Buscar

QUESTÕES RESUMIDAS DE PSICOPATOLOGIA

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Quais são os cinco tipos básicos de vivências afetivas? Caracterize-os.
Humor ou estado de ânimo: é o tônus afetivo do indivíduo, o estado basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento. É um dos transfundos essenciais da vida psíquica;
Emoções: reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos. Estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como a reação do indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes ou inconscientes;
Sentimentos: estados e configurações afetivas estáveis, mais atenuados em sua intensidade e menos reativos a estímulos passageiros. Estão associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e, em geral, não implicam concomitantes somáticos. Há vários tipos de sentimentos de acordo com a sua tonalidade afetiva. São eles:
Sentimentos da esfera da tristeza – melancolia, saudade, tristeza, nostalgia, vergonha, impotência, aflição, culpa, remorso, autodepreciação, autopiedade, sentimento de inferioridade, infelicidade, tédio, desesperança, etc.;
Sentimentos da esfera da alegria – euforia, júbilo, contentamento, satisfação, confiança, gratificação, esperança, expectativa, etc.;
Sentimentos da esfera da agressividade – raiva, revolta, rancor, ciúme, ódio, ira, inveja, vingança, repúdio, nojo, desprezo, etc.;
Sentimentos relacionados à atração pelo outro – amor, atração, tesão, estima, carinho, gratidão, amizade, apego, carinho, gratidão, amizade, apego, apreço, respeito, consideração, admiração, etc.;
Sentimentos associados ao perigo – temor, receio, desamparo, abandono, rejeição, etc.;
Sentimento de tipo narcísico – vaidade, orgulho, arrogância, onipotência, superioridade, empáfia, prepotência, etc.
Afeto: qualidade e tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental. Os afetos acoplam-se a ideias, anexando a elas um colorido afetivo;
Paixões: estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo, captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção, inibindo os demais interesses.
Caracterize as alterações do humor: distimia, hipertimia, puerilidade e irritabilidade patológica.
Distimia: alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição como no sentido da exaltação. Não se deve confundir o sintoma distimia com o transtorno distimia, que segundo o CID-10 e o DSM-IV, é um transtorno depressivo leve e crônico;
Hipertimia: humor patologicamente alterado no sentido da exaltação e da alegria;
Puerilidade: alteração do humor que se caracteriza pelo aspecto infantil, simplório, regredido. O indivíduo ri ou chora por motivos banais. Sua vida afetiva é superficial, sem afetos profundos e duradouros;
Irritabilidade patológica: há uma hiper-reatividade desagradável, hostil e, eventualmente, agressiva a estímulos (mesmo leves) do meio exterior. Qualquer estímulo é sentido como perturbador, e o indivíduo reage prontamente de forma disfórica.
Estabeleça a diferença entre ansiedade, angústia e medo.
Ansiedade é definida como estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e fisiológicas.
Angústia relaciona-se diretamente com à sensação de aperto no peito e na garganta, de compressão, sufocamento. Assemelha-se muito à ansiedade, mas tem conotação mais corporal e relacionada ao passado.
Medo é caracterizado por referir-se a um objeto mais ou menos preciso, diferencia-se da ansiedade e da angústia, que não se referem a objetos precisos (o medo é, quase sempre, medo de algo).
Quais os tipos de angústia segundo algumas correntes teóricas da psicopatologia? Caracterize-os.
Segundo a corrente psicanalítica, há alguns tipos de angústia, são elas:
Angústia de castração (Freud): seria o medo de perder ou ferir os genitais, de ser castrado, no contexto do complexo de Édipo. Posteriormente, recebeu o sentido de uma angústia de perda, ou de risco de perda, de algo importante do ponto de vista narcísico para o indivíduo;
Angústia de morte ou de aniquilamento (escola Kleiniana): sensação intensa de angústia perante perigo ou situação (real ou fantasiada) que indiquem ao sujeito a proximidade ou a possibilidade eminente da morte ou do aniquilamento (do corpo, do ego);
Ansiedade depressiva (escola Kleiniana): vivida por um sujeito que teme perder seus objetos bons; teme que estes (internalizados ou reais, externos ou internos) sejam destruídos ou desintegrados, e, justamente com eles, seu próprio Eu;
Ansiedade persecutória ou paranóide (escola Kleiniana): tipo de ansiedade vivida como temor de retaliação feroz aos ataques imaginários, fantasmáticos, que o sujeito, em sua fantasia, perpetrou contra seus objetos internos ou externos;
Angústia de separação (Spitz, Bowlby): reações emocionais vividas pela criança quando separada da mãe, manifestando seus afetos com choco, desespero e grande aflição.
