Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A TUTELA INIBITÓRIA E OS SEUS FUNDAMENTOS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL La tutela inibitoria e i suoi fondamentinel Nuovo Codice di Procedura Civile Revista de Processo | vol. 252/2016 | p. 303 - 318 | Fev / 2016 DTR\2016\217 Edson Antônio Sousa Pinto professor na faculdade católica de rondônia. advogado. edson@dplaw.com.br Daniela Lopes de Faria Doutoranda em Constitucionalismo, Transnacionalidade e Produção do Direito na Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Mestre em Direito Socioambiental pela PUC-PR. Professora na Faculdade Católica de Rondônia. danielalopesdefaria@hotmail.com Área do Direito: Civil; Processual Resumo: O presente artigo visa a demonstrar no que consiste a tutela inibitória, seus fundamentos, bem como o seu tratamento no Novo Código de Processo Civil (CPC/2015), ressaltando-se sempre que a prevenção é requisito indispensável para uma tutela efetiva na defesa de direitos que não permitem a sua transformação em pecúnia. Palavras-chave: Tutela inibitória - Tutela preventiva - Tutela de remoção do ilícito - Novo Código de Processo Civil. Riassunto: Il presente articolo desidera dimostrare che cosa è la tutela inibitoria, i suoi fondamenti e la sua descrizione nel Nuovo Codice di Procedura Civile (CPC/2015), sottolineando sempre che la prevenzione è un requisito essenziale per una tutela effettiva dei diritti che non permettono la loro trasformazione in denari. Parole chiave: Tutela inibitória - Tutela preventiva - Tutela di rimozione dell'illecito - Nuovo Codice di Procedura Civile. Sumário: 1INTRODUÇÃO - 2A PREVENÇÃO COMO REQUISITO ESSENCIAL A UMA TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA - 3DA TUTELA INIBITÓRIA - 4FUNDAMENTOS DA TUTELA INIBITÓRIA - 5CONCLUSÃO - 6REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 INTRODUÇÃO O processo é resultado da realidade social, e se materializa como um instrumento garantido ao cidadão na busca da tutela do direito. É, nesse sentido, um produto do contexto em que se encontra a sociedade, inseridos nela os legisladores, juristas, operadores do direito e demais agentes que influenciam a ciência processual. Assim sendo, não se pode afastar o processo da realidade econômico-social, bem como das cargas ideológicas de seus legisladores e aplicadores que nele incidem,1 afinal, o processo é sim produto da realidade, e deve ser estruturado como tal, amoldando-se aos direitos materiais presentes no ordenamento constitucional e infraconstitucional. E a realidade impõe, desta forma, uma visão diferenciada do Poder Judiciário, diversa da noção básica de que a tutela jurisdicional será garantida para repreender danos e lesões ao direito do sujeito ativo do processo, pois, nem todos direitos podem ter sua natureza deturpada, e simplesmente transformada em moeda. A diferenciação da categoria de dano e ilícito passa a ser pressuposto basilar para a consecução do objetivo de atuação preventiva da tutela de direitos extrapatrimoniais, exigindo-se, assim, uma atuação diferenciada do Estado-Juiz, e consequentemente um aperfeiçoamento da estrutura processual de 1973. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 1 Com base nesse paradigma, o presente trabalho visa demonstrar no que consiste a tutela inibitória, seus fundamentos, bem como o seu tratamento no Novo Código de Processo Civil (CPC/2015), ressaltando-se sempre que a prevenção é requisito indispensável para uma tutela efetiva na defesa de direitos que não permitem a sua transformação em pecúnia. 2 A PREVENÇÃO COMO REQUISITO ESSENCIAL A UMA TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA O Estado harmoniza as relações sociais com a formulação de normas jurídicas, determinando, por meio do império da lei, quais são os interesses que prevalecem em uma dada situação, criando, assim, direitos subjetivos para uns e obrigações para outros.2 A inobservância de um dispositivo legal poderá gerar uma lesão ao direito de outrem, o que, por consequência, gerará a este um novo direito à realização da vontade da lei mediante provocação da via jurisdicional.3 Este novo direito é o direito de ação, que em nosso ordenamento vem previsto no art. 5.º, XXXV, da CF/1988 (LGL\1988\3), e garante que "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito". Por isso, o Estado ao garantir a via jurisdicional proíbe o cidadão de se utilizar da própria força para fazer valer o seu direito lesado, ao disponibilizar um sistema jurisdicional apto e eficaz a determinar, quando provocado, a vontade concreta da lei. Cria-se, pois, um verdadeiro monopólio estatal em prol da realização do direito e dos ditames legais, concentrando toda competência jurisdicional nos órgãos e agentes estatais.4 Atualmente, porém, cabe ao Estado não só garantir ao cidadão simplesmente o acesso a um sistema jurisdicional; deve outorgá-lo instrumentos efetivos que reflitam a norma material e o seu resultado prático,5 de forma que o processo e a sua consequente tutela jurisdicional devam dar à parte a mesma providência que ela conseguiria pautando-se, somente, nas normas de direito material, sem valer-se, portanto, da intervenção jurisdicional do Estado.6 É assim que surge a necessidade de se pensar o processo como instrumento de realização do direito material, primando, pois, por uma reaproximação do direito substancial e do processo, afinal, não há como pensar em uma pretensão processual sem estar basilada em uma pretensão de direito material, pois, aquela só tem sentido se fundada nesta.7 A privação da autotutela, pois, faz com que a norma material seja igualmente, em via reflexa, dependente das normas processuais, justamente por aquelas só serem realizadas litigiosamente quando existentes estas.8 Logo, a máxima chiovendiana (o processo deve dar, quanto for possível praticamente, a quem tenha um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que ele tenha direito de conseguir)9traduz a preocupação metodológica de um processo instrumental10 que visa, sobretudo, uma sincronização com as normas de direito afirmado, defendendo a constante influência e necessidade de ambos os planos, de um modo amplamente dualista11 em que o processo amolda-se e adapta-se ao objeto que visa tutelar, como um instrumento moldado conforme as necessidades e os fins a que se destina.12 No entanto, observamos, de modo breve, que a tutela jurisdicional não deve se ater somente à noção de direito a sentença de mérito, afinal, há uma autonomia do direito de ação garantido pela Constituição Federal que assegura, em seu art. 5.