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África Pré Colonização_Resumo_Estácio

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Estácio - História da África Pré-Colonização
 
Resumo da Aula 01 – História da África Pré-Colonização
Acredito eu que você, querido leitor, já deve ter lido ou assistido as histórias de Tarzan, o Rei da Selva, certo? Pois bem, uma das histórias mais famosas da literatura mundial ambientada no continente africano é a do Tarzan. Escrito pelo americano Edgar Rice, em 1912, a história conta sobre um menino branco, filho de ingleses, que ainda bebê acompanha seus pais a uma viagem para África. Devido a uma sequência de tragédias, os pais de Tarzan morrem e ele é criado por uma macaca em meio à selva africana. Tarzan se tornou um personagem tão cativante que outros atores passaram a narrar suas incríveis histórias. Porém, na realidade, tais referências ao continente africano ajudaram a formar uma determinada ideia da África. A história de Tarzan reforçou uma imagem já difundida da África, na qual o continente aparece como uma região homogênea, terra de leões, girafas, zebras e também de algumas tribos compostas por homens e mulheres negros que se vestiam como leopardos e possuíam pouco contato com o que se costuma chamar de “mundo civilizado”. Em outras palavras, a história de Tarzan coroou, no Ocidente, a imagem de uma “África Selvagem”.
Apesar das florestas densas com seus leões, macacos e elefantes, caracterizá-la unicamente como uma grande selva seria um erro geográfico e histórico. Do ponto de vista geográfico, a floresta é uma das diversas vegetações existentes na África. Além das florestas da zona equatorial, a África ainda possui as savanas, as estepes, mediterrânea, desértica e oásis. Cada uma dessas vegetações está relacionada a um clima diferente, que por sua vez estão ordenados de forma muito parecida a partir da linha do Equador tanto ao norte quanto ao sul, considerado como “continente espelho”.
Embora não esteja explicitado nesse mapa, o continente ainda apresenta diferentes relevos e diversas paisagens litorâneas, além das estreitas relações com outros continentes, devido a sua proximidade com a Europa (via Mar Mediterrâneo) e com o Oriente Médio (via Mar Vermelho). Podemos ver através dessas informações que não podemos pensar em uma única África. Ou seja, tal como no continente europeu, asiático e americano, o hábitat natural teve grande influência nas diferentes formas de organização social dos povos africanos. Embora o continente africano seja muito extenso, a concentração de bacias hidrográficas em determinadas regiões e a falta delas em outras localidades, acabou criando condições às quais os grupos humanos tiveram que adaptar-se. Sendo assim, uma das principais estratégias de sobrevivência das sociedades africanas foi se organizar em pequenos grupos conhecidos como as famosas “tribos” da África.
Entretanto, um dos grandes problemas encontrados pelos historiadores ocidentais para estudar a história da África devia-se ao fato de a maior parte das sociedades africanas serem ágrafas, ou seja, elas não haviam desenvolvido a escrita, ou então não a usavam de uma forma sistemática. Então, os povos africanos, bem como os outros povos da Ásia, da América e Oceania, eram considerados desprovidos de história, porque não haviam feito registros escritos de seu passado. Sendo assim, os primeiros historiadores do continente foram os antropólogos, arqueólogos e linguistas. Ainda que a escrita seja a principal forma de acessar o passado, os historiadores do século XX ampliaram seu diálogo com outras disciplinas, sobretudo com a Arqueologia, Antropologia, Sociologia e Linguística.
Uma das maiorias contribuições desses historiadores foi apresentar para o Ocidente que a África era um continente complexo, que precisava ser analisado dentro de sua complexidade, mas que, em muitas vezes, sua história estava mais próxima da perspectiva eurocêntrica do que os próprios europeus imaginavam. Por um outro lado, como a imensa maioria das sociedades africanas era ágrafa, a principal forma que elas se desenvolveram para guardar e resgatar seu passado foi por meio da oralidade, ou seja, da palavra falada.
 
Resumo da Aula 02 – A África “Próxima”: O Continente Africano na Antiguidade Clássica
O Egito – A existência do Antigo Egito estava fortemente vinculada ao rio Nilo. Com todas essas vantagens naturais, as famílias que passaram a viver nessa região encontraram as condições ideais para a produção da agricultura. A vegetação rasteira facilitou a criação de gado, carneiros e porcos que junto com os grãos e frutos cultivados proporcionavam uma alimentação rica e variada. Por volta de 3200 a.C, as aldeias que tinham seus chefes e deuses próprios começaram a se unir e formaram dois reinos: o Alto e o Baixo Egito. Pouco tempo depois, o rei Menés do Alto Egito, querendo ampliar suas terras e controlar toda a produção agrícola da região, conquistou o Baixo Egito formando um só reino cuja capital era Mênfis. Durante mais de três mil anos, o soberano do Egito era o faraó, a principal figura desse reino. Tido como a reencarnação de Hórus (o Deus-Falcão) e como filho de Amon-Rá, o Deus Sol, o faraó era uma figura sagrada, um deus na terra, e por isso a vida de todo Egito girava em torno dele, o que lhe dava muitos poderes.
Apesar das diversas tarefas realizadas, o faraó tinha as melhores condições de vida de todo o Egito. E para governar todo o reino, o faraó recebia ajuda de nobres, pessoas que faziam parte da família real ou que tinham enriquecido ao longo da vida. Esses nobres cuidavam de assuntos administrativos menores, resolviam pequenos problemas jurídicos e vigiavam a cobrança de impostos.
Os soldados foram importantes personagens da história do Egito Antigo. Graças ao uso do cavalo e ao manejo de armas como arco e flecha, punhais, machados de guerra, espadas e cimitarra, o exército do Egito conseguiu conquistar a Núbia, ampliar suas redes comerciais e também expulsar o povo hicso (povo originário da atual Síria que dominou o Egito por volta do ano de 1600 a.C. Cerca de quarenta anos depois os hicsos foram expulsos pelos egípcios).
