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Prévia do material em texto

A	LINGUAGEM	DOS	CÃES:	OS	SINAIS	DE
CALMA
TURID	RUGAAS
Traduzido	por:
Alexandra	Costa	de	Souza
Este	livro	é	a	tradução	da	obra	On	Talking	Terms	With	Dogs:	Calm	Signals	Autora	Turid	Rugaas
Este	livro	é	publicado	com	a	autorização	de	Turid	Rugaas.
©	Versão	inglesa,	Abril	de	1997,	por	Turid	Rugaas	e	Terry	Ryan.
©	Da	edição	em	língua	portuguesa	Kns	Ediciones	S.C.,	2011.
Primeira	edição:	2011
ISBN:	978-84-937456-8-4
Tradução:	Alexandra	Costa	de	Souza
Capa	e	composição	gráfica:	Ana	Loureiro
Ilustrações	cedidas	por	Turid	Rugaas
Autora:	Turid	Rugaas.	Books	109.	N-3360	Geithus,	Noruega
Para	obter	este	livro	ou	outros	desta	editora,	contacte:
Kns	Ediciones	http://www.knsediciones.com
e-mail:	portugal@knsediciones.com
Todos	os	direitos	reservados.	É	proibida	a	reprodução	total	ou	parcial	desta	obra,	texto	ou	ilustrações,	e	não	pode	ser	transmitida
por	meios	 eletrónicos,	 nem	mecânicos,	 sem	 a	 autorização,	 por	 escrito,	 da	 autora,	 à	 exceção	 de	 breves	 transcrições	 para
comentar	a	obra.
	
A	minha	eterna	gratidão	e	amor	para	VESLA,	por	ter	iniciado	tudo	isto,	por	ser	ela
mesma.
Índice
Apresentação	(edição	espanhola)
A	história	de	Vesla
Introdução	de	Terry	Ryan
Capítulo	I:	Os	sinais	de	calma.	A	apólice	de	seguro	de	vida
Capítulo	II:	Os	sinais	de	calma:	Identificá-los	e	usá-los?
Capítulo	III:	Histórias
Capítulo	IV:	O	cão	stressado
Capítulo	V:	A	escolha	é	tua
Epílogo
Bibliografia
Agradecimentos
Apresentação
(edição	espanhola)
Muito	 já	 foi	escrito	sobre	cães,	como	comunicam,	o	 treino	de	cães…	o	que	parece	 incrível	é
que	ainda	possam	surgir	livros	tão	interessantes	e,	de	alguma	forma,	tão	originais	como	este.
A	 leitura	deste	 livro	é	 interessante	e	divertida.	É	como	 redescobrir,	de	uma	 forma	 intuitiva,	o
que	 sempre	 soubemos.	 É	 surpreendente	 quando	 alguém	 consegue	 juntar	 todas	 as	 peças	 e
lhes	dá	 sentido,	 as	 estrutura,	 sistematiza	e	 dá	orientações,	 sintetiza	e	 define	um	método	de
análise	para	aquilo	que	observamos.	Após	a	leitura	deste	livro,	tiramos	muito	mais	proveito	da
observação	e	da	comunicação	com	os	cães.
Um	 livro	essencial	para	 todos	os	profissionais	do	mundo	dos	cães	e	para	os	donos	de	cães.
Escrito	numa	linguagem	muito	direta,	simples	e	sem	tecnicismos,	para	conseguir	compreender
o	código	que	 rege	a	comunicação	dos	e	com	os	cães,	ajudar-nos-á	a	evitar	os	conflitos	e	a
aproveitar,	com	uma	maior	intensidade,	a	relação	com	os	nossos	cães.	Sem	dúvida,	este	livro
mudará	a	forma	como	comunicas	com	o	teu	animal	de	companhia.
Foi	precisamente	o	que	nos	animou	e	 levou	a	que	decidíssemos	 traduzir	e	publicar	este	 livro
que	esperamos	que	seja	bem	acolhido	pelos	profissionais	e	nos	permita	continuar	a	publicar	os
últimos	trabalhos	no	mundo	dos	cães.
Benigno	Paz	Ramos
Instrutor	de	mobilidade	com	cães-guia.
A	história	de	Vesla
O	 enorme	 Pastor	 de	 Brie	 fez	 um	 violento	 ataque	 a	 rosnar	 e	 a	 ladrar.	 Dirigiu-se	 a	 toda	 a
velocidade	para	a	pequena	Elkhound,	que	parou,	ficou	imóvel	e	voltou	a	cabeça	para	o	lado.	O
cão	 parou,	 perplexo,	 desconcertado,	 apenas	 a	 poucos	 passos	 da	 Elkhound,	 como	 se	 não
soubesse	 o	 que	 fazer.	 Então	 procurou	 numa	 direção	 e	 noutra	 uma	 atividade	 alternativa,
farejando	ligeiramente	o	chão,	distraidamente	e,	finalmente,	voltou	ao	ponto	de	partida.
O	 local	onde	 tudo	aconteceu	era	a	minha	pista	de	 treino.	O	Pastor	de	Brie	era	um	cão	com
problemas	 de	 relacionamento	 com	 os	 outros	 cães	 que	 um	 cliente	 tinha	 trazido	 à	 minha
consulta.	A	pequena	Elkhound	era	a	minha	cadela	Vesla,	com	treze	anos.
A	Vesla	sabia	sempre	o	que	tinha	de	fazer	e	tentava	sempre	apaziguar	os	outros	cães	quando
mostravam	 agressividade,	 estavam	 assustados,	 stressados	 ou,	 simplesmente,	 a
incomodavam.	Durante	onze	anos,	nenhum	cão	foi	capaz	de	a	fazer	perder	o	equilíbrio	mental,
de	a	 fazer	perder	a	cabeça.	Ela	é	a	verdadeira	 imagem	da	sobrevivência,	uma	cadela	capaz
de	resolver	conflitos,	com	toda	a	destreza	da	comunicação	necessária	para	sobreviver.
A	Vesla	nem	sempre	se	comportou	deste	modo.	Chegou	às	minhas	mãos	como	um	cão	vadio
e	 tínhamos	a	 intenção	de	 lhe	arranjar	uma	 família	que	a	adotasse,	pois	ela	não	se	adaptava
aos	 meus	 cães	 e	 tinha	 um	 comportamento	 muito	 agressivo	 e	 violento.	 Brigava,	 tinha	 rixas,
disputas,	 estava	 stressada,	 era	 impossível	 e	 eu	 não	 acreditava	 ter	 forças	 para	 começar	 a
treiná-la.	 Mas,	 ninguém	 a	 queria,	 consequentemente,	 com	 um	 suspiro	 de	 resignação,
decidimos	ficar	com	ela	e	começámos	a	tentar	integrá-la	na	“matilha”	de	cães	e	gente.
Foi	 um	 período	 de	 testes	 e	 de	 experiências.	 Estou	 convencida	 que	 era	 o	 cão	 com	 o	 pior
comportamento	 de	 todos	 os	 que	 já	 tinha	 tido	 em	 casa.	 Mas,	 gradualmente,	 as	 coisas
melhoraram.	Deixou	de	pendurar-se	nos	cortinados.	Começou	a	sair	com	os	outros	cães	sem
estar	 sempre	 a	 tentar	 mordê-los	 e	 conseguia,	 de	 vez	 em	 quando,	 ficar	 descontraída.	 De
repente,	um	dia,	para	surpresa	minha,	vi	que	começava	a	comunicar	com	os	outros	cães.	O
trabalho	 dos	 outros	 cães	 com	 ela	 começava	 a	 dar	 frutos!	 Quando	 reparei	 que	 começava	 a
recuperar	a	sua	linguagem	canina	tentei	aplicar	os	meus	métodos	tradicionais	de	treino.	Assim,
tudo	 o	 que	 fazia	 nas	 sucessivas	 aproximações	 ao	 comportamento	 desejado	 era	 premiado:
cada	 vez	 que	 deixava	 entrever	 um	 sinal	 de	 calma,	 era	 recompensada.	 Progressivamente	 a
Vesla	 melhorou.	 Reparei,	 para	 surpresa	 minha,	 que	 era	 possível	 reforçar	 a	 sua	 própria
linguagem	com	as	recompensas	e	as	coisas	começaram	a	acontecer	muito	rapidamente.	Tudo
com	 a	 minha	 ajuda	 e	 dos	 meus	 dois	 cães.	 Em	 pouco	 tempo	 transformou-se	 no	 milagre	 da
linguagem	 canina.	 Um	 ano	 mais	 tarde,	 já	 tinha	 desaparecido	 todo	 o	 seu	 comportamento
agressivo	e,	desde	então	até	hoje,	doze	anos	depois,	nunca	mais	teve	uma	altercação	com	os
outros	cães.	Pura	e	simplesmente	não	conseguem	fazê-la	perder	o	controlo.
A	história	de	Vesla	permitiu-me	compreender	que	é	possível	devolver	a	linguagem	perdida	aos
cães.	Desde	então	fiz	desta	 lição	o	meu	modo	de	vida	e	o	meu	principal	 trabalho.	Para	além
disso,	 enriqueceu	 a	 minha	 vida,	 pois	 agora	 entendo,	 compreendo	 melhor,	 o	 que	 sentem	 os
cães.	Sinto	 realmente	 que	 comunico	 com	eles,	 o	 que	me	dá	 boas	 vibrações,	 quase	 como	o
sonho	pueril	de	conseguir	falar	com	os	animais.
Obrigada	Vesla	por	tudo	aquilo	que	me	ensinaste.	Mudaste	a	minha	vida.
Introdução	de	Terry	Ryan
Aconteceu	 na	 VI	 Conferência	 Internacional,	 Os	 animais	 e	 nós,	 sobre	 a	 interação	 entre
pessoas-animais,	em	Montreal.	Uma	das	participantes	neste	seminário,	atenta	e	tranquila,	era
Turid	Rugaas,	 que	 estava	 sentada	 numa	das	 filas	 à	minha	 frente,	 durante	 as	 apresentações
sobre	o	comportamento	canino.	Turid	nunca	poderia	ser	uma	boa	jogadora	de	poker.	Apercebi-
me	 imediatamente	 que	 os	 seus	 ombros	 ficavam	 tensos	 ou	 descontraídos	 dependendo	 do
orador.	O	mais	engraçado	era	que	a	sua	linguagem	corporal	espelhava	com	precisão	a	minha
opinião	sobre	as	apresentações	dos	oradores.
Contactos!	 As	 conferências	 servem	 precisamente	 para	 isso,	 para	 fazer	 contactos!	 Tinha
vontade	 de	 conhecer	 esta	 estrangeira	 cujas	 opiniões	 sobre	 os	 temas	 de	 comportamento
pareciam	ser	muito	semelhantes	às	minhas	opiniões.	Ao	aperceber-me	de	que	o	inglês	não	era
a	sua	língua	materna,	e	questionando-me	se	a	entenderia,	passei	o	dia	a	ganhar	coragem	para
a	 interpelar	 e	 apresentar-me.	 Desde	 este	 encontro	 em	 1992,	 já	 estive	 com	 Turid	 inúmeras
vezes.	Convidei-a	como	oradora	para	os	seminários	e	apresentações	sobre	o	comportamento
e	 sessões	práticas	de	 treino	que	organizei	 nos	Estados	Unidos,	 assim	como	no	estrangeiro.
Em	 todos	 os	 lugares	 onde	 esteve	 cativou	 a	 atenção	 do	 público.	 Foi	muitopopular	 no	 Japão
com	os	seus	olhos	azuis	e	os	seus	coletes	vermelhos.
A	quinta	de	Turid,	Hagan	Hundeskole,	rodeada	por	uma	densa	floresta,	está	situada	no	topo	de
uma	 montanha	 de	 onde	 se	 podem	 ver	 os	 fiordes	 noruegueses.	 Vêm	 pessoas	 de	 todos	 os
cantos	do	país,	com	os	seus	cães,	para	que	ela	os	treine	nas	respostas	básicas	e	resolva	os
problemas	de	comportamento.	Já	lá	estive	a	observá-la	durante	as	suas	sessões	de	trabalho
com	 os	 cães	 e	 fiquei	 impressionada.	 Descobri	 o	 seu	 grande	 conhecimento	 sobre	 o
comportamento	canino.	A	seguinte	citação	demonstra	a	essência	da	teoria	dos	sinais	de	calma
de	Turid	Rugaas.
«Os	cães,	como	animais	gregários,	possuem	uma	linguagem	para	comunicarem	entre
si.	Em	geral,	a	linguagem	canina	consiste	numa	grande	variedade	de	sinais	utilizando
o	corpo,	a	zona	facial,	as	orelhas,	a	cauda,	os	sons,	os	movimentos	e	as	expressões.
Esta	habilidade	inata	dos	cães,	de	compreender	e	fazer	estes	sinais,	desaparece	ou
é	reforçada	através	das	suas	experiências	ao	longo	das	suas	vidas.	Se	estudamos	os
sinais	que	os	cães	fazem	entre	si	e	se	os	aplicarmos	a	nós	próprios,	aumentamos	a
nossa	 capacidade	 de	 comunicação	 com	 os	 nossos	 cães.	 Os	 sinais	 caninos	 mais
notórios	 são	 os	 sinais	 de	 calma,	 que	 utilizam	 para	 manter	 uma	 hierarquia	 social
estável	 e	 para	 resolver	 os	 conflitos	 na	 matilha.	 São	 competências	 que,	 quando
aplicadas	na	nossa	interação	com	os	nossos	cães,	são	extremamente	benéficas	para
a	 relação.	 Os	 cães	 possuem	 a	 capacidade	 de	 se	 acalmarem	 entre	 si	 quando
enfrentam	uma	situação	traumática	(uma	situação	de	medo	ou	stressante)	e	também
para	 se	 acalmarem	 uns	 aos	 outros.	 Consideremos,	 por	 exemplo,	 a	 forma	 como	 se
apresentam	uns	aos	outros.	Os	cães	que	demonstram	estar	 receosos	num	encontro
“social”	podem	comunicar	diversas	sensações	como,	por	exemplo,	“sei	que	aqui	tu	és
o	 líder	 e	 não	 vou	 dar-te	 problemas.”	Para	 além	disso,	 o	 líder	 também	pode	 querer
transmitir-lhe	que	não	tem	a	intenção	de	criar	problemas.	“Não	te	preocupes,	eu	sou	o
chefe	aqui	e	não	tenho	a	intenção	de	te	fazer	mal.”	Os	cães	que	não	utilizam	os	sinais
adequados	podem	ser	aqueles	que	provocam	problemas».