º, XXXV, um direito a uma tutela jurisdicional efetiva e adequada, garantidos todos os meios possíveis para a obtenção do provimento visado pelo direito afirmado.13 A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 2 A ciência processual contemporânea deve se preocupar, então, com a efetivação dos direitos elencados nas regras de direito material, eliminando a concepção equivocada de que os procedimentos existentes são suficientes em si para tutelar todas as situações presentes na norma substancial.14 Fortifica-se, assim, a utilização e o implemento das tutelas jurisdicionais diferenciadas com o escopo de preencher a lacuna jurídica deixada pela utilização das tutelas eminentemente repressivas. Afinal, essas tutelas reduzem todos os direitos à pecúnia por meio de uma sentença condenatória seguida, posteriormente, de uma execução forçada, o que acaba por não realizar efetivamente o direito lesado, apenas traçando um equivalente monetário para ele. Surge, portanto, a necessidade de uma tutela preventiva em face de atos contrários à ordem jurídica, na medida em que certos direitos - ditos extrapatrimoniais - não suportam a sua transformação em pecúnia, sob pena de perder a sua razão de ser no mundo fático, além de tornar inócuas as normas materiais e constitucionais que os protegem.15 A própria Constituição aduz a existência desse novo escopo de atuaçãoda tutela jurisdicional, ao dispor no art. 5.º, XXXV, que o Poder Judiciário apreciará a ameaça de direito, ou seja, permitirá uma atuação preventiva na tutela dos direitos, buscando, desta forma, a máxima fruição in natura do direito proclamado pelo próprio Estado.16 Impende concluir que para a dogmática processual atual a prevenção é requisito essencial à efetividade da tutela jurisdicional que, a partir de então, passa a atuar de dois modos distintos: preventiva e repressivamente. A tutela preventiva então se mostra uma questão de interesse estatal e social, pois, no momento em que nascem novos valores (como a defesa do meio ambiente e do consumidor, por exemplo), ao Estado surge o dever de disponibilizar meios efetivos a protegê-los, permitindo a realização do direito processual (instrumento) de acordo com as necessidades desses novos direitos materiais. O dano, nesse contexto, não é o único requisito a justificar a atividade jurisdicional, afinal, como dito alhures, existem direitos que não permitem a ocorrência de lesão para que seja devidamente tutelado, sob pena de deturpar a própria natureza do direito em questão. A categoria do ilícito é, assim, analisada independentemente da ocorrência do dano, e merece a atuação jurisdicional por uma tutela que lhe dê o devido tratamento, evitando-se a ocorrência, se for o caso, de um consequente dano, ainda não presente.17 O provimento inibitório é, portanto, consequência direta dessa concepção jurisdicional, pois é verdadeira tutela aderente ao direito material, destinada a proteger preventivamente contra os atos antijurídicos, direitos extrapatrimoniais que não permitem repressivamente a sua transformação em pecúnia. 3 DA TUTELA INIBITÓRIA A tutela inibitória pode ser conceituada como um provimento jurisdicional que visa impedir a prática, a continuação, ou a repetição de um ato ilícito (ou antijurídico), possibilitando de forma definitiva, por meio de cognição exauriente, a fruição in natura do direito pelo autor da ação - de acordo com o direito substancial previsto no ordenamento jurídico.18 É, em outras palavras, tutela adquirida pelo titular do direito por meio de processo de conhecimento voltado para o futuro, requerendo ao réu o cumprimento de uma obrigação de fazer (inibitória positiva) ou não fazer (inibitória negativa), sob pena de imputação de multa ou outras medidas necessárias que garantam o resultado prático equivalente - ou seja, a inibição do ato ilícito (e não do dano). A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 3 Portanto, podemos dizer que é um provimento inequivocadamente satisfativo19 diretamente relacionado ao direito substancial; é tutela aderente ao direito material que reflete a necessária proteção ao direito ameaçado do autor contra atos ainda não praticados, ou seja, que estão sobre justo receio de futuramente ocorrerem, o que justifica a referida atuação jurisdicional inibitória.20 Na ordem jurídica nacional, a tutela inibitória possui um duplo conteúdo, podendo constituir uma obrigação de fazer ou de não fazer, conforme dispõe o art. 497, caput, do CPC/2015, ao determinar que "na ação que tenha por objeto a prestação de fazer21 ou de não fazer,22 o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente". Assim, a tutela inibitória terá conteúdo positivo quando visar uma obrigação de fazer, e negativo quando tiver por objeto uma obrigação de não fazer. A prevenção, portanto, não se refere somente à possibilidade de inibir um ato comissivo (fazer), mas, também, as situações que requeiram uma ação por parte daquele que se omitir