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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A integridade do sistema imune é essencial para a defesa contra agentes infecciosos, reconhecimento do self, controle da proliferação celular e regulação inflamatória. Quando ocorre disfunções do SI podemos estar diante de um caso de Imunodeficiência. As imunodeficiências podem ser primárias ou secundárias: As primárias são doenças genéticas que resultam em maior suscetibilidade a infecções, neoplasias, autoimunidade ou inflamação desregulada, frequentemente com manifestação nos primeiros anos de vida (ex.: mutações, autoimunes). Já as secundárias são disfunções do sistema imune causadas por agentes externos, como: desnutrição, neoplasias, medicamentos imunossupressores, infecções (p.ex., HIV). No caso das imunodeficiências combinadas ocorre disfunções na população de linfócitos T (responsáveis por coordenar a resposta adaptativa – maestro), afetando a resposta celular e humoral. Dentre as imunodeficiências combinadas, a mais importante é a imunodeficiência combinada grave (SCID) é uma condição clínica caracterizada por marcante comprometimento da resposta imune envolvendo linfócitos T e/ou B e/ou células NK, que conduz a aumento da susceptibilidade a infecções e alta taxa de mortalidade em crianças acometidas. ➢ LINFÓCITOS T E FRAGILIDADE IMUNOLÓGICA DA CRIANÇA - Linfócitos T: Temos 3 subpopulações de linfócitos T afetados, o CD4 (helper), o CD8 (citotóxico) e o Treg (regulatório). Os linfócitos T coordenam a atividade do B e a produção dos anticorpos por meio de um conjunto de proteínas que caracterizam a sinapse imunológica (CD4 ligante e CD4; interleucinas, MHC). Os linfócitos T CD4 são os helper’s e participam da imunidade celular e da coordenação da resposta. Os CD8 são citotóxicos, ou seja, causam lise das células infectadas por patógenos intracelulares ou das células tumorais. Os linfócitos T regulatórios suprimem a resposta imune regulando a inflamação. Por fim, temos também as células NK, que suprimem ou ativam a resposta inata/adaptativa. Temos maiores quantidades de linfócitos T maduros na fase adulta, enquanto na infância temos muitos linfócitos, mas todos näive (proliferam pouco quando estimulados, baixa produção de Ac, quimiotaxia de fagócitos reduzida), responsável pela fragilidade da criança. O Recém Nascido (RN) e lactente possui maior número de linfócitos (TCD4 e TCD8), maior percentual de linfócitos T näive, menor resposta proliferativa a mitógenos (substância que estimula a proliferação celular, desencadeando a mitose), menor Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp resposta citotóxica, menor produção de anticorpos específicos, quimiotaxia de fagócitos reduzida e ativação imunológica. A criança tem o sistema imune imaturo (imaturidade imunológica) devido a baixas quantidades de IgA e IgG até o primeiro ano de vida, conferindo fragilidade nesse momento de vida. Ela tem mais IgM que é herdada da vida intraútero, mas essa imunoglobulina não é muito eficiente. ➢ IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS As imunodeficiências primárias envolvem base genética; há uma diminuição do número de linfócitos devido a mutações, doenças autoimunes etc. A maioria é causada por deficiências de anticorpos, ocorrendo muito mais em homens (vários genes importantes para o SI estão no cromossomo X) e na faixa etária de 5-19 anos (idade que os sintomas aparecem). Apenas 7% dos diagnósticos são feitos no primeiro ano de vida, perdemos muitas crianças antes de terem o diagnóstico de imunodeficiência primária. Temos que estar atentos para fazer o diagnóstico o quanto antes, devemos considerar a frequência de infecções que a criança apresenta, a gravidade de cada infecção, a duração, as complicações e a resposta ao tratamento. Temos boletins que mostram os 12 sinais de alerta para imunodeficiências primárias, a fim de diminuir o número de óbitos. O fato de ter respostas adversas a vacinas (especialmente à BCG) é um indicativo forte. Também são indicativos: diabetes mellitus no primeiro ano de vida, quadro de sepse, Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp lesões cutâneas, diarreia persistente, cardiopatias congênitas, atraso na queda do coto umbilical, história familiar de imunodeficiência (consanguinidade entre pais, mãe que teve um irmão que morreu), baixa número de linfócitos no sangue (criança geralmente tem número alto), hipocalcemia e ausência de imagem do timo no Rx de tórax. Os principais patógenos e achados nas imunodeficiências primárias são defeitos nos linfócitos T que levam a DEFEITOS DE ANTICORPOS, causando infecções oportunistas que ocorrem em maiores frequências e/ou gravidade nessas pessoas. As micobactérias e outros patógenos intracelulares são os mais comuns nesses casos. ➢ IMUNODEFICIÊNCIAS SECUNDÁRIAS As imunodeficiências secundárias são disfunções do SI (desbalanço do número de células imune – linfócitos T) causadas por agentes externos - adquiridos. As principais causas são a desnutrição, hipovitaminose A, infecção por HIV/AIDS, Diabetes mellitus, nefropatias, neoplasias, drogas (AINEs, corticosteróides, imunossupressores, quimioterápicos), agentes imunobiológicos, doenças autoimunes, anemia falciforme etc. Para suspeitar de imunodeficiência secundária temos que analisar como foi a gestação, se teve infecções maternas (tem HIV ou não), as transfusões sanguíneas no período neonatal, tempo para queda do coto umbilical, idade de início da infecção e a gravidade, frequência a creches, obstruções nasais/dermatite/asma, se tem tosse crônica, intolerância alimentar nos primeiros meses de vida, candidíase oral após