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Resenha o mínimo para viver

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O filme O mínimo para viver foi escrito e dirigido por Marti Noxon, lançado no Festival Sundance em 2017. Logo em seguida foi comprado pela Netflix – streaming de filmes – e divulgado mundialmente. O tema central do longa gira em torno de uma jovem artista chamada Ellen, de 20 anos, e conta um pouco sobre o drama dos distúrbios alimentares que ela sofre. Ellen foi diagnosticada com anorexia nervosa ainda na adolescência. Ela sabe que é doente, no entanto acredita estar no controle da situação. 
O filme começa mostrando a jovem com atitudes rebeldes sendo convidada a se retirar de uma clínica de tratamento devido ao seu mau comportamento. Após diversas internações e tratamentos frustrados, sua madrasta sugere que Ellen conheça o Dr. William Beckham, um famoso médico reconhecido pelo seu método menos ortodoxo nos tratamentos de doenças de distúrbios alimentares. O quadro de Ellen é retratado como em estágio avançado da doença, apresentando corpo bem debilitado. 
Os sintomas abordados no filme são bastante realistas, tais como a contagem excessiva de calorias e atividades físicas em excesso. Ellen tem as calorias de cada alimento decorada, possui pensamentos fixos distorcidos sobre sua imagem, que a induzem a comer cada vez menos. Parece fissurada na ideia de que sua mão consiga se fechar em volta de seu braço. Suas costas apresentam marcas de machucado devido a exagerada quantidade de abdominais que faz compulsivamente.
A busca por outra forma de tratamento com o Dr. Beckham se dá como última solução para a família de Ellen, que já não consegue lidar com a situação. A principal diferença em seus métodos é que ele consiste em cooperação do próprio paciente. A ideia é a convivência em uma espécie de clínica, embora mais como uma casa do que como um ambiente hospitalar. Nesse espaço Ellen conviverá com outras pessoas que sofrem condições semelhantes. Esse tipo de tratamento dá certa liberdade ao paciente ao invés de aprisioná-los de fato, principalmente não indo contra sua vontade com relação aos tratamentos aplicados.
 Todos os personagens que estão em tratamento nessa casa chamada Limiar são personagens secundários. O longa não aborda a fundo cada história particularmente. Apesar disso, consegue retratar suas angústias e apresentar outras perspectivas do transtorno alimentar, com sintomas diferentes e pela maneira que cada qual lida com este problema. No Limiar existem algumas regras e há uma espécie de competição que atribui pontos a algumas tarefas e conquistas diárias, que são convertidas em premiações como regalias e certas liberdades.
O filme não dá um grande enfoque no trabalho terapêutico realizado no Limiar. Algumas cenas durante as sessões são apresentadas, quase como uma roda de conversa. É interessante notar que entre os pacientes e também durante essas sessões há um cuidado psicológico. A relação desenvolvida com Luke é bem explícita com isso. Sobre estes cuidados pode se traçar um paralelo com a abordagem descrita na obra “Primeiros Cuidados Psicológicos: guia para trabalhadores de campo” (2015). Estes seriam a resposta humana para apoio às pessoas que estão em situação de sofrimento. Inicialmente oferecendo apoio e cuidados práticos não invasivos, depois oferecendo a escuta sem pressionar o paciente a falar. Tudo de forma a confortá-lo, com intuito de acalmar e ajudar no tratamento como um todo. Este trabalho é desenvolvido no Limiar e percebe-se que tem grande valia para a recuperação dos pacientes. 
Se trata de um filme do ponto de vista da pessoa anoréxica e na sua vivência quanto paciente na busca de tratamento para seu transtorno alimentar o impacto que isso tem com o meio em que vive, bem como o meio teve impacto direto para o desenvolvimento desse fator. O comportamento e o estilo de vida das pessoas são diretamente pontos de impacto no que tange ao aparecimento ou exacerbação das doenças. Por este motivo é necessário entender o processo saúde e doença em uma dimensão ampla, compreendendo e intervindo nos contextos individuais ou em grupo, de maneira psicossocial. Os ideais estéticos de Ellen que tentam se encaixar na cultura a que pertence, busca alcançar um ideal de magreza doentio. A Psicologia da Saúde analisa a forma como o sujeito vive e experimenta seu estado de saúde ou de doença e sua relação como sujeito, consigo e com o mundo. 
Sabe se que a causa dos transtornos alimentares é multifatorial, combinando entre eles fatores sociais, psíquicos e biológicos (Morgan, Vecchiatti, Negrão, 2002). A família de Ellen claramente não se apresenta como um ambiente facilitador. Filha de pais separados, viveu com a mãe e sua nova companheira por mais tempo, até que a mãe afirmou não conseguir lidar mais com a problemática da filha. Seu pai é apenas citado no filme, traduzindo sua característica principal, um pai ausente e alheio a toda situação. Sua madrasta também não tem preparo para lidar com o problema da enteada. Sua meia irmã aparece como a figura familiar que Ellen tem maior laço. Resumindo, apresenta um vínculo com familiares que possuem pouco repertório para trabalhar esse problema dela e com ela. As angústias familiares são projetadas na personagem. 
Interessante apontar um acontecimento dramático na trama que acontece quando Ellen é acusada de ter servido como inspiração para o suicídio de uma jovem com as suas publicações na rede social. Esse fato muda a perspectiva de Ellen sobre a própria doença. O transtorno alimentar impacta na saúde mental e frequentemente leva ao desenvolvimento de quadros de ansiedade, depressão, traz prejuízo direto na autoestima e eleva significativamente as chances do suicídio para este grupo. 
Ao final da trama a personagem vivencia uma experiência de quase morte e decide voltar para a Limiar, de onde havia ido embora. Por vontade própria, volta e apresenta melhora significativa com relação ao modo que encara a sua própria doença, dando esperança para o espectador quanto ao seu tratamento e melhoria em seu estado de saúde. Trata-se de uma obra que parece desenrolar vagarosamente e de forma superficial sobre a temática dos TA’s – Transtornos Alimentares – ao longo do filme todo e que nos minutos finais decide dar uma guinada com ideal de redenção e recomeço para a personagem. Embora não aborde sobre TA’s em sua totalidade, é interessante a reflexão que ele possibilita como um todo.
REFERÊNCIA:
Morgan CM, Vecchiatti IR, Negrão AB. Etiologia dos transtornos alimentares: aspectos biológicos, psicológicos e sócio-culturais. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24(Suppl 3):18-23
 Organização Mundial da Saúde, War Trauma Foundation e Visão Global internacional (2015). Primeiros Cuidados Psicológicos: guia para trabalhadores de campo. OMS: Genebra.

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