Buscar

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA
SUMÁRIO:
I - INTRODUÇÃO
II – CONCEITO
III – RECONHECIMENTO EXTRAJUDICIAL DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA
IV – ADOÇÃO X FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA
 V – FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: PROCEDIMENTO E REQUISITOS FORMAIS
VI – OBRIGAÇÕES DOS PAIS SOCIOAFETIVOS
VII – ANEXO 1
VIII – ANEXO 2
IX - BIBLIOGRAFIA
I – INTRODUÇÃO
 
“Não habitou meu ventre,
mas mergulhou nas entranhas da minha alma.
Não foi plasmado do meu sangue,
mas alimenta-se no néctar de meus sonhos.
Não é fruto de minha hereditariedade,
mas molda-se no valor de meu caráter.
Se não nasceu de mim,
certamente nasceu para mim.
E se mães também são filhas, e se filhos todos são
duplamente abençoado és, meu filho do coração!”
(Autor desconhecido)
O direito de família brasileiro admite uma série de vínculos como suficientes para o estabelecimento da filiação. Elos biológicos, afetivos, presuntivos, registrais, adotivos ou decorrentes de reprodução assistida perfilam lado a lado no nosso sistema jurídico, todos passíveis de consagrar uma relação de parentesco. Já o reconhecimento da ligação socioafetiva, como suficiente vínculo parental, teve um longo percurso. Há bastante tempo é conhecida socialmente a denominada “paternidade socioafetiva”, relação precursora do reconhecimento dos vínculos socioafetivos na filiação, entretanto havia uma série de dificuldades para sua efetiva formalização.
A literatura jurídica e a jurisprudência foram fundamentais para sua consolidação no mundo jurídico e, além disso, contribuíram significativamente para o diálogo e o amadurecimento desta modalidade de vínculo parental, de tal modo que, atualmente, é possível compartilhar da afirmação de Veloso, Zeno (2018): “a socioafetividade tem um grande significado jurídico, integra o direito de família, possui caráter normativo”. Partindo desse pressuposto, podemos perceber que além da doutrina, o Superior Tribunal de Justiça exerceu um papel central para consolidar a socioafetividade no âmbito das relações paterno-filiais, uma vez que em diversas decisões esta Corte afirmou que a relação filial pode se estabelecer exclusivamente por intermédio do vínculo afetivo. 
Destaca-se que até pouco tempo, o reconhecimento e registro de uma relação filial socioafetiva somente poderia se dar por intermédio de uma intervenção do Poder Judiciário. Ou seja, os interessados em ver registrada uma dada filiação socioafetiva (ainda que consensual) deveriam, necessariamente, ajuizar uma ação judicial para alcançar tal intento, o que demandava a intervenção de advogado, o custo e o tempo de um processo judicial, dentre outros percalços que envolvem uma demanda em juízo. Neste contexto, os cartórios de registro civil registravam de forma direta apenas filhos de pessoas que se declaravam ascendentes genéticas de quem pretendiam reconhecer ou, então, nos casos que incidiam as respectivas presunções legais (por exemplo, art. 1.597, CC). 
Assim, eram registrados extrajudicialmente, ou seja, diretamente nas serventias de registro, apenas os filhos biológicos e aqueles havidos de relação na qual incidisse uma presunção legal (ex: havido durante o matrimônio). Já os filhos socioafetivos só poderiam ser reconhecidos pela via jurisdicional, o que fazia com que muitos vínculos desta natureza não fossem devidamente registrados, apesar de presentes na realidade fática. 
Entretanto, a partir de 2013 essa situação começou a mudar no cenário brasileiro, pois alguns Estados passaram a permitir o reconhecimento da filiação socioafetiva de forma extrajudicial, diretamente nos cartórios de registro de pessoas naturais. O primeiro Estado a levantar a possibilidade de registro extrajudicial da paternidade socioafetiva foi Pernambuco. Em seguida outros Estados, tais como Maranhão, Ceará, Amazonas, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Sergipe, também acompanharam essa linha, com similar fundamentação. Contudo, cada Estado regulou o procedimento com as suas particularidades. Em consequência, passou a ser permitido o reconhecimento extrajudicial da paternidade socioafetiva em várias localidades, porém, sem uniformidade nacional, cada qual com seus critérios e formatos distintos, enquanto que em alguns Estados a medida ainda não era sequer permitida.