Contudo, a principal força do Egito eram seus trabalhadores:
Escribas – Únicas pessoas que sabiam ler e escrever em todo reino. Eles documentavam e controlavam a cobrança de impostos, a produção de alimentos, a escrita de leis e costumes e contando as histórias dos faraós. O alfabeto hieroglífico era composto por inúmeros símbolos, sendo que cada um deles poderia representar até cinco palavras. Por isso, ser escriba exigia muito estudo e dedicação;
Artesãos – Comandavam a construção de casas, túmulos e templos religiosos. Havia também artesãos que fabricavam móveis e, também, trabalhavam com minérios como cobre, o ferro e o ouro. Haviam outros artesãos que faziam objetos de arte, como pinturas e esculturas;
Comerciantes – Eles faziam o comércio do reino egípcio com outras regiões do norte da África e até mesmo com o sul da Europa e com o Oriente Médio. O comércio era realizado tanto por terra (no lombo dos burros), como nos rios, por meio das embarcações. O vinho e os artesanatos eram os principais produtos comercializados. Essas mercadorias eram trocadas com o ouro e o cobre da Núbia; o marfim, as peles de animal e as penas de avestruz vindas da África subsaariana; a cerâmica, os cavalos, a prata e os escravos do Líbano; e as cerâmicas produzidas em Creta;
Agricultores – A maior parte da população do Egito era formada por camponeses e a vida dessas pessoas era regrada de acordo com as fases do Nilo. Julho era o mês de chuva e as margens do rio inundavam. Nesse período, os camponeses não trabalham na terra e muitas vezes eram empregados nas construções do faraó. Em novembro, quando a chuva passava, os camponeses aravam o solo e jogavam as sementes. No fim de março se iniciava a colheita, principalmente do trigo, produto que era levado para o celeiro;
Os trabalhadores egípcios costumavam construir suas casas em regiões mais altas para que não fossem inundadas na época de cheia do Nilo. E, por fim, na condição social mais baixa estavam os escravos. Eles realizavam as atividadesárduas e penosas como o trabalho nas minas; a construção de pirâmides e de templos religiosos; e até a preparação dos corpos que seriam mumificados. Tais escravos não eram egípcios e sim pessoas oriundas de regiões que haviam sido conquistadas pelo Egito.
Os egípcios eram politeístas e parte dos seus deuses estava ligada aos fenômenos da natureza, como o Sol, a Lua e a terra; outros misturavam a forma animal com a forma humana (deuses antropozoomórficos); e também haviam deuses que representavam ideias como honra e justiça. Os sacerdotes e sacerdotisas viviam para a religião e cuidavam para que os templos fossem respeitados e que os deuses fossem corretamente cultuados. Amon-Rá, o deus criador, teve uma cidade inteira em sua homenagem chamada Heliópolis.
A partir do ano 300 a.C, depois de inúmeras disputas com Núbia, e com povos do Oriente Médio e Sul da Europa, o Império dos faraós caiu nas mãos dos persas e, duzentos anos depois, após o suicídio de Cleópatra, se transformou em uma província de Roma.
A Núbia – Núbia era uma região que ficava ao sul do Antigo Egito e que abrangia o começo do rio Nilo e as áreas próximas que hoje fazem parte dos países do Egito, da Etiópia e do Sudão. Durante milhares de anos, a Núbia teve grande importância na história da África, pois foi por meio dessa região que ocorreu o primeiro contato entre a África subsaariana com o norte do continente. Graças a Núbia que persas, gregos, romanos e muçulmanos souberam da existência de uma África que ficava ao sul do deserto do Saara. O reino era formado por diferentes cidades que viviam da intensa atividade comercial. Por volta de 3200 a.C, iniciou-se a formação do mais importante reino núbio: Kush. Kush foi um reino governado pela mesma linhagem real, o que garantiu a manutenção de suas tradições. Embora tivesse grande poder, o rei cuxita deveria governar de acordo com os costumes do reino. Caso cometesse algum delito grave, como o desrespeito aos deuses, era possível que os sacerdotes o obrigassem a cometer suicídio como forma de pagar pelo seu erro. A rainha-mãe no reino Kush era responsável pelas principais cerimônias religiosas do reino e, em alguns casos chegou a exercer cargos de chefia sob o título de “Senhor das Duas Terras”.
Os sacerdotes cuidavam das cerimônias e dos templos religiosos do reino. Os deuses cultuados pelos cuxitas tinha correspondência com os deuses egípcios. Junto com os deuses egípcios (Ísis, Horus..), os cuxitas também acreditavam no deus-leão Apedemak, um deu guerreiro representado pela cabeça de um leão. E Sebiumeker era um deus criador.
Os marceneiros e carpinteiros construíam diferentes tipos de móveis que ornavam as casas mais ricas do império. Os ferreiros e as ceramistas fabricavam vasilhas e instrumentos cortantes que eram utilizados pelos cuxitas; Os joalheiros eram os artesãos que mais ganharam dinheiro com a venda de suas jóias. O ouro utilizado era retirado das minas localizadas próximas ao Mar Vermelho e que representavam a maior riqueza do reino de toda Núbia.
Cerca de seiscentos anos depois, os cuxitas conseguiram expulsar os egípcios e retomar o governo sobre sua terra. A capital do reino Kush foi transferida de Kerma para Napata, cidade na qual é possível observar a forte influência que os egípcios tiveram sobre os núbios. A escrita dos napatamos era muito parecida com o sistema de hieróglifos do Egito, e os reis passaram a ser enterrados em pirâmides.
A posição estratégica da Núbia e a abundância de ouro e cobre fizeram com que a região fosse constantemente invadida por povos vizinhos, como os egípcios (1500 a.C.). Por volta de 600 a.C., Napata foi invadida e Meroe se tornou a nova capital do reino, e passou a atrair as rotas comerciais que ligavam a África subsaariana com o Mediterrâneo. A soberania do reino de Kush chegou ao seu final com a invasão romana, contudo, os vestígios de sua história são um convite para estudar uma África pouco conhecida.
