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Penal III Resumo para Provas Ajuda Jurídica 1

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Penal III – Resumo para Provas
Guilherme Cruz 29 de novembro de 2015
Crimes Dolosos contra a Vida, Crimes de Perigo, Lesão Corporal,
Crimes contra a Honra
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Penal III – Resumo para Provas
HOMICÍDIO: Art. 121
Bem jurídico tutelado – vida humana;
Sujeitos ativo e passivo – tratando-se de crime comum, pode
ser cometido por qualquer pessoa; sujeito passivo também
pode ser qualquer pessoa viva.
Consumação e tentativa – consuma-se com a morte da
vítima; a tentativa ocorre quando, iniciada a execução, o crime
não se consuma por circunstâncias alheia à vontade do agente.
A tentativa pode ser perfeita (crime falho) ou imperfeita.
Elementos objetivo e subjetivo do tipo – admite-se qualquer
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meio de execução; pode ser cometido por intermédio de ação
ou omissão (art. 13, §2º do CP) ; por meios materiais ou morais;
diretos ou indiretos. O elemento subjetivo é o dolo, que pode
ser direto (de 1º ou de 2º grau) ou eventual.
Desistência voluntária e arrependimento eficaz na hipótese
de homicídio – a desistência voluntária e o arrependimento
eficaz são previstos no art. 15 do CP. Aquela consiste na
abstenção de uma atividade; este tem lugar quando o agente,
já tendo ultimado o processo de execução, desenvolve nova
atividade impedindo a produção do resultado morte. Se o
agente dispõe de várias munições no tambor da arma, mas,
dispara apenas uma e cessa sua atividade, há desistência
voluntária ou não-repetição de atos de execução? Desistência
voluntária. É diferente daquele que só efetua um disparo por só
ter uma munição no tambor. O agente responde pelos atos já
praticados (é a tentativa qualificada – retira-se a tipicidade dos
atos somente com referência ao crime em que o sujeito iniciou
a execução) – se o sujeito desiste de consumar o homicídio,
responde por lesão corporal, mas, tanto na desistência
voluntária, quanto no arrependimento eficaz, é preciso que não
haja consumação.
Figuras típicas do homicídio – homicídio simples. Atividade
típica de grupo de extermínio x homicídio simples –
homicídio simples é a realização estrita da conduta de matar
alguém. Quando o homicídio simples é praticado em atividade
típica de grupo de extermínio, será hediondo. Extermínio é a
matança generalizada que elimina a vítima pelo simples fato de
pertencer a determinado grupo ou determinada classe social
ou racial. Pode ocorrer a morte de uma única vítima, desde que
com as características acima (impessoalidade da ação). Há
entendimento de que o homicídio simples praticado em
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atividade de grupo de extermínio, passa a ser qualificado pelo
motivo torpe.
Homicídio privilegiado – § 1º, do art. 121 do CP. Impelido por
relevante valor social – a motivação e o interesse são
coletivos, atingem a toda a sociedade (ex.: homicídio do traidor
da pátria); impelido por relevante valor moral – encerra um
interesse individual, mas, um interesse superior, enobrecedor
(ex.: eutanásia). É preciso tomar como paradigma a média
existente na sociedade e não analisar o sentimento pessoal do
agente;sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima – emoção é a viva excitação do
sentimento, é uma descarga emocional passageira. É preciso
que se trate de violenta emoção e que o sujeito esteja sob o
domínio da mesma, ou seja, sob o choque emocional próprio
de quem é absorvido por um estado de ânimo caracterizado
por extrema excitação sensorial e afetiva. Além disso, é
fundamental que a provocação tenha partido da própria vítima
e que seja injusta, não permitida, não permitida, não autorizada
por lei. A injustiça da provocação deve justificar, de acordo com
o consentimento geral, a repulsa do agente. Por fim, é preciso
que a reação seja imediata, isto é, entre a causa (injusta
provocação) e a emoção, praticamente deve inexistir intervalo
(ex improviso).
Redução da pena – no caso de homicídio privilegiado, a pena
será reduzida de 1/6 a 1/3. Embora o § 1º do art. 121 mencione
que o juiz pode reduzir a pena, não se trata de faculdade, pois,
ocorrendo qualquer causa de diminuição dentre as previstas no
dispositivo, o réu tem direito subjetivo à redução. A
facultatividade está noquantum da redução.
Concurso entre homicídio privilegiado e qualificado – as
privilegiadoras não podem concorrer com as qualificadoras
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subjetivas, mas, nada impede que concorram com a
qualificadoras objetivas. Ver art. 492, § 1º, do CPP e Súmula
162 do STF. Aplica-se a pena do § 2º, com a diminuição do § 1º,
do art. 121 do CP.
HOMICÍDIO QUALIFICADO:
Motivos Qualificadores – segundo a doutrina majoritária, os
motivos qualificadores do homicídio não se comunicam, pois, são
individuais e não constituem elementares típicas (sem os motivos
qualificadores continua a existir homicídio). Fútil: é o motivo
insignificante, banal (não se confunde com a ausência de motivo);
torpe: é o motivo repugnante, abjeto, vil, indigno, que repugna a
consciência média; paga e promessa de recompensa: é uma das
modalidades de torpeza. Na paga o agente recebe perviamente e,
na promessa de recompensa há somente uma expectativa de paga.
A paga ou promessa de recompensa não precisam ser em dinheiro,
podendo se dar através de qualquer vantagem. Respondem pelo
crime qualificado quem executa e quem paga ou promete
recompensa. Não é necessário o recebimento da recompensa,
basta a promessa. Se o pagamento ocorreu depois do crime sem
que tenha havido acordo prévio, ou se houve mandato gratuito,
o crime não será qualificado.
– Meios qualificadores – Veneno: só qualifica o crime se utilizado
sissimuladamente (é um meio insidioso). Para fins penais, veneno é
toda substância que tenha idoneidade para provocar lesão no
organismo (ex.: açúcar em excesso, ministrado para um diabético).
Sua administração forçada ou com o conhecimento da vítima não
qualifica o crime; fogo ou explosivo: podem constituir meio cruel
ou meio de que pode resultar perigo comum; asfixia: é o
impedimento da função respiratória e pode ser mecânica ou tóxica;
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tortura: é meio que causa prolongado, atroz e desnecessário
padecimento. Se o agente tortura a vítima com a intenção de matá-
la, responde por homicídio qualificado; se tortura a vítima sem
intenção de matá-la, mas, a morte ocorre culposamente (crime
preterdoloso), responde por crime de tortura (art. 1º, § 3º da Lei
9.455/97); se inicia a tortura desejando apenas torturar, mas,
durante a tortura resolve matar a vítima, haverá dois crimes em
concurso material (tortura e homicídio); meio insidioso ou cruel:
insidioso é o recurso dissimulado, consistindo na ocultação do
verdadeiro propósito do agente, é o meio disfarçado que objetiva
surpreender a vítima; meio cruel é a forma brutal de perpetrar o
crime, é o meio bárbaro, martirizante, que revela ausência de
piedade; traição: é o ataque sorrateiro, inesperado, é a ocultação
física ou moral da intenção, é a deslealdade; emboscada: é a
tocaia, a espreita, verificando-se quando o agente se esconde para
surpreender a vítima, é a ação premeditada de aguardar oculto a
presença da vítima; dissimulação: é a ocultação da intenção hostil,
do projeto criminoso para surpreender a vítima (o agente se faz
passar por amigo da vítima, por exemplo); recurso que dificulte a
defesa da vítima: é hipótese análoga à traição, emboscada ou
dissimulação, do qual são exemplificativas (ocorre interpretação
analógica);– Fins qualificadores – assegurar a execução, ocultação,
impunidade ou vantagem de outro crime:na primeira hipótese, o
que qualifica o homicídio não é prática de outro crime, mas o fim de
assegurar a execução deste, que pode até não ocorrer; no caso de
ocultação ou impunidade, a finalidade do agente é destruir prova de
outro crime ou evitar-lhe as conseqüências jurídico-penais; no caso
de vantagem de outro crime a finalidade é garantir o êxito do
empreendimento delituoso e a vantagem pode ser patrimonial ou
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não, direta ou indireta.
Obs.: a premeditação, por si só, não qualifica o homicídio.
– HOMICÍDIO CULPOSO:
– Estrutura do crime culposo – no crime culposo não se pune a
finalidade ilícita da conduta, pois, geralmente a conduta é destinada
a um fim lícito, mas, por ser mal dirigida, gera um resultado ilícito. O
fim perseguido é irrelevante, mas, os meios escolhidos são
causadores de um resultado ilícito. Há uma divergência entre a
conduta praticada e a conduta que deveria ser praticada. Na
culpabilidade dos crimes culposos também é indispensável a
imputabilidade, potencial conhecimento da ilicitude e exigibilidade
de conduta conforme o Direito.
– Dolo eventual e culpa consciente – ambos apresentam um traço
comum: a previsão do resultado proibido. No dolo eventual o
agente anui ao advento desse resultado; na culpa consciente,
repele a superveniência do resultado, na esperança convicta de que
este não ocorrerá. Havendo dúvida entre um e outra, deve
prevalecer o entendimento de que houve culpa consciente (menos
gravosa para o agente), em razão da aplicação do princípio in dubio
pro reo.