Diante do grande dissenso nacional sobre a temática, o Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM elaborou um pedido de providências ao Conselho Nacional de Justiça – CNJ solicitando a uniformização de procedimento, para que houvesse igualdade e padronização na possibilidade de reconhecimento extrajudicial da filiação socioafetiva em todos os cartórios de registro de pessoas naturais do país. O Conselho Nacional de Justiça admitiu a necessidade de uniformização do procedimento, entendendo que o reconhecimento extrajudicial da paternidade socioafetiva teria fundamentação legal no art. 1º, III, art. 227, caput e § 6º da Constituição Federal, no art. 1.593 e art. 1.596 do Código Civil e no art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, além de farta fundamentação doutrinária e jurisprudencial.
Nesse ambiente, então, que no dia 14 de novembro de 2017 o Conselho Nacional de Justiça - CNJ editou o Provimento nº 63 para regular em todo território nacional o reconhecimento extrajudicial da filiação socioafetiva, entre outras deliberações. Além disso, o Provimento possibilitou a redução do número de demandas judiciais relativas ao registro civil, bem como as novas permissões trazidas são dignas de favorecer um enorme contingente de pessoas em todo o território nacional, muitas das quais restavam sem formalização adequada da sua filiação justamente em face dos óbices que até então se apresentavam. 
As medidas implementadas visam facilitar o acesso a um direito que deve ser assegurado sem maiores obstáculos a todos: o registro do estado de filiação. Merece destaque especial a extensa capilaridade dessas disposições frente a atual realidade brasileira, que apresenta uma infinidade de combinações e recombinações familiares, cujas especificidades muitas vezes acabam por resultar em um déficit registral, em especial quanto à filiação. Os novos procedimentos estabelecidos representam um outro momento para as serventias de registro de pessoas que passam a assumir um maior protagonismo em relação a filiação socioafetiva.
	Sendo assim, é possível perceber que o Direito de Família é profundamente influenciado pela realidade social. Portanto, os conceitos de família, de pátrio poder e de acolhimento passaram por mudanças significativas ao longo do tempo. Assim, o presente trabalho analisará a temática abordada e suas repercussões no âmbito jurídico. 
II – CONCEITO
Para compreender a filiação socioafetiva faz-se necessário entender o seu conceito. Segundo Jorge Fujita: “Filiação socioafetiva é aquela consistente na relação entre pai e filho, ou entre mãe e filho, ou entre pais e filho, em que inexiste liame de ordem sanguínea entre ele, havendo, porém, o afeto como elemento aglutinador, tal como uma sólida argamassa a uni-los em suas relações, quer de ordem pessoal, quer de ordem patrimonial.” Já para Rolf Madaleno a “filiação socioafetiva é a real paternidade do afeto e da solidariedade; são gestos de amor que registraram a conivência de interesse entre o filho registral e o seu pai de afeto”.
Desta forma, podemos entender que a filiação socioafetiva é o reconhecimento jurídico da maternidade e/ou paternidade com base no afeto, sem que haja vínculo de sangue entre as pessoas. Logo, esta filiação encontra sólido apoio nas normas constitucionais sobre direito de família e tem assento infraconstitucional no Código Civil de 2002, que em seu artigo 1.595 menciona a possibilidade de embasar-se o parentesco na consanguinidade ou em “outra origem”, expressão que engloba a origem socioafetiva. 
Corroborando com esse entendimento, afirma Jédison Daltrozo Maidana: 
“[...] pai, ou mãe, na complexidade que esses termos comportam, será sempre aquele ou aquela que, desejando ter um filho, acolhemem seu seio o novo ser, providenciando-lhe a criação, o bem estar e os cuidados que o ser humano requer para o seu desenvolvimento e para a construção de sua individualidade e de seu caráter. Aquele que se dispõe a assumir espontaneamente a paternidade de uma criança, levando ela ou não a sua carga genética, demonstra, por si só, consideração e preocupação com o seu desenvolvimento.”
