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Aula_08

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1 
 
 
 
 2 
AULA 8: PÓS-MODERNIDADE, JUDICIALIZAÇÃO DA (GEO)POLÍTICA E 
CONSTITUCIONALISMO ESTRATÉGICO 3 
INTRODUÇÃO 3 
CONTEÚDO 4 
O CONSTITUCIONALISMO DO ESTADO PÓS-SOCIAL DE DIREITO 4 
PARA ALÉM DA JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA 5 
A GLOBALIZAÇÃO, O FIM DA GUERRA FRIA E O CONSTITUCIONALISMO DA PÓS-
MODERNIDADE 13 
UM MUNDO A SER REFEITO: DESAFIOS DO CONSTITUCIONALISMO ESTRATÉGICO E 
DEMOCRÁTICO BRASILEIRO 20 
ATIVIDADE PROPOSTA 24 
REFERÊNCIAS 25 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 26 
CHAVES DE RESPOSTA 31 
ATIVIDADE PROPOSTA 31 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 31 
 
 
 
 
 3 
Introdução 
A presente aula pretende apresentar e discutir algumas características 
centrais e implicações do constitucionalismo da pós-modernidade, aqui 
compreendido como o novo ciclo democrático que surge com o fim da Guerra 
Fria e com a globalização da economia. 
 
A discussão se ocupa, preliminarmente, do fenômeno, ainda oculto na 
academia brasileira, que vai além da judicialização da política, para alcançar a 
judicialização da geopolítica. Na sequência dos estudos, pretende-se então 
identificar as bases epistemológicas que informam a construção do chamado 
constitucionalismo estratégico, que, em essência, acrescenta a dimensão 
estratégica à racionalidade das decisões jurídicas envolvendo as grandes 
decisões políticas fundamentais do Estado. 
 
O artigo também propõe um mapeamento conceitual acerca dos desafios do 
constitucionalismo brasileiro no limiar do terceiro milênio, trazendo reflexões 
multidisciplinares que envolvem o direito, a geopolítica e a economia. 
 
Sendo assim, esta aula tem como objetivo: 
1. Compreender as características principais que informam a pós-
modernidade, a judicialização da (geo)política e a nova dimensão 
estratégica da Constituição democrática. 
 
 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conteúdo 
O Constitucionalismo do Estado Pós-social de Direito 
O constitucionalismo da pós-modernidade, também chamado de 
constitucionalismo do Estado pós-social de Direito ou Estado pós-moderno de 
Direito, é um novo ciclo democrático que surge a partir do fim da Guerra Fria 
e do colapso do socialismo utópico soviético. Com efeito, como já visto 
preliminarmente na aula 6, trata-se de um novo paradigma constitucional que 
ainda se encontra em evolução. 
 
 5 
 
Apesar disso, não se pode negar que o constitucionalismo pós-moderno, num 
primeiro momento, apontou para a desconstrução do constitucionalismo 
social dirigente, notadamente a partir dos influxos da ideologia neoliberal. Daí 
o já estudado contraponto com o Estado neoconstitucional de Direito. 
 
Assim sendo, a presente aula visa introduzir na cultura jurídica brasileira o 
exame das relações entre o direito, a geopolítica e a economia (geodireito). 
Trata-se de um novo ramo da ciência jurídica, cuja linha epistêmica se propõe 
a estudar não apenas os desdobramentos da judicialização da política, mas, 
principalmente, a judicialização da geopolítica e seus desdobramentos na 
ordem jurídico-constitucional do Estado nacional. 
 
Para tanto, vamos seguir três grandes linhas temáticas, a saber: 
• A judicialização da geopolítica; 
• Os desdobramentos do fim da Guerra Fria e da globalização da 
economia no âmbito do constitucionalismo da pós-modernidade; 
• Os desafios do constitucionalismo estratégico do Brasil no século XXI. 
 
Para Além da Judicialização da Política 
Uma das principais características do constitucionalismo da pós-modernidade 
é o fenômeno da judicialização da política. De fato, nos dias de hoje, juízes e 
tribunais, notadamente o STF, decidem sobre problemas politicamente 
relevantes e é nesse sentido que se estabelece o fenômeno da judicialização 
da política. 
 
É importante compreender que o conceito de judicialização da política não é 
coincidente com o de ativismo judicial, já analisado na aula passada. 
 
Judicialização significa que, em nome do princípio da inafastabilidade do 
controle jurisdicional (direito de ação), questões políticas fundamentais do 
 
 6 
Estado são levadas ao poder judiciário, como, por exemplo, uma ação direta 
de inconstitucionalidade proposta pelo chefe do poder executivo contra uma 
determinada lei feita pelo Congresso Nacional. Observe, com atenção, que é 
o próprio sistema de controle de constitucionalidade que deu azo, nesse caso, 
ao fenômeno da judicialização da política. Ou seja, tal fenômeno não depende 
da vontade política de juízes e tribunais. 
 
Bem diferente, como vimos, é o ativismo judicial, este, sim, uma postura que 
parte do próprio poder judiciário na criação de direito, daí as posições 
conservadoras do não concretismo e das posições avançadas concretistas. 
 
Portanto, sob a égide do constitucionalismo da pós-modernidade, vive-se o 
contraponto que coloca, de um lado, o fenômeno da judicialização da política 
(decisões políticas fundamentais do Estado migram do Congresso Nacional 
para o Supremo Tribunal Federal) e, do outro, a criação jurisprudencial do 
direito sob a influência política do juiz (decisões judiciais criam direito ainda 
que submetidas à dificuldade contramajoritária). 
 
Essas perturbações/irritações do constitucionalismo democrático pós-moderno 
são inevitáveis em razão do papel do poder judiciário, tanto no controle da 
constitucionalidade das leis, como na realização das normas constitucionais. 
 
Nesse sentido, questão tormentosa se apresenta ao neoconstitucionalismo da 
pós-modernidade e à dogmática pós-positivista: Deve o juiz ser ativo na 
proteção da plena efetividade das normas constitucionais, agindo como 
legislador positivo e criando direito independentemente do legislador 
democrático, ou, não, deve o juiz limitar-se ao texto da lei, deixando para o 
legislador a tarefa de realizar as normas constitucionais mediante elaboração 
das normas infraconstitucionais? 
 
Duas imagens daí derivam: de um lado, a imagem do magistrado progressista 
neoconstitucionalista, isto é, a figura do juiz-herói, guardião axiológico da 
 
 7 
Constituição, protetor dos direitos fundamentais e da força normativa da 
Constituição, intérprete do verdadeiro sentimento constitucional de justiça. 
 