– Tentativa de homicício culposo – segundo o entendimento
majoritário, é impossível, pois, trata-se, na verdade, de crime
preterdoloso (o resultado foi maior do que o inicialmente
pretendido). Logo, como a tentativa fica aquém do resultado
desejado, conclui-se ser inadmissível nos crimes preterintencionais.
Na tentativa há o dolo de matar, mas, o resultado não se consuma;
no homicídio culposo, não há o dolo de matar, mas, o resultado se
consuma.
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– Majorante para homicídio culposo – O CP, no § 4º do art. 121,
enumera taxativamente quatro modalidades de circunstâncias que
determinam o aumento da pena no homicídio culposo:
a)Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício:
não se confunde com a imperícia, pois, nesse caso, o agente
conhece a regra técnica, mas não a observa. A imperícia, por fazer
elemento da culpa, situa-se no tipo e a inobservância de regra
técnica se localiza na culpabilidade. Qualquer modalidade de culpa
(imprudência, negligência ou imperícia) permite a aplicação dessa
majorante; b)omissão de socorro à vítima: não constitui crime
autônomo como ocorre no art. 135 do CP, mas, simples majorante.
Só incidirá quando for possível prestar o socorro. O risco pessoal
afasta a majorante; c) não procurar diminuir as conseqüências do
comportamento: não deixa de ser uma omissão de socorro; d)
fuga para evitar prisão em flagrante: a majorante incide em razão
do sujeito ativo procurar impedir a ação da justiça. A fuga por justo
motivo afasta a majorante, assim como ocorre na omissão de
socorro à vítima.
– Homicídio doloso contra menor e contra maior de 60
(sessenta) anos – a Lei 8.069/90 acrescentou essa causa de
aumento no § 4º, 2ª parte, do art. 121 do CP. Trata-se de causa de
aumento de natureza objetiva e aplicação obrigatória sempre que o
homicídio, em qualquer de suas modalidades dolosas (simples,
privilegiado, ou qualificado), for praticado contra menor de 14 anos.
Se o homicídio é praticado no dia em que a vítima completa 14 anos
não incide a causa de aumento (não é mais, menor de 14 anos).
Também sofre aumento de 1/3 a pena do homicídio doloso
praticado contra maior de 60 (sessenta) anos. Porém, como esta
regra foi acrescentada ao CP pelo Estatuto do Idoso (Lei
10.741/2003), que entrou em vigor em 30/12/2003, somente a partir
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desta data passou a valer. É preciso que a idade da vítima entre na
esfera de conhecimento do agente.
– Homicídio culposo no trânsito – O art. 302 da Lei 9.503/97 (CTB)
tipificou o homicídio culposo praticado na direção de veículo
automotor como crime de trânsito. Alguns juristas entendem tratar-
se de norma inconstitucional por ferir o princípio da isonomia, pois,
o homicídio culposo do CP prevê pena de 1 a 3 anos de detenção e,
o homicídio culposo do CTB prevê pena de 2 a 4 anos de detenção.
Porém, outros entendem não haver inconstitucionalidade, pois, o
desvalor da ação no homicídio culposo cometido na direção de
veículo automotor é maior do que aquele existente no homicídio
culposo genérico. É crime remetido (art. 121, § 3º do CP); culposo
(se o atropelamento for doloso, aplica-se o art. 121 do CP e não o
art. 302 do CTB); não admite tentativa; é crime de dano; é crime
material (exige resultado naturalístico); tutela a vida; tem como
sujeito passivo qualquer pessoa, desde que determinada; tem como
sujeito passivo qualquer pessoa, desde que esteja na direção de
veículo automotor (veículo automotor vem definido no anexo I do
CTB); O art. 302 não faz menção expressa quanto ao local onde o
delito pode ser cometido, mas, entende-se que, em razão do
disposto no art. 1º, §1º e art. 2º do CTB que determinam que este
código regerá o trânsito nas vias terrestres do Território Nacional
abertas à circulação, é necessário que o sujeito ativo esteja na
direção de veículo automotor e, além disso, que esteja em via
pública (aberta à circulação), embora, Damásio de Jesus entenda
que os delitos do CTB podem ser cometidos em qualquer lugar,
público ou privado. Segundo a primeira corrente, se o delito
acontecer em local privado (interior de uma fazenda, por exemplo)
aplica-se o CP que prevê pena menor para o homicídio culposo com
possibilidade, inclusive, de aplicação do art. 89 da lei 9.099/95.
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– Perdão judicial – o § 5º do art. 121 do CP refere-se à hipótese em
que o agente é punido diretamente pelo próprio fato que praticou,
em razão das gravosas conseqüências produzidas, que o atingem
profundamente. A gravidade das conseqüências deve ser aferida
em função da pessoa do agente, não se cogitando aqui de critérios
objetivos. As conseqüências não se limitam aos danos morais,
podendo constituir-se de danos materiais (ex.: pai que causa,
culposamente, acidente de trânsito no qual morre seu filho).
Embora haja opiniões em contrário, a doutrina majoritária entende
que, presentes os requisitos, a concessão do perdão pelo juiz é
obrigatória.
– INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO (art.
122 do Código Penal)
– Bem jurídico tutelado – vida humana
– Natureza jurídica da morte e das lesões corporais de natureza
grave: segundo a doutrina majoritária a morte ou as lesões
corporais de natureza grave constituem condição objetiva de
punibilidade do crime de participação em suicídio. Para Cezar
Roberto Bitencourt as condições objetivas de punibilidade não
fazem parte do crime, mas, pressupões que este já esteja perfeito e
acabado, sendo aquelas, apenas condições para imposição da
pena. Portanto, o referido autor entende que a morte e as lesões
corporais graves devem fazer parte do dolo do agente e, assim,
seriam elementos constitutivos do tipo, sem os quais, a conduta
de quem instiga ou induz se torna atípica.
– Sujeitos ativo e passivo – trata-se de crime comum e, por isso,
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (capaz de induzir, instigar ou
auxiliar) – admite-se co-autoriae participação em sentido estrito;
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sujeito passivo é a pessoa induzida, instigada ou auxiliada que pode
ser qualquer pessoa viva e capaz de entender o significado de sua
ação e de determinar-se conforme esse entendimento (é
indispensável capacidade de discernimento), pois, caso contrário
estaremos diante de homicídio.
– Consumação e tentativa – consuma-se o crime com a morte da
vítima (mero induzimento, instigação ou auxílio não consumam o
crime, pois, trata-se de crime material e não formal). A tentativa,
para alguns é impossível (Damásio E. de Jesus) e, para outros,
haverá tentativa quando a instigação, o induzimento ou o auxílio não
produzirem a morte, mas, gerarem lesões corporais de natureza
grave (Cezar Roberto Bitencourt denomina essa situação de
tentativa qualificada).
– Classificação doutrinária – trata-se de crime comum, comissivo,
excepcionalmente omissivo (auxílio), de dano, material, instantâneo,
doloso, de conteúdo variado e plurissubisistente (se perfaz por
meio de vários atos – é preciso a morte ou lesões corporais graves).
–“Pacto de morte” – verifica-se o pacto de morte quando duas
pessoas combinam, por qualquer razão, o duplo suicídio. Nessa
hipótese, o sobrevivente responderá por homicídio, desde que
tenha praticado ato executório. Se nenhum morrer, aquele que
realizou atos executórios contra o parceiro responderá por tentativa
de homicídio e aquele que ficou somente na “contribuição”
responderá por tentativa de induzimento, instigação ou auxílio ao
suicídio, se houver, pelo menos, lesão corporal grave.
Ex.: A e B trancam-se em um quarto hermeticamente fechado. A
abre a torneira de gás; B sobrevive. Nesse caso, B responde por
participação em suicídio.
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Se o sobrevivente é quem abriu a torneira, responde por homicídio,
pois praticou ato executório de matar.
Os dois abrem a torneira de gás, não se produzindo qualquer lesão
corporal, em face da intervenção de um terceiro: ambos respondem
por tentativa de homicídio um do outro, pois, os dois praticaram ato
executório de matar.
Se um terceiro abre a torneira de gás e os dois se salvam, não
havendo lesão corporal de natureza grave, os dois não respondem
por nada, pois sua conduta é atípica, mas, o terceiro responde por
dupla tentativa de homicídio.
Se os dois sofrem lesões corporais graves, sendo que A abriu a
torneira de gás e B não, aquele responde por tentativa de homicídio
e este por participação em suicídio.
Nos casos de “roleta russa” o sobrevivente responde por
participação em suicídio. No entanto, se um dos jogadores for
coagido a participar e o coator sobreviver, responderá por
homicídio.
– INFANTICÍDIO (art. 123 do Código Penal)
– Bem jurídico tutelado – vida humana. Protege-se a vida do
nascente e do recém-nascido.
– Sujeitos ativo e passivo – somente a mãe pode ser sujeito ativo
e, desde que se encontre sob a influência do estado puerperal.
Trata-se de crime próprio. Sujeito passivo é o próprio
filhonascente (durante o parto) ou recém-nascido (logo após).
– Natureza jurídica do estado puerperal – tem natureza jurídica de
elemento normativo do tipo.Porém, deve conjugar-se com outro
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elemento normativo que é a circunstância de ocorrer durante o
parto ou logo após. São requisitos cumulativos. Devemos observar,
no entanto, que, com relação ao estado puerperal, quatro situações
podem ocorrer: 1) o puerpério não produz nenhuma alteração na
mulher (caso em que haverá homicídio); 2) acarreta-lhe
perturbações psicossomáticas que são a causa da violência
contra o próprio filho (caso em que haverá infanticídio); c)
provoca-lhe doença mental (caso em que a parturiente será isenta
de pena por inimputabilidade – art. 26, caput, do CP); d) produz-
lhe perturbação da saúde mental diminuindo-lhe a capacidade
de entendimento ou de determinação (caso em que haverá
redução da pena, em razão da semi-imputabilidade – p. único, art.