Além disso, o elemento socioafetivo também é tutelado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e encontra-se nos artigos 28 a 52, ao tratar das famílias substitutas. Outro importante instrumento normativo é o Provimento nº 63 de 14 de novembro de 2017, que 
“Institui modelos únicos de certidão de nascimento, de casamento e de óbito, a serem adotadas pelos ofícios de registro civil das pessoas naturais, e dispõe sobre o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e maternidade socioafetiva no Livro “A” e sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva certidão dos filhos havidos por reprodução assistida.”
III – RECONHECIMENTO EXTRAJUDICIAL DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA
Para que haja uniformização dos procedimentos e, consequentemente, maior facilitação do registro dos vínculos socioafetivos o CNJ expediu o Provimento nº 63, que objetiva normatizar, entre outros procedimentos, o da filiação socioafetiva, atingindo todos os cartórios do país. A partir disso, os vínculos consensuais socioafetivos de filiação passaram a poder ser registrados, voluntária e diretamente, nas serventias de registro civil de pessoas, sem a necessidade de intervenção do Poder Judiciário, o que é uma alteração significativa e proporciona maior celeridade no trâmite.
Partindo desse pressuposto, um dos pontos centrais trazido pelo Provimento de maior impacto é, certamente, a admissão do reconhecimento da filiação socioafetiva diretamente no cartório de registro civil, de forma extrajudicial, em todo o território nacional. Ressalte-se que a possibilidade de registro extrajudicial da paternidade ou maternidade socioafetiva facilita o acesso a um direito já reconhecido e aceito na realidade jurídica brasileira há muitos anos. A formalização deste vínculo filial diretamente nas serventias permite que a afetividade chegue até os balcões dos cartórios, o que representa um avanço significativo do seu percurso. Segundo Zeno Veloso, “a filiação, qualquer que seja sua origem, possui a mesma importância e deve receber igual respeito e consideração”. 
A facilitação do reconhecimento voluntário da filiação socioafetiva está alicerçada nos princípios da afetividade, da igualdade e do direito de filiação, de modo que não pode ser ignorada ou dificultada. Neste sentido, o Conselho Nacional de Justiça atuou de forma razoável ao adotar tal medida em prol da desburocratização, unificando, assim, esta possibilidade no cenário nacional. 
IV – ADOÇÃO X FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA
Para explicar as diferenças entre filiação socioafetiva e a adoção no Brasil, é preciso entender quais são as relações de parentesco aceitas no nosso ordenamento jurídico. Sendo assim, Flávio Tartuce nos apresenta o seguinte conceito de parentesco:
“Parentesco pode ser conceituado como sendo o vínculo jurídico estabelecido entre pessoas que têm mesma origem biológica (mesmo tronco comum), entre cônjuge ou companheiro e os parentes do outro; e entre as pessoas que têm entre si um vínculo civil. Portanto, três são as modalidades de parentesco admitidas pelo Direito Civil Brasileiro: parentesco consanguíneo ou natural, parentesco por afinidade e parentesco civil.”
 Nesse sentido, o autor explica que o parentesco civil é aquele decorrente de outra origem, conforme consta do artigo 1.593 do Código Civil. Sendo assim, entende-se tradicionalmente que o artigo mencionado abrange a adoção, todavia a doutrina e a jurisprudência admitem também duas outras formas de parentesco, a primeira seria decorrente da técnica de reprodução heteróloga (aquela efetivada com material genético de terceiro), a segunda tem fundamento na parentalidade socioafetiva (na posse de estado de filhos e no vínculo social de afeto).
Como visto, a adoção e a filiação socioafetiva constituem uma modalidade de parentesco civil, para esclarecer ainda mais suas peculiaridades, vejamos dois conceitos doutrinários de adoção:
- Maria Helena Diniz - “A adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, previstos na Lei 8.069/90, arts. 39 a 52-D, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho pessoa que, geralmente, lhe é estranha.”
