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Rafaella Garcia Bothrel – Acadêmica de Medicina FAMINAS-BH Professor: Argos Soares de Matos Filho ASSEPSIA E ANTISSEPSIA Histórico: Até meados do século XIX: não existia ideia de contaminação, infecções e cuidados que devem ser realizados, como atualmente; Era da cirurgia asséptica: instrumental esterilizado, técnicas de prevenção de infecções. Inácio Felipe Semmelweiss: Considerado um dos pioneiros da antissepsia e da prevenção das infecções hospitalares – reparou que o número de óbitos na enfermaria dos cirurgiões obstetras era maior do que o número de óbitos em enfermarias com partos realizados por parteiras. Além do mais, reparou que as pacientes mortas na enfermaria dos cirurgiões apresentavam secreções nas feridas operatórias; Partículas cadavéricas: concluiu que era preciso lavar as mãos ao sair dos laboratórios de anatomia para atender as pacientes ginecológicas e, dessa forma, observou-se uma redução do número de óbitos na enfermaria dos cirurgiões obstetras; Secreções de organismos vivos: secreções transmitidas de pacientes para outros pacientes = necessidade de lavar as mãos ao mudar de pacientes, além da troca de roupa por roupas limpas antes da realização de outras cirurgias. Louis Pauster (1822-1895): Teoria germinal das doenças infecciosas. Joseph Lister (1869): Descobriu o ácido carbólico (fenol), utilizado para lavagem dos materiais cirúrgicos = reduziu a taxa de mortalidade operatória. Willian Stweart Halsted (1852-1922): Introduziu o uso de luvas cirúrgicas – incialmente indicou o uso para uma enfermeira de sua equipe que possuía alergia à solução utilizada para desinfetar mãos e braços antes de procedimentos cirúrgicos – popularização do uso de luvas cirúrgicas. Atualmente: infecções da ferida operatória e nosocomiais: Morbidade e mortalidade; Contaminação cruzada. Introdução: Os procedimentos médicos, intra e extra-hospitalares, e principalmente as intervenções cirúrgicas, exigem precauções quanto ao risco de transmissão de infecções, pois essas causam um grave problema de saúde pública que gera alto custo social e econômico. Infecção: penetração, desenvolvimento e multiplicação de um MO no organismo animal, que pode resultar em consequências variadas, geralmente nocivas importante ter consciência sobre a real possibilidade de transmissão de infecções e conhecer as várias medidas para evitá-las. Infecções intrínsecas: flora normal, simbiose = relação parasitária, mudança de localização do MO. Exemplo: desequilíbrio na flora intestinal causando gastroenterite; Infecções extrínsecas: fontes externas de contaminação, diretas ou indiretas. Os processos anti-infecciosos são agrupados nos seguintes níveis: limpeza, descontaminação, assepsia ou desinfecção, esterilização e antissepsia. Limpeza: remoção da sujeira e dos detritos. É um procedimento básico que quase sempre antecede todos os métodos anti-infecciosos, sendo realizada por métodos manuais, mecânicos (basicamente com água e detergentes) e enzimáticos. Descontaminação: realizada por métodos físicos e/ou enzimáticos. Em alguns casos, antecede a limpeza de objetos e materiais contaminados por sangue, pus e secreções, deixando-os livres de agentes contaminantes e destruindo os MO patogênicos na forma vegetativa gera segurança para o pessoal técnico envolvido. Assepsia ou desinfecção: processo de destruição de MO patogênicos na forma vegetativa, presentes em superfícies inertes, mediante a aplicação de agentes químicos e físicos. Ausência de infecção. Conjunto de processos que visam evitar a presença de germes patogênicos em um ambiente desprovido dos mesmos; É feita nos equipamentos e objetos inanimados = feita nos instrumentais cirúrgicos, no campo cirúrgico, no capote, nas luvas etc. Não é possível fazer assepsia na barriga do paciente, por exemplo; Feita com desinfetantes: substâncias altamente tóxicas para todos os tipos de células, sendo sua efetividade determinada pelas condições em que atuam (maior ou menor