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Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica Capítulo 31: Transferências Técnicas Psicoterápicas I Professora: Cristiana Rezende Caneda Acadêmica: Hanna Kemel Brum O que é transferência? Etimologicamente, a palavra “transferência” resulta dos étimos latinos trans e feros. Transferência = trans + feros (passar através de, (conduzir) passar para um outro nível) O termo “transferência” deve ficar reservado unicamente para a relação no processo psicanalítico, onde juntamente com a “resistência” e a “interpretação”, constitui o tripé fundamental da prática da psicanálise. O que é transferência? Genericamente, pode-se conceituar o fenômeno transferencial como o conjunto de todas as formas pelas quais o paciente vivencia com a pessoa do psicanalista, na experiência emocional da relação analítica, todas as “representações” que ele tem do seu próprio self, as “relações objetais” que habitam o seu psiquismo e os conteúdos psíquicos que estão organizados como “fantasias inconscientes”, com as respectivas distorções perceptivas, de modo a permitir “interpretações” do psicanalista, as quais possibilitem a integração do presente com o passado, o imaginário com o real, o inconsciente com o consciente. Conceituação segundo diversos autores: Freud • Nas palavras de Freud este conceito psicanalítico inclui a noção de que o paciente vê no analista “o retorno, a reencarnação, de alguma importante figura saída da sua infância ou do passado, e, consequentemente, transfere para ele sentimentos e reações que, indubitavelmente, se aplicam a esse protótipo”. • Estudos sobre a histeria (1895) – onde Freud empregou, pela primeira vez, o termo “transferência” no sentido de uma forma de resistência, como um obstáculo à análise. Nesse mesmo livro que escreveu com Breuer, Freud afirma que a “transferência é o pior obstáculo que podemos encontrar”, conceituando-a como uma forma de um falso enlace, falsas conexões do paciente com o terapeuta. FREUD Dora (1905) - até aqui a transferência seria uma forma de atuação, e ainda continuava sendo conceituada como um obstáculo para tornar consciente a repressão inconsciente e pré- consciente. Mas, no pós-escrito de Dora, Freud utiliza o termo novamente, passando a considerá-lo uma inevitável necessidade. Em 1909, ao estudar as neuroses, Freud faz a primeira referência da transferência como um agente terapêutico. Adiante, Freud afirma que a transferência opera tal como num campo de batalha em que a vitória, ou seja, a cura da neurose, tem que ser conquistada. Em 1914 ele postula que somente a repetição na transferência pode libertar as lembranças reprimidas e assim evitar uma eterna compulsão à repetição. Em 1915 Freud classifica as transferências em positivas (as amorosas) e negativas (as sexuais), estas últimas ligadas às resistências. FREUD A partir de 1923 Freud ampliou bastante a importância do conceito de transferência, de forma a abarcar na transferência, não unicamente a repetição das lembranças e pulsões reprimidas, mas também incluiu a participação de figuras superegóicas e dos mecanismos de defesa do ego. Assim, em 1938 (Esquema de psicanálise), refere-se à transferência como ambivalente... e “pode ser uma fonte de sérios perigos”. Anna Freud (1936) prosseguiu alguns esboços do pai e descreveu a “transferência de defesa” como um recurso do ego para se proteger, como fizera no passado, de dolorosas consequências dos impulsos sexuais e agressivos. Ela também introduz o conceito de “atuar dentro da transferência”, no qual a transferência se intensificava e extravasava do consultório para a vida cotidiana do paciente. M. KLEIN M. Klein sempre trabalhou, de forma sistemática, na transferência, muito especialmente a negativa, decorrente das pulsões sádico- destrutivas. Ela entendia o fenômeno transferencial como uma reprodução, na figura do analista, de todos os primitivos objetos e relações objetais internalizadas no psiquismo do paciente, acompanhadas das respectivas pulsões, fantasias inconscientes e ansiedades. Os psicanalistas da escola kleiniana enfatizaram os seguintes aspectos relativos à transferência: 1) A compreensão e a valorização da transferência primitiva, ou seja, aquela que reproduz com o analista as primitivas relações objetais, com as respectivas fantasias inconscientes arcaicas, ansiedade de aniquilamento e primitivos mecanismos defensivos. M. KLEIN 2) Essas primitivas relações objetais provavelmente não aparecem sob a forma de associações de ideias – tal como Freud preconizava –, porquanto ela se formaram antes da capacidade de o ego da criança poder fazer representações-palavras das mesmas; no entanto, elas podem ser captadas pelo analista e, daí, virem a ser reconstruídas. 