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POR QUE FAZER ESCOLAS SUSTENTÁVEIS? 
	
Carmen Lúcia Gomes da Silva 
Flavia Giangiulio Taveira 
RESUMO 
A sustentabilidade refere-se a toda atividade que satisfaça as necessidades dos seres humanos, mas, 
que agrida o mínimo possível o meio ambiente, respeitando os limites dos seus recursos e dando-
lhes tempo e meios de se recuperar. Quando aplicada a arquitetura, a sustentabilidade é trabalhada 
de forma em que a edificação, em vez de danificar o espaço, faça parte dele. O foco desse trabalho 
são as escolas sustentáveis, que, além de possuírem um espaço arquitetônico mais sustentável, 
promovem a educação ética e ambiental, de forma socialmente justa. Contudo, esses ensinamentos 
promovidos por elas, não ficam limitados apenas às salas de aula, estendendo-se assim, por toda a 
comunidade, sempre levando, como ponto de partida, uma visão global. No estudo de caso 
realizado, está sendo acompanhadas as primeiras etapas do planejamento e processo construtivo, 
mostrando as dificuldades, soluções, pesquisas realizadas pela equipe, escolhas dos materiais e mão 
de obra para a Escola Divino Mestre, que será construída na Paraíba. 
Palavras-chave: Sustentabilidade, Escolas sustentáveis, Escola Divino Mestre. 
 
ABSTRACT 
Sustainability refers to any activity that meets the needs of human beings, but which harm the 
environment as little as possible, within the limits of their resources and giving them time and 
means to recover. When applied to architecture, sustainability is crafted so that the building instead 
of damaging the space, part of it. The focus of this work are sustainable schools, which, besides 
having a more sustainable architectural space, promote ethical and environmental education, in a 
socially just manner. However, these teachings promoted by them, are not just limited to the 
classroom, extending thus throughout the community, always taking as a starting point, an 
overview. In the case study, is being accompanied by the first stages of planning and construction 
process, showing the difficulties, solutions, research carried out by staff, material choices and 
manpower to the School Divine Master, which will be built in Paraiba. 
 
1. INTRODUÇÃO 
Com todos os problemas ambientais que vêm surgindo ao longo dos anos, a sustentabilidade vem 
ganhando mais atenção da população. Ela engloba diversos fatores, e esses, visam causar o mínimo 
impacto ambiental possível. Através da conscientização, cada vez mais, esses fatores ganham 
forças. Dentre eles, a arquitetura vem se mostrando uma grande aliada do meio ambiente, 
mostrando soluções construtivas, sem prejudicar tanto o planeta, adotando cuidados para não 
desperdiçar materiais e, se possível, reaproveitar algum material. 
 
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Os projetos sustentáveis que ganham destaques são as escolas, pois elas não apenas ensinam o que 
é, mas, praticam a sustentabilidade. Indo além da sua edificação, a escola sustentável envolve não 
só os alunos e funcionários, mas, toda a comunidade. Os benefícios já começam desde seu processo 
construtivo, e continuam após finalização. Um exemplo disso é a Escola Divino Mestre, que está 
sendo construída, de forma sustentável, na Paraíba. 
 
2. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL 
Sustentabilidade é o termo usado para algo que consiga manter-se, causando o mínimo 
impacto ao meio ambiente e que, ao mesmo tempo, possa suprir as necessidades dos seres humanos. 
Quando uma sociedade é sustentável, ela não põe em risco o meio ambiente, pois ela usa seus 
recursos, mas, sem esgotá-los. 
No desenvolvimento sustentável, o homem tem uma boa qualidade de vida, respeitando o 
meio ambiente e garantindo um futuro, tanto para sua geração, quanto para as que irão vir, 
melhorando assim a vida na Terra. 
Quando falamos em desenvolvimento sustentável, também falamos de arquitetura 
sustentável, pois ela parte de três pontos: preservação ambiental, viabilidade econômica e 
valorização social. Nos projetos sustentáveis estudam-se métodos de construções e materiais que 
não agridam o ambiente, e sim, que faça parte dele, são aproveitadas as matérias primas e os 
materiais que tem em sua região, o que já diminui o fluxo de transportes para trazer o material, o 
que já traz benefícios ao planeta, pois reduz a emissão de gás carbônico. Isso é, apenas, um dos 
benefícios ao se construir edificações sustentáveis. 
 
