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1 REFLITA SOBRE CADA UMA DAS SITUAÇÕES DESCRITAS, ABAIXO, ATENDO- SE EXCLUSIVAMENTE AO TEMA POSSE, CONSIDERANDO-SE UNICAMENTE O QUE ESTÁ EXPLICITAMENTE RELATADO NAS MESMAS, SALVO O QUE SE POSSA INFERIR POR DEDUÇÃO LÓGICA INDUBITÁVEL. JUSTIFIQUE CADA RESPOSTA COM BASE DOUTRINÁRIA E FUNDAMENTAÇÃO LEGAL. (atualizado em 03/07/2019) SITUAÇÃO 01 João Marcos de Oliveira alugou uma casa no Bairro das Pedrinhas, em Sobral, CE, ao proprietário Antônio de Melo Fragoso (Locador) por um período de um (01) ano. Tendo chegado ao final do contrato de locação, João não devolveu o imóvel, permanecendo neste, para desagrado de seu proprietário que gostaria de ter seu imóvel de volta a fim de cedê-lo para Jesuína Carla Fragoso, sua filha que iria se casar. Enquanto João mantinha-se no imóvel, após o término do contrato, foi surpreendido quando em viagem por um mês, por motivo de trabalho, ao retornar, teve a referida casa ocupada por Valério Soares de Mesquita, alguém estranho tanto a João como a Antônio, ficando impossibilitado de adentrá-la. Pergunta-se 1. Classifique a posse de João antes da data do término do contrato? Posse justa, coberta pelo direito, posto que não se evidenciou nem um dos vícios que maculam a aquisição da posse – violenta, clandestina ou precária (esta última – a precariedade só vai se estabelecer após a data do término do contrato), com base no art. 1.200, CC. Além do que, a posse era causal (baseado em título – contrato de locação), útil, exclusiva e direta, nos termos do art. 1.197, CC. 2. Que direitos João possui em relação a Antônio quanto ao imóvel, antes e após o término do contrato? Antes do término do contrato, o direito a se manter na posse e defendê-la de quem quer que seja, inclusive do próprio proprietário, nos termos do art. 1.197, CC, mas também os arts. 1.196, 1.210, CC. Após o término do contrato, nenhum direito lhe assiste em função da posse ser precária a partir de então, no termos do art. 1.200, CC. 3. Que direitos João possui em relação a Valério quanto ao imóvel? João tem direito aos interditos possessórios. No caso, mais especificamente, de reaver (ser reintegrado) sua posse, utilizando-se do remédio jurídico AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO NA POSSE, posto que fora esbulhado (esbulho pacífico), com fundamento no art. 1.210, CC: “o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurando de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado”, bem como no art. 560, NCPC: 2 “O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado no de esbulho”; Observação: a precariedade da posse de João é em relação a Antônio, e não em relação a Valério! 4. Que direitos Antônio possui em relação a Valério quanto ao imóvel? Em termos possessórios nenhum! Somente se ingressa com algum dos interditos possessórios contra quem sofreu o esbulho, a turbação ou a ameaça na posse, salvo, em se tratando de terceiro que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era, nos termos do art. 1.212, CC, o que não é o caso. Esclarecimento: a despeito de Antônio ser possuidor indireto e este poder defender a posse em face do possuidor direto e ambos em face de terceiros na vigência do contrato, tal não era mais o caso tendo em vista que a coisa fora esbulhada após o término do contrato. A SEGUIR, UMA REFLEXÃO QUE VAI ALÉM DO TEMA POSSE, POSTO AQUI UNICAMENTE COM O FIM DE ESCLARECIMENTOS ADICIONAIS.