concentração, tempo de exposição, pH, temperatura, natureza do MO e presença de matéria orgânica); Os princípios ativos usados como desinfetantes são: aldeídos, compostos fenólicos, compostos quaternários de amônia, iodo e álcool. Antissepsia: método de resultado transitório, permitindo que em tecidos vivos, principalmente na pele, no limite de sua tolerância, os MO presentes no momento da cirurgia sejam eliminados ou mortos e os vírus inativados. Busca reduzir drasticamente o número de MO presentes na superfície do corpo. Destruição de micróbios. Conjunto de procedimentos empregados na antissepsia que visam eliminar a flora transitória e reduzir a permanente; Feita em seres animados e inanimados = pode ser feita, por exemplo, na barriga do paciente e nas mãos, além do chão da sala cirúrgica. Esterilização: processo de destruição de todas as formas de vida microbiana, ou seja, bactérias nas formas vegetativa e esporulada, fungos e vírus, mediante a aplicação de agentes químicos e físicos. Deve ser precedida de lavagem e enxague do artigo para remoção de detritos. Agentes físicos: calor, radiação ionizante e filtração; Agentes químicos nas forma líquidas e gasosas. Degermação: diminuição do número de MO, patogênicos ou não, após a escovação da pele com água e sabão. Fumigação: dispersão, sob a forma de partículas, de agentes desinfetantes como gases, líquidos ou sólidos. Assepsia – escolha do desinfetante: Escolha do desinfetante: várias características são importantes na escolha do desinfetante mais adequado, ou seja, o mesmo deve possuir: Amplo espectro de ação antimicrobiana; inativar rapidamente os MO; não ser corrosivo para metais; não danificar equipamentos ou acessórios de borracha/plástico; não diminuir a vida média dos equipamentos óticos; não ser irritante para pele e mucosas; ter baixa toxicidade; tolerar pequenas variações de temperatura e pH; ter ação residual sobre superfícies; ser de fácil uso; ser inodoro ou ter odor agradável; ter baixo custo; ser compatível com sabões e detergentes. Cuidados técnicos: após a escolha do desinfetante mais adequado, alguns cuidados devem ser observados: Contato entre o agente químico e o MO: o contato necessário ocorre quando há submersão total do material limpo no agente químico; Tempo ou período de exposição: duração do tempo que o material necessita permanecer em contato efetivo com o agente químico para que ocorra destruição microbiana; Enxague, secagem e armazenamento. Antissepsia – escolha do antisséptico: Escolha do antisséptico: os antissépticos devem satisfazer os seguintes requisitos: Possuir amplo espectro de ação antimicrobiana; apresentar ação rápida; ter efeito residual cumulativo; não ser absorvido sistemicamente; não causar hipersensibilidade; não provocar outros efeitos indesejáveis (sequidão, irritação, fissuras); possuir odor agradável ou ausente; ter baixo custo; Os princípios ativos aplicados como antissépticos são as soluções alcoólicas, os iodóforos e a clorexidina. Outros conceitos: Cirurgia limpa: risco de contaminação e infecção baixo – realizadas em tecidos estéreis ou de fácil descontaminação; Cirurgia potencialmente contaminada: existe risco de infecção, mas se tomadas todas as medidas de assepsia e antissepsia o risco é baixo – realizadas em tecidos de difícil descontaminação, na ausência de supuração local, com penetração nos tratos digestórios, respiratório ou urinário, sem contaminação significativa; Cirurgia contaminada: realizadas em tecidos recentemente traumatizados e abertos, de difícil descontaminação; Cirurgia infectada: além do contato com os germes, já houve colonização – realizadas em tecidos comsupuração local, tecidos necróticos, feridas traumáticas sujas. Antibioticoprofilaxia: feita 30 minutos antes da cirurgia ou no momento da anestesia. Dura no máximo 48 horas. Quando a cirurgia é muito extensa é dado um repique de ATB. Após 48 horas da cirurgia, é considerado antibioticoterapia. Em cirurgias potencialmente contaminadas deve-se fazer