Pedi	 a	 Turid	 que	 o	 escrevesse,	 mas	 como	 muitos	 dos	 entusiastas	 dos	 cães,	 ela	 estava
demasiado	ocupada,	dedicando-se	ao	tema,	para	escrever	sobre	o	assunto.	Os	capítulos	que
seguidamente	apresentamos	representam	uma	tradução	direta	dos	conceitos,	em	norueguês,
de	 Turid.	 Os	 termos	 e	 as	 expressões	 foram	 mantidas,	 sem	 tentar	 alterar	 a	 sintaxe	 para
acomodar	 as	 regras	 gramaticais.	 Esta	 é	 uma	 decisão	 intencional	 da	 minha	 parte,	 com	 a
aprovação	 de	 Turid.	 Frequentemente,	 quando	 tentamos	 expressarmo-nos	 numa	 língua
diferente	 da	 nossa,	 constatamos	 que	 não	 existe	 uma	 palavra	 adequada	 para	 a	 ideia	 que
desejamos	transmitir.	Libertemo-nos	da	linguagem	estabelecida	e	das	barreiras	impostas	pelo
idioma.
Comportamentos	de	submissão,	atividades	de	movimento,	estereótipos,	instintos,	coloquemos
de	lado	os	nossos	rótulos	e	opiniões	e	falemos	sobre	o	que	observamos	e	consideramos	o	que
é	a	linguagem	corporal	dos	cães	por	um	instante,	tal	e	qual	como	nos	é	apresentada	por	Turid.
Nas	 minhas	 deambulações	 pela	 Europa,	 visitei	 a	 quinta	 de	 Turid,	 Hagan
Hundeskole,	 para	 observar	 o	 seu	 trabalho.	 Assisti	 com	 ela	 a	 seminários	 na
Europa,	 nos	 Estados	 Unidos	 e	 no	 Japão.	 Tanto	 nos	 cursos	 de	 treino	 a	 norte	 do
Círculo	 Polar	 Árctico	 como	 num	 simpósio	 nacional	 de	 Génova,	 em	 todas	 as
ocasiões	fui	agradavelmente	 impressionada	pela	sua	capacidade	de	transmitir	ao
seu	público	as	intenções	do	cão.	Ela	é	uma	das	primeiras	pessoas	na	Noruega	a
interessar-se	pelos	«street	mixes»,	 designação	pela	qual	 são	 conhecidos	no	 seu
país	os	cães	que	não	são	de	raça	pura,	os	mestiços.	Na	Escandinávia	predomina
um	 movimento	 que	 visa	 a	 erradicação	 do	 método	 de	 treino	 designado	 como
«frying	 pan»{1},	 recorrendo,	 uma	 vez	mais,	 à	 terminologia	 utilizada	 na	 Noruega,
defendendo	o	«contact	training»{2}.
Terry	Ryan
Capítulo	I:
Os	sinais	de	calma	A	apólice	de	seguro	de	vida
Nas	 obras	 sobre	 o	 comportamento	 dos	 lobos	 encontramos	 a	 sua	 linguagem,	 as	 suas
expressões	 corporais	 definidas	 como	 sinais	 para	 apaziguar	 os	 ânimos	 («cutoff»{3}),	 pois	 os
investigadores	 constatavam	 como	 estes	 eram	 utilizados	 para	mitigar	 ou	 impedir	 a	 agressão
dos	outros	lobos.	Estes	sinais	foram	descritos,	em	diversas	ocasiões,	ao	longo	dos	anos	e	são
bem	conhecidos.	As	mesmas	pessoas	que	observaram	e	descreveram	estes	sinais	parecem
considerar	que	os	cães	são	desprovidos	desta	capacidade	de	apaziguar	a	agressão	dos	seus
pares	 (Michael	Fox:	Behaviour	of	wolves,	dogs	and	 related	Canis)	 e	 estão	 verdadeiramente
enganados!	Os	cães	possuem	as	mesmas	capacidades	e	as	mesmas	 regras	sociais	que	os
lobos	 para	 evitar	 conflitos.	 É	 possível	 que	 seja	 difícil	 às	 pessoas	 aperceberem-se	 disto,
porque,	 nos	 lobos,	 o	 comportamento	 é	muito	mais	 intenso,	 dadas	 as	 características	 do	 seu
habitat	e	as	suas	condições	de	vida.	Os	cães,	que	são	lobos	domesticados,	são	mais	subtis	e
delicados	 nas	 suas	 expressões	 e	 utilizam,	 por	 assim	 dizer,	 «uma	 letra	 mais	 pequena».
Normalmente,	os	 cães	não	correm	o	mesmo	perigo	que	os	 lobos,	por	 isso	não	precisam	de
falar	entre	si	com	letra	maiúscula	(para	engrandecer	os	seus	gestos).
Quando	 comecei	 a	 observar	 e	 a	 utilizar	 estes	 sinais,	 designei-os	 como	 sinais	 de	 calma{4}.
«Cutoff»	Não	me	 parecia	 ser	 uma	 palavra	 adequada	 para	 os	 definir,	 pois	 são	 sinais	 que	 se
utilizam	sobretudo	como	prevenção,	mais	do	que	para	«cortar»	realmente	algo.	Os	sinais	são
utilizados	numa	fase	inicial	para	prevenir	que	algo	aconteça,	para	evitar	ameaças	das	pessoas
ou	de	outros	cães,	reduzir	o	nervosismo,	o	medo,	o	ruído	ou	os	acontecimentos	 indesejados.
Utilizam	 os	 sinais	 para	 se	 acalmarem	 a	 eles	 mesmos	 quando	 se	 sentem	 stressados	 ou
inseguros,	 para	 transmitir	 calma	 e	 fazer	 com	 que	 os	 outros	 cães	 envolvidos	 se	 sintam	mais
seguros	 e	 percebam	 os	 sinais	 de	 boas	 intenções	 que	 são	 dados.	 São	 utilizados	 para	 fazer
amizade	com	outros	cães	e	com	as	pessoas.
A	resolução	de	conflitos
Os	cães	que	têm	a	possibilidade	de	desenvolver	competências	de	comunicação	com	os	outros
cães	e	que	por	esta	 razão	não	 tenham	ainda	perdido	estes	sinais,	comunicarão	entre	eles	e
nunca	 terão	 conflitos	 ou	 disputas	 com	 outros	 cães.	 Os	 lobos	 e	 os	 cães	 tentam	 evitar
confrontos.	São	animais	que	 resolvem	disputas.	Somos	nós,	os	humanos,	que,	normalmente,
criamos	os	conflitos	com	os	nossos	cães.
Assim,	 deveriam	 observar	 os	 sinais	 de	 calma,	 quais	 são,	 como	 são	 utilizados	 e	 aprender	 a
entender	melhor	o	vosso	cão	para	que	possam	ser	um	melhor	 líder	para	ele,	e	 tudo	 isto	vos
ajudará	no	treino	e	no	adestramento.	Aposto	que	esta	nova	competência	enriquecerá	a	vossa
vida	tal	como	enriqueceu	a	minha.
Como	é	que	tudo	começou?
Eu	 conhecia	 os	 sinais	 para	 apaziguar	 os	 ânimos	e	 também	 tinha	 observado	 que	 os	 cães	 se
acalmavam,	se	 tranquilizavam	uns	aos	outros.	Não	sabia	que	era	possível	 fazer	 com	que	os
cães	 aprendessem	 de	 novo	 a	 linguagem	 perdida	 ou	 que	 era	 possível	 utilizar	 a	 mesma
linguagem	que	eles	para	conseguir	que	me	entendessem	melhor.
Quando	Vesla,	a	cadela	vadia	 (tenho	de	dizer	 já	que	o	seu	nome	significa	 “A	Pequenita”)	me
ensinou	que	era	possível	aprender	a	linguagem,	quis	saber	se	outras	pessoas	poderiam	ajudar
os	cães	a	melhorar	a	sua	linguagem	e	como	é	que	isto	funcionaria.
Com	 o	 meu	 colega,	 Ståle	 Ødegaard,	 comecei	 um	 projecto	 que	 levou	 ano	 e	 meio	 a	 ser
concluído.	Durante	este	período	de	tempo	treinámos	cães,	observámo-los,	tirámos	fotografias,
fizemos	 diapositivos,	 vídeos	 e	 guardámosuma	 grande	 quantidade	 de	 informação	 e	 de
conhecimentos	 (aprendemos	muito).	 Quando	 terminou	 este	 período	 sentia-me	 confiante	 que
entendia	como	funcionavam.	O	que	tinha	reunido	deu-me	forças	para	trabalhar	com	convicção
e	foi	então	que	iniciei	o	trabalho	de	reabilitação	dos	cães.
Dedico,	atualmente,	grande	parte	do	tempo	a	ensinar	outras	pessoas	a	observar,	a	entender	e
a	usar	os	sinais	de	calma	dos	cães.	Como	é	que	funciona?	Pensa	num	dia	normal	com	o	teu
cão.	Levantas-te,	de	manhã,	ainda	meio	a	dormir	e	dizes	ao	teu	cão	que	te	deixe	em	paz	com
um	tom	de	voz	um	pouco	 irritado.	O	cão	vira	a	cabeça	para	o	 lado	contrário	do	sítio	onde	te
encontras	e	lambe	o	nariz,	num	movimento	rápido.	Terminas	a	tua	higiene	pessoal	e	acabas	de
te	vestir	e	encaminhas-te	para	a	porta.	O	cão	está	feliz	por	ir	à	rua	e	está	agitado	e	excitado	à
tua	volta.	Dás-lhe	a	ordem:	Senta.	O	tom	de	voz	em	que	 lhe	dás	a	ordem	faz	com	que	o	teu
cão	boceje	antes	de	se	sentar.	Saem	para	a	 rua,	o	cão	puxa	um	pouco	a	 trela	e	 tu	dás	um
puxão	(corrigindo-o),	então	o	cão	volta-se	e	dá-te	as	costas	e	põe	o	nariz	no	chão.	No	parque
vais	 soltá-lo	 durante	 uns	 minutos	 e	 olhas	 para	 o	 relógio.	 Está	 na	 hora	 de	 irem	 embora.
Começas	a	chamá-lo.
Havia	 algum	 stress	 no	 teu	 tom	 de	 voz?	 O	 cão	 começa	 a	 andar	 devagar	 e	 a	 rodear-te	 até
chegar	onde	tu	estás.	Achas	que	o	está	a	fazer	para	te	irritar,	começas	a	repreendê-lo,	gritas
com	ele.	Ele	fareja	o	chão	e	em	vez	de	se	aproximar,	em	linha	reta,	em	direção	a	ti,	começa	a
rodear	ainda	mais,	não	olha	para	ti,	olha	para	outro	lado.	No	fim,	chega	onde	tu	estás	e	ralhas
com	ele	ou	pior	ainda	vais	abaná-lo.	Ele	volta	a	cabeça	e	olha	para	o	outro	lado,	lambendo	o
nariz	ou	bocejando.
Trata-se	apenas	da	descrição	do	que	acontece	de	manhã.	Poderíamos	continuar	a	descrever
o	que	acontece	durante	todo	o	dia	e	mostrar-te,	passo	a	passo,	sempre	que	o	teu	cão	tenta
acalmar-te	 com	 os	 seus	 sinais.	 Os	 sinais	 de	 calma	 aparecem	 assim	 que	 acontece	 alguma
coisa.
Os	cães	utilizam	os	sinais	no	momento	em	que	surge	uma	situação	que	é	preciso	apaziguar,
descontrair.	 Eles,	 se	 estão	 despertos,	 “falam”.	 Tal	 qual	 como	 tu	 e	 eu.	 Frequentemente,	 os
sinais	são	movimentos	 tão	 rápidos	que	precisamos	de	prestar	muita	atenção	para	os	captar.
Com	a	prática	aprendemos	a	ver	estes	flashes	rápidos.	Os	outros	cães	vêem-nos,	inclusive	os
outros	 animais,	 como	 os	 gatos.	 É	 preciso	 ser	 um	 pouco	 observador	 e	 saber	 quais	 são	 os
sinais	que	temos	de	procurar.
Quais	são	os	cães	que	utilizam	estes	sinais?
Os	 lobos	 usam-nos.	 Os	 cães	 herdaram-nos.	 Todas	 as	 raças	 de	 cães	 existentes	 no	mundo,
independentemente	do	 tamanho,	da	cor	ou	da	 forma,	possuem	estes	sinais	e	utilizam-nos.	É
realmente	uma	 linguagem	universal,	uma	 linguagem	maravilhosa	que	pressupõe	que	podemos
comunicar	com	todos	os	cães,	independentemente	do	sítio	onde	nos	encontremos.
Imaginem,	 apenas	 por	 um	 momento,	 que	 podiam	 viajar	 pelo	 mundo	 fora	 e	 onde	 quer	 que
fossem	podiam	falar,	comunicar,	na	vossa	própria	língua,	porque	todos	os	outros	a	falavam	(a
mesma	 língua	 universal).	 Seria	 extraordinário,	 maravilhoso.	 Estive	 nos	 EUA,	 no	 Japão,	 em
Inglaterra	e	noutros	países	e	pude	constatá-lo,	com	os	meus	próprios	olhos.	Os	cães	falam	a
mesma	linguagem	no	mundo	inteiro.
Algumas	raças	utilizam	mais	uns	sinais	do	que	outras,	devido	às	características	específicas	da
sua	aparência	externa.	Os	cães	de	pêlo	preto,	por	exemplo,	 têm	tendência	a	 lamber-se	com
maior	 frequência,	 utilizando	 mais	 esta	 expressão	 facial	 do	 que	 outras;	 muito	 embora	 sejam
capazes	 de	 compreender	 os	 sinais	 de	 calma	 utilizados	 pelos	 outros	 cães,	 assim	 como	 os
outros	os	irão	compreender	quando	os	utilizarem.
Os	 cães	 e	 os	 lobos	 têm	 um	 instinto	 muito	 forte	 para	 evitar	 conflitos,	 para	 comunicarem	 e
cooperarem.
O	 seu	 repertório	 inclui	 também	 sinais	 e	 expressões	 de	 ameaça	 e	 quando	 trabalhamos	 com
cães	temos	a	possibilidade	de	decidir	como	nos	comportamos,	que	técnica	ou	atitude	devemos
utilizar:	podemos	estar	calmos,	ser	amistosos,	tranquilizadores	ou	podemos	ser	ameaçadores.
A	atitude	que	escolhermos	terá	consequências	na	relação	com	o	cão.
