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Autor: Profa. Ana Lúcia Machado da Silva Colaboradores: Profa. Cielo Festino Profa. Joana Ormundo Letras Integrada Professora conteudista: Ana Lúcia Machado da Silva Ana Lúcia Machado da Silva é mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi professora do Ensino Básico em rede pública e privada da disciplina Língua Portuguesa durante quase 20 anos. Ministra aulas de Análise do Discurso, Semântica e Pragmática, Literatura em Língua Portuguesa, entre outras, no curso de graduação em Letras pela Universidade Paulista. Ministra também aulas em módulos para cursos de lato sensu pela UNIP e Faculdade Atibaia. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586l Silva, Ana Lúcia Machado da Letras integrada / Ana Lúcia Machado da Silva - São Paulo: Editora Sol, 2014. 192 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-017/14, ISSN 1517-9230. 1. Letras integrada. 2. Língua. 3. Gramática I.Título. CDU 801 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Sueli Brianezi Carvalho Lucas Ricardi Sumário Letras Integrada APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7 INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 FORMAçãO HISTÓRICA: LÍNGUA E GRAMÁTICA ................................................................................ 15 1.1 Língua materna e LE: origem e expansão .................................................................................. 17 1.2 Gramática tradicional e gramatização ........................................................................................ 27 2 LÍNGUA: TEORIA E PRÁTICA ........................................................................................................................ 46 2.1 Linguística geral .................................................................................................................................... 50 2.2 Linguística Aplicada ............................................................................................................................ 59 2.2.1 Língua portuguesa: fenômeno gírio ............................................................................................... 60 2.2.2 Língua espanhola: a ordem da palavra .......................................................................................... 63 2.2.3 Língua inglesa: complexidade em perguntas .............................................................................. 70 3 LÍNGUA E LITERATURA .................................................................................................................................. 75 3.1 Língua e leitura na história do Brasil ........................................................................................... 75 3.2 Relação entre língua e literatura: um exemplo de estudo lexical .................................... 81 4 LEITURA LITERÁRIA ......................................................................................................................................... 88 4.1 Críticas literárias ................................................................................................................................... 88 4.2 PCN e ensino de literatura ..............................................................................................................100 Unidade II 5 MOVIMENTOS INTERTEXTUAIS NA LITERATURA ............................................................................... 107 5.1 Da maçã à crucificação: intertexto bíblico na literatura ...................................................109 5.2 A odisseia nas odisseias: o caminho de Ulisses ...................................................................... 116 5.3 Visão cósmica: a máquina do mundo ........................................................................................127 5.4 De como o herói pícaro deixou marca na literatura ............................................................134 6 MÚLTIPLAS LINGUAGENS E LINGUAGEM MULTIMODAL ..............................................................139 6.1 Gêneros visuais: charge, HQ & CIA .............................................................................................140 6.4 Gêneros virtuais ..................................................................................................................................144 7 SEMIOSFERA ....................................................................................................................................................149 7.1 Espaço vazio: comercial e filme ....................................................................................................150 7.2 Linguagens interconectadas: vídeo-texto ................................................................................157 8 PRÁTICAS DISCURSIVAS .............................................................................................................................160 8.1 Terra: um signo plural.......................................................................................................................161 8.2 Humor como marca social..............................................................................................................165 7 APreSentAção Caro aluno e colega, a partir deste momento, considero você, um aluno do curso de Letras, aprendiz das duas grandes áreas – língua e literatura –, e também um promissor pesquisador com necessidade de maior conscientização sobre as diversas correntes teóricas, além de um futuro professor, colega de profissão, cujo propósito será o de discutir o ensino vigente e contribuir para novos olhares pedagógicos. O profissional na área de Letras acaba por especializar-se em uma área, seja ela literatura ou língua, e, dentro da área escolhida, restringir-se a uma corrente teórica. Trata-se de uma necessidade acadêmica/ científica, mensurada na história da ciência. No próprio curso de graduação, por motivos didáticos, ocorre a distinção entre os conhecimentos linguísticos e literários, e, dentro deles, outras separações por disciplinas. No entanto, como bem diz Morin (2002), o estudioso que limita o conhecimento do todo ao conhecimento de suas partes considera a inteligência compartimentada e reducionista. O estudioso – todos nós – precisa compreender a complexidade e a multidimensionalidade do mundo. Nesse sentido, deve enfrentar a complexidade do conhecimento, isto é, entender que elementos diferentes são constitutivos dotodo, estabelecendo união entre a unidade e multiplicidade. Com a finalidade de colaborar para que você consiga unir seus conhecimentos fragmentados e disjuntivos, Letras Integrada tem como objetivos gerais levá-lo a: • estabelecer correlações entre produções literárias de diferentes épocas e regiões, considerando o contexto histórico e cultural, assim como as outras artes, em geral, bem como a estabelecer relações entre textos literários, teoria literária e artes em geral; • rever conceitos básicos, gerais e específicos da Linguística Geral e Aplicada; • demonstrar a relevância do conhecimento linguístico para a formação do profissional de ensino de língua materna e de segundas línguas; • observar contextos diversos da língua, a partir de uma visão panorâmica da Linguística, como recurso essencial para o conhecimento e a significância de mundo. Quanto aos objetivos específicos, voltam-se para o desenvolvimento integral do aluno a fim de: • fornecer condições de análise da poesia em literatura de línguas portuguesa, espanhola e inglesa, desde a Idade Média à Contemporaneidade; • fornecer condições de análise da literatura em comparação às demais manifestações artísticas; • desenvolver uma postura crítico-reflexiva em relação ao uso da língua e ao seu papel social; • desenvolver o raciocínio abstrato por meio das práticas discursivas; 8 • compreender o papel da Linguística como um instrumento de prática docente; • estabelecer relação entre teoria e prática, tanto nos contextos de ensino de língua materna quanto de segundas línguas. De forma geral, existe a preocupação voltada ao desenvolvimento da leitura, análise e interpretação de múltiplas linguagens por meio de textos diversos, promovendo a integração teoria-prática do conhecimento linguístico-textual e das relações intercursos. Em vista de tais objetivos e propósitos, este livro-texto apresenta e discute o nosso papel frente ao conhecimento das línguas, das literaturas e das múltiplas linguagens tanto por meio da vertente histórica quanto discursiva. Este livro-texto contém, então, em suas duas unidades: Unidade I: • a história das línguas inglesa, portuguesa e espanhola, bem como a história das gramáticas tradicionais; • o conhecimento da teoria e da prática quanto à língua; • a relação da língua com a literatura; e • a discussão sobre a literatura sob o enfoque da leitura, da crítica e do PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). Unidade II: • a literatura das línguas inglesa, portuguesa e espanhola em situações intertextuais; • a relação da literatura com outras linguagens; • discussão sobre linguagem, multimodalidade e gêneros textuais com múltipla linguagem; • exemplos de situação discursiva. Trata-se, enfim, de uma oportunidade