Do outro, a imagem do magistrado positivista, isto é, a figura do juiz-
máquina, juiz boca da lei, guardião da norma posta, defensor do dogma da 
certeza jurídica máxima e curador da aplicação axiomático-dedutiva da lei. 
 
É preciso, portanto, tratar com a devida acuidade científica o papel do poder 
judiciário no âmbito do constitucionalismo da pós-modernidade, porque 
ambas as imagens (juiz-máquina do positivismo jurídico e juiz-herói do pós-
positivismo jurídico) apresentam vantagens e desvantagens. 
 
Contemporaneamente, o Judiciário – enquanto parte integrante das forças 
políticas do Estado – se vê cada vez mais envolvido nos complexos problemas 
constitucionais que são levados para os tribunais, valendo desde logo fazer 
referência às questões de ordem geopolítica (demarcação das terras 
indígenas) e questões estratégicas (questões do meio ambiente versus 
construção de hidrelétricas na Amazônia), que irão dar ensejo ao assim 
chamado constitucionalismo estratégico. Nesse sentido, José Luiz Borges 
Horta alerta para a necessidade de imprimir ao constitucionalismo suas 
efetivas dimensões estratégicas. 
 
Marcelo Neves, por sua vez, inova substancialmente o debate em 
matéria constitucional com seu impactante Transconstitucionalismo, 
com o qual subverte criativamente a vinculação do fenômeno 
constitucional ao Estado nacionale o conecta de modo bastante 
atual ao universo da globalização. 
É necessário, no entanto, que os constitucionalistas, teóricos e 
filósofos do Estado percebam a importância de fazer avançar o 
constitucionalismo de modo a dar-lhe dimensões estratégicas. 
 O estabelecimento dos marcos do constitucionalismo estratégico 
incentiva um repensar amplo do fenômeno – tanto material quanto 
 
 8 
formal – do Estado constitucional, em ao menos três campos até 
aqui pouco explorados: político, econômico e cultural.1 
 
De tudo se vê, por conseguinte, que para além das grandes questões políticas 
nacionais que se apresentam ao poder judiciário, o juiz constitucional, sob a 
égide do neoconstitucionalismo na sua vertente estratégica, já não pode mais 
ficar atrelado à formulação de políticas internas, normativamente, pré-posta 
pelo legislador pátrio, mas, deve, sim, compreender o conteúdo geopolítico e 
geoestratégico que subjaz à questão constitucional sendo aferida de modo a 
poder aplicar concretamente os princípios constitucionais que materializaram 
o Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana. É a ele 
que cabe a arte de interpretar a lei, desvelando a noção de bem comum 
(Larenz). É a ele que cabe compreender a dimensão estratégica da questão 
constitucional que lhe é apresentada para decisão. 
 
Não se pode olvidar, portanto, que a força jurígena de decisões exemplares 
abre caminho para a realização do justo e justifica o movimento de invasão 
do direito, não apenas sobre a política e as relações sociais internas, mas, 
também, sobre a geopolítica como um todo (contexto funcional 
luhmanniano). É no contexto geopolítico que transitam os debates da elite 
intelectual do país, representantes das empresas multinacionais, jornalistas, 
líderes políticos, professores universitários, empresários nacionais com 
interesses diretamente ligados ao tema, doutrinadores, juízes, membros do 
Ministério Público, defensores públicos, advogados, etc. 
 
Daí nasce a figura de um novo ator ou centro de poder no Estado 
contemporâneo: a intelligentzia jurídica, intelectuais especializados do direito, 
guardiões dos direitos fundamentais, elite jurídico-política capaz de descobrir 
o sentido e garantir aquilo que é justo, o que é política e geopoliticamente 
correto. É a constitucionalização da geopolítica que se justifica a partir da 
 
1 HORTA, José Luiz Borges. Urgência e emergência do constitucionalismo estratégico. In: Revista 
Brasileira de Estudos Constitucionais. Ano1. N.1. jan/mar 2007. 
 
 9 
necessidade de o poder judiciário ser obrigado a penetrar no discurso 
geopolítico para poder aferir a questão constitucional trazida sob a roupagem 
de grandes políticas públicas. Isto transforma o poder judiciário em centro de 
poder político do Estado, isto é, uma força política do Estado em todas as 
suas dimensões, inclusive a estratégica e a geopolítica. 
 
Com rigor, este fenômeno da judicialização da (geo)política – aqui 
compreendido como a invasão do direito sobre a (geo)política – já era 
diagnosticado desde os tempos de Alexis de Tocqueville, valendo reproduzir 
in verbis, fragmentos de seu pensamento que impressionam pela atualidade e 
clarividência: 
 
O que o estrangeiro encontra maior dificuldade em compreender 
nos Estados Unidos é a organização judiciária. Quase não há, por 
assim dizer, ocorrência política na qual não se evoque a autoridade 
do juiz. De onde se conclui, naturalmente, que nos Estados Unidos 
o juiz é uma das primeiras forças políticas. (...) Aos olhos do 
observador, o magistrado dá a impressão de jamais se imiscuir nos 
negócios públicos a não ser por acaso; só que esse acaso acontece 
todos os dias. (...) De onde vem esse poder? (...) A causa acha-se 
neste fato singular: os americanos reconheceram o direito dos 
juízes de fundamentar suas sentenças mais na Constituição do que 
nas leis comuns. Em outras palavras, é-lhes permitido não aplicar 
as leis que lhes pareçam inconstitucionais. (...) Os americanos 
outorgaram a seus tribunais um imenso poder político. Mas, 
obrigando-os a só arguir as leis por meios judiciários, diminuíram 
bastante o perigo desse poder. Se o juiz tivesse podido arguir as 
leis de uma forma teórica e geral, se lhe tivesse sido possível tomar 
a iniciativa e censurar o legislador, teria entrado com estardalhaço 
no cenário político. Tornar-se-ia, então, paladino ou adversário de 
um partido e assumiria todas as paixões que dividem o país, ao 
participar da luta. (...) O juiz americano é, por conseguinte, levado 
ao terreno da política, independentemente de sua vontade. Ele só 
julga a lei porque tem de julgar um processo, e não pode eximir-se 
de julgar um processo. A questão política que ele deve resolver 
liga-se ao interesse dos pleiteantes, e não poderia recusar-se a 
 
 10 
decidi-la sem incorrer na negação da justiça. É cumprindo os 
rigorosos deveres impostos à sua profissão que o magistrado 
pratica sua cidadania. 2 
 
 
Verdadeiramente admirável a lição tocquevilliana quando destaca que o poder 
judiciário é uma das primeiras forças políticas dos Estados Unidos, o que 
evidentemente faz do magistrado um dos principais decisores (geo)políticos 
da nação. E assim é por dever de ofício, na medida em que, ao decidir a 
questão político-estratégica que lhe é submetida, o juiz decide o destino do 
país. 
 
