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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/319653565 A CRIANÇA É FEITA DE CEM: AS LINGUAGENS EM MALAGUZZI Chapter · January 2014 CITATIONS 0 READS 8,885 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Artigo resultado de pesquisa View project Artigo fruto de projeto de investigação sobre linguagens e infância View project Paulo Sérgio Fochi Universidade do Vale do Rio dos Sinos 38 PUBLICATIONS 15 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Paulo Sérgio Fochi on 12 September 2017. The user has requested enhancement of the downloaded file. 1 2 3 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 4 A CRIANÇA É FEITA DE CEM: AS LINGUAGENS EM MALAGUZZI .................................. 6 CRIAR INFÂNCIA CRIADORA ........................................................................................... 22 OS ESPAÇOS COMO LUGARES ...................................................................................... 28 A IMPORTÂNCIA DAS VIVÊNCIAS JUNTO À NATUREZA NA EDUCAÇÃO INFANTIL .. 38 EXPLORAR E INTERAGIR COM O MUNDO: OS MATERIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................................................................................ 51 DESENHAR – MUITO MAIS DO QUE UMA EXPERIÊNCIA GRÁFICA............................. 65 6 CAPÍTULO 1 A CRIANÇA É FEITA DE CEM1: AS LINGUAGENS EM MALAGUZZI Paulo Sergio Fochi Este primeiro texto apresenta um dos autores que se ocupou do tema das linguagens nos últimos tempos e traz, como cenário reflexivo, a escola contemporânea e suas crianças em seus processos de elaboração e criação de conhecimento. Destaca, através do pedagogo Loris Malaguzzi, as “cem linguagens” que as crianças utilizam para simbolizar e comunicar-se com o seu contexto. Além disso, aborda ainda questões relativas à escuta e à imagem das crianças, tema que este autor se ocupou para criar o argumento das diversas linguagens. Um pouco da história de Loris Malaguzzi Começamos falando sobre Malaguzzi, que, na região de Emilia Romagna, na Itália, difunde uma ideia revolucionária a cerda das crianças e da Pedagogia. Malaguzzi (1999a, p. 71) ensinou ao mundo que, para construir uma Pedagogia voltada à pequena infância, deve-se estar consciente de “que as coisas relativas às crianças e para as crianças somente são aprendidas através das próprias crianças”. O autor nunca se preocupou em dogmatizar os princípios pedagógicos que acreditava, pelo contrário, sua obra é como um quebra- cabeça, na qual os autores que o pedagogo estudava eram como peças que ele “encaixava e desencaixava [...] em diversas composições que ajustava e desajustava com relações e combinações inesperadas” (HOYUELOS, 2004a, p. 32). Durante o fascismo não dispúnhamos de autores estrangeiros [...]. Depois viemos a conhecer Dewey, Washburne, Dalton, Kilpatrick e Perice, dos Estados Unidos, [...] e Susan Isaacs, da Inglaterra, Wallon e Freinet, da França [...]. Nos primeiros anos, a Montessori nos foi de grande ajuda como referencial cultural e histórico, nunca como modelo; ainda hoje mantemos uma atitude crítica em relação a ela [...] a abordagem 1 Trecho da poesia de Loris Malaguzzi “As cem linguagens”, cujo título também foi utilizado em uma das suas exposições de documentações pedagógicas dasexperiências das crianças. 7 dela é confortante, porém simplista [...][o que] pode ser perigoso [...]. Depois, Makarenko e Vygostsky, que ainda são muito importantes pra nós [...]. Piaget e os neopiagetianos [...]. A psicologia social, tanto americana como europeia, Erikson [...]. Depois David Hawkins, que é muito importante [...] e, naturalmente, a psicanálise, embora dela mantenhamos uma certa distância, com Freud, Jung, Melanie Klein [...]. Ultimamente, a teoria da complexidade, com Morin [...], Maturana e Varela, dois pesquisadores chilenos que se especializaram em Biologia na Universidade de Harward [...]. Depois Bronfebrenner, Bruner, sobretudo o último Bruner que está resgatando uma solidariedade mais explícita nos recursos das crianças [...] que fala em sinergia entre o lado direito e o lado esquerdo do cérebro. (MALAGUZZI apud RABITTI, 1999, p. 61-62) Além da presença dos distintos nomes de pedagogos, psicólogos, filósofos, antropólogos e linguistas, Malaguzzi também trazia para compor seu quebra-cabeça artistas, poetas, arquitetos, designers e profissionais de tantas outras áreas que ele acreditava serem importantes para auxiliar a pensar sobre a criança. Conforme lembra Hoyuelos (2004a, p. 32), Malaguzzi “atualizava e metabolizava os autores em cada momento e fazia com eles uma operação de cuidado sacrilégio, sabendo que o único sagrado – para ele – era o respeito aos direitos das crianças”. Nas quase cinco décadas do trabalho de Malaguzzi, ele sistematizou sua crença sobre as crianças e a Pedagogia por meio da documentação pedagógica das experiências de meninos e meninas em creches e escolas infantis. Malaguzzi (1992, p. 19 apud FARIA, 2007, p. 278) explica em uma entrevista dada ao jornalista Peter Ambeck-Madsen que: Há séculos que as crianças esperam ter credibilidade. Credibilidade nos seus talentos nas suas sensibilidades, nas suas inteligências criativas, no desejo de entender o mundo. É necessário que se entenda que isso que elas querem é demonstrar aquilo que sabem fazer. A paixão pelo conhecimento é intrínseca a elas. Através da documentação pedagógica, Malaguzzi tornou visível outra imagem de criança, diferente daquelas que até então eram encontradas nos livros de pedagogia e de psicologia. Assim, revelou uma criança capaz, portadora do inédito, “uma declaração contra a traição do potencial das crianças, e um alerta de que elas, antes de tudo, precisavam ser levadas a sério” (MALAGUZZI, 1999a, p. 67). Com seu poema, “As cem linguagens”, o pedagogo deu nome a uma exposição que girou o mundo, compartilhando documentações sobre as crianças de Reggio Emilia. Seu poema, além de reivindicar que as crianças são “feitas de cem”, alerta sobre o papel da escola e da sociedade. Esse tema da documentação pedagógica surge para Malaguzzi (HOYUELOS, 2004b, 2006) no final da década de 1960, quando assessorava em Reggio Emilia e Modena. 8 Obstinado pela ideia de tornar público o trabalho realizado nas escolas infantis, o autor solicitava aos professores que incorporassem em sua prática o hábito da escrita, e que a partir desta refletissem sobre o trabalho pedagógico. Naquela época, Malaguzzi incentivava “os professores a ter um caderno de bolso para escrever as coisas importantes” (HOYUELOS, 2004b, p. 65), como falas das crianças, observações do cotidiano, hipóteses que as crianças lançavam sobre os temas de estudo, enfim, tudo aquilo que pudesse compor como elementos importantes a serem considerados na construção e na atualização dos projetos educativos das escolas, e o que pudessem acrescentar algo na intensa jornada do adulto em conhecer as crianças. Além disso, o pedagogo italiano e os professores das escolas se instrumentalizavam com cadernos que chamavam de “diários” ou de “fatos e reflexões”. Se trata de cadernos grandes, pautados ou quadriculados, escritos com certa elegância [...] na primeira página, se indica o nome da escola e o grupo, os nomes dos professores que os acompanham no ano escolar