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PESSOA JURÍDICA, MORAL, FICTÍCIA OU ABSTRATA Prof. Elida Mamede 1. DADOS RELEVANTES A necessidade de conjugar esforços justifica a criação da Pessoa Jurídica, sobrepujando as limitações e transcendendo a brevidade da vida. Peso da economia Necessidade de personificar o grupo 2. DEFINIÇÕES “Grupos que o direito dimensiona e situa, conferindo- lhes também personalidade” - MIGUEL REALE “São entidades a que a Lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações.” – Carlos Roberto Gonçalves (2018) “Grupos humanos personificados para a realização de um fim comum” - Orlando Gomes Entidade constituída pela unidade de uma ou mais pessoas naturais ou patrimônios, que visa a consecução de determinados fins, dotada de existência e de patrimônio próprios, e reconhecida legalmente como sujeito de direitos e obrigações. 3. PRESSUPOSTOS Personalidade distinta dos membros que a formam Patrimônio próprio Existência própria Fins admitidos juridicamente 4. REQUISITOS Vontade humana criadora Observância das condições legais Elaboração do ato constitutivo Registro do ato constitutivoVontade humana criadora 4.1. Atos constitutivos ESTATUTO → Associações, sem fins lucrativos CONTRATO SOCIAL → Sociedades ESCRITURA PÚBLICA OU TESTAMENTO → Fundações 5. Principais teorias: TEORIAS EXISTENTES NEGATIVISTAS AFIRMATIVISTAS TEORIAS DA FICÇÃO TEORIAS DA REALIDADE TEORIAS DA FICÇÃO FICÇÃO LEGAL FICÇÃO DOUTRINÁRIA TEORIAS DA REALIDADE REALIDADE OBJETIVA OU ORGÂNICA REALIDADE JURÍDICA (OU INSTITUCIONALISTA) REALIDADE TÉCNICA 5.1. Teoria da Ficção legal - Savigny A PJ é uma criação artificial da Lei 5.2. Teoria da Ficção Doutrinária – Vareilles-Sommières A PJ é uma ficção criada pela doutrina CRÍTICA: se o Estado é ficção, o Direito que emana dele também o é. 5.3. Teoria da Realidade Objetiva ou Orgânica (Gierke e Zitelmann) A PJ é uma realidade sociológica, ser com vida própria, que nasce de forças sociais. A vontade (pública ou privada) é capaz de dar vida a um organismo. 5.4. Teoria da Realidade Jurídica ou Institucionalista - Hariou As PJs são organizações sociais, destinadas a um fim, personificadas. Parte da análise das relações sociais e não da vontade hmana. 5.5. Teoria da Realidade Técnica – Salleiles, Colin e Capitant A personificação de grupos sociais é expediente de ordem técnica, como forma encontrada pelo direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos. É a teoria adotada pelo CC-02. Art. 45. 6. INÍCIO DA PESSOA JURÍDICA Ato constitutivo: Contrato social ou Estatuto Forma Pública ou particular, exceto para fundações que somente podem ter forma pública ou testamento Algumas PJs dependem de prévia autorização do governo federal para funcionar (empresas estrangeiras, seguros, caixas econômicas, cooperativas, instituições financeiras, exploração de energia elétrica e riquezas minerais, empresas jornalísticas) 6.1. Registro do ato constitutivo Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Sociedade empresária → Junta Comercial Demais PJs de direito privado → Cartório de Registro Civil de PJs Sociedades simples de advogados → OAB Natureza constitutiva do registro Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo. Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso. Art. 45. (...) Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. 6.2. Sociedades de Fato e grupos despersonalizados Sociedades de fato: sociedades não registrados Grupos despersonalizados: Massa falida→administrador judicial Herança jacente (sem herdeiro certo) ou vacante (devolvida à Fazenda por ser jacente) → curador Espólio → inventariante Condomínio → síndico (Lei n.º 4.591/94) família 7. Classificações 7.1.Quanto à nacionalidade: Nacionais Estrangeiras (estas, com autorização do Poder Executivo) 7.2. Quanto à estrutura interna: Corporação (Universitas personarum) – conjunto de pessoas com fins internos e comuns (associações e sociedades simples e empresárias) Fundação (universitas bonorum) – o aspecto dominante é o material. É um patrimônio personalizado. Fins externos 7.Classificações 7.3. Quanto à função ou órbita de sua atuação Interno De Direito Público P.J. Externo (ONU, OEA, OIT, etc.) De Direito Privado Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado. Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. (fundações públicas e agências reguladoras) Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos. 8. ASSOCIAÇÕES “As associações caracterizam-se, de modo geral, pelo exercício de atividades de natureza cultural, comum a todos os membros da convivência, ou de atividades que exigem qualificação específica nas quais o elemento pessoal é dominante” – Miguel Reale Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. 8.1. Requisitos para elaboração dos estatutos Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: I - a denominação, os fins e a sede da associação; II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manutenção; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; ( VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. 8.2. Exclusão e retirada de associado Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (Eventualmente cabe discutir, no âmbito do judiciário, a exclusão do sócio) O associado pode retirar-se a qualquer tempo Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. Exs. associado contribuinte (não tem poder diretivo ou direito de voto) e associado proprietário (tem poder diretivo e direito de voto) Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário. Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto. 8.3. Destino dos bens em caso de dissolução da associação Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes. 9. SOCIEDADES SIMPLES: grupo de pessoas que objetivam o lucro, que deve ser repartido entre os sócios; é alcançado pelo exercício de certas profissões ou pela prestação de serviços técnicos. EMPRESÁRIA: Grupo de pessoas que visa a lucratividade, mediante o exercício de atividade empresarial (PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS) Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 10. FUNDAÇÕES “Não se trata aqui de uma congregação de pessoas, mas de uma universalidade de bens, que se situa e se individualiza tão-somente em virtude dos fins a que está a serviço” – Miguel Reale Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: I – assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; IX – atividades religiosas 10.1. Espécies de fundações Particulares Públicas → Instituídas pelo Estado, pertencendo os seus bens ao patrimônio público 10.2. Elementos Patrimônio → bens livres e suficientes Fim→ Não pode ser lucrativo, mas de interesse público e social 10.3. Constituição da fundação 4 FASES: 1ª FASE: ATO DE DOTAÇÃO OU INSTITUIÇÃO (reserva de bens livres, com indicação dos fins e modo de administrá-los) – Escritura Pública ou testamento 2ª FASE: ELABORAÇÃO DO ESTATUTO (direta ou própria, pelo instituidor ou fiduciária, que é por pessoa por ele designada) Art. 65. (...) Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público. 10.3. Constituição da fundação 3ª FASE: APROVAÇÃO DO ESTATUTO pelo Ministério Público 4ª FASE: Registro no Cartório de Registro Civil de PJs 10.4. Alteração do Estatuto Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma: I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; II - não contrarie ou desvirtue o fim desta; III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. 10.4. Alteração do Estatuto Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias. Inalienabilidade dos bens 10.5. Extinção da Fundação e destino do patrimônio Quando se tornar ilícito o seu objeto Quando for impossível ou inútil a sua manutenção Quando vencer o prazo de sua existência Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. 11. Organizações religiosas Aplicam-se as regras de associações no que for compatível Enunciado 143 III Jornada de Direito Civil – Art. 44: A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos. 12. Partidos Políticos Lei 9.096/95 Enunciado 142 III Jornada de Direito Civil – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se- lhes o Código Civil. 13. Desconsideração da pessoa jurídica Intuito de impedir a consumação de fraudes e abusos de direito cometidos por meio da personalidade jurídica Teoria da desconsideração da pessoa jurídica, da penetração da pessoa física, (disregard of legal entity) Código Civil Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Código do Consumidor Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. LEI Nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. 13.1. Teorias da desconsideração Teoria maior da desconsideração: exige-se a prova da insolvência e a demonstração da intenção de fraude (desvio de finalidadee/ou confusão patrimonial). Teoria Maior Objetiva: Confusão patrimonial Teoria Maior Subjetiva: Desvio de Finalidade e Fraude Teoria menor da desconsideração: basta a prova de insolvência da pessoa jurídica. Adotada pelo direito do consumidor e direito ambiental. Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo. 13.2.Requisitos A personificação Responsabilidade limitada Fraude e abuso de direito Imputação dos atos à pessoa jurídica Atinge os administradores e/ou sócios que hajam participado do ato irregular (que contrarie o fim social da empresa, má-fé, desrespeito aos bons costumes) VANTAGEM: INEFICÁCIA EPISÓDICA DO ATO CONSTITUTIVO DA PESSOA JURÍDICA Despersonificação e desconsideração são diferentes. CONSTRUÇÃO DOUTRINÁRIA NO BRASIL: Fabio Ulhoa Coelho, Lamartine Correa, Fabio Konder Comparato, Maria helena Diniz, Tartuce, etc. Desconsideração inversa: transferir o patrimônio para a empresa por ter dívidas pessoais, com o intuito de fraudar credores. Responsabiliza-se a sociedade por obrigação do sócio. 14. Modificação Transformação: Incorporação: Cisão: Fusão: 15. EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA Convencional: Acordo de seus membros Legal: Decretação de falência (sociedade empresária), Morte dos sócios, Desaparecimento do capital em sociedades sem fins lucrativos Administrativa: Cassação da autorização Judicial: Art. 1034 Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando: I - anulada a sua constituição; II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexeqüibilidade. “Ao contrário do que ocorre com a pessoa natural, o desaparecimento da pessoa jurídica não pode, por necessidade material, dar-se instantaneamente, qualquer que seja sua forma de extinção. Havendo patrimônio e débitos, a pessoa jurídica entrará e fase de liquidação, subsistindo tão só para a realização do ativo e para pagamento de débitos, vindo a terminar completamente quando o patrimônio atingir seu destino” - SilvioVenosa Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. § 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução. § 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado. § 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.
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