em praticá-la.23 Desta forma, a tutela pleiteada dependerá da obrigação praticada, ou não, pelo réu e que, por isso, ameaça violar direito do autor, devendo a tutela jurisdicional, neste caso, ordenar o cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer visando cessar o ato ameaçador.24 É de se concluir, nesta seara, que a tutela inibitória concedida pelo juiz poderá ter conteúdo positivo ou negativo, mas nada impede que haja uma cumulação de ambos os conteúdos, visando que para determinada obrigação não cumprida pelo réu se determine uma abstenção (não fazer) e para outra seja ordenado um fazer, objetivando dar eficácia à tutela do direito ameaçado do autor. Por fim, não há dúvidas do conteúdo duplo (e cumulativo) da tutela inibitória, e ao juiz foi dada a possibilidade de se utilizar essas duas formas de inibitória, conjunta ou separadamente, visando sempre dar uma maior eficácia à tutela dos direitos. 4 FUNDAMENTOS DA TUTELA INIBITÓRIA Para delimitar os fundamentos da tutela inibitória, devem ser analisados tanto os aspectos substancias como os processuais da tutela aqui tratada. O fundamento material da tutela inibitória repousa na ideia de inviolabilidade dos novos direitos (v.g., direito do consumidor; ambiental etc.), afinal, é notável que eles não são passíveis de transformação em pecúnia e, por consequência, necessitam imperiosamente de uma atuação jurisdicional preventiva em face da ameaça provável que venham a sofrer. São, pois, direitos que antes não eram reconhecidos pela ordem jurídica e, por isso, quebram o paradigma processual individualista, de forma a inovar o ordenamento com essas novas formas de atuação jurisdicional.25 O direito substancial, nesta seara, requer um provimento específico inibitório por meio da determinação de uma conduta de fazer (inibitória positiva) ou não fazer (inibitória negativa) para que se assegure a proteção do direito irreparável, haja vista a insuficiência dos provimentos ressarcitórios. A fruição in natura do direito, portanto, é fundamento substancial do provimento inibitório visando afastar as ameaças que o cercam, mediante imposição de condutas, positivas ou negativas, ao agente causador do ilícito, ou que esteja na iminência de realizar o ato atentador ao direito. O modelo processual, portanto, deve pautar-se pela existência dessas novas vertentes não patrimoniais do direito material para não fugir do escopo instrumental que lhe é inerente, pois lembramos que a sua função primordial é servir ao direito, neste caso A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 4 ameaçado, e tutelá-lo de forma efetiva.26 A efetividade processual constitui, portanto, uma garantia constitucional fundamental de organização e procedimento (Rechte auf Organisation und Verfahren)27 e, por isso, o ordenamento deve fornecer meios jurídicos idôneos a proteger todas as formas de direito nele contidas, atingindo todas as suas peculiaridades. O processo, em suma, deve adaptar-se ao direito substancial sob pena de se tornar apenas mais uma alegoria jurídica sem utilidade fática.28 Nisso consiste um dos escopos do direito fundamental à efetividade29 processual, estampado no art. 5.º, XXXV, da CF (LGL\1988\3), que impõe ao Estado disponibilizar procedimentos seguros, eficientes e congruentes aos direitos descritos na seara material, de forma a englobar dinamicamente todas as possibilidades existentes de direito. Assim, portanto, é que se demonstra o fundamento material da tutela inibitória trazida no art. 497 do CPC/2015, por meio de uma pretensão de direito material a exigir do Poder Judiciário um provimento que iniba, positivamente (fazer) ou negativamente (não fazer), a conduta antijurídica do réu que atente contra o direito do autor. Traçados os fundamentos materiais da tutela inibitória devemos delinear os fundamentos de natureza processual que possibilitam o engendramento de uma ação preventiva ao ilícito. É neste âmbito que a Constituição Federal traz em seu art. 5.º, XXXV, que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito erigindo, desta forma, verdadeiro princípio geral de prevenção.30 Transforma-se,assim, a realidade processual ao modificar a noção axiológica do princípio da inafastabilidade da jurisdição; afinal, não mais prevalece a ideia de ressarcimento puro e simples e, sim, abre a possibilidade de se pleitear a tutela jurisdicional preventivamente quando o direito postulado estiver ameaçado, ou seja, na iminência de dano. Logo, este princípio revela-se o fundamento processual constitucional da tutela inibitória ao garantir o acesso à justiça (por meio do direito de ação) antes da ocorrência do dano (ou seja, em sede ainda de ilicitude) bem como os meios efetivos à prestação da tutela jurisdicional adequada a evitar a ameaça ao direito do autor.31 No plano infraconstitucional - especificamente no âmbito do Novo Código de Processo Civil de 2015, para não fugirmos do escopo do presente trabalho -32 há a previsão de uma tutela que objetiva afastar o ilícito preventivamente ao dano, sendo para tal tutela irrelevante, sequer, a comprovação da ocorrência de tal elemento. O art. 497 do CPC/2015 prevê que "na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente". Desta forma, traz o legislador a previsão de uma tutela mandamental que visa ordenar ao sujeito passivo que cumpra obrigações de fazer e/ou não fazer, seja repressiva, ou preventivamente, por intermédio de uma ação ordinária. Não há, pois, muita diferença do já contido no CPC/1973 em seu art. 461 que previa a tutela específica de fazer e não fazer. Todavia, a descrição dessas tutelas na sistemática processual anterior carecia de uma maior diferenciação entre tutela contra o dano e tutela contra o ilícito. Assim sendo, o caput do art. 497 do CPC/2015 prevê a possibilidade de se pleitear em juízo a tutela específica da obrigação33 de fazer ou não fazer - da mesma forma descrita no art. 461 do CPC/1973. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 5 Trata-se, pois, do fundamento processual da tutela inibitória apto a possibilitar, de forma inconteste, um provimento jurisdicional inibitório - lembrando, também, que o referido artigo, da mesma forma que o antigo art.461 do CPC/1973, não possibilita restritivamente a concessão, única e exclusivamente, da tutela inibitória, mas, também, toda uma gama de outras técnicas processuais que busquem diversas outras espécies de provimentos, inclusive o inibitório.34 A doutrina35 há muito já vinha discutindo essa necessidade de correlação entre prevenção36 e afastamento do ilícito, diversamente da concepção padrão de repressão e dano, e o Novo Código Processual avançou e inovou nesse ponto, ao garantir um maior delineamento entre as categorias de dano e ilícito. O parágrafo único do art. 497 do CPC/2015 determina que "para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo". Por este dispositivo vê-se que o Código de Processo Civil, pela primeira vez, reconhece uma tutela que visa inibir o ilícito, ou a sua reiteração, continuação, e a sua remoção, não colocando o dano como requisito fundamental processual para a garantia da tutela jurisdicional, mas sim o ilícito. Importa, pois, para a concessão da tutela inibitória tão somente o descumprimento da norma e a transgressão da ordem jurídica pelo sujeito passivo, sem que haja a necessidade de demonstração de sua culpa ou dolo, sendo, assim, responsável objetivamente pelo ilícito praticado. A tutela inibitória visa atacar o ilícito, e nada mais certo que excluir de seus pressupostos a configuração de culpa ou dolo, pois não interessa ao Estado-Juiz, neste caso, repreender um dano, mas sim prevenir que ocorra um ilícito, ou ele venha a se perpetuar, independente da vontade do agente.37 Feliz foi o legislador ao inovar o ordenamento infraconstitucional com uma sistemática que tem o ilícito como fundamento para uma tutela preventiva na defesa de direitos que, na maioria das vezes, não comportam uma atuação repressiva, sob pena de modificação da própria natureza do direito em questão. 5 CONCLUSÃO A tutela inibitória prevista no Novo Código de Processo Civil consagra a estrutura essencial de um processo efetivo que garanta as tutelas necessárias ao resguardo do direito material em ameaça, ao possibilitar o ajuizamento de qualquer espécie de ação capaz de propiciar a efetiva tutela contra o ilícito, garantindo-se, desta forma, que para cada direito deve, o ordenamento, fornecer uma forma de tutela específica e condizente com o direito substancial que se procura tutelar. Rememora-se, assim, a ideia chiovendiana de que o processo deve dar, quanto for possível praticamente, a quem tenha um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que ele tenha direito de conseguir.38 É neste sentido, portanto, que o paradigma atual do processo civil converge toda a força axiológica do direito de ação constitucional, postulado no art. 5.º, XXXV, da CF (LGL\1988\3), no objetivo de tutelar os direitos de forma efetiva e direta, aderindo ao direito material que justifica o agir do Estado na defesa da parte que se socorre do Poder Judiciário. Em conclusão, como se viu, o novo ordenamento processual traz importante inovação ao delimitar a diferença conceitual entre dano e ilícito, ao permitir a atuação do Magistrado independentemente da demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo, quando da concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 6 reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção. E são pequenas modificações conceituais do texto legislativo, como essa aqui descrita, que fazem do Novo Código de Processo Civil um diploma que tem por característica a inovação principiológica e estrutural da ciência processual nacional e, consequentemente, da atuação do Poder Judiciário brasileiro. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alexy, Robert. Theorie der Grundrechte. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1994. Arenhart, Sérgio Cruz. Perfis da tutela inibitória coletiva. São Paulo: Ed. RT, 2003. Bedaque, José Roberto dos Santos. Direito e processo. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. Berizonce, Roberto O. Fundamentos y confines de las tutelas procesales diferenciadas. Revista de Processo. vol. 165. São Paulo: Ed. RT, nov. 2008. Calamandrei, Piero. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 2003. Canotilho, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 2008. Chiovenda, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 2009. Couture, Eduardo. Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires: Depalma, 1958. Dinamarco, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. Fazzalari, Elio. Instituições de direito processual. Campinas: Bookseller, 2006. Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Ed. RT, 2004. ______. Tutela contra o ilícito (art. 497, parágrafo único, do CPC/2015). Revista de Processo. vol. 245. São Paulo: Ed. RT, jul. 2015. ______. Tutela inibitória: individual e coletiva. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2006. Oliveira, Carlos Alberto Alvaro de. Os direitos fundamentais à efetividade e à segurança em perspectiva dinâmica. Revista de Processo. vol. 155. São Paulo: Ed. RT, jan. 2008. ______. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. Proto Pisani, Andrea. Lezioni di diritto processuale civile. 