- Sílvio de Salvo Venosa - “A adoção é modalidade artificial de filiação que busca imitar a filiação natural. Daí ser também conhecida como filiação civil, pois não resulta de uma relação biológica, mas de manifestação de vontade, conforme o sistema do Código Civil [...] ou de sentença judicial, conforme o atual sistema.”
Como é possível perceber dos conceitos expostos, a adoção é um ato jurídico em sentido estrito, depende de decisão judicial para produzir os efeitos delimitados pela lei. Já a filiação socioafetiva, como dito acima, pode ser reconhecida e registrada de forma extrajudicial. Além disso, há uma relação de afeto anterior a sua formalização, embora o vínculo não advenha do biológico, mas a afetividade já acontece de forma contínua e durável. Nesse sentido, a característica marcante da filiação socioafetiva decorre do ato de vontade, respeito recíproco e o amor construído ao longo do tempo, dia após dia, com base no afeto, independentemente de laço consanguíneo. 
Desse modo, a filiação socioafetiva funda-se na cláusula geral de tutela da personalidade, salvaguardando a filiação como elemento fundamental para a formação da identidade da criança e formação de sua personalidade. Assim, elencamos os principais tópicos que caracterizam a filiação socioafetiva:
Há necessidade de manter a estabilidade familiar, atribuindo papel secundário à verdade biológica;
O Código Civil ampliou o conceito de parentesco civil, passando a ser parente todo aquele que integre à família, independente da relação de consanguinidade;
 O artigo 1.593, do CC, abriu uma brecha para o reconhecimento da filiação socioafetiva, ao fazer referência ao parentesco de outra origem;
 O artigo 1.596, do CC, aboliu as distinções entre os filhos, igualando-os na sua totalidade à letra do artigo 227, da Constituição Federal;
O artigo 1.953, do CC, declara: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte da consanguinidade ou outra origem”;
O artigo 1.596, do CC, declara: “Os filhos havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias reativas à filiação”;
A filiação socioafetiva se revela na convivência, na manifestação indescritível dos sentimentos de ternura e do querer bem;
O princípio da afetividade está relacionado com a convivência familiar e com o princípio da igualdade entre os filhos, constitucionalmente assegurado;
 A filiação evolui do determinismo biológico para o afetivo, ao passo que, as inúmeras relações existentes, visam uniformemente o bem-estar pessoal;
O afeto em si é um sentimento voluntário, desprovido de interesses pessoais e materiais, inerente ao convívio parental, constituindo o vínculo familiar.
Não há como exercer a paternidade, biológica ou não, sem a presença do afeto, norteando a relação, partindo-se do pressuposto que, a família é um instrumento de realização do ser humano.
Importa destacar que, em regra, o reconhecimento de uma filiação socioafetiva difere em muito de um procedimento de adoção, visto que cuidam de situações distintas. Dentre outros, a distinção se dá pelo fato de que o reconhecimento de um vínculo socioafetivo é sempre retrospectivo (ou seja, de algo que já ocorreu na realidade concreta, já está consagrado por anos). Já na adoção se está a falar de algo que se pretende estabelecer, pois, usualmente, a adoçãoserá o início do processo de convivência filial que se está a cuidar, ou seja, será usualmente prospectiva.
Além disso, a filiação socioafetiva não destitui nenhum vínculo parental, só inclui outro ascendente. Já na adoção, primeiramente precisa ser rompido o vínculo com o ascendente registral, ou seja, ele precisa ser destituído do poder parental, para que depois possa ocorrer a adoção. Em outras palavras, na filiação socioafetiva será incluído mais um ascendente, porém os outros permanecerão no registro do filho; já na adoção, ocorre primeiro o rompimento do vínculo com o pai/mãe que consta no registro para, depois, ocorrer a adoção e a realização de uma nova certidão de nascimento apenas com o nome dos adotantes como ascendentes. 