antibioticoprofilaxia. Em casos de cirurgias infectadas é feito antibioticoterapia (uso de doses terapêuticas). Quando usar antibioticoprofilaxia, sendo a chance de contaminação baixa? Em casos de pacientes imunodeprimidos (quimioterápicos, em uso crônico de corticoide, HIV positivos), cirurgias para colocação de prótese (inclusive cirurgia plástica: prótese de mama) e para colocação de telas em casos de hérnias. A melhor forma de prevenir infecções não é utilizar ATB, mas sim realizar assepsia e antissepsia de forma adequada. Então, na prática, o que deve ser feito para reduzir a contaminação e infecções em cirurgias? Um conjunto de procedimentos que envolva o doente, a equipe cirúrgica e ambiente cirúrgico. Deve-se, o quanto possível, manter livre de germes o doente, a equipe cirúrgica e o ambiente! Cuidados com o doente: Fatores predisponentes à infecções: idade (principalmente extremos de idade: sistema imunológico mais incompetente), alterações metabólicas e de nutrição (diabetes, obesidade, subnutrição, uso prolongado de esteroides); Duração da hospitalização e da operação: quanto maior a duração da hospitalização, maior é a exposição à bactérias hospitalares; quanto maior a duração da operação, maior é o tempo que o paciente permanece aberto e exposto ao ambiente, além de maior resposta endócrino-metabólica ao trauma e maior desequilíbrio metabólico; Utilização de drenos e sondas: usados apenas quando realmente necessário. Sonda vesical de demora, por exemplo, é uma porta de entrada para infecções urinárias. Drenos são usados em casos de infecções localizadas (em casos de infecções generalizadas não é justificável o uso de drenos); Tamanho da incisão: quanto maior, maior é a exposição do paciente; Véspera da cirurgia – preparo do paciente: banho (cuidados especiais com cabeça, axilas e genitais: flora mais rica) – contraindicado no dia da operação (deve ser tomado na noite anterior da cirurgia, não no mesmo dia) –, trocar roupa de cama e pessoal (pijama) na noite anterior, tricotomia (cirurgia em local com muito pelo: remoção dos pelos na sala de cirurgia ou na sala de preparo; aparelho de tricotomia; evitar cortes e arranhões, ou seja, evitar raspar, apenas cortar/tonsura); Recomenda-se que o paciente entre na sala operatória sem as roupas e lençóis que saíram do quarto ou enfermaria: paciente deve entrar com a roupa do bloco cirúrgico; Cuidados com a equipe cirúrgica: Toda a equipe cirúrgica deve estar: hígida, livre de infecções localizadas ou sistêmicas, livre de lesões abertas ou em atividade; A equipe cirúrgica deve realizar os cuidados necessários: técnicas de antissepsia e vestuário adequado. Deve criar um ambiente limpo em torno do paciente que está sendo operado para minimizar o risco de contaminação e infecção; Técnicas de assepsia: minimiza os risco de contaminação e infecções; O banho deve ser tomado de preferência na noite anterior; Existe uma sala de preparo, onde as roupas devem ser deixadas e substituídas pela roupa do bloco cirúrgico. LAVAR E ESCOVAR AS MÃOS, VESTIR AVENTAL E CALÇAR LUVAS – PARAMENTAÇÃO CIRÚRGICA Vestuário cirúrgico Paramentos limpos: são aqueles submetidos apenas a processo de lavagem e desinfecção, não sendo obrigatória sua esterilização. Utilizados por todos os membros da equipe cirúrgica, inclusive os que não entram em contato diretamente com a ferida cirúrgica (ex: anestesiologista, enfermeiras, circulantes da sala). São constituídos pelas roupas do centro cirúrgico, gorros, máscaras, óculos protetores e botas. Roupas do centro cirúrgico: substituem as vestes comuns que as pessoas trajam no dia- a-dia e devem ser utilizadas apenas para o fim que se propõem (proibido o uso delas fora do centro cirúrgico). Constituídas de duas peças (jaleco e calça) ou peça inteiriça (macacão). Não devem conter abertura inferior, para prevenir contaminação; Gorros (toucas): confeccionados com tecido resistente reutilizável ou material descartável. Devem possuir tamanho suficiente para cobrir todo o cabelo. Impedem que