Quando	utilizamos	ameaças	com	o	nosso	cão,	 intencionalmente	ou	não,	ele	tenta	tranquilizar-
nos.	 O	 cão,	 no	 seu	 instinto	 de	 evitar	 conflitos,	 tenta	 mitigar	 as	 ameaças.	 Eu	 prefiro	 que
pensemos	 desta	maneira:	 porque	 razão	 é	 que	 deveríamos	 ou	 teríamos	 de	 usar	 expressões
ameaçadoras	com	os	nossos	cães?
De	que	sinais	é	que	falamos?	A	que	sinais	é	que	nos	referimos?	Conhecemos	28	ou	29	sinais
de	 calma.	 Alguns	 também	 são	 utilizados	 para	 comunicar	 outras	 coisas,	 noutras	 situações.
Alguns	 são	 tão	 subtis	 que	 nos	 é	 difícil	 identificá-los.	 Mas	 com	 experiência	 e	 horas	 de
observação	conseguirás	detetá-los	e	serás	capaz,	em	qualquer	altura,	de	saber	como	é	que	o
teu	 cão	 se	 sente.	 Serás	 capaz	 de	 o	 compreender	melhor.	 E	 não	 é	 esse	 o	 objetivo?	 Saber
como	se	sentem	realmente	os	nossos	cães?
«A	dinâmica	social	na	matilha,	nos	 lobos,	é	 frequentemente	utilizada	como	modelo
para	 explicar	 a	 interação	 cão-cão	 e	 cão-homem.	 Vi	 amantes	 de	 cães	 (e	 também
alguns	entusiastas	dos	 lobos)	estarem	convencidos	da	necessidade	de	manter	um
elevado	estatuto	na	hierarquia	utilizando	 recursos	agressivos,	por	acreditarem	que
as	 suas	 únicas	 opções	 residem	 entre	 impor	 o	 seu	 domínio	 através	 da	 força	 ou
submeter-se	ao	animal.	O	problema	desta	abordagem	é	duplo.	Em	primeiro	lugar,	a
agressão	 facilmente	 tende	 a	 aumentar	 e,	 em	 segundo	 lugar,	 tanto	 para	 os	 lobos,
para	 os	 cães	 assim	 como	 para	 os	 humanos	 existem	 outras	 possibilidades	 de
escolha	diferentes	do	domínio	ou	da	submissão.
Aquilo	 que	 Turid	 Rugaas	 designa	 como	 sinais	 de	 calma,	 baseando-se	 nas
expressões	dos	cães,	apresenta	aos	treinadores	e	donos	de	cães	outra	opção	para
melhorar	 a	 relação	 entre	 os	 humanos	 e	 os	 seus	 cães	 e	 dos	 cães	 com	 os	 seus
pares».
Pat	Goodmann,	Wolf	Park
Capítulo	II
Os	sinais	de	calma:	identificá-los	e	utilizá-los?
Girar	a	cabeça
Um	sinal	de	calma	pode	ser	um	movimento	rápido,	por	exemplo,	girar	a	cabeça	para	um	lado	e
voltar	 à	 posição	 original	 ou	manter	 a	 cabeça	 na	 lateral	 durante	 algum	 tempo.	 Pode	 ser	 um
movimento	ligeiro	ou	um	movimento	claro	e	bem	definido	de	toda	a	cabeça	para	um	lado.
É	possível	que	o	 teu	cão	gire	a	cabeça	quando	outro	cão	se	aproxima	dele,	utiliza	este	sinal
para	lhe	indicar	que	se	acalme.	Eventualmente,	o	outro	cão	estava	a	aproximar-se	demasiado
depressa	ou	diretamente,	em	vez	de	se	aproximar	rodeando	(fazendo	uma	ligeira	curva).	Pode
girar	a	cabeça	se	parares	e	te	 inclinares	sobre	ele.	Talvez	fique	de	pé	 imóvel,	mas	girando	a
cabeça,	o	que	indica	o	seu	mal-estar	relativamente	a	essa	situação.
Podes	utilizar	este	movimento,	girar	a	tua	cabeça,	quando	um	cão	evidencia	desconforto	ou	se
mostra	assustado	quando	te	aproximas	dele.	Quando	um	cão	assustado	começa	a	ladrar	e	a
rosnar	para	ti,	gira	a	cabeça	para	olhar	para	o	outro	lado.
Por	exemplo:	quando	os	cães	se	encontram,	durante	um	segundo	ambos	olham	para	o	outro
lado	 e	 depois	 saúdam-se	mutuamente,	 de	 forma	 alegre.	 Ao	 aproximar-me	 da	minha	 cadela
Saga,	 para	 lhe	 tirar	 uma	 fotografia,	 como	 ela	 fica	 um	 pouco	 assustada	 com	 a	 máquina
fotográfica,	ela	olha	para	o	outro	lado	enquanto	eu	tiro	a	fotografia,	mas	volta	a	olhar	para	mim
assim	que	eu	afasto	a	máquina	da	cara.
Não	gires	a	cabeça,	mexe	apenas	os	olhos	para	um	lado,	olhando	pelo	canto	do	olho,	evitando
olhar	diretamente,	este	também	é	um	sinal	de	calma	semelhante	ao	girar	a	cabeça.	O	teu	cão
pode	usá-la	quando	se	aproxima	de	outro	cão,	quando	olhas	para	ele	diretamente	ou	quando
te	 aproximas	 do	 teu	 cão	 de	 frente.	 Podes	 utilizareste	 sinal	 de	 calma	 quando	 um	 cão	 se
aproxima	de	ti	e	por	alguma	razão	não	é	possível	girares	a	cabeça.
Por	exemplo:	a	Ulla	está	no	seu	território	comigo	e	um	cão	vem	visitar-nos.	É	um	cão	cheio	de
auto-confiança,	 seguro	 de	 si	 mesmo	 e	 amistoso,	 por	 isso	 encaminha-se	 diretamente	 em
direção	à	Ulla	 sem	girar	a	cabeça,	sem	a	 rodear	ou	dar	qualquer	outro	sinal	de	calma.	Ulla
fica	ali	de	pé,	quieta	e	abanando	a	cauda,	porque	os	olhos	do	outro	cão	se	movem	de	um	lado
para	o	outro	à	medida	que	se	vai	aproximando.	Ela	capta	a	mensagem:	é	um	cão	amistoso,
tranquilo.
Semicerrar	os	olhos	faz-nos	olhar	para	o	outro	indivíduo	com	um	olhar	mais	suave,	baixando	as
pálpebras	e	 sem	olhar	de	 forma	ameaçadora.	São	sinais	de	calma.	O	 teu	cão	pode	usá-los
quando	 olha	 para	 alguém	 diretamente	 e	 não	 quer	 ser	 ameaçador.	 Tu	 podes	 usá-los	 quando
fazes	 o	 exercício	 de	 «contacto	 visual»	 no	 treino,	 estabelecendo,	 assim,	 um	 contacto	 mais
suave	e	mais	amistoso.
Por	exemplo:	quando	te	sentas	no	chão	com	os	olhos	ao	mesmo	nível	que	os	do	teu	cão	pode
ser	ameaçador.	Quando	perceberes	que	ele	se	sente	 inseguro,	põe-te	de	pé	e	olha	para	ele
nessa	 posição;	 desta	 forma	 os	 teus	 olhos	 são	 mais	 «pequenos»	 e	 parecer-lhe-ão	 menos
ameaçadores.	Para	muitos	cães	é-lhes	difícil	olhar	para	o	nosso	rosto	diretamente	ao	mesmo
nível.
Girar,	voltar	as	costas
Girar	 ou	 voltar	 as	 costas	 a	 alguém	 é	 um	 sinal	 de	 calma	muito	 eficaz	 (oferecer	 ou	 voltar	 as
costas	 a	 alguém).	 Quando	 os	 cães	 brincam	 intensamente,	 com	 muita	 energia,	 há	 um	 que
começa	a	voltar-se	para	dar	as	costas	ou	a	parte	traseira	entre	as	brincadeiras	para	reduzir	a
intensidade	da	brincadeira.
O	 teu	 cão	 pode	 fazer	 isto	 quando	 outro	 cão	 lhe	 rosna	 ou	 mostra,	 de	 algum	 modo,	 um
comportamento	ameaçador,	como	aproximar-se	dele	correndo	muito	rapidamente	ou	quando	tu
usas	 um	 tom	 de	 voz	 zangado	 ou	 te	 aproximas	 dele	 e	 ele	 percebe	 que	 tu	 estás	 zangado.
Quando	 os	 cachorros	 ou	 os	 cães	 jovens	 incomodam	 os	 cães	 adultos,	 estes	 põem-se	 de
barriga	para	cima,	para	 tranquilizar,	acalmar,	os	cães	mais	 jovens.	Quando	dás	um	puxão	na
trela	é	possível	que	o	teu	cão	se	volte	e	se	separe	de	ti	(voltando-te,	desta	forma,	as	costas
ou	oferecendo-te	a	parte	traseira),	se	calhar	puxando	ainda	mais	a	trela.
Também	podes	utilizar	esta	 técnica	quando	um	cão	demonstra	nervosismo	ou	agressividade.
Se	tenta	saltar	para	ti,	volta-te	de	costas	e	quase	sempre	conseguirás,	deste	modo,	que	pare
com	esse	comportamento.
Por	exemplo,	perante	uma	cadela,	Pastor	Alemã,	muito	agressiva,	Julias,	um	Dog	do	Tibete,
em	 primeiro	 lugar	 girou	 a	 cabeça,	 depois	 ofereceu-lhe	 as	 costas	 e	 logo	 a	 seguir	 a	 parte
traseira.	Perante	isto,	a	Pastor	Alemã	acalmou-se.
Se	 o	 teu	 cão	 é	 excessivamente	 efusivo,	 quando	 te	 saúda,	 saltando	 e	 não	 te	 deixa	 em	 paz,
volta-te	e	dá-lhe	as	costas.	Se	te	aproximas	de	um	cão	que	não	conheces	e,	de	repente,	vês
que	ele	fica	nervoso,	volta-te	e	dá-lhe	as	costas.	Em	poucos	segundos,	o	cão	aproxima-se	de
ti	(por	iniciativa	própria).
Por	exemplo,	Gino,	um	Doberman	Pinscher,	mostrava-se	inseguro	com	as	crianças,	já	que,	em
variadíssimas	ocasiões,	o	 tinham	 incomodado.	O	dono	pediu	aos	miúdos	que	se	voltassem	e
lhe	 dessem	 as	 costas;	 o	 que	 aconteceu	 a	 seguir	 foi	 que	 o	 cão	 se	 aproximou	 deles	 e
começaram	a	brincar	todos	juntos.
Lamber	o	focinho
O	movimento	muito	 rápido	 da	 língua,	 tão	 rápido	 que	 em	 determinadas	 ocasiões	 é	 difícil	 de
perceber,	de	captar,	é	também	um	sinal	de	calma.
O	 teu	 cão	pode	 fazer	este	 sinal	 quando	se	aproxima	de	outro	 cão,	 quando	 te	 inclinas	 sobre
ele,	quando	o	seguras	pela	trela	curta	ou	pela	coleira	e	quando	te	agachas	para	o	agarrar	ou
para	ralhar	com	ele	quando	estás	zangado.
Na	realidade,	nós	não	o	podemos	usar.	É	um	dos	sinais	de	calma	que	eu	acho	que	é	difícil	de
usar	para	acalmar	um	cão.
Por	exemplo:	 inclino-me	sobre	Vesla	para	 lhe	 limpar	as	orelhas.	Ela	olha	para	o	outro	 lado	e
lambe-se.	O	veterinário	inclina-se	sobre	Ulla	para	a	colocar	sobre	a	mesa.	Ela	lambe-se.
Rocky	vê	outro	cão	ao	longe	aproximando-se	na	sua	direção.	Pára,	gira	a	cabeça	e	lambe-se
várias	vezes.
Imobilizar-se
O	 teu	 cão	 imobiliza-se,	 fica	 parado,	 de	 pé,	 sentando-se	 ou	 deitando-se	 e	 permanecendo
quieto,	sem	mexer	um	único	músculo,	quando	outro	cão,	muito	maior,	se	aproxima	demasiado
e	começa	a	farejá-lo	«de	cima-abaixo».
Por	exemplo:	Lorry,	 um	pequeno	Whippet,	 viu	 aproximar-se	um	Pastor	Alemão	muito	grande
que	se	pôs	a	farejá-lo	por	todo	o	lado	para	o	saudar.	O	cão	pequeno	ficou	tão	imóvel	quanto
lhe	 foi	 possível,	 completamente	 paralisado,	 congelando,	 até	 que	 o	 Pastor	 Alemão	 se	 foi
embora	 à	 procura	 de	 outra	 presa,	 outra	 «vítima».	 Foi	 então	 que	 o	 pequeno	 Lorry	 se	 pôde
mexer	novamente.
Um	homem	estava	a	 realizar	 o	 treino	de	obediência	 do	 seu	 cão,	 um	cachorrinho.	Zangou-se
quando	o	cachorro	desatou	a	correr,	abandonando	a	posição	de	deitado,	em	que	tinha	estado
durante	muito	 tempo,	 para	 ir	 saudar	 um	 cão,	 que	 se	 aproximava	 ao	 longe.	 O	 homem	 ficou
muito	zangado	e	começou	a	gritar	com	o	cachorro	com	um	tom	verdadeiramente	agressivo.	O
cão	parou	e	permaneceu	imóvel.	Não	se	atreveu	a	mexer-se.	O	dono	correu	até	ele	e	deu-lhe
o	conhecido	corretivo,	«por	ser	tão	teimoso».
Um	 treinador	 de	 alta	 competição	 adquiriu	 um	 novo	 cachorro	 para	 o	 apresentar	 em
campeonatos.	Como	a	sua	ambição	era	conseguir	que	ele	fosse	campeão	desde	a	mais	tenra
idade,	 começou	 a	 treiná-lo	 utilizando	 técnicas	 coercivas	 (aplicando	 o	 castigo,	 corrigindo-o
fisicamente).	Um	dia,	quando	chamou	o	cão,	este	ficou	parado	e	sentou-se,	recusando	mexer-
se.
Andar	devagar,	fazer	movimentos	lentos
Os	movimentos	que	se	 fazem	mais	 lentos,	em	determinadas	ocasiões	 tão	 lentos	que	parece
que	nem	se	mexem,	são	muito	eficazes	para	acalmar.
