista, o artigo 7°, inciso XXVIII da CF determina a indenização a ser paga pelo empregador quando incorrer em dolo ou culpa.
Art. 7° - são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de usa condição social:
[...]
XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está abrigado, quando incorrer dolo ou culpa.
Ainda sobre a reparação civil, o Código Civil também trata deste assunto em seus artigos 186, 187, 402 a 405 e 927.
Art. 186 – aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 402 – salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
Art. 927 – aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repara-lo.
O artigo 8°, §1° da CLT, dispõe que o Direito Civil é fonte subsidiária do Direito do Trabalho. Assim, tendo em vista que a legislação trabalhista não regula de forma exaustiva a responsabilidade civil, devem ser observadas as normas constantes no CC.
Art. 8° - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.§1° - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.
Tendo em vista que o reclamado deverá indenizar o reclamante a CLT em seu artigo 223-G, §1°, inciso III, determina o valor que será fixado da indenização à ser paga.
Art. 223-G – ao apreciar o pedido, o juízo considerará:
[...]
§1° - se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
[..]
III – ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido;
É importante frisar que empresa não é servida por transporte público regular no horário de trabalho do reclamante. Além disso, o princípio da primazia da realidade sobre a forma, diz que a realidade é que prevalece na relação laboral, inclusive sobre documentos. Ele destina-se a proteger o trabalhador, que já é subordinado juridicamente em virtude do contrato de trabalho.
Honorários Advocatícios
O reclamante foi condenado ao pagamento de honorários advocatícios no importe de 10% do valor da condenação apurado em sede de liquidação de sentença. 
Porém, há de constatar que o Reclamante é hipossuficiente na acepção financeira, de modo a não possuir condições de arcar com as custas processuais, e, menos ainda, com a remuneração dos serviços prestados pelo seu patrono em defesa dos seus interesses. Sendo ele, assim, beneficiário da justiça gratuita.
Assim, deve-se questionar a constitucionalidade da disposição do art. 791-A, da CLT, especialmente quando assevera que os honorários são devidos mesmo a quem teve o deferimento da gratuidade judiciária.
Art. 791-A CLT - Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.
[...]
§4º - vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executados se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão da gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do benefício.
Por fim, requerer subsidiariamente a redução do percentual ao patamar mínimo, devendo-se analisar o disposto no art. 791-A, da CLT.
IV – DO PEDIDO
Diante do exposto e do que dos autos constam, requer o Recorrente, seja recebido e processado o presente recurso diante dos requisitos de admissibilidade e no mérito seja dado provimento ao Recurso, ora interposto, reformando a r. sentença de fls., emanada pelo r. juízo monocrático, nos termos e fundamentações supra.
Termos em que,
Pede deferimento,
Pelota/RS, 14/10/2019
Nome do Advogado
OAB/UF n° ...

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