É cumprindo sua missão judicante que o juiz penetra na esfera (geo)política. 
De observar-se, por conseguinte, que o fenômeno da judicialização da 
(geo)política decorre da própria atividade jurisdicional, sendo por isso mesmo 
necessário que se trace um limite para sua atuação. Da mesma forma com o 
que ocorre com o fenômeno da judicialização da política, a invasão do direito 
sobre a geopolítica somente dará bons frutos quando acompanhada pela 
autolimitação que o juiz a si próprio deve impor-se, abrindo o espaço 
normativo para a vontade majoritária democraticamente respaldada. 
 
É bem de ver, pois, que o eixo hermenêutico do constitucionalismo da pós-
modernidade imprime mais uma dimensão à atividade exegético-
concretizadora do poder judiciário e que é a dimensão estratégica, travestida 
sob a forma de políticas públicas feitas pelo Congresso Nacional. De toda esta 
análise, como bem destaca o Professor Guilherme Sandoval Góes, é 
importante extrair a intelecção de que a efetividade ou eficácia social dos 
direitos fundamentais e a própria força normativa da Constituição podem 
estar sorrateiramente subordinadas a uma grande questão geopolítica ou 
estratégica envolvendo o país e outros Estados nacionais. 
 
2 HORTA, José Luiz Borges. Urgência e emergência do constitucionalismo estratégico. In: Revista 
Brasileira de Estudos Constitucionais. Ano1. N.1. jan/mar 2007. 
 
 11 
 
Ou seja, a concretização dos direitos constitucionais, notadamente, os direitos 
fundamentais de segunda dimensão, não depende apenas da superação dos 
problemas de ordem interna (desigualdade e exclusão sociais, baixa 
escolaridade, corrupção, grau de pobreza etc.), mas, também, da capacidade 
de identificar e reconhecer o jogo geopolítico e seus reflexos na ordem 
jurídica interna. 
 
Assim sendo, no âmbito da judicialização da (geo)política, o juiz constitucional 
se depara com inúmeros desafios estratégicos, sendo certo afirmar que 
somente após identificar ou pelo menos reconhecer as consequências no 
campo interno, é que deve então decidir juridicamente o caso concreto. 
Assim, a decisão judicial – no plano do constitucionalismo estratégico – é 
aquilo que o juiz-intérpretedesvelou ou designou entre muitas outras 
alternativas exegético-estratégicas com diferentes impactos na ordem 
constitucional e, em casos que prejudiquem o interesse nacional, a opção 
deve ser pelo reconhecimento daquela que garanta os direitos fundamentais, 
especialmente a dignidade da pessoa humana do cidadão brasileiro comum. 
 
Em suma, o que se quer aqui ressaltar é o fato de que os problemas do 
fenômeno da judicialização da política não ocorrem apenas por força de 
fatores internos, e.g., disputa partidária pelo poder político, mas, também, 
pelas tensões advindas do jogo geopolítico mundial e seu complexo quadro 
de desregulamentação jurídica do mercado global. 
 
Com efeito, há que se compreender que, no plano epistemológico do 
constitucionalismo da pós-modernidade, as grandes questões estratégicas 
mundiais transcendem as fronteiras dos Estados nacionais para desaguarem 
no âmbito normativo de proteção dos direitos fundamentais do cidadão 
comum. Dessarte, o sistema constitucional pós-moderno passa a ser 
 
 12 
alimentado por argumentos políticos, como querem Larenz 3 e Paulo 
Bonavides, 4 lado a lado com argumentos geopolíticos e estratégicos, 
dificultando ainda mais o descobrimento do direito pelo intérprete. 
 
E assim é que, diante da ideia de argumentos políticos de Larenz/Bonavides e 
agora, também, de argumentos geopolíticos e estratégicos, a interpretação 
constitucional pode mostrar-se cada vez mais complexa e duvidosa com 
relação a seu desfecho. Não se pode olvidar que para além dos aspectos 
semânticos e sintáticos da linguagem do texto da norma constitucional aberta 
e principiológica, há que se considerar agora a dimensão estratégica do 
cenário jurídico-político mundial. 
 
Em suma, em tempos pós-modernos de globalização, a teoria constitucional 
pós-positivista deve agora incorporar a dimensão estratégica da questão 
constitucional, sem descurar, entretanto, do princípio da separação de 
poderes. Sob este aspecto, é importante destacar que, da mesma forma que 
na judicialização da política, o poder judiciário deve obedecer aos limites 
impostos ao ativismo judicial. 
 
Em consequência, tudo parece indicar que nestes primórdios de um novo 
tempo dogmático, juízes, juristas e legisladores terão que repensar um novo 
paradigma constitucional, considerando agora novas formas de relações de 
poder e novas fórmulas de interpretação da Constituição. Qualquer que seja a 
solução vislumbrada terá que incorporar a dimensão estratégica da questão 
constitucional. Uma coisa, entretanto, não muda: imposição de limites e 
autocontenção do ativismo judicial continuam a ser necessárias na 
 
3 Cf. David Diniz Dantas, ob. cit., p. 204. 
4 Paulo Bonavides ensina que: As relações que a norma constitucional, pela sua natureza 
mesma, costuma disciplinar são de preponderante conteúdo político e social e por isso 
mesmo sujeitas a um influxo político considerável, senão essencial, o qual se reflete 
diretamente sobre a norma, bem como sobre o método interpretativo aplicável. (...) o 
intérprete ao concretizar a norma constitucional não deve desmembrá-la de seu manancial 
político e ideológico, das nascentes da vontade política fundamental. (Cf. BONAVIDES, Paulo. 
Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 419-420) 
 
 
 13 
concretização de um verdadeiro Estado Democrático de Direito. Não é 
somente uma questão da judicialização da política ou da judicialização da 
geopolítica, mas, principalmente, de autolimitação exegética do próprio poder 
judiciário. 
 
Em suma, à Constituição cabe moldar a vida dos fatos, e, não, apenas, 
regulá-la. A falta de visão estratégica dos decisores e formuladores das 
políticas públicas desemboca inexoravelmente nas classes menos favorecidas, 
daí a relevância da leitura estratégica da Constituição como instrumento de 
garantia de direitos fundamentais, especialmente os direitos sociais de cunho 
prestacional. 
 