O	 teu	cão	pode	 fazê-lo	quando	avista	outro	cão.	Os	movimentos	 lentos	começam	assim	que
avista	o	outro	cão.	Podes	observá-los	quando	chamas	o	teu	cão	e	o	teu	tom	de	voz	demonstra
que	 estás	 um	 pouco	 irritado,	 zangado	 ou	 queres	 demonstrar	 que	 és	 tu	 quem	 manda.
Aparecem	quando	acontecem	muitas	 coisas	à	 sua	 volta	 e	 o	 cão	 tenta	 apaziguar	 a	 situação.
Quando	saltas,	te	mexes	e	gritas	muito	para	fazer	com	que	o	cão	corra	mais,	normalmente	o
que	consegues	é	o	efeito	contrário:	os	cães	trabalham	mais	devagar	para	te	acalmarem.
Podes	usá-lo	quando	um	cão	se	mostra	assustado,	tem	medo	de	ti,	ou	quando	queres	atraí-lo
ou	queres	aproximar-te	dele	para	 lhe	pôr	a	 trela.	Quanto	mais	devagar	 te	mexeres,	maiores
possibilidades	terás	de	conseguir	que	fique	quieto.
Por	exemplo:	Shiba,	 um	Border	Collie,	que	participava	em	provas	de	Agility,	 ficava	cada	vez
mais	 lento	 na	 pista.	 O	 dono	 corria,	 saltava	 para	 cima	 e	 para	 baixo,	 movendo	 os	 braços	 e
gritando	muito	para	animar	o	cão.	No	fim,	Shiba	só	se	mexia	na	pista,	porque	estava	a	tentar
tranquilizar	o	dono.
O	dono	de	Candy	estava	a	chamá-la	para	acabar	a	volta	no	parque	e	regressar	a	casa.	Havia
algumas	pessoas	e	outros	cães	entre	a	Candy	 e	o	dono,	por	 isso	a	 cadela	andava	devagar
entre	as	pessoas	e	os	cães	para	chegar	até	ao	dono.
Dizes	Deita	com	um	tom	firme,	seco:	o	teu	cão	deita-se,	mas	muito	lentamente,	porque	tem	de
acalmar	o	tom	zangado	que	estás	a	demonstrar.
Posição	de	brincar
Deitar-se	 com	 as	 patas	 dianteiras	 na	 posição	 de	 «reverência»	 pode	 ser	 um	 convite	 para
brincar	se	o	cão	mexe	as	patas	dianteiras	de	um	lado	para	o	outro	de	forma	brincalhona.	Se
permanece	 quieto,	 inclinado,	 é	mais	 provável	 que	 se	 trate	 de	 um	 sinal	 de	 calma.	O	 teu	 cão
pode	 recorrer	 a	 este	 sinal	 quando	 quer	 mostrar-se	 amistoso	 com	 outro	 cão	 que	 está
desconfiado	 ou	 nervoso.	 Pode	 usar	 esta	 posturaquando	 se	 encontra	 com	 outros	 animais
(cavalos	ou	vacas),	com	os	quais	não	se	sente	muito	seguro.
Podes	utilizá-lo	esticando	os	braços,	como	quando	bocejas,	mas	esticando-os	para	baixo.	Por
exemplo:	a	Vesla	queria	fazer	com	que	um	São	Bernardo	se	sentisse	seguro	com	ela,	por	isso,
depois	de	se	aproximar	dele	 lentamente,	girando	a	cabeça	de	um	lado	para	o	outro,	parou	a
uma	 determinada	 distância	 e	 pôs-se	 em	 posição	 de	 brincar.	 Permaneceu	 nessa	 posição
durante	 uns	 segundos	 até	 que	 Buster	 se	 sentisse	 mais	 seguro	 com	 ela	 e	 fez	 o	 mesmo
movimento	para	responder	ao	seu	sinal.
A	 pequena	 Pip,	 uma	 Chihuahua,	 assustava-se	 com	 os	 cães	 grandes.	 Quando	 Saga	 se
aproximou	dela,	Pip	deitou-se	no	chão,	na	posição	de	brincar,	para	ter	a	certeza	que	a	Saga
seria	educada,	delicada	e	não	 lhe	 faria	mal.	A	Saga	 respondeu	aos	 seus	 sinais	movendo-se
lentamente,	rodeando	e	olhando	para	o	outro	lado.
Prince,	 um	Rottweiler,	 pôs-se	em	posição	de	brincar	 quando	 se	encontrou	 com	uma	Golden
Retriever	ligeiramente	assustada.	Permaneceu	quieto,	no	mesmo	sítio,	durante	vários	minutos,
imóvel,	para	fazer	com	que	a	cadela	se	sentisse	mais	tranquila	com	a	sua	presença.
Sentar-se
Voltar	as	costas	enquanto	se	senta,	ou	sentar-se	quando	se	aproxima,	são	sinais	de	calma.
O	teu	cão	pode	utilizá-lo	quando	se	sente	inseguro	perante	a	presença	de	outro	cão	ou	quando
lhe	gritas	para	o	chamar.
Podes	usá-lo.	Senta-te	quando	o	teu	cão	está	stressado	e	não	pode	descontrair-se.	Pede	aos
teus	 convidados	 para	 se	 sentarem	 se	 tens	 um	 cão	 que	 se	mostra	 inseguro	 na	 presença	 de
estranhos.
Por	 exemplo:	 Roscoe,	 um	 Pastor	 Alemão,	 sentou-se	 voltando-se	 de	 costas	 para	 o	 dono
quando	este	 lhe	deu	a	ordem	Vem	aqui.	A	ordem	 tinha	sido	dada	com	um	 tom	de	voz	muito
forte	e	isto,	evidentemente,	fez	com	que	o	cão	se	sentisse	incomodado.	Pedi	ao	dono	que	lhe
falasse	num	tom	normal,	o	tom	de	voz	habitual,	e	o	cão	respondeu	à	chamada.
No	 outro	 dia,	 a	 Saga	 estava	 comigo	 na	 rua	 quando,	 de	 repente,	 dois	 cães	 que	 não
conhecíamos	se	aproximaram	dela	correndo	e	ladrando	ferozmente.	Ela	domina	melhor	estas
situações	com	as	expressões	faciais,	mas	estava	a	anoitecer,	por	isso	tinha	de	ser	mais	clara
com	 os	 seus	 sinais.	 Sentou-se	 enquanto	 os	 outros	 se	 aproximavam	 a	 correr.	 Reduziram
imediatamente	 a	 velocidade,	 pararam	 de	 ladrar	 e	 aproximaram-se	 dela	 a	 farejar	 o	 chão.	 A
Saga	 nunca	 tem	 problemas	 com	 os	 outros	 cães.	 Está	 muito	 segura	 de	 si	 e	 sabe	 como
controlar	estas	situações.
Deitar-se
Deitar-se	de	costas,	com	a	barriga	para	cima,	demonstra	submissão.	Deitar-se	com	a	barriga
no	chão	é	um	sinal	de	calma	de	grande	força	que	é	normalmente	utilizado	pelos	cães	que	têm
uma	 posição	 hierárquica	 muito	 elevada	 como	 a	 Ulla,	 um	 dos	 meus	 cães,	 que	 é	 líder	 da
matilha.
O	 teu	 cão	 pode	 fazer	 este	 sinal	 de	 calma	 quando	 é	 cachorro	 e	 quando	 a	 brincadeira	 ficou
excessivamente	 brusca	 ou	 quando	 é	 adulto	 e	 os	 outros	 cachorros	 parecem	 ter	 medo	 dele.
Também	 pode	 mostrá-lo	 quando	 se	 cansa	 durante	 a	 brincadeira	 e	 quer	 que	 os	 outros	 se
acalmem.
Podes	usá-lo	quando	o	teu	cão	está	stressado	e	te	está	a	 importunar:	deita-te	no	sofá.	Se	o
cão	 tem	medo	 de	 ti	 e	 não	 quer	 aproximar-se	 de	 ti,	 deita-te	 no	 chão.	Na	maioria	 dos	 casos
aproximar-se-á	imediatamente.
Por	 exemplo:	 um	 grupo	 de	 cães	 estava	 a	 brincar	 na	 minha	 pista	 de	 treino	 e	 alguns	 deles
estavam	a	ser	excessivamente	bruscos.	Ulla	 foi	até	metade	da	pista,	deitou-se	e	olhou	como
se	 fosse	uma	esfinge	para	 os	 outros.	Numa	questão	 de	minutos,	 os	 outros	 acalmaram-se	e
também	se	deitaram	à	sua	volta.
Um	cão	um	pouco	assustado	não	se	atrevia	a	aproximar-se	da	Saga,	que	se	deitou	quando	viu
que	 o	 outro	 tinha	medo.	 Em	 pouco	 tempo,	 o	 outro	 cão	 atreveu-se	 a	 aproximar-se.	 Um	 cão
adulto	estava	com	cinco	cachorros	que	o	acossavam	e	o	incomodavam,	pensando	certamente
que	era	um	brinquedo	e	que	podiam	rodopiar	à	sua	volta.	O	cão	mostrava-se	muito	paciente
com	os	cachorros,	mas	quando	começaram	verdadeiramente	a	importuná-lo,	o	cão	deitou-se	e
os	cachorrinhos	deixaram-no	tranquilo	e	 foram	a	correr	uns	atrás	dos	outros.	Quando	se	pôs
de	pé,	os	cachorrinhos	lançaram-se	novamente	sobre	ele.
O	bocejo
O	 bocejo	 é,	 provavelmente,	 o	 mais	 intrigante	 dos	 sinais	 de	 calma	 e	 poderemos	 ter	 muitas
vantagens	em	usá-lo.
O	 teu	 cão	 pode	 bocejar	 quando	 entra	 na	 clínica	 veterinária,	 quando	 há	 lutas	 ou	 disputas	 na
família,	 quando	 o	 puxas	 com	 força	 ou	 com	 a	 trela	 muito	 curta,	 quando	 uma	 criança	 se
aproxima	 para	 fazer-lhe	 festas	 e	 em	muitas	 outras	 situações.	 Podes	 utilizá-lo	 caso	 se	 sinta
inseguro,	receoso,	stressado,	preocupado	ou	quando	que-res	que	se	acalme	um	pouco.	Outro
exemplo:	a	Ulla	 fica	 ligeiramente	excitada	quando	alguém	está	a	correr	ou	a	brincar.	Quando
brinco	 com	 ela	 a	 brincadeira	 pode	 terminar	 com	 a	 Ulla	 a	 morder-me	 as	 calças.	 Quando
começa	a	ficar	excitada,	fico	parada,	bocejo	um	pouco	e	ela	fica	mais	calma.
O	meu	colega	Ståle	veio	a	minha	casa	quando	estava	a	atender	um	cliente	que	tinha	um	cão
com	 medo.	 Ståle	 chamou-me,	 à	 porta,	 apercebeu-se	 imediatamente	 da	 situação,	 parou	 e
bocejou	 várias	 vezes.	 O	 cão	 olhou	 para	 ele	 com	 interesse,	 virou-se	 logo	 para	 mim	 e	 eu
também	bocejei.	O	cão,	numa	questão	de	minutos,	sentia-se	bastante	mais	seguro	connosco	e
aproximou-se.
Uma	 noite,	 a	Candy	 estava	 inquieta	 e	 stressada	 e	 o	 dono	 sentou-se,	 bocejando.	 A	Candy
finalmente	deixou	de	estar	agitada	e	ansiosa	e	deitou-se	descontraída	aos	pés	do	dono.
A	dona	adorava	a	pequena	Sheila.	Numa	determinada	ocasião,	quando	eu	estava	com	elas,	a
dona	agarrou	na	cadelita	e	pô-la	ao	colo	e	abraçou-a.
A	cadelita	sentiu-se	incomodada	e	apertada	naquela	situação,	por	isso	bocejou	e	bocejou.
Farejar
O	farejar	pode	ser	um	movimento	 rápido	para	baixo,	para	o	chão,	e	para	cima	outra	vez,	ou
pode	ser	persistente,	mantendo	o	focinho	no	chão	durante	algum	tempo	até	que	a	situação	de
conflito	 tenha	passado.	Como	também	farejam	para	perceber	os	odores,	devemos	analisar	a
situação,	no	conjunto,	para	a	poder	interpretar	de	forma	correta.
O	 teu	 cão	 pode	 usar	 este	 sinal	 de	 calma	 quando	 outro	 cão	 se	 aproxima,	 quando	 alguém
caminha	na	sua	direção,	em	linha	reta,	ou	quando	acontece	algo	repentinamente,	por	exemplo,
se	dois	cães,	de	forma	inesperada,	estão	muito	próximos	um	do	outro.	Quando	andas	com	o
teu	 cão	 por	 um	 passeio	 e	 alguém	 se	 aproxima	 no	 sentido	 contrário,	 diretamente	 na	 vossa
direção,	por	exemplo,	com	um	chapéu	muito	aparatoso	ou	um	objeto	que	chama	a	atenção,	o
teu	cão	pode	começar	a	farejar.
Quando	chamas	o	teu	cão	e	estás	um	pouco	zangado,	evidenciaste	o	teu	domínio	através	da
voz	 ou	 adotas	 uma	 atitude	 frontal	 em	 relação	 ao	 teu	 cão,	 então	 é	muito	 provável	 que	 este
comece	 a	 farejar,	 em	 diversas	 ocasiões,	 enquanto	 se	 dirige	 para	 ti.	 Realmente	 nós	 não
podemos	 usar	 este	 sinal.	 Pessoalmente	 é-me	 difícil	 utilizar	 o	 farejar.	 Mas	 podes	 fazer	 algo
semelhante:	sentas-te,	tocas	na	relva	ou	fazes	algo	parecido.
Tenho	 muitos	 e	 maravilhosos	 casos	 de	 farejar;	 parece	 que	 os	 cães	 utilizam	 este	 sinal	 com
muita	frequência	quando	comunicam	entre	si.
Fui	 visitada	 por	 um	 cliente	 com	 um	 cão	 muito	 agressivo.	 Não	 se	 atrevia	 a	 deixá-lo	 sair	 do
carro,	pois	temia	que	pudesse	atacar	um	dos	cães	que	estava	na	pista	de	treino.	Levei	a	Vesla
comigo	e	deixei-a	à	solta	no	sítio	onde	o	carro	estava	estacionado.	Pedi	ao	meu	cliente	para
que	tirasse	a	trela	ao	seu	cão	e	que	abrisse	a	porta	do	carro,	para	que	deixasse	aquele	“cão
agressivo”	sair	do	carro.	E	ali	estava	«o	monstro»:	um	pequeno	cão	cruzado,	dourado,	dentes
arreganhados,espumando	da	boca	e	a	 ladrar	 ininterruptamente.	Realmente	tinha	a	aparência
de	 uma	 fera.	 A	Vesla	 estava	 ali	 perto	 quando	 o	King	 saltou	 para	 fora	 do	 carro,	 como	 um
foguete,	 ela,	 simplesmente,	 colocou	o	 focinho	no	 chão	e	manteve-se	nessa	posição.	O	King
estava	a	 rosnar	e	a	comportar-se	como	um	selvagem	e	a	Vesla	continuava	a	 farejar	o	chão,
mas,	de	repente,	mudou	de	ideias	e	começou	a	andar	na	sua	direção,	focinho	com	focinho	e	o
King	 começou	 a	 esvaziar-se	 como	um	balão.	Dez	minutos	 depois,	 o	 cão	 corria	 feliz	 com	os
outros	sete	cães	que	estavam	na	pista	de	treino.