microrganismos aderidos ao couro cabeludo caiam sobre os aventais (capotes) e campo operatório; Máscaras: funcionam como um filtro, pois permitem a passagem do ar inspirado e impedem a disseminação de bactérias nasobucofaríngeas contidas nos perdigotos do ar expirado. Confeccionadas de material reutilizável (ex: tecido de algodão) ou descartável (ex: polipropileno; poliéster). O tamanho deve ser suficiente para cobrir toda a boca e o nariz. Deve ser trocada entre uma cirurgia e outra ou mesmo durante as cirurgias mais prolongadas (umidade prejudica sua filtração). OBS: máscara do tipo elmo – cobre toda a cabeça, deixando somente a região dos olhos descoberta (pouco utilizada); Óculos: devem ser produzidos a partir de material transparente, leve e que não embace. Protege o cirurgião e as demais pessoas diretamente envolvidas com o paciente e impede a contaminação da conjuntiva por microrganismos em aspersão e por aqueles veiculados pelo sangue e secreções corpóreas durante a cirurgia; Botas (propés): protetores colocados sobre os calçados comuns e impedem que microrganismos aderidos à sua superfície cheguem ao campo cirúrgico. Uso controverso. Geralmente confeccionados com tecido de algodão resistente, malha ou material sintético descartável (ex: polipropileno; poliéster). Uso restrito ao centro cirúrgico. Paramentos assépticos: são aqueles que necessitam ser submetidos a um processo prévio de esterilização, pois estarão em contato direto com a ferida cirúrgica. Utilizados pelo cirurgião, seus auxiliares diretos e pelo instrumentador. São constituídos pelos aventais cirúrgicos, opas e luvas. Aventais (capotes cirúrgicos): confeccionados com tecido resistente (ex: algodão – reutilizáveis após lavagem comum e esterilização) ou material sintético descartável. Criam uma barreira que impede a passagem de microrganismos das áreas contaminadas do cirurgião para as regiões estéreis. São dobrados ao avesso, com as mangas para dentro, o que facilita sua manipulação, diminuindo a chance de contaminação de sua face externa, durante a paramentação; Opas (avental posterior): não possui mangas e é vestida após o avental cirúrgico, com as mãos já enluvadas. Servem de proteção para o dorso do cirurgião e devem ser vestidas com ajuda de outro membro da equipe, já paramentado, inclusive com luvas. Geralmente possui duas fitas compridas de cada lado, o que permite sua fixação, por amarração, ao corpo, recobrindo parcialmente o avental clássico (nós na parte anterior do corpo); Luvas: são feitas geralmente de látex e acondicionadas aos pares, com os punhos dobrados para fora, contendo talco ou outro material lubrificante em seu interior, para facilitar o enluvamento. Criam uma barreira entre as mãos do cirurgião e o campo operatório. Cuidados com as mãos As mãos são consideradas um dos maiores veiculadores de infecções nosocomiais, por isso, a redução da flora bacteriana, nas mãos do cirurgião e de sua equipe, é considerada de primordial importância. A pele normal é habitada por populações bacterianas distintas: flora residente e transitória. Flora residente: constituída por MO que se multiplicam na superfície cutânea, porém permanecendo em equilíbrio = flora relativamente estável e de difícil remoção, pois está fortemente aderida à superfície cutânea e aos anexos da pele; Flora transitória:composta por uma grande variedade de espécies e número de MO, geralmente adquiridos por contato, sendo mais abundantes nas áreas de maior exposição do corpo, principalmente as mãos = removida com relativa facilidade, por meio da lavagem e antissepsia das mãos. Antissepsia: tem como objetivo remover a sujeira e a oleosidade da pele, eliminar a flora transitória e diminuir a residente. Feita pelo emprego de processos físicos e químicos. Realizada por intermédio da escovação das mãos e antebraços, utilizando-se escova ou esponja esterilizadas, de preferência descartáveis. A técnica de escovação deve ser metódica e padronizada, quer seja pelo tempo de duração (5 a 10 minutos) ou