Esta compreensão permite distinguir situações e demonstra que não se cuidará de adoções no cartório de registro civil, pois isto é (e continuará sendo) de competência exclusiva do Poder Judiciário. Embora possam ter alguns pontos de contato em comum, o registro extrajudicial da filiação socioafetiva é uma coisa e a adoção é outra. Uma apurada na compreensão do que seja um vínculo socioafetivo, bem como a percepção que ele deve ser demonstrado de forma objetiva, retrospectiva, certamente afastará quaisquer equívocos.
V – FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: PROCEDIMENTO E REQUISITOS FORMAIS
Um aspecto central para que se possa falar formalizar o vínculo de socioafetividade nos moldes retratados pelo respectivo Provimento é a necessidade de haver a demonstração inequívoca de longo tempo de trato filial socioafetivo ininterrupto (resta possível dizer que isso envolve, em regra, alguns anos de convivência). Isto porque, a afetividade é apurada sempre de modo objetivo para fins jurídicos, com a demonstração de elementos concretos que a represente.
Vale ressaltar, que o reconhecimento da filiação socioafetiva em cartório somente ocorre nas situações de vínculos consagrados e incontroversos de filhos socioafetivos, ou seja, envolve crianças de certa idade, nas quais se constate anos de convivência socioafetiva. O regramento do Provimento também detalha todos os demais elementos que devem estar presentes para que um registro possa ser celebrado nos moldes apostos nesta normativa. 
Exemplificando alguns requisitos expressamente previstos, temos o seguinte: que o requerente seja maior de 18 anos (independente do estado civil); não seja ascendente ou irmão do pretenso filho; que a diferença de idade entre o requerente e o filho tem que ser igual ou maior que 16 anos 24; o pedido pode ser realizado em localidade diversa de onde foi lavrada a certidão de nascimento; deve haver consentimento expresso e pessoal da mãe e do pai; se o filho for maior de 12 anos também é necessário o seu consentimento; exige-se a coleta pessoal das assinaturas; e, ainda, faz-se necessária uma declaração das partes de desconhecimento de discussão judicial sobre a referida filiação. 
Sendo assim, o reconhecimento voluntário da paternidade ou da maternidade socioafetiva de pessoa de qualquer idade será autorizado perante os oficiais de registro civil das pessoas naturais, mediantes a apresentação dos seguintes documentos:
Requerimento firmado pela mãe ou pai socioafetivo;
Documento de identidade do requerente, original e cópia;
Certidão de nascimento do filho atualizada;
Declaração de anuência dos pais biológicos;
Declaração de consentimento do filho, se maior de 12 anos.
 
VI – OBRIGAÇÕES DOS PAIS SOCIOAFETIVOS
Análise de decisões jurisprudenciais acerca da possibilidade jurídica da prestação de alimentos por pais socioafetivos, quando presentes os requisitos de validade caracterizadores da posse do estado de filho:
Trazendo-se sobre o entendimento acerca da obrigação da prestação alimentícia para o campo da socioafetividade, alguns tribunais pátrios vêm adotando a posição de que esse dever também deve se estender aos filhos socioafetivos, incluindo aqueles possuidores do estado de filho.
Um dos principais argumentos adotados pelos doutrinadores e pela jurisprudência a fim de permitir a transposição da obrigação alimentar para o campo da socioafetividade, é, sem dúvidas, o princípio da igualdade da filiação, instituído pela Carta Magna, em seu art. 227, § 6º, ao proibir quaisquer designações discriminatórias com relação aos filhos, independente de sua origem.
Conforme já exposto, a doutrina e a jurisprudência majoritária entendem que a filiação socioafetiva baseada na posse do estado de filho constitui-se em um modo de parentesco, na medida em que o Código Civil abre brecha para este entendimento, quando faz referência ao termo ‘outra origem’. Somando-se a isto, baseiam-se, também, nos posicionamentos emanados pelo STJ, nos Enunciados promovidos pelo CJF e na preocupação assente da Constituição Federal em proteger o instituto da filiação.
Assim, reconhecida a filiação socioafetiva decorrente da posse do estado de filho, já que não deve haver discriminação relativa à filiação, todos os filhos, independente de sua origem, devem ser tratados igualmente, sendo cabível ao filho socioafetivo, portanto, tudo aquilo que também cabe às outras espécies de filiação, inclusive, a possibilidade do recebimento de pensão alimentícia pelo pai afetivo.