para romper também o antagonismo existente entre o mundo acadêmico, em que os cientistas apontam para os problemas docentes, e os próprios docentes, insatisfeitos com as denominações que lhe são atribuídas pelos cientistas. Você está em processo de formação e poderá concluí-lo tanto com suporte teórico para ajudá-lo na prática em sala de aula quanto como professor, atuante em sala, para questionar a teoria. Introdução O propósito maior da disciplina Letras Integrada é a integração de conhecimentos dos cursos – português, espanhol e inglês – com suas respectivas línguas e literaturas. Pensei, então, buscar uma 9 imagem capaz de sintetizar e representar o espírito desta disciplina. Considerei algumas imagens, mas fiquei insatisfeita com todas elas, pois cada uma traz apenas um aspecto, o qual não totalizaria a disciplina. Afinal, trata-se de uma disciplina com pretensão de chegar à totalidade do conhecimento em nossa área. Decidi compartilhar o processo de escolha com você, caro aluno, e deixá-lo decidir qual imagem selecionada é a mais adequada ou até mesmo indicar outra. Baseei-me na concepção de conhecimento como pesquisa sobre um determinado objeto, situação ou evento para construir significado sobre ele e possibilitar ao ser humano fazer uso social do que foi apreendido. Assim, no primeiro momento, pensei em um quebra-cabeça para simbolizar a integração de conhecimentos adquiridos e apreendidos por nós durante o nosso curso. Figura 1 O quebra-cabeça é constituído por várias peças e o objetivo é justamente unir essas peças, formando a imagem proposta. Esse jogo alude, por conseguinte, à articulação dos diferentes aspectos do conhecimento, que, em nosso caso, precisam ser organizados. Além disso, assim como o quebra-cabeça, o conhecimento exige lógica de quem o organiza. Outra similitude entre o conhecimento e o quebra-cabeça é a exigência que você seja protagonista, ou seja, participante ativo e cheio de iniciativa tanto nas tomadas de decisão sobre como montar a imagem oferecida em pedaços pelo quebra-cabeça quanto na postura investigativa e curiosa de pesquisador. Afinal, a pessoa faz parte de seu próprio conhecimento. Logo, ao mesmo tempo em que conhece, a pessoa modifica-se e se transforma pelo uso que faz do conhecimento. No entanto, o quebra-cabeça como símbolo leva-nos a considerar a previsibilidade do conhecimento, pois a imagem dada a conhecer depois de montadas as peças não é modificada, transfigurada pelo jogador. O conhecimento, porém, não é completamente previsível, ou seja, não é possível prever como o conhecimento vai se articular a outros conhecimentos, uma vez que ele não é acabado e definitivo. 10 Depois dessas considerações, cogitei outra imagem: o xadrez. Figura 2 – Xadrez O jogador de xadrez precisa ser organizado mentalmente e lidar com o outro jogador, também organizado e disposto a vencer. O conhecimento, por sua vez, igualmente exige organização de pensamento e a sabedoria para lidar com o outro. O nosso conhecimento e a forma como lidamos com ele estão diretamente relacionados ao conhecimento do outro e à forma como esse outro o organiza. O conhecimento, enfim, é atividade dialógica; não existe sem interação com o outro. Contudo, fica difícil tomar o xadrez como símbolo da nossa disciplina, porque o objetivo maior desse jogo é um vencedor e um eliminado. O conhecimento, porém, não tem por objetivo eliminar outro conhecimento já produzido. Por fim, pensei em ikebana. Figura 3 – Ikebana 11 Segundo Bolognini, Pfeiffer e Lagazzi (2009), ikebana, palavra japonesa, significa arranjo floral e representa uma peculiaridade da arte oriental: a apreciação da forma e da cor. Ikebana é uma arte de aproximadamente 13 séculos e, hoje, está muito ligada às tradições e costumes, sendo usada em feriados e celebrações. Para a produção da ikebana, o artista precisa selecionar os ramos e as flores, dispondo-os para formar um triângulo imaginário, simbolizando a integração do céu, da terra e do homem. Flores desabrochadas ou folhas secas simbolizam o passado; flores semidesabrochadas ou folhas perfeitas significam o presente; botões sugerem o crescimento futuro. De fato, o processo de criação da ikebana baseia-se na história da cultura japonesa, a qual é fundamental na composição do arranjo. Contudo, a ikebana torna-se um símbolo perigoso, porque esse mesmo objeto em outro lugar, em outro momento, fica descontextualizado e perde sua memória histórica. O conhecimento exige sentidos novos, mas parte de sentidos já institucionalizados. Na verdade, é sempre dependente do conhecimento já estável socialmente e daquele que cada um de nós possui. Será que uma dessas três imagens simboliza a integração de conhecimentos? Enfim, os conhecimentos aprendidos e apreendidos em nossos cursos precisam ser integrados de forma mais sistemática e consciente. Um exemplo é dado a seguir. Temos dois textos de autores e épocas diferentes e lanço-lhe, caro aluno, o desafio de unir seus conhecimentos: Se... Se és capaz de manter a tua calma quando Todo o mundoem redor já a perdeu e te culpa; De crer em ti quando estão todos duvidando, E para esses, no entanto, achar uma desculpa; Se és capaz de esperar sem te desesperares, Ou, enganado, não mentir ao mentiroso, Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, E não parecer bom demais, nem pretensioso; Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires, De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores; Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires Tratar da mesma forma a esses dois impostores; Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas Em armadilhas as verdades que disseste, E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas, E refazê-las com o bem pouco que te reste; Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo quanto ganhaste, em toda a tua vida, 12 E perder e, ao perder sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto de partida; De forçar coração, nervos, músculos, tudo, A dar seja o que for, que neles ainda existe, E a persistir assim quando exaustos, contudo Resta a vontade em ti, que ainda ordena: Persiste! Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes; E, entre reis, não perderes a naturalidade, E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, Se a todos podes ser de alguma utilidade; E se és capaz de dar, segundo por segundo, Ao minuto fatal, todo o valor e brilho, Tua é a terra com tudo o que existe no mundo E – o que ainda é muito mais – és um Homem, meu filho! (KIPLING, Rudyard. Tesouro da juventude. v. II. Tradução de Guilherme de Almeida. Rio de Janeiro: W. M. Jackson, s/d, p. 101.) Relembrando Kipling Se... Se tu consegues conservar a calma ao ler diariamente o teu jornal e mesmo que te aperte e doa a alma tu vais para o trabalho habitual; se ao ver que aumenta sempre a ladroeira consegues mesmo assim ter paciência até quando é bem grande a roubalheira como nas fraudes, lá da Previdência; Se, estoico, enfrentas filas nas calçadas só para ser tratado no instituto e chegas cedo, bem de madrugada, sofrendo de malária ou de escorbuto; se adquiriste tua habitação com auxílio do governo, em crediário, e pagas, sem queixume, a prestação, que reajusta mais que o teu salário; Se tudo aumenta um pouco em toda parte e sobe o preço do supermercado, mas tu resistes bravamente ao enfarte 13 enquanto teu salário é congelado; se após a tua luta rotineira em busca dos cruzeiros tão sofridos tu voltas para casa, é quinta-feira, e assistes ao horário dos partidos; Se votas para um novo presidente com fé e uma esperança renovada e no primeiro dia, ainda contente, tens logo tua poupança confiscada, mas segues assim mesmo, confiante, sem reclamar, sem queixas, sem muxoxo, apenas porque o novo governante aos gritos diz que tem aquilo roxo: Se aguentas tudo isso e lá no fundo, mesmo explorado, exausto e sem dinheiro, pensas que este é o melhor país do mundo, não és louco não, meu filho: és brasileiro! (SOARES, Jô. Veja, 5 jun. 1991.) Que conhecimentos temos – com base em nosso curso – para compreender melhor os textos? Por exemplo: • Quem é Kipling, sua nacionalidade e em que língua ele escreveu? • Que obra (ou obras) desse autor é marcante na história da literatura? • O discurso presente no poema é moralista, relacionado a duas razões: ao momento histórico e aos ensinamentos bíblicos cristãos. Até que ponto a Bíblia interfere, influencia a literatura? • Sobre Jô Soares, quem é ele, sua nacionalidade e em que língua ele escreve? • Além de textos publicados em revista, ele é autor de romances. Indique sua primeira obra romanesca. • Ocorre um diálogo entre o texto de Jô Soares com o de Kipling, marcando a intertextualidade. Que outro autor literário brasileiro recorreu ao poema Se..., de Kipling, para criar seu texto poético? • Que situação histórica e política levou Jô Soares a produzir seu texto publicado na revista Veja? Enfim, caro aluno, que conhecimento, adquirido durante o nosso curso, foi acionado para não apenas entender os textos acima, mas também a relação entre eles? 14 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Quadro 1 Língua Literatura Texto Outros... Bom proveito com este livro-texto e que ele lhe suscite possibilidade real de unir nossos conhecimentos, trazendo-lhe um quadro maior do nosso curso, bem como vontade em aprofundar mais os assuntos abordados. 