26 do CP).
– Elemento normativo temporal – é previsto na expressão “durante
o parto ou logo após”. Para o Direito, inicia-se o parto com a
dilatação, ampliando-se o colo do útero e chega-se ao seu final
com a expulsão da placenta, mesmo que o cordão umbilical não
tenha sido cortado. Entre estes dois marcos, estaremos na fase do
“durante o parto”. Após a expulsão da placenta, inicia-se a fase do
“logo após”. A lei não fixou prazo, mas, devemos considerar o
variável período de choque puerperal. A doutrina tem sustentado
que se deve dar uma interpretação mais ampla, para poder
abranger todo o período do estado puerperal. Antes do início do
parto, haverá aborto; após o término do estado puerperal,
homicídio.
– Consumação e tentativa – consuma-se o infanticídio com a
morte do filho nascente ou recém-nascido, levada a efeito pela
própria mãe. Basta que a vítima nasça com vida, não se exigindo
que tenha viabilidade fora do útero. Admite-se a tentativa quando o
crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade da
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agente.
– Concurso de pessoas no infanticídio – uma corrente sustenta a
comunicabilidade do estado puerperal da autora e, assim, os
concorrentes responderiam todos por infanticídio; outra corrente
sustenta a incomunicabilidade e, portanto, a mãe responderia por
infanticídio e o participante, por homicídio.
Para Cezar Roberto Bitencourt, a influência do estado puerperal
constitui uma elementar típica do infanticídio e, assim, de acordo
com o que prevê o art. 30 do CP, haverá comunicabilidade, apesar
de tratar-se de circunstância de caráter pessoal. Porém, é preciso
analisar as seguintes hipóteses: 1) Mãe e terceiro praticam a
conduta nuclear do tipo (pressupondo a presença dos
elementos normativos específicos) – para alguns, de lege lata,
haverá co-autoria em infanticídio. Porém, para outros, é preciso
analisar o elemento subjetivo do agente. Se agiu com dolo de
concorrer para o infanticídio, responderá por este delito. Entretanto,
pode ser que haja no participante dolo de matar o filho da puérpera
e com isso, aquele se utiliza desta como mero instrumento do
crime, aproveitando-se de sua fragilidade. Nesse caso, se a mãe
não tinha discernimento, haverá autoria colateral; se estava sob a
influência do estado puerperal, mas possuía discernimento,
pretendendo cometer infanticídio, responderá por este crime
enquanto o participante responderá por homicídio. Nesse caso não
haverá quebra da unidade da ação existente no concurso de
pessoas, pois, aplicar-se-á à mãe o § 2º do art. 29 do CP; 2) o
terceiro mata o nascente ou o recém nascido, com a
participação meramente acessória da mãe – inquestionavelmente
o fato principal praticado pelo terceiro é um homicídio. Quanto à
mãe, em razão de sua especial condição, deverá responder por
infanticídio, mas, para que não haja quebra da teoria monista,
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ambos teriam que responder pelo mesmo crime. Se dissermos que
ambos responderão por infanticídio, haverá inversão da regra de
que o acessório segue o principal e, se dissermos que ambos
responderão por homicídio, a mãe estaria respondendo por fato
mais grave do que aquele praticado. Assim, deve ser aplicado o § 2º
do art. 29 do CP, pois, embora tenha havido um crime único
(homicídio), a puérpera quis participar de crime menos grave e,
deverá ser-lhe aplicada a pena deste.
– Classificação doutrinária – O infanticídio é crime próprio,
material, de dano, plurissubisistente(se perfaz em vários atos),
comissivo e omissivo impróprio, instantâneo e doloso.
ABORTO:
– Bem jurídico tutelado – é a vida do ser humano em formação,
embora, rigorosamente falando, não se trate de crime contra a
pessoa, pois, o produto da concepção – feto ou embrião – não é
considerado pessoa, para fins de Direto. Existe entendimento em
sentido de que o nascituro já é pessoa. Quando o aborto é
provocado por terceiro, o tipo penal protege também a
incolumidade da gestante. É a vida intra-uterina (desde a
concepção até momentos antes do parto).
– Sujeitos ativo e passivo – a) auto-aborto e aborto consentido
(art. 124 do CP) – sujeito ativo é a gestante e sujeito passivo é o
feto; b) no aborto provocado por terceiro (art. 125 do CP) – com
ou sem consentimento da gestante, sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa; sujeito passivo, quando não há consentimento da gestante
serão esta e o feto (dupla subjetividade passiva). No aborto não se
aplica a agravante genérica do art. 61, II, h do CP.
– Espécies de aborto:
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Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
(art. 124 do CP) – no primeiro caso, a própria gestante interrompe
a gravidez causando a morte do feto; no segundo, permite que
outrem lho provoque. Trata-se de dois crimes de mão própria, pois,
somente a gestante pode realizar. Porém, admite-se a participação
em sentido estrito. Se o partícipe for além da atividade acessória,
responderá pelo crime do art. 126 do CP (esta é uma das exceções
à teoria monista).
Aborto provocado sem consentimento da gestante (art. 125 do
CP) – para alguns autores,pode assumir duas formas: sem
consentimento real ou ausência de consentimento presumido
(vítima não maior de 14 anos, alienada ou débil mental). Se houver
consentimento da gestante, o crime será o do art. 124 do CP para
esta e do art. 126 para quem provoca o aborto (atipicidade relativa
ou desclassificação). Não há concurso com o delito de
constrangimento ilegal; não é necessária a violência, fraude ou
grave ameaça, bastando que a gestante desconheça que nela está
sendo feito aborto.
Aborto provocado com conhecimento da gestante (art. 126 do
CP) – aqui, conforme já mencionado, há quebra da teoria monista,
pois, a gestante responderá pelo art. 124 e o agente que nela
provoca o aborto, pelo art. 126 do CP. O desvalor do consentimento
da gestante é menor do que o desvalor da ação abortiva de terceiro.
A conduta da primeira assemelha-se à conivência, embora não
possa ser adjetivada de omissiva, enquanto a do segundo é sempre
comissiva. O aborto consentido (art. 124, 2ª parte do CP) e o aborto
consensual (art. 126 do CP) são crimes de concurso necessário,
pois, exigem a participação da gestante e do terceiro.
– Consumação e tentativa do aborto – consuma-se o crime de
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aborto, em qualquer de suas formas, com a morte do feto ou
embrião. Pouco importa que a morte ocorra no ventre materno ou
fora dele. Também é irrelevante que o feto seja expulso ou
permaneça nas entranhas da mãe. É indispensável a comprovação
de que o feto estava vivo quando a ação abortiva foi praticada e que
foi esta que lhe causou a morte (relação de causa e efeito entre a
ação e o resultado). O aborto para alguns, pode ser praticado a
partir da fecundação (Cezar Roberto Bitencourt); para outros, é
preciso que tenha havido nidação.Admite-se a tentativa desde que,
a morte do feto não ocorra por circunstâncias alheias à vontade do
agente. No auto-aborto, alguns sustentam ser impunível a
tentativa, pois, o ordenamento brasileiro não pune a autolesão.
Nesse caso, mais nos aproximamos da desistência voluntária ou do
arrependimento eficaz do que de uma tentativa punível.
– Figuras majoradas do aborto – O art. 127 do CP prevê duas
causas especiais de aumento de pena (e não qualificadoras como
prevê a rubrica do artigo) para o crime de abordo praticado por
terceiro, com ou sem o consentimento da gestante. Assim, se
ocorrer lesão corporal grave, a pena aumenta-se de um terço; se
ocorrer morte da gestante, a pena é duplicada. É indiferente que o
resultado mais grave decorra do aborto em si, ou das manobras
abortivas, ou seja, ainda que o aborto não se consume, se as
manobras abortivas provocarem um dos dois resultados acima,
haverá aumento de pena.As lesões leves integram o resultado
natural da prática abortiva. Para que se configure o crime
qualificado pelo resultado, é indispensável que o resultado mais
grave decorra, pelo menos, de culpa (art. 19 do CP). Se houver dolo
também em relação aos resultados mais graves, haverá concurso
formal.
– Excludentes especiais de ilicitude: aborto humanitário e
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necessário – são previstas no art. 128 do CP, cujo inciso I, tem a
rubrica de “aborto necessário” e o inciso II, a de “aborto em caso de
gravidez resultante de estupro” que a doutrina e a jurisprudência
encarregam-se de definir como “aborto sentimental ou
humanitário”. Quando o CP diz que não se pune o aborto nas
condições acima, está afirmando que, nesses casos, o aborto será
lícito.
Aborto necessário – previsto no art. 128, I, do CP, também
conhecido como terapêutico, constitui verdadeiro estado de
necessidade. Exige dois requisitos simultâneos: a) perigo de morte
da gestante; b) inexistência de outro meio para salvá-la. É
necessário o perigo de morte, não sendo suficiente o perigo para a
saúde. Se não houver médico no local, ainda assim o aborto pode
ser praticado por outra pessoa, com base nos arts. 23, I e 24 do CP.