VII – ANEXO 1
CNJ: Provimento nº 63/2017 (Institui modelos únicos de certidão de nascimento, de casamento e de óbito, a serem adotadas pelos ofícios de registro civil das pessoas naturais, e dispõe sobre o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e maternidade socioafetiva no Livro “A” e sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva certidão dos filhos havidos por reprodução assistida).
PROVIMENTO N. 63, DE 14 DE NOVEMBRO DE 2017.
Institui modelos únicos de certidão de nascimento, de casamento e de óbito, a serem adotadas pelos ofícios de registro civil das pessoas naturais, e dispõe sobre o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e maternidade socioafetiva no Livro “A” e sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva certidão dos filhos havidos por reprodução assistida.
O CORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA, usando de suas atribuições, legais e regimentais e
CONSIDERANDO o poder de fiscalização e de normatização do Poder Judiciário dos atos praticados por seus órgãos (art. 103-B, § 4º, I, II e III, da Constituição Federal de 1988);
CONSIDERANDO a competência do Poder Judiciário de fiscalizar os serviços notariais e de registro (arts. 103-B, § 4º, I e III, e 236, § 1º, da Constituição Federal);
CONSIDERANDO a competência da Corregedoria Nacional de Justiça de regulamentar a padronização das certidões de nascimento, casamento, óbito e certidão de inteiro teor (art. 19, caput, da Lei de Registros Públicos);
CONSIDERANDO a existência de convênio firmado entre a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN-Brasil) e a Receita Federal do Brasil (RFB) que viabiliza a integração da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC) com o banco de dados da RFB;
CONSIDERANDO a gratuidade da incorporação do número do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) aos documentos de identidade civil da União, dos Estados e do Distrito Federal e, mediante essa integração de dados, a possibilidade de verificação do cumprimento dos requisitos de elegibilidade para concessão e manutenção dos benefícios sociais pelo órgão concedente (art. 9º da Lei n. 13.444, de 11 de maio de 2017);
CONSIDERANDO a possibilidade de a naturalidade do cidadão corresponder à do município em que ocorreu o nascimento ou à do município de residência da mãe do registrando, desde que localizado em território nacional, cabendo a opção ao declarante no ato de registro de nascimento (art. 1º da Lei n. 13.484, de 26 de setembro de 2017);
CONSIDERANDO a possibilidade, no caso de adoção iniciada antes do registro de nascimento, de o declarante optar pela naturalidade do município de residência do adotante na data do registro;
CONSIDERANDO a necessidade de constar no assento de casamento a naturalidade dos cônjuges (art. 1º da Lei n. 13.484/2017);CONSIDERANDO a importância da integração de dados para aumentar a confiabilidade da documentação e diminuir as possibilidades de fraudes no país, além de contemplar as fontes primárias de todo e qualquer cidadão concernentes ao nascimento, casamento e óbito, que compõem a base de dados da CRC;
CONSIDERANDO o eventual interesse de pessoa física de solicitar, quando da expedição de nascimento atualizada, a averbação de outros documentos, de forma a facilitar seu acesso a programas sociais e reunir informações em documento único;
CONSIDERANDO o sistema de registro eletrônico, que facilita a interoperabilidade de dados (arts. 37 e seguintes da Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009);
CONSIDERANDO o direito do adotado de acesso irrestrito a todos os procedimentos e incidentes da adoção (art. 48 do Estatuto da Criança e do Adolescente);
CONSIDERANDO a existência de regulamentação pelas corregedorias-gerais de justiça dos Estados do reconhecimento voluntário de paternidade e maternidade socioafetiva perante os oficiais de registro civil das pessoas naturais;
CONSIDERANDO a conveniência de edição de normas básicas e uniformes para a realização do registro ou averbação, visando conferir segurança jurídica à paternidade ou à maternidade socioafetiva estabelecida, inclusive no que diz respeito a aspectos sucessórios e patrimoniais;