15 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada Unidade I 1 ForMAção HIStÓrICA: LÍnGuA e GrAMÁtICA Quando se trata da língua e da gramática, ou seja, da linguagem e de sua relação com o poder, ninguém melhor que o linguista Gnerre (2003) para nos conscientizar sobre o assunto. De acordo com esse estudioso, os atos linguísticos são realizados para as pessoas serem respeitadas, bem como para exercer influência no ambiente em que vivem. O poder da palavra, portanto, consiste na mobilização da autoridade acumulada pelo falante. As produções linguísticas mais evidentes e, também, mais extremas, em relação ao poder da palavra são, por exemplo, discurso político, sermão na igreja, aula. Tais produções adquirem valor se realizadas no contexto social e cultural apropriado, levando em conta as relações sociais entre o falante e o ouvinte. Todo ser humano tem de “saber”: • quando pode falar e quando não pode; • que tipo de conteúdos referenciais lhe são consentidos; • que tipo de variedade linguística é oportuno que seja usada (GNERRE, 2003 p. 6). Ressalto que nem todos os integrantes de uma sociedade têm acesso a todas as variedades da língua e muito menos a todos os conteúdos referenciais. Somente uma parte dos integrantes tem acesso a uma variedade “culta” ou “padrão”, considerada geralmente “a língua”, e associada a conteúdos de prestígio. Na concepção de Gnerre (2003): A língua padrão é um sistema comunicativo ao alcance de uma parte reduzida dos integrantes de uma comunidade; é um sistema associado a um patrimônio cultural apresentado como um “corpus” definido de valores, fixados na tradição escrita (GNERRE, 2003 p. 6). Uma variedade linguística vale como reflexo do poder e da autoridade que os falantes têm nas relações econômicas e sociais. Esse poder estende-se tanto nas relações internas, quando confrontam variedades de uma mesma língua, e nas externas, pelo prestígio das línguas no plano internacional. A língua francesa já ocupou a posição mais alta na escala de valores internacionais das línguas, depois foi a vez da ascensão do inglês. A superioridade de uma variedade linguística sobre as outras é sua associação à escrita e, consequentemente, sua transformação em uma variedade usada na transmissão de informações de ordem política e cultural. A associação entre uma determinada variedade linguística e a escrita é o resultado histórico indireto de oposições entre grupos sociais que eram e são usuários, sem serem necessariamente falantes nativos, das diferentes variedades. 16 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Nas nações da Europa ocidental, a fixação de uma variedade na escrita precedeu de alguns séculos à associação de tal variedade com a tradição gramatical greco-latina. Essa associação foi um passo fundamental no processo de legitimação de uma norma. observação Legitimação é o processo de dar “idoneidade” ou “dignidade” a uma ordem de natureza política, para que seja reconhecida e aceita (HABERMAS apud GNERRE: 2003, p. 8). Assim, entre as variedades de uma língua, uma é selecionada e definida como língua padrão, oficial, sendo apresentada como entidade superior. No entanto, no entorno dessa “língua oficial”, dessa variedade padrão, acontece uma concepção de neutralidade, como se não houvesseum grupo social – com poder político, econômico, cultural – provocador dessa seleção. Bakhtin (2002), em sua obra de 1929, já apontava quatro princípios orientadores de uma típica visão “oficial” e conservadora da linguagem: 1. A língua é um sistema estável, imutável, de formas linguísticas submetidas a uma norma fornecida tal qual à consciência individual e categórica para esta. 2. As leis da língua são essencialmente leis linguísticas específicas, que estabelecem ligações entre os signos linguísticos no interior de um sistema fechado. Estas leis são objetivas relativamente a toda consciência subjetiva. 3. As ligações linguísticas específicas não se relacionam com valores ideológicos (artísticos, cognitivos ou outros). Não se encontra, na base dos fatos linguísticos, nenhum motor ideológico. Entre a palavra e seu sentido não existe vínculo natural e compreensível para a consciência, nem vínculo artístico. 4. Os atos individuais de fala constituem, do ponto de vista da língua, simples refrações ou variações fortuitas ou mesmo deformações das formas normativas. Mas são justamente estes atos individuais de fala que explicam a mudança histórica das formas da língua; enquanto tal, a mudança é, do ponto de vista do sistema, irracional e mesmo desprovida de sentido. Entre o sistema da língua e sua história não existe nem vínculo nem afinidade de motivos. Eles são estranhos entre si (BAKHTIN, 2002, p. 68). Por fim, como bem conclui Gnerre (2003): A separação entre variedade “culta” ou “padrão” e as outras é tão profunda devido a vários motivos; a variedade culta é associada à escrita, como já 17 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada dissemos, e é associada à tradição gramatical; é inventariada nos dicionários e é a portadora legítima de uma tradição cultural e de uma identidade nacional. É este o resultado histórico de um processo complexo, a convergência de uma elaboração histórica que vem de longe (GNERRE, 2003, p. 11). 1.1 Língua materna e Le: origem e expansão Dada a relação que o nosso curso possui com as línguas, torna-se fundamental a apresentação, já no início, da distinção entre língua materna, língua oficial, segunda língua e língua estrangeira. Vejamos: • Língua materna: é a língua primeira apresentada ao falante. • Língua oficial: é a língua que a população de um país precisa saber e usar em todas as ações oficiais, ou seja, nas suas relações com as instituições do Estado. • Segunda língua: é o idioma aprendido na escola e tido como uma das línguas oficiais no país. • Língua estrangeira: é a língua não aprendida em casa nem usada nas relações com as instituições do Estado. Em linhas gerais, a língua portuguesa é considerada língua oficial no Brasil e, concomitante, a língua materna de milhões de brasileiros que nascem e crescem no país. Não há, no Brasil, uma segunda língua. Quanto à língua estrangeira, nas escolas do ensino básico são ensinadas a língua inglesa e a língua espanhola. As línguas possuem história, cada uma contextualizada a situações específicas quanto à origem, aos povos falantes, situação sociopolítica. Da língua indo-europeia (dos arianos), surgiram: • germânico; • itálico; • báltico; • eslavo; • celta; • albanês; • grego; • indo-irânico; • armênico. Dessas línguas surgiram outras, que deram origem a outras línguas e assim por diante. Você conhece as línguas advindas dessas indo-europeias? 18 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Exemplo de aplicação Distribua, nas três árvores, as línguas com a mesma origem: • Inglesa, alemã, sueca, dinamarquesa, holandesa, islandesa e norueguesa. • Umbro, latina e osco. • Portuguesa, francesa, italiana, espanhola, romeno e catalão. Língua germânica Figura 4 Língua itálica Figura 5 Língua latina Figura 6 19 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada Entre as três línguas do nosso curso – inglesa, portuguesa e espanhola – a língua inglesa tem formação anterior em relação às outras duas. Em momentos diferentes da história do Ocidente, uma língua adquire status maior em relação a outras línguas. Até o início do século XX, a língua latina, como clássica, era a língua de prestígio, ensinada nas instituições educacionais, usada em cultos religiosos católicos, presente em textos jurídicos, entre outras situações. A partir da Segunda Guerra Mundial, esse status mudou, e a língua inglesa passou a ser a língua de prestígio, mais usada universalmente. No entanto, essa língua tem uma história milenar. Suas fases ou épocas são: • inglês antigo: de 450 a 1150; • inglês médio: de 1150 a 1500; • inglês moderno: a partir de 1500. A língua inglesa é resultado dos dialetos dos povos germânicos jutos, anglos e saxões, que deram início à conquista da Grã-Bretanha; os jutos, os anglos e os saxões, procedentes respectivamente da Jultândia (atual Dinamarca), de Schleswing e de Holstein (atual Alemanha). A partir de meados do século IX, com as invasões de tribos procedentes da Península Escandinava e no norte e leste da Grã-Bretanha, a língua inglesa sofreu influência mínima, pois essas tribos abandonaram sua própria língua, em favor da língua do território conquistado. Apesar disso, o inglês atual conserva palavras cotidianas como os substantivos egg (ovo), knife (faca), sister (irmã), verbos como to call (chamar), to die (morrer) e to give (dar), adjetivos como flat (plano), ill (doente) e também a presença do som sk em palavras com sky (céu) ou skill (habilidade). Da mesma forma, numerosos topônimos terminados com by (cidade) e thorp (aldeia) – como Rudby, Whitby e Linthorpe e especialmente os pronomes da terceira pessoa do plural (they, them, their), que substituíram o complexo sistema pronominal anterior, devido a influência escandinava. Uma nova invasão, procedente da Normandia, região do noroeste da França, pôs fim ao domínio