↓↓↓ NO ENTANTO, considerando-se que Antônio era proprietário e o imóvel (a coisa) estava nas mãos de terceiros, aplica-se perfeitamente o art. 1.228, CC: “o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”, ocasião que Antônio lançaria mão de ação de reivindicação, nos termos do art. 1.228, CC, em função também do direito de sequela. Mas a questão não para por aí: deve-se perguntar se a posse de Valério era injusta em relação a Antônio. RESPOSTA, de acordo com a doutrina, em se tratando de direito de propriedade, a injustiça relacionada a terceiro é ampla, diferenciando-se da injustiça 1.200, CC. Vejamos, o que diz Carlos Roberto Gonçalves: “o referido dispositivo legal (art. 1.228, CC) fala em posse injusta. Tal expressão é referida em termos genérico, significando ‘sem título’, isto é, sem causa jurídica. Não se tem pois, a acepção restrita de posse injusta do art. 1.200 do mesmo diploma. Na reivindicatória, detém injustamente a posse quem não tem título que a justifique, mesmo que não seja violenta, clandestina ou precária, e ainda que seja de boa-fé. Não fosse assim, o domínio estaria praticamente extinto ante o fato da posse”. Portanto, DIREITO DE PROPRIEDADE, AÇÃO DE REIVINDICAÇÃO, DIREITO DE SEQUELA. 3 SITUAÇÃO 02 Frederico Borges, aproveitando-se da ausência de Fábio Donabela, em função de viagem ao exterior, ocupou uma propriedade extensa, na cidade de Horizonte, CE, de sua propriedade (de Donabela) destituindo completamente o caseiro que administrava o referido local, e fixando-se na mesma. O tempo passou, chegando-se a fazer 03 anos do ocorrido, período esse em que Frederico plantou no terreno, armazenou frutos para venda e empregou trabalhadores, tudo isso sem oposição por parte de Donabela, além de gozar de respeitabilidade perante a localidade circunvizinha. Após esse período, tendo Donabela retornado de sua viagem, decidira ingressar na Justiça a fim de retomar sua propriedade de volta. Pergunta-se 1. Quais as chances de Donabela recuperar a sua posse de volta? Por meio de interdito possessório será muito difícil! Donabela negligenciou a posse de sua propriedade enquanto que Frederico, embora tenha inicialmente usado de esbulho, fica explícito no texto que o vício cessara, utilizando-se econômica e socialmente da propriedade de forma pacífica. Fundamento: arts 1.196, 1.204, 1.208 e 1.224, todos do CC, dentre outros possíveis. 2. Qual a natureza jurídica da posse de Frederico? Injusta (para com Donabela; art. 1.200, CC – interpretação contrário senso); de má-fé, (art. 1.201, interpretação contrário senso) útil, exclusiva, velha, natural. 3. Que direitos, inerentes à posse, possuem os trabalhadores que cultivaram o terreno? Nenhum; eles não possuem animus domini. São meros detentores, atuando em cumprimento de ordens – art. 1.198, CC 4 SITUAÇÃO 03 Francisco Tespedino, proprietário de 200 hectares de terra na cidade de Forquilha, CE, em tendo se desestimulado com a falta de recursos financeiros por parte das políticas públicas que objetivassem o desenvolvimento rural, havia já há muito tempo encerrado suas atividades econômicas na referida propriedade, tendo até se mudado para a capital do Estado, Fortaleza, vivendo de sua aposentadoria, pouco visitando sua cidade natal. Nesse ínterim, Teodósio de Freitas, que há dez anos se fixara em forquilha, originário da região do Cariri, em vendo aquelas terras sem qualquer atividade, e desconhecendo Tespedino, decidira por sua própria conta, adentrar a posse da referida propriedade, tendo nela se firmado e plantado coqueiros por quase toda a sua extensão para fins de comercialização de água de coco. Tespedino, por ocasião de sua visita à sua cidade de origem em função dos festejos da padroeira da cidade, tendo conhecimento da ocupação de sua propriedade por Teodósio, e querendo recuperar a posse da mesma resolvera ingressar na justiça com o fim de obter tal desiderato.Pergunta-se: 1. Quais as chances de Tespedino recuperar a sua posse de volta, atualmente nas mãos de Teodósio, utilizando-se de alguns dos interditos possessório? As chances são mínimas ou inexistentes tendo em