Já na escola existencial:
Angústia existencial: não seria apenas um sintoma patológico, mas, antes de tudo, um estado anímico básico, constituinte do ser humana. O homem se angustia diante de algumas situações existenciais inescapáveis da vida, a situação de estar-no-mundo, de estar-com-o-outro, de ser-para-a-morte. Para Sartre, a angústia existencial se articula ao fato de o homem estar condenado a ser livre, a não poder de forma alguma abdicar de seu livre arbítrio, em oposição a todos os determinismos históricos sociais.
E por fim, nas escolas comportamentalistas e cognitivistas:
Ansiedade de desempenho: reação de ansiedade associada a temores em relação à execução de uma tarefa, à possibilidade de ser avaliado criticamente por pessoas importantes ou significativas (frequente fobia socia e na vida cotidiana);
Ansiedade antecipatória: ansiedade vivenciada antes da ocorrência de uma situação estressante, experimentada na imaginação do indivíduo que fica remoendo como será sua futura situação desconfortável.
Estabeleça a diferença entre os vários tipos de alterações das emoções e dos sentimentos.
Apatia é a diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva, pacientes queixam-se de não poderem sentir nem alegria, nem tristeza, nem raiva, nem nada... Na apatia, o indivíduo, apesar de saber da importância afetiva que determinada experiência deveria ter para ele, não consegue sentir nada. O paciente torna-se hipo reativo, é um “tanto faz quanto tanto fez” para tudo na vida;
Hipomodulação do afeto é a incapacidade de modular a resposta afetiva de acordo com a situação existencial, indicando rigidez na sua relação com o mundo;
Inadequação do afeto ou paratimia é a reação completamente incongruente a situações existenciais ou a determinados conteúdos ideativos, revelando desarmonia profunda da vida psíquica (ataxia intrapsíquica), contradições profunda entre a esfera ideativa e a afetiva;
Pobreza de sentimentos e distanciamento afetivo é a perda progressiva e patológica das vivências afetivas. Neste caso, há o empobrecimento relativo à possibilidade de vivenciar alternâncias e variações sutis na esfera afetiva;
Embotamento afetivo e devastação afetiva é a perda profunda de todo tipo de vivência afetiva. É observável, constatável por meio da mimica, da postura e da atitude do paciente;
Sentimento de falta de sentimento é a vivência de incapacidade para sentir emoções, experimentada de forma muito penosa pelo paciente. É percebido claramente pelo doente, que se queixa de sentir-se intimamente morto ou em estado de vazio afetivo;
Anedonia é a incapacidade total ou parcial de obter ou sentir prazer com determinadas atividades e experiências da vida. O paciente relata que, diferentemente do que ocorria antes de adoecer, agora não consegue mais sentir prazer sexual, não consegue desfrutar de um bom papo com os amigos, de um almoço gostoso, etc.;
Indiferença afetiva trata-se de certa frieza afetiva incompreensível diante dos sintomas que o paciente apresenta, uma frieza e uma indiferença que parecem indicar que, no fundo (de forma inconsciente), o paciente
sabe que seus sintomas são psicogênicos e potencialmente reversíveis, denotando até certo exibicionismo por trás da indiferença;
Labilidade afetiva e incontinência afetiva são os estados nos quais ocorrem mudanças súbitas e imotivadas de humor, sentimentos ou emoções. O indivíduo oscila de forma abrupta, rápida e inesperada de um estado afetivo para outro. São consideradas formas de hiperestesia emocional, indicando exagero e inadequação da reatividade afetiva;
Ambivalência afetiva é o termo para descrever sentimentos opostos em relação a um mesmo estímulo ou objeto, sentimentos que ocorrem de modo absolutamente simultâneo (ódio e amor, rancor e carinho, etc.);
Neotimia é a designação para sentimentos e experiências afetivas inteiramente novos vivenciados por pacientes em estado psicótico. São afetos muito estranhos e bizarros para a própria pessoa que os experimenta;
Medo não é uma emoção patológica, mas uma característica universal dos animais superiores e do homem. Trata-se do estado de progressiva insegurança e angústia, de impotência e invalidez crescentes. Há seis fases de acordo com o grau de extensão e imensidão do medo, são elas: 1. Prudência; 2. Cautela; 3. Alarme; 4. Ansiedade; 5. Pânico (medo intenso); 6. Terror (medo intensíssimo);
Fobias são medos determinados psicologicamente, desproporcionais e incompatíveis com as possibilidades de perigo real oferecidas pelos desencadeantes, chamados de objetivos ou situações fobígenas;
Pânico é a reação de medo intenso, de pavor, relacionada geralmente ao perigo imaginário de morte iminente, descontrole ou desintegração. Se manifesta quase sempre como crises de pânico. Estas são crises agudas e intensas de ansiedade, acompanhadas por medo intenso de morrer ou de perder o controle e de acentuada descarga autonômica;
Ciúme é um fenômeno emocional complexo no qual o indivíduo sente receio, medo, tristeza ou raiva diante da ideia, sensação ou certeza de que a pessoa amada gosta mais de outra pessoa e pode abandoná-la;
Inveja é a sensação de desconforto, raiva e angústia diante da constatação de que outra pessoa possui objetos, qualidades, relações que o indivíduo gostaria de ter, mas não tem.