Havendo perigo de vida iminente, dispensa-se o consentimento da
gestante ou de seu representante legal (art. 146, § 3º, I do CP).
Além de tudo isso, o médico age no estrito cumprimento do dever
legal nesses casos.
Aborto humanitário ou ético – previsto no art. 128, II, do CP pode
ser licitamente praticado quando a gravidez é proveniente de
estupro e há o consentimento da gestante. A prova tanto da
ocorrência do estupro quanto do consentimento da gestante ou de
seu representante legal, deve ser cabal. Atualmente a doutrina e a
jurisprudência admitem, por analogia (já que trata-se de norma
penal não incriminadora e a analogia é aplicada in bonan partem), o
aborto sentimental quando a gravidez provém de atentado violento
ao pudor. É desnecessária a autorização judicial, sentença
condenatória ou mesmo processo criminal contra o autor do crime
sexual e, além disso, a prova do estupro (ou do atentado violento ao
pudor) pode ser feita por todos os meios em Direito admissíveis. Se
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o médico acautela-se da veracidade das informações, ainda que a
gestante tenha mentido, a boa-fé daquele caracterizará erro de
tipo, excluindo o dolo e afastando a tipicidade de sua conduta, mas,
a gestante responderá pelo delito do art. 124 do CP.
– LESÃO CORPORAL: Obs.: LEI 10.886/04 – Acrescentou os §§
9º e 10 ao art. 129 do CP (inclusão da violência doméstica que
causa lesão corporal.
– Bem jurídico tutelado – é a integridade corporal e a saúde da
pessoa humana, isto é, a saúde do indivíduo.
– Sujeitos ativo e passivo – o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa (é crime comum); o sujeito passivo também pode ser
qualquer pessoa viva, exceto nas figuras qualificadas dos §§ 1º, IV e
2º, V, nas quais somente a mulher grávida pode figurar como sujeito
passivo.
– Consumação e tentativa – consuma-se o delito com a efetiva
lesão à integridade física ou a saúde de outrem. A pluralidade de
lesões inflingidas num único processo de atividade não altera a
unidade do crime. A tentativa é admissível,salvo nas modalidades
culposa e preterdolosa. Caracteriza-se a tentativa quando o agente
age com animus leadendi, mas não consegue concretizar o crime
por circunstâncias alheias à sua vontade (é impedido por terceiro,
por exemplo).
– Lesão corporal leve ou simples – a definição de lesão corporal
leve é formulada por exclusão, ou seja, configura-se quando não
ocorrer nenhum dos resultdados previstos nos §§ 1º, 2º, 3º e 6º do
art. 129 do CP. A lesão corporal abrange ofensa à saúde do corpo e
da mente, além de ofensa à integridade corpórea. A lesão corporal
do caput do art. 129 do CP é sempre dolosa e, nesse caso, exige os
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seguintes requisitos: a) dano à integridade física ou à saúde de
outrem; b) relação causal entre a ação e o resultado; c) animus
leadendi. A previsão do § 5º do art. 129 destina-se somente à lesão
corporal leve. Por fim, é preciso lembrar que a lesão corporal leve
exige representação, conforme art. 88 da Lei 9.099/95.
– Aplicação do princípio da insignificância na lesão corporal leve
– freqüentemente, condutas que se amoldam a determinado tipo
penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma
relevância material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar
liminarmente a tipicidade penal, porque, em verdade, o bem jurídico
não chegou a ser lesado. Em função disso, alguns autores
entendem que a lesão à integridade física ou à saúde deve ser,
juridicamente, relevante. É indispensável, em outros termos, que o
dano à integridade física ou à saúde não seja insignificante (Cezar
Roberto Bitencourt, Rogério Greco e outros). A irrelevância deve ser
aferida não apenas em relação à importância do bem jurídico
tutelado, mas, especialmente em relação ao grau de sua
intensidade. Para alguns, deve ser aferida a insignificância não
apenas em relação ao desvalor do resultado, mas também, em
relação ao desvalor da ação.
– Lesão corporal grave: hipóteses – o § 1º do art. 129 relaciona
quatro hipóteses que qualificam a lesão corporal, quais sejam: 1)
incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias
– relaciona-se ao aspecto funcional e não apenas econômico
(trabalho, lazer, recreação etc.). Por isso, crianças e até bebês
podem ser sujeitos passivos desta modalidade de lesão corporal. A
simples vergonha de aparecer em público em razão das lesões, por
si só, não qualifica o crime. A atividade deve ser lícita, mas, pode
ser imoral, tal como: prostituição (que não é ilícita). Somente o
exame de corpo de delito é insuficiente para a caracterização dessa
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qualificadora, exigindo-se o exame complementar logo que tenha
decorrido o prazo de 30 dias, exame esse que pode ser suprido por
prova testemunhal (art. 167, §§ 2º e 3º do CPP); 2) perigo de vida
(perigo de morte) – deve haver não a simples possibilidade, mas, a
probabilidade concreta e efetiva de morte quer como conseqüência
da própria lesão, quer como resultado do processo patológico que
esta originou. O perigo deve ser pericialmente comprovado. Se a
probabilidade de morte da vítima tiver sido objeto do dolo do
agente, o crime será o de tentativa de homicídio e não de lesões
corporais; 3) debilidade permanente de membro, sentido ou
função – debilidade é a redução ou enfraquecimento da capacidade
funcional da vítima. Permanente é a debilidade de duração
imprevisível (não é necessário que seja definitiva, perpétua e
impassível de tratamento). Membros são partes do corpo que se
prendem ao tronco. Sentido é a faculdade de percepção e de
comunicação (visão, audição, olfato, paladar e tato). Função é a
atividade específica de cada órgão do corpo humano (respiratória,
circulatória etc.); 4) aceleração de parto – é a antecipação do
nascimento do feto, com vida e viabilidade para permanecer vivo
fora do útero da mãe. O agente deve ter conhecimento da gravidez
da vítima.
Obs. Todas as qualificadoras do § 1º do art. 129 do CP são de
natureza objetiva e, por isso, havendo concurso de pessoas, haverá
comunicação.
– Lesão corporal gravíssima – O § 2º relaciona cinco hipóteses que
qualificam a lesão corporal. Onomen iuris lesão corporal gravíssima
é atribuído pela doutrina. 1) incapacidade permanente para o
trabalho – aqui a incapacidade não é temporária, mas permanente
e para o trabalho em geral, não somente para a atividade específica
que a vítima vinha exercendo (ex.: agente que causa lesão corporal
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nas mãos de um pianista que lhe impeça de tocar piano, mas, não
lhe impeça de exercer outras atividades laborativas não responde
por lesão corporal gravíssima do § 2º, I, do art. 129 do CP). A
incapacidade, que pode ser física ou psíquica, deve ser para o
trabalho e não para as ocupações habituais. A permanência da
incapacidade não precisa ser perpétua, bastando um prognóstico
de irreversibilidade. Mesmo que a vítima se cure no futuro, a lesão
gravíssima terá se configurado. 2)enfermidade incurável – é a
doença cuja curabilidade não é conseguida no atual estágio da
Medicina. A incurabilidade deve ser aferida com dados da ciência
atual, com um juízo de probabilidade, sendo suficiente o
prognóstico pericial. São inexigíveis intervenções cirúrgicas
arriscadas ou tratamentos duvidosos. 3) perda ou inabilitação de
membro, sentido ou função – há perda quando cessa o sentido, a
função ou quando o membro é extraído, por meio de mutilação ou
amputação (aquela ocorre no momento da ação delituosa; esta
decorre de intervenção cirúrgica). Há inutilização quando cessa ou
interrompe-se definitivamente a atividade do membro, sentido ou
função, sem exclusão (sem extração). Entende-se que, tratando de
membro ou órgão que exista em duplicidade (ex.: braços, olhos,
orelhas, rins, pulmões etc.), a perda ou inutilização de um deles,
restando o outro intacto, caracteriza a lesão corporal do art. 129, §
1º, III e não a do § 2º, III. 4) deformidade permanente – a
deformidade deve representar lesão estética de certa monta, capaz
de produzir desgosto, desconforto a quem vê e vexame ou
humilhação ao portador. Deve ser analisada caso a caso (ex.:
cicatriz no rosto de uma jovem é muito mais grave do que no rosto
de um homem adulto). É necessário que haja compromentimento
permanente, definitivo, irrecuperável do aspecto físico-estético. A
deformidade não perde o caráter de permanente quando pode ser
dissimulada por meios artificiais, como cirurgia plástica, a qual
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ninguém está obrigado. 5)aborto – trata-se de crime preterdoloso.
O agente não pode querer nem assumir o risco de provocar o
aborto, pois, caso contrário, poderá por dois crimes em concurso
formal impróprio ou por aborto qualificado (art. 127 do CP). É
necessário que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima.
Obs. Não caracteriza a perda de membro, sentido ou função a
cirurgia para extração de órgãos genitais de transexual,com a
finalidade de curá-lo ou de reduzir seu sofrimento físico ou mental.
A conduta é atípica, pois, falta o dolo de ofender a integridade física
ou a saúde de outrem.