 
Resumo da Aula 03 – A África Tradicional: Uma Análise das Matrizes Africanas
Na história da África, podemos ver comunidades tradicionais africanas que sobreviviam da atividade pesqueira; outras dependiam da criação de gado e muitas que viviam da produção agrícola. Além disso, nem todas essas sociedades se organizavam da mesma forma: existiram aldeias, clãs de aldeias e até mesmo cidades-estados e reinos. O convívio entre essas comunidades também não era sempre pacífico e harmonioso. Por diferentes razões esses grupos travavam guerras entre si e muitas vezes escravizavam grupos vizinhos. Muitas das características em comum encontradas em diversas sociedades africanas, sobretudo na África subsaariana, são decorrentes de um movimento migratório ocorrido entre três e quatro mil anos atrás, denominado Expansão Bantu.
O bantu era uma das subdivisões da família linguística Niger-congo, que era falado por populações que habitavam as proximidades do rio Niger. Devido ao aumento populacional e ao desmatamento decorrentes da pesca e do cultivo de gêneros alimentícios, os grupos humanos que ocupavam essa região iniciaram dois grandes processos de migração em busca de novas terras. O primeiro processo partiu da região central de Camarões e rumou para o norte da atual República Democrática do Congo e para a África Oriental. Já o segundo movimento de migração das línguas bantu, saiu da região da floresta do sudeste da Nigéria e expandiu-se para a bacia do rio Congo e seus afluentes, chegando ao sul da África. Os grupos de caçadores coletores que entraram em contato com essa “onda de migração”, adotaram as línguas bantas para se aproximarem e negociarem com os grupos recém-chegados. Desse encontro surgiram inúmeras sociedades que, embora fossem diferentes e muitas vezes inimigas, guardava traços socioculturais semelhantes.
Uma das principais instituições das chamadas sociedades tradicionais africanas era a família, pois era a família que primeiro definia o pertencimento dos indivíduos no grupo. As famílias africanas eram extensas, formadas não só pela mãe, pai e seus filhos, mas também pelos avós, tios, sobrinhos, netos e primos que tinham um ancestral em comum. As condições naturais de muitas regiões africanas nem sempre eram das boas para a sobrevivência humana. Desse modo, por meio de uma rede de direitos e deveres que, estabelecidos hierarquicamente, as famílias extensas conseguiram garantir a vida da comunidade. Os adultos eram responsáveis pelo sustento da linhagem, os mais velhos ocupavam os cargos de chefia das comunidades, e eram responsáveis pelos rituais de iniciação dos mais jovens e cultos aos ancestrais familiares. Não por acaso, a poligamia era prática comum nessas sociedades, pois permitia o crescimento constante das linhagens e a manutenção da ampla rede de parentesco. De forma geral, todas as atividades que estivessem relacionadas com o espaço doméstico eram realizadas pelas mulheres adultas (entre 15 e 40 anos). Já os homens da mesma idade cabia a criação de animais, a atividade pesqueira, a caça, a segurança da comunidade.
Junto com a noção da família extensa, a religiosidade era uma das características definidoras das sociedades da África Subsaariana. Embora cada comunidade acreditasse em um ou em vários deuses próprios, as formas por meio das quais os membros desses grupos entravam em contato com o divino era muito semelhante. Praticamente todas as sociedades da África Subsaariana acreditavam na coexistência do mundo dos mortos e por isso realizavam o culto aos antepassados acreditando que eles eram uma espécie de semideuses que serviam como intermediários na comunicação com forças maiores. Os sacerdotes (homens ou mulheres) eram responsáveis por boa parte das cerimônias religiosas, comandavam os rituais de iniciação e eram as pessoas mais capazes para ler os possíveis sinais dos deuses, bem como os jogos de adivinhação. Os feiticeiros tinham atributos semelhantes ao dos sacerdotes, mas o fato de saberem alterar as características físicas de alguns elementos da natureza faziam com que fossem figuras ao mesmotempo temidas e respeitadas pelo grupo. Muitos dos feiticeiros também eram ferreiros devido ao poderoso conhecimento de como alterar a natureza.
De maneira geral, era por meio da palavra falada que o conhecimento era transmitido de geração para geração. Os domas eram homens treinados para guardar a memória de um povo. Esses homens eram capazes de memorizar a história de quase todos os antepassados da sua comunidade e se transformavam numa espécie de “documentos vivos” da sociedade. Os domas também nunca mentiam, pois mentir significava quebrar o elo que os ligava com a memória e a história daqueles que havia vivido antes deles. Era a maior ofensa que poderiam fazer. Os griots, diferente dos domas, falavam muito e contavam diversas histórias, muitas vezes acompanhadas de músicas e danças. Nas noites mais quentes, os jovens das aldeias sentavam-se em volta de uma pequena fogueira e ouviam histórias contadas e cantadas pelos griots e pelos homens mais velhos da comunidade.
 
Resumo da Aula 04 – A Chegada do Islã ao Continente Africano
O Islamismo chegou ao continente africano no século VIII e tal evento trouxe muitas mudanças para a África. É uma religião monoteísta que começou a ser pregada no século VII na região da atual Arábia Saudita. Seu principal profeta foi Maomé, um comerciante da região que um dia começou a receber visitas do anjo Gabriel. A partir de então, Maomé passou a transmitir os preceitos que lhe eram revelados e rapidamente ganhou diversos seguidores. Uma das principais atividades do muçulmano era difundir o islamismo por todo mundo. Essa difusão ocorreu de duas formas: por meio de negociações comerciais e por meio das jihads. As jihads eram guerras santas travadas pelos muçulmanos. Tais guerras tinham por objetivo converter outros povos aos islamismo e escravizar os “infiéis”, ou seja, aqueles que se recusavam a crer em Alá.
Rapidamente, o islamismo chegou ao norte da África. Porém, durante mais de cento e cinquenta anos, os muçulmanos não conseguiram converter os povos seminômades que viviam nos oásis do Saara e que controlavam boa parte das caravanas de camelos que atravessavam o deserto. No século X, o sacerdote muçulmano Abdallah Ibn Yacine foi designado para cuidar da conversão dos berberes. No entanto, o sacerdote foi muito mal recebido e expulso da região. Em seguida, o sacerdote Yacine partiu para um local desconhecido da costa Atlântica acompanhado por dois berberes: Yara ibn Omar e seu irmão Abu Bakr. Neste local, eles começaram a receber novos adeptos e criaram uma espécie de convento militar muçulmano, o ribat, cujos membros eram chamados de Al-Morabetin. Em pouco tempo, os almorávidas transformaram-se em um dos principais braços armados do islamismo, levando a palavra de Alá para regiões distantes como a Península Ibérica e a África Subsaariana.
O comércio foi a porta de entrada do islamismo nas cidades de Ifé e Benin. Já a realeza do Império do Mali se converteu às crenças do Islã sob o governo de Mansa Musa, inúmeras mesquitas e escolas muçulmanas foram construídas em todo o Império. Todavia, a primeira grande sociedade subsaariana a entrar em contato com os muçulmanos foi o reino de Gana que, até então, vivia de acordo com seus preceitos iniciais. Gana, também conhecido como o “país do ouro”, foi fundado no século IV pelo povo africano Soninquê e entrou em decadência no século XIII. Durante aproximadamente mil anos, Gana exerceu influência sobre outros povos da África Ocidental e ficou conhecido na Europa e no Oriente Médio por suas minas de ouro. Segundo os viajantes árabes, Gana era o nome dado aos reis desse estado. Além de ser chamado de Gana (chefe de guerra), o soberano poderia responder por Caia-manga (rei do ouro) e turca. Além do controle sobre o ouro, o caia-manga também exercia um forte poder político sobre o restante da população e era tido como uma figura quase sagrada. Quando sua chegada era anunciada, as pessoas que estavam presentes se ajoelhavam e jogavam pó sobre suas cabeças como forma de reverenciá-lo. Além de suas ricas vestimentas, o rei era acompanhado pelo seu exército particular, pelos filhos dos chefes de aldeias e pelos ministros que ajudavam a governar.
Kumbi Saleh, do Império Gana, era um complexo murado cujo interior tinha um palácio feito de pedras e madeiras. Ao redor da cidade havia cabanas e pequenos bosques onde viviam os feiticeiros. Esses bosques eram lugares guardados onde ninguém poderia entrar sem autorização, sobretudo os estrangeiros eram proibidos de entrar. Além de comportarem os santuários religiosos, eram nos bosques que os antigos ganas estavam enterrados e era para lá que muitos criminosos eram mandados. Além da capital, o reino de Gana abrangia diversas aldeias cuja maior parte dos moradores era composta por camponeses e criadores de animais. A mineração do ouro, responsável pela riqueza de Gana, era uma atividade sigilosa. Apenas os homens que trabalhavam na mineração e alguns traficantes sabiam a exata localização das minas. Isso permitia que o caia-manga pudesse controlar o ouro que era retirado de suas terras.
Embora Gana não tivesse convertido ao islamismo, durante muitos anos o reino teve boas relações com os muçulmanos que lá viviam. Foi no século XI que os almorávidas obrigaram Gana a se converter ao Islã. A chegada dos almorávidas mudou a estrutura econômica de Gana e a maior parte das zonas agrícolas foi transformada em pasto. Em 1204, o povo africano sosso invadiu e passou a controlar militarmente o reino. Muitos soninquês fugiram para outras regiões.
Se a chegada do Islamismo desarticulou o reino de Gana, a presença muçulmana na África representou a criação de uma intrincada rede de comércio. Cidades e reinos africanos tinham especial interesse no sal e nos produtos vindos da Europa e do norte da África que eram comercializados pelos muçulmanos. Os comerciantes muçulmanos compravam tantos escravos quanto escravas da África Subsaariana. As escravas africanas muitas vezes se tornavam esposas ou concubinas. Já os homens escravizados seriam transportados para outras regiões, inclusive China, Arábia Saudita e para a Europa e estavam sujeitos a executar os mais variados tipos de trabalho. Os transportes de escravos que precisavam atravessar o deserto do Saara, ocorriam junto com as caravanas de camelos. Tal travessia era extremamente difícil, pois o escravo a fazia a pé e muitas vezes carregando diversos produtos. Quase um terço dos escravos não aguentavam a jornada e morriam no caminho. Estima-se que dez milhões de africanos foram comercializados nesse período. Até mesmo cristãos europeus já foram condenados ao trabalho escravo nas galés de senhores árabes.
 
Resumo da Aula 05 – Povos da Curva do Niger: O Caso do Mali e de Songhai
O Mali foi um dos maiores e mais conhecidos impérios africanos. Localizado no alto do rio Níger, região que atualmente abriga partes dos países Senegal, Gâmbia, Guiné Bissau e Mali, esse império foi fundado pelo povo africano Malinquê  no século XIII e ficou mundialmente conhecido por suas minas e pelas proezas realizadas por seus imperadores. Assim como o governante de Gana recebia o título de gana ou caia-manga, o soberano de Mali recebia o título de mansa. Ao mansa cabia chefiar o exército e controlar a arrecadação de impostos pagos pelo restante da população. Era do soberano a palavra final nos assuntos administrativos e nas disputas jurídicas. Para governar uma área tão extensa, o mansa contava com o auxílio de dois importantes grupos sociais. De um lado, cuidando das questões administrativas do império, estava a linhagem real, uma espécie de nobreza do Mali, que controlava o pagamento de impostos feito pelas aldeias que deviam obediência ao mansa. Do outro, estava o poderoso exército do Mali, principal responsável pelas conquistas do império. Além da nobreza e do exército, o Mali adotou uma tática de dominação parecida com a que o Império Romano empregou durante suas conquistas. Ao invés de obrigar os povos dominados a viverem de acordo com seus costumes, o mansapreferiu respeitar as diferenças culturais que compunham seu império, desde que essas pessoas pagassem os impostos devidos. Assim como ocorreu em outras partes da África, o Mali também tinha homens livres que formavam castas de profissionais como os ferreiros, os carpinteiros e os artistas que trabalhavam com barro e metais. Esses homens e mulheres costumavam morar em bairros isolados nas aldeias e cidades do Mali e casavam apenas entre si.
Junto com os camponeses, havia um número significativo de escravos que trabalhava na produção agrícola do Mali. A maior parte desses escravos era empregada nas fazendas que pertenciam ao mansa. Outra parte trabalhava nas minas de ouro do império e um pequeno número deles era usado nas casas dos nobres e no palácio do mansa. Em geral, as aldeias camponesas do Mali preferiam realizar suas negociações com povos africanos que viviam mais a oeste e com quem trocavam milhete e arroz por peixe seco produzido na região litorânea. Embora as mercadorias do comércio transaariano não fossem consumidas por toda a população do Império, as rotas comerciais que ligavam o Mali com o norte da África deram riqueza e notoriedade ao império.
Além do incremento das transações comerciais, a chegada do Islamismo trouxe mudanças significativas para Mali. Mansa Musa foi o principal imperador islamizado do Mali. Em 1324, este imperador realizou uma peregrinação à Meca que tornou o Mali mundialmente conhecido. Para mostrar prosperidade de seu império, Mansa Musa distribuiu seu ouro pelo Egito ficando sem recursos para prosseguir a viagem. Graças ao empréstimo concedido por um rico comerciante de Alexandria, Mansa Musa pode terminar sua peregrinação. Embora o Islamismo tenha ganhado muito espaço no Império do Mali a partir do governo de Mansa Musa, é importante lembrar que a grande parte da população continuava a fazer o culto a seus antepassados e as cerimônias religiosas para seus deuses e entidades divinas.
No final do século XIV, diversos povos começaram a realizar saques em Tombuctu e outras importantes cidades do Mali. No século XV, os antigos territórios controlados pelo Mali, já enfraquecidos, foram passando para o comando do povo de Gao.
Songhai –  A história de Songhai começou cerca de mil anos antes da invasão ao império do Mali. Segundo a tradição (oral), a população Songhai habitava as margens de um dos afluentes do rio Níger e estava dividida em dois grandes grupos, os pescadores (sorkos) e os caçadores (gous), que viviam sob o controle de um sacerdote tirânico chamado Faran Makan Bote. No ano 500 d.C., um berbere de nome Za Aliamen matou o sacerdote e fundou a dinastia Diá, que passou a governar os Songhais. Quinhentos anos depois, a dinastia foi islamizada e transferiu a capital do reino de Cuquia para Gao. Contudo, a grande virada histórica de Songhai se deu quando Soni Ali subiu ao poder em 1464. Graças à forte cavalaria que compunha o exército e o controle de trechos estratégicos do rio Níger, durante o reinado de Soni Ali, Songhai conheceu sua maior expansão territorial. Ainda sob o comando de Soni Ali, diversas cidades que ficavam próximas ao rio Níger acabaram se tornando importantes entrepostos comerciais das rotas muçulmanas que faziam a travessia do Saara. Todavia, a figura do imperador Soni Ali era controversa devido às suas escolhas e práticas religiosas. Ele não tinha abandonado as crenças tradicionais e recorria sempre que necessário aos cultos, cerimônias e deuses dos antigos antepassados songhais.
Os grupos islâmicos que compunham a nobreza do Império Songhai fizeram com que a dinastia de Soni Ali fosse substituída por uma genuinamente muçulmana. Após a morte de Soni Ali, Muhamed Turê da dinastia áskia subiu ao poder. Embora um dos maiores e mais respeitados impérios da África Ocidental, as disputas internas pelo poder fizeram com que Songhai entrasse em decadência após a morte de Muhamed Turê e, em 1591, o território Songhai foi conquistado por Marrocos.
 
Resumo da Aula 06 – “Os Herdeiros de Ododua”: Sociedades da África Ocidental
Ifé, o Umbigo do Mundo – Construída por volta do século VI d.C., numa região de floresta tropical próxima aos rios Níger e Bernué, durante mil anos Ifé foi “o umbigo do mundo”, segundo os iorubas. O oni de Ifé, tido como rei divino, junto com a responsabilidade de legitimar todos os líderes das cidades-estados descendentes de Odudua, também deveria administrar assuntos “terrenos”, como a cobrança de impostos, o controle da agricultura e o intenso comércio que era realizado na cidade. Por ocupar uma posição estratégica na Costa Ocidental africana, a cidade de Ifé não só tinha uma agricultura e atividade pesqueira fértil, como também se tornou um importante polo comercial. Além dos habitantes da cidade, esse forte comércio atraia povos vizinhos como os nupês e os vangaras.
Junto com a religião e o comércio, a produção artística também era uma característica marcante da cidade de Ifé. As esculturas de cabeças, tanto em terracota como em bronze encontradas em escavações colocaram as esculturas de Ifé na mesma tradição artística encontrada no Egito Antigo, na Grécia e Roma Clássica e na Itália Renascentista, na qual os artistas procuravam alcançar a beleza perfeita por meio do retrato fiel do ser humano.
A Cidade de Benin e Seus Obás – Localizada ao sudeste de Ifé, a cidade Benin (atual Nigéria/não confundir com Benin) também acreditava ser descendente de Odudua e, embora fosse composta pelo povo edo, pagava tributos religiosos à Ifé. Benin era uma cidade-estado murada que se formou a partir da conurbação de diversos vilarejos próximos. Segundo a tradição oral, a unidade política de Benin só foi alcançada quando Eueca passou a governar a cidade como obá, o chefe soberano e divino. Eueca era filho de Erinuide, uma mulher edo, com Oraniá, filho de Odudua, e por isso herdeiro do trono de Ifé. Mesmo sendo um rei soberano e divino, os antigos chefes das aldeias que compunham a cidade de Benin, os uzamas, continuaram exercendo grande poder sobre sua comunidade.
A baixa fertilidade do solo fez com que Benin tivesse uma produção agrícola pobre. Em contrapartida, a sua localização geográfica permitiu que a cidade rapidamente se transformasse em um importante entreposto comercial. Foi justamente com o intuito de ampliar suas redes de comércio que Benin iniciou sua expansão militar. Sob o comando do obá, a cidade formou um poderoso exército que passou a dominar grandes mercados e controlar rotas fluviais de comércio. A ascensão de Ogun, que adotou o nome de Euare, representou o ponto de virada na administração da cidade. Durante o seu reinado, foi formado um conselho de estado do qual faziam parte tanto a nobreza do palácio de Benin quanto os chefes de pequenas cidades que haviam sido nomeados pelo próprio Euare e recebiam escarificações que os distinguiam dos demais habitantes e dos escravos. Euare também foi responsável pela reconstrução da cidade de Benin. Além de fortificar as muralhes, ele mandou construir grandes avenidas que separavam o palácio da cidade, onde dispôs as corporações de ofício em bairros específicos, cujas casas eram feitas de barro socado e cobertas de palha.
Como ocorreu com muitas sociedades da África Ocidental, a história de Benin sofreu muitas mudanças a partir da chegada dos europeus e do esclarecimento de relações comerciais.
 
Aula 07 – O Reino do Congo
O reino do Congo talvez seja uma das sociedades mais conhecidas da África, sobretudo depois da conversão de sua realeza ao Cristianismo no século XV. Fundado no final do século XIII e localizado no sudoeste do continente, chegou a abranger parte dos atuais países de Angola, Cabinda, República Democrática do Congo e o Gabão. O território do Kongo era banhado pelas bacias hidrográficas do Zaire, do Kwanza, do Cunene e do Zambeze. A vegetação dessa região era a savana, ao sul da floresta tropical. Antes do século XIII, o Congo era habitado por povos de origem bantu, que se organizavam em aldeias agrícolas. Tais sociedades eram governadas pelos candas, famíliasde linhagem que primeiro haviam ocupado o local. Sob a liderança de Nimi e Lukeni, os muchicongos formaram fortes alianças, criando assim o que os europeus intitularam de reino do Congo.
Apesar das diferentes narrativas sobre o reino do Congo, a fundação do reino aparece sempre vinculada à imagem de um herói fundador, que teria se colocado acima das chefias locais. Deste modo, a figura mais importante do reino era o manicongo, ou seja, o rei do Congo. Os registros deixados pelos portugueses reforçavam o poder político e religioso exercido pelo manicongo, que parece sempre representado como uma figura austera. Como exerciam o controle direto sobre as províncias, os governadores do reino do Congo tinham muito poder junto com o manicongo. E para não correr o risco de perder o trono, era comum que o manicongo possuísse uma esposa em cada uma das doze candas tradicionais do reino, o que garantia que o rei tivesse vínculos pessoais e familiares com os governadores do seu reino. Mas para evitar possíveis disputas políticas, era comum que o manicongo distribuísse a riqueza adquirida pela cobrança de impostos entre os seus pares.
Enquanto as cidades serviam como moradia para os grupos privilegiados, as comunidades de aldeias, conhecidas como lubatas, eram habitadas principalmente por agricultores e artesãos. As lubatas desfrutavam de menor poder político e seus chefes não tinham controle sobre a produção dessas regiões. Já nas cidades, a aristocracia não só era detentora daquilo que produzia, como era proprietária de escravos. Os habitantes das aldeias plantavam para o seu sustento e criavam animais para o pagamento dos tributos, além de aproveitarem o rio da região para a atividade pesqueira. Os artesãos podiam manejar o ferro e, também, produziam os tecidos de ráfia. Tais tecidos chegaram a ser utilizados como símbolos de poder e riqueza, e também como moeda nos principais mercados do reino.
A atividade mercantil também tinha grande importância no reino. Os diversos rios na região permitiram que produtos de outras partes do continente, como o sal e o cobre, chegassem até os principais mercados do Congo. Na questão da religiosidade, o manicongo e os governantes de província não eram as únicas pessoas com poder no reino do Congo. Os gangas, como eram conhecidos os feiticeiros, também tinham poderes sobrenaturais. Muitos cangas também eram exímios ferreiros, atividade considerada mágica na maior parte da África Subsaariana. Por causa desse grande poder, os gangas eram temidos e excluídos da sociedade, só sendo visitados em momentos especiais, como as crises econômicas e políticas.
No entanto, nem mesmo o poder dos feiticeiros ou dos manicongos impediu que o reino entrasse em decadência no século XVII. Existem diversas razões para o fim desse reino, mas a conversão do manicongo ao Cristianismo, ainda no século XV, e a criação do comércio de africanos escravizados para as Américas acabaram enfraquecendo as redes de poder dessa sociedade, fenômeno que atingiu outros povos da África Subsaariana.
 
Resumo da Aula 08 – As Sociedades da África Oriental
Na costa Índica do continente africano outras sociedades desenvolveram-se e, graças às articulações estabelecidas entre elas, via transações comerciais, estabeleceram interessante intercâmbio não só na parcela do continente africano banhado pelo oceano Índico, como também com outros continentes, principalmente o Asiático.
O Império Monomotapa – Foi fundado pelo povo xona por volta do século XIII, ao sul do rio Zambeze, ocupando parte do planalto do Zimbábue e chegando até o rio Limpopo. O planalto do Zimbábue possuía terras férteis e não era afetado pela mosca tsé-tsé (mosca do sono, mortal para animais como bois e carneiros), o que permitiu que os xonas ocupassem aquela terra. Graças à boa qualidade do solo e dos rios, os xonas conseguiram desenvolver a agricultura e a criação de gado, tornando-se os grandes senhores da região. Os xonas acreditavam em um deus supremo chamado Muári. Contudo, os homens só podiam entrar em contato com esse deus através dos espíritos dos mortos (vadzimu e umondoros), que eram cultuados do alto da colina.
O Grande Zimbábue – O tamanho de cada zimbábue estava relacionada com as pessoas que o habitavam. O Grande Zimbábue, por exemplo, era habitado pelo chefe dos xonas e por sua corte. Os vilarejos eram murados com grandes blocos de pedras que serviam como proteção para as casas construídas de dagas (mistura de argila com cascalho e esterco) e sapés. Tais muralhas ficaram conhecidas como zimbábues (significa casa de pedra ou casa do chefe).
O Ouro e o Comércio do Índico – A criação do gado já havia dado origem às principais redes de troca, todavia, a descoberta do ouro incrementou ainda mais as negociações nessa região. O ouro do Grande Zimbábue passou a ser negociado com as grandes cidades-Estados do litoral Índico do continente, como Quiloa e Sofala, permitindo que o Grande Zimbábue comprasse porcelana chinesa, vidros feitos pelos sírios e contas dos mais diversos lugares. Embora a população total do Zimbábue tenha chegado a aproximadamente 18 mil pessoas, essa sociedade entrou em decadência durante o século XV. O crescimento não controlado da população, a seca de alguns rios e o aparecimento da mosca tsé-tsé foram algumas das razões dessa decadência. Por isso, o chefe Niatsimba Mutota resolveu migrar para o norte em busca de novas terras, tendo sido acompanhado por parte da população. Essa nova sociedade do Grande Zimbábue ficou conhecida como Império Monomotapa, pois era governada pelo monomotapa, que significava “senhor dos cativos” ou “senhor de tudo”. A figura central do reino Monomotapa era o rei que tinha poderes divinos, pois ele fazia contato direto com os ancestrais. O monomotapa era assessorado por um conselho, formado por nove esposas, que controlava a cobrança de impostos e cuidava das terras. Mas, ao que tudo indica, o ouro que havia conferido prestígio e poder para o Império Monomotapa também foi seu algoz. No século XV, a escassez da mina causou uma grave crise econômica que acabou fragmentando-se em unidades políticas menores. Essa crise foi agravada com a chegada dos europeus, causando assim a decadência total do império.
As cidades-Estado do litoral Índico eram formadas por grupos sualis (significa costa). Os sualis dominavam técnicas agrícolas, a atividade pesqueira, o manejo do ferro e a construção de embarcações, atividade muito lucrativa. Entre os séculos XIII e XIV, as cidades Índicas mais conhecidas foram Sofala, Quiloa, Mogadíscio e Socotorá. Com a chegada dos muçulmanos no século XIII, essas cidades se transformaram em verdadeiros empórios do comércio que era feito com outras localidades do Índico. As monções do Oceano Índico muitas vezes obrigavam os comerciantes muçulmanos a passarem meses nessas cidades esperando o momento certo para retornar para a Ásia com seus navios repletos de mercadoria africana. Embora a atividade mercantil fosse a mais lucrativa, grande parte dessas cidades sendo a maior parte de origem banta (não islamizados), era formado por agricultores, pescadores, criadores de gado e ferreiros. A manutenção da agricultura e do pastoreio permitiu que tais cidades sobrevivessem aos períodos de crise que atacou praticamente todas as grandes cidades-Estado do Índico, até início do século XV. Como ocorreu com outras sociedades africanas, o contato com os europeus trouxe mudanças significativas na dinâmica sociopolítica dessas cidades do Índico. Mas foi no século XVII, quando um número significativo dos habitantes dessas localidades passou a ser escravizado e vendido para a América, por meio do tráfico transatlântico.
 
Resumo da Aula 09 – O Contato com os Europeus a Partir do Século XV
Os portugueses foram os primeiros europeus a explorar a África Ocidental a partir do século XV, época conhecida como período das Grandes Navegações. Os portugueses queriam ter acesso direto ao ouro africano que chegava à Europa pelas mãos dos muçulmanos e, também, estavam interessados em participar docomércio feito no Oceano Índico que, na época, era controlado pelos italianos e também pelos muçulmanos. Os tecidos luxuosos como a seda e veludo, especiarias como a canela e a pimenta, e o ouro e a prata são exemplos dos produtos que eram comercializados no Índico. Como o Mediterrâneo (caminho mais fácil para chegar às Índias) estava sob o controle dos muçulmanos, os portugueses resolveram contornar todo o continente africano para chegar à Ásia. O rei de Portugal e os principais comerciantes do país estavam investindo muita grana nas navegações. A conquista do Celta, em 1415, foi um grande feito que encorajou ainda mais os portugueses.
A partir de então, as viagens para as regiões africanas que ficavam abaixo do Saara tornaram-se frequentes. Em 1434, as expedições portuguesas aportaram na região da Guiné que, conforme visto anteriormente, era habitada por diferentes povos africanos como os iorubas, edos e acans. A partir dos contatos com o reino do Congo, os portugueses e os demais europeus começaram a estabelecer importantes redes comerciais com diferentes sociedades africanas. As primeiras tentativas portuguesas de ultrapassar a região litorânea da costa ocidental africana foram impedidas tanto pelas doenças que assolaram sua tripulação, como pelas batalhas travadas pelos africanos que, munidos com arco e flechas, pequenas espadas e ágeis pirogas, venceram as armas de fogo europeias. A soberania africana também impediu que os portugueses tivessem acesso às minas de ouro que haviam sido descritas pelos viajantes árabes. Por isso, rapidamente transferiram seus interesses comerciais para outra mercadoria: o escravo africano.
Por falar em escravidão, em primeiro lugar, os africanos não se reconheciam como iguais, ou seja: edos, acans, congos, fulas, iorubas, etc. não compartilhavam nenhuma identidade nacional. Foi o olhar eurocentrista dos europeus que fez com que essa massa heterogênea chamada de africanos fosse tratada no singular. Em segundo lugar, antes mesmo da chegada dos europeus, diferentes povos africanos já praticavam a escravidão. Contudo, a escravidão era tida como doméstica, que precisa ser compreendida dentro dos parâmetros da África Tradicional. Assim como ocorreu entre os povos europeus e sociedades ameríndias, o africano também já foi escravizado por um outro africano por ser visto como diferente e inferior. Os malinquês, por exemplo, nunca escravizaram pessoas de seu povo, mas sim outros grupos africanos que consideravam seus inimigos, os soninquês. A principal razão para a existência da escravidão na África se devia à falta de trabalhadores em determinadas regiões. No entanto, o número de escravos era pequeno nas aldeias africanas que praticavam a escravidão. Nessas sociedades havia uma preferência pela escravidão feminina, pois a mulher escrava produzia e reproduzia para a família de seu proprietário. Embora as escravas não tivessem o mesmo prestígio que as mulheres livres, elas também se tornavam concubinas ou esposas de seus senhores, ajudando assim a reproduzir o número de membros de uma determinada família.