Descreva e estabeleça a diferença entre vontade, instinto, pulsão, desejo, necessidade e motivação.
Vontade é uma dimensão complexa da vida mental, relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva (que envolve avaliar, julgar, analisar, decidir), bem como com o conjunto de valores, princípios, hábitos e normas socioculturais do indivíduo.
Instinto é definido como um modo relativamente organizado, fixo e complexo de resposta comportamental de determinada espécie, que, por meio dela, pode sobreviver melhor em seu ambiente natural. Geralmente envolve um conjunto de respostas e comportamentos herdados que, apenas com modificações superficiais, serve sempre à adaptação do organismo (p. ex., reações e comportamentos associados à fome, os instintos de sobrevivência, etc.).
Pulsão é definida em psicanálise, como um conjunto de elementos inatos, inconscientes, de origem parcialmente biológica e parcialmente psicológica, que movem o sujeito em direção à vida ou a morte (p. ex., a pulsão sexual e a pulsão de morte).
Desejo é um querer, um anseio, um apetite, de natureza consciente ou inconsciente, que visa sempre algo, que busca sempre sua satisfação.
Necessidade diferencia-se de desejo, pois estas são fixas e inatas, independentes da cultura e da história individual.
Motivação é um tanto intencional (estimula e orienta as ações) como reguladora (permite ao sujeito controlar seu comportamento e o dos outros).
Estabeleça a diferença entre os atos impulsivos e compulsivos. Quais os tipos de compulsões e atos impulsivos patológicos?
O ato impulsivo é uma espécie de curto circuito do ato voluntário, da fase de intensão à fase de execução. Abole abruptamente as fases de intenção, deliberação e decisão, em função tanto da intensidade dos desejos ou temores inconscientes como da fragilidade das instâncias psíquicas implicadas na reflexão, na análise, na ponderação e na contenção dos impulsos e desejos. O ato compulsivo, ou compulsão, difere do ato impulsivo por ser reconhecido pelo indivíduo como indesejável e inadequado, assim como pela tentativa de refreá-lo ou adiá-lo. Os tipos de impulsos e compulsões patológicas são: automutilação, frangofilia, piromania, dipsomania, bulimia, potomania, polidipsia, fetichismo, exibicionismo, voyeurismo, pedofilia, pederastia, gerontofilia, zoofilia, necrofilia, coprofilia, ninfomania, satiríase, compulsão por masturbação, compulsão por utilizar roupas íntimas do sexo oposto, compulsão por utilizar clisteres, poriomania, cleptomania, jogo patológico, compulsão por comprar, compulsão por internet e videogames, negativismo, mutismo, sitiofoboa, obediência automática, fenômenos do eco (ecopraxia, ecolia, ecomimia, ecografia), automatismo.
Cite e caracterize brevemente os impulsos e compulsões relacionados a substâncias ou alimentos, desejo e comportamento sexual.
Impulsos e compulsões relacionados à ingestão de substância ou alimentos:
Dipsomania: impulso ou compulsão periódica para ingestão de grandes quantidades de álcool. O indivíduo bebe seguidamente até ficar inconsciente; a crise é superada, voltando o paciente à situação anterior, havendo geralmente amnésia retrógada para o ocorrido.