vista a não configuração de posse por parte de Tespedino, deslegitimando-o a compor o polo ativo da ação. Vê-se claramente que Tespedino havia abandonado a posse. Só se recorre aos interditos possessórios quem tendo a posse a perdeu ou está na iminência de perder (ameaça) ou se sente turbado na mesma, nos termos do art. 1.210, CC. Os arts. 1.196 e 1.204, ambos do CC podem até ser usados subsidiariamente em interpretação a contrário senso. Observação: atentar para essa questão, pois existe uma diferença entre alguém que adquire originariamente a posse por meio de algum vício (exemplo: esbulho) e este se convalesce, e alguém que adquire por apropriação da coisa, sendo essa uma forma de aquisição da coisa. Neste último caso, não se apresenta nenhum vício, conforme os taxativamente mencionados no Código Civil. Isso justifica a resposta da próxima questão, com relação à classificação da posse. 2. Qual a natureza da posse de Teodósio? Justa, posto que não houve esbulho, mas simples ocupação da coisa, nos termos do art. 1.200, CC, útil e exclusiva. 5 SITUAÇÃO 04 Joviniano administra determinado imóvel de Gotardo, de quem é empregado há muitos anos, e onde morava em função desse trabalho. Um determinado dia, Gotardo demitira Joviniano por justa causa, dando-lhe um prazo, acordado por ambos, para que deixasse a propriedade, consentindo, portando, que Joviniano permanecesse no referido imóvel, enquanto não encontrasse um novo lugar para morar. Acontece que, passado esse prazo, não encontrando Joviniano onde morar, passara a assenhorear-se do imóvel onde estava, sem que Gotardo exercesse maiores pressões para forçá-lo a deixar o imóvel. O tempo passou e nesse ínterim Joviniano permanecera definitivamente na coisa como se fosse dono, tornando público tal fato. Diante do enunciado, marque a alternativa que melhor corresponda ao direito de Joviniano: a) Joviniano jamais terá direito à posse do imóvel onde mora em função da sua situação de subordinação em relação a Gotardo. b) Joviniano terá direito à posse do imóvel onde mora em função da quebra do pacto de subordinação, vindo a exercer sobre tal imóvel atos possessórios; c) Joviniano jamais terá direito à posse do imóvel onde mora em função da mera permissão de Gotardo ao deixar que ele permanecesse no imóvel por tempo determinado, não induzindo posse atos de permissão ou tolerância; d) Joviniano terá direito à posse do imóvel em função do consentimento inicial de Gotardo, servindo esse de modo derivado de transferência da posse. Resposta: b (Enunciado n. 301 do Conselho de Justiça Federal: “é possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios). Interpretação do art. 1.204, CC. Observação: atentar para todos os elementos contidos no enunciado da questão que justificam a alternativa escolhida. 6 SITUAÇÃO 05 Hélio mora no mesmo prédio de apartamentos que Flávio, sendo ambos vizinhos. Nesse prédio cada proprietário tem apenas uma garagem. Tendo Hélio dois carros e Flávio nenhum, o primeiro passou a guardar um de seus carros na garagem de Flávio, sem que este último oferecesse qualquer resistência ao fato, já que não estava usando a sua garagem. Acontece que passado mais de um ano e dia, Flávio quis retomar sua garagem, pois comprara um carro e precisava da mesma para guardar o seu carro. Ao procurar Hélio para isso, este oferecera resistência em devolver a garagem. Considerando-se apenas os conteúdos concernentes ao estudo da posse, pergunta-se: a quem cabe o direito à garagem? Justifique a resposta! Resposta: a Flávio tendo em vista a continuidade do estado de tolerância, e nada indicando ou subtendendo a ruptura com este estado. Art. 1.208, CC. SITUAÇÃO 06 José de Anchieta teve sua casa de campo, nos redores da cidade de Horizonte, CE, a qual frenquentava