Quando	 no	 outro	 dia	 saí	 para	 passear	 pela	 aldeia	 com	 a	 Ulla,	 um	 homem,	 com	 um	 cão
pequeno,	pela	trela,	a	 ladrar,	aproximou-se	de	nós.	A	Ulla	aproximou-se	do	lancil	do	passeio,
pôs	o	 focinho	no	chão	e	o	outro	cão	continuou	o	seu	caminho,	 feliz,	a	correr	ao	 lado	do	seu
dono.
A	Sara,	uma	Doberman,	estava	presa	a	uma	árvore	enquanto	o	dono	fazia	umas	compras.	Um
homem	aproximou-se	dela;	a	cadela	voltou-se	imediatamente,	voltando	as	costas	e	começou	a
farejar	o	chão.	Ela	sentiu-se	incomodada	com	a	presença	do	estranho,	que	se	aproximou	dela
naquela	 situação	 (estando	 ela	 presa)	 e	 tentava	 fazê-lo	 compreender.	 O	 senhor	 não	 se
apercebia	 da	 situação,	 não	 entendia	 os	 sinais	 de	 calma,	 então	 tive	 de	 intervir,	 fi-lo	 parar	 e
expliquei-lhe	a	situação	(por	ela).
Rodear	ou	andar	como	se	estivesse	a	fazer	um	arco,	a	determinada	distância	de	outro	cão	ou
de	uma	pessoa,	é	um	sinal	de	calma.	Normalmente,	os	cães	não	se	aproximam	uns	dos	outros
em	linha	reta.	Podem	fazê-lo	quando	previamente	tenham	feito	algum	sinal	de	calma,	mas	não
é	 «boa	 educação»	 comportarem-se	 dessa	 forma,	 por	 isso	 é	 algo	 evitado	 pela	 maioria	 dos
cães.
O	 teu	cão	pode	 fazê-lo	quando	estão	a	andar	pelo	passeio	e	se	cruzam	com	alguém	que	se
aproxima.	 Nas	 ocasiões	 em	 que	 os	 cães	 se	 deparam	 com	 alguma	 coisa	 no	 seu	 caminho	 e
precisam	de	passar	por	ali,	recorrem	a	este	sinal.	Quando	passeias	com	o	teu	cão	ao	teu	lado
e	alguém	se	aproxima	no	sentido	oposto	do	teu	lado,	então	o	teu	cão	pode	tentar	mudar	para
o	outro	lado	(passar	da	tua	esquerda	para	a	tua	direita).	Se	o	outro	cão	se	mostra	apreensivo,
receoso	 ou	 agressivo,	 o	 teu	 cão	 tentará	 aproximar-se,	 rodeando	mais	 afastado,	 para	 tentar
acalmá-lo.
Podes	aplicá-lo	quando	te	aproximas	de	um	cão	que	está	receoso	ou	que	se	mostra	agressivo.
Também	quando	te	aproximas	de	um	cão	que	está	a	fazer	sinais	de	calma,	como,	por	exemplo
a	farejar,	lamber-se,	a	girar	a	cabeça	ou	qualquer	outro	sinal.	Em	determinadas	ocasiões	será
necessário	fazer	uma	volta	maior,	noutras	ocasiões	será	suficiente	que	mudes	ligeiramente	de
direção,	caminhando	na	diagonal	para	parares	à	altura	das	costas	do	cão.	Observa	o	cão	com
que	 te	 vais	 encontrar	 e	 rodeia	 tanto	 quanto	 seja	 necessário	 para	 fazer	 com	 que	 se	 sinta
confortável	com	a	tua	aproximação.
Por	 exemplo:	 a	Candy	 encontrou-se	 com	 um	 Terra	 Nova	 que	 não	 estava	 familiarizado	 com
outros	 cães	 e	mostrava-se	 receoso,	 assustado	 com	 a	 presença	 da	minha	 cadela.	 A	Candy
pôs-se	imediatamente	a	andar	à	volta	do	cachorro	fazendo	uma	grande	volta,	com	o	focinho	no
chão.
O	Max	 encontrou-se	 com	outro	 cão	durante	o	 seu	passeio,	 caminhou	 fazendo	um	arco	para
ultrapassar	o	cão	e	continuar	o	seu	caminho.
A	Connie,	uma	Pointer	German	Wirehair,	estava	com	os	seus	donos,	em	minha	casa,	e	como
me	 tinham	 dito	 que	 a	 cadela	 tinha	 medo	 das	 pessoas,	 aproximei-me	 dela,	 atravessando	 a
divisão,	 observando-a.	Quando	 se	 lambeu	 e	 olhou	 para	 o	 outro	 lado,	 voltando	 a	 cabeça,	 eu
mudei	de	direção	e	olhei	para	o	outro	lado	(onde	ela	não	estava)	e	ultrapassei-a,	parei	ao	lado
das	suas	costas,	apenas	a	um	passo	de	distância,	mas	ligeiramente	voltada.	Ela	aproximou-se
diretamente	na	minha	direção	e	tocou-me.
Interpor-se
Interpor-se	 fisicamente	entre	 os	 cães	ou	entre	as	pessoas	é	um	sinal	 de	 calma.	Quando	os
cães	 ou	 as	 pessoas,	 ou	 um	cão	e	 uma	pessoa,	 estão	 demasiado	próximos	e	 a	 situação	 se
transforma	 numa	 situação	 de	 tensão,	 outros	 cães	 interpõem-se,	 para	 separá-los	 e	 evitar
qualquer	tipo	de	conflito.
O	 teu	 cão	 pode	 comportar-se	 deste	modo	 quando	 pegas	 numa	 criança	 ao	 colo	 e	 lhe	 fazes
caretas	e	brincas	ou	se	começas	a	dançar	com	alguém,	por	exemplo	uma	valsa	ou	quando	te
sentas	 com	 o	 teu	 companheiro	 no	 sofá	 para	 se	 abraçarem.	 Quando	 os	 cães	 começam	 a
sentir-se	 tensos	 por	 estarem	 muito	 próximos,	 podem	 utilizar	 este	 sinal	 de	 calma.	 Também
podes	utilizá-lo	quando	os	cães	estão	 tensos,	demonstram	 insegurança	ou	estão	assustados
perante	uma	determinada	situação	ou	se	as	crianças	os	estão	a	incomodar	até	ao	ponto	de	os
fazer	sentir	verdadeiramente	incomodados.
Um	exemplo:	durante	umas	aulas	para	cachorros,	um	dos	cachorros	maior	começou	a	brincar
de	forma	excessiva,	de	forma	brusca,	com	um	dos	cachorros	mais	pequenos.	Mesmo	antes	de
eu	poder	 intervir,	a	Saga	 interpôs-se	entre	eles	para	cuidar	do	mais	pequeno,	não	permitindo
que	os	outros	cachorros	se	aproximassem.
Dois	cães	adultos	estavam	a	brincar	de	forma	brusca,	como	selvagens,	e	um	cachorro	que	se
encontrava	na	mesma	divisão	da	casa	estava	nervoso,	 inseguro,	com	 todo	aquele	 reboliço	e
foi	esconder-se	debaixo	da	cadeira	do	dono.	Cada	vez	que	os	cães	adultos	se	aproximavam
dele,	o	cachorro	gania.	Dennis,	um	Springer	Spaniel	adulto,	entrou	na	divisão	e	foi	logo	intervir
e	proteger	o	cachorrinho.	Ficou	ali	ao	seu	 lado,	 interpondo-se	com	o	corpo,	não	permitindo	a
aproximação	dos	outros.
Estava	 a	 passear	 com	 a	 Saga	 quando	 nos	 encontrámos	 com	 um	 Caniche	 Enano.
Repentinamente,	 um	Samoiedo	 aproximou-se	 a	 rosnar	 e	 a	 ladrar,	 para	 atacar	 o	 Caniche.	 A
Saga	foi	logo	pôr-se	entre	eles	e	impedir,	deste	modo,	o	ataque.
Abanar	a	cauda
O	 abanar	 a	 cauda	 nem	 sempre	 é	 uma	 demonstração	 de	 alegria	 e	 de	 felicidade.	 Temos	 de
observar	o	cão	no	seu	conjunto.	Se	o	cão	se	aproxima	arrastando-se,	submisso,	queixoso	e	a
urinar-se,	 o	 movimento	 da	 cauda	 é	 como	 uma	 “bandeira	 branca”	 (de	 rendição),	 a	 tentar
conseguir	que	te	acalmes.	O	teu	cão	poderá	fazer	este	movimento	quando	perdes	a	paciência.
Tentará	acalmar-te	e	tranquilizar-te.
Eventualmente,	 não	 serás	 capaz	de	utilizá-lo.	Devo	dizer	 que	eu	nunca	 consegui	 aplicá-lo	 de
forma	eficaz.
Por	exemplo:	o	dono	do	Lobo	veio	a	minha	casa	com	um	ar	preocupado.	O	Lobo	 tinha	 roído
qualquer	 coisa	 no	 dia	 anterior	 e	 ele	 temia	 que	 ele	 voltasse	 a	 fazer	 o	 mesmo.	 A	 cara
carrancuda	 do	 dono	 fazia	 com	 que	 o	 Lobo	 se	 arrastasse,	 gatinhando	 e	 a	 abanar	 a	 cauda
rapidamente,	com	a	esperança	que	o	dono	se	acalmasse	e	ficasse	menos	zangado.
A	minha	 filha	gritava	com	as	minhas	netas	gémeas.	Quando	chegou	ao	 jardim	onde	estava	a
Saga,	 a	 cadela	 aproximou-se	 delas	 abanando	 violentamente	 a	 cauda	 e	 «sorrindo»,	 com	 um
sorriso	tão	largo	quanto	lhe	era	possível,	para	tentar	tranquilizar	a	minha	filha.
Cora,	uma	Pastor	Alemã,	saudava	sempre	o	seu	dono	arrastando-se,	urinando	e	abanando	a
cauda.	 O	 dono,	 em	 variadíssimas	 ocasiões,	 tinha	 utilizado	 como	 saudação	 agarrá-la	 pelo
pescoço,	gritando-lhe	e	puxando-lhe	as	orelhas.	A	Cora	estava	assustada,	receosa,	tinha	muito
medo	 do	 dono,	 por	 isso	 cada	 vez	 que	 o	 via	 saudava-o	 mostrando	 o	 seu	 medo	 e	 tentando
desesperadamente	acalmá-lo.
Mas	há	mais
Os	sinais	de	calma,	que	foram	anteriormente	enumerados,	são	os	mais	utilizados	pelos	cães.
Mas,	 para	 além	 destes,	 os	 cães	 tranquilizam	 os	 outros:	 brincam	 como	 cachorros
(cachorreando),	«fazendo-se	mais	pequenos»,	 lambendo	a	boca	do	outro,	fechando	os	olhos,
pestanejando,	estalando	os	beiços	ou	levantando	as	patas.
Por	exemplo:	 tinha	à	minha	 frente	um	Rottweiler	muito	agressivo	que,	pelo	 som	profundodo
seu	rosnar,	parecia	estar	zangado	e	não	desejava	que	o	incomodassem	nem	que	interferissem
com	a	sua	privacidade.	O	rosnar	era	mais	profundo	se	eu	tentava	mexer	a	cabeça	ou	alguma
extremidade,	pelo	que	permaneci	imóvel.	É	claro	que	eu	não	tinha	a	intenção	de	retroceder	e,
nessa	 situação,	 o	 que	 me	 ocorreu	 que	 podia	 fazer	 era	 pestanejar.	 Após	 alguns	 minutos	 a
pestanejar,	ele	parou	de	rosnar	e,	repentinamente,	a	cauda	começou	a	mover-se	ligeiramente.
Por	isso,	demorou	muito	tempo	até	que	eu	ficasse	sua	amiga.
Um	pequeno	Basenji	assustado	estava	a	 rosnar	para	um	Pastor	Alemão	que	se	mantinha	de
pé	 imóvel	 movendo	 apenas	 uma	 das	 suas	 patas	 para	 a	 frente,	 para	 cima	 e	 para	 baixo,
lambendo	o	nariz	e	pestanejando.	E	assim,	deste	modo,	conseguiu	tranquilizar	o	Basenji.
Estes	 são	 os	 sinais	 de	 calma.	 Os	 cães	 têm,	 para	 além	 disso,	 outros;	 alguns	 são
ameaçadores,	como	olhar	fixamente,	manter-se	erguido,	rosnar,	ladrar,	atacar	e	arreganhar	os
dentes.	Outros	só	demonstram	a	excitação	do	cão,	como	o	pêlo	eriçado	e	a	cauda	levantada.
Estes	sinais	são	frequentemente	mal	interpretados,	por	serem	fáceis	de	observar	e	serem	os
primeiros	 que	 identificamos.	 Mostram-nos	 a	 excitabilidade	 do	 cão	 numa	 situação	 concreta,
pontual,	mas	não	devemos	prestar-lhes	demasiada	atenção,	mas	procurar	outros	sinais,	quer
sejam	de	ameaça	ou	de	calma	(tranquilizadores)	que	nos	darão	mais	informação.
Capacidade	de	observar
É	 importante	ser	capaz	de	detetar	estes	sinais	de	calma	nos	cães,	para	que	sejas	capaz	de
ajudar	o	teu	cão,	usando-os	e	identificando-os	no	momento	em	que	os	utilizas.
Se,	 anteriormente,	 não	 te	 tinhas	 apercebido	 da	 sua	 existência,	 podes	 desenvolver	 as
capacidades	 necessárias	 para	 os	 detetares,	 praticando,	 «aprendendo	 por	 ti	 próprio»,	 como
indicamos	a	seguir.