5. ed. Napoli: Jovene, 2006. Santiago, Marcus Firmino. Uma abordagem diferenciada acerca da tutela jurisdicional. Revista de Processo. vol. 146. SãoPaulo: Ed. RT, abr. 2007. Silva, Ovídio Baptista da. Os princípios do direito processual civil e as novas exigências, impostas pela reforma, no que diz respeito à tutela satisfativa de urgência dos arts. 273 e 461. In: Arruda Alvim Wambier, Teresa (coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Ed. RT, 1997. Spadoni, Joaquim Felipe. Ação inibitória: a ação preventiva prevista no art. 461 do CPC. São Paulo: Ed. RT, 2008. Suárez, Christian Delgado. O panorama atual e a problemática procedimental em torno A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 7 da tutela inibitória. Revista de Processo. vol. 226. São Paulo: Ed. RT, dez. 2013. Talamini, Eduardo. Tutela relativa aos direitos de fazer e de não fazer. São Paulo: Ed. RT, 2001. Taruffo, Michele. Ideologie e teorie della giustizia civile. Revista de ProcessoComparado. n. 1. São Paulo: Ed. RT, jan.-jun. 2015. 1 "Anzitutto, si può osservare che il processo non è affatto un oggetto 'dato' nella realtà empirica una volta per tutte, e quindi osservabile in modo distaccato e indifferente, e sempre uguale a se stesso, come se fosse un pezzo di minerale. Tutti sanno, infatti, che esistono vari processi, la cui disciplina normativa varia nel tempo e nello spazio per effetto di una pluralità di fattori storici, economici, culturali e soprattutto politici. La disciplina del processo, dunque, non è nulla di 'oggettivamente dato' una volta per tutte e per tutti. Essa è il risultato contingente di scelte essenzialmente politiche, e dunque delle opzioni valutative, ossia - appunto - delle ideologie dei legislatori e di coloro che di volta in volta la determinano. Discorso analogo vale, inoltre, per coloro che interpretano ed applicano questa disciplina." Taruffo, Michele. Ideologie e teorie della giustizia civile. Revista de Processo Comparado. n. 1. p. 293-304. São Paulo: Ed. RT, jan.-jun. 2015. 2 Fazzalari, Elio. Instituições de direito processual. Campinas: Bookseller, 2006. p. 84. Segundo o jurista italiano, "(...) a norma que concede ao sujeito uma faculdade, ou um poder, dá a ele de início uma posição de proeminência sobre o objeto da faculdade ou do poder: isto é, exatamente um 'direito subjetivo' (o poder pode ser indicado, e é indicado também como 'direito potestativo'). Por isso, não é por outro motivo que a norma que impõe a um sujeito o dever de prestar alguma coisa a um outro sujeito confere a este último uma posição de proeminência sobre o objeto da prestação, portanto um 'direito subjetivo' (...)". 3 "(...) a ação é um dos direitos que podem fluir da lesão de um direito; e eis como aquela se apresenta na maioria dos casos: como um direito por meio do qual, omitida a realização de uma vontade concreta da lei mediante a prestação do devedor, se obtém a realização daquela vontade por outra via, a saber, mediante o processo." Chiovenda, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 2009. p. 57-58. 4 "(...) se o direito subjetivo significa preferência dada pela lei ao interesse individual, isto não quer dizer que quem está investido daquele possa pôr em ação a própria força privada para fazer valer, a cargo do obrigado, tal preferência. Formando a base dos conceitos de jurisdição e de ação encontra, no moderno, a premissa fundamental da proibição da autodefesa: direito subjetivo significa interesse individual protegido pela força do Estado, e não, direito de empregar a força privada em defesa do interesse individual." Calamandrei, Piero. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 2003. p. 188. Neste sentido, também, obtempera Eduardo Couture: "La actividad de dirimir conflictos y decidir controversias es uno de los fines primarios del Estado. Sin esa función, el Estado no se concibe como tal. Privados los individuos de la facultad de hacerse justicia por su mano, el orden jurídico les ha investido del derecho de acción y al Estado del deber de la jurisdicción" Couture, Eduardo. Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires: Depalma, 1958. p. 39. 5 "Ao criar a jurisdição no quadro de suas instituições, visou o Estado garantir que as normas de direito substancial, contidas no ordenamento jurídico, efetivamente conduzam aos postulados enunciados. Procurou assegurar a obtenção, na experiência concreta, daqueles precisos resultados práticos que o direito material preconiza." Spadoni, Joaquim Felipe. Ação inibitória: a ação preventiva prevista no art. 461 do CPC. São Paulo: Ed. RT, 2008. p. 22. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 8 6 Arenhart, Sérgio Cruz. Perfis da tutela inibitória coletiva. São Paulo: Ed. RT, 2003. p. 45-46. 7 "Se o Direito Processual Civil quiser cumprir sua função instrumental, a primeira regra que deve seguir é manter-se fiel ao Direito material que lhe cabe tornar efetivo e realizado. É necessário, para que esta função seja atendida, que entre os procedimentos e as respectivas ações (de Direito material), que lhe formem o conteúdo, mantenha-se constante uma relação proporcional, segundo a qual os procedimentos cresçam à medida que se reduza a evidência das respectivas pretensões de Direito material, cuja realização se busca através da ação (igualmente de Direito material)". Silva, Ovídio Baptista da. Os princípios do direito processual civil e as novas exigências, impostas pela reforma, no que diz respeito à tutela satisfativa de urgência dos arts. 273 e 461. In: Arruda Alvim Wambier, Teresa (coord.). Aspectos polêmicos da antecipação de tutela. São Paulo: Ed. RT, 1997. p. 413. 