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1 Ética e Sociedade 1º semestre / 2019 2 COLETÂNEA FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA Ensino Presencial (1º semestre) EAD (MÓDULO 51) Organizadoras Cristina Herold Constantino Débora Azevedo Malentachi Colaboradores Edson Dias dos Santos Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano Leticia Matheucci Zambrana Rebeca Sabrina Vaz Lencina Direção Geral Pró-Reitor Valdecir Antônio Simão 3 Sumário Apresentação........................................................................................................................................................ 04 Considerações Iniciais......................................................................................................................................... 05 O desafio da Ética na Sociedade do Conhecimento............................................................................................... 06 Brumadinho e a urgência da responsabilidade........................................................................................................ 07 Revisitar nossas crenças: uma boa solução para os problemas do Brasil.............................................................. 09 Empresas de cosméticos usou desastre humano e ambiental para se promover.................................................. 10 Sócios do crime organizado..................................................................................................................................... 12 Os direitos humanos e o Estado de direitos............................................................................................................ 14 Jovens zombam de indígena veterano de guerra nos EUA.................................................................................... 16 Década internacional de Afrodescendentes............................................................................................................ 18 E a sociedade pergunta: Surdo, Surdo-Mudo ou Deficiente Auditivo?.................................................................... 20 TEA – Transtorno do Espectro Autista.................................................................................................................... 21 Retrospectiva imigração 2018 e perspectivas para 2019........................................................................................ 23 Ética profissional...................................................................................................................................................... 26 Ética na engenharia................................................................................................................................................. 30 Museus históricos: poder, educação e sociedade................................................................................................... 34 Sociedade dos sonhos............................................................................................................................................. 37 Charges.................................................................................................................................................................... 38 Considerações finais................................................................................................................................................ 40 4 Apresentação A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo. Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade – Ética, Política e Economia – Ética Cultura e Arte – Ética, Ciência e Tecnologia – Ética e Meio Ambiente, sendo que nos dois primeiros eixos estão incluídos temas complementares e pertinentes propostos pelo Observatório Social do Brasil. Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a finalidade de abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado. Tem como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas semanas, ou seja, a realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas. Você tem em suas mãos uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos. Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios de comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como suporte à sua vida em todas as instâncias. Também, importa lembrar que a organização deste e demais materiais da FSCE não pressupõe qualquer tendência político-partidária e/ou apologia a qualquer grupo religioso em detrimento de outros, sendo que estamos disponíveis ao recebimento de indicações de textos, sites, tanto quanto às sugestões de conteúdos relacionados aos referidos eixos. Faça, portanto, da FSCE sua porta de entrada para a aquisição de novos conhecimentos. Vista a Camisa do Conhecimento e seja MAIS! 5 Considerações Iniciais O CONHECIMENTO É COMO UM JARDIM: SE NÃO FOR CULTIVADO, NÃO PODE SER COLHIDO. Provérbio Africano Olá, prezado(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a)! Nesta primeira Coletânea da Formação Sociocultural e Ética (FSCE), convidamos você a exercer uma leitura crítica sobre Ética e Sociedade, porém, com o olhar empático. Talvez sejam estas as palavras-chave do momento – criticidade e empatia. Criticidade para analisar os fatos e se posicionar diante deles. Empatia para se colocar no lugar do outro, no intuito de melhor compreender sua realidade, seus dilemas, suas dores. A partir da leitura crítica e do olhar empático acerca dos temas que seguem – direitos humanos, indigenismo, afrodescendência, dentre outros – estamos a um passo de fazer do conhecimento o ponto de partida para atitudes proativas tão necessárias para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Nesse sentido, acreditamos no poder transformador da leitura e no seu potencial de fazer a diferença a partir dessa transformação! Uma ótima leitura! Sucesso na sua jornada acadêmica! Sucesso na vida! Organizadoras 6 O DESAFIO DAÉTICA NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO Marcia Tiburi Ética é uma das questões mais importantes no contexto de nossa sociedade, tanto da esfera pública, quanto de nossas vidas privadas. Somos éticos quando refletimos sobre o que fazemos, quando medimos e qualificamos nossas ações levando em conta o que somos e podemos ser, com base no reconhecimento do outro, seja ele nosso próximo, a sociedade ou até mesmo o planeta. Sem a ética não sabemos nos situar em nenhuma esfera de nossas vidas. Sem a ética nos tornamos alienados, ou seja, figuras desconectadas de uma reflexão sobre o sentido da vida em sociedade. Ética é um tipo de postura e, consequentemente, de ação, certamente mediada em princípios tais como o respeito à subjetividade, à dignidade da pessoa, à diversidade, ao outro. Mas não se trata de uma pura ação. Antes trata-se da relação entre pensamento e ação. Neste sentido, para que cheguemos à ética, precisamos lutar pela desmistificação da separação entre teoria e prática. Esta é uma das questões mais fundamentais quando falamos de ética como a “filosofia prática” que ela, de fato, é. Ética é a capacidade de pensar e fazer a partir de um princípio de autonomia pessoal em que cada sujeito se questiona sobre o que pensa e faz, levando em conta que o questionamento já é, em si mesmo, pensamento e ação que terá consequências concretas. Quem não pensa por conta própria é levado a pensar o que os outros para ele definiram como verdade. É neste sentido que muitos introjetam aquilo mesmo que lhes faz mal, que é dito contra eles mesmos. A heteronomia pode até ser moral, mas não é ética, pois enquanto a moral é confirmação do hábito ou do previamente estabelecido, a ética implica seu questionamento. No entanto, falamos de ética como de uma palavra mágica que, pelo simples fato de ser pronunciada, adquire validade concreta. Isso tem dois lados. De um, muitos acreditam que basta “falar” ética para ser ético. De outro, é verdade que a palavra ética tem um poder performativo radical. Quando pronuncio ética, a palavra como que ricocheteia sobre mim exigindo que eu a realize na prática. Isso quer dizer que se alguém fala em ética sem ser ético, uma contradição se escancara. Ao mesmo tempo, vivemos em uma sociedade caracterizada por uma relação imediata com a informação e certa ideia de conhecimento que parece não prever muito espaço e tempo para o cultivo da subjetividade que nos permitiria a invenção da ética entre nós. Os relacionamentos já não são baseados em princípios éticos porque não existe mais a esfera da subjetividade, ou, em outros termos, da interioridade, da consciência de si, do autoquestionamento e da crítica social. Aquilo que antigamente chamávamos de “alma”. Experimentamos nos diversos contextos da experiência vivida, transformações profundas que alteram nosso modo de ver e, portanto, de agir no mundo. As novas tecnologias, a Internet, as Redes Sociais, têm levantado muitas questões que tanto o campo da filosofia, quanto o da antropologia, da sociologia e da educação procuram responder. A contradição entre um mundo de informação e a desvalorização da comunicação e da educação é uma delas. Nossa cultura desvaloriza, igualmente, a cultura… Como fomentar a subjetividade se estas esferas que a criam estão aviltadas em nossos meios? Perguntar pelo sentido do conhecimento em nossos dias é uma questão que se torna cada vez mais urgente. Ele também nos coloca o sentido do autoconhecimento que, visto de um ponto de vista crítico, ainda teria muito a nos dizer sobre nossa potencialidade ética (e que será sempre, por fim, política). Mas quem quer autoconhecimento hoje? Só que esta pergunta esconde uma outra: onde está o desejo? E outra: quem tem direito a seu desejo hoje? Neste campo, a pergunta ética por excelência é “o que cada um de nós está fazendo consigo mesmo?” quando nos entregamos às ordens de uma sistema econômico, social e comunicacional deturpados? Neste contexto, a reflexão sobre a ética se torna fundamental como modo de pensar e promover a ação nas variadas experiências no mundo da vida levando em conta os problemas culturais de nosso país que vão do analfabetismo generalizado à corrupção. [...] A reflexão sobre a ética permite re-situar o sentido do conhecimento e da cultura, dirigindo-nos a uma valorização da educação em termos de formação que transcende o espaço da escola e nos liga novamente ao sentido da vida como um todo, ao espaço que habitamos, a cidade onde vivemos, a sociedade que ajudamos a formar com todas as nossas ações. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/o-desafio-da-etica-na-sociedade-do-conhecimento/> Adaptado. Acesso em: 07 fev. 2019. O que é ética hoje? Como ela vem sendo entendida? O que é ética no mundo do trabalho, na família, no cotidiano, na escola? O que os meios de comunicação têm feito da ética? Ética é, principalmente, a relação que estabelecemos uns com os outros. É o questionamento sobre o sentido da convivência baseada na pergunta “o que estamos fazendo uns com os outros?”. 7 Brumadinho e a urgência da RESPONSABILIDADE "Para Hans Jonas, como o desenvolvimentismo é, no geral, refém de um otimismo utópico ingênuo, é preciso tomar (ética e politicamente) uma medida inversa, ou seja, dar preferência para o prognóstico negativo, com apoio em uma “futurologia comparativa” que reúna saberes de várias ciências, agora integradas em vista da realização de uma melhor detecção dos riscos aos quais a humanidade, as outras espécies e a natureza como um todo estão submetidos. Na filosofia jonasiana, o nome disso é “heurística do temor”, uma atitude capaz de despertar um sentimento de responsabilidade pelo que ainda não aconteceu, mas que é possível e até mesmo provável, que aconteça", escreve Jelson Oliveira, professor e atual coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. O acidente de Brumadinho é mais uma página trágica do modelo de desenvolvimento que vem sendo implantado no Brasil, sob as bravatas daqueles que consideram a parca e frágil legislação ambiental um obstáculo para o progresso. Esse modelo, que transformou a própria ideia de crescimento econômico em um conceito inquestionável, uma espécie de epíteto recomendatório, cresce amparado na exploração do trabalho humano (mal pago, indigno, escravo) e da natureza. Ao longo da história, tal desenvolvimento (no geral confundido apenas com o crescimento econômico) deixou de ser uma opção dos povos e passou ao plano de uma obrigação elementar e principal, uma espécie de direito a ser conquistado, embora nem sempre seus benefícios alcancem a todos – na verdade não seria exagero afirmar o contrário: ele vem dizimando a vida de espécies, promovendo a pauperização da biodiversidade e extinguindo inúmeras comunidades humanas tradicionais, principalmente indígenas e quilombolas. Com tal processo, a modernidade fez do desenvolvimento um móvel ideológico poderoso e, principalmente, um instrumento de poder - o que significa também de dominação. Alargado ideologicamente, surgiu e se fortaleceu a crença paradoxal de que só o desenvolvimento poderia conduzir os diferentes povos e indivíduos à igualdade plena, ou seja, à completa realização de todas as suas potencialidades, à vida boa ou à felicidade. Nessa lógica, o crescimento da produção por meio da exploração exacerbada da natureza cujo instrumento é uma técnica cada vez mais intensa e mais agressiva se tornou a palavra