Em	casa
Simplesmente	 senta-te	e	dedica	algum	 tempo	a	observar	 o	 teu	 cão.	Num	ambiente	 tranquilo
não	 terás	 demasiados	 sinais	 de	 calma,	 mas,	 de	 qualquer	 modo,	 é	 uma	 boa	 maneira	 de
começar.	Alguém	a	movimentar-se	no	exterior	da	casa,	a	chegada	de	visitas,	de	certeza	que
acontecerá	alguma	coisa	nessas	alturas,	então	poderás	observar	como	é	que	o	teu	cão	reage.
Com	outros	cães
Aproveita	todas	as	situações	em	que	o	teu	cão	se	encontra	com	outros	cães.	Por	exemplo,	no
parque,	nalgum	lugar	em	que	se	encontrem	soltos,	sem	trela,	então	poderás	concentrar-te	no
que	ele	faz.	Sempre	que	o	teu	cão	se	encontra	com	outro	observa-o	desde	o	preciso	instante
em	que	o	avista	à	distância	e	tenta	identificar	os	sinais	de	calma	que	ele	utiliza.
Um	a	um
Uma	 terceira	 possibilidade	 para	 observá-lo	 é	 concentrar-se	 num	 sinal	 em	 concreto,	 um	 que
queiras	aprender	a	 identificar.	Talvez	 já	 tenhas	observado	alguns	sinais	que	o	 teu	cão	utiliza.
Talvez	 te	 lembres	de	 já	 o	 ter	 visto	a	 lamber-se	ou	a	bocejar	 em	diferentes	 situações.	Então
define	alguns	objetivos	para	as	semanas	seguintes:	«Sempre	que	vir	um	cão	vou	tentar	prestar
atenção	para	ver	quando	é	que	se	lambe».	Segue-o	com	os	olhos,	para	observar	se	se	lambe
em	 alguma	 ocasião.	 Ao	 princípio	 tens	 de	 te	 concentrar,	 mas	 com	 o	 passar	 do	 tempo	 será
quase	automático.
Quando	 te	 sentires	 seguro	 e	 considerares	 que	 és	 capaz	 de	 detetar	 sempre	 que	 o	 cão	 se
lambe	e	que	és	capaz	de	 interpretar	porque	 razão	utiliza	este	sinal,	então	acrescenta	um	ou
dois	sinais	novos	para	observares.	Capta	o	voltar	da	cabeça,	pois	é	um	dos	sinais	que	utilizam
com	maior	frequência	e	talvez	o	dar	a	volta	ou	o	farejar.
Em	breve	 já	entenderás,	 lerás,	 todos	os	cães	que	encontres.	Passará	a	ser	um	 interessante
passatempo	que	te	seduzirá	cada	vez	mais	quanto	mais	o	praticares.	Bem-vindo	ao	mundo	da
linguagem	dos	cães.
Capítulo	III
Histórias
Primeira	história.	Pippi
Pippi	 era	 uma	 Braco	 Alemã	 de	 pêlo	 curto	 com	 cinco	 anos.	 A	 dona	 deteve-se	 a	 meio	 da
estrada	 de	 acesso	 sem	 atrever-se	 a	 aproximar-se.	 Vinha	 ver-me	 porque	 a	 sua	 cadela	 era
agressiva	e	«muito	perigosa»	com	os	outros	cães.	A	Pippi	aparentava	estar	tranquila,	calma	e
parecia	 ser	 mansa;	 saudou-me	 de	 forma	 amistosa	 e	 parecia	 ser	 daquele	 tipo	 de	 cão	 com
quem	poderias	viver	sem	problemas.	A	dona	estava	pálida	e	stressada	e	dizia	que	tinha	medo,
tendo	em	conta	o	que	pensávamos	fazer.
Expliquei-lhe,	brevemente,	o	que	queríamos	fazer	e	ela	ficou	ainda	mais	 lívida,	parecia	que	ia
ficar	maldisposta.	Pedi-lhe	que	 ficasse	ali	 à	espera,	 sem	dizer,	 nem	 fazer	nada,	e	 sugeri-lhe
que,	se	quisesse,	me	desse	a	trela.	Não,	ela	queria	segurar	a	trela	da	Pippi.	Então	chamei	a
Vesla,	 que	 tinha	estado	à	espera,	à	esquina	da	casa,	e	a	Vesla	 aproximou-se.	Assim	que	a
Pippi	 se	 apercebeu	 da	 presença	 de	 Vesla	 preparou-se	 para	 iniciar	 o	 ataque	 e	 começar	 a
ladrar,	mas	a	Vesla	apercebeu-se	da	situação,	parou	e	permaneceu	imóvel,	por	um	segundo,
farejando	 o	 chão,	 o	 que	 fez	 com	 que	 a	Pippi	 ficasse	 quieta	 em	 vez	 de	 dar	 saltos.	 A	Vesla
começou	 logo	 a	 mover-se	 lentamente	 em	 círculos,	 dando	 uma	 volta,	 farejando	 o	 chão,
oferecendo-lhe	sempre	o	dorso	e	dirigiu-se	para	a	Pippi.	Os	sinais	de	calma	de	Vesla	 eram
tão	claros	que	a	Pippi	estava	fascinada	a	olhar	para	ela,	em	vez	de	atacar.	Ao	aproximar-se,	a
Vesla	 abrandava	 ainda	 mais	 os	 seus	 movimentos	 e	 demorou	 vários	 minutos	 a	 percorrer	 o
último	 metro.	 Então,	 a	 Pippi	 também	 baixou	 o	 focinho	 para	 farejar	 o	 chão	 e	 assim
permaneceram	as	duas,	farejando	a	mesma	área	sem	se	olharem.
A	dona	regressou	uns	meses	mais	tarde.	Chegou	quando	eu	estava	a	dar	uma	aula,	por	 isso
tinha	um	grupo	de	cachorros	à	minha	volta.	Deixou	a	Pippi	sair	do	carro,	que	foi	em	direção	a
um	dos	cachorros	para	o	lamber,	demonstrando	assim	como	tinha	mudado	inteiramente	a	sua
atitude	em	relação	aos	outros	cães.
Esta	é	uma	história	típica	de	Vesla.	Durante	doze	anos	ajudou	a	mudar	a	vida	de	outros	cães
que	se	tinham	esquecido	de	como	comunicar	com	os	seus	pares.
Segunda	história.	Buster
Buster,	 um	 São	 Bernardo	 enorme,	 tinha	 medo	 dos	 outros	 cães.	 Sempre	 que	 via	 um	 cão,
escondia-se	atrás	do	dono	com	uma	expressão	de	preocupação	espelhada	na	cara.	Buster	e	o
dono	ficaram	à	espera,	sem	se	mexerem,	na	estrada	de	acesso	à	minha	quinta.	Deixei	solta	a
pequena	Vesla,	a	minha	Elkhound.	A	Vesla	avistou	o	outro	cão	no	caminho	e	desatou	a	correr
ao	seu	encontro,	 dado	que	gostava	muito	de	saudar	 todos	os	cães	com	que	se	encontrava.
Então	apercebeu-se	da	expressão	no	rosto	ou	na	atitude	do	outro	cão,	o	que	a	 fez	alterar	o
seu	descontraído	e	alegre	plano	de	aproximação.	Parou	de	correr	em	linha	reta,	alegremente
e	 abanando	 a	 cauda,	 e	 começou	 a	 mover-se	 devagar,	 ao	 mesmo	 tempo	 girava	 a	 cabeça
lentamente	 de	 um	 lado	 para	 o	 outro	 enquanto	 caminhava,	 evitando	 o	 contacto	 visual,
caminhando	 muito	 devagar.	 O	 enorme	 São	 Bernardo	 permanecia	 ali	 quieto.	 Tornava-se
evidente	 que	 estava	 a	 captar	 a	 mensagem	 que	 ela	 lhe	 transmitia.	 A	 uns	 seis	 metros	 de
distância	a	cadela	parou	e	deitou-se,	adotando	a	posição	de	convite	para	brincar,	só	que	nesta
ocasião	não	era	para	isso.	A	cadela	permaneceu	assim	até	que	viu	algo	no	olhar	do	outro	cão
que	 a	 convidou	 a	 aproximar-se	 mais.	 O	 São	 Bernardo	 não	 fez	 nenhuma	 tentativa	 para	 se
retirar	e	ficou	ali	a	olhar	para	ela.	De	repente,	Buster	 também	se	deitou,	adotando	a	posição
de	incitação	à	brincadeira	e	os	dois,	em	poucos	segundos,	estavam	em	contacto.
A	Vesla	tinha-se	apercebido	da	situação,	da	preocupação	do	outro	cão,	e	soube	o	que	tinha	de
fazer,	 conseguindo	 que	 Buster	 estivesse	 menos	 receoso,	 menos	 assustado.	 Comunicaram
entre	si,	compreenderam	a	mensagem	que	enviavam	ao	outro	e,	portanto,	puderam	resolver	a
situação.
Os	cães	são	peritos	nesta	matéria.	Esta	capacidade	de	 resolução	dos	conflitos	 faz	parte	do
que	 herdaramdos	 seus	 antepassados,	 os	 lobos,	 e	 lêem	 os	 sinais	 de	 calma	 que	 os	 outros
pares	 emitem,	 tal	 como	 nós	 lemos	 livros.	 Faz	 parte	 dos	 seus	 instintos	 de	 sobrevivência	 e
comportamento	no	seio	da	matilha.	Nós	nunca	seremos	tão	bons	como	eles	na	sua	utilização,
mas	 entenderemos	melhor	 o	 que	 nos	 comunicam.	 Podemos	 observar,	 entender	 e	 fazer-lhes
saber	que	entendemos	a	sua	linguagem.	Temos	a	possibilidade	de	fazer	sinais	de	calma	para
lhes	responder,	fazê-los	ver	que	compreendemos.	Melhoraremos,	desta	forma,	a	comunicação
durante	 o	 treino	 e	 nas	 situações	 quotidianas.	 Podemos	 aprender	 a	 sua	 linguagem	 para
comunicarmos	melhor	e	aperfeiçoar	a	qualidade	do	trabalho	com	os	nossos	cães.	Evitaremos
conflitos	 e	 também	 reduziremos	 o	 risco	 de	 ter	 cães	 receosos,	 inseguros,	 agressivos	 e
stressados.	 Também	 reduziremos	 o	 risco	 de	 nos	 colocarmos	 em	 situações	 perigosas,
lastimarmo-nos	ou	que	um	cão	nos	morda	numa	reação	de	autodefesa.
Terceira	história.	A	cadela	de	caça
A	magra	 cadela	de	 caça	permaneceu	 imóvel,	 a	 tremer,	 no	meio	da	 casa,	 ofegante,	 com	um
olhar	de	desespero.	Estava	 tão	magra	que	se	 lhe	viam	as	costelas.	Dava	dó	olhar	para	ela.
Uns	 segundos	mais	 tarde,	 passou	 um	 comboio	 na	 proximidade	 da	 casa.	 A	 cadela	 começou
logo	a	comportar-se	de	um	modo	mais	normal,	aproximando-se	para	me	saudar,	mostrando-se
amistosa,	como	é	habitual	neste	tipo	de	cães.
A	casa	ficava	próxima	de	uma	via-férrea	e	a	cadela	tinha	pavor	do	barulho	do	comboio	quando
estava	em	casa.	Tinha	ficado	hiperativa,	em	pouco	tempo	tinha	perdido	sete	quilos	e	tinha	um
ritmo	cardíaco	anormal.
Eu	 não	 estava	 muito	 segura	 do	 que	 podia	 aconselhar.	 Mudarem	 de	 casa?	 Recorrer	 a
fármacos?	Decidi	tentar	outra	coisa	quando	passasse	o	próximo	comboio.
Expliquei	aos	donos	o	que	 tinha	pensado	 fazer	e	quando	o	barulho	do	comboio	ainda	mal	se
ouvia,	 sentei-me	a	bocejar	 e	estiquei	 os	braços	 («as	patas	dianteiras»),	 evitando	o	 contacto
visual	 com	a	cadela,	mas	a	olhar	de	 lado	para	ver	a	 sua	 reação.	Os	donos	estavam	a	 falar
tranquilamente,	 olhando	 para	 outro	 lado,	 a	 tomar	 um	 café.	 A	 cadela	 tremia	 ofegante,	 mas
olhava	para	mim	enquanto	eu	bocejava.	Olhava	para	os	donos	e	outra	vez	para	mim.	Já	não
ofegava	 tão	 intensamente	nesta	altura	como	 fazia	ao	princípio.	Era	possível	que	estivesse	a
dar	resultado?
Mais	 tarde,	 quando	 se	 estava	 a	 aproximar	 outro	 comboio,	 sentamo-nos	 todos	 no	 chão	 a
bocejar,	sem	olhar	para	ela.	A	cadela	reagiu	de	forma	positiva.
Já	 tinham	«trabalhos	de	casa».	Regressei	um	mês	mais	 tarde.	Durante	 todo	este	 tempo	não
me	telefonaram,	pelo	que	acreditava	que	as	coisas	não	tinham	piorado.	Ao	entrar	em	casa,	a
cadela	 veio	 saudar-me	 como	 se	 eu	 fosse	 uma	 velha	 amiga	 desde	 há	muito.	 Sentei-me,	 e	 a
cadela	subiu	para	o	sofá	ao	meu	 lado	 (e	era	permitido!)	e	enroscou-se	ali	 confortavelmente,
disposta	a	dormir.	Era	evidente	que	tinha	engordado	e	já	não	se	lhe	viam	as	costelas.	Estava	a
aproximar-se	um	comboio,	a	 cadela	abriu	um	olho	para	olhar	para	mim,	viu	que	eu	bocejava
(como	se	estive	a	dizer:	«isso	era	o	que	eu	pensava»)	e	voltou	a	dormir	novamente.
Eu	 fiquei	 sem	 palavras	 e	 feliz.	 Era	 possível	 transmitir	 a	 mensagem	 a	 um	 cão	 receoso,
utilizando	a	sua	própria	linguagem,	aliviando	o	seu	medo.	Quando	começou	a	mostrar-se	mais
descontraída	 com	 o	 ruído	 do	 comboio,	 os	 seus	 donos	 realizaram	 outras	 atividades	 e
brincadeiras	e	isto,	é	claro,	também	ajudou	a	resolver	o	problema.
Este	 foi	 um	 dos	 primeiros	 cães	 com	 que	 utilizei	 os	 sinais	 de	 calma,	 por	 isso	 nunca	 me
esquecerei	 desta	 cadela.	 Anos	 mais	 tarde	 reencontrei-a	 e	 ela	 ainda	 me	 reconhecia.	 Viveu
durante	muitos	anos,	cheia	de	vitalidade,	a	caçar	coelhos	no	monte.	Agora,	acredito	que,	se	na
outra	vida	também	há	montes,	continuará	feliz	a	caçar	coelhos.