“Devido essa utilização desenfreada dos recursos naturais ao longo dos anos, 
observou-se modificações significativas no clima e no território do planeta. Com o intuito de 
preservar o meio ambiente ainda existente, é necessário fazer algumas alterações no sistema 
construtivo na construção civil e uma delas é adaptar a construção tradicional para a 
construção sustentável.” (Revista On-Line IPOG) 
 
Grande parte da população ainda não tem o conhecimento da importância e benefício da 
construção sustentável, muitos acham que essas estruturas são caras, outras associam a algo feio. 
Uma das formas para tentar modificar esse pensamento, é mostrando, por meio de construções 
públicas, por exemplo, que a arquitetura sustentável é algo financeiramente viável, funcional e 
bonito. Usar essa metodologia em construções/reformas de escolas é uma forma interessante para 
que a população começasse a ter esse primeiro contato e, através do exemplo, levasse esse 
aprendizado para suas realidades. 
 
“No que se refere ao ambiente escolar, o fato das pessoas permanecerem no local 
por quatro ou mais horas diárias durante oito anos ou mais, torna ainda mais evidente a 
necessidade de analisarem-se seriamente as relações pessoa-ambiente...” (Giangiulio, 
2008). 
 
 
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3. A ESCOLA SUSTENTAVEL 
Uma escola sustentável promove processos educacionais que ensinem seus alunos a repensarem 
seus atos com relação ao meio ambiente. Ensinam também os valores éticos, morais, culturais e 
sociais, mostrando a importância do respeito para com o próximo. 
Tendo a intenção pedagógica de constituir, de forma concreta a sustentabilidade socioambiental, ela 
se preocupa em não agredir o meio ambiente, e sim, fazer parte dele como um todo. Nesse caso, 
seus espaços e estruturas são pensados de forma em que aproveitem a ventilação e iluminação 
natural, preservem a vegetação, seja acessível, economize recursos hídricos, possua sistemas de 
saneamento mais inteligentes, transportes que não gerem tanto danos ao meio ambiente e 
aproveitem a topografia do local, causando o mínimo, ou nenhum dano a ele e, atenda as 
necessidades dos usuários. 
 
“Hoje, o processo pedagógico requer uma reflexão ambiental para que a distância entre o pensar e o fazer também 
possa acolher o sentir no processo de criação. Uma educação integral3 deve incitar não apenas responsabilidades 
ecológicas, mas convidar para repensarmos nossas próprias vidas e o modelo de sociedade, cuidando do mundo por 
opção de quem acredita que a chamada educação ambiental não é mero pretexto à coleta seletiva de lixo, mas um 
convite à ressignificação de nossos modos de vida.” (Rachel Trajber e Michèle Sato) 
 
Ela também precisa incentivar a participação de todos, compartilhar as responsabilidades e 
promover saúde, tanto do ambiente, quanto das pessoas. Nota-se que, a sustentabilidade nas escolas, 
não está ligada apenas as questões ambientais, mas envolve também o social, cultural, espiritual e 
econômico. 
Assim sendo, Frago e Escolano(1998) defendem que o espaço escolar precisa ser analisado 
como um construto cultural cuja materialidade pode vir a estimular e/ou inibir determinados 
discursos, pois traduz em si o sistema de valores vigentes. Sob esse ponto de vista, a arquitetura 
escolar também deve ser encarada como um programa educativo, já que envolve símbolos culturais, 
ideológicos, pedagógicos e estéticos, os quais encontram ressonância em aspectos como ordem, 
disciplina, vigilância, marcos para a aprendizagem sensorial e motora, entre outros. 
Como diz Paulo Freire (2005), “é incrível não imaginar o significado do discurso formador 
que faz uma escola respeitada em seu espaço, na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na 
higiene dos sanitários, nas flores que adornam o ambiente” (p. 44 e 45). Assim, é relativamente 
simples inferir-se que, no ambiente escolar, a transmissão de valores ligados à ética social e 
ambiental não devem ser limitados apenas a conteúdos intelectuais, transmitidos através da 
docência, e sim repassados, experenciados na vivência cotidiana (COSTA, 2005). 
 