linguístico e político das tribos germânicas. Com a chegada do duque viking Guilherme, em 1066, e sua posterior coroação como rei da Inglaterra, o idioma franco-normando foi imposto como língua oficial da Corte e da Igreja, tornando o inglês restrito às classes humildes. Essa situação se prolongou por três séculos e repercutiu consideravelmente na língua inglesa. Durante o inglês médio, o vocabulário e a gramática da língua inglesa passaram por profundas alterações, que transformaram radicalmente sua estrutura e a converteram numa língua analítica. A mais fundamental delas foi a perda gradual das flexões, do gênero gramatical e das flexões no sistema pronominal. Esta última perda determinou uma ordem sintática mais rigorosa e o aumento do uso das preposições. A língua revitalizou-se em meados do século IX. Com a ascensão da classe média e a animosidade gerada do povo inglês pelos 100 longos anos de guerra contra a França, o inglês voltou a ser o idioma oficial da corte e se impôs em todas as esferas da vida econômica e social do país. 20 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 A partir de 1500, o idioma alcançou certo grau de estabilidade e uniformidade, contudo ainda viveu novas mudanças determinadas principalmente pela rápida expansão da educação entre as classes populares e pelo desejo de converter o idioma num instrumento capaz de substituir as línguas clássicas (latim e grego) em todas as esferas do saber humano. A ortografia e léxico foram, mais uma vez, os alvos dessa transformação, uma vez que a riqueza e a reconhecida superioridade do latim e do grego como línguas cultas evidenciarama ineficácia e as carências da língua inglesa diante dos novos conhecimentos e das novas ciências que surgiam. Assim, ao longo dos séculos XVI e XVII, houve a necessidade de enriquecer o vocabulário da língua. O problema se resolveu com a adoção, ou com a adaptação para o léxico inglês, de grande quantidade de termos procedentes não apenas das línguas clássicas, mas também das línguas neolatinas e, em menos medida, das orientais. observação Dictionary of the English Language (1755), de Samuel Johnson, foi a obra mais notável em prol da unidade linguística e exerceu profunda influência sobre os escritores e lexicógrafos posteriores. Foi o primeiro trabalho a oferecer um estudo exaustivo e documentado sobre o uso correto e o significado das palavras. As línguas portuguesa e espanhola, chamadas línguas neolatinas ou línguas modernas, têm sua origem na língua latina. No ano 218 a.C. os romanos chegam na Península Ibérica e conquistam a Segunda Guerra Púnica, fazendo com que os povos da Península adotassem o latim como língua e o cristianismo como religião. Posteriormente, a Península é dividida em Lusitânia ao norte e Bética ao sul. Aproximadamente em 409, invasores germânicos trazem mais guerra à região. Logo a Península é invadida por muçulmanos, em 711, diminuindo drasticamente a região da Lusitânia, impondo o Islão como religião e o árabe como língua. Eram chamados pelos povos ibéricos de “mouros”. A reconquista cristã vai gradativamente expulsando os mouros do norte para o sul. Na época da reconquista surgem os reinos independentes de Portugal e Espanha, aproximadamente no século XII. A língua espanhola é um idioma com mais de mil anos de evolução, sendo que diversas línguas dos habitantes da península receberam influências dos romanos e árabes. O primeiro momento para converter o castelhano na língua oficial no reino de Castilha e Leon ocorreu no século XIII. Foi Afonso X quem mandou compor em romance e em latim as grandes obras históricas e astronômicas. O castelhano medieval desenvolveu uma série de fonemas que hoje já desapareceram. 21 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada No século XII, o espanhol era a língua dos documentos jurídicos e da Bíblia, que foi traduzida por ordem de Afonso X. A publicação da primeira gramática castelhana de Elio Antonio de Nebrija, em 1492, estabelece a data inicial da segunda grande etapa de conformação e consolidação do idioma, o castelhano moderno. Com a união das Monarquias de Castilha e Aragão, no final do século XV, que estenderam seu domínio por grande parte da península, o castelhano se impulsionou sobre os demais idiomas e dialetos. A maioria das palavras do espanhol deriva do latim vulgar, mas há também palavras que se originam de outras línguas, como o grego e o celta. A invasão dos visigodos, no início do século V d.C., também introduziu palavras germânicas. A conquista dos árabes, três séculos mais tarde, trouxe muitas palavras árabes na língua, a maioria delas é facilmente reconhecida pelo prefixo “al”. A influência dos eclesiásticos franceses do século XI e dos peregrinos que iam para Santiago de Compostela, na Espanha, fez com que se incorporassem à língua muitas palavras e expressões francesas. Durante os séculos XV e XVI, devido à dominação da Itália por parte do aragonês (língua românica falada na Península Ibérica), a Espanha recebeu também influência itálica e se viu dominada pela moda da poesia italiana. A relação da Espanha com suas colônias e possessões deu abertura às novas terminologias de línguas nativas americanas e de outras fontes. O espanhol foi a língua diplomática até a primeira metade do século XVIII e, países como França, Itália e Inglaterra editavam gramáticas e dicionários para o ensino do idioma. Nessa época, a língua atingiu o seu esplendor literário. Na América, os descendentes dos espanhóis (crioulos e mestiços) seguiram utilizando a língua. No século XIX, depois que as guerras da independência liberaram essas colônias, as elites existentes estenderam o uso do espanhol para toda a população para reforçar a unidade nacional. Sobre a história da língua portuguesa, suas épocas ou fases são: 1. época pré-histórica: origens até o século IX; 2. época proto-histórica: século IX até XII; 3. época histórica: século XII em diante; 3.1 arcaica: século XII até XVI; 3.2 moderna: a partir do século XVI. A invasão muçulmana e consequentemente a Reconquista cristã são fatos que determinaram a formação das três línguas peninsulares, o galego-português a oeste, o castelhano no centro, e o catalão a leste. Essas línguas foram nascidas no Norte, mas levadas para o Sul pelas cruzadas da Reconquista. Em regiões setentrionais, a influência de muçulmanos foi mais fraca por ser dominada pelos reinos cristãos. É provável que a língua galego-portuguesa tenha sua origem nas regiões ao sul pela influência da Reconquista que invadiu a região sul da Península. Logo a língua galego-portuguesa sofreu evoluções 22 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 gradativas para se transformar no português. Os primeiros textos escritos em português são encontrados no começo do século XIII. Por volta de 1350, após a extinção da escola literária galego-portuguesa, o português já é separado do galego por uma fronteira política e torna-se a língua de Portugal. Não é fácil saber quando inicia e quando termina cada fase da evolução histórica da nossa língua, mas é possível distinguir estas fases em: pré-histórica, proto-histórica e histórica. A fase pré-histórica é a origem da língua e vai até o século IX no surgimento dos primeiros documentos em Latim Bárbaro. Desta fase surgiram vocábulos como: mapa, Espanha, tio, zero, toalha. A fase histórica começa no século XII, com textos inteiramente escritos em português. Esta fase tem muita influência francesa e surgem vocábulos como: franco, folia, chapéu. Na mesma fase histórica, após o quinhentismo, foram incorporados vocábulos de países colonizados como: - Brasil: Itatiaia, urubu, capim, saci. – Haiti: canoa, tabaco, colibri. – México: abacate, cacau, tomate. - Peru: mate, pampa, concha. Dentro da fase histórica está a fase moderna, onde os vocábulos são provenientes por meio dos estrangeirismos: – Palavras francesas: restaurante, elite, chance. - Palavras italianas: aquarela, serenata, tenor. – Palavras espanholas: bolero, realejo, lantejoula. - Palavras ânglicas: bar, bife, lanche, futebol. O processo de criação vocabular começou bem antes dos primeiros textos escritos em galego-português. Assim como o castelhano, o português se originou de uma língua vinda do Norte da Península e foi levada aos poucos ao Sul pela reconquista, mas as normas divergem do castelhano, pois o português moderno vai buscá-las no centro-sul, próximo de Lisboa. Podemos encontrar o galego-português na poesia lírica peninsular em obras de trovadores como o Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa (copiados no final do século XIII e princípio do século XIV). Neste mesmo período começam a surgir documentos em língua vulgar, como testamentos, foros etc. D. Dinis é quem dá impulso à utilização da língua vulgar. 