3) Nesse tipo de “transferência primitiva” as relações objetais são configuradas com objetos parciais (seio, pênis...), desde as primeiras sensações corporais, e decorrentes das angústias persecutórias e depressivas inerentes ao início do desenvolvimento infantil. 4) A transferência está presente não só nos momentos em que o paciente manifesta direta ou indiretamente em relação com o analista, mas, sim, de forma permanente, embora oculta. 5) Esse entendimento do fenômeno transferencial acarretou profundas modificações na forma e conteúdo das interpretações do psicanalista. KOHUT Trouxe uma notável e original contribuição para a compreensão e manejo da normalidade e patologia do narcisismo. Ele estudou as transferências narcisísticas e as classificou em três tipos: idealizadoras, gemelares e as especulares. Estas últimas, ele subdividiu em duas escalas, de acordo com o grau de como esses pacientes se imaginam ligados ao terapeuta: 1) Fusional (corresponde ao conceito de Freud de “ego do prazer purificado” e manifesta-se pelo fato de o paciente crer que o seu analista não passa de uma mera extensão sua, pois ambos estariam numa fusão arcaica). 2) Especular propriamente dita (necessita que o analista, tal como a mãe no passado, reconheça, confirme e espelhe o self grandioso que o paciente lhe exibe). Kohut acredita que a transferência das precoces falhas empáticas que tais pacientes tiveram com a mãe, uma vez bem compreendidas e manejadas pelo analista, possibilitam uma “internalização transmutadora”, a qual preencherá as referidas falhas antigas e promoverá uma reestruturação do self. WINNICOTT Para Winnicott, a transferência é muito mais do que uma repetição de impulsos e defesas; especialmente com pacientes em estados regressivos, não há “desejos”, mas, sim, “necessidades” que, quando não satisfeitas pelo analista – que acima de tudo deve “intuí-las” – geram, nesse mesmo paciente, mais do que ódio, uma decepção pelo novo fracasso do ambiente que nos primeiros anos da criança lhe interrompeu o crescimento do self e prejudicou a capacidade de desejar, o que leva a uma sensação de futilidade. Para Winnicott, a transferência deve ser compreendida como uma nova relação, um novo espaço que o paciente conquista para poder relacionar-se com o seu analista. Contrariamente a M.Klein, ele priorizava os aspectos construtivos e o dos vazios existenciais. LACAN Ele parte do princípio de que a fixação oral à mãe expressa o “estágio do espelho” no qual o sujeito reconhece o seu ego no “outro”, ou que a primeira noção de ego provém do outro. Assim, Lacan acredita que a ênfase do analista na interpretação sistemática da transferência não faz mais do que reforçar um vínculo de natureza diádica especular. o analista deveromper essa díade imaginária, pela castração simbólica, como um recurso de propiciar a transição do “nível imaginário” para o “nível simbólico”, próprio da triangularidade edípica. Todos esses aspectos constituem o que Lacan configura como a teoria simbólica da transferência. BION Bion afirma que “a transferência é uma experiência transitória, é um pensamento, sentimento ou ideia que o paciente tem, em seu caminho para um outro lugar”. Para Bion a transferência não é estática e uniforme, antes, ela resulta e comporta-se como um processo de transformações, as quais podem ser do tipo de “movimento rígido”, “projetivas” e “alucinoses”. Bion inclui, no complexo transferencial, a existência constante dos três vínculos: “amor, ódio e conhecimento”. Ele introduz a ideia de que a transferência não é unicamente com a pessoa do analista, mas também de uma parte do paciente em relação com “a pessoa mais importante que ele jamais poderá lidar, que é uma outra parte dele mesmo”. Bion encara o fenômeno transferencial a partir do seu modelo de uma relação de continente-conteúdo, tomando como paradigma disso a relação original mãe- filho. Pré-Transferência Para-Transferência Alude à uma manifestação de natureza transferencial que se instala no paciente ainda antes dele sequer ter tido um contato pessoal com o seu possível analista e que pode surgir desde o encaminhamento à sua pessoa, uma observação em algum evento científico, o primeiro contato telefônico, etc. Consiste no fato de que o paciente, à moda de actings, extravasa para fora da situação analítica os seus sentimentos transferenciais que estão sonegados e que não aparecem diretamente com o analista, de modo a revelar com pessoas de seu convívio mais íntimo algumas reações e atitudes inusitadas, que algumas vezes deixam os interlocutores surpresos e outras os circunstantes são acionados e “convidados” a exercer determinados papéis. Extratransferência Designa uma condição pela qual o analista percebe que o analisando demonstra por meio dos inter-relacionamentos de sua vida cotidiana a forma de como estão estruturadas as suas relações objetais internas. Neurose de Transferência • O analisando vive intensa e continuadamente uma forte carga emocional investida na pessoa do psicanalista, que transborda para fora da sessão e lhe ocupa uma grande fatia do seu tempo e de seu espaço mental. O comum nesses casos é que o paciente revive as suas experiências afetivas não com uma percepção de um como-se, de que está reproduzindo antigas vivências equivalentes, mas com a convicção de um está havendo, de fato. Transferência Psicótica Transferência Primária Trata-se de uma transferência que caracteriza os pacientes clinicamente psicóticos e que, contrariamente à crença de Freud de que esses pacientes não seriam analisáveis, porquanto eles nunca desenvolveriam uma transferência, hoje é consensual que eles desenvolvem, sim, uma clara transferência, sendo que, embora muitas vezes sejam inacessíveis à análise, muitas outras vezes eles possibilitam um verdadeiro trabalho analítico. Muitos autores designam aquela condição na qual prevalece um primitivo estado mental do paciente caracterizado, sobretudo, por uma “indiferenciação entre o sujeito e o objeto”. Campo Analítico Aliança Terapêutica Define o fato de que existe entre o analisando e o analista, de forma manifesta ou latente, uma corrente transferencial- contratransferencial, que é permanente, de influências e efeitos recíprocos, e que, nas condições normais, sofre sucessivas transformações em um continuado movimento espiralar, constituindo um campo onde circulam necessidades, desejos, angústias, defesas, relações objetais, etc. Não deve ser tomada como um simples “desejo de melhorar”, tampouco como sinônimo de “transferência positiva” e, muito menos, como antônimo de “transferência negativa”; pelo contrário, creio que o importante surgimento dessa última, em sua plenitude aparentemente negativa, muitas vezes se torna possível devido ao respaldo de uma “aliança terapêutica” provinda, pelo menos, de uma parte da mente do paciente que está comprometida em assumir e colaborar com a profundeza da análise, enfrentando, assim, as inevitáveis dificuldades e dores. MATCH Refere ao fato de que uma relação analítica vai além de uma simples relação transferencial repetidora de vivências passadas. Os aspectos pessoais de cada psicanalista em relação com os de um determinado paciente constituem um match singular, que tem uma decisiva influência na evolução, exitosa ou não, da análise. Um mesmo paciente pode fracassar na sua análise com um analista competente, enquanto terá êxito com um outro analista nem mais nem menos competente que o anterior. Um analisando progride bem com um analista em um determinado nível de sua personalidade e estagna em outras, e vice-versa com um outro analista. Tipos de transferências Transferência Positiva: muitas vezes o que parece ser uma transferência “positiva” pode estar sendo “negativa”, do ponto de vista de um processo analítico, porquanto ela pode estar representando não mais do que uma extrema e permanente idealização que o paciente faz em relação ao analista. É necessário levar em conta a possibilidade de que uma aparente transferência positiva possa estar encobrindo uma pseudocolaboração. Isso geralmente acontece por parte de pacientes portadores de uma forte estrutura narcisista, que os leva em um plano oculto da mente a desvitalizarem as interpretações do analista, de modo a que nele, paciente, nada mude de verdade. Em contrapartida uma transferência costumeiramente chamada de “negativa” pode estar sendo altamente “positiva” para o curso exitoso da análise. ❑Com esse nome Freud referia aquelas transferências nas quais predominava a existência de pulsões agressivas com os seus inúmeros derivados, sob a forma de inveja, ciúme, rivalidade, voracidade, ambição desmedida, algumas formas de destrutividade, as eróticas incluídas, etc. se uma análise não transitou pela “transferência negativa” no mínimo ela ficou incompleta. Talvez não exista experiência analítica mais importante do que aquela em que o paciente se permita atacar o seu analista, pelas formas mais diversas, às vezes cruéis, e este sobrevive aos ataques, sem se intimidar, revidar, deprimir, desistir, contrabalançar com formações reativas, apelar para recursos medicamentosos e outros afins, mantendo-se fiel e firme à sua posição de analista. Isso repercute no paciente de duas formas estruturantes para o seu self: a comprovação de que nem ele é tão perigoso, destruidor e mau, como imaginava, e tampouco os seus objetos são tão frágeis como sempre temeu. Transferência Negativa Quando o movimento transferencial representa uma busca de um “espelho” na pessoa do analista – que o reflita, reconheça e devolva a sua imagem de auto- idealização, vitalmente necessária para que o paciente sinta que, de fato ele existe e é valorizado – estabelece aquilo que genericamente está sendo denominado “transferência especular”, quando é necessário que o analista transitoriamente aceite funcionar como “ego auxiliar” do paciente, ao mesmo tempo em que gradativamente vá construindo o processo de diferenciação, que possibilite o paciente adquirir uma separação, individuação e uma posterior autonomia. Transferência Especular A “transferência idealizadora” corresponde, segundo Kohut (1971), a uma etapa do desenvolvimento emocional primitivo,na qual a criança tem necessidade de estruturar o seu self pela da idealização dos pais. O risco que essa forma de transferência representa para uma análise exitosa é a possibilidade de que o analista seja portador de uma estrutura excessivamente narcisista, de modo a se sentir gratificado com a idealização que o analisando faz dele e assim, ao invés de ser um processo transitório, a transferência idealizadora pode ficar cronificada, o que impossibilitaria o tão necessário surgimento de ocasionais períodos de “transferência negativa”. A permanência da transferência idealizadora representa o risco de entronizar a fé no lugar da confiança, a evasiva dos problemas em vez do seu enfrentamento e a sugestão no lugar da análise. Transferência Idealizadora Transferência Erótica e Erotizada A transferência de características eróticas adquire um largo espectro de possibilidades, desde os sentimentos afetuosos e carinhosos pelo analista até o outro polo de uma intensa atração sexual por ele(ela), atração essa que se converte em um desejo sexual obcecado, permanente, consciente, egossintônico e resistente a qualquer tentativa de análise. O primeiro caso alude à transferência erótica, enquanto o segundo refere-se a transferência erotizada. A “transferência erótica” está mais vinculada com a necessidade que qualquer pessoa tem de ser amada, sendo que essa demanda por compreensão, reconhecimento e contato emocional, pode se fundir com o desejo de um contato físico. A “transferência erotizada” designa a predominância de pulsões ligadas ao ódio com as respectivas fantasias agressivas, que visam a um controle sobre o analista e de uma posse voraz dele. • O termo “perverso” deve ser entendido como um “desvio da normalidade”, porém não deve ser tomado como sinônimo de uma “perversão”, clinicamente configurada como tal. Meltzer (1973) foi o autor que mais consistemente estudou a perversão da transferência, apontando para o risco da formação de um conluio perverso entre o par analítico, que consiste em um jogo de seduções por parte do paciente e que, na hipótese de o terapeuta ficar envolvido, e esse conluio ficar estabilizado, virá a acontecer que o paciente, ao invés de reconhecer suas limitações e conflitos, verá o seu analista “como uma prostituta, uma ama-de-leite, viciada na prática da psicanálise e incapaz de conseguir melhores pacientes”. Transferência Perversa Transferência de Impasse Forma de designar aqueles períodos transferenciais típicos de situações de “impasses analíticos”, que podem culminar com a situação de uma “reação terapêutica negativa”. Em casos mais extremos, essa forma de transferência pode atingir o estado conhecido como psicose de transferência, tal como Rosenfeld a conceitua. Psicose de Transferência Também a denomina “psicose transitória”, pois se refere ao fato de que o surgimento dos “fenômenos psicóticos em geral só se ligam à transferência, interferindo muito pouco com a vida do paciente fora da análise”. Segundo Rosenfeld, essa “psicose de transferência”, ou “transitória”, surge em pacientes neuróticos ou borderlines, durante a análise, e desaparecem após dias, semanas ou talvez meses, podendo voltar periodicamente. “Qualquer psicose de transferência é uma ameaça grave à análise, rompe a aliança terapêutica e pode levar a um impasse analítico completo”. A TRANSFERÊNCIA NA PRÁTICA ANALÍTICA Em relação ao setting: A conceituação da transferência como sendo uma repetição de necessidades delega ao setting uma considerável importância no processo analítico, que passa a representar para o paciente um novo e singular espaço, no qual ele poderá reexperimentar e transformar aquelas vivências emocionais traumáticas, mal resolvidas, desestruturantes e representadas no ego de forma patogênica. Assim como a transferência do analisando promove um estado contratransferencial do analista, da mesma forma a moderna psicanálise vincular considera que a transferência do analista também pode condicionar e estruturar a resposta transferencial do paciente. Os aspectos reais do analista que podem determinar uma influência na transferência do paciente dizem respeito desde os detalhes do consultório, o sexo, idade, como também a sua ideologia, a escolha do material a ser interpretado e a forma de ele interpretar. Em Relação às Resistências Em Relação às Interpretações Em Freud, resistência e transferência aparecem muitas vezes superpostas, como se fossem sinônimos, mas eles não o são, apesar de que a primeira delas pode servir de suporte para a segunda e vice-versa. Continua vigente a questão que Freud levantou em Além... (1920): “é a resistência que causa a transferência, ou é o inverso? “. O analista deve ter bem presente o fato de que em muitos casos, especialmente com pacientes que ainda estão detidos em uma ligação diádica, ele funciona, na transferência, com um papel ao mesmo tempo materno e paterno. Em Relação às Interpretações Há um esquema proposto por A. Alvarez (1992), que aponta para quatro modalidades de manifestações transferenciais, cada uma delas exigindo, por parte do analista, um manejo técnico especificamente apropriado, inclusive quanto à forma de interpretar ou de não interpretar. As 4 modalidades transferenciais são caracterizadas pelo fato de que: 1) Há um predomínio das repressões, tal como acontece nas neuroses em geral, e que tão profundamente aprendemos com Freud. 2) A partir das contribuições de M. Klein acerca do psiquismo arcaico, a transferência passou a ser vista prioritariamente a partir das identificações projetivas na pessoa do analista, e portanto da necessidade de ele perceber onde estão ocultas as partes negadas, dissociadas, fragmentadas e projetadas daquelas relações objetais internas e de tudo mais daquilo que o analisando não tolera reconhecer em si próprio. 3) O pêndulo psicanalítico inclinou-se para a relação do psicanalista com a parte psicótica da personalidade do paciente, com os respectivos vínculos de “amor”, “ódio” e “conhecimento” e com uma ênfase no seu papel de “continente”. 4) Alvarez, fundamentada em sua larga experiência com crianças autistas, sugere a existência de uma quarta possibilidade, que consiste no fato de que tais crianças estão tão rompidas com a realidade exterior que não chegam a desenvolver uma transferência. Nesses casos, não adianta o terapeuta ter uma boa condição de “continente” já que as crianças sequer olham para ele, mas sim através dele, impossibilitando um contato afetivo mínimo. As crianças que desenvolveram um autismo secundário não estão fugindo ou ocultando-se, elas estão, de fato, perdidas, e necessitam de que o terapeuta vá, ativamente, ao seu encontro. Em Relação às Interpretações *Fim* Obrigada.
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