periodicamente, ocupada por Arimateia de Vasconcelos, por ocasião de seu (de Anchieta) afastamento excepcional por três meses, em viagem para o exterior por motivo de trabalho. Não tendo caseiro que lhe avisasse do ocorrido, enquanto estava fora, ficara sabendo do mesmo quando do retorno da viagem ao que reagiu por suas próprias forças a fim de reaver sua casa de volta, mas sem sucesso. Ao invés de procurar a Justiça para reaver sua propriedade de volta, manteve sua estratégia originária de recorrer aos seus próprios esforços, fato esse que se tornara conhecido de toda a vizinhança, mas sempre sem sucesso, tendo os embates entre os dois se prolongado por três anos. Nesse ínterim, Arimatéia investiu na propriedade, empregou trabalhadores e obteve valores financeiros das pedras que vendera extraídas do terreno em que estava a casa. De tanto se sentir incomodado por Anchieta, Arimatéia recorreu à Justiça para fazer cessar as investidas de Anchieta e proteger o estado atual em que se encontrava com a coisa. Pergunta-se: 1. Que chances Arimatéia tem na Justiça, em termos de matéria possessória, de se livrar das investidas de Anchieta para reaver sua propriedade de volta a fim de consolidar-se na coisa. Justifique sua resposta e fundamente-a. Resposta: nenhuma! A despeito do tempo decorrido (3 anos), a relação de Arimatéria com a coisa não se pacificou, assim como não houve interrupção do estado de violência, portanto, do vício, nos termos dos arts. 1.208, 1.224 CC, não se caracterizando tal relação como de posse, tutelada pelo Direito. 2. De acordo com a resposta que você deu à questão acima, que direitos ou deveres Arimatéia tem com relação aos valores financeiros obtidos com a venda das pedras que extraíra da propriedade? 7 Resposta: terá que restituir, retendo-se somente o que empreendera, como consequência dos seus próprios esforços, ou seja, as “despesas de produção e custeio relacionado aos frutos que terá que devolver”, nos termos do art. 1.216, CC) SITUAÇÃO 07 Valdomiro, aproveitando-se da ausência momentânea de Marcos, por motivo de viagem, assenhoreara-se do imóvel deste último, caracterizando-se um esbulho total, vindo Marcos a saber, por intermédio de vizinhos, acerca do ocorrido, ao que logo reagiu, por meio do desforço, no sentido de reaver a sua posse, conflito esse que se perpetua até o presente momento, oito meses depois do ocorrido. Acontece que, ausentando-se do imóvel por alguns dias, Carlos, um terceiro, se assenhoreara do referido imóvel, de forma também clandestina, para a surpresa de Valdomiro, quando tão logo retornara. PERGUNTA-SE: 1. Que direitos possessórios Valdomiro possui quanto ao imóvel em face de Carlos? Resposta: direito de reaver a posse por meio de ação de reintegração, nos termos do art. 1.210, CC. Aqui trata-se unicamente da relação entre Valdomiro e Carlos, em que Valdomiro figura como possuidor legítimo que fora esbulhado, tendo direito à posse. Observação: a relação de Valdomiro para com a coisa, quando em face de Marcos, pode ser caracterizada como posse, o que não é o caso dele (Valdomiro) em relação a Marcos, não tendo cessado o vício que macula sua relação com a coisa. 2. Que direitos possessórios Valdomiro possui em face de Marcos? Resposta: nenhum, pois não se caracterizou uma situação de posse, propriamente dita, em virtude da violência com a qualfoi obtida (o esbulho) que não cessou, nos termos do art. 1.208, CC. Aqui trata-se da relação exclusiva entre Valdomiro e Marcos, este último tendo sua posse esbulhada por aquele. Aplica-se aqui também o art. 1.224, CC, em interpretação a contrário senso. Observação feita em sala de aula: essa resposta só procede, tendo-se em conta a relação exclusiva entre Valdomiro e Marcos, antes de a posse ter sido tomada por Carlos. 