 
4. O ESPAÇO ESCOLAR E SEU ENTORNO	 
A educação ambiental vai além dos muros da instituição, tornando-se uma prática difundida 
por toda escola e sociedade em geral. O espaço escolar enquanto território envolve também a 
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ligação da edificação com as suas áreas livres (pátio, horta, jardins), assim como o espaço em seu 
entorno, o bairro. 
Quando se tem uma ligação harmônica entre esses espaços, cria-se um melhor convívio 
entre as pessoas, tanto do interior, quanto dos arredores da escola. Existem projetos onde se pode 
manter a segurança da escola, mas que não afete a ligação dela com o seu arredor, criando assim 
uma integração social. 
Em seus espaços, pode-se aproveitar para fazer jardins, hortas, plantar árvores, fazendo com 
que traga beleza, temperaturas mais amenas e alimentos para a escola. Outra sugestão é fazer mais 
bicicletários do que vagas para carros, induzindo as pessoas adotarem o uso de bicicletas, ou 
caminhadas, evitando o uso de transportes poluentes e adquirindo um estilo de vida mais saudável, 
encorajando também a criação de mais faixas de pedestre e ciclovias pelo bairro. 
 
 “...através dos Espaços Educacionais Sustentáveis (EES), for capaz de 
conscientizar crianças, jovens e adultos no sentido da proteção e preservação do 
meio ambiente. Na proporção em que a educação ambiental estiver posta como uma 
prática cultural em cada um habitante e a sociedade, em geral, e o poder público, 
em específico, cumprirem com suas responsabilidades, competências e atribuições. 
Acreditamos ser nos EES que a cultura do respeito e preservação da vida agora e 
no futuro se consolida como uma prática e uma realidade necessária 
impostergável.” (Jurídico, Âmbito). 
 
 Para uma escola ser sustentável, ela não precisa obrigatoriamente atender a todos 
esses requisitos. O ideal é que ela possa adotar práticas sustentáveis em seu espaço, das quais seus 
estudantes levem como lição de vida e as aplique no seu dia a dia. 
 
5. DIVINO MESTRE – ESCOLA PROFISSIONALIZANTE EM SUSTENTABILIDADE 
Localizada em Bayeux, na grande João Pessoa, a escola fica na Avenida Ricardo Loureiro 
Cavalcante, no Bairro Alto da Boa Vista A. O bairro localiza-se a menos de três quilômetros do 
centro da cidade, às margens da BR-230. Mesmo tendo alguns comércios de pequeno porte, o bairro 
é predominantemente residencial. A Escola Divino Mestre é a primeira escola sustentável a ser 
construída na Paraíba. 
 
“A Escola Divino Mestre é uma ideia que vem sendo sonhada há muito tempo! Fundada em julho de 1996 pelo Sr. 
Arnóbio Lacerda, a escola é um projeto da Instituição Luz e Vida e ganhou viés sustentável após a conclusão de 
doutorado da Professora Claudiana Maria da Silva, presidente da Instituição e coordenadora geral da DM (como é 
carinhosamente chamada a Divino Mestre).” (Rafaela Coelho). 
 
Contando com uma grande equipe de voluntários, a escola Divino Mestre tem como objetivo 
ministrar cursos práticos de pequena duração, oficinas e demonstrações práticas oferecendo 
alfabetização ecológica nas áreas de saneamento básico (água potável, esgotos sanitários, águas 
pluviais e resíduos sólidos), construção sustentável e manutenção das instalações prediais das 
edificações. 
 
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Na primeira semana de trabalho no local, foi realizada uma visita ao terreno onde será 
construída a Escola Divino Mestre, para apresentar o terreno aos voluntários e tirar as medidas 
preliminares para o levantamento topográfico, que é o procedimento feito para estabelecer a posição 
de pontos na superfície terrestre, que irá se tornar a planta do terreno em que a obra será construída. 
. 
Na segunda visita, parte da equipe de voluntários se reuniu na cidade de Bayeux para dar 
início à limpeza do terreno, fazer a medição topográfica e produzir a placa temporária que vai 
identificar o local. Nesse segundo contato, já houve colaboração voluntária de alguns moradores da 
comunidade. 
“...uma boa gestão educacional requer a formação de parceria entre escola e comunidade para que aquela 
seja de fato inclusiva e democrática	.”	(Ana	Maria	da	Silva)	
	