pelo número de movimentos. Quando associada a um agente que atue sobre os MO, além de promover redução significativa da população bacteriana, produz efeito residual na pele (inibe o crescimento bacteriano por algumas horas). Sempre deve ser realizada no sentido distal para proximal! Substâncias mais utilizadas na antissepsia: solução de polivinil-pirrolidona-iodo a 10% (PVP-I), solução de clorexidina a 4%, solução de triclosana a 2% e hexaclorofeno. Escovação das mãos e antebraço: deve ser padronizada como se segue: 1- Unhas sem esmalte e bem aparadas; 2- Profissional deve estar portando os paramentos limpos do centro cirúrgico; 3- Ausência de adornos, como relógios, pulseiras, alianças, anéis etc.; 4- Enxaguadura das mãos, antebraços e cotovelos com água corrente e substância antisséptica; 5- Remoção da sujeira sob as unhas com escova mais resistente ou palito metálico, seguida de nova enxaguadura em água corrente; 6- Retirada da escova estéril de seu invólucro eu em seguida deve ser embebida em solução antisséptica; 7- Manutenção das mãos elevadas em relação aos cotovelos e longe do corpo; 8- Escovação geral e rápida de ambas as mãos; 9- Escovação simétrica e centrípeta, com movimentos vigorosos, mas sem ferir a pele, sempre de distal para proximal: mãos (não esquecer dos espaços interdigitais), antebraços e cotovelos, alternando entre direita e esquerda; 10- Enxaguadura das mãos e antebraços, após desprezar a escova, em água corrente, com a mão podendo tocar apenas a outra mão, mas nunca o punho ou o antebraço, e muito menos o cotovelo, devendo as mãos e os antebraços serem mantidos sempre elevados, em direção vertical. Enxugamento das mãos e antebraços: feito com compressa estéril, acondicionada em pacote individual ou juntamente com o capote cirúrgico. 1- Manutenção das mãos, após a escovação, sempre em um plano superior ao dos cotovelos; 2- Abertura, geralmente pela enfermagem, do pacote onde está acondicionada a compressa, habitualmente dobrada ao meio por duas vezes; 3- Realização de movimentos compressivos, sem fricção, entre as palmas e regiões dorsais de ambas as mãos e dedos, com as respectivas faces externas da compressa dobrada em 4; 4- Enxugamento do punho e do antebraço, por movimentos helicoidais e sempre progressivos em direção ao cotovelo, com a compressa apoiada na mão oposta; 5- Desdobramento da compressa ao meio, pela preensão de suas bordas, seguido de dobragem ao contrário, o que expõe 2 faces ainda estéreis; 6- Enxugamento do outro punho e antebraço, com a compressa agora apoiada sobre a mão oposta, e por esta manejada, por movimentos helicoidais e sempre progressivos em direção ao cotovelo; 7- Desprezo da compressa em recipiente próprio. Paramentação cirúrgica: A paramentação cirúrgica consiste no ato de vestir os paramentos estéreis, com o objetivo de participar do ato operatório. Ao iniciá-la, o profissional já deve estar utilizando macacão/jaleco e calça do centro cirúrgico, gorro, máscara, óculos protetores e botas, e mãos adequadamente escovadas e enxutas. Com a ajuda da enfermagem ou da circulante da sala cirúrgica, o cirurgião e sua equipe devem vestir o avental cirúrgico. Em seguida, calçam-se as luvas. Após, coloca-se a opa, que é utilizada apenas em um pequeno número de cirurgias, com o auxílio de um membro da equipe, completamente paramentado. É importante salientar que a opa é desnecessária na paramentação para a realização da grande maioria dos procedimentos cirúrgicos. Vestir o avental cirúrgico e a opa: 1- Abertura do pacote estéril contendo o avental cirúrgico, sobre uma mesa auxiliar, pela enfermagem ou pela circulante da sala; 2- Preensão, pelo cirurgião, do avental, de preferência com as pontas dos dedos, à altura de sua gola, seguida de sua retirada, por elevação e para fora da mesa, por meio de movimento firme e preciso, para que as dobraduras se desfaçam; 3- Preensão do avental pela parte interna dos ombros, seguida pela elevação dos membros superiores e introdução de cada membro pelo interior da respectiva manga do avental; 4- Tração do avental pela enfermagem/circulante da sala, que o segura pela parte interna e alta, de ambas as mangas, para seu perfeito ajuste ao corpo do cirurgião; 5- Preensão, pela enfermagem ou circulante, das fitas ou cordões de amarração. Para facilitar o ato, o cirurgião pode inclinar-se levemente para a frente e/ou para o lado; 6- Fechamento do avental, pela enfermagem ou circulante, por meio de nós entre as fitas ou cordões; 7- Retirada da opa do pacote estéril, quando necessária, por sua elevação e afastamento da mesa auxiliar, por um membro da equipe já devidamente paramentado, que a acomodará às costas do cirurgião, que a fixará ao seu corpo dando nós entre as suas fitas, na frente. OBS: dar nós em fitas/cordões de aventais ou opas significa que o primeiro nó é o usual e que o segundo consiste em um laço, para que possam ser desfeitos com facilidade, ao se retirarem esses paramentos. Calçar luvas: As luvas podem ser calçadas por um dos dois seguintes métodos: (1) fechado: as luvas são manejadas com as mãos protegidas pelas mangas do capote – método mais seguro para pessoas pouco experientes –, e (2) aberto: após a acomodação do capote, os dedos das mãos desnudas tocam apenas a face evertida dos punhos das luvas. Será descrito, a seguir, o método aberto para se calçar luvas (eficaz, simples e universalmente utilizado): 1- Preensão das duas luvas, com os punhos propositadamente evertidos, tomando-se cada uma delas com os dedos da mão que a calçará, tocando-se apenas na parte evertida; 2- Introdução da mão de domínio no interior de sua luva correspondente, com a parte evertida da luva sendo tracionada, e a seguir ajustada, sobre o punho do avental, não havendo problema, até aqui, se o punho da luva permanecer parcialmente evertido; 3- Introdução dos dedos da mão calçada por dentro do punho evertido da luva da mão ainda desnuda e introdução da mão desnuda no interior da luva, sendo tracionada e ajustada aos dedos e à mão, com auxílio da outra mão; 4- Desdobramento da parte evertida do punho da luva calçada por último, sobre o punho do capote, devendo este ficar completamente coberto; 5- Término do ajustamento das luvas, com auxílio da mão oposta. Retirada dos paramentos cirúrgicos: Terminada a operação, o capote e as luvas devem ser retirados com cuidado, para que suas superfícies contaminadas não toquem as áreas expostas do cirurgião. 1- Soltura, pela enfermagem/circulante, dos nós das fitas/cordões que amarram o avental ao corpo; 2- Preensão, pelo cirurgião, com cada uma de suas mãos enluvadas, uma por vez, do avental, à altura do ombro oposto, puxando-o para fora do corpo, o que permite descobrir até os antebraços, inclusive; 3- Preensão, pelo cirurgião, com cada uma das mãos, da luva oposta, pela face externa do punho, tracionando-a e retirando-a completamente, com ela devendo permanecer segura pelas pontas dos dedos da mão ainda enluvada; 4- Introdução do dedo polegar da mão desnuda, entrea pele do punho e a face interna da luva remanescente, tracionando-a e retirando-a, de maneira a cobrir a outra luva, removida anteriormente, o que permite a exposição somente das faces internas das luvas; 5- Desprezo do conjunto avental-luvas em recipiente próprio. Considerações finais: além das técnicas anteriormente descritas, existem outras, igualmente eficazes. O importante é cada equipe cirúrgica fazer sua opção técnica e, padronizá-la e respeitá- la com rigor. É comum a luva furar durante o procedimento cirúrgico. Nessa eventualidade, a luva furada, e também a outra, devem ser trocadas imediatamente. Toda vez que houver certeza ou até mesmo dúvida sobre a contaminação das luvas, em qualquer fase da cirurgia, é obrigatório trocá- las. Referências: Slides do professor Argos Soares de Matos Filho – professor de Técnica Cirúrgica da FAMINAS- BH. MONTEIRO, Ernesto Lentz de Carvalho; SANTANA, Euclides Matos. Técnica cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. 1566 p. ISBN 85-277-1134-6.