Bulimia: é o impulso irresistível de ingerir rapidamente grande quantidade de alimentos (muitas vezes doces, chocolate, etc.). Após a ingestão rápida, o paciente bulímico sente-se culpado, com medo de engordar e induz vômitos ou toma laxativos.
Potomania: é a compulsão de beber água ou outros líquidos sem que haja sede exagerada.
Polidipsia: sede exagerada, geralmente devido a alterações metabólicas em seu organismo.
Atos e compulsões relacionados ao desejo e comportamento sexual:
Fetichismo: é o impulso sexual e o desejo sexual concentrado em (ou exclusivamente relacionados a) partes da vestimenta ou do corpo da pessoa desejada.
Exibicionismo: é o impulso de mostrar os órgãos genitais, geralmente contra a vontade da pessoa que observa.
Pedofilia: é o desejo sexual por crianças ou púberes do sexo oposto.
Pederastia: é o desejo sexual por criança ou adolescentes do mesmo sexo.
Gerontofilia: é o desejo sexual por pessoas consideravelmente mais velhas que o indivíduo.
Zoofilia: é o desejo sexual dirigido a animais.
Necrofilia: é o desejo sexual por cadáveres.
Coprofilia: é a busca do prazer com o uso de excrementos no ato sexual.
Ninfomania: é o desejo sexual quantitativamente muito aumentada na mulher.
Satiríase: é o desejo sexual muito aumentado no homem.
Compulsão por masturbação: vivenciada como intensa necessidade de realizar atividade masturbatória repetitiva, até mesmo praticada com desprazer.
Compulsão por utilizar roupas íntimas do sexo oposto: sobretudo entre homens que sentem compulsão a usar lingerie, a vestir-se, em segredo, como uma mulher.
Compulsões a utilizar clisteres: é o ato repetitivo de introduzir objetos, como lâmpadas, potes de vidros, garrafas, etc., no ânus ou na vagina.
Qual a diferença entre erro simples e delírio? Exemplifique.
Os erros são passíveis de serem corrigidos pela experiência, pelas provas e pelos dados que a realidade oferece. Uma boa parte dos erros de ajuizamento, de apreciação, é determinada por situações afetivas intensas ou dolorosas, que impedem que o indivíduo analise a experiência de forma objetiva e lógica. Os erros são psicologicamente compreensíveis, enquanto o delírio tem como característica principal a incompreensibilidade.
Defina delírio segundo a concepção de Jaspers. Como pode ser identificado clinicamente (indícios externos do delírio)?
Segundo Karl Jaspers, as ideias delirantes, ou delírios, são juízos patologicamente falsos. Dessa forma, o delírio é um erro do ajuizar que tem origem na doença mental. Ele descreveu três características ou indícios externos muito importante para a identificação clínica do delírio, são eles:
O doente apresenta
uma convicção extraordinária, uma certeza subjetiva praticamente absoluta. A sua crença é total; a seu ver, não pode colocar em dúvida a veracidade de seu delírio.
É impossível a modificação do delírio pela experiência objetiva, por provas explícitas da realidade, por argumentos lógicos, plausíveis e aparentemente convincentes. Assim, diz-se que o delírio é irremovível, mesmo pela prova de realidade mais cabal, ele não é passível de ser influenciado externamente por pessoas que queiram demover o delirante de suas crenças.
O delírio é, quase sempre, um juízo falso; o seu conteúdo é impossível. Embora este seja o aspecto mais evidente do delírio, mais fácil de caracterizar, é, também, o aspecto do ponto de vista psicopatológico, mais frágil. Sabe-se que alguns doentes podem eventualmente delirar e seu delírio ser verídico.
Deve-se acrescentar mais um:
O delírio é uma produção social, peculiar em relação ao grupo cultural do doente. Geralmente se trata de uma convicção de um homem só.
Quais as dimensões do delírio?