Por um outro lado, o escravo da África Subsaariana não era uma mercadoria: ele não poderia ser comprado, só obtido por meio de guerras, sequestro e nascimento. Isso mudou com os europeus. Ainda no século XV, os portugueses compraram um grande número de escravos que seriam vendidos para outras sociedades europeias, ou utilizados como mão-de-obra na produção da cana-de-açúcar na Ilha da Madeira. A colonização da América fez aumentar ainda mais o interesse dos portugueses pelos escravos africanos. O tráfico transatlântico de escravos foi responsável pela retirada de mais de 12 milhões de africanos no curto período de 300 anos e, na época, foi uma das empresas mais lucrativas do mundo.
 
Resumo da Aula 10 – A Expansão Europeia e a Formação do Tráfico de Escravos até o Século XVIII
O tráfico transatlântico foi responsável não só por grandes mudanças no interior da África, mas também teve impacto mundial na medida em que os africanos comercializados acabaram tornando-se atores sociais fundamentais nas sociedades em que foram incorporados. Apesar do grande número de africanos escravizados, é importante lembrar que a escravidão é um fenômeno histórico que não se limitou a nenhum continente específico, e muito menos atingiu apenas um determinado biótipo humano. Os africanos não tinham nenhuma característica biológica que justificasse a sua escravização. O escravo era sempre o outro ou o estrangeiro, esteve ele próximo ou distante. Os atenienses, por exemplo, escravizaram os espartanos; os romanos escravizaram os gregos, espanhóis e eslavos; os egípcios escravizaram os núbios, etc. No caso africano, a escravidão sofreu fortes alterações a partir da chegada dos europeus. Ainda que os portugueses e outros europeus não tenham empreendido nenhuma invasão à África, a permissão concedida pela Igreja livrava-os de qualquer comprometimento moral com o fato de comercializarem africanos escravizados.
Congo e Angola – As primeiras grandes levas de africanos escravizados saíram dessas regiões. A compra massiva de escravos nessa região estava intimamente ligada com a conversão do rei do Congo ao catolicismo e a íntima relação que este reino passou a ter com os portugueses;
Gana – Entre os séculos XVI e XVII, portugueses e outros europeus começaram a comprar africanos escravizados da região que ficou conhecida como Costa do Ouro habitada pelas sociedades acans, fantis e mandingas.
Benin – Nos séculos XVII e XVIII, o tráfico atlântico ampliou sua área de atuação para a região do Golfo do Benin que ficou conhecida como a Costa dos escravos devido ao grande número de africanos que de lá saíram.
Moçambique – Durante o final do século XIII e início do século XIX, o comércio com a região Congo-Angola foi reaquecido. A constante busca de cativos fez com que portugueses e brasileiros iniciassem o tráfico com a África Oriental, principalmente com a região do atual país Moçambique.
De modo geral, essa grande rede que permitiu a compra de milhares de africanos escravizados, era formada por quatro personagens principais. O primeiro personagem representa os africanos escravizados: homens e mulheres que habitavam aldeias e pequenas cidades africanas, situadas próximas ao litoral, e que não conseguiam resistir as guerras. O segundo personagem representa os mercadores ou os corretores que são os responsáveis pelo transporte dos escravos até os portes de embarque. Esses mercadores muitas vezes precisavam viajar para o interior do continente para conseguir comprar os cativos que seriam vendidos para as elites africanas e depois revendidos para os europeus. O terceiro personagem representa a elite das diversas sociedades africanas que via os escravos como mais uma das mercadorias comercializáveis. As elites africanas compravam os escravos trazidos pelos mercadores e os revendiam para os negociantes europeus. E, por fim, o quarto e o último personagem representa os próprios europeus que ficavam aportados nas feitorias construídas no litoral africano, esperando a chegada dos mercadores com a “carga” de escravos.
Ao chegar às cidades costeiras, os escravos eram colocados em barracões próximos às feitorias europeias e lá eram comprados por negociantes europeus e brasileiros. Como a travessia do atlântico não era barata, os traficantes esperavam ter o número suficiente de escravos para lotar os navios e só então realizar a viagem. Durante o período de espera nas cidades costeiras, esses escravos viviam presos e eram constantemente vigiados. Desejando o maior lucro possível, os traficantes empilhavam cerca de quinhentos escravos nos porões de cada navio. Nesses porões, os escravos passavam a maior parte da travessia amontoados uns nos outros e presos pelos pés ou pelos braços. Em pequenos grupos, os escravos subiam até a proa da embarcação para tomar sol, uma tentativa de diminuir o número de doenças tanto física quanto mentais dos escravos. Porém, conforme apontado, mais de 12 milhões de escravos africanoschegaram ao Novo Mundo, isso sem contar os outros milhares que morreram na travessia atlântica e os outros tantos que não conseguiram chegar à Costa litorânea da África. Muitos africanos escravizados preferiam a morte às intempéries do cativeiro na América. Por isso, o suicídio era uma prática relativamente comum ainda no continente africano. Aqueles que conseguiam fugir da rede do tráfico, embrenhavam-se nas matas e savanas da África formando organizações conhecidas como Quilombos.
Apesar de todo o horror, muitos africanos conseguiram construir laços de solidariedade durante a viagem. E, por fim, houve o caso daqueles que ficaram conhecidos como Retornados. Alguns africanos escravizados conseguiram comprar sua liberdade na América e juntar dinheiro suficiente para retornarem ao seu continente de origem. Juntos, esses retornados (conhecidos como Agudás e Tabons) reconstruíram suas identidades na África, apresentando assim outro lado da complexidade do Tráfico Transatlântico.

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