8 No direito italiano, o jurista Andrea Proto Pisani assim contextualiza a autotutela com a necessidade de uma tutela jurisdicional próxima ao direito material: "La presenza nel nostro ordinamento del divieto di autotutela privata significa che il diritto sostanziale può dirsi effettivamente esistente solo ove esistano norme processuali (disciplinatrici di mezzi di tutela giurisdizionale) idonee a garantirne l'attuazione in ipotesi di mancata cooperazione spontanea di chi vi è tenuto, attraverso la messa a disposizione, a favore del privato, della forza dello Stato. Ne segue che senza diritto processuale il diritto sostanziale no può esistere in un ordinamento caratterizato dal divieto di autotutela privata (quanto meno non può esistere come fenomeno giuridico, in quanto la sua attuazione, anziché essere garantita dallo Stato, è rimessa ai meri rapporti di forza: con la conseguenza che il detentore o i detentori del potere di fatto divengono i detentori del potere legale, indipendentemente da quanto dispongono le norme sostanziali e che i conflitti di interesse si risolvono non secondo giustizia, alla stregua dei criteri legali, bensì secondo i rapporti di forza" (Proto Pisani, Andrea. Lezioni di diritto processuale civile. 5. ed.. Napoli: Jovene, 2006. p. 5). 9 Chiovenda, Giuseppe. Op. cit., p. 87. 10 "O processualista sensível aos grandes problemas jurídicos sociais e políticos do seu tempo e interessado em obter soluções adequadas sabe que agora os conceitos inerentes à ciência já chegaram a níveis mais do que satisfatórios e não se justifica mais a clássica postura metafísica consistente nas investigações conceituais destituídas de endereçamento teleológico. Insistir na autonomia do direito processual constitui, hoje, como que preocupar-se o físico com a demonstração da divisibilidade do átomo. Nem se justifica, nessa quadra da ciência processual, pôr ao centro das investigações a polêmica em torno da natureza privada, concreta ou abstrata da ação; ou as sutis diferenças entre a jurisdição e as demais funções estatais, ou ainda a precisa configuração conceitual do jus excepcionis e sua suposta assimilação à ideia de ação. O que conceitualmente sabemos dos institutos fundamentais deste ramo jurídico já constitui suporte suficiente para o que queremos, ou seja,para a construção de um sistema jurídico-processual apto a conduzir aos resultados práticos desejados. Assoma, nesse contexto, o chamado aspecto ético do processo, a sua conotação deontológica." Dinamarco, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 22-23). 11 Oliveira, Carlos Alberto Alvaro de. Teoria e prática da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 7 et seq. 12 Bedaque, José Roberto dos Santos. Direito e processo. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 22-23. 13 "A concepção de direito de ação como direito a sentença de mérito não poderia ter vida muito longa, uma vez que o julgamento do mérito somente tem importância - como A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 9 deveria ser óbvio - se o direito material envolvido no litígio for realizado - além de reconhecido pelo Estado-Juiz. Nesse sentido, o direito à sentença deve ser visto como direito ao provimento e aos meios executivos capazes de dar efetividade ao direito substancial, o que significa direito à efetividade em sentido estrito." Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Ed. RT, 2004. p. 179-180. Em outra obra, o doutrinador paranaense obtempera: "(...) o direito de ação existirá ainda que o direito material não seja reconhecido (...)" (Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória: individual e coletiva. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2006. p. 32). 14 "O fato de o processo civil ser autônomo em relação ao direito material não significa que ele possa ser neutro ou indiferente às variadas situações de direito substancial. (...) Autonomia não é sinônimo de neutralidade ou indiferença. (...) Na realidade, jamais houve - ou poderia ter ocorrido - isolamento do direito processual, pois há nítida interdependência entre ele e o direito material. Isso é tão evidente que supor o contrário seria o mesmo que esquecer a razão de ser do processo, considerada a necessidade de este ter que ser pensado à luz da realidade social e do papel que o direito material desempenha na sociedade. Portanto, não há dúvida que a suposição de que bastaria um único procedimento para todas as situações de direito material implica em uma lamentável confusão entre autonomia e neutralidade do processo (...)." Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica processual... cit., p. 55-56. 15 Marinoni afirma que "para a efetiva proteção desses direitos, ou melhor, para a realização das normas que objetivam lhes dar proteção, é indispensável a tutela contra o ato contrário ao direito, ou seja, a tutela da norma, vista como tutela jurisdicional destinada a inibir a violação da norma ou a remover os efeitos concretos derivados da sua violação. Ora, se o ordenamento jurídico dos dias de hoje deve proteger determinados bens mediante a imposição de certas condutas, e por esta razão são editadas normas de direito material, é necessário que o processo civil seja estruturado de modo a atuá-las" (Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela contra o ilícito (art. 497, parágrafo único, do CPC/2015). Revista de Processo. vol. 245. p. 313-329. São Paulo: Ed. RT, jul. 2015.). Ver também: Spadoni, Joaquim Felipe. Op. cit., p. 28. 16 Santiago, Marcus Firmino. Uma abordagem diferenciada acerca da tutela jurisdicional. Revista de Processo. vol. 146. São Paulo: Ed. RT, abr. 2007. p. 34. 17 Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela contra o ilícito... cit., p. 313-329. 18 Arenhart, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 219. 19 Spadoni, Joaquim Felipe. Op. cit., p. 73. 20 Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória... cit., p. 35-39. 