Grau de convicção: determina até que ponto o paciente está convencido da realidade de suas ideias delirantes;
Extensão: trata-se da extensão com que as ideias delirantes envolvem diferentes áreas da vida do paciente;
Bizarrice ou implausibilidade: trata-se do grau em que as crenças delirantes se distanciam das convicções culturalmente compartilhadas pelo grupo social de origem do paciente, ou seja, do quanto seu delírio se distancia da realidade consensual, do quão implausível de suceder é o delírio;
Desorganização: aqui se verifica até que ponto as ideias delirantes são consistentes internamente, têm lógica própria e em que grau são sistematizadas, com ordem interna;
Pressão ou preocupação: isto tem a ver com o quanto o paciente está preocupado e envolvido com suas crenças delirantes, o quanto ele se sente pressionado pelo delírio;
Resposta afetiva ou afeto negativo: trata-se do quanto as crenças delirantes abalam ou tocam afetivamente o paciente, do quanto ele fica assustado, ansioso, triste ou irritado em consequência do delírio;
Comportamento desviante: aqui se verifica o quanto o paciente age em função de seu delírio e em que medida ele pratica atos estranhos, perigosos ou inconvenientes a partir de suas ideias delirantes.
Estabeleça a diferença entre o delírio primário e secundário.
O fenômeno primário é psicologicamente incompreensível, não tem raízes na experiência psíquica do homem normal, por isso, é impenetrável, incapaz de ser atingido pela relação intersubjetiva, pelo contato empático entre o entrevistador e o entrevistado. O fenômeno secundário assemelha-se externamente ao primário, deferindo deste por não se originar de alteração primária do pensamento, do ajuizar, mas de alterações profundas em outras áreas da atividade mental (afetividade, consciência, etc.), que indiretamente fazem com que se produzam juízos falsos. É fruto de condições psicologicamente rastreáveis e compreensíveis.
Classifique os delírios de acordo com sua estrutura.
Delírios simples (monotemáticos) – são ideias que se desenvolvem em torno de um só conteúdo, de um tema único, geralmente de um único tipo (apenas um tema religioso, persecutório, etc.);
Delírios complexos (pluritemáticos) – são aqueles que englobam vários temas ao mesmo tempo, com múltiplas facetas, envolvendo conteúdos de perseguição, místico-religioso, de ciúme, de reivindicação, etc.;
Delírios não-sistematizados – são delírios sem concatenação consistente. Os conteúdos e os detalhes dos delírios não sistematizados variam de momento para momento e costumam ser encontrados em indivíduos com baixo nível intelectual, deficientes mentais ou em pacientes com quadros demenciais;
Delírios sistematizados – são os delírios bem-organizados, com histórias ricas, consistentes e bem concatenadas, que mantêm, ao longo do tempo, os mesmos conteúdos, com riquezas de detalhes. Ocorrem mais em indivíduos intelectualmente desenvolvidos nos chamados transtornos delirantes.
Quais os mecanismos constitutivos ou formadores do delírio? Caracterize-os.
Costuma-se considerar como mecanismos (formadores) dos delírios aqueles fenômenos ostensivos ou processos segundo os quais se produzem as ideias delirantes. Assim fala-se em mecanismo:
Interpretativo: é um mecanismo que, de forma geral, está na base constituinte de todos os delírios. Geralmente respeita determinada lógica, produzindo histórias que, embora delirantes, guardam verossimilhança;
Intuitivo: o indivíduo intui o delírio de repente, pois capta de forma imediata novo sentido nas coisas, percebe nova realidade totalmente convincente e irredutível. O delirante não sente qualquer necessidade de fundamentar o delírio em possibilidades plausíveis e verossímeis;
Imaginativo: está presente na constituição da maior parte dos delírios, acompanhando a atividade interpretativa lado a lado. O indivíduo imagina determinado episódio ou acontecimento e, a partir disso, pela interpretação, vai construindo o delírio;
Afetivo: em estados afetivos intensos, o indivíduo passa a viver em um mundo fortemente marcado por esse estado afetivo (catatimia). É nesse contexto que se desenvolvem os chamados delírios catatímicos;
Memória: neste caso, o delírio é construído por recordações e elementos da memória (verdadeiros ou falsos) que ganham dimensão delirante. O indivíduo utiliza tanto recordações verdadeiras quanto falsificações da memória, como alucinações ou ilusões mnêmicas, para construir o delírio;
Alteração da consciência: são delírios associados a quadros de turvação da consciência, ricos em vivências oníricas com alucinações cênicas, ansiedade intensa e certa confusão do pensamento. Pode ocorrer durante ou após a turvação da consciência;
Alterações sensoperceptivas: é construído a partir de experiencias alucinatórias ou pseudos-alucinatórias intensas, como alucinações auditivas de conteúdo persecutório ou alucinações muito vívidas. O indivíduo forma seu delírio desenvolvendo, de certa forma, a temática e a experiência gerada pela atividade alucinatória.