Esta é a razão pela qual vamos, na sequência dos estudos, investigar os 
reflexos da globalização da economia e do fim da Guerra Fria no âmbito da 
ordem constitucional dos países de modernidade tardia, como, infelizmente, é 
o caso do Brasil. 
 
A Globalização, o Fim da Guerra Fria e o Constitucionalismo da 
Pós-Modernidade 
Neste segmento temático, colima-se examinar o constitucionalismo da pós-
modernidade, sob a ótica da dimensão estratégica da questão constitucional e 
seus reflexos no âmbito de proteção normativa dos direitos fundamentais. 
 
Para grande parte da doutrina, o fim dos ciclos democráticos da modernidade 
(Estado liberal e Welfare State) ocorre exatamente com a queda do Muro de 
Berlim, símbolo do colapso do império soviético e do fim da bipolaridade 
geopolítica. No seu lugar, surge um novo ciclo democrático, agora dito pós-
moderno, pós-bipolar, pós-social, pós-welfarista, pós-tudo no dizer de Luis 
Roberto Barroso. 
 
 
 14 
Com efeito, trata-se, induvidosamente, de um novo paradigma constitucional 
que ainda se encontra em construção. Apesar disso, como já comentado na 
aula 6, não se pode negar que o constitucionalismo da pós-modernidade, 
num primeiro momento, apontou para a desconstrução do constitucionalismo 
social dirigente, notadamente a partir dos influxos da ideologia neoliberal. 
 
Era o “fim da História” de Francis Fukuyama: vitória do capitalismo, imposição 
do projeto neoliberal, universalização dos valores ocidentais e triunfo da 
democracia. Com rigor, por detrás desse projeto neoliberal de “pax 
americana” encontrava-se o poder das empresas multinacionais da tríade 
capitalista (EUA, União Europeia e Japão) e seu efeito mais nocivo, qual seja, 
o esvaziamento da Constituição.5 
 
FIM DO 
COMUNISMO
SUPREMACIA 
DA CORRENTE 
LIBERAL
VITÓRIA DA 
DEMOCRACIA 
E DO 
CAPITALISMO
COMPARTILHA-
MENTO DE 
VALORES 
UNIVERSAIS
The End of History
Queda do Muro de Berlim
1989
PENSA-
MENTO 
ÚNICO-
 
 
É o que se pode chamar de neutralização axiológico-normativa da 
Constituição, que coloca em risco toda a plêiade de direitos fundamentais de 
segunda dimensão, notadamente os direitos sociais e trabalhistas. 
 
 
5 BINENBOJM, Gustavo. A nova jurisdição constitucional brasileira. Legitimidade democrática e 
instrumentos de realização. 2. ed. revista e atualizada. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 7-8. 
 
 15 
O modelo neoliberal ganhou ares de unicidade (pensamento único) e 
projetou-se com tal latitude no seio da sociedade de Estados periféricos que 
era quase impossível oferecer resistência. Daí a obediência cega dos países 
de modernidade tardia ao chamado Consenso de Washington, conjunto de 
dez mandamentos desregulamentadores da atuação interventiva do Estado 
no domínio privado. 
 
O Consenso de Washington é o símbolo da subordinação da periferia do 
sistema internacional aos centros mundiais de poder. Para se ter uma 
pequena ideia de sua dimensão, basta registrar que todo o processo de 
privatizações dos países da América Latina obedeceu às diretrizes impostas 
pelos países detentores do poder mundial. Nesse sentido, há um axioma 
inexorável do consequencialismo jurídico-estratégico (geodireito): se o Estado 
é incapaz de fazer juridicamente o seu próprio futuro, alguém o fará no seu 
lugar.6 
 
Com isso, o constitucionalismo da pós-modernidade – na sua versão 
neoliberal – logrou rapidamente promover a redução jurídica do Estado e da 
Constituição, patrocinando as grandes reformas constitucionais, cujo objetivo 
era retirar as normas reguladorasda intervenção do Estado no domínio 
privado, deixando, apenas, as estruturas negativas e meramente 
procedimentais de limitação estatal e desvinculadas, por via de consequência, 
de valores axiológicos. Ora tal perspectiva tinha como alvo a neutralização da 
força normativa da Constituição e dos direitos fundamentais de segunda 
dimensão, tão arduamente conquistados ao longo do welfarismo 
constitucional, bem como tentava, ao mesmo tempo, nulificar o papel 
transformador, emancipatório e fixador de tarefas, programas e fins para o 
Estado e para a sociedade da Constituição dirigente. 
 
 
6 GÓES, Guilherme Sandoval. Os direitos fundamentais e o constitucionalismo da pós-
modernidade. Disponível em: WWW.xxxxxx. DUQUE PROFESSORES. Acesso em: 25 set. 2012. 
 
 16 
Nesse sentido, concorda-se plenamente com Miguel Calmon Dantas quando 
assevera “ao contrário do que outrora já se asseverou, o dirigismo 
constitucional brasileiro não morreu e nem está prestes a tanto; ao invés do 
réquiem, a ode, ode pela potencialidade emancipatória”. 
 
É razoável afirmar, nesse contexto, a relevância da dimensão estratégia do 
constitucionalismo contemporâneo: não compreender o jogo estratégico 
mundial simboliza a redução de direitos sociais e trabalhistas das classes 
menos favorecidas. Isto significa dizer que o Estado tem a missão de formular 
as políticas públicas necessárias para assegurar os valores constitucionais, 
notadamente aqueles relacionados ao bem de todos (bem comum), 
erradicação da pobreza e da marginalização, redução das desigualdades 
sociais e regionais, promoção do desenvolvimento nacional, construção de 
uma sociedade livre, justa e solidária e garantia do pluralismo político, dos 
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, da dignidade da pessoa 
humana, da cidadania e da soberania. 
 
Esses valores constitucionais são os objetivos nacionais permanentes, isto é, 
os grandes objetivos estratégicos do Estado brasileiro. Toda e qualquer 
política pública deve contribuir de alguma maneira para a consecução desses 
objetivos estratégicos da República. É nesse diapasão que vale trazer a lume 
a construção pretoriana da douta Ministra Cármen Lúcia na ADI 2.649, 
julgamento realizado em 8-5-08, DJE de 17-10-08: 
 
Devem ser postos em relevo os valores que norteiam a Constituição 
e que devem servir de orientação para a correta interpretação e 
aplicação das normas constitucionais (...). Não apenas o Estado 
haverá de ser convocado para formular as políticas públicas que 
podem conduzir ao bem-estar, à igualdade e à justiça, mas a 
sociedade haverá de se organizar segundo aqueles valores, a fim de 
que se firme como uma comunidade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos (...). E, referindo-se, expressamente, ao Preâmbulo da 
Constituição brasileira de 1988, escolia José Afonso da Silva que ‘O 
Estado Democrático de Direito destina-se a assegurar o exercício de 
 
 17 
determinados valores supremos. ‘Assegurar’, tem, no contexto, 
função de garantia dogmático-constitucional; não, porém, de 
garantia dos valores abstratamente considerados, mas do seu 
‘exercício’. Este signo desempenha, aí, função pragmática, porque, 
com o objetivo de ‘assegurar’, tem o efeito imediato de prescrever 
ao Estado uma ação em favor da efetiva realização dos ditos 
valores em direção (função diretiva) de destinatários das normas 
constitucionais que dão a esses valores conteúdo específico. 
 