Quarta	história.	Saga
A	 Saga	 estava	 a	 ajudar-me	 a	 retirar	 a	 neve	 da	 estrada	 de	 acesso	 à	 quinta,	 quando,	 de
repente,	apareceram	umas	pessoas	com	cães	soltos.	Avistaram	a	Saga	e	a	rosnar	e	a	ladrar
lançaram-se	 na	 sua	 direção,	 pareciam	 realmente	 ferozes,	 selvagens.	 Eu	 estava	 prestes	 a
interpor-me	 entre	 eles	 e	 a	 Saga,	 mas	 decidi	 esperar	 e	 ver	 o	 que	 acontecia	 sem	 a	 minha
intervenção.	A	Saga	já	tinha	feito	a	sua	parte.	Quando	os	outros	cães	se	lançaram	em	direção
a	 ela,	 ela	 voltou-se,	 para	 lhes	 dar	 as	 costas,	 e	 sentou-se.	 Isto	 fez	 com	que	 os	 outros	 cães
abrandassem	o	entusiasmo	do	ataque.	Reduziram	a	velocidade	de	aproximação,	pararam	de
ladrar	e	de	 rosnar	e	 começaram	a	 farejar	o	 chão.	No	 fim,	não	se	chegaram	a	aproximar	da
minha	 cadela.	 Pararam	 a	 uma	 determinada	 distância	 e	 continuaram	 a	 farejar	 o	 chão	 em
silêncio.	A	Saga	nem	se	deu	ao	trabalho	de	olhar	para	eles.	Como	se	tinham	portado	tão	mal
com	ela,	perdeu	todo	o	 interesse	em	conhecê-los.	Os	outros	cães	deram	meia	volta	e	 foram
para	ao	pé	dos	seus	donos.
Quinta	história
Um	cliente	 chegou	 à	minha	 quinta	 com	o	 seu	Dog	 do	 Tibete,	 recém	adquirido.	 Inclinando-se
sobre	o	cão	e	com	um	tom	normal,	deu-lhe	a	ordem	para	se	sentar.	O	Dog	afastou-se	e	reagiu
imediatamente	de	forma	descontrolada,	como	um	psicótico,	se	me	for	permitida	a	expressão,
e	completamente	desligado	deste	mundo,	absolutamente	alheio	às	correções	do	dono	e	à	dor
(a	dor	não	o	alcançava).
Estes	mastins,	gigantes	generosos	com	o	seu	vozeirão,	são	mal	interpretados,	e	alguém	tinha
conseguido	que	este	cão	se	sentisse	receoso	de	estar	vivo.
O	 cão	 sentou-se,	 totalmente	 perdido,	 com	 o	 dono	 a	 tentar	 fazer	 com	 que	 voltasse	 a	 si;	 eu
pedi-lhe	que	o	deixasse	estar.	Aproximei-me	e	sentei-me	ao	 lado	do	mastim,	olhando	para	o
mesmo	lado	que	ele,	acariciando-lhe
o	 pescoço	 com	 suavidade	 e	 com	 movimentos	 muito	 lentos,	 ao	 mesmo	 tempo	 bocejava	 e
respirava	profundamente.
Permaneci	ali	sentada	com	ele	uns	quinze	ou	vinte	minutos;	então,	o	cão	começou	a	dar	sinais
de	 estar	 a	 voltar	 a	 si,	 de	 regressar	 a	 este	mundo;	 pa-recia	 desconcertado,	 confuso,	 olhava
para	mim,	 bocejava	e	 permanecia	 ali,	 sentado,	 imóvel,	 sem	nada	que	pudesse	atemorizá-lo.
Precisou	 de	 algum	 tempo	 para	 estar	 consciente	 da	 situação,	 então	 lambeu-me,	 olhou	 para
mim,	parecia	sentir-se	seguro.
Depois	 do	 que	 aconteceu,	 o	 cão	 adorava-me.	 Acredito	 que	 poderia	 ter	 feito	 qualquer	 coisa
com	ele.	Tinha	plena	confiança	em	mim	e	não	se	afastava	de	mim	quando	me	vinham	ver.
É	 preciso	 tão	 pouco	 para	 ser	 amistoso	 com	 um	 cão	 e	 os	 resultados	 podem	 ser	 tão
extraordinariamente	gratificantes.	Tens	sempre	a	hipótese	de	escolha:	podes	comportar-te	de
forma	ameaçadora	ou	calma.	Para	mim,	a	escolha	é	muito	simples.
Um	 comportamento	 de	mudança	 é	 fazer	 algo	mais.	O	 teu	 cão	 é	 «teimoso»,	 «distraído»,	 ou
simplesmente	 caminha	 afastando-se	 de	 ti,	 farejando,	 porque	 tu	 o	 controlas	 de	 forma
inadequada?
«Se	falas	com	os	animais,
eles	falarão	contigo,
e	conhecer-se-ão	uns	aos	outros.
Se	não	lhes	falas,
não	os	conhecerás,
	E	aquilo	que	não	conheces,
temes.
Aquilo	que	temes,
acabas	por	destruir».
Chefe	índio	Dan	George
Capítulo	IV
O	cão	stressado
As	hormonas	 relacionadas	provocadas	pelo	stress	são-nos	necessárias.	Precisamos	de	uma
determinada	 quantidade	 destas	 hormonas	 para	 podermos	 trabalhar,	 para	 termos	 energia
suficiente	 e	 assim	 fazermos	 as	 coisas	 que	 temos	 ou	 queremos	 fazer.	 Em	 determinadas
ocasiões	deparamo-nos	com	situações	em	que	sentimos	medo,	que	nos	atemorizam,	que	nos
alteram,	 que	 nos	 excitam	 ou	 nos	 fazem	 ficar	 zangados.	 Nestas	 circunstâncias	 aumenta	 a
concentração	 de	 hormonas	 a	 circular	 no	 nosso	 organismo.	 É	 então	 que	 começa	 a	 ser
bombeada	a	adrenalina.
Como	funciona
Estás	 a	 conduzir	 e,	 de	 repente,	 estás	 quasea	 bater	 noutro	 carro,	 a	 ter	 um	 acidente.
Consegues	 evitá-lo,	 mas,	 uns	minutos	mais	 tarde,	 o	 teu	 ritmo	 cardíaco	 fica	 acelerado	 e	 as
palmas	 das	 mãos	 começam	 a	 suar.	 Ficas	 alterado	 ou	 zangado,	 tremes	 ou	 sentes	 sede	 ou
ficas	com	vontade	de	ir	à	casa	de	banho.	Todo	este	tipo	de	reações	indica	que	o	teu	nível	de
adrenalina	está	alto.
Na	 Noruega,	 o	 professor	 Holger	 Ursin	 investigou	 o	 stress	 (Holder	 Ursin:	 Stress)	 e	 os	 seus
estudos	são	de	grande	valor	quando	os	aplicamos	aos	cães.	No	seu	 livro	poderás	estudar	e
aprender	os	mecanismos	do	stress.
As	pessoas	 ficam	stressadas	por	causa	de	acidentes,	zangas,	violência,	com	coisas	ou	com
situações	 que	 nos	 excitam;	 mas,	 sobretudo,	 ficamos	 stressados	 em	 situações	 que	 não
controlamos	ou	sentimos	que	não	podemos	controlar.	Algo	nos	atemoriza	e	não	nos	sentimos
seguros	da	nossa	capacidade	para	resolver	a	situação.
Os	cães	ficam	stressados	pelas	mesmas	razões.	Ficam	stressados	em	situações	de	medo,	de
dor	ou	de	mal-estar.	Ficam	stressados	quando	nos	zangamos	ou	quando	os	corrigimos.	Ficam
stressados	quando	se	excitam,	por	exemplo,	 quando	os	machos	cheiram	uma	 fêmea	no	cio.
Também	 podem	 ficar	 stressados	 devido	 aos	 acontecimentos	 que	 acontecem	 a	 uma	 grande
velocidade.	Mas,	principalmente	e	sobretudo,	os	cães	ficam	stressados	pelas	mesmas	razões
que	os	humanos:	quando	se	sentem	incapazes	para	resolver	uma	situação.
Quando	os	cães	começam	a	ficar	stressados	podem	manifestá-lo	de	diversas	formas.	Quando
estão	 stressados	 devido	 ao	 meio	 ambiente,	 normalmente	 podes	 observar	 que	 começam	 a
fazer	sinais	de	calma	para	tentar	reduzir	o	stress.	Por	isso,	conhecer	e	identificar	os	sinais	de
calma	também	nos	ajudará	a	saber	quando	é	que	o	nosso	cão	se	sente	stressado.
Os	estudos	científicos	proporcionaram-nos	mais	 informação	sobre	o	stress.	Na	Escandinávia
foram	realizadas	medições	em	pára-quedistas,	pilotos,	mergulhadores	e	noutros	profissionais
que	estão	em	situações	de	risco.
As	 medições	 demonstram	 que:	 (1)	 ocorre	 uma	 situação;	 (2)	 entre	 cinco	 a	 quinze	 minutos
depois,	a	produção	de	adrenalina	está	nos	níveis	mais	elevados	(quando	começamos	a	sentir
o	 nosso	 coração	 a	 bater);	 (3)	 em	 simultâneo	 com	 a	 produção	 de	 adrenalina,	 no	 nosso
organismo	 acontecem	 outras	 duas	 coisas:	 os	 níveis	 de	 acidez	 no	 estômago	 aumentam	 e
também	acontece	o	mesmo	com	os	níveis	de	algumas	hormonas	sexuais,	o	que	pressupõe	um
mecanismo	de	defesa;	(4)	entre	cinco	a	quinze	minutos	depois,	a	situação	desencadeada	pela
subida	 de	 adrenalina,	 dos	 ácidos	 gástricos	 e	 dos	 mecanismos	 de	 defesa,	 atinge	 o	 pico,	 o
culminar;	 e	 (5)	 as	 hormonas	 e	 ácidos	 começam	 a	 baixar	 até	 serem	 recuperados	 os	 níveis
normais.	A	 recuperação,	o	 regresso	aos	níveis	normais	de	stress,	de	ácidos	gástricos	e	dos
mecanismos	de	defesa	pode	demorar	vários	dias	em	função	do	meio	ambiente	que	nos	rodeia,
dos	 níveis	 normais	 e	 de	 outras	 circunstâncias.	 Esta	 é	 uma	descrição	 pormenorizada	 do	 que
acontece.
Em	 situações	 perigosas,	 os	 pilotos	 que	 apresentavam	 elevados	 níveis	 de	 stress
demonstravam	 os	 mecanismos	 de	 defesa	 adequados	 e	 sobreviviam	 ao	 perigo.	 Os	 que
morriam	 em	 acidentes	 de	 aviação	 apresentavam	 baixos	 níveis	 de	 stress	 e	 mecanismos	 de
defesa	deficientes.	Os	que	tinham	os	níveis	de	stress	elevados	e	bons	mecanismos	de	defesa
para	os	suportarem	eram	confrontados	com	outro	problema:	com	o	passar	do	 tempo	 tinham
úlceras	ou	outros	problemas	gástricos.
Por	 outras	 palavras,	 os	 níveis	 de	 stress	 e	 os	 mecanismos	 de	 defesa	 são	 necessários	 e
estarão	 presentes	 para	 que	 o	 cão	 possa	 sobreviver.	 Existem	 para	 nos	 fazer	 reagir	 com	 a
rapidez	suficiente	e	sermos	fortes	o	suficiente	para	superar	o	perigo.
Mas	 há	mais.	 Um	 cão	 com	 elevados	 níveis	 de	 stress,	 de	 forma	 continuada,	 terá	 problemas
gástricos,	 cardíacos	 e	 alergias.	 Os	 seus	 mecanismos	 de	 defesa	 serão	 mais	 rápidos	 e
violentos	 quando	 enfrentar	 situações	 de	 stress.	Provavelmente,	 o	 seu	mecanismo	 de	 defesa
ativar-se-á	antes	do	mecanismo	de	defesa	nos	outros	indivíduos.
Em	 diversas	 ocasiões	 trabalhei	 com	 cães	 que	 atacavam	 as	 pessoas	 ou	 outros	 cães	 e,	 em
determinadas	 situações,	 comportavam-se	 de	 forma	 agressiva.	 Provavelmente,	 os	 seus
mecanismos	 de	 defesa	 ativavam-se	 muito	 antes,	 reagiam	 mais	 rapidamente	 e	 com	 maior
intensidade	perante	diferentes	situações.	Tudo	se	encaixa.
Primeiro	exemplo
Um	cão	apresenta	sintomas	de	um	elevado	nível	de	stress	perante	o	tom	severo	das	ordens,
devido	 à	 elevada	 exigência	 de	 treino	 desde	 a	 mais	 tenra	 idade	 e	 devido	 à	 agressividade	 e
irritação	 do	 seu	 dono.	 O	 cão	 está	 stressado	 devido	 a	 esta	 situação,	 que	 se	 repete
diariamente,	porque	nunca	tem	a	oportunidade	de	se	descontrair.
Este	 cão	 também	 desenvolveu	 um	 elevado	 nível	 de	 auto-defesa.	 Comporta-se	 de	 um	modo
agressivo	com	os	outros	machos	ou	com	as	pessoas.
O	comportamento	agressivo	deste	cão	pode	ter	sido	aprendido.	Pode	ser,	em	parte,	herdado.
As	 possibilidades	 desta	 simples	 reação	 se	manifestar	 durante	 toda	 a	 sua	 vida	 e	 de	 o	 fazer
estar	stressado	é	muito	elevada.	A	 irritação	e	as	exigências	do	seu	dono	 fazem	com	que	 lhe
seja	 impossível	 suportar	 a	 situação	 diária.	 Fica	 stressado	 e	 com	 o	 stress	 também	 se
manifesta	uma	reação	de	defesa	mais	 intensa,	que	foi	a	razão	pela	qual	o	seu	dono	me	veio
visitar.
Segundo	exemplo
Os	cães	aprendem	por	associações.	Quando	damos	um	puxão	na	trela	para	fazer	com	que	o
cão	se	mantenha	na	posição	ou	para	que	pare	de	 ladrar	 sempre	que	vê	outro	 cão,	o	nosso
cão	associa	o	outro	cão	com	o	puxão	da	trela	e	com	a	dor	que	isso	provoca.	Ficará	cada	vez
mais	 stressado	 quando	 vê	 outros	 cães	 e	 ativará	 cada	 vez	 com	 maior	 rapidez	 os	 seus
mecanismos	 de	 defesa	 devido	 ao	 aumento	 do	 stress.	 Este	 cão	 também	 se	 comportará	 de
modo	agressivo	com	outros	cães,	tanto	com	machos	como	com	fêmeas.