Na terceira semana a equipe iniciou a construção de um círculo de bananeiras, para tratar as 
águas cinza vindas das casas ao redor, que caem diretamente dentro do terreno. Também se iniciou 
a criação de composteiras, para aproveitar o lixo orgânico retirado do terreno. 
Na quarta semana foram realizadas duas visitas ao terreno com o objetivo de construir um 
muro temporário, formado por pallets e pneus, para impedir que a população local continuasse 
despejando lixo no local. Nas visitas seguintes, moradores foram convidados para um evento no 
local onde vai ser construída a escola, para que assim a equipe conheça melhor o perfil da 
comunidade, expliquem a importância da escola e seus benefícios. Nas reuniões que ocorrem 
semanalmente, são discutidas as problemáticas, ideias e soluções para o projeto. Nelas, as equipes 
de arquitetura, design e engenharia trabalham de modo que as construções sejam o mais sustentável 
possível. Foram determinados os seguintes materiais para as construções: Containers, bambus, 
tijolo Mattone, taipa, garrafas de vidro e pneus. A ideia é que a sustentabilidade e beleza andem de 
mãos dadas. Ficou definida a utilização de telhado vivo em todas as edificações, para que se 
obtenha uma temperatura mais amena. Suas estruturas serão de modo em que o vento e a 
iluminação natural sejam aproveitados. 
Quando se trata das águas, alguns alunos que fazem parte da equipe começaram a desenvolver os 
seguintes trabalhos: 
 
- Plano de Manutenção Sustentável para as Instalações Hidrossanitárias na Escola: é quando 
tratamos de uma inspeção e troca de uma peça de utilização antes mesmo de seu defeito ocorrer, 
evitando assim problemas ambientais e econômicos como danos a construção e gastos excessivos 
de água. O projeto de pesquisa tem como objetivo trabalhar as instalações hidrossanitárias, 
ampliando o conhecimento nessa área da manutenção sustentável, o que trará como princípio os 
pontos de esgotos; 
 
 - Proposta de Uso das Águas Pluviais para Fins Nobres: A pretensão dessa pesquisa é trazer à tona 
a magnitude que é o aproveitamento total das águas pluviais e, consequentemente, apresentar à 
sociedade a tecnologia social funcional quanto ao seu tratamento; 
 
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- Projeto para o Tratamento das Águas Negras por Evapotranspiração: Projetar os processos de 
instalação de um sistema sustentável para a reutilização de águas negras; 
 
- Proposta para Redução do Consumo de Água Potável: Identificar uma residência na comunidade 
Alto da Boa Vista-A para o estudo, levantar os pontos de água das instalações prediais, cadastrar os 
componentes dos pontos de água para o plano de manutenção, demonstrar a redução do consumo 
dos pontos de água para laborar o plano de manutenção. 
 
- Banheiro Seco: Uma cabine de uso, com uma bacia que separe a contribuição líquida da sólida e 
com abertura que direcione a parte sólida para as composteiras. 
Mesmo seu processo construtivo ainda estando no início, os moradores já sentiram alguns 
benefícios e se mostraram motivados com a ideia da escola sustentável. 
 
No dia 31 de julho de 2016, foi realizado o primeiro evento no local em que será construída a 
escola. O projeto “A Tua Ação Sustentável” reuniu voluntários, estagiários, pesquisadores e 
moradores da comunidade para uma palestra de conscientização sobre o lixo. Nela foi explicada a 
importância da separação do lixo para reciclar, e os resíduos sólidos orgânicos para serem usados 
como adubo. Para complementar as informações dadas na palestra, foi ministrada, pelo professor 
Pedro Paulo, uma oficina de compostagem estática no local. Após a realização da oficina, foi 
servido um lanche com receitas veganas, que também serão usadas para as oficinas futuras na 
escola. 
Nas reuniões seguintes, decidiram o planejamento e determinação da engenharia para a remediação 
do terreno (que recebe águas pluviais, cinzas e negras da circunvizinhança); organização dos pneus 
no terreno para alvenaria, coletores de resíduos secos e úmidos e a inserção da área para 
compostagem, a qual faz parte do projeto “A Tua Ação Sustentável”, que é responsável pela gestão 
dos resíduos orgânicos. 
 