Entendemos, portanto, que a Constituição não tem apenas a função de ser a 
lei suprema do Estado (conceito jurídico de Constituição), mas, desempenha, 
também, um papel emancipatório relevante dentro do Estado Democrático de 
Direito, papel este que somente se cumpre se houver por parte do Estado 
ações estratégicas concretas voltadas para a realização dos valores 
constitucionais (conceito estratégico de Constituição). 
 
Ou seja, uma Constituição permanecerá como letra morta enquanto a ação 
estratégica do Estado não for capaz de promover a consecução das 
imposições constitucionais. A questão é complexa, mas não pode deixar de 
ser enfrentada pelo jurista e pelo exegeta constitucional do século XXI: é 
preciso compreender o novo estádio hermenêutico-científico do 
constitucionalismo pós-moderno, que incorpora na sua equação 
epistemológica a intrincada relação de forças hegemônicas, estatais e não 
estatais (empresas multinacionais, ONGs, etc.) com o direito constitucional. 
 
O dirigismo constitucional é emancipador, na exata medida em que tem 
potencialidade jurídico-constitucional para transformar a realidade social do 
país, especialmente a condição miserável dos hipossuficientes. Deixá-los ao 
talante de organizações privadas e até mesmo do legislador democrático 
pátrio, sem a possibilidade de controle judicial de políticas públicas, significa 
abandoná-los à própria sorte. Como bem observa Lindgren Alves: 
 
transfere-se à iniciativa privada e às organizações da sociedade civil 
a responsabilidade pela administração do social. Estas, não 
 
 18 
obstante, funcionam apenas na escala de seus meios e de seu 
humanitarismo. Abandona-se, assim, a concepção dos direitos 
econômico-sociais.7 
 
Dessarte, parece inexorável que o projeto epistemológico neoliberal, fazendo 
uso da retórica do constitucionalismo da pós-modernidade, projeta sobre as 
Constituições dos países de modernidade tardia a neutralização do catálogo 
jusfundamental dos direitos econômico-sociais (segunda dimensão de 
direitos) através do enfraquecimento do papel emancipatório-vinculante do 
texto constitucional. 
 
Não se vislumbra, no contexto atual da periferia do sistema mundial, a 
tendência de o poder governamental dirigir, de modo autóctone, suas 
políticas públicas de acordo com os objetivos constitucionais, ao revés, a 
força da constitucionalização da economia neoliberal afastará, cada vez mais, 
as orientações constitucionais próprias, em prol dos processos de 
desregulamentação jurídico-política do mercado global. 
 
Na companhia do italiano Natalino Irti, um dos grandes jurisconsultos da 
atualidade, defende-se a tese de que o sistema internacional – impulsionado 
pelas forças de “des-limitação” da economia e da tecnologia – não 
desconhece a máxima de que o território estabelece a medida do senhorio 
jurídico do Estado 8 e que por isso mesmo é fundamental saber explorar a 
dimensão espacial do direito. 
 
É a ideia de spatium terminatium, vale dizer, lugar de política e direito, 
isolado e identificado pelos limites da jurisdição constitucional do Estado 
territorial e que, em muito, se aproxima do conceito de impenetrabilidade da 
ordem jurídica externa dentro do território nacional de Hans Kelsen. 
 
7 ALVES, J.A. Lindgren. A declaração dos direitos humanos na pós-modernidade. Revista No. Rio de 
Janeiro. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/lindgrenalves/lindgren_100.html>. 
Acesso em: 20 out. 2007. 
8 IRTI, Natalino. Geodireito. Tradução de Alfredo Copetti Neto e André Karan Trindade. Conferência 
sobre biodireito e geodireito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007. p.1. 
 
 19 
 
Acontece que na era do constitucionalismo da pós-modernidade (nesta 
primeira versão do Estado pós-moderno neoliberal de Direito), o poder das 
empresas multinacionais e da tecnoeconomia não conhecem limites, não têm 
pátria, se expandem para qualquer lugar. São forças de des-limitação,(...) e 
que, juntas, conjuntas e aliadas, geram(...) espaço artificial sem limite, não 
lugar, onde a vontade do lucro, desraizada e desterritorializada, se expressaalém dos Estados e além do direito dos Estados 9. 
 
De clareza meridiana, portanto, a clivagem jurídica do constitucionalismo 
neoliberal e da globalização da economia, onde o projeto epistemológico 
liberalizante enfraquece o dirigismo constitucional, mormente nas 
Constituições dirigentes de países de modernidade tardia e faz renascer das 
cinzas a fênix constitucional de arquétipo negativista-absenteísta. 
 
Nesses tempos de predominância neoliberal, o ciclo constitucional que surge 
tenta neutralizar a conquista de direitos sociais e busca a conquista de 
mercados e mentes (massificação por estruturas eficazes de marketing de 
âmbito mundial). Deslocar para o epicentro do constitucionalismo 
democrático ocidental a abertura mundial do comércio é o novo imperativo 
categórico da pós-modernidade liberal, comandada por interesses globais de 
poderosos agentes infraestatais privados. 
 
É nesse sentido que Ignácio Ramonet 10 põe a nu a ideia de civilização do 
caos dos novos senhores do mundo (conglomerados financeiros e industriais 
privados), do planeta saqueado (destruição sistêmica do meio ambiente), das 
metamorfoses do poder e suas formas negociadas, reticulares e horizontais 
(mídia, grupos de pressão e organizações não governamentais), do choque 
 
9 IRTI, Natalino. Geodireito. Tradução de Alfredo Copetti Neto e André Karan Trindade. Conferência 
sobre biodireito e geodireito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007, IRTI, p. 4-5. 
10 Para uma investigação científica importante acerca da nova ordem mundial após a queda 
do muro de Berlim e a perspectiva de um neo-hegemonismo norte-americano, sugere-se a 
leitura de RAMONET, Ignácio. A geopolítica do caos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. 
 