de ordem nos projetos de governo. Ora, tal afã, associado ao aumento do poder de intervenção humana, este sim, visível a olhos nus na alta tecnologia usada nos processos produtivos, que cavoucam a terra, movem e fabricam montanhas, deixando rastros de dejetos e dores, essa hipertrofia do poder, enfim, tem como consequência mais danosa o aumento dos riscose dos prejuízos ao meio ambiente. É precisamente essa dissociação entre o poder e a destruição que ele pode provocar que tem levado a tragédias como a de Brumadinho. O elo quebrado nessa cadeia é, precisamente, a questão ética. Porque, no afã do lucro fácil, falta a visão de responsabilidade, acidentes irreparáveis como este estão se tornando cada vez mais comuns. Hans Jonas nasceu em 1903, em Möchengladbach, Alemanha. Estudou filosofia e teologia em Freiburg, Berlim e Heidelberg. Foi aluno de Martin Heidegger (considerado por muitos o maior filósofo da Alemanha no século XX, apesar de sua adesão ao nazismo por 10 meses) e de Rudolf Bultmann (um dos mais célebres teólogos reformistas alemães). No período o qual Hitler ascendeu ao poder, Jonas fugiu para Inglaterra, foi membro do exército britânico, e depois Palestina. Mudou-se finalmente para New York (EUA) onde viveu até sua morte em 1993. Influenciado pela analítica existencial de Heidegger, pela fenomenologia de Husserl, pela leitura cristã, crítica das perspectivas éticas clássicas e modernas, de Bultmann e pelos horrores dos campos de concentração nazista, concentrou- se em construir uma teoria ética que fizesse frente à perene possibilidade de a humanidade destruir-se utilizando o enorme avanço tecnológico contemporâneo. Em 1979 publica o que se tornaria sua obra magna: O Princípio Responsabilidade: ensaio para uma ética da civilização tecnológica. Este livro merece uma leitura atenta e cuidadosa porque propõe uma reflexão cada vez mais necessária a nossa sobrevivência e a do planeta. E o seu princípio responsabilidade abre uma perspectiva de diálogo crítico em uma época onde o niilismo tecnológico e político fez sua morada, talvez, definitiva. Disponível em: <http://www.filosofia.com.br/vi_classic.php? id=18> Acesso em: 15 fev. 2019. 8 Tal situação se agrava (e ao mesmo tempo se explica) quando observamos que a luta contra a legislação e a favor do sucateamento dos órgãos ambientais aparece com força crescente no discurso oficial, cujos apoiadores são ruralistas, madeireiros, mineradores e toda gente de má fé, que fecha os olhos à gravidade dos riscos: é preciso flexibilizar as regras para maximizar os lucros. Assim, com gente escravizada e meio-ambiente destruído, esses setores fabricam diariamente suas tragédias – as que se vê, pela sua extensão; e as que são invisíveis, pela sua constância. O que esse discurso quer eliminar é a obrigação das medidas preventivas capazes de evitar tais tragédias, garantindo maior proteção aos territórios e às pessoas potencialmente ameaçadas. Tal modelo dá prova cabal da urgência de que a responsabilidade e suas irmãs gêmeas, a precaução e a segurança, sejam princípios orientadores de qualquer projeto de desenvolvimento que se queira levar adiante com um mínimo de decência. Essas são as únicas alternativas diante dos corpos soterrados, das paisagens destruídas, das lágrimas de toda a gente. A responsabilidade é o nome da atitude ética desenvolvida pelo filósofo alemão Hans Jonas para expressar o dever da humanidade em preservar as condições da vida em geral, para agora e para o futuro. Para Jonas, o problema reside nos “limites de tolerância da natureza” em relação ao crescimento exponencial do poder tecnológico e dos riscos que ele impõe à vida em geral: “a questão é saber”, pergunta o filósofo, “como a natureza reagirá a essa agressão intensificada (PR, p. 300). Afinal, “não se trata de saber precisamente o que o homem ainda é capaz de fazer [...] mas o quanto a natureza é capaz de suportar”, até a mais decisiva das fronteiras, ou seja, o desaparecimento das condições gerais da vida, incluindo a própria humanidade: “os limites são ultrapassados, talvez sem volta, quando esses esforços unilaterais arrastam o sistema inteiro, dotado de um equilíbrio múltiplo e delicado, para uma catástrofe do ponto de vista das finalidades humanas” (PR, p. 301). Tal catástrofe está amparada em uma visão equivocada a respeito dos limites da natureza e mesmo da sua capacidade de regeneração mas, sobretudo, ao baixíssimo controle de segurança a que estão submetidos esses projetos. De um lado a grandiosidade dos poderes torna cada vez mais difícil reunir dados científicos capazes de garantir tal segurança, mas de outro, as práticas imorais de diagnósticos mal feitos, agentes técnicos subornados e uma lista infinita de irregularidades, conduzem ao risco iminente cuja única saída é, ao contrário do que dizem os governos atuais, o acirramento das medidas protetoras, o aumento do investimento em segurança, o fortalecimento dos órgãos de fiscalização e a efetividade da punição aos responsáveis. [...] Para Jonas, como o desenvolvimentismo é, no geral, refém de um otimismo utópico ingênuo, é preciso tomar (ética e politicamente) uma medida inversa, ou seja, dar preferência para o prognóstico negativo, com apoio em uma “futurologia comparativa” que reúna saberes de várias ciências, agora integradas em vista da realização de uma melhor detecção dos riscos aos quais a humanidade, as outras espécies e a natureza como um todo estão submetidos. Na filosofia jonasiana, o nome disso é “heurística do temor”, uma atitude capaz de despertar um sentimento de responsabilidade pelo que ainda não aconteceu, mas que é possível e até mesmo provável, que aconteça. Sem dúvida, as vidas de Brumadinho poderiam ter sido poupadas caso uma atitude desse tipo tivesse orientado a ação da empresa e das autoridades, com o fim de evitar a aposta tão perigosa: ao invés de achar que a barragem não vai estourar e que tudo ficaria bem, seria preciso imaginar a tragédia que aconteceu na tarde do dia 26 de janeiro de 2019. O medo de que aquilo tudo acontecesse poderia inspirar ações de cuidado a fim de evitar o pior. In dubio pro malo. A responsabilidade, assim, é um conceito central da filosofia prática, cuja falta tem levado a humanidade – em Brumadinho, em Mariana, nas imensas lavouras de monocultura, no desmatamento das florestas etc. – a colocar em risco as condições da vida em nosso planeta. Porque nós, seres humanos, temos, agora, um poder destrutivo absurdamente inédito na história e somos os únicos capazes de responsabilidade, somos também nós que devemos assumi-la como projeto pessoal, ético e político: “torna-se uma obrigação transcendente do homem proteger o menos reconstruível, o mais insubstituível de todos os ‘recursos’: a incrivelmente rica dotação genética depositada pelas eras da evolução”. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/586323- brumadinho-e-a-urgencia-da-responsabilidade> Acesso em: 05 fev; 2019. Quando o livro de Jonas “O princípio da Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica” completa 40 anos de sua publicação (1979), ele nunca foi tão necessário, inclusive e principalmente no Brasil. E com ele, a filosofia assume a sua tarefa cósmica: contribuir para a proteção da vida aqui, nesse planeta, o único no qual, por enquanto, ela é possível. 9 Revisitar nossas crenças: uma boa solução para os problemas do Brasil 28/01/2019 - Por Ricardo Felizzola, CEO do Grupo PARIT S/A Tudo o que acontece tem causa: a catástrofe de Brumadinho, uma evidência da incompetência que existe no país para lidar com a sustentabilidade, ou a recente publicação do World Economic Forum onde consta que nossa educação ocupa o 119° lugar no mundo em qualidade, atrás da Namíbia, do Zimbábue e do Sri Lanka, outra grande incompetência, ou ainda os recordes de impunidade e lentidão judicial para todo tipo de crime com personagem de qualquer “colarinho” que se deseje. Também tem causa a reação barulhenta à correntevencedora nas eleições recentes e que sugere, pela primeira vez na história do Brasil, um processo conservador nos valores e liberal na economia. O boicote é ensurdecedor neste início de gestão, não apenas pela esquerda, mas, sim, por todo e qualquer cidadão que já se julgue prejudicado pelas eventuais mudanças que virão. Nossas crenças estão na causa disso tudo. Elas são os valores originados de nossa cultura que é construída ou destruída pelo nosso mundialmente descolocado processo de educação. Observe-se que uma educação frágil dá lugar a credos também frágeis, passíveis de manipulação e que podem estabelecer, mesmo com robusta democracia, sistemas artificiais de poder que, dependendo de sua estirpe, levam uma sociedade inteira ao fracasso. Nossa sociedade é produto do que acreditamos. E acreditamos no que aprendemos. Se pais não acreditarem num futuro melhor para seus filhos pela via da boa educação, custe ela o que custar, começa aí os problemas. Se leis são descumpridas por descrédito e, ao invés de crer no trabalho honesto para progredir fazendo riqueza, criamos atalhos (os jeitinhos) para o sucesso, estaremos minando toda a sociedade. Diante disso, cabe um trabalho de reconstituição de valores conservadores aprimorando o credo na hierarquia, na família, na ordem, nas leis, na punição real dos desonestos, na liberdade individual, na moeda e nos contratos. Essa é a mais importante missão de quem dirige a nação. Além disso, a busca por uma educação de excelência, um relacionamento com países de referência mundial com capital e tecnologia voltados para maior intercâmbio econômico é ponto fundamental. Uma abertura econômica racional gerando um cartão de visitas de uma economia sem entraves, liberal. Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2019/01/revisitar-nossas-crencas-e-uma-boa-solucao-para-os-problemas-do-brasil- cjrgvxqsb015y01q9uq3zrb57.html.> Adaptado. Acesso em: 30 jan.de 2019. Cabe um trabalho de reconstituição de valores conservadores aprimorando o credo na hierarquia, na família, na ordem, nas leis, na punição real dos desonestos, na liberdade individual, na moeda e nos contratos. 10 Empresa de cosméticos usou desastre humano e ambiental para se promover Era para agregar valor, mas soou como um tiro no pé. Dias após a tragédia em Brumadinho, considerada um dos maiores crimes: social, humano e ambiental do Brasil, a marca de Cosméticos Jendayi produziu uma campanha de apoio às vítimas. Na campanha, modelos – entre eles uma criança – são cobertos por lama, e aparecem chorando e enrolados em uma bandeira do Brasil. “O objetivo desta campanha é mostrar que existe uma marca de cosméticos que se preocupa com a beleza, a beleza da vida”, afirmava o texto da Jendayi Cosméticos nas redes sociais. A campanha foi, porém, interpretada por internautas como oportunismo, e gerou uma série de críticas nas redes, o que levou a marca a retirar a publicação na noite de 28/01/2019. O ensaio de fotos produzido pela Jendayi utilizou da tática publicitária conhecida como ‘anúncio de oportunidade’. A marca, empresa ou instituição manipula um evento ou data para marcar sua posição sobre determinado assunto, como quando uma marca faz um anúncio no Dia da Água para se associar a uma ideia ecológica e agregar valor ao produto. Segundo Pablo Nabarrete, professor do Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, na publicidade digital é cada vez mais comum que as empresas peguem carona em um assunto em alta para impulsionar por meio dos algoritmos a marca, o que é muito mais barato do que pagar para publicar um anúncio em outras mídias. “Muitas vezes isso é feito de maneira inteligente e sem implicações éticas. Não foi o caso agora. Faltou reflexão ética do impacto social, humano e ambiental desse desastre, e entender que não era plausível falar do assunto. Inclusive do ponto de vista mercadológico o ganho não existe. A marca ficou em evidência, mas não teve êxito em construir uma boa imagem”, comenta o professor. No texto, a Jendayi afirma que o ensaio foi produzido pelo fotógrafo Jorge Beirigo, com o intuito de “incentivar a todos a não desistirem desta luta, irem até o final, seja com orações ou doações”. A imagem que uma empresa produz no ideário de cada um é uma das coisas mais importantes para determinar o seu valor. Nesse caso, não foi só a estratégia que falhou. A estética da campanha também foi considerada ofensiva e agressiva. A ciência mais utilizada para análises imagéticas de peças publicitárias é a semiótica, que trabalha com os signos das imagens. Esses signos remetem a algo que não está ali exatamente, mas o representa. “O caráter concreto da lama, usada nas fotos, e que em Brumadinho deixou centenas de vítimas, é expropriado, deslocado do contexto do impacto humano e social da tragédia. Usa-se para promover uma marca, deslocando a ideia de que matou pessoas, animais, o meio ambiente”, explica Nabarrete. 11 Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/carta-capital/a-tragedia-em-brumadinho-e-os-limites-eticos-da-publicidade/> Acesso em: 05 fev. 2019. Na década de 1990, a gigante Benetton passou a produzir anúncios com fotos de doentes terminais. Dessa vez não representada por atores, mas pelos próprios pacientes. Na época, as fotos foram consideradas uma publicidade diferente de tudo aquilo que já tinha sido feita até então. Deu certo por um tempo, mas depois começou a ganhar resistência e produzir uma reflexão sobre os limites éticos da publicidade. 12 Sócios do crime organizado 15 jan. 2019 Por Raul Jungmann. Ex-titular dos ministérios da Segurança Pública e da Defesa do Brasil. A construção desse paradoxo se dá, faticamente, por termos a terceira população carcerária do mundo, com mais de 720 mil apenados, que cresce na ordem de 8.3% ao ano – será uma cidade de Porto Alegre em 2025, algo como 1,5 milhão de pessoas -, constituída de jovens de 18 a 29 anos, que representam hoje 75% dos presos. Aos quais a apenas 12% se oferece educação e trabalho a 15% deles. Esse grave quadro se deteriora ainda mais quando se verifica que o sistema prisional tem um déficit de 358 mil vagas, já que conta com apenas 368 mil vagas disponíveis, e que os mandados de prisão em aberto já somam mais de meio milhão e crescem geometricamente. Para que se tenha ideia dos custos necessários para cobrir o déficit do sistema e seu crescimento anual mais sua manutenção, seria necessário algo em torno de R$ 50 bilhões, o que, diga-se, é insustentável tanto econômica, quanto fiscal ou orçamentaria. Pois bem, nada disso é parte do debate nacional sobre a segurança pública. Neste, em todos os níveis, os atores e agentes públicos e políticos, debruçam-se sobre a violência nas ruas, com as exceções de praxe. Sem negar a urgência e a importância de soluções para a violência cotidiana – os assaltos, homicídios, sequestros, balas perdidas etc. Tão pouco minimizar as medidas legislativas, materiais e operacionais para enfrentá-la, restam cristalinos que as ruas e o sistema prisional são faces complementares de um só problema. Porém, esse diagnóstico é interditado por dois motivos: O primeiro deles é que uma população com crônico déficit de segurança, exposta à violência e indefesa, por um lado deseja que tirem os bandidos das ruas por quaisquer meios e, de outro, execra e mesmo se dispõe a linchar midiática e politicamente quem propuser trazer a questão prisional a debate. Quem o fizer, será sancionado duramente como associado ou defensor de bandidos. O segundo motivo, é que o poder público, premido pela escassez de recursos e por imensas demandas sociais reprimidas, inclusive por mais emelhor segurança nas ruas, subdimensiona, quando não colapsa, o orçamento e a manutenção das prisões, ao ponto de transformá-las em depósitos de presos. A degradação do sistema chega a tal ponto que os governos estaduais responsáveis pelo sistema, para evitar explosões e crises, fazem um pacto não escrito com o crime, entregando, na prática, as unidades prisionais às facções. Fruto dessa “aliança”, o sistema prisional, que é estatal, se aliena da sua responsabilidade pelas unidades e vida dos apenados, é capturado e se torna sócio do crime organizado… E aqui chegamos ao coração das trevas. 13 Indefesa, a sociedade cobrará do Estado que trate o criminoso como não detentor de quaisquer direitos, dignidade ou humanidade – ainda que residuais. Já o Estado, em contrapartida, se subtrairá das responsabilidades para com apenados e o sistema prisional, cedendo o seu controle ao crime organizado sob a forma das facções de base prisional. Nesse ponto, opera-se uma transformação funcional de todo o sistema, e por extensão da própria justiça penal, dado que de parte administrativa desta e locus da ressocialização dos delituosos, o sistema prisional passa a ser parte da reprodução ampliada do crime organizado e, em decorrência, da violência e da insegurança gerais- inclusive das ruas. Aos incrédulos, cito dois exemplos. Em 33 vistorias realizadas em sete estados pelas Forças Armadas, em 2017, foram encontradas 11 mil armas para um total de 22 mil presos, portanto, um em cada dois dispunha de armas brancas, quase sempre. Ora, como isso seria possível sem a anuência dos que controlam o sistema? Além das armas, foram encontrados rádios-base, celulares, drogas, duchas, televisores e o que mais se imaginar, evidenciando o descontrole e a corrupção existentes. Segundo exemplo: a atual crise por que passa o Ceará. Transformado em hub ou corredor de tráfico de drogas para o Caribe por via marítima, o estado viu e permitiu crescerem as facções, tanto nacionais como locais que, como sempre, de dentro das prisões passaram a controlar o crime nas ruas. Quando o atual governo estadual decidiu iniciar a retomada do controle dos presídios, cadeias e penitenciárias, de dentro destas partiu o salve (ordem) para o confronto com o Estado, via atos de terrorismo. Tem sido assim pelo menos desde 2006, quando o PCC paralisou São Paulo por conta da transferência do seu comando para a penitenciária de Presidente Venceslau, sem poupar praticamente nenhum estado; seja em espasmos de violência interna, as chacinas ou atos de externos de confronto com o poder público, quando os interesses estratégicos do crime organizado de base prisional são atingidos ou ameaçados. Este estado de coisas levou o STF, em 2015, a uma decisão inédita. A de declarar o sistema prisional brasileiro em estado de inconstitucionalidade, pelo descumprimento reiterado da Constituição, a exemplo do inciso XLIX do artigo 5º, que assegura ao preso a sua incolumidade física e moral, idem a Lei de Execução Penal. Enfrentar e mudar esse estado de coisas exigem: visão estratégica, planejamento e coordenação. Entendo que, sem ser exaustivo, são quatro os eixos de uma política consequente para o sistema prisional: prevenção social dirigida à juventude, em especial na faixa dos 15 aos 24 anos; repressão qualificada; reforma do sistema prisional e da política de drogas; e mudanças na orientação para o encarceramento. [...] Matéria completa disponível em: <https://facesdaviolencia.blogfolha.uol.com.br/2019/01/15/somos-todos-sociedade-e-estado-socios-do-crime- organizado/>. Acesso em 30 jan. 2019. Somos todos, sociedade e Estado, sócios do crime organizado. Nós, sociedade, por interditarmos todo e qualquer debate sobre a questão prisional e, não sendo possível a eliminação pura e simples dos bandidos, exigirmos a prisão de todos, indistintamente e para sempre. Já o Estado, ao não garantir a vida dos apenados no interior das prisões, tão pouco assegurar o que a lei determina, as condições da sua ressocialização, permite o controle do sistema prisional pelas facções criminosas e sua reprodução desde dentro do sistema, comandando daí a criminalidade nas ruas. Somos todos, sociedade e Estado, sócios do crime organizado. Nós, sociedade, por interditarmos todo e qualquer debate sobre a questão prisional e, não sendo possível a eliminação pura e simples dos bandidos, exigirmos a prisão de todos, indistintamente e para sempre. Já o Estado, ao não garantir a vida dos apenados no interior das prisões, tão pouco assegurar o que a lei determina, as condições da sua ressocialização, permite o controle do sistema prisional pelas facções criminosas e sua reprodução desde dentro do sistema, comandando daí a criminalidade nas ruas. 14 Os direitos humanos e o Estado de direitos Guadalupe Marengo - Chefe do Programa Global de Defensores de Direitos Humanos Temos assistido o agravamento da polarização política que faz de vítima a Venezuela há quase duas décadas. A violência durante as manifestações contra e a favor do governo, que têm assolado o país nos últimos dias, é responsável pela morte de pelo menos seis pessoas, partidários do governo e opositores, e dezenas de feridos e presos, dos quais muitos foram abusados. O mundo inteiro viu fotos dos excessos cometidos pelas forças de segurança, incluindo o uso de armas de fogo, a violência com a qual alguns protestos se desenvolveram e os ataques forjados por grupos paramilitares próximos ao governo (chamados de “coletivos”). Tanto jornalistas quanto defensores dos direitos humanos foram perseguidos e sofreram abusos. Todos esses atos são violações dos direitos humanos e portanto inaceitáveis. Pelo menos três membros do partido de oposição Vontade Popular teriam sido acusados de crimes relacionados com a sua participação nos protestos, incluindo o seu líder Leopoldo López. Um juiz já estabeleceu claramente que não havia nenhuma evidência do envolvimento de López em grave delito de homicídio qualificado como lhe acusaram. Infelizmente, esta não é a primeira vez que o mundo tem assistido a eventos semelhantes no solo venezuelano. As palavras que chamam a não- violência por parte do presidente Maduro e líderes da oposição têm sido encorajadoras, como a recente proibição de porte de armas no estado de Táchira. Mas ainda não é o suficiente. Para superar esta crise a única resposta é o pleno respeito, repito: sem restrições aos direitos humanos de todas as pessoas, sem discriminação, e ao Estado de Direito. Desta forma, todos têm responsabilidades e um papel importante a desempenhar: O Estado deve reafirmar de forma clara, seu compromisso com o Estado de direito, incluindo o respeito pelas normas internacionais sobre o uso da força pelas forças de segurança e respeitar a separação de poderes. As autoridades devem abster-se de ações ou declarações que interferem na independência do poder judicial, para evitar a percepção de que o sistema de justiça funciona com motivações políticas. É essencial que medidas sejam tomadas para prevenir que eventos similares se repitam. O desarmamento de civis armados (coletivos) é fundamental. As forças de segurança, enquanto isso, tem que cumprir com o seu dever de respeitar os direitos humanos do povo, incluindo o seu direito à livre expressão, reunião e associação. 15 A oposição também tem a responsabilidade de mostrar em palavras claras e ações seu respeito ao Estado de Direito e exercer o seu direito de livre expressão, reunião e associação de forma pacífica. Acima de tudo, temos que esclarecer o que aconteceu nas ruas da Venezuela nos últimos dias. Sobre isso, as autoridades devem garantir a investigação completa e imparcial de todos oscasos de violações dos direitos humanos e acesso à justiça para todas as vítimas. Somente o conhecimento dos fatos – com a garantia da liberdade necessária para debater os diferentes pontos de vista sobre eles – e o estabelecimento de um debate aberto de ideias e opiniões possibilitará que a população venezuelana decida livremente sobre o rumo que deve tomar seu país. Disponível em: <https://anistia.org.br/venezuela-unica-resposta-responsavel-crise-sao-os-direitos-humanos-e-o-estado-de-direitos/> Adaptado. Acesso em: 05 fev. 2019. O que são direitos humanos? ASSISTA: https://www.youtube.com/watch?v=7wbIQRzggTI ACESSE https://declaracao1948.com.br/declaracao-universal/declaracao/?gclid=EAIaIQobChMIlPrc0K- l4AIVwwmRCh2vUw-REAAYASAAEgLZkPD_BwE Este é o primeiro episódio da Série produzida pela FGV DIREITO SP para explicar os direitos humanos de forma simples e didática. Neste primeiro episódio, apresenta-se a situação de Rubão e de Aline ao buscarem atendimento médico. Discute-se o que são direitos humanos. Por que o nome Direitos Humanos? Que valores fundamentais eles promovem? Quem deve respeitá-los? Quem deve protegê-los? 16 Jovens zombam de indígena veterano de guerra nos EUA Um vídeo em que adolescentes aparentam estar zombando de um indígena veterano de guerra causou polêmica nos EUA. Nick Sandmann (à esquerda) e Nathan Phillips (à direita) disseram que estavam tentando apaziguar os ânimos As imagens, que viralizaram nas redes sociais, mostram um grupo de alunos brancos de uma escola católica rindo e gritando, enquanto Nathan Phillips, originário da tribo Omaha, do Nebraska, canta e toca tambor. O conteúdo provocou uma série de críticas em relação ao comportamento dos garotos, classificado por muitos como um ato de desrespeito e intolerância. Mas o estudante Nick Sandmann - que aparece no vídeo encarando o indígena com um sorriso no rosto - nega que estivesse debochando de Phillips. "Eu não fiz nenhum gesto com a mão ou movimentos agressivos", disse ele. "Eu acreditava que, permanecendo imóvel e calmo, eu estava ajudando a resolver a situação", declarou Sandmann. Enquanto o grupo gritava com os jovens, alguns adolescentes começaram a cantar e um deles tirou a blusa. Phillips teria se aproximado dos estudantes, entoando cânticos e batendo tambor, no que ele chamou de uma "oração para aliviar as tensões". Ele estava rodeado pelos adolescentes, alguns dos quais começaram a cantar também. A versão de Nick Sandmann Ele disse que o grupo de manifestantes afro- americanos acusou os estudantes de racismo. "Como estávamos sendo atacados e insultados em público, um aluno do nosso grupo pediu permissão a um dos nossos professores para começar a cantar um dos cantos espirituais que aprendemos na escola para combater as palavras de ódio que estavam sendo gritadas para nosso grupo." Em seguida, disse ele, os nativos americanos se aproximaram dos estudantes, incluindo Phillips, que estava tocando tambor. "Eu não vi ninguém tentar bloquear o caminho dele", afirmou. "Ele fez contato visual comigo e se aproximou de mim, chegando a centímetros do meu rosto. Ele tocou tambor o tempo todo que estava na minha cara. Para ser honesto, fiquei surpreso e confuso sobre o motivo de ele ter me abordado. Eu nunca achei que estivesse bloqueando o manifestante nativo americano. Ele não tentou dar a volta. Eu não estava intencionalmente fazendo caretas para o manifestante. Eu sorri em determinado momento porque eu queria que ele soubesse que eu não ia ficar com raiva, intimidado ou me sentir provocado a um confronto maior." Phillips (ao centro) participava da Marcha dos Povos Indígenas antes do conflito "Eu respeito o direito dele de protestar e se engajar em atividades de liberdade de expressão. Acredito que ele deveria repensar suas táticas de invadir o espaço pessoal dos outros, mas isso é uma escolha dele." 17 Outras versões Sandmann afirmou que os estudantes entoaram apenas cantos escolares, que não ouviu ninguém fazer comentários de ódio ou racistas. No entanto, Phillips, que apareceu transtornado em um vídeo após o episódio, disse que ouviu os adolescentes dizendo "construa o muro, construa o muro" - uma referência ao muro prometido por Trump na fronteira com o México. "Quando eu estava lá cantando, ouvi eles gritarem 'construa o muro, construa o muro'", afirmou o indígena, enquanto enxugava as lágrimas em um vídeo publicado no Instagram. Essa frase não é audível no vídeo do incidente. Mas dois outros participantes da Marcha dos Povos Indígenas, e um fotojornalista que cobria o evento, contaram à imprensa americana que ouviram pessoas gritando "construa aquele muro" e "Trump 2020". Phillips disse à agência de notícias AP que estava tentando chegar à estátua de Lincoln para rezar quando um dos estudantes se colocou no seu caminho. "Eles estavam comentando entre si... [algo como] 'No meu Estado, esses índios não são nada além de um bando de bêbados", disse ele. Além disso, Marcus Frejo, que acompanhava Phillips, disse ao jornal The New York Times que ouviu os estudantes fazerem um barulho que parecia zombar dos cânticos entoados pelo indígena - embora também tenha escutado alguns jovens cantarem junto. A imprensa americana relatou que os estudantes fizeram o haka (grito de guerra da cultura maori), e alguns pareciam fazer um gesto de machadinha - o que muitos nativos americanos consideraram desrespeitoso. Reações A congressista Deb Haaland, uma das primeiras mulheres indígenas eleitas para o Congresso americano, afirmou que a cena foi de "partir o coração" pela demonstração de desrespeito e intolerância. "Este veterano arriscou a vida por nosso país. A demonstração de ódio, desrespeito e intolerância desavergonhada dos estudantes é um sinal de como a decência comum se deteriorou sob este governo", escreveu no Twitter. Enquanto isso, Ruth Buffalo, congressista por Dakota do Norte e membro da Nação Mandan, Hidatsa e Arikara, declarou que o episódio foi apenas uma amostra do que os nativos americanos enfrentaram e continuam a enfrentar. A atriz e ativista Alyssa Milano disse no Twitter que o vídeo a fez chorar, enquanto o ator Chris Evans considerou a postura dos estudantes "assustadora" e "vergonhosa". Disponível em: <https://twitter.com/bbcbrasil/status/1088762680280866816> Adaptado. Acesso em: 06 fev. 2019. ACESSE: https://www.bol.uol.com.br/noticias/2019/01/21/o-que-dizem-os-envolvidos-no-video-que-mostra-jovens- zombando-de-indigena-veterano-de-guerra-nos-eua.htm 18 Você sabia que estamos em plena Década Internacional de Afrodescendentes? O período de 1º de janeiro de 2015 até 31 de dezembro de 2024 foi considerado em 2013, pela Organização das Nações Unidas (ONU), como tal. O período recebeu a denominação: “Pessoas Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”. Essa resolução tem como objetivo promover o respeito, proteção e cumprimento de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais das pessoas afrodescendentes, como reconhecido na Declaração universal dos Direitos Humanos. Outro aspecto também abarcado na iniciativa da ONU é o de promover um maior conhecimento e respeito pelo patrimônio diversificado, a cultura e a contribuição de afrodescendentes para o desenvolvimento das sociedades. Por fim, adotar e reforçar os quadros jurídicos nacionais, regionais e internacionais que atuam na eliminação de todas as formas de discriminação racial. Para o secretário de Assuntos Municipais da APP- Sindicato, professor Celso José Santos, essa Resoluçãofaz com que os Estados-Membros, como o Brasil, tenham que adotar medidas para dar efetividade às deliberações já emanadas pela ONU de enfrentamento ao racismo e todas as suas nefastas consequências. “É preciso compreender que o conceito de afrodescendente, utilizado nesta declaração diz respeito às pessoas de ascendência africana que, no Brasil, se autodeclaram como pretas ou pardas, também denominadas de pessoas negras. São pessoas vítimas do racismo e continuam sofrendo discriminação em função do legado histórico e criminoso do comércio transatlântico de escravizados”, enfatiza Celso, que também é coordenador do Coletivo Estadual de Combate ao Racismo da APP. Segundo ele, é essencial que a sociedade brasileira faça uma reflexão sobre o papel da educação e os objetivos traçados pela resolução da ONU. De acordo com dados divulgados pelo Dieese em 2012, a respeito do mercado de trabalho em regiões metropolitanas, a população negra recebe 63,9% do que recebem os não negros. Na indústria da região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o rendimento médio, por hora, de um trabalhador negro, com Ensino Superior, era de R$ 17,39. O de um não negro era de R$ 29,03. O que representa 59,9%, demonstrando que o aumento da escolaridade aumenta ainda mais a discrepância existente entre a população negra (afrodescendente) e a população branca. Celso aponta outros números preocupantes. Conforme ele explica, quando comparados os dados da PNAD/IBGE verifica-se que entre 2001 e 2013, no Paraná, o percentual de estudantes com 15 anos ou mais idade, que possuem 12 anos ou mais de estudos concluídos, passa de 11,1% para 19,5%. No Brasil esses percentuais foram, respectivamente 9,0% e 16,4%. O que demonstra uma elevação geral da escolaridade da população paranaense e brasileira. Porém, quando olhamos esses dados com as lentes de raça/cor, constata-se que o crescimento líquido da população branca, no Paraná, foi de 10,7% (de 13,0% para 23,7%), enquanto da população negra foi de 6,2% (de 3,3% para 9,5%). “Esse recorte demonstra a necessidade de adotar, fortalecer e implementar políticas, programas e projetos de ação afirmativa para combater o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correlata. De forma a assegurar o pleno desfrute dos direitos humanos e das liberdades fundamentais pelos povos afrodescendentes”, aponta. “Particularmente na Educação, embora tenham se passado mais de 13 anos da aprovação da Lei 10.639/03, ainda é fundamental promover o conhecimento, reconhecimento e respeito pela cultura, história e patrimônio dos povos afrodescendentes, inclusive através de pesquisa e educação, e promover a inclusão completa e precisa da história e da contribuição dos povos afrodescendentes nos currículos escolares”, afirma. Em contraponto a onda que os governos neoliberais vêm promovendo de fechar escolas, especialmente em áreas vulneráveis, destaca o secretário da APP, o Estado deveria assegurar que uma educação de qualidade fosse acessível e disponível em áreas onde existam comunidades de afrodescendentes, particularmente em comunidades rurais e marginalizadas, com atenção na elevação da qualidade da educação pública. De acordo com ele, no processo de reconhecimento, justiça e desenvolvimento é preciso que os sistemas de ensino tomem medidas para assegurar que os sistemas de educação não discriminem ou excluam crianças 19 afrodescendentes, e que elas sejam protegidas de discriminação direta ou indireta, de estereótipos negativos, estigmatização e violência por parte de colegas ou professores. “Esses são alguns dos desafios postos para os governos que, diga-se de passagem, já estão em muito atrasados. Tanto pelos séculos de escravismo criminoso, quanto pelos 127 anos de abolição excludente e inacabada, que não asseguraram ações efetivas por parte do Estado para combater o racismo, os preconceitos e a discriminação racial. Ao contrário, onde o próprio Estado foi promotor, financiador e legitimador dessas situações. A APP-Sindicato, a CNTE, a CUT, o Movimento Negro e os movimentos sociais que lutam por uma sociedade sem oprimidos ou opressores estão vigilantes para que essa Resolução da ONU não se revista apenas de uma intenção. Mas que efetivamente impulsione o Brasil e o Mundo para implementar as decisões emanadas da Conferência de Durban”, encerra Celso. Principais objetivos da Década Internacional de Afrodescendentes * Fortalecer a cooperação e as ações nacionais, regionais e internacionais relativas ao pleno gozo dos direitos econômicos, sociais, culturais. civis e políticos pelos afrodescendentes, bem como sua participação plena e igualitária em todos os aspectos da sociedade; * Promover um maior conhecimento e um maior respeito aos diversos patrimônios, culturas e contribuições de afrodescendentes para o desenvolvimento das sociedades; * Adotar e fortalecer marcos legais nos âmbitos nacional, regional e internacional, de acordo com a Declaração e Plano de Ação de Durban, e com a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, bem como garantir a sua implementação total e efetiva. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/prizes-and-celebrations/2015-2024-international-decade-for-people-of-african- descent/>; <http://appsindicato.org.br/pessoas-afrodescendentes-reconhecimento-justica-e-desenvolvimento/> Adaptados. Acesso em: 06 fev. 2019. ONU Brasil lança campanha pelo fim da violência contra a juventude negra ACESSE: https://www.revistamissoes.org.br/2017/11/onu-brasil-lanca-campanha-pelo-fim-da-violencia-contra-a- juventude-negraa/ A Década Internacional de Afrodescendentes permitirá que as Nações Unidas, Estados-membros, sociedade civil e outros atores relevantes se juntem aos afrodescendentes e tomem medidas efetivas para a implementação do programa de atividades, com o espírito de reconhecimento, justiça e desenvolvimento. Para a ONU, o racismo é uma das principais causas históricas da situação de violência e letalidade a que a população negra está submetida. Atualmente, um homem negro tem até 12 vezes mais chance de ser vítima de homicídio no Brasil que um não negro, segundo o Mapa da Violência. 20 E a Sociedade Pergunta: Surdo, Surdo-Mudo, ou Deficiente Auditivo? O que mudou ao longo dos séculos na Educação de Surdos? Por Camila Gois Silva de Lima A Educação de Surdos desde o Século XV foi tratada como caso patológico passível de ser curada, daí o interesse de vários médicos nos estudos de pessoas surdas, levando em consideração que muitos profissionais interessados na causa tinham algum parente surdo. De início acreditava-se que a oralização era a mais eficaz forma de educar surdos visto que a sociedade se comunicava através da oralidade, neste período os gestos (como eram chamados os ditos sinais) deveriam ser a todo custo banidos da comunicação surdo-surdo e surdo-ouvinte, este método ficou conhecido como Oralismo. Durante o Oralismo o surdo era tratado como Surdo- mudo, ou o mais comum: Mudo. A sociedade, sobretudo os médicos e educadores observando que tal nomenclatura era errônea, depois de vários estudos chegou à conclusão que o aparelho fonador do surdo assim como os dos ouvintes estavam preservados, sendo assim o termo mudo não era (e não é) cabível, contudo, o sentimento de “culpa” e de discriminação determinou o tão conhecido termo Deficiente Auditivo como o mais correto para se reportar às pessoas surdas. O termo Surdo tem sido utilizado quando a pessoa com surdez é caracterizada como surdez profunda no âmbito da medicina, quando é leve ou moderadaainda persiste o termo Deficiente Auditivo, já na Comunidade Surda, o Surdo é aquele que é usuário de Libras e é pertencente a tal. Se ao termo Deficiente Auditivo não estiver impregnada de preconceito por parte de quem o utiliza não deve ser errôneo, do ponto de vista que devamos tratar o termo DEFICIENTE não como incapaz, mas como Déficit, ou seja, algo que não está em sua totalidade, mas que não impede da pessoa viver em sua plenitude, caracterizando também aos que não são usuários da LIBRAS e fazem a leitura labial. Entretanto o termo surdo-mudo de fato deve ser banido da sociedade, visto que a surdez não acarreta nenhuma perda no aparelho fonador do indivíduo, o surdo não fala porque não ouve, e não porque suas cordas vocais foram comprometidas devido à surdez. Referência Bibliográfica HONORA, Márcia, FRIZANCO, Mary Lopes Esteves, Livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. II Título, São Paulo, Ciranda Cultural, 2009. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/e-a-sociedade-pergunta-surdo-surdo-mudo-ou-deficiente-auditivo/21289> Adaptado. Acesso em: 05 fev. 2019. Senado analisa projetos que garantem direitos a deficientes auditivos O Dia Nacional dos Surdos é celebrado em 26 de setembro, data em que foi criada a primeira escola de surdos no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1857. Segundo o IBGE, cerca de 10 milhões de brasileiros têm alguma deficiência auditiva. Para incentivar a acessibilidade desta parcela da população, o país já conta com uma série de leis, como a que reconhece as Libras como segunda língua oficial e o Estatuto da Pessoa com Deficiência. E o Senado analisa projetos com objetivo de assegurar mais direitos dos surdos. Entre eles, o que estende às pessoas com deficiência auditiva a isenção do IPI na compra de automóveis (PLS 28 /2017) e outro que obriga os hospitais públicos a oferecer intérpretes de Libras no atendimento às pessoas surdas (PLS 52/2016). Um projeto (PLC 104/2015) aprovado pelo Senado e encaminhado para a Câmara estabelece que os alunos do ensino fundamental de escolas públicas devem fazer exames para identificar problemas auditivos e oftalmológicos. O relator, senador Otto Alencar (PSD-BA) disse que a iniciativa pode melhorar o rendimento escolar e a socialização destas crianças. ACESSE: https://www12.senado.leg.br/noticias/audios/2018/09/senado-analisa-projetos-que-garantem-direitos- a-deficientes-auditivos 21 TEA – TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA O Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba diferentes síndromes marcadas por perturbações do desenvolvimento neurológico com três características fundamentais, que podem manifestar-se em conjunto ou isoladamente. São elas: dificuldade de comunicação por deficiência no domínio da linguagem e no uso da imaginação para lidar com jogos simbólicos, dificuldade de socialização e padrão de comportamento restritivo e repetitivo. Também chamado de Desordens do Espectro Autista (DEA ou ASD em inglês), recebe o nome de espectro (spectrum), porque envolve situações e apresentações muito diferentes umas das outras, numa gradação que vai da mais leve à mais grave. Todas, porém, em menor ou maior grau estão relacionadas, com as dificuldades de comunicação e relacionamento social. Tipos De acordo com o quadro clínico, o TEA pode ser classificado em: 1) Autismo clássico – o grau de comprometimento pode variar e muito. De maneira geral, os portadores são voltados para si mesmos, não estabelecem contato visual com as pessoas nem com o ambiente; conseguem falar, mas não usam a fala como ferramenta de comunicação. Embora possam entender enunciados simples, têm dificuldade de compreensão e apreendem apenas o sentido literal das palavras. Não compreendem metáforas nem o duplo sentido. Nas formas mais graves, demonstram ausência completa de qualquer contato interpessoal. São crianças isoladas, que não aprendem a falar, não olham para as outras pessoas nos olhos, não retribuem sorrisos, repetem movimentos estereotipados, sem muito significado ou ficam girando ao redor de si mesmas e apresentam deficiência mental importante. 2) Autismo de alto desempenho (antes chamado de síndrome de Asperger) – os portadores apresentam as mesmas dificuldades dos outros autistas, mas numa medida bem reduzida. São verbais e inteligentes. Tão inteligentes que chegam a ser confundidos com gênios, porque são imbatíveis nas áreas do conhecimento em que se especializam. Quanto menor a dificuldade de interação social, mais eles conseguem levar vida próxima à normal. 3) Distúrbio global do desenvolvimento sem outra especificação (DGD-SOE) – os portadores são considerados dentro do espectro do autismo (dificuldade de comunicação e de interação social), mas os sintomas não são suficientes para incluí-los em nenhuma das categorias específicas do transtorno, o que torna o diagnóstico muito mais difícil. Incidência Não faz muito tempo, o autismo era considerado uma condição rara, que atingia uma em cada duas mil crianças. Hoje, as pesquisas mostram que uma em cada cem crianças é portadora do espectro, que afeta mais os meninos do que as meninas. Em geral, o transtorno se instala nos três primeiros anos de vida, quando os neurônios que coordenam a comunicação e os relacionamentos sociais deixam de formar as conexões necessárias. As manifestações na adolescência e na vida adulta estão correlacionadas com o grau de comprometimento e com a capacidade de superar as dificuldades seguindo as condutas terapêuticas adequadas para cada caso desde cedo. 22 O diagnóstico é essencialmente clínico. Baseia-se nos sinais e sintomas e leva em conta os critérios estabelecidos por DSM–IV (Manual de Diagnóstico e Estatística da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-10 (Classificação Internacional de Doenças da OMS) o comprometimento e o histórico do paciente. Causas Estudos iniciais consideravam o transtorno resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem psicológica alteradas, hipótese que se mostrou improcedente. A tendência atual é admitir a existência de múltiplas causas para o autismo, entre eles, fatores genéticos, biológicos e ambientais. No entanto, saber como é o cérebro dessas pessoas ainda é um mistério para a ciência. Tratamento Ainda não se conhece a cura definitiva para o transtorno do espectro do autismo. Da mesma forma não existe um padrão de tratamento que possa ser aplicado em todos os portadores do distúrbio. Cada paciente exige um tipo de acompanhamento específico e individualizado que exige a participação dos pais, dos familiares e de uma equipe profissional multidisciplinar visando à reabilitação global do paciente. O uso de medicamentos só é indicado quando surgem complicações e comorbidades. Família O diagnóstico de autismo traz sempre sofrimento para a família inteira. Por isso, as pessoas envolvidas – pais, irmãos, parentes – precisam conhecer as características do espectro e aprender técnicas que facilitam a autossuficência e a comunicação da criança e o relacionamento entre todos que com ela convivem. Crianças com autismo precisam de tratamento e suas famílias de apoio, informação e treinamento. A AMA (Associação dos Amigos dos Autistas) é uma entidade sem fins lucrativos que presta importantes serviços nesse sentido. Disponível em: <http://www.indianopolis.com.br/artigos/tea-transtorno-espectro-autista/> Acesso em: 06 fev. 2019. A diversificada programação traz conteúdos inovadores e de credibilidade sobre o tema, com a presença de renomados profissionais internacionais e nacionais da área que participam de palestras, workshops, bate-papos, seminários e demonstrações de métodos de atendimento utilizados nosEstados Unidos. Além disso, o evento é uma oportunidade única de ampliação de conhecimento e vivência sobre o TEA com atrações culturais, ações e ferramentas que visam o bem- estar das famílias que convivem com o TEA e também a integração dos autistas nas diferentes esferas da sociedade. ACESSE: https://www.teabraco.com.br/ 23 Retrospectiva imigração 2018 e perspectivas para 2019 Por Fabiola Cottet, jan 19, 2019 O ano de 2018 foi um grande marco para a imigração canadense. Muitas foram as boas novidades e renovações. Não podemos deixar de citar que ele foi o primeiro ano que fez parte do plano plurianual de imigração, divulgado no final de 2017, com a meta de trazer um milhão de novos imigrantes ao país até 2020 (clique aqui e leia o artigo que fizemos sobre o tema). Ele continua sendo um dos mais abertos do mundo a imigração, com diversos programas para trazer estrangeiros ao seu território que tenham, preferencialmente, uma profissão em demanda na região, um bom nível de inglês ou francês e queiram morar em um dos países com a melhor qualidade de vida do mundo. Para resgatar um pouco do que 2018 significou na história da imigração canadense, preparamos este artigo, com uma breve retrospectiva das principais mudanças e acontecimentos no ano que passou e as perspectivas, segundo a nossa consultora de imigração e diretora da Immi Canada, Celina Hui, para 2019. Confira! Retrospectiva da imigração 2018 Janeiro: uma das primeiras notícias divulgadas no ano passado é com relação aos profissionais de TI, que podem ainda ter seu visto de trabalho aprovado em apenas 10 dias. O país está, desde julho de 2017, facilitando a entrada de profissionais do ramo para suprir a alta demanda do local. Este programa é para os trabalhadores que já saem de sua origem com emprego garantido no Canadá. As chances de isso acontecer são bem menores do que quando você está em solo canadense. No entanto, este processo rápido de vistos e os dados do governo canadense não mentem: não é impossível conseguir um emprego no Canadá estando ainda no Brasil, principalmente para profissionais de TI. Para ler o artigo completo, clique aqui. Também em janeiro a província de Ontário reabriu seu processo de imigração do Ontario Immigrant Nominee Program (OINP), aumentando o número de convidados para viver dentro de suas fronteiras em 600 pessoas. Acesse este link e confira a notícia na íntegra. Fevereiro: o Canadá foi eleito, pelo segundo ano consecutivo, como o segundo melhor país do mundo, de acordo com pesquisa conduzida pela U.S News & World Report. Entre 80 países analisados, as terras canadenses ficaram com o primeiro lugar em qualidade de vida, quarta posição no quesito cidadania, segundo mais transparente do mundo e o terceiro melhor país no quesito educação. Leia a análise completa acessando o artigo “Canadá é eleito o segundo melhor país do mundo”. Ainda no mesmo mês, as terras do True North anunciaram as profissões mais requisitadas para 2018, incluindo operador de empilhadeira, engenheiro de software, gerente de contas, gerente de projetos de TI, analista de negócios, dentre outras. Confira todas as ocupações clicando aqui. Março: o governo canadense anunciou um plano de imigração para aumentar o número de falantes da língua francesa fora da província de Quebec. Sendo que, o objetivo do país é que 4,4% de todos os imigrantes que se estabeleçam fora da província de Quebec, até 2023, sejam francófonos. O motivo é que os falantes de francês 24 contribuem ainda mais para a economia e prosperidade do país, aumentando também a diversidade linguística, visto que o território é considerado bilíngue. Veja o anúncio completo do plano clicando aqui. Também em março o Canadá foi considerado o melhor país para estudantes internacionais, segundo uma pesquisa feita pela indústria global de educação. Acesse este link e leia todos os dados a respeito de estrangeiros estudando em território canadense. Abril: no começo de abril a província francófona de Quebec anunciou um novo sistema de imigração, regido no estilo do Express Entry (EE). Na ocasião não foram dados muitos detalhes, mas hoje o processo já está em vigor. Saiba mais informações clicando neste link. A imigração provincial também atingiu recordes no primeiro trimestre do ano, como mostram os dados divulgados pelo Statistics Canada e que podem ser vistos com mais detalhes neste link. Um estudo interno realizado pelo governo canadense revelou que os imigrantes chamados highly skilled, ou altamente qualificados, ganham um salário igual ou superior a renda média anual canadense logo após a chegada no país. Para acessar todos os detalhes, clique aqui. Maio: nos 30 dias do mês de maio Ontário anunciou a criação de um projeto piloto de imigração (para ver detalhes, clique aqui). Além disso, um estudo feito pela empresa Gallup revelou que o Canadá é o quarto país no mundo que melhor aceita imigrantes, perdendo para Islândia, Nova Zelândia e Ruanda, em um ranking de 140 países. Leia a matéria completa no artigo “Canadá é quarto país que melhor aceita imigrantes”. Junho: na metade da nossa retrospectiva, British Columbia aumentou o salário mínimo, passando de CAD$ 11,35 para CAD$ 12,65 (entre neste link e saiba mais informações). No mesmo mês o governo canadense divulgou um relatório, com dados mostrando que a imigração provincial do país cresceu através do EE, aumentando 80% em 2017 se comparada com o ano anterior. Clique aqui e confira todos os dados divulgados. Também em junho a província de Alberta deu detalhes sobre seu novo sistema de imigração provincial, lançando dois novos fluxos: o Alberta Opportunity Stream (AOS) e um através do Express Entry. Acesse aqui todos os detalhes. Julho: este mês trouxe mudanças no maior meio de imigrar do Canadá, o Express Entry. O prazo para apresentar a aplicação, depois de receber a Invitation to Apply (ITA), caiu de 90 para 60 dias, dentre outros detalhes. Clique aqui e saiba de todas as modificações. Também em julho, diversas províncias anunciaram mudanças em seus programas, acesse: www.immi-canada.com/imigracao-provincias-do-canada/. No sétimo mês da retrospectiva a província de Quebec finalmente revelou as regras do seu novo sistema de imigração. Para saber todos os detalhes a respeito clique no link. Agosto: mais territórios anunciaram mudanças em seus Provincial Nominee Programs (PNP’s). São eles: Quebec, Saskatchewan, Nova Scotia e Newfoundland and Labrador. Saiba mais informações neste link. O governo federal anunciou, em agosto do ano passado, novos tempos de processamento para processos de 25 Permanent Resident (PR), que você pode conferir clicando no link www.immi-canada.com/imigracao-provincial- confira-mudancas/. Setembro: só boas notícias! Neste mês o Canadá foi classificado com um dos países mais ricos do mundo em estudo realizado pela consultoria New World Wealth. Confira todo o relatório da instituição neste link. Outubro: mais dados vieram a tona no Statistics Canada, desta vez informando que a imigração atingiu recordes em 2018. A chegada no Canadá representou 82% do crescimento populacional do país entre abril e julho do ano passado, atribuído aos estrangeiros que resolveram se estabelecer em terras canadenses. O aumento populacional total foi o segundo maior registrado para um período de três meses desde 1971. Entre no artigo clicando aqui e confira mais informações. Novembro: ótima novidade para quem pretende fazer das terras do True North sua morada: o governo canadense divulgou uma revisão do seu plano de imigração plurianual. Além de aumentar as metas de novas admissões de imigrantes, o país elevou a quantidade de recém-chegados que devem ser admitidos por meio das categorias de imigração econômica, revelandotambém os números de 2021. Neste link você pode conferir todos os números. No mesmo período Manitoba revelou duas novas modalidades em seu programa de imigração: o International Student Entrepreneur Pathway e o Graduate Internship Pathway, ambos destinados aos que concluíram um curso pós- secundário na região. Veja todos os detalhes no link. Dezembro: para dezembro com certeza a notícia mais impactante foi que, a partir do dia 31, os brasileiros que entrarem com o pedido de visto do território nacional, precisam fazer a biometria para retirar visto de turista, estudo, trabalho e residência permanente (quem tem direito ao eTA está excluso da regra e não precisa fornecer as digitais). Confira todos os procedimentos necessários neste link. Perspectivas para 2019 O ano mal começou e já tivemos ótimas notícias. Em breve serão abertas as aplicações do programa de imigração federal Parents and Grandparents (PGP), que possibilita que residentes permanentes ou cidadãos patrocinem seus pais ou avós e os levem para morar de maneira permanente no Canadá. Com a nova exigência da biometria, a diretora de Immi Canada e consultora de imigração, Celina Hui, ressalta a importância de não deixar os procedimentos para a última hora. “O requerente do visto tem de ir até o VAC para ceder seus dados biométricos, o que acrescenta mais uma etapa no pedido. Por isso é imprescindível não deixar para a última hora e fazer o pedido com bastante antecedência”, aconselha. Sobre as perspectivas da imigração, a profissional está otimista. “Já começamos o ano com a notícia da abertura e maior número de aceitos no PGP. Além disso, o primeiro draw do Express Entry do ano foi expressivo, com 3,9 mil convidados recebendo o ITA e uma pontuação de 449. Por fim temos o plano plurianual, que é sólido e promete trazer mais imigrantes ao país a cada ano. Por tudo isto o cenário de 2019 para a imigração é otimista”, finaliza. Disponível em: <https://www.immi-canada.com/retrospectiva-imigracao-perspectivas/> Acesso em: 06 fev. 2019. 26 A conduta ética no trabalho, seguindo padrões e valores, tanto da sociedade quanto da própria organização, é essencial para o alcance da EXCELÊNCIA PROFISSIONAL. Não basta apenas estar em constante aperfeiçoamento para conquistar credibilidade profissional, é preciso assumir uma POSTURA ÉTICA e, desse modo, conquistar a confiança e o respeito de superiores, colegas de trabalho e demais colaboradores. Com base na importância deste tema, esta seção será dedicada especialmente para a publicação de conteúdos que abordam a questão ética sob a perspectiva profissional, de modo a instigar reflexões pontuais a respeito. A cada nova Coletânea, apresentaremos diferentes profissões. Vamos começar tratando do tema de modo geral. Inspire-se! 27 Ética Profissional: o que é e qual a sua importância Por blogSbcAdmin - 5 de janeiro, 2018 A ética profissional é um dos critérios mais valorizados no mercado de trabalho, composta pelos padrões e valores da sociedade e do ambiente de trabalho no qual a pessoa convive. No meio corporativo, traz maior produtividade e integração dos colaboradores e, para o profissional, agrega credibilidade, confiança e respeito ao trabalho. Contudo, há ainda muitas dúvidas acerca do que é ética, por isso, antes de falar sobre ética profissional, é importante entender um pouco sobre o que é ética e qual a diferença entre ética e moral. O profissional ético é, naturalmente, admirado. O que é ética? A palavra Ética é derivada do grego e apresenta uma transliteração de duas grafias distintas, êthos que significa “hábito”, “costumes” e ethos que significa “morada”, “abrigo protetor”. Dessa raiz semântica, podemos definir ética como uma estrutura global, que representa a casa, feita de paredes, vigas e alicerces que representam os costumes. Assim, se esses costumes se perderem, a estrutura enfraquece e a casa é destruída. Em uma visão mais abrangente e contemporânea, podemos definir ética como um conjunto de valores e princípios que orientam o comportamento de um indivíduo dentro da sociedade. A ética está relacionada ao caráter, uma conduta genuinamente humana e enraizada, que vêm de dentro para fora. A ética está relacionada ao caráter, uma conduta genuinamente humana e enraizada. QUAL A DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL? Embora ética e moral sejam usados, muitas vezes, de maneira similar, ambas possuem significados distintos. A moral é regida por leis, regras, padrões e normas que são adquiridos por meio da educação, do âmbito social, familiar e cultural, ou seja, algo que vem de fora para dentro. Para o filósofo alemão Hegel, a moral apresenta duas vertentes: a moral subjetiva, associada ao cumprimento de dever por vontade, e a moral objetiva, que é a obediência de leis e normas impostas pelo meio. No entanto, ética e moral caminham juntas, uma vez que a moral se submete a um valor ético. Desta forma, uma ética individual, quando enraizada na sociedade, passa a ser um valor social que é instituído como uma lei moral. A consequência de um comportamento antiético afronta os valores, caráter e o princípio de uma pessoa, enquanto a quebra de um valor moral é punida e justificada de acordo com a lei que rege o meio. Em síntese, a moral é regida por leis, regras, padrões e normas que são adquiridos por meio de convivência. O QUE É ÉTICA PROFISSIONAL? A ética profissional é o conjunto de valores, normas e condutas que conduzem e conscientizam as atitudes e o comportamento de um profissional na organização. Desta forma, a ética profissional é de interesse e importância da empresa e também do profissional que busca o desenvolvimento de sua carreira. Além da experiência e autonomia em sua área de atuação, o profissional que apresenta uma conduta ética conquista mais respeito, confiança, credibilidade e reconhecimento de seus superiores e de seus colegas de trabalho. 28 Altruísmo e Solidariedade: fundamentais para constituir o comportamento ético. CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA CONSTITUIR O COMPORTAMENTO ÉTICO Altruísmo: a preocupação com os interesses do outro de uma forma espontânea e positivista. Moralidade: conjunto de valores que conduzem o comportamento, as escolhas, decisões e ações. Virtude: essa característica pode ser definida como a “excelência humana” ou aquilo que nos faz plenos e autênticos. Solidariedade: princípios que são aplicados às relações sociais e que orientam a vivência e convívio em harmonia do indivíduo com os demais. Consciência: capacidade ou percepção em distinguir o que é certo ou errado de acordo com as virtudes ou moralidade. Responsabilidade ética: consenso entre responsabilidade (assumir consequências dos atos praticados) pessoal e coletiva. BENEFÍCIOS DA ÉTICA NO TRABALHO O profissional ético é, naturalmente, admirado, pois o respeito pelos colegas e pelos clientes é o que dá destaque a esse colaborador. A ética seria uma espécie de filtro que não permite a passagem da fofoca, da mentira, do desejo de prejudicar um colaborador, entre outros aspectos negativos. E é necessário ressaltar que os líderes são profissionais éticos, ou devem ser, para desenvolver as competências do cargo com êxito. Os que optam pela ética preferem oferecer feedbacks, em vez de deixar o ambiente de trabalho desarmônico, e são honestos quanto às próprias condições, ou seja: não inventam mentiras para se ausentar das falhas. Cultivar a ética profissional no ambiente de trabalho traz benefícios e vantagens a todos, uma vez que ela proporciona crescimento à empresa e a todos os envolvidos. Com uma conduta ética bem estruturada é possívelcontribuir para a melhora do clima organizacional, do trabalho em equipe e respeito mútuo entre todos os colaboradores. E com um ambiente de trabalho mais prazeroso e amistoso é possível ter profissionais mais engajados, motivados e satisfeitos. 29 Com a população mais consciente das questões morais e da responsabilidade social com que as autoridades e as empresas devem prestar à sociedade e ao meio ambiente, houve um aumento da fiscalização e cobrança pelo comprometimento ético destes órgãos. Com isso, a ética ganhou um novo valor, o valor estratégico. As empresas se viram obrigadas a modificar seus conceitos, quebrar paradigmas e apresentar uma postura mais transparente, humana e coerente para não perder público. Neste contexto, a ética profissional que deveria ser uma virtude enraizada do indivíduo, tornou-se parte da estratégia organizacional e, consequentemente, um diferencial competitivo no mercado de trabalho. 10 dicas para a construção de uma postura ética no trabalho Os colaboradores que conseguem construir relações de qualidade entre os colegas e conquistar a confiança dos líderes, com uma postura de trabalho adequada e resultados concretos, são os que obtêm maior sucesso no desenvolvimento de suas carreiras. Conheça alguns dos fatores que auxiliam neste processo: Seja honesto. Fale sempre a verdade e assuma a responsabilidade sobre seus erros. É muito melhor aprender com os erros do que procurar um culpado para suas falhas. A honestidade é uma das principais características de um profissional ético, ela é prova de credibilidade e confiança. Respeite o sigilo. Algumas empresas trabalham com informações extremamente sigilosas. Geralmente, essas condições são expostas ao profissional dentro do contrato de trabalho. Por isso, manter o sigilo, além de ser uma atitude ética e profissional, pode ser importante para preservar o emprego. Tenha comprometimento. Responsabilidade e comprometimento é o mínimo que se espera de um profissional. Se fazer o seu trabalho parece uma obrigação, reavalie sua carreira e os seus propósitos, pois algo está errado. Um profissional com ética tem engajamento com a empresa e cumpre sua função com empenho e consciência, sempre visando o melhor resultado para a organização, consequentemente, isso agregará valor à sua carreira. Seja prudente. Aprenda a diferenciar as relações pessoais das profissionais, não deixe inimizades e antipatia atrapalharem o seu desempenho ou que isso interfira de forma negativa no trabalho de seus colegas e nos resultados da empresa. Considere sempre como prioridade a realização do seu trabalho. Respeite a hierarquia da sua empresa, seja você um líder ou um colaborador. Seja profissional! Tenha humildade. Independente de hierarquia, dos conhecimentos e habilidades, entenda que ninguém é melhor que ninguém. Humildade e flexibilidade são um dos pré-requisitos para o trabalho em equipe. Tenha humildade, respeite seus colegas, seja cordial e não faça julgamentos. Contribua para um bom convívio e bons relacionamentos no ambiente de trabalho. Como vai a sua relação ética com o trabalho? O que você pensa sobre isso? 30 Disponível em: <https://www.sbcoaching.com.br/blog/carreira/etica-profissional-importancia/> Acesso em: 01 fev. 2019. Revolto-me todas as vezes que leio nos jornais ou vejo, na televisão, explicações finais sobre um desabamento, sobre um acidente ou sobre um defeito divulgado pela imprensa. Tais julgamentos são feitos sem qualquer contato com os autores ou participantes da obra, sem conhecimento prévio do que está sendo visto pela primeira vez. É dada a interpretação imediata, num passe de mágica, mostrando conhecimento absoluto da matéria e criticando quem fez. Críticas de engenheiros especializados em outros assuntos, sem conhecimento técnico específico, que tomaram conhecimento do ocorrido naquele instante, e já cientes de tudo: projeto, materiais, resistência, causas.... A imprensa não quer saber o que aconteceu. Quer que alguém invente na hora qualquer história que possa interessar ao grande público.... É lastimável que colegas nossos, com os mesmos direitos profissionais, somente com o objetivo de aparecerem nos meios de divulgação, se prestem a um procedimento tão mesquinho. É comum, por exemplo, ouvir nas obras críticas de um profissional subalterno, como um assentador de azulejos, ao serviço feito por um colega. Nunca ouvi um elogio, somente críticas destrutivas. O ciúme impera sobre a razão. Sem conhecer o motivo da imperfeição (falta do material adequado, pressa, imposição do superior), o serviço é logo criticado como incompetência, negligência, falta de interesse. Não existe aprovação para o que tenha sido feito por outro. Com os engenheiros, está acontecendo, atualmente, exatamente o mesmo. Estamos nos nivelando a uma classe mais baixa em relação ao comportamento frente a outros profissionais de nível social inferior, com aprendizado fora das escolas. Isso nunca poderia acontecer. No currículo das escolas de engenharia deveria existir uma matéria de ensino do comportamento ético. Faço frequentemente a pergunta: o que custa fazer um elogio? Isso vai diminuir o valor de quem o faz? Não prometa aquilo que não possa cumprir. Com comprometimento e honestidade é possível alinhar entregas e prazos justos sem comprometer a credibilidade e a ética profissional. Saiba fazer e receber críticas. Embora as críticas nos ajudem a crescer, muitas pessoas não sabem fazer ou interpretá-las de forma construtiva. Por isso, caso precise dar um feedback a alguém, nunca faça isso por impulso, reflita a melhor forma de dizer e como orientar a melhora. E se receber uma crítica, não leve para o lado pessoal, entenda que isso pode ser usado para o seu desenvolvimento. Reconheça o mérito alheio. Elogios sinceros podem e devem ser usados em um ambiente de trabalho, mas, se estiverem dentro do contexto profissional. Não precisa parecer um bajulador elogiando o chefe. Elogie as atitudes assertivas, aquilo que realmente contribui com os resultados da empresa ou da equipe. Saiba reconhecer o empenho de seus colegas, dê a eles os méritos merecidos e não espere recompensa em troca. Respeite a privacidade. Nunca mexa no material de trabalho, documentos ou gaveta de um colega de trabalho, exceto, se lhe for solicitado e, ainda assim, se for algo que vá contribuir com o bem e o trabalho de todos. Evite fofoca. Fique longe de fofocas, comentários ofensivos e pessoas que gostam de julgar e criticar os colegas. Ética na Engenharia Prof. Eng. A. C. Vasconcelos 31 Um elogio sincero constitui um apoio a quem despendeu enormes esforços para sua realização. Ao invés de um elogio, ouve-se: parece-me que já vi algo semelhante a isso em algum lugar.... (somente para minimizar o valor do que foi apresentado). Isto constitui uma depreciação do trabalho. E se for verdade, para que serve a citação? Como proceder diante de um fato reprovável, sem ofender a quem cometeu a falha? Deve-se silenciar a respeito e deixar que algo aconteça? E se nada acontecer, com que desculpas você vai explicar que estava errado ou interpretou diferentemente o problema? Não teria sido melhor ficar calado? É obrigação do engenheiro evitar que aconteçam desastres? O assunto deve ficar somente entre quem critica e o autor, ou ser divulgado para todo mundo? Quanto menos aquele que critica aparecer, melhor. O importante é evitar que algo de ruim aconteça. Ao invés de tentar justificar o que foi feito errado, o autor vai tentar consertar o que fez, sem divulgar quem chamou a atenção para o problema, e o mais rápido possível. Surge imediatamente com a frase: “Analisando mais detalhadamente o problema,julguei que funcionará melhor assim…”. Com tal procedimento, tudo ficará bem: o autor não será penalizado, o crítico conseguiu evitar o desastre (sem precisar se enaltecer!), a sociedade ganhou com o procedimento ético. É o que todos querem!!! Todos nós, sem exceção, tendemos a amenizar as falhas dos amigos e exagerar os erros dos inimigos. Fazemos isso inconscientemente. Os erros dos outros poderiam ter sido evitados se houvesse mais cuidados, mas os nossos erros foram casuais, aconteceram... [...] O Prof. Héctor Gallegos da UPC (Universidade Peruana de Ciências Aplicadas, de Lima) publicou, em 1999, um livro maravilhoso, que todo engenheiro deveria ler: La Ingeniería ÉTICA. Ele menciona vários casos de desastres que poderiam ter sido evitados se houvesse divulgação, por parte de engenheiros colaboradores, de defeitos que poderiam ser corrigidos a tempo. Para não ferir suscetibilidades, ficaram omissos. Pergunta-se: Esse engenheiro feriu a ética profissional, por ter silenciado diante do comportamento de seu superior, que o advertiu para ficar calado e não levantar suspeitas? Ele deveria ter “posto a boca no trombone” e ser penalizado por tal comportamento? Julgo oportuno aqui reproduzir os casos levantados por Gallegos, deixando a interpretação a cargo de cada um por si mesmo. 1º caso: A explosão do foguete Challenger em 26 de janeiro de 1986 Todos os jornais do mundo noticiaram o acidente ocorrido 73 segundos depois da decolagem do foguete tripulado, de Cabo Kennedy, na Flórida. Se o foguete tivesse suportado mais 47 segundos, teria se livrado de sua parte impulsora, e, já descarregado de combustível, teria navegado tranquilamente pelo espaço e retornado à Terra. Morreram 7 astronautas, dentre os quais a primeira astronauta mulher, e o programa espacial americano atrasou-se 5 anos na averiguação das causas do acidente. O acidente aconteceu depois de 4 lançamentos com êxito, diante da pressão política na competição com a Rússia, acelerando o programa. O que se pode constatar foi que o lançamento foi feito num ambiente que registrou a mais baixa temperatura, abaixo de 0ºC, diferentemente dos 4 lançamentos anteriores. A origem da falha foi identificada como a perda de flexibilidade do selante anelar em baixa temperatura, deixando de cumprir sua função de evitar o vazamento. O combustível sólido, ao se esquentar, causou a dilatação do cilindro de aço que o continha, não acompanhada pelas partes frias. Não interessa explicar o que é a ética profissional, o que significa o ethos de Platão. Qualquer divagação filosófica só tende a obscurecer o problema. O essencial é explicar o que está acontecendo em nosso dia a dia com exemplos típicos. Naturalmente, local, data, nomes, devem ser modificados para evitar identificação. Quem se enquadrar que vista a carapuça. 32 A empresa particular encarregada da fabricação dos impulsores de combustível sólido foi a Morton Thiokol, que possuía o engenheiro chefe Bob Lund. Um dos engenheiros de Bob Lund era Roger Boisjoly, que havia lutado durante o projeto para resolver o problema material do selante. Não tendo tido tempo de resolver o problema dentro do prazo político estipulado, advertiu seu chefe, sem ser levado a sério pela Morton e pela administração da NASA. Um dos gerentes principais da Morton ridicularizou-o em público: “Tire o seu capacete de engenheiro e coloque na cabeça o da Morton!” Boisjoly não perdeu o emprego, mas foi afastado do projeto. No final de julho de 1986, um mês após o término da comissão presidencial, Boisjoly renunciou ao seu emprego na Morton. O desenrolar dos fatos sugere diversas perguntas relacionadas com a ética da engenharia. Eis algumas delas: Qual o papel correto de um engenheiro diante de problemas de segurança? Deve um engenheiro aceitar prazos para resolver um problema? Quem deve decidir uma ação final, a engenharia ou a administração da empresa? É correto para um engenheiro, em situações críticas, divulgar informações reservadas da empresa? 2º caso: O automóvel Pinto Em 10 de agosto de 1978, ocorreu um desastre numa rodovia de Indiana, USA, onde morreram duas jovens dentro de um automóvel compacto, inovador, da Ford. O carro se incendiou depois de um abalroamento por outro carro em sua traseira. Durante os 7 anos da introdução do produto no mercado, ocorreram cerca de 50 casos com demandas judiciais e pagamento de danos. No primeiro caso, entretanto, houve a morte de duas pessoas. A Ford perdeu a causa e vários engenheiros pertencentes à equipe responsável pelo projeto deveriam ser presos. Durante o julgamento ficou patente que os engenheiros conheciam a vulnerabilidade do veículo por choques traseiros. A solução proposta por eles foi recusada pela empresa com as seguintes alegações: a solução aumentava o custo do carro; atrasava o início da fabricação e prejudicava o ritmo de produção. Isto iria contra o alvo da empresa: derrotar os competidores. As perguntas éticas neste caso são: a responsabilidade de um engenheiro em relação à sociedade deve ser subordinada à sua responsabilidade diante de seu empregador? Pode um engenheiro submeter sua independência à empresa? Qual deve ser sua atitude no processo judicial? 3º caso: Central nuclear de Chernobyl Perto da cidade de Prypyat, na Ucrânia, ocorreu o maior acidente nuclear da história. Manejos incompetentes de partes defeituosas da usina ocasionaram em acidente em 25 de abril de 1986. Engenheiros operadores da fábrica tentavam uma experiência malsucedida. Apagaram todos os sistemas de regulagem e emergência e retiraram todas as varinhas de controle do núcleo energético. Isso possibilitou que a central continuasse trabalhando com 10% de sua capacidade. Nas primeiras horas do dia seguinte, 26 de abril, a operação estava fora de controle. Ocorreram então várias explosões que destruíram os contendores de aço e concreto armado do reator. Enormes quantidades de substâncias radioativas entraram na atmosfera, provocando em 27 de abril a evacuação dos 30.000 habitantes de Prypyat. O governo russo tentou encobrir o ocorrido, mas, em 28 de abril, os monitores suecos acusaram índices anormais de radiação no vento. Por pressão da Suécia, o governo russo foi obrigado a admitir o desastre. Devido à contaminação morreram logo 32 pessoas. E centenas de milhares contraíram doenças. Destas pessoas, dezenas de milhares morreram e o restante contraiu câncer. Nos anos seguintes, nasceram vacas com sérias deformações. Árvores também foram contaminadas. A radioatividade atingiu até a França e Itália. As perguntas pertinentes ao caso são: Pode-se exercer a engenharia sem a competência tecnológica e a necessária experiência? Qual a responsabilidade da engenharia na manutenção dos objetos que criou? Qual a atitude da engenharia ao descobrir que os objetos criados são potencialmente perigosos? Qual a responsabilidade da engenharia no bem-estar humano, atual e futuro? 33 4º caso: Césio 137 em Goiânia No Brasil ocorreu um caso inadmissível de contaminação num ferro- velho, com uma cápsula de césio 137 que lá foi deixada por descuido. Várias pessoas morreram e muitas contraíram doenças ficando impossibilitadas de trabalhar. Ninguém foi julgado como causador do desastre.... É ou não é um problema de ética profissional? Os responsáveis pelos equipamentos médicos podiam deixar cápsulas de material perigoso serem jogadas num ferro-velho sem qualquer advertência quanto a seu conteúdo? Abrindo casualmente pastas antigas, deparei-me com um recorte de “A Gazeta” de 10.01.57, que noticiava a colação de grau da turma de engenheiros de 1956. Havia sido publicado, na íntegra, o meu discurso de paraninfo. Esse discurso, que saía da regra geral de mostrar os progressos da Engenharia e o futuro dessa profissão no Brasil, transgrediu o costume,como aconteceu pela primeira vez, com a escolha de um professor subalterno e não um catedrático para a honraria de paraninfar uma turma de estudantes. O discurso mais parecia um conselho para os novos engenheiros. Um dos temas destacados foi justamente o da Ética Profissional, que aqui reproduzo. “Frequentemente o engenheiro terá que exercer atividades subsidiárias, ao lado da parte técnica. Tão importantes como seus conhecimentos técnicos, os únicos adquiridos na escola, são também seus conhecimentos de relações humanas, de psicologia e de comércio. No exercício dessas atividades, o engenheiro precisa acautelar-se para não transgredir os postulados da ética profissional. É muito comum, infelizmente, ouvir-se um engenheiro menosprezar uma planta, um desenho ou um projeto de outro colega antes mesmo de se inteirar completamente do que se trata. Muitas vezes ridiculariza o que ele próprio costumava fazer até alguns dias atrás, só então tendo aprendido a solução acertada. Sempre que estiverdes em situação idêntica, lembrai-vos bem de que, além de ser essa atitude antipática e contra os ensinamentos da ética profissional, ela, em vez de vos beneficiar, poderá ser uma arma de dois gumes, pois quem ouviu a vossa crítica, ainda que não a transmita ao criticado, ficará de sobreaviso para criticar-vos posteriormente em casos análogos. Lembrai-vos bem de que, por melhor que seja vosso trabalho, existe sempre um ponto fraco em que ele possa ser criticado, e outros irão certamente criticá-lo pensando com isso em beneficiar a si próprios. Se minhas palavras puderem ser úteis em alguma situação, lembrai-vos sempre dessa frase: Nunca criticai um trabalho de um colega ainda que a crítica seja justa, pois, com esse procedimento, vós só tendes a ser mal vistos e nada usufruir da antipática atitude. Quando estiverdes inclinados a proferir tais críticas, lembrai-vos dos vossos próprios trabalhos e colocai-vos na posição de adversários. Não é possível evitar as críticas contra nós mesmos, mas é possível diminuir os seus efeitos nocivos procurando trabalhar com perfeição”. Isto aconteceu há 50 anos e a situação continua a mesma. Podemos fazer alguma coisa para minimizar essa deplorável situação? Disponível em: <http://www.tqs.com.br/tqs-news/consulta/etica/523-etica-na-engenharia> Adaptado. Acesso em: 17 dez. 18. 34 Museus Históricos: poder, educação e sociedade 28 de janeiro de 2019 Por Eneida Queiroz Um museu histórico é muito mais do que um lugar onde são guardadas coisas velhas. Confira o que constitui um museu histórico atualmente e como essa instituição se transformou ao longo do tempo. Em geral, sabemos para que serve uma escola, uma universidade, uma galeria artística, um veículo de comunicação, uma empresa de design, um jardim público, uma cafeteria ou uma loja comercial. Mas e quanto aos museus históricos? Será que nós temos essa clareza? Um museu é muito mais do que um lugar onde são guardadas coisas velhas. O objetivo deste artigo é mostrar o que constitui um museu histórico atualmente e como essa instituição se transformou ao longo do tempo. Museu Historico Nacional, no Rio de Janeiro. Foto: Museu Histórico Nacional / José Caldas. Definição básica de museu histórico Uma pessoa pode acumular no quintal de casa uma enorme coleção de garrafas: mas será que essa pessoa documenta esses objetos? Existe no quintal dela um inventário com o arrolamento de cada garrafa daquela coleção? Ela faz uma catalogação (fichas catalográficas de cada peça) com dimensões, material, data, origem, fabricante, tipo de rótulo, cor e demais características de todos os itens que ela guarda? Ela saberia dizer onde está a garrafa de número 358, ou ela precisaria procurar? Certamente, esse hipotético personagem não faz empréstimos de itens da sua coleção, não dá baixa no inventário, não abre seu quintal para o público, não fotografa e nem divulga suas peças em um site ou mídias sociais. Ora, ele não faz nada disso por uma razão muito simples: ele não é museólogo e nem possui um museu no quintal – trata-se apenas de um colecionador de coisas velhas. Todo museu, histórico ou não, é uma instituição bastante complexa e não pode ser confundido com o simples acúmulo de objetos. Para que uma instituição seja considerada museu, ela deve “conservar, investigar, comunicar, interpretar e expor, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento”. Além disso, ela deve ser permanente e não possuir fins lucrativos. 35 Os museus históricos, ao contrário de uma pinacoteca ou de um museu de mineralogia, se caracterizam pela multiplicidade tipológica do acervo e pela coerência temática. Vamos considerar como exemplo o Museu Histórico Nacional, localizado na cidade do Rio de Janeiro: ele reúne milhares de peças, desde réplicas das pinturas rupestres da Serra da Capivara aos originais de anjos barrocos vindos de igrejas do século XVIII, do manto da Princesa Isabel ao uniforme de gari da Comlurb, do quadro do último baile imperial aos exemplares de nossas constituições republicanas. Todas essas peças são tipologicamente diversas, mas tematicamente unidas, e com uma consequência narrativa: contar a história do Brasil por meio dos objetos que são testemunhos de seu tempo. Museus Históricos: dos homens ilustres à história vista debaixo Hoje é ponto pacífico para museólogos e historiadores as profundas relações entre poder e memória. Raiz do próprio nome “museu”, as musas da mitologia clássica eram filhas de Zeus (o poder) e Mnemosine (deusa da memória). Os museus, principalmente no seu início, assim como quase sempre fizeram os registros e livros históricos, guardaram a história dos vencedores. No caso dos museus, essa história esteve por muito tempo materializada em objetos como espadas, mantos reais, uniformes militares, quadros de batalhas, leis de compra de terras, cuja valoração atrelava-se ao vínculo com esses homens ilustres ou com acontecimentos militares e políticos marcantes para a afirmação das histórias estatais. Era uma “história acontecimental e política” – e isso pode ser visto ainda hoje. No campo da historiografia, essa história tradicional, contudo, começou a ser fortemente contestada no final da década de 1920, por um movimento historiográfico francês chamado “Movimento dos Annales” (ou “Escola dos Annales”). Formado em torno da Revista dos Annales esse movimento combateu a chamada “história acontecimental” (uma história linear, fundamentalmente política e diplomática), e novos atores, para além dos grandes monarcas e estadistas, passaram a serem sujeitos históricos das narrativas acadêmicas. Na década de 1960, outro movimento historiográfico, mas agora surgido no Reino Unido, contribuiu para consolidar o lugar do “homem comum” nas narrativas dos historiadores: o movimento da “história vista de baixo”. Essa história, em oposição à antiga história tradicional do poder, buscou explorar a vida, os costumes e as tradições daqueles que costumavam ser esquecidos: servos, escravos, trabalhadores pobres livres, mulheres, etc. Essa renovação não se limitou ao campo da historiografia, mas ocorreu também no campo dos museus. Os museus históricos ao longo do século XX questionaram suas tipologias, o elitismo da formação de seus acervos e – primordialmente – sua função social. Os museólogos passaram a ver os museus históricos cada vez menos como espaços exclusivos das elites e cada vez mais como um espaço de toda a sociedade – um museu histórico está a serviço do desenvolvimento dessa sociedade. Isso significa dizer que todo museu históricopossui uma dimensão educativa e política, afinal, ele visa ao despertar das comunidades, por mais pobres que sejam, para o seu “direito à memória” – para alguns setores conservadores da elite, os museólogos – antes guardiões do relicário da poderosa elite do passado – começaram a se tornar tão subversivos como os antropólogos, sociólogos, cientistas políticos e historiadores. Missão do Museu Histórico Nacional Você pode se perguntar: mas como contar a história do Brasil? Quem deveria fazer isso não são as escolas, as universidades e os livros? Se já temos tantos narradores, qual o papel dos museus de história? A missão do Museu Histórico Nacional, defendida em seu Plano Museológico de 2016 é de “promover a mobilização coletiva para valorizar a consciência histórica e o direito ao patrimônio cultural do Brasil, por meio da formação e preservação de acervo, ação educativa e construção de conhecimento”. No entanto, ainda que não esteja escrito em sua missão “contar a história do país”, a construção de qualquer acervo museológico (baseado em escolhas e omissões) interpreta e narra um assunto tanto por meio da expografia escolhida, como das ações de comunicação e educação da instituição. Logo todo museu histórico constrói uma narrativa sobre o passado. 36 “Farmácia Homeopática”, Museu Histórico Nacional, (RJ). Foto: Museu Histórico Nacional / José Caldas. Museu Histórico: lugar para pensar e inquietar Essas transformações no campo da museologia foram consagradas principalmente na década de 1970, quando houve a ampliação do conceito de patrimônio, incluindo o ambiente natural. Um dos maiores marcos desta década de mudanças foi a Mesa Redonda de Santiago, em 1972, em que os participantes deste evento da área de museologia discutiram o papel dos museus na América Latina, chegando-se ao conceito de “Museu Integral”. O Museu Integral leva em consideração a totalidade dos problemas da sociedade, proporcionando à comunidade uma tomada de consciência do seu próprio meio natural e cultural. Assim, os museus deveriam se engajar socialmente, com participação da própria comunidade. O território e o patrimônio estão ligados intimamente à comunidade, sendo esta população ativa no museu e não mais se restringindo ao papel de público que somente visita o edifício e observa as obras e os objetos. As transformações e o desenvolvimento social são aspectos basilares para o desempenho desse novo museu: princípios da “Nova Museologia”, reiterados com a Declaração de Quebec, de 1984, e com o Movimento Internacional da Nova Museologia (MINOM). Ao falar do passado, o museu fala do hoje. Disponível em: <https://www.cafehistoria.com.br/museus-historicos-educacao-sociedade/.> Acesso em: 30 jan.2019 É preocupante constatar que muitos museus históricos no Brasil ainda não obedecem aos requisitos básicos que configuram as boas práticas museais e, até mesmo, os rigores da legislação que normatiza o campo. Mas é importante saber que Museu – para ganhar esse título – tem um compromisso não apenas patrimonial, como também educacional e de entretenimento: ele deve ser capaz de espantar, maravilhar, instruir, fazer pensar, inquietar, curtir e relaxar. 37 SOCIEDADE DOS SONHOS Lendo recentemente o livro "O Semeador de Ideias" do autor Augusto Cury, tem um trecho em que o escritor relata: " O mestre segredou-me um projeto, que havia tempos estava maturando em sua mente, e que me encantou e perturbou. Falou da necessidade de construir a sociedade dos sonhos, fraterna, livre, pautada pelo diálogo e pelo respeito aos direitos humanos, em que jovens, homens e mulheres fossem educados a ter consciência crítica, a ser generosos, solidários altruístas, e a aprender a expor, e não a impor, suas ideias, crenças e princípios. Uma sociedade em que a educação se tornasse o centro das atenções sociais, em que se superasse a necessidade neurótica de poder, de controlar os outros e de estar em evidência social, em que o medo uns dos outros desse lugar à confiabilidade, as ideias fossem mais fortes que as armas, em que a transparência, a honestidade e a capacidade de ser fiel à própria consciência fossem mais importantes que os códigos jurídicos que regulam os comportamentos. Uma sociedade em que o consumismo fosse transformado em sede de conhecimento e em que cada pessoa respeitasse sua cultura, crenças políticas e religiosas, mas as transcendesse por aprender a pensar como espécie e, como tal, se tornasse assim um ser humano sem fronteira. Uma sociedade em que finalmente o homem fizesse as pazes com a natureza e se colocasse como seu hóspede, e não como seu proprietário". [...] Isto me fez relembrar Thomas More, autor de A Utopia, onde Oscar Wilde dizia: "Um mapa do mundo em que não aparece o país Utopia não merece ser guardado", expressa na realidade o anseio permanente de criação de uma sociedade perfeita. Ideal irrealizável em sua plenitude. Utopia é toda proposta ideal de organização da sociedade em que, por meio de novas condições econômicas, políticas e sociais, se pretende alcançar um estado de satisfação geral.Tem uma citação de Bernard Shaw que a levo comigo que diz: "Alguns homens veem as coisas como são e perguntam: Por quê? Eu sonho com as coisas que nunca existiram e pergunto: Por que não?". Muitas vezes me pergunto, qual a razão de não buscarmos a sociedade dos sonhos e lembro do que disse Erasmo de Rotterdam em seu livro Elogio da Loucura quando afirma: "Quando se reflete atentamente sobre o gênero humano, e quando se observam como de uma alta torre (justamente a maneira pela qual Júpiter costuma proceder, segundo dizem os poetas) todas as calamidades a que está sujeita a vida dos mortais, não se pode deixar de ficar vivamente comovido. Santo Deus! Que é, afinal, a vida humana? Como é miserável, como é sórdido o nascimento! Como é penosa a educação! A quantos males está exposta a infância! Como sua a juventude! Como é grave a velhice! Como é dura a necessidade da morte! Percorramos, ainda uma vez, este deplorável caminho. Que horrível e variada multiplicidade de males! Quantos desastres, quantos incômodos se encontram na vida! Enfim não há prazer que não tenha o amargor de muito fel. Quem poderia descrever a infinita série de males que o homem causa ao homem, como a pobreza, a prisão, a infâmia, a desonra, os tormentos, a inveja, as traições, as injúrias, os conflitos, as fraudes, as tragédias...?". Segundo Rousseau, "O homem nasce puro, a sociedade que o corrompe. Todos nascem homens e livres; a liberdade lhes pertence e renunciar a ela é renunciar à própria qualidade de homem". Logo, está em nossas mãos criarmos uma sociedade na qual a sabedoria e a felicidade do povo decorram de um sistema social, legal e político perfeito guiado pela razão. Lutarei até o fim da minha vida em busca dessa utopia. Disponível em: <http://www.professormarcosalves.com.br/2011/04/sociedade- dos-sonhos.html> Adaptado. Acesso em: 07 fev. 2019. 38 CHARGES Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/iotti/noticia/2019/01/iotti-coincidencia-cjrcnaskd00j201ny61qcb1cf.html>Acesso em: 07 fev. 2019. Disponível em: <https://viewsblogg.blogspot.com/2019/01/veja-as-charges-feitas-sobre-o.html>Acesso em: 07 fev. 2019. 39 Disponível em: <https://www.humorpolitico.com.br/tag/vale-brumadinho/>Acesso em: 07 fev. 2019. Disponível em: <https://www.humorpolitico.com.br/tag/vale-brumadinho/>Acesso em: 07 fev. 2019. 40 Considerações Finais Sem a observação, a leitura crítica dos fatose a empatia é muito mais fácil apenas criticar, e quase impossível apontar soluções. Sem a reflexão e introspecção é muito mais fácil enxergar apenas o cisco que está no olho do outro, e simplesmente não enxergar a trave que está em nossos olhos, impedindo-nos de propor soluções, impedindo-nos de contemplar o outro que está por traz dos fatos... Nesse sentido, é sempre oportuno questionar... Como está a sociedade? Se a sociedade está doente, sofrendo tantas tragédias, como as pessoas precisam ser tratadas para que a sociedade tenha chances de cura e uma vida mais segura? O que pensamos e sentimos pelo outro? Como vemos e tratamos os outros? Que importância tem para nós os dilemas enfrentados pelo outro? Que participação temos na história do outro? Como nos vemos diante do próximo e qual a nossa percepção acerca da nossa individualidade e a do outro, ambos inseridos na coletividade? Como vai a sensibilidade humana diante dos direitos humanos ainda tão distantes de serem cumpridos em sua totalidade e de que modo estamos contribuindo para a construção de uma sociedade menos preconceituosa, mais superabundante de vida e de relações interpessoais saudáveis? Esperamos que você tenha se feito essas e outras perguntas... Afinal, a razão de ser desta disciplina é despertar em você a busca por respostas e, acima de tudo, é despertar em você o seu melhor! Que a partir desta e de outras leituras qualitativas você se torne uma pessoa mais apaixonada pela vida, pela ética, pela construção de uma sociedade na qual impere a vontade de participar e de ser em detrimento do ter. Acredite! Você é capaz disso e muito mais! Sucesso! Organizadoras Pensar é voar sobre o que não se sabe. Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido. (Rubem Alves)