Quais os mecanismos de estabilização/manutenção do delírio?
Alguns fatores envolvidos na estabilização do delírio:
A inércia em mudar as próprias ideias e necessidade de consistência das produções ideativas que são formadas ao longo do tempo;
A pobreza na comunicação interpessoal, falta de contatos sociais satisfatórios, isolamento social, ser estrangeiro e não falar a língua dominante, etc.;
O comportamento agressivo por parte do paciente, resultante do delírio persecutório, pode desencadear mais rejeição pelo meio social e, dessa forma, reforçar o círculo vicioso de sentimentos paranoides, rejeição, hostilidade, mais sentimentos paranoides, e assim por diante;
O delírio pode diminuir o respeito e a consideração que as pessoas que convivem com o paciente têm por ele, a partir dessa situação, o indivíduo delirante pode construir novas interpretações delirantes a fim de, involuntariamente, tentar manter a sua auto-estima.
Classifique os delírios de acordo com seus conteúdos.
Delírio de perseguição
Delírio persecutório ou de perseguição: o indivíduo acredita que é vítima de um complô e está sendo perseguido por pessoas conhecidas ou desconhecidas, tais como máfias, vizinhos, polícia, pais, esposos ou marido, chefe ou colegas de trabalho (ou ambiente estudantil). Ele pensa que querem envenená-lo, prendê-lo, matá-lo, prejudicá-lo, etc. A perseguição é o tema mais frequente dos delírios;
Delírio de referência (de alusão ou auto referência): o indivíduo apresenta a tendência dominante a experimentar fatos cotidianos fortuitos, objetivamente sem maiores implicações, como referentes à sua pessoa. Diz ser alvo frequente ou constante de referências depreciativas, caluniosas. Às vezes ouvem o seu nome e que o xingam (mecanismo alucinatório associado ao delírio de referência) ou simplesmente deduz que a conversa das pessoas em qualquer lugar diz respeito a ele.
Delírio e o mecanismo de projeção: inconscientemente o indivíduo “projeta” para
fora de seu mundo mental, no mundo externo, ideias, conflitos, temores e desejos. Além disso, o delirante deforma o conteúdo inaceitável, invertendo o tipo de afeto associado a tal ideias (amor em ódio, desejo em repugnância, etc.) Outro aspecto hipotético associado a esse tipo de delírio é a sua suposta função de proteger o sujeito de rebaixamento de sua auto-estima, reluta em admitir seus próprios fracassos, o indivíduo, ao projetar nos outros os aspectos negativos da existência, torna-se vítima em vez de fracassado.
Delírio de relação: o indivíduo delirante constrói conexões significativas (delirantes) entre os fatos normalmente percebidos. Essas conexões novas surgem geralmente sem motivação compreensível;
Delírio de influência ou controle (também denominado vivência de influência): o indivíduo vivencia intensamente o fato de estar controlado, comandado ou influenciado por força, pessoa ou entidade externa. O doente afirma ter perdido a capacidade de resistir a essa força externa e passa a submeter-se inteiramente a ela;
Delírio de grandeza (de enormidade): o indivíduo acredita ser extremamente especial, dotado de capacidade e poderes. Acredita ter um destino espetacular, assim como sua origem e seus antecedentes indicam que ele é um ser superior. Assim, o delírio é dominado por ideias de poder e riqueza. A auto estima pode estar extremamente aumentada;
Delírio místico ou religioso: o indivíduo afirma ser (ou estar em comunhão permanente com, receber mensagens ou ordens de) um novo messias, um Deus, Jesus, um santo poderoso ou, até, um demônio. Os delírios religiosos frequentemente apresentam aspectos grandioso, enfatizando a própria importância do sujeito que delira;
Delírio de ciúme e delírio de infidelidade: neste caso, o indivíduo percebe-se traído pelo cônjuge de forma vil e cruel; afirma que ela(e) tem centenas de amantes, que o(a) trai com parentes, etc. Em geral, o indivíduo acometido pelo delírio do ciúme é extremamente ligado e emocionalmente dependente do ser amado. O sentimento de ciúme intenso e desproporcional em indivíduos muito possessivos e inseguros pode eventualmente ser difícil de diferenciar do delírio do ciúme. O ciúme patológico, nesse sentido, pode ser tanto verdadeiro delírio ou, em muitos casos, apenas uma ideia prevalente com temáticas de ciúmes;