os 6 meses, efeitos adversos a vacinas, histórico familiar (atopia, mortes precoces, consanguinidade, sexo) etc. → Crianças até 6 meses tem maior risco de: neutropenia congênita, defeito de adesão de leucócitos, doença granulomatosa crônica, imunodeficiência combinada grave; → Crianças de 6 meses a 2 anos tem maior risco de: agamaglobulinemia, imunodeficiências secundárias; Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp → Crianças de 2 a 6 anos: deficiência seletiva de IgA, deficiência de anticorpo específico; → Crianças acima de 6 anos: AIDS, imunodeficiência comum variável, neoplasias, deficiências de complemento, doenças autoimunes. A imunodeficiência secundária é caracterizada por deficiências na maturação dos linfócitos T, nos casos mais graves. Assim, a pessoa tem muitos linfócitos T näive, mas não maturam para linfócitos T maduros de fato. Com isso, como são os maestros, não conseguem ativar os linfócitos B e não tem Ig suficiente para atacar o patógeno. Esses linfócitos imaturos podem nem sair do timo ou saem mas não conseguem ativar de fato o linfócito B. Nos casos de gravidade moderada, a imunodeficiência secundária é caracterizada por defeitos na sinalização celular (entre as células APC e os linfócitos T). Há genes defeituosos que causam problemas em proteínas intracelulares essenciais para essa sinapse imunológica. Apesar de acometer um evento importante para a atuação do linfócito T, esse tipo de imunodeficiência não é tão grave porque esse mecanismo tem várias redundâncias (muitas proteínas fazem o mesmo papel para que mesmo que tenha problema em uma, outras consigam dar continuidade). ➢ IMUNODEFICIÊNCIAS COMBINADAS As imunodeficiências combinadas (CID) são caracterizadas por defeitos incompletos na resposta imune, com sintomas semelhantes à SCID, mas possui mais linfócitos (maior quantidade, mas a qualidade é variável). Há redução das respostas proliferativas e imunidade humoralvariável. A imunodeficiência combinada grave (do inglês, Severe Combined Immunodeficiency - SCID) é uma imunodeficiência primária com diversas causas genéticas que acarretam deficiência grave das funções desempenhadas por linfócitos T e/ou B. Em algumas formas da doença há também o comprometimento da função de células Natural Killers (NK). A SCID se apresenta já no 1 ano de vida, com infecções recorrentes graves e que podem ser fatais (infecções bacterianas, viais ou fúngicas; diarréias crônicas; dificuldade de crescimento). É caracterizada por baixo número de linfócitos (Linfopenia grave; < 300 ou < 500/mm³), causando depressão grave das respostas proliferativas linfocitárias a antígenos/mitógenos. Há grande prejuízo para a imunidade humoral. O diagnóstico deve ser feito o quanto antes pois o tratamento exige transplante de células tronco hematopoiéticas (“transplante de medula”). ➢ EXEMPLOS DE IMUNODEFICIÊNCIAS - SCID - Síndrome de Wiskott-Aldrich: Imunodeficiência primária (hereditária) que geralmente só afeta meninos (gene mutado no cromossomo X). Há eczema (dermatite), plaquetopenia, infecções recorrentes, risco de neoplasias e defeitos no citoesqueleto. - Ataxia-Telangiectasia: é a associação de imunodeficiência combinada grave (SCID - afetando principalmente a resposta imune humoral) com ataxia cerebelar progressiva. É caracterizada por sinais neurológicos, Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar Branda Sublinhar Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp telangiectasias, aumento da suscetibilidade a infeções e maior risco de cancro. - Síndrome de Omenn: é um SCID também, caracterizada por uma mutação. Apresenta eczema, eosinofilia e níveis elevados de IgE, presença de infecções oportunistas graves. Sem tratamento é fatal. - Síndrome de Di George: é um distúrbio cromossômico que resulta em desenvolvimento inadequado de vários sistemas do corpo. A síndrome pode causar problemas cardíacos, mau funcionamento do sistema imunológico, fenda palatina e baixos níveis de cálcio no sangue (hipocalcemia). Também ocorre baixa estatura, atraso mental e presença de doenças autoimunes. Afeta o desenvolvimento da maioria das estruturas da linha média do corpo. - Outras: Linfadenite por BCG; Doença inflamatória intestinal do lactente; “o menino bolha” etc. ➢ DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS IMUNODEFICIÊNCIAS A avaliação laboratorial para imunodeficiências primárias é indicada em situações heterogêneas (infecções recorrentes; complicações de imunizações; neoplasias; fenômenos autoimunes; citopenias; síndromes de desregulação imune). História e exame físico cuidadosos orientam o profissional para as melhores escolhas laboratoriais. A avaliação é sequencial e adaptada para as condições específicas. Deve- se prestar atenção ao estágio do desenvolvimento do sistema imune. Hemograma: devemos avaliar o número de células imunes e a sua morfologia; Avaliação da resposta a imunizações: devemos ver se o número de IgG aumentou muito após as vacinas; Rx de Tórax: devemos ver se tem a sombra do Timo ou não. Se tiver o timo vemos como “sinal da Vela”, uma projeção triangular para o lado direito; Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Testes cutâneos: colocamos antígenos intradérmicos para avaliar a resposta imune. Quando + sugere imunocompetência celular, ou seja, houve resposta. Citometria de fluxo: observação das principais populações de linfócitos e suas subpopulações; TRECs (Estudo da integridade e função do timo): há um forte movimento no Brasil para incluir esse teste no teste do pezinho; confirma imunodeficiência grave caso tenha pouco TREC no sangue (um tipo de linfócito T).
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