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A clinica psicodinâmica do trabalho

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A clinica psicodinâmica do trabalho 
As clínicas do trabalho consideram que é a partir do diálogo entre os trabalhadores que é possível levantar as representações relacionadas ao seu trabalho; conhecer os indicadores de prazer e sofrimento advindos do trabalho, e ainda auxiliar a elaboração de estratégias de enfrentamento ao sofrimento no trabalho. Existem quatro abordagens teórico-metodológicas das clínicas do trabalho: a psicodinâmica do trabalho; a clínica da atividade; a psicossociologia e a ergologia. Destas, a que embasou teoricamente essa pesquisa é a psicodinâmica do trabalho. 
A psicodinâmica trabalha com uma clínica embasada no uso da palavra, preferencialmente nos espaços de discussão coletivos, visando a ressignificação do sofrimento, a emancipação, a elaboração de estratégias coletivas e a mudança na organização do trabalho. Os pressupostos compartilhados por essa abordagem resumem-se a quatro pontos de convergência: o interesse pela ação no trabalho, o entendimento sobre o trabalho, a defesa de uma teoria do sujeito e a preocupação com o sujeito e com o coletivo em situações de vulnerabilidade no trabalho, conforme Bendassolli e Sobol (2010). 
O estudo das relações homem/trabalho e suas consequências para a saúde mental destaca o papel de uma corrente francesa de pensamento denominada de Psicopatologia do Trabalho, que se construiu com base nas concepções e pesquisas desenvolvidas por Cristophe Dejours. Inicialmente, a corrente tinha como objetivo o estudo das relações entre saúde mental e trabalho, gerando ora prazer, ora sofrimento. Herdeira dos estudos em psicopatologia do trabalho e da ergonomia desenvolvidos durante a segunda metade do século XX, a psicodinâmica do trabalho firmou-se como disciplina autônoma durante os anos 1990, subsidiando estudos dos processos psicodinâmicos derivados das situações de trabalho, enfocando a relação entre trabalho e saúde do sujeito. 
A autonomia teórica metodológica foi resultado, sobretudo, dos esforços de Dejours e sua equipe no Laboratório de Psicologia, Trabalho e Ação no Conservatoire National de Arts et Métiers (Cnam) em Paris. Com base nos resultados dos seus estudos, Dejours publicou vários livros, empenhando-se em publicá-los na língua portuguesa, buscando atender a um aumento de interesse dos pesquisadores brasileiros que estudam a relação do homem com o trabalho. E o aumento da demanda de estudiosos na área vem atender a um contexto que exige respostas sobre esta relação, seja no Brasil, seja na Europa, conforme Bendasolli e Soboll (2010). 
Cristophe Dejours, médico do trabalho, psicanalista, foi o estudioso responsável pela criação e edificação da abordagem da psicodinâmica e clínica do trabalho, a qual deu seus primeiros passos no Laboratório de Ergonomia de Alain Wigner, no Cnam de Paris. A abordagem psicodinâmica do trabalho utiliza como base teórica os conceitos da Psicanálise, como disciplina, e se revela essencialmente multidisciplinar, já que integra também conceitos da Medicina do Trabalho, da Ergonomia e da Psicologia.
Dejours (2008) assinala que a psicodinâmica do trabalho é necessariamente uma clínica, que envolve a dimensão sócio-psíquica do trabalho, compreendendo-o. O papel dos clínicos pesquisadores consiste em traduzir o que é ocultado pelo coletivo em relação aos modos de engajamento no trabalho. A sua função está relacionada a uma escuta qualificada, mobilizando os integrantes e apontando discursos justapostos. A proposta metodológica conforme essa abordagem, ao promover a mobilização coletiva, pode, em diferentes graus, atingir seu objetivo, o de emancipação do trabalhador na sua relação subjetiva com o trabalho (MACÊDO; HELOANI, 2017). 
Dejours partiu da hipótese de que o sofrimento psíquico estava relacionado à organização do trabalho, tendo como ponto de início a insatisfação do indivíduo em relação tanto ao conteúdo da tarefa como ao conteúdo ergonômico do trabalho (DEJOURS, 1992). O que se observa quanto à relação entre a organização do trabalho e o trabalhador é a presença de um conflito entre o seu desejo e a realidade imposta do trabalho, pois, o projeto espontâneo do trabalhador é limitado pela organização à medida que ela prescreve e dita como regra um modo operatório e preciso de conduta e de realização das tarefas. “Quando se coloca face a face o funcionamento psíquico e a organização do trabalho, descobre-se que certas organizações são perigosas para o equilíbrio psíquico e que outras não o são” (DEJOURS; DESSORS; DESRIAUX, 1993, p. 104). Em realidade, é a organização do trabalho na forma de divisão de tarefas, no modo operatório de executá-las, o seu ritmo, a divisão dos homens através das hierarquias e usos abusivos das relações de poder que estão intimam intimamente ligados ao sofrimento e posterior adoecimento no trabalho.
Segundo Dejours e Abdoucheli (1994a), a partir de entrevistas clínicas, verificou-se que trabalhadores em grupo eram capazes de reconstruir a lógica das pressões de trabalho que os faziam sofrer e também podiam fazer aparecer as estratégias defensivas coletivamente construídas, a fim de lutar contra os efeitos desestabilizadores e patogênicos do trabalho. Contrariamente, as características dos sofrimentos experimentados individualmente diminuíam. Dessa forma, evidenciou-se uma ligação entre as pressões do trabalho e as defesas, principalmente coletivas, contra os efeitos psicológicos dessas pressões, em vez da ligação entre pressão e doença.
a constituição de espaços coletivos - em que a construção de um espaço de fala e escuta que podem ser expressas opiniões contraditórias ou baseada em crenças, valores e posicionamento ideológico dos trabalhadores -, possibilita ampliar a percepção sobre ele mesmo, favorecendo o seu processo de emancipação e a consequente intervenção naquilo que o grupo identifica como necessário para melhorar a organização do trabalho. Desta forma, sugere um coletivo de trabalho que discute fatores de prazer e sofrimento no trabalho e as estratégias defensivas construídas no decorrer do tempo para lidar com o sofrimento advindo da organização do trabalho. Segundo Dejours (2016), a analise da organização do trabalho, das relações do trabalho e das condições do trabalho, pode promover a mobilização subjetiva e possibilitar a ressignificação das vivencias de sofrimento advindas dessas categorias.

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