6. MODO DE ABORDAGEM DA QUESTÃO 
Partindo do quadro geral delineado nos capítulos anteriores, a presente pesquisa objetivará 
responder à seguinte pergunta-chave: POR QUE FAZER ESCOLAS SUSTENTÁVEIS? 
Para realizar a pesquisa será percorrido o caminho da Pesquisa-Ação, onde o pesquisador 
desempenha o papel profissional que perpassa pela dialética que articula constantemente 
aproximação e distanciamento, mediação e desafio, ciência e arte, entre outros. É um sujeito 
autônomo de circula entre o discurso e a pratica. Lapassade fala de sete aspectos de uma pesquisa 
participativa: 
1. O problema nasce na comunidade que o define o analisa e resolve; 
2. A meta da pesquisa e a transformação radical da realidade social e a melhoria da vida 
das pessoas nela envolvidas. Os beneficiários da pesquisa são, portanto os próprios 
membros da comunidade; 
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3. A pesquisa participativa exige a participação plena e total da comunidade durante o 
processo de pesquisa; 
4. A pesquisa participativa envolve todo o leque de grupos de pessoas que não possuem o 
poder: explorados, pobres, oprimidos, ...; 
5. O procedimento da pesquisa participativa pode suscitar nos participantes uma melhor 
conscientização de seus próprios recursos e mobiliza-los de maneira a prepara-los para 
um desenvolvimento endógeno; 
6. Trata- se de um método de pesquisa mais cientifico do que a pesquisa tradicional, pois a 
participação da comunidade facilita uma analise mais precisa e mais autentica da 
realidade social e 
7. O pesquisador é aqui um participante engajado. Ele aprende durante a pesquisa. 
(Lapassade apud Barbier, 2007) 
 
Como diz Paulo Freire (2005), “é incrível não imaginar o significado do discurso formador 
que faz uma escola respeitada em seu espaço, na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na 
higiene dos sanitários, nas flores que adornam o ambiente” (p. 44 e 45). Assim, é relativamente 
simples inferir-se que, no ambiente escolar, a transmissão de valores ligados à ética social e 
ambiental não devem ser limitados apenas a conteúdos intelectuais, transmitidos através da 
docência, e sim repassados, experenciados na vivência cotidiana (COSTA, 2005). 
Outra abordagem necessária que complementará a pesquisa é com base em conhecimentos 
da área das relações Pessoa-Ambiente a partir do ponto de vista da Psicologia Ambiental ⎯ um dos 
que mais se aproxima da Arquitetura e Urbanismo ⎯ um modo de abordagem do ambiente 
construído e de seus componentes cujo ponto de partida é uma visão global e interdisciplinar 
centrada na percepção dos usuários e na análise de condicionantes sócio-econômicos e culturais 
inerentes à obra. 
De acordo com Ittelson, et al. (1974) ⎯ texto posteriormente revisto e reforçado por Rivlin 
(2003) ⎯ , as primeiras pesquisas em Psicologia Ambiental foram desenvolvidas após a Segunda 
Guerra Mundial, em função do crescente interesse social pelos temas ambientais e da iniciativa de 
alguns grupos de pesquisadores, que saíram de seus laboratórios e passaram a estudar a vida 
cotidiana. 
 
A Psicologia Ambiental vem preencher uma lacuna existente entre arquitetura e psicologia 
tradicional, criando uma área comum e necessária para a produção de ambientes mais 
humanizados e ecologicamente coerentes. Desempenha, assim, o papel de “ponte” entre 
conhecimentos psicológicos e arquitetônicos possibilitando trocas e somas de conceitos, 
experiências e métodos de trabalho. (ELALI, 1997) 
 
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Complementando esse entendimento e aprofundando o conhecimento da área, Pinheiro e 
Elali (1998) esclarecem que, de modo amplo, os trabalhos em Psicologia Ambiental caracterizam-se 
por: (i) estudar os seres humanos em seus contextos diários; (ii) ressaltar o intercâmbio dinâmico 
entre pessoa e ambiente (visão ecológica que reforça o papel do organismo em criar seu próprio 
ambiente, demonstrando que a pessoa modifica o ambiente ao mesmo tempo em que é modificada 
por ele); (iii) valorizar o caráter multidisciplinar de temáticas em estudo, a partir da investigação de 
aspectos relevantes das várias disciplinas, e da adoção de estratégias de pesquisa multimétodos; (iv) 
estudar processos psicológicos básicos como percepção, cognição e comportamento ambiental, 
enquanto partes do processo de comunicação inter-pessoal e mediadores da interação pessoa-
ambiente. 
A fim de propiciar uma visão geral sobre o modo como as pessoas entendem o ambiente 
construído, reforçando a importância da retroalimentação das informações como subsídio para a 
melhora contínua do meio e a importância do usuário nesse processo (MARTUCCI e BASSO , 
2003), a pesquisa será fundamentada na estratégia multimétodos, e envolverá: (1) análise 
documental; (2) vistoria técnica das escolas, que ocorrerá por meio de walkthrough incluindo a 
avaliação de suas condições de manutenção; (3) observação informal do comportamento dos 
usuários nas áreas livres, inclusive com análise de vestígios de comportamento; (4) aplicação de 
questionários com as diversas categorias de usuários; e (5) grupo focal com os usuários, a fim de 
complementar e aprofundar a discussão dos resultados. 
 
6.1 OBJETIVOS ESPECIFICOS 
 
6.1.1 Fazer levantamento topográfico 
 
6.1.2 Planejar todos os projetos integrados e simultâneos 
 
6.1.3 Escolher os materiais 
 
6.1.4 Discutir os processos construtivos 
Resumindo, será utilizada nesta pesquisa uma estratégia multimétodos que, segundo 
(GÜNTHER, ELALI e PINHEIRO, 2008) admite três tipos de relação, dependendo do foco de 
esclarecimento pretendido:1. Centrado no ambiente – quais as características do ambiente que influenciam as 
pessoas, nesta pesquisa os métodos utilizados foram observação e questionário; 
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2. Centrado na pessoa ou lugar – quais os atributos as pessoas que influenciam o 
ambiente, nesta pesquisa os métodos utilizados foram walkthrough e vestígios de 
comportamento; 
3. Centrado na transação entre pessoa e ambiente – preocupação com a relação entre 
ambos, aqui representado pelos grupos focais e pela análise conjunta das 
informações. 
 
 
7. CONSIDERAÇOES FINAIS 
O intuito da pesquisa foi mostrar a importância das escolas sustentáveis, tanto para o meio 
ambiente em si, na preservação da sua biodiversidade, quanto para a sociedade e sua qualidade de 
vida. Mostrando que, quando a teoria e prática andam juntas, o resultado é mais positivo, fazendo 
com que esse conhecimento ultrapasse os muros dessas escolas, envolvendo também toda a 
comunidade. 
Foram apresentadas algumas problemáticas e soluções dessas construções, para que assim, pudesse 
ser compreendido melhor o processo criativo e construtivo desses projetos. 
Há também o acompanhamento do processo construtivo da escola Divino Mestre, onde são 
mostradas as etapas iniciais, como a limpeza do terreno, implantação de composteiras e ciclo de 
bananeiras, as dificuldades encontradas, os materiais construtivos escolhidos e seus primeiros 
contatos com a comunidade local e as soluções adotadas. Mesmo estando no início, o projeto já 
mostra alguns resultados positivos na comunidade, tanto de forma direta, quanto indireta. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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rede virtual colaborativa no projeto escolas sustentaveis. Disponível em: < 
http://www.abed.org.br/congresso2012/anais/321c.pdf> Acesso em 00 de julho de 2016. 
 
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Acesso em 24 de julho de 2016. 
 
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Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. pp. 180-192. 
 
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http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/205/artigo311391-1.asp> Acesso em 21 de julho de 2016. 
 
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ELALI, G. A. Ambientes para educação infantil, um quebra-cabeças? - Contribuição 
metodológica na avaliação pós-ocupação de edificações e na elaboração de diretrizes para projetos 
arquitetônicos na área. 2002. Tese (doutorado em Psicologia). FAU-USP, São Paulo. 
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<http://www.epea.tmp.br/epea2013_anais/pdfs/plenary/0136-1.pdf> Acesso em 21 de julho de 
2016. 
 
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	 	 R e v i s t a 	 C a m p o 	 d o 	 S a b e r 	 	 – 	 I S S N 	 2 4 4 7 - 5 0 1 7 	 	 	 	 	 	 P á g i n a 	 	
Volume	2		-	Número		2		-	jul/dez	de	2016	
	
	
	
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