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Resenha analítica - Bartebly

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Raphael Pereira Bottino de Moraes
Resenha analítica – Bartebly, o escriturário (Herman Melville)
Trata-se de um conto escrito por Herman Melville, que foi publicado em uma revista norte americana. O narrador é um advogado que ocupava o cargo de conselheiro do Tribunal de Chancelaria no Estado de Nova York, possuindo escritório em Wall Street.
O narrador, sem nome, tece uma descrição de seu trabalho e seus empregados, que o ajudam diariamente com as atividades. Os ajudantes, a princípio, eram Turkey e Nippers, copistas, e Ginger Nut, o aprendiz de direito, mensageiro e faxineiro.
É interessante a fala sobre Turkey e Nippers, que seriam os copistas que alternavam entre si nas oscilações de humor. Enquanto Turkey era calmo durante a manhã, Nippers seria incansável e rabugento, trocando-os de lugar durante o período da tarde. Ginger Nut é apenas um menino de 12 anos que tinha um pai que o queria ver com uma vida melhor.
Passa-se então a uma narrativa sobre um novo funcionário chamado de “Bartebly”, um rapaz de aparência “cadavérica” e um tanto quanto silencioso. Nos primeiros dias este rapaz teria feito seu trabalho de forma perfeita, até que o narrador teria feito o primeiro pedido ao qual Bartebly teria respondido que “preferia que não” (I would prefer not to). Para diversos outros pedidos, o advogado teria recebido a mesma resposta, restando estagnado mediante tal. Descreve que as palavras calmas e decididas de Bartebly o deixavam sem saber como reagir, sabendo ao menos que não conseguiria trata-lo mal.
Bartebly “preferiu não” fazer alguns serviços, falar sobre sua vida e as razões de não preferir certas coisas. O narrador, inclusive, tentou demiti-lo quando este se recusou a fazer o trabalho que fazia desde o começo, sendo que até para esta decisão “preferiu não sair do trabalho”, sendo que também não trabalhava.
O advogado, perplexo com a situação, convidou-o a morar em sua casa para que sua presença não mais perturbasse os demais trabalhadores, sendo a ofertada recusada.
Ao fim, após o narrador desistir de tentar, Bartebly acaba sendo preso por “vadiagem” e incômodo. Até mesmo dentro da prisão, preferia não fazer certas coisas, inclusive comer, tendo morrido em sequência, em vista de suas recusas.
Entende-se que a recusa em realizar o trabalho surpreende o narrador, pois este tem uma expectativa natural de cumprimento imediato, acarretando um conflito interno para si. Além do mais, a frase utilizada com o verbo “preferir” se torna uma compulsão, uma resposta que não é resposta, visto que não aceita e não recusa no sentido estrito, apesar de subtender-se que muitas vezes se tratava de uma recusa.
Ao se realizar uma análise fundamentalista do conto, verifica-se que este mesmo fora escrito em um período de grandes críticas filosóficas ao capitalismo. Seria Bartebly uma resposta negativa a aceitação quanto ao modelo capitalista. Dizem que no capitalismo se tem a ideia de imposição do que fazer, sendo que o personagem rebate com “eu preferia que não”. Além disso, nota-se a presença do existencialismo, em que se tenta abordar temas como significado da vida e da morte.
Por fim, o texto leva os leitores a tentarem entender as razões que levariam Bartebly a ser da maneira que era e os sentimentos conflitantes que os demais personagens sentiram com tudo. Há uma subjeção sobre o que poderia ter acontecido na vida do escriturário antes da narrativa e esta tentativa é frustrada, pois não há uma resposta. Isto sobrepõe que o objetivo é realmente impulsionar leitores a refletirem sobre casos externos de suas vidas que poderiam serem relacionados ao conto e os reflexos sentimentais das demais personagens para conseguir extrair um significado para si.
Isto pois, Bartley se encontraria em um limbo do “preferir nada”, sendo totalmente inerte à realidade a sua volta, o que não condiz com a realidade dos espectadores e foge a razão. Outro ponto que enfatiza essa espécie de bolha em que o funcionário vivia era a descrição de sua fisionomia: “pálido” e “incurável”, um “semimorto”. Pode-se dilubriar sobre diversas teorias acerca da narrativa, no entanto, muito concordam que talvez seja a indicação de alguém que já não vive mais. Ou seja, Bartley vivia sem preferir nada como se já estivesse morto, a vida já tivesse acabado.
Acredito que o autor do conto, também autor de Moby Dick, quis adentrar em um modo literário que não deveria ser comum à época, ainda mais com o avanço do capitalismo nos Estados Unidos, a fim de criar uma história correlacionada às peculiaridades do ser humano, escrevendo algo mais psicanalítico do que entretenimento propriamente dito.

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