Delírio erótico (erotomania): aqui o individuo afirma que uma pessoa, geralmente de destaque social, ou de grande importância para o paciente, está totalmente apaixonada por ele e irá abandonar tudo para que possam se casas. Ocorre com mais frequência em mulheres, e como sintoma isolado, em transtornos delirantes;
Delírio de conteúdo depressivo: são aqueles que têm temática de colorido marcadamente triste, como ruína ou miséria, culpa ou auto acusação, doenças e mesmo o desaparecimento de partes do corpo (negação de órgãos). São tipos de delírio intimamente associados a estados depressivos profundos. Os principais delírios de conteúdo depressivo são os de ruína, de culpa e de auto acusação, de negação de órgãos e hipocondríacos;
Delírio de ruína (ou niilista): o indivíduo vive num mundo repleto de desgraças, está condenado à miséria, ele e sua família irão passar fome, o futuro lhe reserva apenas sofrimentos e fracassos. Em alguns casos, o paciente acredita está morto ou que o mundo inteiro está destruído e todos estão mortos;
Delírio de culpa e de auto acusação: aqui o indivíduo afirma, sem base real para isso, ser culpado por tudo de ruim que acontece no mundo e na vida das pessoas que o cercam, ter cometido um grave crime, ser uma pessoa indigna, pecaminosa, suja, irresponsável, que deve ser punida por seus pecados. O delírio de culpa ou de auto acusação é bastante característico das formas graves de depressão;
Delírio de negação de órgãos: o indivíduo experimenta profundas alterações corporais. Relata que seu corpo está destruído ou morto, que não tem mais um ou vários órgãos, como o coração, o fígado ou o cérebro, suas veias “estão secas”, não tem mais nem uma gota de sangue, seu corpo secou ou apodreceu, etc. Denomina-se síndrome ou delírio de Cottard quando o delírio de negação de órgãos vem acompanhado de delírio de imortalidade e de enormidade;
Delírio hipocondríaco: o indivíduo crê com convicção extrema que tem uma doença grave, incurável, que está contaminado pelo vírus da AIDS, que irá morrer brevemente em decorrência do câncer. É um tipo de delírio muitas vezes difícil de ser diferenciado das ideias hipocondríacas não delirante. O que diferencia o delírio hipocondríaco da ideia hipocondríaca é a intensidade da crença, assim como a total ausência de crítica do paciente e seu envolvimento com as preocupações hipocondríacas.
Outros tipos de delírios menos frequente:
Delírio de reivindicação (ou querelância): neste caso, o indivíduo, de forma completamente desproporcional em relação à realidade, afirma ser vítima de terríveis injustiças e discriminações e, em consequência disso, envolve-se em intermináveis disputas legais, querela familiares, processos trabalhistas, etc. O indivíduo considera-se o representante dos injustiçados, dos perseguidos, e enga-se tenazmente contra as injustiças, das quais julga ser a principal vítima;
Delírio de invenção ou descoberta: aqui o indivíduo, mesmo completamente leigo na ciência ou na área tecnológica em questão, revela ter descoberto a cura de uma doença grave, ou ter desenvolvido um aparelho moderno, fantástico, enfim, que irão mudar o mundo;
Delírio de reforma (ou salvacionismo): ocorre entre indivíduos que se sentem destinados a salvar, reformar, revolucionar ou redimir o mundo ou a sua sociedade. Tal plano revolucionário ou salvacionista está muitas vezes fundamentado em dogma ou sistema religioso ou político, desenvolvido pelo próprio delírio;
Delírio cenestopático: o indivíduo afirma que existem animais ou objetos dentro de seu corpo. Esse tipo de delírio baseia-se na interpretação delirante de sensações corporais vivenciadas pelo paciente, mas sem temática de doença;
Delírio de infestação (síndrome de Ekbom): o indivíduo acredita que seu corpo está infestado por pequenos organismos. Relata, no mais das vezes, que há “bichinhos sob a pele”, insetos nos cabelos, vermezinhos, aranhas, etc.;
Delírio fantástico ou mitomaníaco: o indivíduo descreve histórias fantásticas com convicção plena, sem qualquer crítica. Esse tipo de delírio é notável pelas histórias e narrativas fabulosas, totalmente irreais, descrições que se assemelham a contos fantásticos, ricos em detalhes e francamente inverossímeis.