CONSIDERANDO a ampla aceitação doutrinária e jurisprudencial da paternidade e maternidade socioafetiva, contemplando os princípios da afetividade e da dignidade da pessoa humana como fundamento da filiação civil;
CONSIDERANDO a possibilidade de o parentesco resultar de outra origem que não a consanguinidade e o reconhecimento dos mesmos direitos e qualificações aos filhos, havidos ou não da relação de casamento ou por adoção, proibida toda designação discriminatória relativa à filiação (arts. 1.539 e 1.596 do Código Civil);
CONSIDERANDO a possibilidade de reconhecimento voluntário da paternidade perante o oficial de registro civil das pessoas naturais e, ante o princípio da igualdade jurídica e de filiação, de reconhecimento voluntário da paternidade ou maternidade socioafetiva;
CONSIDERANDO a necessidade de averbação, em registro público, dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação (art. 10, II, do Código Civil);
CONSIDERANDO o fato de que a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios (Supremo Tribunal Federal – RE n. 898.060/SC);
CONSIDERANDO o previsto no art. 227, § 6º, da Constituição Federal e no art. 1.609 do Código Civil;
CONSIDERANDO as disposições do Provimento CN-CNJ n. 13, de 3 de setembro de 2010, bem como da Resolução CNJ n. 175, de 14 de maio de 2013;
CONSIDERANDO o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família, com eficácia erga omnes e efeito vinculante para toda a administração pública e demais órgãos do Poder Judiciário (Supremo Tribunal Federal, ADPF n. 132/RJ e ADI n. 4.277/DF);
CONSIDERANDO a garantia do direito ao casamento civil às pessoas do mesmo sexo (Superior Tribunal de Justiça, REsp n. 1.183.378/RS);
CONSIDERANDO as normas éticas para uso de técnicas de reprodução assistida, tornando-as dispositivo deontológico a ser seguido por todos os médicos brasileiros (Resolução CFM n. 2.121, DOU de 24 de setembro de 2015);
CONSIDERANDO a necessidade de uniformização, em todo o território nacional, do registro de nascimento e da emissão da respectiva certidão para filhos havidos por técnica de reprodução assistida de casais homoafetivos e heteroafetivos;
CONSIDERANDO a competência da Corregedoria Nacional de Justiça de expedir provimentos e outros atos normativos destinados ao aperfeiçoamento das atividades dos serviços notariais e de registro (art. 8º, X, do Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça);
CONSIDERANDO as sugestões encaminhadas à Corregedoria Nacional de Justiça, bem como as decisões proferidas nos autos dos Pedidos de Providência n. 0006194-84.2016.2.00.0000, 0002653-77.2015.2.00.0000, 00003764-28.2017.2.00.0000 e 0005066-92.2017.2.00.0000, em trâmite no Conselho Nacional de Justiça,
RESOLVE:
[...]
Seção II
Da Paternidade Socioafetiva
Art. 10. O reconhecimento voluntário da paternidade ou da maternidade socioafetiva de pessoa de qualquer idade será autorizado perante os oficiais de registro civil das pessoas naturais.
§ 1º O reconhecimento voluntário da paternidade ou maternidade será irrevogável, somente podendo ser desconstituído pela via judicial, nas hipóteses de vício de vontade, fraude ou simulação.
§ 2º Poderão requerer o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva de filho os maiores de dezoito anos de idade, independentemente do estado civil.
§ 3º Não poderão reconhecer a paternidade ou maternidade socioafetiva os irmãos entre si nem os ascendentes.
§ 4º O pretenso pai ou mãe será pelo menos dezesseis anos mais velho que o filho a ser reconhecido.
Art. 11. O reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva será processado perante o oficial de registro civil das pessoas naturais, ainda que diverso daquele em que foi lavrado o assento, mediante a exibição de documento oficial de identificação com foto do requerente e da certidão de nascimento do filho, ambos em original e cópia, sem constar do traslado menção à origem da filiação.
§ 1º O registrador deverá proceder à minuciosa verificação da identidade do requerente, mediante coleta, em termo próprio, por escrito particular, conforme modelo constante do Anexo VI, de sua qualificação e assinatura, além de proceder à rigorosa conferência dos documentos pessoais.
