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Resenha - O mínimo para Viver

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Resenha
O filme “O mínimo pra viver”, sob a direção de Marti Noxon foi lançado em 22 de janeiro de 2017 e somente no dia 14 de julho do mesmo ano que chegou ao Brasil pela Netflix. O filme conta com a atriz Lily Collins sendo protagonista, personificando uma jovem de 20 anos que sofre de anorexia nervosa. Do ponto de vista psicopatológico, este transtorno faz a pessoa enxergar o próprio corpo de maneira distorcida (em geral, muito acima do peso) e, a partir daí, leva a atitudes de risco como dietas restritivas, abuso de exercícios físicos, indução de vômito para expulsar as refeições e até mesmo uso de medicamentos como laxantes. A história retrata os desafios e as consequências de uma pessoa com transtorno alimentar e como cada membro do grupo social e familiar pode influenciar na recuperação do indivíduo. 
Ellen mora com o pai, com a irmã e com a madrasta, essa convivência se deu após a mãe não conseguir lidar com a sua doença. Seu pai, sempre ausente, não participa da sua vida e consequentemente não colabora com a sua melhora. A madrasta por sua vez tenta, a sua maneira, fazer com que Ellen se recupere. 
A personagem apresenta sinais de pensamento obsessivo por sua fixação na contagem de calorias, frequentemente verificar a circunferência de seu braço, a execução de exercícios de forma exacerbada e a ingestão exagerada de líquidos.
Após algumas tentativas frustradas de reabilitação, Ellen se consulta com o Dr. Beckham que propõe uma nova perspectiva sobre a internação. Durante sua estadia na clínica passa por intervenções psicoterápicas, como rodas de conversas, onde a rotina da casa é debatida através da exposição de suas conquistas e dificuldades com outros pacientes. Há também o enfrentamento com o a realidade, trazendo a paciente como responsável pelo seu tratamento. A maneira proposta de abordagem terapêutica busca dar a paciente um novo olhar para si e para sua vida.
A convivência com outros pacientes presentes na clínica traz uma série de desafios: a maneira como ela se enxerga em relação aos outros e de que forma cada pessoa a afeta e como o contrário também acontece. Ellen se envolve afetivamente com um dos pacientes e isso gera alguns conflitos internos, ela se mostra muito confusa e aparentemente não consegue lidar com esses novos sentimentos. Em um dado momento ela se recusa a continuar com o tratamento e vai embora para a casa da mãe.
Cada paciente desenvolveu um transtorno diferente. Bulimia nervosa e transtorno alimentar compulsivo estão entre alguns deles, além de casos graves de anorexia. A maneira que cada indivíduo se comporta e responde aos estímulos é singular. Problemas familiares, transtornos de personalidade e de humor, dificuldade de se aceitar e a tentativa de pertencer a um padrão tendem a ser os principais motivos de desenvolvimento de transtornos alimentares que o filme aborda. 
A partir da leitura proposta do texto “A noção de subjetividade na psicopatologia Fundamental” de Manoel Tosta Berlinck, podemos perceber a necessidade de levar em consideração a subjetividade do sujeito quando se trata de um transtorno, pois não é possível pensar somente nas características gerais e o conceito presente em um diagnóstico. O sujeito elabora suas vivências de maneira singular e fica evidente que os sintomas que o indivíduo apresenta precisa ser entendido a partir da singularidade presente no mesmo.
Um exemplo claro no filme é a questão do blog de Ellen, onde expõe os desenhos feitos por ela. Uma jovem cometeu suicídio e deixou uma carta endereçada a Ellen, o que abalou ainda mais sua estrutura emocional e fomentou o sentimento de culpa. Ao mesmo tempo seus desenhos serviram de inspiração para um dos pacientes da clínica que sentia como estivesse sendo compreendido.
Além disso podemos associar uma cena do filme à teoria do desenvolvimento infantil de Freud, onde a mãe de Ellen, que sofreu uma depressão pós-parto, a alimenta com uma mamadeira, fazendo uma alusão a fase oral, onde se dá a fonte primaria de prazer sendo a boca vital para o comer, tornando a criança totalmente dependente de cuidados desenvolvendo um sentimento de confiança e conforto através da estimulação oral. Freud deixa claro que a plena conclusão desta fase é extremamente importante para que não ocorra o que ele chama de fixação oral que pode resultar em problemas com bebida, comida, fumo e roer as unhas.
Após passar por esta experiência com sua mãe, Ellen resgata, de forma inconsciente, uma parte daquilo que não foi vivido na sua infância, a sensação de segurança e conforto. A partir desse momento, a personagem vivencia uma espécie de encontro consigo mesma. Ela consegue se enxergar de outra maneira e perceber que realmente precisa de ajuda e que sua condição está chegando a níveis extremos. Nesse momento ela retorna para a clínica com uma nova postura mais confiante e decidida, entendendo que a melhora só pode acontecer a partir de si mesma.
O filme retrata de forma bem fiel e clara a vida real de uma pessoa com Transtorno Alimentar, em especial a Anorexia Nervosa. Podemos compreender melhor a partir do olhar crítico ao filme, todas as questões em volta deste quadro. A presença da família, o convívio social e principalmente, o acompanhamento e uma intervenção específica para o caso, voltado para a sua subjetividade e liberdade de escolha, são imprescindíveis para a evolução do indivíduo.

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