O	 que	 me	 leva	 a	 pensar	 que	 não	 existe	 razão	 alguma	 ou	 desculpa	 alguma	 para	 castigar,
corrigir,	ser	violento,	ameaçar,	forçar	ou	exigir	demasiado	a	um	cão.	Se	faço	com	que	os	meus
cães	 fiquem	 stressados,	 o	 stress	 fará	 com	que	 fiquem	doentes.	 Ficarão	 agressivos	 com	os
outros	cães	ou	com	as	pessoas	com	uma	maior	facilidade,	porque	as	suas	defesas	aumentam.
Pode	até	acontecer,	numa	situação	destas,	que	possam	morder	em	alguém.
Nós	 temos	 sempre	 a	 possibilidade	 de	 escolher	 como	 nos	 comportamos	 e	 como	 guiamos	 o
cão.	Podemos	entender	os	sinais	de	calma	que	o	nosso	cão	faz	e	fazê-lo	saber.	Ou	podemos
ignorá-los	e	piorar	a	situação	de	stress	em	que	o	cão	se	encontra	até	 fazê-lo	sentir	que	não
pode	suportá-la	e,	desta	forma,	fazê-lo	aumentar	o	seu	stress.
Podemos	comportar-nos	e	guiá-lo	de	forma	ameaçadora,	de	modo	a	fazermos	o	cão	sentir-se
inseguro,	 receoso	 e	 na	 defensiva.	 Algumas	 destas	 reações	 de	 defesa	 serão	 interpretadas
como	medo.	Alguns	cães	começam	a	correr,	a	fugir	para	tentar	escapar;	parecem	ter	medo	e
estão	ou	aparentam	estar	nervosos.	A	fuga	como	defesa	pode	parecer	uma	agressão.
Quando	revejo	o	extenso	arquivo	que	possuo	sobre	casos	de	cães	receosos	e	agressivos,	vejo
claramente	 como	 tudo	 o	 resto	 se	 encaixa.	 Devemos	 tentar	 resolver	 as	 causas	 que
desencadeiam	este	comportamento,	não	basta	curar	os	sintomas,	pois	assim	não	chegaremos
muito	longe.
Observa	 os	 níveis	 de	 stress	 que	 o	 teu	 cão	 demonstra.	 Procura	 as	 razões	 pelas	 quais	 está
stressado.	Uma	análise	autocrítica	frequente	do	teu	comportamento	e	do	ambiente	permitir-te-
á	 descobrir	 muitas	 coisas	 por	 ti	 próprio.	 Em	 determinadas	 ocasiões	 poderá	 ser	 útil	 e
interessante	 pedir	 ajuda	 a	 outras	 pessoas	 para	 que	 te	 dêem	 outro	 ponto	 de	 vista,	 a	 sua
opiniãopessoal.	Frequentemente	 ficamos	cegos	com	o	que	fazemos,	não	somos	capazes	de
avaliar	objetivamente	o	nosso	trabalho.
O	que	é	que	faz	com	que	um	cão	fique	stressado?
•	As	ameaças	diretas	(as	nossas	ou	as	de	outros	cães).
•	A	violência,	irritação	ou	a	agressão	à	sua	volta.
•	As	correções	com	a	trela,	empurrá-lo	para	que	se	deite,	arrastá-lo.
•	Demasiadas	exigências	quotidianas	ou	do	treino.
•	Demasiado	exercício	nos	animais	ainda	jovens.
•	Pouca	atividade,	pouco	exercício.
•	Fome,	sede.
•	Não	ter	acesso	à	zona	onde	brinca	quando	o	deseja	fazer	ou	quando	precisa.
•	Frio	ou	calor	excessivos.
•	Dor	e	doença.
•	Demasiado	barulho.
•	A	solidão.
•	O	aparecimento	repentino	de	situações	ameaçadoras.
•	Brincadeiras	que	aumentem	a	sua	excitabilidade,	com	bolas	ou	com	outros	cães.
•	Impossibilidade	de	se	descontrair,	estar	sempre	a	ser	incomodado.
•	Mudanças	repentinas.
Como	é	que	podemos	identificar	o	stress?
•	Mostra	hiperatividade	(é	incapaz	de	estar	sossegado).
•	Reage	de	forma	excessiva	aos	acontecimentos	e	às	situações	(ao	som	da	campainha,	um
cão	a	aproximar-se).
•	Utiliza	sinais	de	calma.
•	Coça-se.
•	Morde-se	a	ele	próprio	(auto	mutilação).
•	Tem	um	comportamento	destrutivo:	rói	os	móveis,	os	sapatos	ou	outros	objetos.
•	Ladra,	uiva,	gane.
•	Tem	diarreia.
•	Mau	cheiro	corporal	e	mau	hálito.
•	Musculatura	tensa,	«ataques»	de	caspa	repentinos,	por	exemplo.
•	Sacode-se.
•	Mudança	da	cor	dos	olhos.
•	Lambe-se.
•	Tenta	morder	a	própria	cauda.
•	Pele	com	uma	aparência	dura,	estriada,	gretada.
•	Aparente	falta	de	saúde.
•	Respiração	entrecortada,	agitação.
•	Perda	de	concentração:	só	é	capaz	de	ficar	concentrado	durante	curtos	períodos	de
tempo.
•	Treme.
•	Perda	de	apetite.
•	Faz	as	suas	necessidades	com	uma	maior	frequência	do	que	o	habitual.
•	Tem	alergias	(muitas	das	alergias	são	um	resultado	do	stress,	ao	coçar-se).
•	Demonstra	uma	fixação	por	determinados	objetos:	luzes,	moscas,	os	ruídos,	estalidos,	da
lenha	a	arder.
•	Aparência	nervosa.
•	Comporta-se	de	forma	agressiva.
•	Realiza	atividades	de	movimento	quando	lhe	é	dada	uma	ordem	para	fazer	alguma	coisa.
O	que	é	que	podemos	fazer	para	aliviar	o	stress	nos	nossos	cães?
Não	 tenho	a	 intenção	de	discutir	 tudo	o	que	podemos	 fazer	para	aliviar	o	 stress	nos	nossos
cães,	um	tema	que	é,	em	si	mesmo,	suficiente	para	outro	livro.	Apresento	aqui	algumas	ideias:
•	Mudar	o	ambiente	e	as	rotinas.
•	 Deixar	 de	 aplicar	 métodos	 duros,	 violência	 ou	 técnicas	 dolorosas	 no	 treino	 e	 na
orientação;	não	há	desculpas	para	continuar	a	aplicá-los	se	a	reação	do	cão,	perante	as
técnicas	de	controlo,	prova	a	sua	ineficácia.
•	Aprender	a	identificar	e	a	usar	os	sinais	de	calma.
•	Evitar	expor	o	cão	a	uma	situação	extrema	de	fome,	sede,	calor,	frio	ou	impedi-lo	de	fazer
as	suas	necessidades	com	a	frequência	que	precise.
•	Encontrar	o	nível	adequado	de	exercício	e	de	atividade	para	o	cão;	um	nível	excessivo	ou
muito	escasso	pode	ser	prejudicial.
•	Permitir-lhe-emos	fazer	parte	da	matilha,	ou	seja,	deixá-lo	estar	connosco	ou	com	alguém
da	família	e,	gradualmente,	ensiná-lo	a	aceitar	ficar	sozinho.
•	Praticar	a	proximidade,	o	contacto,	as	massagens,	o	estar	junto	sem	utilizar	a	força,	estar
juntos	no	chão,	em	contacto,	é	relaxante,	alivia	o	stress	nos	cachorros	(também	poderá
ser	útil	para	o	nosso	cão).
O	medo	pode	fazer	com	que	o	cão	fique	ainda	mais	stressado.	O	stress	ativa	os	mecanismos
de	defesa,	o	que	 faz	com	que	o	cão	 tenha	mais	medo.	Por	onde	é	que	devemos	começar	a
quebrar	este	círculo	vicioso?
«Em	 diversas	 ocasiões	 os	 cães	 ficam	 histéricos	 quando	 comunico	 com	 eles
utilizando	a	sua	própria	linguagem.	É	como	se	alguém	tivesse	passado	uma	longa
temporada	 perdido	 na	 selva	 e	 quando	 já	 está	 quase	 desesperado,	 ouve	 outra
pessoa	que	fala	a	mesma	língua	que	a	sua.	Talvez	seja	esta	a	razão	pela	qual	os
cães	que	reabilitei	se	lembram	de	mim	muitos	anos	após	o	nosso	encontro».
Capítulo	V
A	escolha	é	tua
Para	os	leitores	deste	livro
A	leitura	sobre	estes	temas,	só	por	si,	é	excelente,	mas,	o	mais	 importante,	o	que	realmente
me	deixaria	muito	 feliz,	 é	que	 fosses	para	a	 rua	e	começasses	a	observar.	As	pessoas	que
assistiram	 a	 um	 dos	 meus	 cursos,	 digam-me,	 contem-me	 as	 vossas	 experiências,	 se
compreendeis	os	vossos	cães	agora	e	se	o	que	aprenderam	vos	é	útil,	de	que	forma	é	que	vos
ajudou	com	os	vossos	cães.	Se	acreditam	que	vos	ajudou	a	melhorar	a	vossa	relação	com	os
vossos	cães	e	 também	se	é	 interessante	e	maravilhoso	observar	o	que	 fazem	os	cães	para
resolver	problemas.
Espero	que	comeces	a	observar	e	a	entender	melhor	o	teu	cão,	a	sentir-te	mais	próximo,	com
uma	relação	melhor,	mais	perfeita.
Até	agora,	 a	maior	 parte	 da	 comunicação	 realizava-se	apenas	numa	direção:	 nós	exigíamos
coisas	 aos	 nossos	 cães	 e	 eles	 respondiam.	 Isto	 não	 é	 suficiente	 para	 as	 pessoas	 que
realmente	 querem	 conhecer,	 que	 querem	 sentir-se	 realmente	 unidos	 com	 os	 seus	 cães	 e
serem	 capazes	 de	 os	 entender.	 Compreender	 a	 sua	 linguagem,	 provavelmente,	 não	 é
suficiente,	mas	é	um	grande	passo	na	direção	adequada.
Sempre	que	estejas	com	o	teu	cão	ou	que	te	encontres	com	outro	cão	tens	a	possibilidade	de
escolher:	 podes	 mostrar-te	 ameaçador	 ou	 descontraído.	 Não	 existe	 desculpa	 alguma	 para
ameaçar	um	cão.	Isso	faria	com	que	o	cão	assumisse	uma	atitude	defensiva,	receosa,	sem	te
entender,	 e,	 inclusive,	 no	 fim,	 possa	 chegar	 a	 fazer-te	mal	 ou	 fazer	mal	 a	outros,	 porque	os
seus	mecanismos	de	defesa	estão	ativados.
Os	cães	são	sobreviventes.	Defendem-se	quando	sofrem	ameaças.	Alguns	desatam	a	correr
ou	 tentam	 fugir.	Outros	 ficam	desconcertados.	De	qualquer	modo,	os	 laços	de	união	com	os
humanos	são	deteriorados.
Ao	mostrares	ao	 teu	cão	a	 tua	atitude	amistosa	podes	 transformar-te	 imediatamente	no	seu
amigo	 ou,	 pelo	 menos,	 em	 alguém	 com	 quem	 pode	 sentir-se	 bem.	 Deixar	 as	 ameaças	 e
começar	a	utilizar	os	sinais	de	calma	pode	mudar	a	relação	com	o	teu	cão.
Para	além	disso,	os	cães	são	peritos	na	 resolução	de	conflitos	e	 tentam	sempre	 resolvê-los
quando	estes	surgem.	O	facto	de	estarmos	sempre	a	iniciar	conflitos	é	realmente	preocupante
para	os	nossos	cães	e	fá-los	ver	o	quanto	somos	frágeis.
Tens	 sempre	 a	 possibilidade	 de	 escolher.	 Depende	 de	 ti	 o	 tipo	 de	 relação	 que	 desejas
estabelecer	com	o	teu	cão.	Pode	aprender	a	temer-te	e	passar	toda	a	sua	vida	atemorizado	e
a	sentir-se	mal	ou	podes	fazê-lo	sentir-se	melhor,	que	confie	em	ti	e	não	tenha	nada	a	temer;
neste	caso,	o	cão,	muito	provavelmente,	nunca	terá	necessidade	de	mostrar-se	numa	posição
defensiva	e,	deste	modo,	é	menos	provável	que	chegue	a	morder	alguém.
Aspectos	práticos	durante	o	treino
Quando	estás	a	treinar	o	teu	cão	para	que	ele	se	deite	ou	sente,	não	te	inclines	sobre	ele.	O
melhor	é	que	te	posiciones	ao	seu	lado,	de	joelhos	ou	mantendo-te	erguido,	sobretudo	se	o	teu
cão	não	gosta	de	fazer	o	exercício.	Se	te	inclinas	sobre	ele	movimentar-se-á	mais	devagar	ou
oferecerá	resistência.
Quando	estiveres	a	praticar	a	chamada	não	 te	 inclines	sobre	o	cão	quando	ele	se	aproxima.
Se	o	 fizeres	é	provável	que	não	se	aproxime	até	onde	estás	ou	que	passe	por	 ti	a	correr	ou
olhando	 para	 o	 outro	 lado.	 Obterás	 melhores	 resultados	 se	 te	 mantiveres	 erguido,	 melhor
ainda	 se	 te	 colocares	 de	 lado	 (não	 de	 frente).	 Assim	 aumentará	 a	 probabilidade	 do	 cão
responder	à	tua	chamada.
Quando	 quiseres	 que	 caminhe	 ao	 teu	 lado	 não	 utilizes	 uma	 trela	muito	 curta	 ou	 tensa,	 pois
assim	irás	provocar-lhe	dor,	 irás	magoar-lhe	o	pescoço	e	a	única	coisa	que	conseguirás	será
que	 tente	 afastar-se,	 farejar	 o	 chão	 ou	 fazer	 outra	 atividade.	 É	 preferível	 que	 o	mantenhas
pela	trela,	sem	estar	esticada,	comeces	a	andar	e	que	mudes	com	regularidade	o	sentido	da
marcha,	dando	uma	palmada	na	coxa	para	chamar

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