21 "O dever de fazer consiste na imposição da prática de um ato, estritamente pessoal ou exequível por outra pessoa. Porém, a rigor, todo dever que envolva uma prestação positiva recai em um fazer, em um sentido lato: entregar uma coisa ou pagar uma quantia também são enquadráveis na concepção ampla de 'praticar um ato'. Assim, define-se por exclusão o âmbito dos deveres de fazer. Estes têm por objeto a adoção de comportamento que não se destina preponderantemente a transferir a posse ou titularidade de coisa ou soma ao titular do direito. Trata-se de prestação de um fato - noção genérica que abarca qualquer serviço, trabalho ou, mais largamente, conduta ativa não destinado à simples entrega de coisa ou pagamento em dinheiro." Talamini, Eduardo. Tutela relativa aos direitos de fazer e de não fazer. São Paulo: Ed. RT, 2001. p. 132-133. 22 "Entre os deveres de não fazer, é usual a distinção entre tolerar e abster-se. Pelo dever de tolerância, o sujeito é obrigado a suportar atos alheios de interferência na sua esfera jurídica, ficando-lhe vedado adotar condutas de reação (ex.: servidão de A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 10 passagem). Já o dever de abstenção implica a proibição da prática de atos que afetem a esfera jurídica alheia (ex.: dever de não ofender a honra de outrem). Ambos recaem na imposição de um 'não agir' (...)" Idem, p. 149. 23 "(...) a ação inibitória não visa somente impor uma abstenção, contentando-se, assim, com um não fazer. O seu objetivo é evitar o ilícito, seja ele comissivo ou omissivo, razão pela qual pode exigir um não fazer ou um fazer, conforme o caso." Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica processual... cit., p. 261-262. 24 Neste mesmo sentido, Joaquim Felipe Spadoni esclarece: "Como o que pretende o autor da ação inibitória é impedir a futura ocorrência da violação do direito, traduzido pelo inadimplemento da obrigação - e não se duvida que este, visto sob o prisma da conduta lesiva, pode ser praticado mediante atos comissivos ou omissivos, dependendo da espécie da obrigação violada - ter-se-á, em princípio, uma inibitória negativa, determinando um não fazer, quando se estiver diante de ameaça de atos comissivos, enquanto na presença da ameaça de um ato omissivo, ter-se-á uma inibitória positiva, determinando-se um fazer (...)" (Spadoni, Joaquim Felipe. Op. cit., p. 76). 25 "No outro vértice das tendências do direito material atual está a concepção de novos direitos, não reconhecidos pelo direito estatal anteriormente. Trata-se, no mais das vezes, de direitos metaindividuais, próprios de sociedades de massa, que representam valores nucleares das sociedades modernas. Esta também é uma tendência da modernidade, a impor sério desafio ao direito processual. Como se sabe, o processo foi pensado para tratar com problemas individuais, de maneira compartimentada e isolada (...)." Arenhart, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 41. 26 "Como conteúdo constitucional e internacional mínimo, exige-se que a proteção jurisdicional não fique aniquilada em virtude da inexistência de uma determinação legal da via judicial adequada. Além deste conteúdo mínimo, é de questionar se bastará o facto de a lei assegurar, de qualquer forma, mesmo vaga e imprecisa, a abertura da via judiciária. Se a determinação dos caminhos judiciais for de tal modo confusa (ex.: através de reenvios sucessivos de competências) que o particular se sinta tão desprotegido como se não houvesse via judiciária nenhuma, haverá violação do princípio do Estado de direito e do direito fundamental de acesso ao direito e à via judiciária." Canotilho, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 2008. p. 497. 27 "Rechte auf gerichtliche und behördliche Verfahren sind wesentlich «Rechte auf effektiven Rechtsschutz». Bedigung eines effektiven Rechtsschutzes ist, daβ Ergebnis des Verfahrens die materiellen Rechte des jeweils betroffenen Grundrechtsträgers wahrt. (...) All dies weist darauf hin, daβ im Bereich des Verfahrens zwei Aspekte ins Verhältnis zu setzen sind: ein prozeduraler und ein materialer." Alexy, Robert. Theorie der Grundrechte. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1994. p. 444. 28 "En verdad, la Idea de la universalidad del proceso ordinário atenta contra la necesidad de tratamientoespecífico de las varias situaciones de derecho material. Como se ha señalado, esa concepción se inspira en la ilusión de la neutralidad del proceso en relación al derecho material, que llega a ser confundida con la autonomía del proceso. No cabe admitir, especialmente en el Estado constitucional de justicia, que el proceso civil vaya a desligarse del papel que el derecho material y los derechos fundamentales desempenãn en la sociedad". Berizonce, Roberto O. Fundamentos y confines de las tutelas procesales diferenciadas. Revista de Processo. vol. 165. p. 132-133. São Paulo: Ed. RT, nov. 2008. 29 "(...) a efetividade do processo, entendida como se propõe, significa a sua almejada aptidão a eliminar insatisfações, com justiça e fazendo cumprir o direito, além de valer como meio de educação geral para o exercício e respeito aos direitos e canal de participação dos indivíduos nos destinos da sociedade e assegurar-lhes a liberdade. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 11 (...)." Dinamarco, Cândido Rangel. Op. cit., p. 320. Lembra ainda Carlos Alberto Alvaro de Oliveira: "Trata-se de um direito fundamental e inviolável por parte dos poderes estatais, pois, assegurado o acesso à jurisdição, em caso de lesão ou ameaça de lesão a direito (ainda que meramente afirmada), constituiria evidente incongruência não se compreendesse aí o exercício do direito de invocar e obter tutela jurisdicional adequada e efetiva. A situação subjetiva assegurada ao longo do art. 5.º da Constituição brasileira se traduz, portanto, no poder de exigir do órgão judicial, em tempo razoável, o desenvolvimento completo de suas atividades, tanto instrutórias, necessárias para a cognição da demanda judicial, quanto decisórias, com emissão de um pronunciamento processual ou de mérito sobre o objeto da pretensão processual, e que possa ser realizado efetivamente do ponto de vista material. Daí decorrem o direito fundamental a um processo justo e o direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva e adequada." Oliveira, Carlos Alberto Alvaro de. Os direitos fundamentais à efetividade e à segurança em perspectiva dinâmica. Revista de Processo. vol. 155. p. 18. São Paulo: Ed. RT, jan. 2008. 30 Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória... cit., p. 71. Para Marinoni: "É possível afirmar até mesmo que a inserção da locução 'ameaça a direito' na verbalização do princípio da inafastabilidade, teve por fim garantir a possibilidade de qualquer cidadão solicitar a tutela inibitória" (idem, p. 81-82). 31 Spadoni, Joaquim Felipe. Op. cit. p. 48. Luiz Guilherme Marinoni esposa que "o direito de ação nos dias de hoje, não pode mais ser visto como o simples direito de ir ao Judiciário, mas sim como o direito à predisposição da técnica processual realmente capaz de dar tutela ao direito. Não basta dizer que todos podem afirmar, perante o Judiciário, um direito à tutela, mas é preciso garantir ao cidadão o direito à técnica processual capaz de viabilizar a sua obtenção" (Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória... cit., p. 83). 32 Vale mencionar que o Código de Defesa do Consumidor também traz em seus arts. 83 e 84 uma possibilidade de concessão da tutela inibitória no direito do consumidor e no direito coletivo, haja vista o regramento ser válido também para o macrossistema processual de proteção de direitos coletivos. 33 "Em verdade, mesmo por imperativo lógico, impõe-se entender que o termo obrigação, empregado no dispositivo, tem o sentido de prestação sem nenhuma vinculação com o direito privado estrito, ou com exclusivas relações de caráter obrigacional. Não haveria, com efeito, lógica em atribuir-se mecanismo de tão significativa eficácia e tão agressivo potencial a relações obrigacionais, impedindo sua utilização para interesses muito mais nobres, como os direitos personalíssimos, os absolutos ou, em geral, aqueles que não gozam de conteúdo patrimonial. Reservar para estes os meios tradicionais de tutela - que converte a obrigação específica em perdas e danos, impondo sua satisfação por meio de execução por sub-rogação, seria, de fato, paradoxo insustentável em qualquer ordenamento preocupado com a efetividade do processo." Arenhart, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 220-221. 34 "Os arts. 461, CPC, e 84, CDC (LGL\1990\40), constituem as fontes de vários instrumentos processuais necessários para a efetividade da concessão de diversas espécies de tutelas. A possibilidade de se criar um aparato técnico (um procedimento) através da conjunção destes instrumentos, permite conceber ações adequadas à prestação de várias tutelas, entre elas a inibitória. Estes artigos, em outras palavras, instituem apenas técnicas processuais adequadas. Não devem ser vistos como o fundamento substancial da tutela inibitória ou mesmo da tutela das obrigações de fazer e de não fazer, mas sim como as normas de natureza processual que, seguindo a orientação consubstanciada no art. 5.º, XXXV, da CF (LGL\1988\3), estabeleceram os instrumentos necessários para que o direito à tutela pudesse ser efetivamente exercido." Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela inibitória... cit., p. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 12 115. 35 Ver a vasta obra de Luiz Guilherme Marinoni sobre o tema da tutela inibitória. A título de comparação, citamos a situação processual no Peru, nas palavras de Christian Suárez: "Tertium comparationis, no processualismo peruano, em nível doutrinário, jurisprudencial e legislativo, inexiste preocupação com a instalação de um procedimento especial que vise a inibir um ato ilícito ou remover seus efeitos nocivos espraiados no tempo. À falta disso, o procedimento de cognição plena e exauriente domina a estrutura procedimental para que em terrenos do processo civil peruano, possa ser impetrada uma ação inibitória que concluirá com uma sentença condenatória para que, depois do trânsito até a execução da sentença, possa ser executada com técnicas executivas, atualmente, inexistentes no CPC peruano de 1993" (Suárez, Christian Delgado. O panorama atual e a problemática procedimental em torno da tutela inibitória. Revista de Processo. vol. 226. p. 283-321. São Paulo: Ed. RT, dez. 2013.). 36 Como bem reflete Sérgio Cruz Arenhart: "Se, pois, as simples ameaças de lesão a direito já são inafastáveis da apreciação do Poder Judiciário, então é necessário que o direito positivo infraconstitucional disponha de mecanismos capazes (e adequados) a permitir extravasar tais pretensões em juízo" (Arenhart, Sérgio Cruz. Op. cit., p. 219). 37 "O dano e, por consequência, a culpa e o dolo não integram a causa de pedir das ações contra o ilícito. Não estão presentes não só na causa de pedir da ação inibitória - voltada contra o ilícito futuro -, mas também na causa de pedir da ação de remoção do ilícito. Com efeito, quando se deixa claro que a tutela de remoção do ilícito visa eliminar o ilícito, e assim não tem relação com o dano, esclarece-se, igualmente, que esse tipo de tutela, à semelhança da tutela inibitória, não tem entre os seus pressupostos a culpa ou o dolo." Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela contra o ilícito... cit., p. 313-329. 38 Chiovenda, Giuseppe. Op. cit., p. 87. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de Processo Civil Página 13
Compartilhar