– Possibilidade de tentativa na lesão corporal grave e
gravíssima – a grande maioria da doutrina admite a tentativa de
lesão corporal grave ou gravíssima (ex.: agente que tenta mutilar a
vítima com um machado, golpeando-lhe na perna, mas, apenas
causa ferimento e é impedido de prosseguir por um terceiro). O STF
já decidiu, inclusive, pela admissibilidade de tentativa de lesão
grave, ainda que a vítima não tenha sofrido qualquer ferimento
(RHC 53.705 de 31/10/1975). Porém, a tentativa não é possível nos
casos previstosno art. 129, §§ 1º, IV e 2º, V e 3º por tratarem-se de
delitos preterdolosos, caso em que o resultado mais grave não pode
fazer parte do dolo do agente.
– Lesão corporal seguida de morte – é conhecida na doutrina
como homicídio preterdoloso (dolo nas lesões e culpa na morte) e
tem previsão no art. 129, § 3º do CP. Se o resultado morte for
decorrente de caso fortuito ou força maior, o sujeito responderá
apenas pelas lesões corporais; se houver dolo eventual quanto ao
resultado mais grave, o agente responderá por homicídio. A
competência é do juiz singular (vide art. 74, § 1º do CPP).
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– Figura privilegiada – prevista no art. 129, § 4º do CP. Aplica-se o
mesmo raciocínio estabelecido para o art. 121, § 1º do CP.
– Lesão corporal culposa – sua previsão está no art. 129, § 6º do
CP e irá configurar-se se presentes: comportamento humano
voluntário; descumprimento de dever objetivo de cuidado;
previsibilidade objetiva do resultado; lesão corporal involuntária.
Não importa que a lesão causada culposamente seja leve, grave ou
gravíssima, a pena será a do § 6º do art. 129 do CP (a gravidade da
lesão e as circunstâncias do crime serão avaliados no momento da
aplicação da pena – art. 59 do CP).
– Perdão judicial – admite-se o perdão judicial para a lesão culposa,
conforme prevê o art. 129, § 8º do CP. Aplica-se aqui o raciocínio
estabelecido quando da análise do art. 121, § 5º do CP. Tem
natureza jurídica de causa de extinção da punibilidade (art. 107, IX
do CP). Segundo Delmanto, aplica-se também aos casos do art.
129, § 7º do CP, mas, somente no que se refere ao agravamento da
pena da lesão corporal culposa.
– CRIMES DE PERIGO
– Perigo de contágio venéreo
O crime de perigo de contágio venéreo é definido como o fato de
“expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve
saber que está contaminado” (art. 130, CP).
– Bem jurídico tutelado
No crime de perigo de contágio venéreo o bem jurídico tutelado é a
incolumidade física e a saúde da pessoa. A vida, ao contrário do que
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pensam alguns autores, não está entre os bens tutelados pelo tipo
penal em estudo, já que, não há sequer previsão para punição em
caso de morte da vítima neste delito. Sobrevindo este resultado,
poderemos ter a lesão corporal seguida de morte, o homicídio
doloso ou o homicídio culposo, tudo a depender do elemento
subjetivo do agente.
– Sujeitos ativo e passivo
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, assim também como o
sujeito passivo, não se exigindo nenhuma qualidade especial dos
mesmos. Podem ser sujeitos passivo ou ativo, o cônjuge, a
prostituta, o idoso, o jovem desde que imputável no caso de ser
sujeito ativo, a criança como sujeito passivo etc.
– Elementos normativos “sabe” e “deve saber”
Para alguns autores a expressão “sabe” representa o dolo direto e a
expressão “deve saber”, o dolo eventual; outros identificam nesta
última, o elemento culpa.
Cezar Roberto Bitencourt contesta o entendimento acima
afirmando que, a elementar “sabe” significa ter consciência e a
elementar “deve saber” significa possibilidade de ter consciência.
Para ele, admitir que o “deve saber” seja significativo de dolo
eventual impede que se demonstre em cada caso concreto, a
impossibilidade de o agente ter ou adquirir conhecimento de seu
estado de contagiado o que geraria uma presunção legal em
desfavor do mesmo vindo a configurar uma responsabilidade
objetiva que, em sede de direito penal é impossível. O referido autor
afirma que as expressões “sabe” e “deve saber” não se prestam
para a classificação das espécies de dolo, até porque o dolo
eventual não se compõe de simples possibilidade de consciência
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(deve saber), pois, esta deve ser analisada em sede de
culpabilidade e não em sede de tipicidade, onde, na verdade, o dolo
está situado.
– Consumação e tentativa
O crime de perigo de contágio venéreo consuma-se com a prática
de atos de libidinagem (conjunção carnal ou não), capazes de
transmitir moléstia venérea, independentemente do efetivo contágio
que poderá ou não ocorrer. A efetiva contaminação será mero
exaurimento da conduta, sendo, por isso, crime formal.
A despeito desta classificação (crime formal), Damásio e Bitencourt
entendem possível a tentativa, pois, freqüentemente apresenta um
iter criminis, que pode ser objeto de fracionamento. Haverá
tentativa quando, por exemplo, o agente pretende manter relação
sexual com a vítima e não consegue por razões alheias à sua
vontade.
– Hipótese de crime impossível
Quando fica provado que a vítima já era portadora da mesma
moléstia apresentada pelo agente, não haverá crime configurando-
se o chamado crime impossível (art. 17 do CP) por absoluta
impropriedade do objeto.
– Concurso de crimes e princípio da subsidiariedade
De acordo com entendimento de Cezar Roberto Bitencourt, se
ocorrer eventual contaminação da vítima, haverá somente um
exaurimento do crime de perigo de contágio venéreo, desde que o
agente tenha o dolo de perigo (e não de dano). Assim, seja na figura
do caput, seja na figura do § 1º do art. 130 do CP, não haverá
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concurso com o delito de lesão corporal (leve, grave ou gravíssima).
Para o referido autor o tipo penal do art. 130 é especial em relação
ao do art. 129, ambos do CP e, somente se sobrevier a morte da
vítima o agente poderá responder por lesão corporal seguida de
morte (art. 129, § 3º). As lesões corporais, com efeito, estão
absorvidas pela intenção de expor a perigo ou de transmitir a
moléstia.
Porém, em relação aos crimes contra os costumes (estupro,
atentado violento ao pudor, atentado ao pudor mediante fraude
etc.), poderá haver concurso formal com o delito de perigo de
contágio venéreo. Este concurso será próprio se houver o dolo de
perigo (art.130, caput) e impróprio se houver dolo de dano (art. 130,
§ 1º), pois, aqui haverá desígnios autônomos, isto é, dolo de praticar
crime contra os costumes e dolo de transmitir moléstia venérea.
– PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE
Para alguns doutrinadores, o delito tipificado no artigo 131 do CP
seria subsidiário do delito de lesões corporais (art. 129), pois, como
no delito do art. 131 do CP basta o fim de transmitir moléstia grave
(crime formal), se ocorrer o efetivo contágio haveria apenas lesão
corporal. Este entendimento não tem fundamento porque seria
impossível admitir que um crime determinado possa ser subsidiário
de outro menos grave, haja vista que a pena cominada ao delito de
lesões corporais leves varia de 3 meses a 1 ano de detenção,
enquanto para o crime de perigo de contágio de moléstia grave, de
1 a 4 anos de reclusão e multa.
Obs.: a ação penal é pública condicionada à representação.
– Bem jurídico tutelado
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O bem jurídico tutelado é a incolumidade física e a saúde da pessoa
humana. A vida não está protegida por este tipo penal, haja vista
que, se sobrevier resultado morte, não há previsão de punição.
Nesse caso, haverá homicídio ou lesão corporal seguida de morte.
– Sujeitos ativo e passivo
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, desde
que esteja contaminado por moléstia grave e contagiosa. O sujeito
passivo, igualmente, pode ser qualquer pessoa desde que não
esteja contaminada por igual moléstia.
– Consumação e tentativa
O crime de perigo de contágiode moléstia grave consuma-se com
a prática do ato idôneo para transmitir a moléstia, sendo indiferente
a ocorrência efetiva da transmissão, que poderá ou não ocorrer
(trata-se de crime formal). A efetiva contaminação constituirá mero
exaurimento da conduta.
O dolo do agente é de dano, não obstante tratar-se de crime de
perigo.
Admite-se, em tese, a forma tentada, mesmo tratando-se de crime
formal, pois, freqüentemente apresenta um iter criminis que pode
ser objeto de fracionamento.
Obs.: a ação penal é pública incondicionada.
– PERIGO PARA A SAÚDE DE OUTREM
Trata-se de crime de perigo e essencialmente subsidiário (há
subsidiariedade expressa), pois, o preceito secundário
complementa-se com a expressão “se o fato não constitui crime
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mais grave.”
– Bem jurídico tutelado
A vida e a saúde da pessoa humana, ou, em termos mais
abrangentes, a incolumidade pessoal constitui objeto da tutela
penal.
Não é necessário que ocorra o efetivo dano, bastando o simples
perigo de dano (crime formal).
– Sujeitos ativo e passivo
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo desse crime,
desde que sejam determinados. Não se exige qualquer condição ou
atributo especial dos sujeitos.
É preciso observar, porém, que determinadas pessoas não poderão
ser sujeitos passivos deste crime como, por exemplo, bombeiros,
policiais etc., que têm o dever de suportar o perigo. Também não se
enquadram como sujeitos passivos pessoas que exerçam
prosissões ou atividades às quais o perigo é imanente como
enfermeiros, corredores automobilísticos etc, salvo quando o
perigo extrapolar os limites dos riscos inerentes às atividades,
caso em quepoderá existir a figura delituosa.