Quais as possíveis causas e teorias etiológicas do delírio? Argumente sua resposta com pressupostos teóricos (hipóteses e modelos).
Mesmo sendo o delírio um dor fenômenos mais centrais da psicopatologia, não há uma única teoria que explique satisfatoriamente sua etiologia. De qualquer forma, há algumas principais hipóteses sobre as causas dos delírios, divididas em quatro grandes grupos:
Hipóteses causais e modelos psicanalíticos e psicodinâmicos: Sujeitos delirantes paranóides projetariam inconscientemente seu ódio ou hostilidade intensos em outros e passariam a sentir que estes os odeiam e querem destruí-los;
Hipóteses causais e modelos existências (focados na interação humana): Na perspectiva existencial, o delírio advém de profundo distúrbio do encontro co-humano. Haveria um transtorno fundamental da comunicação inter-humana. O delirante é o sujeito com mais certezas que há, não admite dúvida, por isso, é privado da liberdade existencial;
Hipóteses causais e modelos cognitivos: Os principais modelos cognitivos são: 1. Modelo da experiência anômala, sugere que alguns sujeitos que experimentam vivências estranhas, como ilusões a alucinações sensoriais e/ou estados afetivos disfóricos intensos, tenderiam a atribuir significado delirante a tais vivências. 2. Modelo do viés atencional, verificou-se que as pessoas que apresentam delírios de perseguição têm tendências, já anterior ao delírio, de dirigir sua atenção seletivamente para estímulos ameaçadores do ambiente,
costumando lembrar de forma constante de tais episódios. 3. Modelo de viés atributivo postula que os delírios poderiam estar vinculados a processos distorcidos de atribuição de causas, atos e intenções. 4. Modelo de viés de salto-para-conclusões utilizaram o teorema de tomada de decisões de Bayes como base teórica para o exame dos vieses de raciocínio de sujeitos delirantes. Nesse teorema, a confiança do sujeito em uma crença corrente deveria aumentar ou diminuir de acordo com o valor de evidências obtidas, assim, verificou-se que pacientes com delírios tendem bem mais que sujeitos normais a extrair firmes conclusões com muito menos evidências fatuais que os indivíduos normais o fazem. 5. Modelo de déficit de teoria da mente investiga-se a habilidade que o indivíduo tem de inferir o estado mental de outras pessoas para, com isso, predizer e explicar os comportamentos dessas pessoas. Como os delírios de perseguição refletem uma crença falsa sobre a intenção e o comportamento de outro, o delírio poderia advir de um déficit na capacidade em ter tal teoria da mente.
Hipóteses causais e modelos neuropsicológicos: a capacidade de auto-observação e auto-avaliação, assim como a monitoração e o teste da realidade, são funções psicológicas altamente dependentes da integridade das áreas pré-frontais. Tais capacidades e funções estão quase sempre comprometidas nos sujeitos delirantes, sugerindo existir disfunção neuropsicológica associada às regiões pré-frontais no delírio.
Como estabelecer um diagnóstico diferencial entre:
Delírio e alucinação:
Sugere-se classificar o fenômeno por meio do caráter predominante da experiência quando sensorial, considera-se como alucinação, quando ideativa ou de caráter mais interpretativo, como delírio.
Mitomania e ideias delirantes:
Deve ser diferenciada sobretudo do delírio fantástico. Na mitomania, prevalece o componente de mentira e manipulação (principalmente na mitomania maligna). Em adultos, a mitomania ocorre com mais frequência em transtornos da personalidade, sobretudo nos subtipos sociopático, esquizotípicos, histriônico e borderline. Pessoas com perfil hipertímico (estado hipomaníaco prolongado) também são propensas à mitomania.
Pseudologia fantástica e ideias delirantes:
A Pseudologia fantástica é uma forma de mentira patológica. Pessoas com Pseudologia fantástica têm uma enorme ânsia pela estima dos outros, uma tendência à vida imaginativa muito intensa e, em contraposição, o sentido de realidade relativamente frágil. Pode ser tanto transitória e passageira, como duradoura e estável. O delírio se diferencia pelo marcante componente de convicção, tal convicção sendo praticamente absoluta e não modificável por provas de realidade ou confrontações.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando