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microbiota intestinal

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INFORMATIVO SCHÄR BRASIL
DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017
Os artigos publicados nesta edição 
do Informativo abordam diferentes 
perspectivas sobre as relações entre 
a flora microbiana que habita nosso 
intestino – conhecida como microbio-
ma intestinal – e distúrbios relacionados 
ao glúten. Em primeiro lugar, aparece a 
Doença Celíaca: dois “mundos” aparen-
temente distantes, que na verdade estão 
surpreendentemente relacionados.
Analisando rapidamente o PubMed, o 
banco de dados médico-científico mais 
completo de todo o mundo, vemos que 
houve um crescimento exponencial no 
número de publicações sobre microbio-
ma intestinal a partir do início dos anos 
2000 (de 35 artigos em 2004 para 1.656 
em 2014). 
Só em 2014, 21 artigos tratavam das 
relações entre o “mundo das bactérias” 
do intestino e a Doença Celíaca. Tal 
aumento deve-se primeiramente às 
novas tecnologias da genética mole-
cular, que nos permitem analisar a flora 
bacteriana intestinal de forma rápida, 
fácil e precisa. 
Em relação à Doença Celíaca, um dos 
tópicos mais relevantes hoje é o au-
mento impressionante na frequência 
desta doença nas últimas décadas, um 
fenômeno que não pode ser atribuído a 
mudanças genéticas, pois isso levaria 
muito mais tempo para acontecer. Esse 
aumento acontece por conta das mu-
danças ambientais, incluindo mudanças 
na dieta, estilo de vida, proliferação de 
infecções e a própria população bacte-
riana que habita em nosso intestino.
Como pediatra, tenho especial interes-
se na relação em potencial entre alguns 
fatores nos primeiros anos de vida, tais 
como tipo de nascimento (natural ou 
cesariana), alimentação do lactente, 
infecções intestinais e o uso de antibióti-
cos, o microbioma intestinal e o risco de 
desenvolver a Doença Celíaca. 
Microbioma intestinal: 
um novo mundo a ser explorado.
O conjunto de bactérias hospedadas em nosso intestino, ou o microbioma, forma uma massa vital que interage com 
nosso corpo de maneira positiva ou negativa desde o nascimento. Estudos recentes demonstraram que o microbioma 
intestinal parece estar significativamente ligado aos distúrbios relacionados ao glúten.
PROFESSOR CARLO CATASSI
Professor de pediatria na 
Universidade Politécnica 
de Marche (Itália). 
Presidente da Sociedade 
Italiana de Gastroenterologia, 
Hepatologia e Nutrição 
Pediátrica, de 2013 a 2016. 
Coordenador do Conselho 
Consultivo da Dr. Schär.
A análise destes aspectos pode nos 
ajudar a entender melhor a “receita” do 
coquetel genético e ambiental que leva
ao desenvolvimento de transtornos 
relacionados ao glúten - não apenas a 
Doença Celíaca, mas também a Sensibi-
lidade ao Glúten Não Celíaca. 
Em termos de tratamento, uma com-
preensão das mudanças persistentes no 
microbioma, conhecida como disbiose,
pode promover a implementação de 
novos tratamentos com o objetivo de 
melhorar a qualidade de vida de pessoas 
que sofrem de distúrbios associados ao 
glúten.
INFORMATIVO SCHÄR BRASIL I DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017 
Com o surgimento de novas evidências 
e melhores técnicas de análise, mais in-
formações estão disponíveis sobre as 
bactérias do nosso intestino. 
Está ficando claro que o tipo e a quanti-
dade relativa de bactérias presentes em 
nosso intestino desempenha um papel 
importante tanto na saúde como nas 
doenças. 
Empresas de biotecnologia estão inves- 
tindo mais em tecnologias para utilizar 
este “microbioma” como moderador em 
potencial da saúde de nosso intestino e 
nosso sistema imunológico congênito. 
Um aumento na incidência de doenças 
mediadas pelo sistema imune e distúrbi-
os neurológicos não pode ser explicado 
por mudanças na genética humana.1
A disbiose e perda de diversidade es-
tão sendo comumente rastreados até 
estas doenças pela observação de nosso 
“outro genoma” na busca de pistas. 
Através do trabalho realizado até ago-
ra em metagenômica, está se tornando 
bastante claro que uma maior diversi-
dade bacteriana ou “riqueza genética” 
está fortemente associada a uma melhor 
saúde.
Microbiota Intestinal: Saúde e Doença.
BRIDGETTE WILSON
Bacharel em Ciências, Mestre em Ciências, Diploma de Pós-Graduação, 
Nutricionista Certificada. Pesquisadora em Nutrição na King’s College de 
Londres, Bridgette é Doutoranda na King’s College de Londres. 
Bridgette concluiu o Bacharelado em Ciências Biológicas e o Mestrado em 
Biologia Molecular antes de estudar Nutrição. 
Após ter trabalhado no Serviço de Saúde da Inglaterra (NHS) Bridgette voltou a 
trabalhar como pesquisadora, com foco na área de Gastroenterologia. 
Atualmente, Bridgette trabalha na equipe do Prof. Kevin Whelan e da Dra. 
Miranda Lomer no King’s College de Londres, além de pesquisar as intervenções 
nutricionais na Síndrome do Intestino Irritável.
Definições principais:
Microbioma: nome coletivo dado 
aos microrganismos intestinais. 
Disbiose: um ou mais organis-
mos microbianos potencialmente 
prejudiciais predominantes na 
população microbiana intestinal.3
Metagenômica: campo de estu-
do que compara genomas em sua 
totalidade.
 
Filo: termo taxonômico para dividir 
organismos em grupos com outros 
com propriedades semelhantes.
Enterótipo: termo usado para di-
vidir seres humanos em grupos 
com base nas bactérias presentes 
no intestino.
Transcriptoma: genes representa-
dos por proteínas, ou seja, a parte 
ativa do genoma.
2
INFO
Que espécies constituem 
o microbioma?
Apesar de existir uma grande variação 
individual entre espécies – a maioria 
das pessoas tem aproximadamente 
160 espécies de um total de 1.000 
possibilidades – os filos representados 
no microbioma são bastante restritos. 
(QIN et al., 2010) identificaram um con-
junto principal de bactérias presentes 
em todas as pessoas. Três enterótipos 
principais foram configurados para o 
microbioma humano.2 
Um indivíduo pode pertencer aos 
seguintes gêneros de marcadores do 
microbioma: Bacteroides, Prevotella e 
Ruminococcus (o último grupo é mais 
associado à presença de Methanobrevi-
bacter).1
Função
As funções da microbiota intestinal ainda 
estão sendo totalmente conhecidas, mas 
alguns aspectos-chave são: 
• modulação e sinalização imunológica; 
 
• produção de mensageiros do sistema 
 nervoso; 
• produção de vitaminas essenciais; 
• regulação do metabolismo das 
 gorduras; 
• produção de ácidos graxos de cadeia
 curta (AGCC) - especificamente butirato -
 e ácidos graxos de cadeia ramificada. 
Dependendo do substrato fermentado, 
outros produtos do microbioma incluem 
gases hidrogênio, dióxido de carbono e 
metano, amônia, aminas e compostos 
fenólicos.3
3
A simbiose entre humanos e a microbiota intestinal está se tornando cada dia mais 
evidente. O termo “superorganismo” nasce à medida que o corpo humano passa 
a ser considerado como um conglomerado de nosso próprio transcriptoma e o trans- 
criptoma plástico, muito maior do que a microbiota intestinal.
Os genes codificados de nossas bactérias intestinais ultrapassam os nossos próprios 
à ordem de 1004. Por isso, não é surpreendente que uma maior atenção esteja sendo 
dada ao “outro genoma” em termos de causa, prevenção e cura de doenças.
O sistema nervoso entérico (SNE) é às vezes citado na literatura como o “segundo 
cérebro”, pois é constituído de mais de 200 milhões de neurônios.5 O SNE envia sinais 
do intestino para o cérebro através do sistema endócrino, neuronal e imunológico 
aferentes.5
Além disso, o tecido linfoide associado ao trato gastrointestinal (GALT), que normal-
mente experimenta e responde aos sinais do lúmen intestinal, é considerado o maior 
organismo de defesa do corpo contra infecções.5
A combinação de interações entre o SNE, o microbioma e o GALT tem um grande 
potencial para realizarmudanças no bem-estar físico, imunológico e emocional.
A simbiose entre os humanos 
e a microbiota intestinal 
está se tornando a cada 
dia mais aparente.
INFORMATIVO SCHÄR BRASIL I DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017 
De que é formado 
o microbioma?
O microbioma se desenvolve a partir do 
nascimento. O tipo de parto e a nutrição 
do lactente afetam o desenvolvimen-
to inicial do microbioma. O desmame 
e o ambiente (rural ou urbano) durante 
a infância também têm um impacto no 
desenvolvimento do microbioma maduro. 
Estudos com grupos de populações 
isoladas na África revelaram colônias de 
bactérias diferentes e únicas em com-
paração com uma amostra da população 
ocidental, indicando que o ambiente 
desempenha um papel fundamental na 
colonização.6 
Estudos com gêmeos também revelaram 
que há pelo menos uma influência genéti-
ca parcial na abundância de espécies.7 
Cônjuges de gêmeos idênticos também 
mostraram correlações positivas que 
contribuem para o conceito de que tanto 
a natureza como a nutrição podem afetar 
a riqueza da microbiota intestinal.8
Nas pessoas mais velhas, o microbioma 
muda novamente, apesar de que ainda 
não está claro por que isso acontece. 
Nota-se uma redução nas bactérias pro-
dutoras de butirato na população mais 
velha, bem como a redução da riqueza 
genética do microbioma. 
As pessoas mais velhas que vivem em 
meio à comunidade mantêm maior rique-
za genética, o que é considerado como 
resultado de uma dieta mais variada, em 
comparação com idosos que vivem em 
centros gerontológicos.9
4
Como as mudanças 
nos afetam?
A disbiose é associada a vários esta-
dos patológicos.3 Foi publicada recen-
temente uma resenha da literatura de 
doenças específicas e alterações na 
população bacteriana associada.4 
Novas tecnologias têm permitido uma 
espécie de mapeamento das bactérias a 
ser desenvolvido para algumas doenças, 
proporcionando tanto uma poderosa 
ferramenta de diagnóstico não-invasiva 
como um alvo em potencial para terapias 
de tratamento destas patologias.
Em estudos sobre obesidade, indivíduos 
com menor riqueza genética apresen-
taram maior adiposidade em geral, re-
sistência à insulina e dislipidemia, e um 
fenótipo inflamatório mais pronunciado.10 
Aqueles com menor riqueza genética 
também ganharam mais peso com o 
decorrer do tempo. (GOODRICH et al., 
2014) apresentam um insight sobre a 
heritabilidade de um microbioma obe-
sogênico e a influência potencial das 
bactérias metanogênicas e da Chris-
tensenella spp. em distúrbios metabóli-
cos.
 
Um declínio nas bactérias produtoras 
de butirato pode indicar um aumento no 
risco de desenvolver comorbidades rela-
cionadas à obesidade.18
Pode ser que, no futuro, outras cepas de 
bactérias (ex. Akkermansia muciniphila e 
Christensenella minuta) se tornarão alvo 
de suplementação prebiótica e probióti-
ca.4 
 
Tanto a natureza como a 
nutrição podem afetar 
nosso microbioma.
Estudos com bebês que apresentam dis-
posição genética para Doença Celíaca 
(DC) apresentam uma redução nas acti- 
nobactérias (que incluem as bifidobac-
térias) e um aumento em firmicutes e 
proteobactéria spp.11
Entretanto, não foi demonstrado uma 
relação conclusiva entre alterações mi-
crobianas e desenvolvimento da DC.12
Foi identificada disbiose no sequen-
ciamento do microbioma na síndrome do 
intestino irritável (SII).13 
Estudos posteriores identificaram dife-
renças distintas nas bactérias intesti-
nais em diferentes subtipos de SII tanto 
na população do lúmen como da muco-
sa.14-16
Um estudo-piloto recente em pediatria 
identificou que o microbioma pode indi-
car a probabilidade da dieta com baixa 
fermentação (low-FODMAP) ser efetiva 
no alívio dos sintomas.17 
(QIN et al., 2012) identificaram compor-
tamentos antagônicos nas bactérias 
benéficas e prejudiciais no diabetes do 
tipo 2.
 
5
Como podemos melhorar 
o microbioma?
Estudos nutricionais mostraram o poder 
da manipulação da dieta na alteração do 
microbioma19 tendo esta área um grande 
potencial. 
Alimentar o hospedeiro e alimentar a 
microbiota é uma forma óbvia de fazer 
uma manipulação da microbiota. Uma 
dieta rica em gorduras e proteínas foi 
associada ao enterótipo Bacteroides, 
e uma dieta rica em carboidratos corres- 
ponde ao enterótipo Prevotella.20
Mudanças de curto prazo na dieta (~10 
dias) evidenciaram mudanças na com-
posição do microbioma, mas não afe-
tam significativamente a identidade do 
enterótipo. Houve um aumento em Fae-
calibacterium prausnitzii, Bifidobacterium 
e do grupo XIV de Clostridium com uma 
suplementação elevada de fibras alimen-
tares. Estes três grupos são normalmente 
associados a uma saúde melhor.1, 21
Outros estudos demonstraram de for-
ma conclusiva que os prebióticos e 
probióticos são ferramentas úteis em 
diferentes níveis na promoção de bifido-
bactérias e lactobacilos benéficos.
Vários estudos mostraram mecanismos 
através dos quais diferentes espécies 
de lactobacilos e bifidobactérias não 
apenas promovem efeitos benéficos ao 
hospedeiro, mas também inibem a fi-
xação e a atividade de enteropatógenos 
invasores.4 
6
1 Blottiere, H.M., et al., Metagenômica
 intestinal humana: estado da arte e
 futuro. Curr Opin Mi cro- biol, 2013. 
 16(3): p. 232-9.
2 Qin, J., et al., Catalogação do genoma
 microbiano do intestino humano 
 através do sequenciamento 
 metagenômico. 
 Nature, 2010. 464(7285): p. 59-65.
3 Roberfroid, M., et al., Efeitos prebióticos: 
 benefícios para a saúde e o metabolismo. 
 British Journal of Nutrition, 2010. 
 104(S2): p. S1-S63.
4 Walsh, C.J., et al., Modulação benéfica
 da microbiota intestinal. FEBS letters, 
 2014. 588(22): p. 4120-4130.
5 Al Omran, Y. e Q. Aziz, Relação 
 cérebro-intestino na saúde e na doença,
 em Endocrinologia Microbiana: Relação 
 cérebro-intestino-microbiota na Saúde e 
 na Doença. 2014, Springer. p. 135-153.
6 De Filippo, C., et al., Impacto da dieta 
 na formação da microbiota intestinal 
 revelado por um estudo comparado 
 em crianças da Europa e da África rural. 
 Atas da Academia Nacional de Ciências, 
 2010. 107(33): p. 14691-14696.
7 Goodri ch, J.K., et al ., Genética humana 
 forma o microbioma intestinal. 
 Cel l, 2014. 159(4): p. 789- 799.
8 Nelson, K.E., et al., Metagenômica 
 do corpo humano. 2011: Springer.
O transplante de microbiota fecal é 
outra técnica para correção rápida de 
um microbioma desordenado. 
Ensaios com pacientes infectados por 
C. Diff mostraram resultados promis-
sores neste sentido. O transplante da 
microbiota fecal de doadores saudáveis 
demonstrou uma melhora na resistência 
à insulina em pacientes com síndrome 
metabólica 22 - o que sustenta o conceito 
cada vez mais aceito de que a disbiose 
desempenha um papel importante no 
desenvolvimento de distúrbios relaciona-
dos à obesidade. 
Estratégias antimicrobianas para a mo- 
dulação do microbioma podem ter um 
potencial terapêutico no futuro. Entre-
tanto, o conhecimento atual a respeito 
da eficácia nesta área é baseado em 
modelos com camundongos, não sendo, 
portanto, uma estratégia recomendada 
atualmente.4
Uma dieta variada, com um equilíbrio de 
todos os grupos alimentares, deve ser 
utilizada para proporcionar um substra-
to alternativo e reduzir a probabilidade 
de espécies desfavoráveis se tornarem 
dominantes no intestino. No caso de 
perturbações no microbioma ocasiona-
das por antibióticos ou por um episódio 
de gastroenterite, o uso de prebióticos e 
probióticos se mostra útil, sendo consi-
derado seguro para o uso em geral. 
O diagnóstico através do exame das 
fezes, capaz de detectar uma dimi-
nuição na diversidade, pode ser uma 
ferramenta útil no prognóstico precoce 
de doenças e nas medidas preventivas.INFORMATIVO SCHÄR BRASIL I DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017 
9 Claesson, M.J., et al., Composição,
 variabilidade, e estabilidade temporal 
 da microbiota intestinal de idosos. 
 Atas da Academia Nacional de Ciências, 
 2011. 108 (Suplemento 1): p. 4586- 4591.
10 Le Chateli er, E., et al., Riqueza do 
 microbioma intestinal humano associada 
 aos marcadores metabólicos. 
 Nature, 2013. 500(7464): p. 541-546.
11 Olivares, M., et al., O genótipo 
 HLA-DQ2 determina a composição da
 microbiota inicial em bebês com alto 
 risco de desenvolverem doença celíaca. 
 Gut, 2014: p. gutjnl-2014-306931.
12 McLean, M.H., et al., A microbiota teria
 um papel na patogênese de doenças 
 autoimunes? 
 Gut, 2014: p. gutjnl-2014-308514.
13 Rajili c-Stojanovic, M., et al., Análise
 molecular global e profunda de 
 assinaturas de microbiota em amostras
 de fezes de pacientes com síndrome do
 intestino irritável. Gastroenterology, 2011. 
 141(5): p. 1792- 801.
14 Saulnier, D.M., et al., O microbioma 
 intestinal, probióticos e prebióticos 
 em neurogastroenterologia. 
 Gut Microbes, 2013. 4(1): p. 17-27.
15 Parkes, G.C., et al., Existem populações
 microbianas distintas na microbiota 
 associada à mucosa de subgrupos com 
 síndrome do intestino irritável. 
 Neurogastroenterology & Motility, 2012. 
 24(1): p. 31-39.
 
16 Sundin, J., et al., Composição 
 microbiana da mucosa e das fezes
 alterada em pacientes com síndrome
 do intestino irritável pós-infecciosa com
 fenótipos de linfócitos na mucosa e 
 estresse psicológico. Aliment Pharmacol
 Ther, 2015. 41(4): p. 342-51.
17 Chumpitazi, B.P., et al., Microbiota 
 intestinal influencia eficácia de dieta 
 de baixos substratos fermentáveis em
 crianças com síndrome do intestino i
 rritável. 
 Gut microbes, 2014. 5(2): p. 165-175.
18 Qin, J., et al ., Estudo da associação 
 geral do metagenoma da microbiota
 intestinal no diabetes tipo 2. 
 Nature, 2012. 490(7418): p. 55-60.
19 Cotillard, A., et al., Impacto da 
 intervenção nutricional na riqueza 
 genética dos micróbios intestinais. 
 Nature, 2013. 500(7464): p. 585-8.
20 Wu, G.D., et al., Associação de padrões
 nutricionais de longo prazo com 
 enterótipos microbianos do intestino. 
 Science, 2011. 334(6052): p. 105-108.
21 Shen, Q., L. Zhao, e K.M. Tuohy, Alto
 nível de fibras alimentares suprarregulam
 fermentação colônica e a abundância 
 relativa de bactérias sacarolíticas na
 microbiota fecal humana in vitro. 
 European Journal of Nutrition, 2012.
 51(6): p. 693-705.
22 Vrieze, A., et al., Transferência de 
 microbiota intestinal de doadores 
 saudáveis aumenta sensibilidade 
 à insulina em indivíduos com síndrome 
 metabólica. Gastroenterology, 2012. 
 143(4): p. 913-6.e7.
 
REFERÊNCIAS
7
A crescente prevalência de intolerân-
cias alimentares, especialmente rela-
cionadas a certos carboidratos, repre-
senta um problema de saúde global.1 
Além disso, a intolerância ao glúten e 
substâncias associadas ao glúten, como 
o inibidor amilase tripsina (ATI), tem sido 
culpado2 pelos sintomas intestinais (me-
teorismo, dor, constipação, diarreia) e 
extraintestinais (fadiga, cefaleia, dores 
nas juntas, irritações de pele) nos paci-
entes acometidos.3 
A patogênese de intolerâncias alimen-
tares é culpada por fatores como mu-
danças na composição da flora intestinal 
e sua influência na tolerância imunológi-
ca da membrana mucosa.4
A barreira intestinal é importante para 
manter a homeostase no intestino. Se 
houver um desequilíbrio no intestino, 
a barreira intestinal pode ser atacada, 
tornando-se permeável como parte da 
síndrome do intestino permeável. Foi 
demonstrado que há uma associação 
entre a síndrome do intestino permeável 
e o desenvolvimento de doenças gastro-
intestinais e possivelmente intolerâncias 
alimentares.
O microbioma do trato digestivo humano 
também parece ter um papel importante 
na doença associada ao glúten / trigo.4
provém do fato que há uma população 
bacteriana diferente nestes pacientes, em 
comparação com indivíduos saudáveis. 
Uma proporção significativamente maior 
de bifidobacterium bifidum e um número 
maior de lactobacillus sp. foram encon-
trados em pacientes celíacos, mas sua 
diversidade diminuiu de maneira signifi-
cativa sob uma dieta sem glúten.10
Sabe-se que a microflora intestinal 
depende de vários fatores. A composição 
microbiana no intestino delgado é deter-
minada principalmente pela competição 
entre os microrganismos e o hospedeiro, 
para assegurar uma rápida absorção e 
utilização de carboidratos. 
Os microrganismos no cólon, por outro 
lado, são afetados tanto pela complexa 
utilização de carboidratos como pela 
competição entre si.6
A nutrição tem um papel importante 
neste caso. Estudos com camundon-
gos já demonstraram que a dieta pode 
alterar rapidamente a composição mi-
crobiana do intestino.7
Várias publicações demonstram a pre-
sença de streptococcus sp., E. coli, clos-
tridium sp., organismos ricos em G+C, 
bacteroides uniformis, blautia glucerasea 
e bifidobactérias no intestino grosso e 
delgado, que favorecem substratos dife-
rentes.8 
Neste contexto, é interessante comen-
tar que o B. uniformis aproveita prin-
cipalmente a insulina, enquanto que 
outras espécies metabolizam principal-
mente frutooligossacarídeos ou monos-
sacarídeos.9
Uma indicação da importância da com-
posição microbiana na Doença Celíaca 
A influência do microbioma 
em distúrbios relacionados 
ao glúten.
Este breve artigo faz um apanhado geral das diferenças existentes 
na microbiota em distúrbios relacionados ao glúten, com especial 
destaque para a Doença Celíaca, além de delinear um estudo pros- 
pectivo controlado, planejado para examinar mudanças na microflora 
intestinal em pacientes com sensibilidade ao trigo.
PROF. DR. MED. 
YURDAGÜL ZOPF
Clínica médica 1,
Universidade de Erlangen, 
Alemanha.
Pacientes com Doença 
Celíaca têm uma 
população bacteriana 
diferente se comparados 
a indivíduos saudáveis.
PRIV. DOZ. DR. RER. NAT. 
WALBURGA DIETAERICH
Pesquisadora assistente, 
Clínica médica 1
Universidade de Erlangen, 
Alemanha.
8
INFORMATIVO SCHÄR BRASIL I DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017 
Além disso, foi demonstrado in vitro 
que algumas cepas de bifidobactérias 
reduziram a resposta inflamatória imune 
desencadeada por peptídeos da gliadina, 
desempenhando um efeito protetor.11,12
(WACKLIN et al., 2013) relataram uma 
possível relação entre a manifestação da 
Doença Celíaca na forma de sintomas 
gastrointestinais ou extraintestinais e o 
microbioma.13
Em outro estudo, o microbioma duodenal 
de pacientes com Doença Celíaca com 
sintomas persistentes, mesmo sob uma 
dieta sem glúten de longo prazo e muco-
sa normalizada do intestino delgado, foi 
comparado com pacientes de Doença 
Celíaca que não apresentavam sinto-
mas. Foi verificado que havia diferenças 
na colonização bacteriana do intestino 
Dos 22 pacientes, 12 receberam duas 
cápsulas de B. infantis e 10 receberam 
duas cápsulas de placebo com as re-
feições. Apesar de a ingestão de probióti-
co não ter um efeito na permeabilidade 
intestinal, os sintomas de dispepsia, 
constipação e refluxo gastrointestinal 
melhoraram de forma significativa no 
grupo que tomou B. infantis. 
Também houve um aumento significa-
tivo na MIP-1ß (proteína inflamatória de 
macrófago ou proteína 1ß) no grupo que 
tomou probiótico. Apesar de este estu-
do indicar um possível efeito mitigador 
dos probióticos em alguns sintomas da 
Doença Celíaca, é necessária a confir-
mação através de outros estudos.15
Um estudo recente de (OLIVARES et 
al., 2015) em pacientes com alto risco 
genético de Doença Celíaca revelou uma 
composição microbiana alterada mesmona puerícia e infância, indicando que a 
mudança no microbioma pode ocorrer 
em estágios bastante precoces. 
Em comparação com crianças sem ris-
co aumentado de Doença Celíaca, um 
número significativamente maior de fir-
micutes e proteobactérias, além de um 
número menor de actinobactérias foi 
encontrado em portadores de HLA-DQ2 
positivo. 
O número de espécies de bifido-
bactérias também era reduzido. Uma 
predisposição genética para o HLA-DQ2 
parece ter um impacto no microbioma 
e pode também contribuir para a pa-
togênese. Esta constatação pode ser 
útil na determinação do risco de Doença 
Celíaca.16
 
delgado entre pacientes sem sintomas e 
pacientes com sintomas persistentes. 
Eles tiveram um aumento significati-
vo de proteobactérias, enquanto que 
o número de bacteroidetes e fimicutes 
era reduzido. De maneira geral, pacien-
tes com Doença Celíaca com sintomas 
persistentes apresentaram menor diver-
sidade microbiana. Em alguns subgrupos 
de Doença Celíaca, há evidência de que 
a disbiose possa ser a possível causa de 
sintomas recorrentes, sendo possível a 
aplicação de novas abordagens de trata-
mento, como na forma de probióticos ou 
prebióticos.14
Além disso, (SMECUOL et al,. 2013) já 
investigaram o efeito do probiótico 
Natren Life Start Strain Super baseado 
em bifidobacterium infantis na melhora 
clínica de pacientes celíacos não trata-
dos. 
Microbioma
Glúten
Carboidratos ATI
Genética Ambiente
Sensibilidade 
ao Glúten 
Não Celíaca
INFLUÊNCIAS NO MICROBIOMA
Doença 
Celíaca
Um estudo em pacientes 
com alto risco genético 
de Doença Celíaca 
demonstrou uma 
composição microbiana 
alterada mesmo na 
puerícia e infância.
9
De maneira geral, estes dados indicam 
que existe uma relação entre a pa-
togênese e os sintomas de doenças 
relacionadas ao glúten e o microbio-
ma humano. Entretanto, ainda não está 
claro em que medida algumas espécies 
de bactérias estão envolvidas na pa-
togênese da Doença Celíaca ou Sensi-
bilidade ao Glúten Não Celíaca (SGNC), 
e em que medida uma mucosa danifica-
da proporciona condições de vida pro-
pícias a estas espécies de bactérias, o 
que requer investigação adicional.
Os dados iniciais apresentados por 
(BIESIEKIERSKI et al., 2013) nos per-
mitem especular que carboidratos fer-
mentáveis também são a causa ou pelo 
menos um fator de influência em pacien-
tes com sensibilidade ao trigo. Por isso, 
consideramos que isso pode ser de in-
teresse especial para determinar as dife-
renças na colonização microbiana entre 
pacientes e controles saudáveis. 
No contexto de um estudo prospecti-
vo controlado, estamos examinando 
mudanças na microflora intestinal em 
1 Zopf Y. et al., Diagnóstico diferenciado 
 de intolerância alimentar. Dtsch Arztebl Int. 
 Maio de 2009; 106(21): 359-69;
2 Junker Y. et al., Inibidores de amilase-
 tripsina do trigo causam inflamação 
 intestinal através da ativação de 
 receptor do tipo Toll 4. J Exp Med. 
 17 Dez. 2012; 209(13):2395-408.
3 Volta U. et al., Sensibilidade ao glúten
 não celíaca: questões que permanecem 
 sem resposta apesar de maior conscien 
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4 Galipeau HJ, Verdu EF. Micróbios 
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 Foco em distúrbios relacionados ao
 glúten. Microbioma intestinal. 
 2014;5(5):594-605.
5 Barbara G. et al ., Permeabilidade da 
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9 Tannock, G.W., et al., Sondagem do
 Isótopo Estável ARN mostra utilização
 de carbono a partir de insulina por 
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 Appl Environ Microbi ol, 2014.
10 Nistal, E., et al., Diferenças em 
 populações de bactérias fecais e no 
 metabolismo de bactérias fecais em
 adultos saudáveis e pacientes com
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 Biochimie, 2012. 94(8): p. 1724-9.
11 Medina, M., et al., Cepas de 
 bifidobactérias suprimem in vitro 
 o meio pró-inflamatório causado pela
 microbiota do intestino grosso de 
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 J Inamm (Lond), 2008. 5: p. 19.
12 Laparra, J.M. e Y. Sanz, Bifidobactérias 
 inibem a resposta inflamatória induzida 
 por gliadinas em células epiteliais 
 intestinais através de modificações 
 da geração de peptídeos tóxicos 
 durante a digestão. 
 J Cell Biochem, 2010. 109(4): p. 801-7.
13 Wacklin, P., et al., Composição da 
 microbiota duodenal de pacientes adultos 
 com doença celíaca é associada à 
 manifestação clínica da doença. 
 Inamm Bowel Dis, 2013. 19(5): p. 934-41.
14 Wacklin, P., et al., Composição da 
 microbiota duodenal em pacientes com
 doença celíaca que sofrem de sintomas 
 persistentes sob dieta sem glúten de 
 longo prazo. Am J Gastroenterol, 2014. 
 109(12): p. 1933-41.
15 Smecuol E, H.H., Sugai E, Corso L,
 Cherñavsky AC, Bellavite FP, González
 A, Vodánovich F, More- no ML, Vázquez
 H, Lozano G, Niveloni S, Mazure R, 
 Meddings J, Mauriño E, Bai JC., Estudo
 explanatório aleatório duplo-cego, 
 placebo-controlado sobre os efeitos de 
 Bifidobacterium infantis natren life start
 strain super strain na doença celíaca
 ativa. J Clin Gastroenterol, 2013. 
 47: p. 139- 147.
16 Olivares, M., et al., Genótipo HLA-DQ2
 determina composição de microbiota
 intestinal em crianças com alto risco de 
 desenvolver doença celíaca. Gut, 2015. 
 64(3): p. 406-17.
REFERÊNCIAS
as cepas de bactérias responsáveis pela 
patogênese da sensibilidade ao glúten.
A detecção da composição específica da
flora em pacientes com sensibilidade ao 
glúten pode representar uma abordagem 
inovadora de tratamento baseado em 
probióticos, com poucos efeitos cola-
terais.
pacientes que tenham documentada 
uma sensibilidade ao trigo com uma di-
eta mista, dieta sem glúten e dieta low-
FODMAP para determinar a influência 
de cadeias de carboidratos no cresci-
mento das bactérias e sua diferenciação. 
A comparação com um grupo de con-
trole saudável e uma população de con-
trole com Doença Celíaca comprovada é 
utilizada para melhor diferenciação entre 
10
INFORMATIVO SCHÄR BRASIL I DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017 
A barreira intestinal é um sistema com-
plexo, que separa o lúmen intestinal do 
interior do corpo, sendo formada pelos 
seguintes elementos (BISCHOET et al., 
2014):
Mecânico: Células epiteliais com 
junções de oclusão e mucosidade.
Humoral: Defensinas, imunoglobulinas, 
citocinas.
Células Imunológicas: Células 
imunológicas específicas e não 
específicas.
Células Musculares
Células Nervosas
A microbiota intestinal está envolvida em 
processos metabólicos e pode modular 
a função de barreira (VIGGIANO et al.,
2015). Além de equilibrar a microbiota,
outro importante mecanismo de proteção 
para o funcionamento da barreira intesti-
nal é a regulação da passagem paracelu-
lar entre junções de oclusão.
Nos últimos anos, os cientistas obtiveram 
grande progresso no estudo da microbi-
ota, graças à aplicação de métodos de 
análise da biologia molecular. 
Os milhares de tipos diferentes de bacté-
rias existentes no intestino podem ser 
divididos em um total de 6 subgrupos 
diferentes. Até 90% das bactérias intes-
tinais pertencem a grupos de firmicutese 
bacteroidetes, seguido das proteobacté-
rias, actinobactérias, verrucomicrobia e 
fusobactérias (BLAUT, 2015).
O homem não é um ser vivo isolado; ele 
vive em comunidade com trilhões de 
bactérias e outros microrganismos.
O trato gastrointestinal é densamente 
povoado, tendo em torno de 100 trilhões 
(1014) de microrganismos, conhecidos
como microbiota intestinal (anteriormente 
flora intestinal). O número de células mi-
crobianas no intestino é dez vezes maior 
do que o número de células somáticas 
humanas, com aproximadamente 150 
vezes mais genes que o corpo humano, 
o que significa que há uma grande ativi-
dade metabólica (LE CHATELIER et al., 
2013).
O produto de seu metabolismo e seu 
neurotransmissor tem grande interde-
pendência com as células somáticas, 
tanto dentro como fora do trato gastroin-
testinal, além de dar suporte às funções 
digestivas, ajudar na defesa contra mi-
crorganismos patogênicos e contribuir 
para o desenvolvimento e manutenção 
do sistema imunológico e da barreira 
intestinal. 
A importância da microbiota na patogênese 
e tratamento de Doença Celíaca.
A importância da microbiota intestinal e o papel dos probióticos está bem documentada em alguns estados e cenários 
clínicos como, por exemplo, diarreia associada a antibióticos e Síndrome do Intestino Irritável. Entretanto, ainda há 
poucos estudos sobre a relação entre Doença Celíaca e a microbiota. Este artigo tem o objetivo de abordar e resumir 
a base atual de conhecimentos nesta área específica.
DIPL. OEC. TROPH. 
UTE KÖRNER
Nutricionista certificada, 
especializada em Alergologia. 
Além de sua atividade como 
nutricionista trabalha como 
jornalista, escritora e 
conferencista, principalmente 
nas áreas de Alergologia 
e Gastroenterologia. 
Além de escrever livros e 
participar de conferências, 
ministra seminários de 
treinamento e cursos de 
educação avançada para 
médicos sobre intolerâncias 
e alergias alimentares.
DR. MAIKE GROENEVELD
Nutricionista certificada e 
especialista em economia 
doméstica. 
Há mais de 20 anos atua 
como nutricionista freelance, 
conferencista e escritora, 
orientando tanto pacien-
tes como empresas sobre 
questões nutricionais. Sua 
atividade como escritora 
profissional inclui livros, 
catálogos, publicações 
especializadas e artigos 
na internet.
 
INFO Defensinas são peptídeosantimicrobiais da 
imunidade inata.
11
A maioria dos microrganismos é encon-
trada no intestino humano, formando 
aquilo que é conhecido como microbio-
ma central (DORÉ et al., 2013).
Cada pessoa também tem uma parte 
variável, que forma o microbioma indi-
vidual. A composição e atividade da mi-
crobiota são influenciadas por diversos 
fatores, como tipo de nascimento (na-
tural ou cesariana), genes, idade e estilo 
de vida. Os medicamentos (como an-
tibióticos) e a dieta têm papel importante: 
fatores como quantidade e tipo de fibra e 
alimentos fermentados são importantes.
De acordo com estudos recentes, a com-
posição da microbiota tem um papel im-
portante na manutenção da saúde, pois 
diferentes espécies de bactérias podem 
ter efeitos tanto protetor como nocivo 
(DORÉ et al., 2013). 
Algumas bactérias patogênicas podem, 
por exemplo, causar inflamação, enfra-
quecer a barreira intestinal e aumentar a 
permeação de substâncias como glúten. 
(MORAES L. F. de Sousa, GRZESKOWIAK 
L. M. et al., 2014, VIGGIANO et al., 2015).
Entretanto, existem apenas alguns estu-
dos sobre o papel da microbiota na pato-
fisiologia da Doença Celíaca. Acredita-se 
que no caso de pacientes suscetíveis 
geneticamente, as bactérias gram-nega- 
tivas estão envolvidas na perda de tole-
rância ao glúten. Estudos comparados 
entre crianças com Doença Celíaca e 
grupos de controle saudáveis detec-
taram um número menor de lactobacilos 
e bifidobactérias no primeiro grupo. 
Entretanto, ainda não está claro se uma 
mudança na microbiota de pessoas com 
Doença Celíaca é a principal causa ou 
consequência de Doença Celíaca. Em 
espécimes de biópsias do duodeno de 
crianças com Doença Celíaca não trata-
da, foram detectadas mais cepas de 
bactérias gram-negativas em compara-
ção com crianças tratadas e grupos de 
controle saudáveis, o que sugere que a 
mudança na microbiota é resultado da 
doença. (MORAES L. F. de Sousa et al., 
2014).
 
Doença Celíaca e microbiota
Sabe-se que a falta de peptidases no 
intestino humano faz com que o glúten 
seja digerido de forma incompleta, fa-
zendo com que os peptídeos de glúten 
sejam absorvidos pela mucosa do intes-
tino delgado. 
Além disso, há crescentes evidências 
que uma mudança na permeabilidade 
intestinal devido a uma permeabilidade 
das junções de oclusão (TJ) tem grande 
influência na patogênese da Doença 
Celíaca. Fica mais fácil para os oligo-
peptídeos restantes serem absorvidos 
pela lâmina própria, podendo provo-
car uma inflamação típica da Doença 
Celíaca. Ainda não está claro se os 
distúrbios da barreira intestinal são a 
principal causa ou a consequência da 
Doença Celíaca. (SAPONE et al., 2012. 
MORAES L. F. de Sousa et al., 2014).
Entretanto, foi possível demonstrar que 
no caso de pessoas que sofrem de 
Doença Celíaca, a gliadina pode forte-
mente estimular a liberação de zonulina. 
Esta proteína aumenta a permeabilidade 
intestinal, facilitando a absorção de ma- 
cromoléculas por meio das TJs (DRAGO 
et al., 2006).
Por outro lado, há evidências de que 
mudanças na microbiota intestinal po-
dem levar a um aumento da permeabili-
dade intestinal, estando associada à pa-
togênese da Doença Celíaca e doenças 
alérgicas. 
Estudos comparados 
entre crianças com 
Doença Celíaca e grupos 
de controle saudáveis 
detectaram um número 
menor de lactobacilos 
e bifidobactérias no 
primeiro grupo.
A composição e atividade 
da microbiota são 
influenciadas por diversos 
fatores, incluindo o tipo 
de nascimento, genes, 
idade e estilo de vida, 
medicamentos 
(antibióticos) e dieta.
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12
INFORMATIVO SCHÄR BRASIL I DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017 
GLUTEN FREE
Doença Celíaca e probióticos
Atualmente, a única terapia existente 
para os pacientescom Doença Celíaca 
é seguir uma dieta sem glúten por 
toda a vida, evitando inclusive traços 
de glúten.
Mas para muitas pessoas acometidas 
pela doença, isso pode se tornar difícil 
em longo prazo, principalmente sem uma 
orientação nutricional concomitante. 
Apesar das reclamações e do risco de 
complicações e consequências de lon-
go prazo (como malignidades, Doença 
Celíaca refratária), 30% a 50% dos paci-
entes não mantêm uma dieta sem glúten 
rigorosa. (KÖRNER, SCHAREINA, 2015). 
Tendo em vista o conhecimento sobre as mudanças na microbiota intestinal 
em pessoas com Doença Celíaca, os seguintes estudos demonstraram que 
o uso de probióticos pode constituir uma abordagem promissora como 
terapia coadjuvante na Doença Celíaca:
(ANGELIS et al., 2006) examinaram o preparado probiótico VSL#3, 
que contém 8 cepas de probióticos diferentes (como bifidobactérias e 
lactobacilos), demonstrando que, em comparação com cepas isoladas e 
outros produtos comercialmente disponíveis testados, a combinação des-
tas cepas de probióticos pode dividir peptídeos de gliadina de forma mais 
efetiva, ou seja, os peptídeos de gliadina são mais fáceis de digerir com o 
auxílio deste preparado probiótico. 
No caso das PBMCs*, o grupo de pesquisa de (DE PALMA, 2010) 
conseguiu reduzir a secreção de interleucina-12 e IFN-gama (citocinas 
pró-inflamatórias) sob a influência de glúten in vitro, utilizando bifidobac-
térias específicas. Esta observação sugere um efeito anti-inflamatório das 
bifidobactérias investigadas.
(LINDFORS et al., 2008) demonstraram que a cepa de bactérias b. lactis 
pode prevenir o efeito tóxico da gliadina de trigo em culturas de células 
epiteliais em doses de 106 e 107 UFC** por ml, mas não a 105 UFC por ml.
Em um modelo camundongo de (D’ARIENZO et al., 2011), um produto 
lácteo com a cepa l. casei ATCC 9595 (Actimel) aumentou a função da 
barreira intestinal e evitou a passagem de gliadina na lâmina própria.
* PBMC: célula mononuclear do sangue periférico.
** UFC: unidades de formação de colônias.
13
SGNC e probióticos
Até agora não há pesquisas práticas 
sobre a insuficiência da microbiota na 
patogênese desta nova doença, no caso 
específico da sensibilidade ao glúten/tri-
go. Diferentemente da Doença Celíaca, 
suspeita-se de uma resposta imune ina-
ta no caso da SGNC. Ela é ativada pelo 
glúten ou trigo, mas não altera a mucosa 
intestinal ou sua permeabilidade. 
Entretanto, há indicações do aumento 
da permeabilidade intestinal em pacien-
tes com sintomas neurológicos, como 
esquizofrenia ou autismo e a suspeita de 
SGNC.
Sensibilidade ao Glúten 
Não Celíaca (SGNC)
É uma reação ao glúten ou trigo na 
ausência de Doença Celíaca ou aler-
gia ao trigo. (FELBER et al., 2014 (S2k-
Leitlinie Zöliakie), SAPONE et al., 2012, 
CATASSI et al., 2013).
Os estudos acima demonstraram que 
algumas cepas de bactérias auxiliam na 
digestão dos peptídeos de gliadina, o 
que significa que pacientes com SGNC 
podem, assim como no caso de Doença 
Celíaca, se beneficiar de um tratamento 
concomitante com probióticos. Entretan-
to, são necessários estudos adicionais 
para recomendações específicas.
No caso de algumas doenças (como di-
arreia associada a antibióticos, Síndrome 
do Intestino Irritável, colite ulcerativa, 
pouchite) estudos demonstraram clinica-
mente a eficácia pertinente dos probióti-
cos (BISCHOFF, Köchling, 2012).
Entretanto, os mecanismos subjacentes 
ainda não estão claros. Existem atual-
mente poucos estudos sobre a relação 
entre a Doença Celíaca e a microbiota e 
o uso de probióticos na administração da 
Doença Celíaca. 
Como muitos efeitos dos organismos 
probióticos são específicos à cepa, 
uma evidência obtida com uma cepa 
específica de bactérias ou preparação/ 
produto para a Doença Celíaca pode 
não necessariamente ser transferida a 
outras cepas. 
São necessárias investigações adicio-
nais sobre os mecanismos de ação 
subjacentes. Devido aos efeitos positi-
vos relatados e a relativa falta de efeitos 
colaterais conhecidos, pode ser consi-
derado testar o uso de probióticos.
Probióticos são microrganismos vivos 
que oferecem ao hospedeiro um 
benefício em termos de saúde se 
forem ingeridos em quantidades sufi-
cientes (FAO/OMS 2002; HILL et al., 2014). 
Trata-se de tipos especiais de bactérias 
não patogênicas (especialmente lactoba-
cilos e bifidobactérias), que são particular-
mente resistentes aos ácidos e, portanto, 
têm maiores condições de sobreviver à 
passagem pelo estômago e o intestino 
delgado. Os probióticos estão disponíveis 
em forma de medicamentos, suplemen-
tos nutricionais e alimentos. Alimentos 
disponíveis comercialmente contendo 
culturas vivas incluem iogurtes e bebidas 
lácteas. 
Em apresentações liofilizadas, são encon-
tradas bactérias probióticas em produtos 
que incluem cereais e alimentos infantis. 
Apesar de o Regulamento sobre Ale-
gações de Benefícios para a Saúde 
(Regulamento UE nº 432/2012 da 
Comissão de 16 de maio de 2012) esta-
belecer que estes alimentos não podem 
utilizar o termo “probiótico” ou alegar um 
efeito para a saúde, isso não exclui sua 
eficácia. As bactérias probióticas se insta-
lam temporariamente no intestino e pro-
duzem ácidos orgânicos (como butirato), 
reduzindo o pH e repelindo bactérias pa-
togênicas. 
Algumas bactérias probióticas fortale-
cem a barreira intestinal, por exemplo, 
induzindo a formação de defensinas das 
células mucosas. Uma barreira intestinal 
intacta assegura que os nutrientes podem 
cruzar a parede intestinal, mas as toxinas 
e bactérias patogênicas são repelidas.
Atualmente, há poucas 
pesquisas sobre a relação 
entre a Doença Celíaca e a 
microbiota e o uso de pro-
bióticos na administração 
da Doença Celíaca.
INFO
14
INFORMATIVO SCHÄR BRASIL I DIRECIONADO PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE I EDIÇÃO JULHO 2017 
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2013;110:835-846.
REFERÊNCIAS
Questões a serem consideradas na seleção 
e uso de probióticos. Faça a escolha certa!
• Os benefícios são específicos de cada cepa;
• O número de bactérias deve ser alto o suficiente, 
 entre 108 e 109 UFC por dia;
• Também dê preferência a produtos que contêm bifidobactérias;
• No início da terapia: ingerir com as refeições e evitar produtos
 com prebióticos, como inulina e oligofrutose; no caso de má 
 absorção simultânea de lactose ou frutose, evitar também 
 produtos probióticos com estes ingredientes sempre que possível;
• Aumentar a dosagem lentamente (começar com ½ porção).
Sites úteis:
Pesquisa sobre microbiota e saúde: www.gutmicrobiotaforhealth.com/
Projeto microbioma humano: www.hmpdacc.org/
15
Plataforma digital de alcance internacio- 
nal o Instituto Dr. Schär foi criado para 
oferecer, por meio de conteúdo qualifi-
cado, apoio aos profissionais de saúde 
interessados no universo das patologias 
glúten-relacionadas.
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nistas, médicos das mais variadas espe-
cialidades (pediatras, gastroenterologis-
tas, endocrinologistas, dentre outros) e 
por especialistas na ciência dos alimen-
tos, como engenheiros de alimentos e 
bioquímicos, o Instituto Dr. Schär pro-
move a troca e disseminação de conhe- 
cimentos além de contribuir para o au-
mento da notoriedade das condições 
glúten-relacionadas com o objetivo final 
de oferecer, às pessoas que precisam 
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