§ 2º O registrador, ao conferir o original, manterá em arquivo cópia de documento de identificação do requerente, juntamente com o termo assinado.
3º Constarão do termo, além dos dados do requerente, os dados do campo FILIAÇÃO e do filho que constam no registro, devendo o registrador colher a assinatura do pai e da mãe do reconhecido, caso este seja menor.
§ 4º Se o filho for maior de doze anos, o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva exigirá seu consentimento.
§ 5º A coleta da anuência tanto do pai quanto da mãe e do filho maior de doze anos deverá ser feita pessoalmente perante o oficial de registro civil das pessoas naturais ou escrevente autorizado.
§ 6º Na falta da mãe ou do pai do menor, na impossibilidade de manifestação válida destes ou do filho, quando exigido, o caso será apresentado ao juiz competente nos termos da legislação local.
§ 7º Serão observadas as regras da tomada de decisão apoiada quando o procedimento envolver a participação de pessoa com deficiência (Capítulo III do Título IV do Livro IV do Código Civil).
§ 8º O reconhecimento da paternidade ou da maternidade socioafetiva poderá ocorrer por meio de documento público ou particular de disposição de última vontade, desde que seguidos os demais trâmites previstos neste provimento.
Art. 12. Suspeitando de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade, simulação ou dúvida sobre a configuração do estado de posse de filho, o registrador fundamentará a recusa, não praticará o ato e encaminhará o pedido ao juiz competente nos termos da legislação local.
Art. 13. A discussão judicial sobre o reconhecimento da paternidade ou de procedimento de adoção obstará o reconhecimento da filiação pela sistemática estabelecida neste provimento.
Parágrafo único. O requerente deverá declarar o desconhecimento da existência de processo judicial em que se discuta a filiação do reconhecendo, sob pena de incorrer em ilícito civil e penal.
Art. 14. O reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva somente poderá ser realizado de forma unilateral e não implicará o registro de mais de dois pais ou de duas mães no campo FILIAÇÃO no assento de nascimento.
Art. 15. O reconhecimento espontâneo da paternidade ou maternidade socioafetiva não obstaculizará a discussão judicialsobre a verdade biológica.
[...]
Seção IV
Das Disposições Finais
Art. 20. Revogam-se os Provimentos CN-CNJ n. 2 e 3, de 27 de abril de 2009, e 52, de 14 de março de 2016.
Art. 21. Este provimento entra em vigor na data de sua publicação.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
VIII – ANEXO 2
Abaixo, modelo de uma Certidão de Nascimento expedida em cartório, após todos os trâmites legais necessários:
IX – BIBLIOGRAFIA
ÂMBITO JURÍDICO. A obrigação alimentar decorrente da paternidade socioafetiva baseada na posse do estado de filho. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10850. Acesso em: 30/05/2019.
CERTIDÃO ONLINE BRASIL. O que significa filiação socioafetiva?. Disponível em: https://cartorioonlinebrasil24h.com.br/blog/filiacao-socioafetiva/. Acesso em: 30/05/2019.
CNJ. Provimento nº 63, de 14 de novembro de 2017. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380>. Acesso em: 30/05/2019. 
IBDFAM. TJCE reconhece maternidade socioafetiva dupla, de 31 de maio de 2019. Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/noticias/6958/TJCE+reconhece+maternidade+socioafetiva+dupla. Acesso em: 31/05/2019.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Direito de Família. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. v. 5.
TEPEDINO, Gustavo. “A disciplina jurídica da filiação na perspectiva civil-constitucional”. In: COMAILLE, Jacques et all. A Nova Família: problemas e perspectivas. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
26º Tabelionato de Notas da Capital (BR). Disponível em https://www.26notas.com.br/blog/?p=13976. Acesso em: 30/05/2019.
Revista CRESCER (on line): https://revistacrescer.globo.com/Familia/noticia/2019/01/mulher-tem-duas-maes-na-certidao-de-nascimento.html. Acesso em: 30/05/2019.

Outros materiais