 20 
das novas tecnologias (bem ao lado do choque de civilizações) e tudo isso 
fazendo exalar nessa sociedade ocidental pós-moderna um mau cheiro de 
remorso e algo parecido com um sentimento de náusea. 11 
 
Lamentavelmente, esta é a compilação que se faz do atual quadro 
constitucional da pós-modernidade. É forçoso reconhecer que a pós-
modernidade jurídico-estatal vem trazendo até agora uma perspectiva 
sombria de agravamento do ciclo de miséria da periferia do sistema 
internacional, de aumento de exclusão social e de desamparo de 
hipossuficientes. Neste contexto, é preciso ganhar sensibilidade acadêmica 
apurada para compreender o conceito de Constituição estratégica e a 
necessidade de criação de um modelo próprio de constitucionalismo para o 
século XXI. É o que vamos examinar na sequência dos nossos estudos. 
 
Um Mundo a Ser Refeito: Desafios do Constitucionalismo 
Estratégico e Democrático Brasileiro 
Construir um modelo de constitucionalismo verdadeiramente autônomo em 
relação aos centros mundiais de poder é um dos grandes desafios da 
intelectualidade brasileira. 
 
Mais uma vez na esteira da lição de Natalini Irti, é preciso compreender que, 
na qualidade de grandes detentores das forças de des-limitação (tecnologia e 
economia), os centros de reverberação geopolítica do sistema mundial têm a 
possibilidade de influenciar a construção da ordem jurídico-constitucional dos 
países da periferia do sistema mundial. 
 
Muitas vezes, nossos projetos de Emendas à Constituição e nossas leis 
infraconstitucionais são concebidas sem qualquer relação com um projeto 
estratégico de desenvolvimento nacional, ao revés, o que prepondera é a 
estratégia das grandes potências, caracterizando-se aquilo que Natalino Irti 
 
11 RAMONET, Ignácio. A geopolítica do caos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. p. 7-12. 
 
 21 
denomina de mercado de ordenamentos jurídicos, ou seja, as empresas 
multinacionais – amparadas por seus respectivos Estados nacionais matrizes – 
têm a seu inteiro dispor um verdadeiro mercado de Constituições e escolhem 
aquela que for mais vantajosa e conveniente. 12 
 
E mais grave ainda é perceber que esta ideia-força de um mercado de 
Constituições não surge do nada, muito ao revés, é decisão política 
fundamental do Estado tomada pelo poder legislativo e pelo poder executivo. 
Quanto maior a falta de visão estratégica dos nossos representantes políticos, 
maior será a intensidade dos danos sofridos pelos cidadãos comuns. Enfim, o 
resultado deste constitucionalismo condescendente em demasia, estruturado 
a partir de relações verticalizadas de poder é melancólico e foi muito bem 
capturado por aquela imagem trazida pelo mestre Celso Mello quando alerta 
que os gastos com perfumes ou com sorvetes nos EUA e na Europa seriam 
suficientes para o atendimento das necessidades sanitárias e nutricionais de 
todo o mundo subdesenvolvido. Igualmente forte, o registro de que as 
pessoas estão mais ricas do que os Estados nacionais.13 
 
Tudo isso a refletir o fenômeno da judicialização da geopolítica, que não se 
confunde com o fenômeno da judicialização da política, nem com o fenômeno 
do ativismo judicial. Com rigor, é o ativismo judicial um importante 
instrumento de mitigação do “poder hegemônico” das forças de des-limitação 
irtianas, bem como arma jurídica eficaz para rejeitar “modificações 
constitucionais comandadas” por tais forças hegemônicas. 
 
Eis aqui a relevância do exame do assim chamado consequencialismo 
jurídico-estratégico. Nesse sentido, é imperioso engendrar um modelo de 
 
12 IRTI, op.,cit.,p.6. 
13 As pessoas estão mais ricas que os estados. As 15 pessoas mais ricas ultrapassam o PIB da 
África Subsaárica. (...) Para atender às necessidades sanitárias e nutricionais fundamentais 
custaria 12 bilhões de euros, isto é, o que os habitantes dos EUA e União Europeia gastam por 
ano em perfume e menos do que gastam em sorvete. (...) Cada uma das 100 principais 
empresas globais vende mais do que exporta cada um dos 120 países mais pobres. As 23 
empresas mais importantes vendem mais que o Brasil. Elas controlam 70% do comércio 
mundial. Cf. Celso de Mello. Ob. cit. p. 57. 
 
 22 
constitucionalismo pós-moderno brasileiro capaz de analisar o jogo 
estratégico mundial, identificando os pontos de reação e os pontos de 
cooperação com os grandes centros de poder do sistema internacional 
(Estados Unidos, União Europeia, Japão e mais recentemente China). 
 
Não se trata de atuar ideologicamente (como, por exemplo, um 
antiamericanismo infantil que nada mais faz senão afastar o país do mercado 
global), mas, também, evitando o alinhamento cego e acrítico, patrocinado 
pela corrente dos economistas liberais (postura de subserviência, como, por 
exemplo, a observada na década de 90, a partir de alinhamento automático 
ao já comentado Consenso de Washington). 
 
Com efeito, convém não embarcar na onda da desconstrução do Estado 
nacional e, em especial, do constitucionalismo social welfarista, garantidor da 
segunda dimensão de direitos fundamentais. É tarefa do estudioso do direito 
público no Brasil compreender os desafios do constitucionalismo estratégico 
pátrio, deixando de recepcionar acriticamente construções teóricas 
estrangeiras muito bem delineadas e sistematizadas por autores de nomeada, 
que nada mais fazem senão agravar a exclusão social no Brasil (lembrem-se 
do tão propalado Consenso de Washington), cujo desfecho restou indubitável: 
miserabilidade humana aumentada de vastas camadas proletárias da 
sociedade e fomentada pela própria política econômico-constitucional adotada 
pelo Estado brasileiro. Com isso, agravou-se o ciclo da periferia em nosso 
país. 
 
De que adianta comemorar-se a força normativa da Constituição de 1988 sob 
a égide de uma pujante democracia, quando se constataa inaptidão do país 
para conceber uma estratégia nacional que garanta efetivamente os direitos 
fundamentais mínimos do cidadão comum, seu núcleo essencial de dignidade 
humana? 14 
 
14 Cf. GÒES, Guilherme Sandoval. O geodireito e os centros mundiais de poder. Anais do VII 
Encontro Nacional de Estudos Estratégicos. Realizado de 06 a 08 de novembro de 2007 – Brasília/DF 
 
 23 
 
A maximização do bem-estar social é o elo que deve vincular a Constituição 
liberal e a Constituição dirigente, com o objetivo de conceber um grande 
plano estratégico nacional de desenvolvimento, capaz de distribuir renda e 
promover vida digna para todos; já não mais se admite aquela vetusta 
imagem de solidão constitucional, desvinculada da ação político-legiferante 
dos representantes do povo. Ao contrário, urge ao jurista brasileiro superar o 
abismo científico que nos separa dos países desenvolvidos, em especial dos 
EUA, cuja estratégia jurídica nacional tem o condão de moldar a ordem 
jurídica internacional. Repita-se por fundamental: a estratégia de um único 
Estado nacional direcionando e comandando a ordem jurídica internacional. 
 