23 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada No período de 1350, começa a extinção da língua galego-portuguesa. A evolução do português se dá em dois grandes períodos: arcaico (que vai até Camões, século XVI) e moderno (a partir de Camões). Já no século XVIII e início do século XIX acontece o período de transição entre o português clássico e o português contemporâneo.Saiba mais Para conhecer a história da língua portuguesa, as mudanças ocorridas da passagem do latim para o galego-português, as fases pelas quais passaram o português e a questão da língua portuguesa no Brasil e nos outros locais em que houve a expansão da língua, obra imprescindível é de Paul Teyssier. TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 2004. As línguas aqui historicamente situadas expandiram-se a partir do século XV devido às colonizações. Assim, no continente africano, por exemplo, a língua inglesa abrangeu 16 nacionalidades, como visualizamos no quadro. Quadro 2 - Painel linguístico oficial dos países africanos Língua País Capital Independência Inglês (16) Libéria África do Sul Gana Nigéria Serra Leoa Uganda Quênia Malaui Botsuana Lesoto Suazilândia Maurício Seichelles Zimbábue Zâmbia Namíbia Monróvia Pretória Acra Abuja Freetown Campala Nairóbi Lilongue Gabarone Maseru Mbabane Por Louis Vitória Harare Lusaca Windhoeck 1847 1910 1957 1960 1961 1962 1963 1964 1966 1966 1968 1968 1976 1980 1984 1990 Hoje, segundo a revista Speak Up, nº 226, de março de 2006 (BOLOGNINI, 2008), a língua inglesa abrange: • 400 milhões de falantes de inglês como língua materna; • entre 400 milhões e 1,4 bilhão de falantes de inglês como segunda língua/língua estrangeira; • 1,4 bilhão de pessoas que moram em países em que o inglês é língua oficial; • mais de 1 bilhão de pessoas, aproximadamente, em processo de ensino-aprendizagem de inglês. 24 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Devido à falta de censos linguísticos, existe apenas estimativa sobre o número de pessoas que têm o inglês como língua materna: por volta de 200 a 600 milhões de falantes. No caso da língua espanhola, é a língua romance de maior propagação no mundo atual. Na expansão africana, contudo, temos apenas um país com a língua espanhola oficializada: Quadro 3 - Painel linguístico oficial dos países africanos Língua País Capital Independência Espanhol Guiné-Equatorial Malabo 1968 É falado em quase toda a Península Ibérica, no sudoeste dos Estados Unidos, em todo o México, em toda a América Central e América do Sul (exceções do Brasil e Guianas) e é a língua de um pequeno número de falantes nas Filipinas. Devido à grande extensão geográfica, o idioma traz como consequência as variantes dialectais. A velocidade dos meios de comunicação e a ampla difusão da língua escrita na literatura e nos meios sólidos levam os falantes do idioma a se entenderem, apesar das diferenças regionais. A escola funciona como um órgão unificador que conduz os estudantes a desenvolverem a prática do idioma e, desse modo, o número de falantes do espanhol está crescendo cada vez mais. No livro El español de España y el español de América , o autor Antonio Molero (2003) tenta mostrar algumas variedades de uma língua falada por mais de 350 milhões de pessoas. Segundo o autor, a grande diversidade do espanhol oferece uma riqueza dificilmente encontrada em uma obra prática, o objetivo da obra é reunir uma mostra mais ou menos representativa da variedade léxica do espanhol no mundo e que, para o estudante do idioma espanhol, será mais fácil desenvolver-se com êxito nos distintos países de língua hispana. Quando se aprende uma língua, há necessidade de estudar todas as suas variações, para que o estudante adquira competência e habilidade para ser capaz de utilizar a variação adequada em diferentes contextos e em países de língua espanhola. Alguns exemplos: A palavra lavabo é utilizada na Espanha, México e Uruguai, porém, na Argentina e no Chile é conhecida como lavatorio e na Venezuela, lavamanos; a palavra bizcocho é comum na Espanha, já na Argentina é conhecida como vainilla, no Chile, galleta de champaña, no México, soleta ou pan dulce e no Uruguai e na Venezuela, plantilla; dulce de leche é falado na Espanha, na Argentina, Uruguai e Venezuela, no Chile chamam de manjar branco. Algumas expressões e frases também são escritas de diferentes maneiras, na Espanha a expressão Ter pressa é traduzida como Tener prisa, já nos outros países da América, utilizam Estar apurado; a expressão Tirar uma foto, na Espanha é conhecida como Hacer una foto, na Argentina é Sacar una foto e nos outros países (México, Uruguai, Venezuela e Chile é conhecida como Tomar una foto. 25 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada Por fim, a língua portuguesa, cuja expansão maior, em relação a número de países, foi na África. Quadro 4 - Painel linguístico oficial dos países africanos Língua País Capital Independência Português (5) Guiné-Bissau Cabo Verde São Tomé e Príncipe Angola Moçambique Bissau Praia São Tomé Luanda Maputo 1974 1975 1975 1975 1975 O português é hoje, com cerca de 200 milhões de falantes nativos, uma das maiores línguas do mundo. Entre as línguas românicas, o português, depois do espanhol, é a mais divulgada e ultrapassa o francês em números de falantes. De acordo com Noll (2008), a língua é oficial de Portugal, Brasil e dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), já apontados no quadro anterior, bem como no Timor Leste, que se tornou independente da Indonésia em 2002. Nos países lusófonos africanos, existem comunidades falantes de crioula com o português como língua oficial (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe) e comunidades poliglotas africanas com o português como língua oficial e secundária (Angola e Moçambique). Lembrete Língua crioula é uma língua natural distinta das restantes devido ao seu processo de formação, sua relação com uma língua de prestígio e algumas particularidades gramaticais. Uma língua crioula deriva sempre de um sistema de comunicação rudimentar, alinhavado por pessoas que falam línguas diferentes e que precisam se comunicar. Apesar dos países africanos e das comunidades crioulas asiáticas, é obvio que a lusofonia em sua essência, em sua capacidade política de agir e em possibilidades futuras de desenvolvimento se realiza em territórios de língua materna. A Ásia é perdida para o mundo lusófono, Angola e Moçambique se orientam hoje em dia cada vez mais para a sua africanidade. Nesse contexto, a situação especial do Brasil é evidenciada, uma vez que é o único país que, como antiga colônia, desenvolveu-se como centro irradiador do mundo lusófono, sendo alicerçado por meio de uma força econômica considerável. O Brasil é considerado, a despeito de seus problemas sociais, entre as dez mais fortes nações industrializadas do mundo. Comparando os falantes de português do Brasil e de Portugal, hoje, chegamos a uma proporção de 95 por 5. De forma geral, existem diferenças entre o português europeu e o brasileiro em fonética/fonologia, morfologia, léxico e ortografia. 26 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Com o panorama apresentado, percebemos o perfil histórico-linguístico, por exemplo, do continente africano. Podemos inferir as antigas relações coloniais, os índices de ocupação territorial das ex- metrópoles, bem como a complexa interação linguístico-discursiva proveniente dos múltiplos contatos com diferentes grupos étnicos africanos, entre outros aspectos. Com base nesse panorama é possível, também, percorrer literariamente o universo dos países de língua inglesa, portuguesa e espanhola, permitindo um conhecimento sobre as especificidades geográficas, histórico-culturais e político-sociais desses territórios. Para encerrar, o poema do são-tomense Costa Alegre. O texto representa não apenas a aproximação de países diferentes, mas, principalmente,o contato entre línguas e a visão particular de cada uma sobre a cultura. Eu e os passeantes Passa uma inglesa, E logo acode, Toda supresa: What black my God! Se é espanhola, A que me viu, Diz como rola: Qué alto, Dios mio! E, se é francesa: Ó quel beau nègre! Rindo para mim. Se é portuguesa, Ó Costa Alegre! Tens um atchim! Fonte: ALEGRE, Costa. Eu e os passeantes. In: AMÂNCIO, I. M. C., GOMES, N. L., JORGE, M. L. S. Literaturas africanas e afro-brasileiras na prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 62. Agora, reflita: Nenhum país do mundo é totalmente autônomo. Pelo contrário, há interação constante entre eles. A direção da influência é determinada pelo potencial socioeconômico de cada um. O mais forte sempre impõe a cultura (material, espiritual e, portanto, também a língua) que considera melhor. No mundo contemporâneo, a língua que exerce influência maior sobre as outras línguas é o inglês. Discuta e exemplifique esse poder na relação cultural Brasil x Estados Unidos. 27 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada O site da União Europeia postula o seguinte: A União Europeia consagra o princípio “da unidade na diversidade”: diversidade de culturas, de costumes, de crenças – e de línguas. Este princípio aplica-se não só às 23 [línguas oficiais], mas também às muitas línguas regionais e minoritárias faladas por segmentos da sua população. (Disponível em: <http://europa.eu/languages/pt/chapter/5>. Acesso em 1 mar. 2012.) Entretanto, vários idiomas minoritários, como o luxemburguês, o catalão, o basco, o bretão ou o sardo, entre outros, foram deixados de lado em prol de “línguas oficiais”, indicadas pelos países-membros da UE. Isso poderia indicar procedimentos histórico-ideológicos, políticos e econômicos exercidos em seus próprios territórios para a ascensão de algum idioma em detrimento dos outros? 1.2 Gramática tradicional e gramatização Não importa sua origem, todas as línguas são constituídas de uma gramática. Por conseguinte, o ensino de língua materna e de línguas estrangeiras consiste, entre outros conteúdos, da gramática da língua. Consideramos importante fazer uma ressalva sobre os tipos de gramática. Como já sabemos, existem vários tipos de gramática. Tais tipos são apresentados por Travaglia (1997) e sinteticamente, aqui, como lembrete: • gramática normativa: estuda apenas os fatos da língua padrão/culta, que se oficializou. Seu estudo baseia-se mais na língua escrita, dando pouca importância à oralidade, que é vista como idêntica à escrita. É preciso separar descrição que se faz da norma culta de prescrição; a gramática normativa visa a tornar norma a língua culta. • gramática descritiva: descreve e registra as unidades e categorias da língua, os tipos possíveis de construção e a função desses elementos, o modo e as condições de uso dos elementos numa abordagem sincrônica. Ela trabalha com qualquer variedade da língua, observando o que se diz ou se escreve na realidade e trata de explicitar o mecanismo da língua. • gramática internalizada: é o conjunto de regras dominado pelo falante e lhe permite o uso normal da língua. • gramática implícita: é a competência linguística internalizada do falante, como unidades, regras, princípios e o falante não tem consciência dela. • gramática explícita ou teórica: é a representada por todos os estudos linguísticos que buscam explicitar a estrutura, constituição e funcionamento da língua. Assim, todas as gramáticas normativas e descritivas são explícitas ou teóricas. • gramática reflexiva: refere-se mais ao processo do que aos resultados: representa as atividades de observação e reflexão sobre a língua que buscam detectar, levantar suas unidades, regras e princípios. • gramática contrastiva ou transferencial: é a que descreve duas línguas ao mesmo tempo, mostrando como os padrões de uma podem ser esperados na outra. No ensino de língua materna, 28 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 mostra as diferenças e semelhanças entre diferentes variedades: dialetos, língua oral e escrita, registro formal e coloquial etc. • gramática geral: compara o maior número possível de línguas e formula certos princípios aos quais todas elas obedecem. • gramática universal: tem base comparativa e procura descrever e classificar todos os fatos observados e realizados universalmente (nem sempre se faz distinção entre essa gramática e a geral). • gramática histórica: estuda a origem e a evolução de uma língua, acompanhando-lhe as fases desde o seu aparecimento até o momento atual. • gramática comparada: estuda uma sequência de fases evolutivas de várias línguas buscando encontrar pontos comuns. O ensino de língua nas escolas básicas (fundamental e médio) consiste, principalmente, das regras do bom escrever, ou seja, da gramática normativa. Esta determina como usar a língua, seguindo regras tais como de concordância. Saiba mais As regras encontram-se em livros, escritos por estudiosos (com aval do Ministério da Educação) e por interessados (com aval de editoras), chamados gramática. Assim, entre tantos outros, constatamos: CASTRO, F. Uso de la gramática española elemental. São Paulo: Edelsa, 2010. BECHARA, E. Moderna gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. STOFF, R. Gramática de inglês. Lisboa: Presença, 1996. A gramática normativa é tradicional e tem história que remonta a séculos antes de Cristo. Origina-se das discussões sobre linguagem, principalmente feitas por Platão e Aristóteles. Pode-se verificar que a reflexão platônica sobre a linguagem muda a direção no sentido que tem até hoje a gramática. A filosofia de Platão, de Aristóteles e dos estoicos forneceu a fundamentação lógica e terminológica para a divisão da frase em diferentes espécies de termos, para a fixação teórica dos casos nas declinações, das formas verbais sob ângulos aspectuais e para as relações lógicas entre as frases que compõem um período complexo. Assim se explica que grande número de termos filosóficos foi tomado pelos gramáticos para aplicá-los em suas definições e descrições. São exemplos as noções fundamentais de sujeito e 29 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada predicado, ainda hoje em voga e para os quais ainda não encontraram designações mais adequadas, que as pudessem substituir. As Categorias de Aristóteles forneceram subsídios particularmente valiosos para os estudos gramaticais. Assim, são de origem filosófica os termos “substância”, “relação”, “qualidade”, esta também corrente entre os estoicos, sunparepovmena ou sumbebhkovta, que os gramáticos latinos difundiram traduzindo por “acidente”; “diavqhsi”, “disposição”; “ojrismov”, ”definição” e “determinação”; “duvnami”, “valor”; e obviamente “lovgo”, de múltiplas acepções como “palavra”, “proposição”, “obra escrita”, “literatura”, “razão” etc. Séculos de reflexão filosófica fixaram uma terminologia carregada de história, de conotações e matizes semânticos, da qual os estudiosos da língua lançaram mão para a fixação da metalinguagem indispensável a seus estudos. O embate político e ideológico que se inicia na Grécia abriu um espaço para o início da criação de um discurso científico não só sobre a linguagem, mas também sobre o homem e o mundo. No mundo ocidental, a primeira gramática foi a do Dionísio Trácio, no século II a.C. e expressa a visão dos filósofos sobre a língua, vista como instrumento a serviço de suas ideias. As regras gramaticais propostas são inferidas com base em obras de grandes escritores literários. Nas palavras de Dionísio Trácio, gramáticaé conhecimento empírico daquilo que comumente é dito pelos poetas e prosadores. observação O termo “gramática” vem do grego grammatiké, sendo gramma “letra” e tékhne “arte”. A gramática de Dionísio Trácio constitui-se de 20 parágrafos, sendo: 1. Da gramática 2. Da leitura 3. Do acento 4. Da pontuação 5. Da rapsódia 6. Do elemento 7. Da sílaba 8. Da sílaba longa 9. Da sílaba breve 10. Da sílaba comum 11. Da palavra 30 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 12. Do nome 13. Do verbo 14. Da conjunção 15. Do particípio 16. Do artigo 17. Do pronome 18. Da preposição 19. Do advérbio 20. Da conjunção A gramática, enfim, abrange a fonética e a morfologia, mas não trata da sintaxe. Apolônio Díscolo, em II d.C., foi outro gramático que lançou várias obras, que consistem basicamente em: 1. Dos elementos i. Da divisão das partes do discurso ii. Dos nomes 2. Dos verbos 3. Do particípio 4. Do artigo 5. Do pronome 6. Da preposição 7. Do advérbio 8. Da conjunção i. Da sintaxe das partes do discurso ii. Da composição iii. Dos acidentes iv. Das figuras v. Das figuras homéricas vi. Da ortografia vii. Da prosódia. 31 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada Foram, na verdade, vários autores posteriores a Dionísio Trácio que escreveram a gramática da língua grega. As gramáticas gregas tornaram-se, enfim, modelo. Saiba mais A história da gramática tradicional pode ser lida em duas obras essenciais: NEVES, M. A vertente grega da gramática tradicional. São Paulo: UNESP, 2005. Disponível em <http://books.google.com.br/books?id=HtNkpew8On QC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad= 0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em 1 mar. 2012. MATTOS E SILVA, R. Tradição gramatical e gramática tradicional. São Paulo: Contexto, 1991. Marcos Terêncio Varrão, I a.C., escreveu 25 livros sobre a língua latina, dos quais apenas seis chegaram até nossos dias e que são compendiados sob o título De Lingua Latina (Sobre a língua latina) (1938). A grande contribuição de Varrão foi aplicar a gramática grega ao latim. Outros notórios gramáticos romanos foram: • Quintiliano (I d.C.); • Donato e Prisciano (V d.C.), muito estudados na Idade Média; e • Prisciano (V d.C.), que elaborou a primeira sintaxe do latim. No século XVII foi lançada a gramática de Port-Royal, que visa à gramática geral. Trata-se de uma gramática racionalista, uma vez que a estrutura da língua é um produto da razão e as diferentes línguas são apenas variedades de um sistema lógico e racional mais geral. Essa gramática influenciou, séculos depois, os estudos sobre linguagem do americano Chomsky. A gramática tem, portanto, história (ressalto que muito mais profunda e rica do que apresentada aqui) e no século XV e XVI foi amplamente expandida. Segundo Auroux (1992), a nossa área – de línguas – passou por duas grandes revoluções, sendo elas: 1ª revolução técnico-linguística escrita 2ª revolução técnico-linguística gramatização 32 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Para o estudioso, o processo de aparecimento da escrita “é um processo de objetivação da linguagem, isto é, de representação metalinguística considerável e sem equivalente anterior“ (p. 20). Enquanto que a gramatização descreve e instrumenta uma língua na base de duas tecnologias metalinguísticas: a gramática e o dicionário. A gramatização foi fenômeno massivo no Renascimento, como vemos na linha temporal a seguir: Quadro 5 - As primeiras gramáticas Gramática 1450 ---------1492 ------------ 1530 -----------1536-----------1537 ---------1586 ------ Itália Espanha França Portugal Alemanha Inglaterra O autor da primeira Gramática da Língua Castelhana, Antonio de Nebrija, foi considerado, também, o primeiro a publicar “Reglas de Ortografía”, que codificavam, pela primeira vez, a pronúncia como critério determinante da escrita, embora fosse necessário recorrer a conceitos etimológicos para os casos mais complicados. O pensamento de Nebrija de que a língua era “instrumento do Império”, estendia-se também à oralidade e procurava unificar a pronúncia em toda a área da Coroa de Castilha, abandonando completamente o romance de Burgos, que tinha estado na origem dos primeiros escritos pré-afonsinos. No caso da gramática da língua portuguesa, temos: • Grammatica da lingoagem portuguesa, de Fernão de Oliveira, lançada em 1536. Figura 7 – 1ª gramática da língua portuguesa No século XVI, devido às descobertas seguidas pela colonização, uma das imposições feitas, por exemplo, pelos portugueses foi a língua. Para expandi-la, os colonizadores começaram a produzir gramáticas e para tal buscaram o modelo na gramática latina, que, por sua vez, baseou-se na gramática grega. 33 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada A segunda gramática da língua portuguesa foi Gramática da língua portuguesa, de João de Barros, cuja primeira edição é de 1540, que segue também o modelo latino, uma vez que, segundo o próprio gramático português, o uso dos termos da gramática latina deve-se ao fato de os portugueses serem “filhos” dos latinos. Essa gramática divide-se em quatro partes, a saber: 1. Prosódia: que trata da sílaba; 2. Etmologia: que trata da dicção. Das 67 páginas da obra, 37 são destinadas à etmologia. 3. Sintaxe: que trata da construção; 4. Ortografia: que trata da letra. João de Barros inicia sua gramática declarando que gramática é “ciência de letras” e “um modo certo e justo de falar e escrever, colhido do uso e autoridade dos barões doutos”. A linha ideológica dessa gramática não foi mudada durante os séculos posteriores e, por conseguinte, Celso Cunha, gramático brasileiro, seguiu essa ideologia ao publicar a sua em 1972. De acordo com Evanildo Bechara (2002), a gramática tradicional tem três papéis: 1. Didático, pois ela codifica e fixa o idioma; 2. Dogmático, já que ela é autoritária; 3. Científico, porque ela normativa a língua, precisando explicar a forma correta do uso dessa língua. Ao exercer esses papéis, significa que a gramática padroniza a língua, tendo a pretensão de mostrar ao falante o que e como usar a língua e repele o que não esteja dentro do padrão idiomático. Concomitante a essa gramática pautada no modelo greco-latino, surge no século XIX o interesse pela origem e evolução da língua. A gramática histórica consistiu no desejo dos historiadores em querer comparar as línguas para saber as suas evoluções e chegar a um ponto em comum entre elas. Desse modo, resultou esta árvore: Latim Indo-europeu Sânscrito Figura 8 34 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 A gramática da língua portuguesa no Brasil mudou durante esses séculos em relação ao conteúdo, ortografia, entre outros aspectos. A última mudança nesse sistema gramatical ocorreu a 18 de dezembro de 1971 pela Lei nº 5.765, quando a NGB – Nomenclatura Gramatical Brasileira – foi estabelecida. A seguir, o documento da NGB: Nomenclatura Gramatical Brasileira – NGB Uniformização e simplificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, de acordo com o trabalho aprovado pelo Sr. Ministro Clóvis Salgado, elaborado pela Comissão designada na Portaria Ministerial número 152/57, constituída pelos Professores Antenor Nascentes, Clóvis do Rêgo Monteiro, Cândido Jucá (filho), Carlos Henriqueda Rocha Lima e Celso Ferreira da Cunha, e assessorada pelos Professores Antônio José Chediak, Serafim Silva Neto e Sílvio Edmundo Elia. Rio de Janeiro, 1958. Ex.mo Sr. Ministro de Estado da Educação e Cultura A Comissão, abaixo assinada, tem a honra de passar às mãos de V. Ex.a o Anteprojeto de Simplificação e Unificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, já em redação final. O presente Anteprojeto é resultante não só de um reexame, pela Comissão, do primitivo, mas ainda do estudo, minucioso e atento, das contribuições remetidas à Cades pela Academia Brasileira de Filologia do País, pela Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e, individualmente, por numerosos e abalizados professores de Português. Releva salientar que a Comissão, ao considerar as modificações propostas, teve sempre em mira a recomendação de V.Ex.a constante da Portaria Ministerial nº 152 – “uma terminologia simples, adequada e uniforme” – bem como atender ao tríplice aspecto fixado nas Normas Preliminares de Trabalho: a) a exatidão científica do termo; b) a sua vulgarização internacional; c) a sua tradição na vida escolar brasileira. Agradecendo, mais uma vez, nesta oportunidade, a distinção e a confiança com que contemplou V.Ex.a, a Comissão renova a V.Ex.a os protestos de alto apreço e distinta consideração. Antenor Nascentes Clóvis do Rêgo Monteiro Cândido Jucá (filho) Carlos Henrique da Rocha Lima Celso Ferreira da Cunha 35 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada Assessores: Antônio José Chediak Serafim Silva Neto Sílvio Edmundo Elia. São nomes muito conhecidos e de reconhecido valor: todos têm obras publicadas. Portaria nº 36, de 28 de janeiro de 1959 O Ministro do Estado da Educação e Cultura, tendo em vista as razões que determinaram a expedição da Portaria nº 152, de 24 de abril de 1957, e considerando que o trabalho proposto pela Comissão resultou de minucioso exame das contribuições apresentadas por filólogos e linguistas, de todo o país, ao Anteprojeto de Simplificação e Unificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, resolve: Art.1º – Recomendar a adoção da Nomenclatura Gramatical Brasileira, que segue anexa à presente Portaria, no ensino programático da Língua Portuguesa e nas atividades que visem à verificação do aprendizado, nos estabelecimentos de ensino. Art.2º – Aconselhar que entre em vigor: a) para o ensino programático e atividades dele decorrentes, a partir do início do primeiro período do ano letivo de 1959; b) para os exames de admissão, adaptação, habilitação, seleção e do art. 91 a partir dos que se realizarem em primeira época para o período letivo de 1960. Clóvis Salgado DIVISãO DA GRAMÁTICA: Fonética, Morfologia e Sintaxe. INTRODUçãO: Tipos de Análise: Fonética, Morfológica e Sintática. Primeira parte Fonética I – A FONÉTICA pode ser: Descritiva, Histórica e Sintática. II – FONEMAS: vogais, consoantes e semivogais. 1. Classificação das vogais – Classificam-se as vogais: a) quanto à zona de articulação, em: anteriores, médias e posteriores; 36 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 b) quanto ao timbre, em: abertas, fechadas e reduzidas; c) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, em: orais e nasais; d) quanto à intensidade, em: átonas e tônicas. 2. Classificação de consoantes – classificam-se as consoantes: a) quanto ao modo de articulação, em: oclusivas, constritivas: fricativas, laterais e vibrantes; b) quanto ao ponto de articulação, em: bilabiais, labiodentais, linguodentais, alveolares, palatais e velares; c) quanto ao papel das cordas vocais, em: surdas e sonoras; d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, em: orais e nasais. III – 1. Ditongos – Classificam-se os ditongos em: crescentes e decrescentes; orais e nasais. 2. Tritongos – Classificam-se os tritongos em: orais e nasais. 3. Hiatos. 4. Encontros consonantais. Nota: Os encontros – ia, ie, io, ua, eu, uo finais, átonos, seguidos ou não de s, classificam-se quer como ditongos, quer como hiatos uma vez que ambas as emissões existem no domínio da Língua Portuguesa: histó-ri-a e histó-ria; sé-ri-e e sé-rie; pá-ti-o e pá-tio; ár-du-a e ár-dua; tê-nu-e e tê-nue; vá-cu-o e vá-cuo. IV – Sílaba – Classificam-se os vocábulos, quanto ao número de sílabas, em: monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos. V – Tonicidade: 1. Acento: principal e secundário. 2. Sílabas: átonas: pretônicas e postônicas; subtônicas; tônicas. 3. Quanto ao acento tônico, classificam-se os vocábulos em: oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. 4. Classificam-se os monossílabos em: átonos e tônicos. 5. Rizotônico; arrizotônico. 37 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada 6. Ortoepia. 7. Prosódia. Nota: São átonos os vocábulos sem acentuação própria, isto é, os que não têm autonomia fonética, apresentando-se como sílabas átonas do vocábulo seguinte ou do vocábulo anterior. São tônicos os vocábulos com acentuação própria, isto é, os que têm autonomia fonética. Pode ocorrer que, conforme mantenha, ou não, sua autonomia fonética, o mesmo vocábulo seja átono numa frase, porém, tônico em outra. Tal pode acontecer, também, com vocábulos de mais de uma sílaba: serem átonos numa frase, mas tônicos em outra. Segunda parte Morfologia Trata a Morfologia das palavras: 1. Quanto a sua estruturação e formação. 2. Quanto a suas flexões e 3. Quanto a sua classificação. I - Estrutura das palavras: a) Raiz; Radical; Tema; Afixo: prefixo e sufixo; Desinência: nominal e verbal; Vogal temática; Vogal e Consoante de ligação. b) Cognato. II – Formação das palavras: 1 – Processo de formação de palavras: Derivação; Composição; 2 – Hibridismo. III – Flexão das palavras: quanto à sua flexão as palavras podem ser: variáveis ou invariáveis. IV - Classificação das palavras: substantivos, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. I – Substantivos 1. Classifica-se os substantivos em: comuns e próprios; concretos e abstratos. 2. Formação do substantivo: primitivo e derivado; simples e composto. 3. Flexão do substantivo: 38 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 a) em gênero: masculino; feminino, epiceno; comum de dois gêneros; sobrecomum. b) em número: singular e plural; c) em grau: aumentativo; diminutivo. II – Artigo 1. Classificação do artigo: definido, indefinido. 2. Flexão do artigo: a) gênero: masculino e feminino; b) número: singular e plural. III – Adjetivo: 1. Formação do adjetivo: primitivo e derivado; simples e composto. 2. Flexão do adjetivo: a) em gênero: masculino e feminino; b) em número: singular e plural; c) em grau: comparativo de igualdade; de superioridade (analítico e sintético); de inferioridade. Superlativo: relativo (de superioridade de inferioridade); absoluto (sintético e analítico). 3. Locução adjetiva. IV – Numeral: 1. Classificação do numeral: cardinal, ordinal, multiplicativo e fracionário. 2. Flexão do numeral: em gênero: masculino e feminino; em número: singular e plural. V – Pronome: 1. Classificação do pronome: pessoal: reto, oblíquo (reflexivo, não reflexivo); de tratamento; possessivo; demonstrativo; indefinido; interrogativo; relativo. Nota: Os que fazem as vezes de substantivos chama-se pronomes substantivos; os que acompanham os substantivo, pronomes adjetivos. 39 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 012 Letras Integrada 2. Flexão do pronome: a) em gênero: masculino e feminino. b) em número: singular e plural. c) em pessoa: primeira, segunda e terceira. 3. Locução pronominal. VI – Verbo 1. Classificação do verbo: regular, irregular, anômalo, defectivo, abundante, auxiliar. 2. Conjugações: três são as conjunções: a primeira com o tema terminado em “A”; a segunda com o tema terminado em “E”; a terceira com o tema terminado em “I”. Nota: O verbo “pôr” (e os dele formados) constitui anomalia da 2ª conjugação. 3. Formação do verbo: primitivo e derivado; simples e composto. 4. Flexão do verbo: a) de modo: indicativo, subjuntivo e imperativo; b) formas nominais do verbo: infinitivo: pessoal (flexionado e não flexionado), impessoal; gerúndio; particípio; c) de tempo: presente; pretérito: imperfeito (simples e composto); perfeito (simples e composto); mais que perfeito (simples e composto); futuro do presente (simples e composto) e do pretérito (simples e composto). Nota: A denominação futuro do pretérito (simples e composto) substitui a de condicional (simples e composto); d) de número: singular e plural; e) de pessoa: três são as pessoas do verbo: 1ª, 2ª e 3ª; f) de voz: ativa; passiva (com auxiliar, com pronome apassivador); reflexiva. 5. Locução verbal. VII – Advérbio: 1. Classificação do advérbio: 40 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 a) de lugar; de tempo; de modo; de negação; de dúvida; de intensidade; de afirmação; b) advérbios interrogativos: de lugar, de tempo, de modo, de causa. 2. Flexão do advérbio: de grau: comparativo; de igualdade, de superioridade e de inferioridade; superlativo absoluto (sintético e analítico); diminutivo. 3. Locução adverbial. Notas: a) Podem alguns advérbios estar modificando toda a oração. b) Certas palavras, por não se poderem enquadrar entre os advérbios terão classificação à parte. São palavras que denotam exclusão, inclusão, situação, designação retificação, afetividade, realce etc. VIII – Preposição: 1. Classificação das preposições: essenciais, acidentais. 2. Combinação. 3. Contração. 4. Locução prepositiva. IX – Conjunção: 1. Classificação das conjunções: coordenativas: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas, explicativas; subordinativas: integrantes, causais, comparativas, concessivas, condicionais, consecutivas, finais, temporais, proporcionais e conformativas. Nota: As conjunções que, porque, porquanto etc., ora têm valor coordenativo, ora subordinativo; no primeiro caso, chama-se explicativa, no segundo, causal. 2. Locução conjuntiva X – Interjeição Locução interjectiva. XI – 1. Palavra. 2. Vocábulo. 41 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada 3. Sincretismo. Sincrético. 4. Forma variante. 5. Conetivo. Terceira parte Sintaxe A – Divisão da sintaxe: a) Concordância: nominal e verbal. b) Regência: verbal e nominal c) Colocação. Nota: Na colocação dos pronomes oblíquos, adotem-se as denominações de próclise, mesóclise e ênclise. B – Análise sintática: I – Da oração: 1. Termos essenciais da oração: sujeito e predicado. a) Sujeito: simples, composto, indeterminado; oração sem sujeito. b) Predicado: nominal, verbal, verbo-nominal. c) Predicativo: do sujeito e do objeto. d) Predicação verbal: verbo de ligação; verbo transitivo (direto e indireto); verbo intransitivo. 2. Termos integrantes da oração: a) complemento nominal; b) complemento verbal: objeto (direto e indireto); c) agente da passiva. 3. Termo acessórios da oração: a) adjunto adnominal; 42 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 b) adjunto adverbial; c) aposto. 4. Vocativo II – Do período: 1. Tipos de período: simples e composto. 2. Composição do período: coordenação e subordinação. 3. Classificação das orações: a) absoluta; b) principal; c) coordenada: assindética; sindética: aditiva, adversativa, alternativa, conclusiva, explicativa; d) subordinada; substantiva: subjetiva, objetiva (direta e indireta), completiva-nominal, apositiva, predicativa; consecutiva, concessiva, condicional, conformativa, final, proporcional e temporal. As orações subordinadas podem apresentar-se, também, com os verbos numa de suas FORMAS NOMINAIS; chamam-se, neste caso, reduzidas: de infinitivo, de gerúndio, de particípio, as quais se classificam como as desenvolvidas: substantivas (subjetiva etc.), adjetivas adverbiais (temporais etc.). Notas: 1. Coordenadas entre si podem estar quer principais, quer independentes, quer subordinadas (desenvolvidas ou reduzidas). 2. Devem ser abandonadas as classificações: a) de lógico e gramatical, ampliado e inampliado, completo e incompleto, total, parcial, para qualquer elemento oracional; b) de oração quanto à forma (plena, elítica etc.), quanto ao conetivo (conjuncional, não conjuncional, relativa). 3. Na classificação da oração subordinada bastará dizer-se: oração subordinada substantiva (subjetiva etc.); oração subordinada adjetiva (restritiva, explicativa); oração subordinada adverbial (causal etc.). 43 Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 Letras Integrada Apêndice I – Figuras de Sintaxe – anacoluto, elipse, pleonasmo e silepse. II – Gramática histórica – aférese, altura (som), analogia, apócope, assimilação (total, parcial, progressiva, regressiva), consonantismo, dissimilação (total, parcial, progressiva, regressiva), ditongação, divergente, elisão, empréstimo, epêntese, etimologia, haplologia, hiperbibasmo, intensidade (som), metáfase, mesalização, neologismo, palatalização, paragoge, patronímico, prótese, síncope, sonorização, substrato, superstrato, vocalismo, vocalização. III – Ortografia – abreviatura, alfabeto, dígrafo (grupo de letras que representam um só fonema. Ex.: ch (chave), gu (guerra), qu (quero), rr (carro), lh (palha), ss (passo), nh (manhã); homógrafo, homônimo, letra (maiúscula e minúscula). Notações léxicas: acento agudo, grave, circunflexo, apóstrofo, cedilha, hífen, til e trema, sigla. IV – Pontuação – aspas, asteriscos, colchete, dois-pontos, parágrafo(§), parênteses, ponto de exclamação, ponto de interrogação, ponto e vírgula, ponto final, reticências, cedilha, travessão, vírgula. V – Significação das palavras – antônimo, homônimo, sentido figurado. VI – Vícios de linguagem – barbarismo, cacofonia, preciosismo, solecismo. Saiba mais A pesquisa realizada por Baldini aprofunda os conhecimentos sobre a NGB do ponto de vista teórico da Análise do Discurso. A NGB é considerada pelo pesquisador sem precedentes na história da gramatização brasileira. Sua pesquisa foi feita sob a orientação da estudiosa Eni Orlandi. BALDINI, L. A Nomenclatura Gramatical Brasileira interpretada, definida, comentada e exemplificada. Dissertação de Mestrado em Linguística. UNICAMP, 1999. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/ document/?code=vtls000188786>. Acesso em 2 mar. 2012. A partir dessa data, toda e qualquer gramática tradicional, normativa, precisa seguir a NGB, que se torna, portanto, a base ou o ponto de partida para os gramáticos. 44 Unidade I Re vi sã o: S ue li - Di ag ra m aç ão : L éo - 0 8/ 03 /2 01 2 A primeira edição da Gramática da língua portuguesa, de Celso Cunha, de 1972, segue os parâmetros da NGB e se divide em: I. Noções históricas II. Fonética e fonologia III. Ortografia IV. Classe, estrutura, formação e significação
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