– Consumação e tentativa
O crime de perigo para a vida ou a saúde de outrem consuma-se
com o surgimento efetivo do perigo.
Este crime pode ser realizado sob as formas comissiva ou omissiva
(exs.: sujeito que, agindo com dolo de perigo, induz o ofendido a
ultrapassar uma pequena ponte que sabe não oferecer segurança –
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comissão; patrão que não fornece equipamento de proteção ao
empregado – omissão).
A tentativa, embora de difícil configuração, pode ocorrer. Damásio
entende que só é impossível a tentativa nos casos de omissão.
Obs.: o dolo do agente neste crime é de perigo e a ação penal é
pública incondicionada.
– ABANDONO DE INCAPAZ
O crime de abandono de incapaz é de perigo concreto, pois, é o
próprio núcleo típico – abandonar – que exige que o risco seja
efetivo, real, concreto. Os §§ 1º e 2º caracterizam crimes
preterdolosos.
– Bem jurídico tutelado
O bem jurídico protegido pelo art. 133 do CP é a segurança da
pessoa humana, o seu bem-estar pessoal, particularmente do
incapaz de proteger-se contra situações de perigo decorrentes do
abandono.
Cezar Roberto Bitencourt entende que o tipo protege também a
vida e a integridade físico-psíquica do incapaz, pois, embora não
haja definição expressa no tipo penal do art. 133, o Capítulo no qual
o mesmo está inserido intitula-se “DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA
SAÚDE”.
É irrelevante o consentimento do ofendido em razão da
incapacidade de consentir do sujeito passivo e da indisponibilidade
dos bens jurídicos tutelados (embora após o advento da Lei nº
9.099/95, a integridade física passou a ser relativamente disponível
em razão da exigência de representação do ofendido para que seja
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promovida ação penal por lesões leves e culposas).
– Sujeitos ativo e passivo
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que tenha especial
relação de assistência e proteção com a vítima,ou seja, desde
que a vítima esteja sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade (é crime próprio).
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que esteja numa das
relações acima referidas (cuidado, guarda, vigilância ou autoridade)
e não somente o menor e desde que seja incapaz de defender-se
dos riscos decorrentes do abandono. Esta incapacidade não se
confunde com aquela disciplinada no direito privado, bastando que
a vítima seja faticamente incapaz.
– Consumação e tentativa
Consuma-se o crime com o abandono efetivo do incapaz e desde
que este corra perigo real, efetivo, isto é, concreto, ainda que
momentâneo, pois, é irrelevante a duração do abandono. É
indispensável a comprovação da efetiva exposição a perigo.
Teoricamente é possível a tentativa, pois, pode haver um iter
criminis. Ex.: o agente pode abandonar um incapaz, mas, antes que
se configure o perigo, a vítima vir a ser socorrida por terceira
pessoa.
– Formas qualificadas
Os §§ 1º e 2º do art. 133 prevêem figuras qualificadas pelo
resultado (ou preterdolosas), se do abandono resultar (a) lesão
corporal de natureza grave, ou (b) a morte da vítima.
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Quem abandona incapaz com o qual tem especial relação de
assistência ou proteção, cria com sua conduta, o risco da
ocorrência do resultado e, nesse caso, assume a condição de
garantidor, mas, não aquela prevista no art. 13, § 2º do CP, pois, no
caso do art. 133, o agente não responde pelo resultado.
O § 3º do art. 133 prevê duas causas de aumento da pena caso (a)
o abandono ocorra em local ermo, ou (b) o agente seja ascendente
ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
– Forma culposa
Não há previsão de modalidade culposa para o delito tipificado no
art. 133 do CP. No entanto, se, decorrentes do abandono culposo,
que é impunível, resultarem danos para a vítima, o agente
responderá por eles.
Obs.: a ação penal é pública incondicionada.
– EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO
Segundo a melhor doutrina, as expressões “exposição” e
“abandono” não foram utilizadas como sinônimas, nem mesmo
como equivalentes na cabeça do art. 134 do CP. Entende-se que a
exposição interrompe a guarda, mas, não a vigilância, ficando o
agente, a distância ou disfarçadamente, na expectativa de que
alguém encontre e recolha o exposto, ao passo que, no abandono,
interrompe-se a guarda e a vigilância.
– Bem jurídico tutelado
O bem jurídico protegido é a segurança do recém-nascido, que, de
acordo com Cezar Roberto Bitencourt, só pode seer quem veio ao
mundo há poucos dias, não ultrapassando um mês e cujo
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nascimento não se tenha tornado público, já que exige o especial
fim de agir (elemento subjetivo do tipo) “para ocultar desonra
própria”.
Também de acordo com o autor supra protege-se, em termos
genéricos, a vida e a integridade fisiopsíquica do recém-nascido.
– Sujeitos ativo e passivo
O sujeito ativo do crime de abandono de recém-nascido, para a
doutrina e jurisprudência majoritárias, somente pode ser a mãe
(crime próprio), visto que objetiva ocultar desonra própria. Entendo,
porém, que não somente a mãe pode ser sujeito ativo deste delito.
Suponha-se que um padre mantenha relações sexuais com uma das
fiéis de sua paróquia e esta venha a conceber e dar à luz uma
criança. Aquele, tentando ocultar sua desonra pode abandonar o
recém-nascido.
Damásio de Jesus entende que o pai incestuoso ou adúltero
também pode ser sujeito ativo deste delito.
Para os que entendem que somente a mãe pode ser sujeito ativo do
crime, esta deve ser mulher honrada.
O sujeito passivo é o recém-nascido, com vida, fruto de relações
extramatrimoniais, vindo ao mundo há poucos dias, não
ultrapassando a um mês.
– Consumação e tentativa
Consuma-se esse crime com o abandonoefetivo do recém-
nascido, desde que este corra perigo efetivo, isto é, concreto, ainda
que momentâneo, pois, é irrelevante a duração do abandono.
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É possível a tentativa já que, há um iter criminis a ser percorrido
pelo sujeito passivo. Exemplo: a mãe pode abandonar o filho recém-
nascido, mas, antes que se configure o perigo, haver a intervenção
de terceira pessoa.
– Forma qualificada
Segundo Bitencourt, com a Reforma da Parte Geral do CP e o
advento do art. 13, § 2º, os §§ 1º e 2º do art. 134, assim como os §§
1º e 2º do art. 133 sofreram revogação. No caso do art. 134, a mãe
que abandona recém-nascido é duplamente garantidora, na
condição de genitora (art. 13, § 2º, alínea a, do CP) e como criadora,
com sua conduta anterior, do risco da ocorrência do resultado (art.
13, § 2º, alínea c, do CP). Assim, sobrevindo o dano, a mãe
responderá por este, como autora, na forma de omissão imprópria.
Damásio de Jesus pugna pela manutenção das qualificadoras dos
artigos 133 e 134 do CP, mesmo após a Reforma da Parte Geral do
CP.
– Forma culposa
Não há previsão de modalidade culposa. Porém, se, decorrentes do
abandono culposo (que não é previsto), resultarem danos para a
vítima, o agente responderá por eles.
OMISSÃO DE SOCORRO
O crime de omissão de socorro é previsto no art. 135 do CP, cuja
ação penal é pública inconsicionada.
O Direito Penal contém normas proibitivas e normas imperativas. A
infração dessas normas imperativas constitui a essência do crime
omissivo e consiste em não fazer a ação juridicamente ordenada.
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– Bem jurídico tutelado
O bem jurídico tutelado é a preservação da vida e da saúde do ser
humano fundada no dever de solidariedade humana. Trata-se de
um dever geral que atinge a todos.
A assistência de um, desobriga todos os demais, desde que aquela
seja suficiente.
– Sujeitos ativo e passivo
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e deve estar no lugar e no
momento em que o periclitante precisa do socorro.
O sujeito passivo somente pode ser: a) criança abandonada ou
extraviada; b) pessoa inválida ou ferida, desamparada; ou c)
qualquer pessoa em grave e iminente perigo.
É fundamental que o sujeito passivo, mesmo nas condições acima
descritas, não tenham capacidade de autodefender-se.
– Crimes omissivos próprios e impróprios
Os crimes omissivos consistem sempre na omissão de determinada
ação que o sujeito tinha obrigação de realizar e que podia fazer.
Dividem-se em: omissivos próprios que são os crimes de mera
conduta, aos quais não se atribui qualquer resultado, sendo
suficiente a simples omissão e devem sempre estar previsto em
algum tipo penal;omissivos impróprios (comissivos por omissão)
que são sempre crimes de resultado, não tendo tipologia própria.
Ocorrem quando o agente podia e devia, por determinação legal,
evitar o resultado. Sua previsão é feita no art. 13, § 2º do CP.
– Consumação e tentativa
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Consuma-se a omissão de socorro no lugar e no momento em que
a atividade devida tinha de ser realizada, isto é, onde e quando o
sujeito ativo deveria agir e não o fez.
Por ser um crime omissivo próprio, não admite tentativa, pois, não
exige resultado naturalístico produzido pela omissão. Trata-se de
crime de ato único (unissubsistente), que não admite
fracionamento, ou seja, se o agente ainda pode agir, não há omissão
de socorro. A tentativa só é admitida nos crimes omissivos
impróprios, pois, nestes deverá haver um resultado naturalístico.
1. – Concurso de pessoas nos crimes omissivos
Segundo Cezar Roberto Bitencourt, os crimes omissivos próprios
admitem tanto co-autoria quanto participação em sentido estrito.
Se, por exemplo, duas pessoas recusam-se a prestar socorro ao
periclitante, respondem todas pelo crime, individualmente. Porém,
se deliberarem, umas anuindo à vontade das outras, todas
respondem pelo mesmo crime em concurso, em razão do liame
subjetivo. Se alguém, mesmo não estando no local, por telefone,
sugere, induz ou instiga a quem está em condições de socorrer que
não o faça, responderá também pelo crime, mas, na condição de
partícipe.
Também é possível a participação em sentido estrito e a co-autoria
nos crimes omissivos impróprios.
Não se confunda, porém, participação em crimes omissivos com
participação por omissão, em crimes comissivos. Esta ocorre
quando o partícipe, através de uma omissão, facilita a ação dos (co)
autores, como, por exemplo, o caixa que deixa o cofre aberto para
facilitar o furto.
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– Figuras majoradas
A superveniência de lesão corporal grave ou morte da vítima
constitui circunstância de aumento de pena, conforme parágrafo
único do art. 135 do CP, que deve ser apreciada na terceira fase da
aplicação da pena.
– MAUS TRATOS
O crime de maus-tratos vem previsto no art. 136 e §§, do CP.
– Bem jurídico tutelado
Os bens jurídicos protegidos são a vida e a saúde da pessoa
humana, especialmente daqueles submetidos a autoridade, guarda
ou vigilância para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.
– Sujeitos do delito
O sujeito ativo é somente quem se encontre na condição especial
de exercer autoridade, guarda ou vigilância, para fins de educação
(atividade destinada a aperfeiçoar a capacidade individual), ensino
(ministrar conhecimentos visando a formação cultural básica),
tratamento (cura e subsistência) ou custódia (detenção de uma
pessoa para fim autorizado em lei). Trata-se, por conseguinte, de
crime próprio.
Não é qualquer pessoa, igualmente, que pode ser sujeito passivo do
crime de maus tratos, mas somente pessoa que se encontra
subordinada para fins de educação, ensino, tratamento e custódia.
Qualquer outra subordinação ou submissão, para qualquer outra
finalidade, além dessas relacionadas no tipo, não configurará o
crime de maus-tratos.
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– A relação de subordinação entre os sujeitos ativo e passivo
como elementar delitiva
Para tipificar o crime de maus-tratos é indispensável a existência de
uma relação de subordinação entre os sujeitos ativo e passivo.
Trata-se, no entender de Cezar Roberto Bitencourt, de uma
elementar típica especializante, isto é, que torna essa figura típica
um crime próprio ou especial, que só pode ser praticado por quem
tenha uma das modaliddes vinculativas elencadas com a vítima. A
ausência dessa especial relação de subordinação, afasta a
adequação típica, mesmo que a conduta do sujeito ativo dirija-se a
um fim educativo, corretivo ou disciplinar. Da mesma forma, ainda
que exista a referida relação, se a finalidade das condutas
tipificadas não se destinar a educação, ensino, tratamento ou
custódia, não haverá o crime de maus-tratos.
– Distinção entre maus-tratos e tortura
A distinção entre maus-tratos e tortura se faz por meio do elemento
subjetivo, isto é, o dolo do agente. Na tortura, a vontade do autor é
a de causar dor, sofrimento; já no crime de maus-tratos, a vontade
do agente é a de corrigir, de educar.
Há, porém, entendimento no sentido de que a diferenciação entre
maus-tratos e tortura se dfaz por meio da intensidade do
sofrimento.
– RIXA
Rixa é a briga entre mais de duas pessoas, acompanhada de vias de
fato ou violências físicas recíprocas e encontra-se tipificada no art.
137 do CP.
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Exige-se,no mínimo, a participação de três pessoas lutando entre
si, ainda que alguns sejam menores de 18 anos. Se existem duas
pessoas lutando contra uma terceira não existe rixa. Também não
há esse crime quando dois bandos se digladiam, praticando lesões
corporais recíprocas, distinguindo-se o comportamento de cada
componente. Quando isso ocorre, os componentes de cada bando,
sob o regime do concurso de agentes, respondem por lesão
corporal ou homicídio.
– Bem jurídico tutelado
Embora a descrição típica não se refira expressamente à vida ou à
saúde do agente, sua preocupação com esses bens jurídicos está
exatamente na punição da simples participação na rixa, pois, o
legislador reconhece que esta possibilita, em tese, a produção de
maiores danos à integridade fisiopsíquica do indivíduo.
– Sujeitos do delito
Os participantes da rixa são, ao mesmo tempo, sujeitos ativos e
passivos, uns em relação aos outros. No entanto, ninguém pode ser,
ao mesmo tempo, sujeito passivo e ativo do crime de sua própria
conduta. Na realidade o rixoso é sujeito ativo da conduta que
pratica em relação aos demais e sujeito passivo das condutas
praticadas pelos outros rixosos.
Pode-se afirmar que a própria ordem e tranqüilidade públicas são,
mediatamente atingidas (sujeitos passivos), pois, também
constituem objetos da proteção jurídica.
Além disso,sam ser atingidos pela rixa também podem ser sujeitos
passivos deste delito.
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– Concurso de pessoas
A rixa é um crime de concurso necessário, pois, caracterizas-se
pela pluralidade de participantes, que nunca será inferior a três.
Participante, como regra, será todo aquele que estiver presente no
lugar e no momento da rixa e entrar diretamente no conflito ou
auxiliando qualquer dos contendores. O fato de tratar-se de um
crime de concurso necessário não impede, por si só, a possibilidade
de existir participação em sentido estrito, uma vez que o partícipe
não intervém diretamente no fato material, “não pratica a conduta
descrita pelo preceito primário da norma penal, mas realiza uma
atividade secundária que contribui, estimula ou favorece a execução
da conduta proibida. Não realiza a atividade propriamente
executiva. Essa contribuiçào do partícipe, que pode ser material ou
moral, será perfeitamente possível, especialmenrixa ex proposito.
– Rixa ex proposito e ex improviso
A rixa ex improviso é aquela que surge subitamente enquanto a rixa
ex proposito é proposital, ou seja, a rixa é combinada por três ou
mais pessoas.
Há entendimento jurisprudencial no sentido de que a rixa só se
caracteriza se for ex improviso, pois, se for ex proposito, poderá
haver outra infração penal, mas não a rixa. Para Damásio de Jesus,
porém, seja ex proposito, seja ex improviso, o delito será o de rixa.
– Consumação e tentativa
Consuma-se a rixa com a eclosão das agressões recíprocas, isto é,
quando os contendores iniciam o conflito. Consuma-se no
momento em que o participante entra na rixa para tomar parte dela
voluntariamente. Ainda que um dos participantes desista da luta
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antes de esta ter chegado ao fim, responderá pelo crime, inclusive
pela qualificadora, que pode ocorrer após sua retirada. Para a
consumação é desnecessário que qualquer dos rixosos sofra lesão.
A tentativa, segundo Damásio de Jesus e Cezar Roberto Bitencourt,
só é possível na rixa ex proposito, pois, aqui os rixosos podem
combinar a briga com antecedência e, assim, é possível visualizar-
se atos preparatórios; já na rixa ex improviso é impossível a
tentativa. Ou os rixosos começam a se agredir mutuamente e o fato
está consumado, ou não existe início de agressão, hipótese em que
inexiste qualquer delito.
– Concurso de crimes: ameaça, lesão corporal e homicídio
Será atribuída responsabilidade penal de todos os crimes que um
ou alguns rixosos praticarem durante a rixa, desde que devidamente
identificada a autoria. Responderá o autor identificado em concurso
material com a rixa, simples ou qualificada. Excluem-se somente as
vias de fato, que são integrantes do conteúdo do crime de rixa.
Há quem sustente que o rixoso identificado como autor e
responsável pelo homicídio ou lesão corporal grave não pode
responder pelo mesmo fundamento, por rixa agravada, pois, violaria
o princípio do ne bis in idem. Porém, a doutrina majoritária entende
diversamente, afirmando haver uma duplicidade de elemento
subjetivo, isto é, o agente atue com dolo de participar na rixa e com
dolo de causar lesão grave ou morte de alguém, devendo responder
por rixa qualificada em concurso com a lesão corporal ou o
homicídio.
– Figuras típicas: rixa simples e rixa qualificada
A rixa simples é aquela prevista no caput do art. 137 do CP, cuja
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pena é a de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
A rixa qualificada vem prevista no parágrafo único do art. 137 do CP,
com cominação de pena de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
A ocorrência de lesão corporal grave ou morte qualificam a rixa,
respondendo por ela inclusive a vítima da lesão grave. Mesmo
que a lesão grave ou a morte atinja estranho não participante da
rixa configura-se a qualificadora. Quando não é identificado o autor
da lesão grave ou do homicídio, todos os participantes respondem
por rixa qualificada; sendo identificado o autor, os outros continuam
respondendo por rixa qualificada, e o autor responderá pelo crime
que cometeu em concurso material com a rixa qualificada (no meu
entender, nesse caso, deve haver o dolo de lesionar ou matar e o
dolo de participar da rixa, sob pena de se aceitar a responsabilidade
penal objetiva).
A morte ou lesões corporais graves devem ocorrer durante a rixa ou
em conseqüência dela; não podem ser antes ou depois, isto é, deve
haver nexo causal entre a rixa e o resultado morte ou lesão corporal.
A ocorrência de mais de uma morte ou lesão corporal não altera a
unidade da rixa qualificada que continua sendo crime único, embora
devam ser consideradas na dosimetria da pena.
O resultado agravado deverá recair sobre todos os que dela tomam
parte, inclusive sobre os desistentes e sobre aqueles que tenham
sido vítimas das lesões graves.
Obs.: O atual Código Penal não recepcionou os sistemas da
solidariedade absoluta e da cumplicidade correspectiva. Pelo
primeiro, todos os rixosos respondem pelo homicídio ou lesão
grave, se ocorrer durante a rixa; pelo segundo, não sendo apurados
os autores dos ferimentos causadores da morte ou das lesões
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graves, todos responderiam por esse resultado, fixando-se, porém,
a pena num termo médio entre a que caberia ao autor e aquela que
se aplicaria ao partícipe. O CP vigente preferiu o sistema da
autonomia, incriminando a rixa, independentemente da morte ou
lesão grave, que, se ocorrerem, somente qualificarão o crime.
– Rixa e legítima defesa
Apesar de existir muita divergência entre os doutrinadores, Damásio
de Jesus e Cezar Roberto Bitencourt entendem ser possível a
legítima defesa no crime de rixa. Quem, por exemplo, intervém na
rixa em defesa própria ou de terceiros poderá invocar a excludente,
pois não há participação na rixa com animus rixandi. Damásio
entende que, mesmo que haja animus rixandi, se um dos indivíduos
passa a ter um comportamento mais violento, como, por exemplo,
utilizar uma faca, os outros podem agir em legítima defesa contra o
mesmo.
A legítima defesa, porém, não excluirá a qualificadora se houver
lesões corporais graves ou morte em razão da aplicação daquela
excludente de ilicitude.Assim, quem mata em legítima defesa
durante a rixa, não responde por homicídio, mas, responde por rixa
qualificada, assim como os outros rixosos.
Se houver reação a uma suposta agressão (legítima defesa
putativa), estará afastada a tipificação do crime de rixa, ainda que o
erro seja evitável, pois, falta a vontade livre e consciente de
participar de rixa e, além disso, este delito não admite a modalidade
culposa (ver art. 20, § 1º do CP).
– CRIMES CONTRA A HONRA
– Bem jurídico tutelado
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O CP, nos artigos 138 a 141, protege a honra, conjunto de atributos
morais, físicos, intelectuais e demais dotes do cidadão, que o fazem
merecedor de apreço no convívio social.
A honra pode ser subjetiva e objetiva. Honra subjetiva é o
sentimento de cada um a respeito de seus atributos físicos,
intelectuais, morais e demais dotes da pessoa humana. É aquilo que
cada um pensa a respeito de si mesmo em relação a tais atributos.
Honra objetiva é a reputação, aquilo que os outros pensam a
respeito do cidadão no tocante a seus atributos físicos, intelectuais,
morais etc. Enquanto a honra subjetiva é o sentimento que temos a
respeito de nós mesmos, a honra objetiva é o sentimento alheio
incidindo sobre nossos atributos.
Obs.: há entendimento no sentido de que, em se tratando de
ofendido funcionário público, se a ofensa for proferida em sua
presença e em razão de suas funções, o crime será o de desacato
(art. 331 do CP); se for proferida na ausência do funcionário, haverá
calúnia, difamação ou injúria, dependendo do casso.
– Consentimento do ofendido como excludente da tipicidade
Nos delitos contra a honra, tratando-se de objetividade jurídica
disponível, o consentimento do ofendido capaz tem relevância.
Presente, inexiste crime.
Há total possibilidade de aplicação dos institutos da renúncia (art.
104 CP) e do perdão (arts. 105 e 106 CP) nos crimes contra a honra.
Da aplicabilidade desses institutos, deixando à absoluta
discricionariedade do sujeito passivo a decisão de processar ou não
o sujeito ativo, e, mesmo após ter decidido iniciar a ação penal,
facultando-lhe poder renunciar ao direito de queixa ou perdoar o
agente, decorre, inevitavelmente, que o consentimento do ofendido
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exclui a tipicidade da conduta do ofensor, pois, se mesmo após
movimentar a máquina judiciária pode a vítima neutralizar a
operação jurisdicional, é natural que se atribua esse efeito a
manifestação anterior de concordância da vítima.
Porém, o consentimento somente surte esse efeito em relação aos
bens disponíveis do sujeito passivo. Assim, por exemplo, se houver
imputação falsa de crime e houver movimentação do aparelho
estatal, instaurando-se inquérito policial ou mesmo ação penal,
também serão atingidos os interesses da Administração da Justiça,
criminalizados como denunciação caluniosa (art. 339 do CP).
Nessas circunstâncias o consentimento do ofendido é irrelevante.
– Sujeito ativo e passivo: a pessoa jurídica como sujeito passivo
Os crimes contra a honra não são próprios nem de mão própria. Isso
quer dizer que podem ser cometidos por qualquer pessoa.
Qualquer pessoa pode, também, ser sujeito passivo desses crimes,
mesmo que desonradas, desde que, no entendimento de Damásio
de Jesus, a ofensa atinja a parte ainda não lesada.
Parte da doutrina afirma que os doentes mentais não podem ser
sujeitos passivos do delito de calúnia, pois, esta é a falsa imputação
de crime e, os doentes mentais não possuem culpabilidade (são
inimputáveis) o que torna impossível o cometimento de crimes por
estas pessoas. Para Damásio de Jesus, entretanto, a culpabilidade
não integra o conceito de crime, sendo, apenas, pressuposto da
pena e, por isso, o referido autor entende que os inimputáveis
podem ser sujeitos passivos de calúnia. Para os doutrinadores que
não aceitam a sujeição passiva dos inimputáveis nos crimes de
calúnia, o fato falsamente atribuído aos mesmos deve ser tratado
como difamação.
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Parte da doutrina ensina que a pessoa jurídica não tem sentimento
de dignidade própria, uma vez que é entidade abstrata. Os seus
representantes e diretores, na qualidade de pessoas físicas, é que
se podem dizer lesados em sua honra, quando a ofensa à entidade
os fira. Outros autores, em sentido contrário, afirmam que pode ser
sujeito passivo de difamação ou injúria, uma vez que possui
patrimônio particular e até mesmo honra. Uma terceira corrente
entende que a pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo de
calúnia nem de injúria, uma vez que não pode ser sujeito passivo de
crime e nem possui honra subjetiva, podendo ser vítima de
difamação, em face de possuir, inegavelmente, reputação, boa fama
etc. (honra objetiva). Por fim, um quarto entendimento, em meu
entender o mais coerente, dirige-se no sentido de que a pessoa
jurídica pode ser vítima de calúnia quando esta se referir aos delitos
contra o meio ambiente (arts. 3º, 21 e 24 da lei 9.605/98) e de
difamação, pois, possui honra objetiva; jamais de injúria.
No caso do art. 138, § 2º, o sujeito passivo não será o de cujus, mas
os seus familiares.
– Semelhanças e dessemelhanças entre calúnia, difamação e
injúria
Dos três crimes contra a honra, a calúnia e a difamação são os que
mais se aproximam quanto a seus conteúdos materiais: em ambas
há imputação de fatos. Por essa razão admitem, em tese, a
retratação e a exceção da verdade, enquanto a injúria não, pois
nesta, em que não há imputação de fato, não há do que se retratar
ou o que se provar, salvo a exceção prevista na Lei de Imprensa,
que admite a retratação nas três espécies de crimes contra a honra.
Além disso, assemelham-se as três figuras típicas pelo fato de
protegerem a honra e pelo fato de que a ação penal é, de regra,
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exclusivamente privada.
As semelhanças essenciais entre calúnia e difamação são: ambas
lesam a honra objetiva do sujeito passivo; referem-se a fatos e não
qualidades negativas ou conceitos depreciativos e necessitam
chegar ao conhecimento de terceiro para consumar-se.
A semelhança entre calúnia e injúria é a previsão de procedimento
idêntico para ambas, salvo quando houver previsão diversa em lei
especial (arts. 519 e segs. CPP). Entre difamação e injúria a
semelhança reside na não-exigência do elemento normativo
falsidade.
Diferencia-se a calúnia da difamação pelo fato de que naquela,
imputa-se fato criminoso, enquanto nesta, imputa-se fato ofensivo,
depreciativo de seu apreço social, mas não é fato criminoso. Além
disso, na calúnia exige-se a falsidade da imputação, o que não é
exigido na difamação.
Entre difamação e injúria a diferença reside no fato de que, na
primeira há imputação de fato ofensivo à reputação da vítima; já na
segunda, o agente limita-se à emissão de conceitos depreciativos,
sem imputar-lhe objetivamente, a autoria de qualquer fato. Entre
calúnia e injúria, a diferença é que, na calúnia, imputa-se fato
criminoso e, na injúria, conforme já mencionado, emite-se conceitos
depreciativos.
– Exceção da verdade
Exceção da verdade significa a possibilidade que tem o sujeito ativo
de poder provar a veracidade do fato imputado, através de
procedimento especial (art. 523 do CPP).
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A exceção da verdade é admitida na calúnia e, provada a verdade
da imputação, desaparece a elementar do tipo “falsamente” o que
torna a conduta atípica. Na difamação, em regra, não é admissível

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