Enfim, o estudioso do direito público no Brasil tem a obrigação de desvelar a 
intrincada tessitura jurídico-estratégica do fenômeno da globalização da 
economia, nesses tempos de constitucionalismo pós-moderrno. Nesse 
diapasão, muitas vezes, os centros de poder mundial projetam para o resto 
do mundo uma imagem distorcida de valores axiológicos que não 
corresponde aos anseios das sociedades de modernidade tardia. 
 
É por tudo isso que – na formulação de um constitucionalismo pós-moderno 
brasileiro – outro caminho não se terá senão o de trilhar o caminho ético da 
reconstrução neoconstitucionalista do direito, cuja linhagem hermenêutica 
dominante é focada na garantia dos direitos fundamentais de todas as três 
dimensões. Pretende-se assim demonstrar que o neoconstitucionalismo 
transcende o escopo de sua simples literalidade e invade a territorialidade 
ética dos demais fluxos epistemológicos do saber. 
 
A figura abaixo sintetiza as características da fase de filtragem constitucional. 
 
 
sob o patrocínio do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Disponível em: 
<https://sistema.planalto.gov.br/siseventos/viienee/exec/arquivos/ANAISVIIENEE_INTERNET/02RELAC
OESINTERNACIONAIS/MESA26NOVASAGENDAS/MESA26PAPERS/GuilhermeGeodireitoPaper.pdf>. 
Acesso em: 6 set. 2012. 
Fim da Guerra 
Fria e colapso 
soviético 
Início do constitucionalismo da pós-
modernidade na versão inicial neoliberal 
Elementos centrais do projeto epistemológico neoliberal: 
Abertura mundial do comércio e desregulamentação da economia 
 
 24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atividade Proposta 
Leia o trecho abaixo de autoria de Luís Roberto Barroso: 
O discurso acerca do Estado atravessou, ao longo do século XX, três fases 
distintas: a pré-modernidade (ou Estado liberal), a modernidade (ou Estado 
social) e a pós-modernidade (ou Estado neoliberal). A constatação inevitável, 
desconcertante, é que o Brasil chega à pós-modernidade sem ter conseguido 
ser liberal nem moderno. Herdeiros de uma tradição autoritária e populista, 
elitizada e excludente, seletiva entre amigos e inimigos – e não entre certo e 
errado, justo ou injusto –, mansa com os ricos e dura com os pobres, 
chegamos ao terceiro milênio atrasados e com pressa. 
 
Comente o texto lido, procurando elaborar sua resposta enfrentando a 
questão das perspectivas de implantação da fase metaconstitucional dos 
direitos humanos, ou seja, em termos de paralelismo entre os paradigmas 
estatais e os regimes jurídicos de proteção dos direitos humanos, responda se 
 
 25 
o Estado pós-moderno neoliberal caminha na direção da perspectiva kantiana 
de um verdadeiro Estado Universal de Direito. 
 
Referências 
ALVES, J.A. Lindgren. A declaração dos direitos humanos na pós-
modernidade. Revista No. Rio de Janeiro. Disponível em: 
<http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/lindgrenalves/lindgren_100.html
>. Acesso em: 20 out. 2007. 
 
BINENBOJM, Gustavo. A nova jurisdição constitucional brasileira. 
Legitimidade democrática e instrumentos de realização. 2. ed. rev. e 
atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. 
 
DANTAS, Miguel Calmon. Constitucionalismo dirigente e pós-
modernidade. São Paulo: Saraiva, 2009. 
 
HORTA, José Luiz Borges. Urgência e emergência do constitucionalismo 
estratégico. In: Revista Brasileira de Estudos Constitucionais. Ano 1. 
N.1. jan/mar 2007. 
 
IRTI, Natalino. Geodireito. Tradução de Alfredo Copetti Neto e André Karan 
Trindade. Conferência sobre biodireito e geodireito. São Paulo: Universidade 
de São Paulo, 2007. 
 
RAMONET, Ignácio. A geopolítica do caos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. 
 
TOCQUEVILLE, Alexis de. Da democracia na América. Traduzido e 
condensado por José Lívio Dantas. Rio de Janeiro: Biblioteca do 
Exército,1998. 
 
 
 26 
Exercícios de Fixação 
Questão 1 
A intensificação da atuação criativa de direito por parte de juízes e tribunais 
pode ser identificada em diversas causas, entre as quais: 
 
I. Ascensão do Welfare State e a consolidação de novos direitos 
(econômicos e sociais). 
II. Superação do modelo inglês de supremacia do Parlamento e a adoção 
da supremacia da Constituição. 
III. Reafirmação pelo constitucionalismo liberal da concepção clássica da 
separação de poderes e da ideia de equilíbrio e harmonia nela 
consagrada. 
 
Estão corretas: 
a) I e II 
b) II e III 
c) I e III 
d) Apenas a alternativa III 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 2 
Com relação ao fenômeno da judicialização da geopolítica, analise as 
assertivas abaixo e assinale a resposta CORRETA: 
 
I. A judicialização da geopolítica indica que a efetividade ou eficácia 
social dos direitos fundamentais e a própria força normativa da 
 
 27 
Constituição podem depender de uma grande questão geopolítica ou 
estratégica envolvendo o país e outros Estados nacionais. 
II. Ideia de “constitucionalismo estratégico” projeta a imagem de 
estatalidade mínima e de desregulamentação da economia, tendo em 
vista os efeitos benéficos do processo de globalização em curso. 
 
a) As duas assertivas são falsas; 
b) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; 
c) Ambas as assertivas são verdadeiras; 
d) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 3 
Leia o trecho abaixo: 
“A despeito do acendrado movimento neoliberal e dos ventos da globalização 
que estremeceram o ocaso do século XX, os pilares do Estado Social não 
foram abalados, mantendo-se ainda mais acentuada a necessidade da ordem 
econômica e social, consubstanciando direitos e garantias de um novo perfil 
 
 28 
da cidadania através de normas reguladoras das relações de consumo. 
Enquanto a Constituição assumia evidente identidade social no plano jurídico-
econômico, permanecia o Código Civil, em descompasso com esta realidade, 
conservando suas feições de tradição liberal-patrimonialista, e como 
necessária à realização da pessoa, à propriedade como elemento central dos 
demais interesses privados”. 
 
A partir da leitura acima, analise as assertivas abaixo: 
I. Com o advento do fim da Guerra Fria, ressurge com maior intensidade 
o constitucionalismo welfarista focado na garantia dos direitosde 
segunda dimensão. 
II. Foi com a eclosão da globalização da economia que crismou a 
repotencialização do conceito de soberania, cuja dinâmica aponta para 
o controle estatal das atividades econômicas com o objetivo de 
proteger hipossuficientes. 
III. Com o advento do chamado “Consenso de Washington”, os países de 
modernidade tardia foram seduzidos no sentido de adotar o arquétipo 
constitucional pré-weimariano de cunho absenteísta. 
 
Somente é CORRETO o que se afirma em: 
a) I 
b) II e III 
c) III 
d) I e III 
 
 
Questão 4 
Com relação ao contexto histórico e político do fim da Guerra Fria e da 
globalização da economia, analise as assertivas abaixo e assinale a resposta 
CORRETA: 
 
 
 29 
I. É clara a clivagem jurídica do constitucionalismo neoliberal e da 
globalização da economia, onde o projeto epistemológico liberalizante 
enfraquece o garantismo constitucional e faz renascer das cinzas a 
fênix constitucional de arquétipo welfarista. 
II. A ideia de “fim da História” de Francis Fukuyama simboliza o triunfo do 
capitalismo, da social democracia, do projeto welfarista keynesiano e 
da universalização dos valores ocidentais. 
 
a) As duas assertivas são falsas; 
b) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; 
c) Ambas as assertivas são verdadeiras; 
d) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 5 
No modelo do constitucionalismo da pós-modernidade na versão neoliberal, 
tendencialmente, a ciência do direito deveria buscar um método que 
garantisse a: 
 
 
 30 
I. Repotencialização do conceito de soberania. 
II. Flexibilização das leis trabalhistas. 
III. Desregulamentação jurídica da economia. 
IV. Retomada do welfarismo keynesiano. 
 
Somente é CORRETO o que se afirma em: 
a) I, III e IV 
b) II e III 
c) I e III 
d) II e IV 
e) I, II e III 
 
 
 
 
 
 
 
 31 
Atividade Proposta 
Com efeito, a versão neoliberal do estado pós-moderno logrou rapidamente 
promover a redução jurídica do Estado e da Constituição, patrocinando as 
grandes reformas constitucionais, cujo objetivo era retirar as normas 
reguladoras da intervenção do Estado no domínio privado, deixando, apenas, 
as estruturas negativas e meramente procedimentais de limitação estatal e 
desvinculadas, por via de consequência, de valores axiológicos. É nesse 
sentido que o Estado neoliberal de Direito patrocina a neutralização da força 
normativa da Constituição e dos direitos fundamentais de segunda dimensão, 
tão arduamente conquistados ao longo do welfarismo constitucional. Como 
visto, ao contrário do que assevera o neoliberalismo, o dirigismo 
constitucional não está morto e nem está prestes a tanto; ao invés do 
réquiem, a ode, ode pela potencialidade emancipatória. É razoável afirmar 
que o contexto neoliberal, ao patrocinar a redução de direitos sociais e 
trabalhistas das classes menos favorecidas, se afasta da perspectiva de 
universalização dos direitos humanos de cunho kantiano. Na visão do 
neoliberalismo, o Estado não tem a missão de formular as políticas públicas 
positivas necessárias para assegurar os valores constitucionais relacionados 
ao bem de todos (bem comum), erradicação da pobreza e da marginalização, 
redução das desigualdades sociais e regionais, promoção do desenvolvimento 
nacional, construção de uma sociedade livre, justa e solidária e garantia do 
pluralismo político, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, da 
dignidade da pessoa humana, da cidadania e da soberania. Portanto, afasta-
se da fase metaconstitucional, cuja dinâmica coloca no centro do sistema 
global a dignidade da pessoa humana. 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1 - A 
 
 32 
Justificativa: Somente a assertiva III está errada, porque a reafirmação pelo 
constitucionalismo liberal da concepção clássica da separação de poderes e 
da ideia de equilíbrio e harmonia nela consagrada não viabiliza a criação 
jurisprudencial do direito. Ao contrário, o paradigma defende a tese da 
aplicação mecânica da lei. 
 
Questão 2 - B 
Justificativa: Somente a assertiva II é falsa. Com efeito, a ideia de 
“constitucionalismo estratégico” projeta a imagem de estatalidade positiva e 
de intervenção do Estado na área econômica com o fito de fomentar o 
desenvolvimento nacional e promover a realização dos direitos fundamentais 
do cidadão comum, especialmente os direitos de segunda dimensão. 
 
Questão 3 - C 
Justificativa: As assertivas I e II são falsas. Com efeito, o advento do fim da 
Guerra Fria, fomenta o renascimento constitucionalismo liberal e não do 
constitucionalismo welfarista. A doxa neoliberal tenta neutralizar os direitos 
fundamentais de segunda dimensão. Da mesma forma, foi com a eclosão da 
globalização da economia que crismou a ideia de relativização do conceito de 
soberania, com o objeto de promover a abertura mundial do comércio, o que 
evidentemente projeta o encurtamento jurídico do Estado e não o inverso. 
 
Questão 4 - A 
Justificativa: Ambas as assertivas são falsas. Com efeito, é clara a clivagem 
jurídica do constitucionalismo neoliberal e da globalização da economia, cujo 
projeto epistemológico liberalizante enfraquece o dirigismo constitucional e 
faz renascer das cinzas a fênix constitucional de arquétipo liberal. Da mesma 
forma, a ideia de “fim da História” de Francis Fukuyama simboliza o triunfo da 
democracia liberal e do projeto minimalista do Estado. 
 
Questão 5 - B 
 
 33 
Justificativa: Somente as assertivas I e IV estão incorretas. Com efeito, o 
modelo do constitucionalismo da pós-modernidade na versão neoliberal não 
busca a repotencialização do conceito de soberania, ao contrário, busca impor 
a sua relativização em nome da abertura mundial do comércio. Da mesma 
forma, o modelo do constitucionalismo neoliberal afasta a perspectiva do 
welfarismo keynesiano, cuja dinâmica é a intervenção estatal na área privada. 
Busca-se, na realidade, a estatalidade mínima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atualizado em: 22 jun. 2014

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