3. Que direitos possessórios Marcos possui em face de ambos? Resposta: 8 Marcos em relação à Valdomiro: direito de reaver a sua posse mediante ação de reintegração de posse, nos termos do art. 1.210, CC, enquanto Valdomiro estiver com a coisa. Aplica-se aqui também o art. 1.224, CC. Marcos em relação a Carlos: Nenhum, pois Carlos não esbulhou a coisa de Marcos, e sim de Valdomiro. Não poderá, portanto, figurar no polo passivo de uma ação de reintegração de posse, como nos termos do art. 1.210, CC em interpretação a contrário sendo. Aplica-se aqui também o art. 1.212, CC, em interpretação a contrário senso É claro que se Marcos for proprietário legítimo da coisa a poderá reaver de quem que a tenha injustamente, mediante ação de reivindicação, coisa que só estudaremos posteriormente, o que não é o caso. 4. Classifique a posse de Valdomiro em relação a Marcos e a Carlos. Resposta: Em relação a Marcos: à rigor, Valdomiro em relação a Marcos não possui posse, no sentido de poder ser defendida por qualquer dos interditos possessórios (posse útil): art. 1.196, CC, em interpretação a contrário senso. Outros artigos são possíveis, em interpretação a contrário senso. Em relação a Carlos: justa (art. 1200, CC), pelas razões acima explicitadas, e considerando-se exclusivamente a relação entre ambos. SITUAÇÃO 08 Antônio, depois de peregrinar com sua família pelo interior do Ceará, não tendo lugar para morar, ocupou uma porção de terra na cidade de Massapê, CE, sem que soubesse que a referida propriedade tivesse dono. Após quatro anos instalado nessa propriedade, ocasião em que investira na terra plantando diversas árvores frutíferas e cereais, bem como criado animais para o sustento de sua família, Antonio, para sua surpresa, recebeu a visita de Juarez, empregado de Tobias, seu patrão, dizendo que essas terras em que ele e sua família estavam pertenciam ao seu patrão (Tobias), e que estavam sob o seus (de Juarez) cuidados, de forma que eles teriam que deixá-la urgente, ameaçando entrar na Justiça caso não o fizesse. Como Antônio se recusou a deixar a propriedade, Juarez, a quem Tobias havia mesmo, na condição de empregado, encarregado os cuidados para com a propriedade, de fato cumpriu a ameaça e ingressou na Justiça com ação de reintegração de posse para retomar a propriedade de volta a fim de devolvê- la para o seu patrão. Levando-se em conta apenas o que está posto no enunciado, e o que pode ser inferido por dedução indubitável, bem como o tema posse, PERGUNTA-SE: 1. Quais as chances de Antônio e sua família permanecerem na coisa (na propriedade)? 2. Que diferença faria à relação de Antônio com a coisa, caso soubesse que as terras que ele ocupou pertenciam mesmo a Tobias? 3. Como você classificaria a relação de Antônio com a coisa (a propriedade), segundo o enunciado da questão? 4. Que chances Juarez tem na Justiça de reaver a coisa (a propriedade) de volta a fim de entregá-la para o seu patrão, agindo como o fez? 9 Respostas 1. Quais as chances de Antônio e sua família permanecerem na coisa (na propriedade)? Chances boas, pelas seguintes razões: a relação de Antônio com a coisa é de posse, e, portanto, protegida pelo direito, nos termos do art. 196, do Código Civil, servindo também o art. 1.204 (este último, opcional) com todas as características constantes no enunciado. Ainda mais, poderia alegar em sua defesa na ação ingressada por Juarez, de que este não é parte legítima para assim o ter feito, bem como de que não o tinha interesse jurídico para o fazer, nos termos do art. 1.210, CC (interpretação a contrário senso), visto que não se tratava de nenhum caso constante neste artigo (1.210, CC). O art. 1.223, CC pode também ser utilizado em desfavor da pretensão de Tobias. 2. Que diferença faria à relação de Antônio com a coisa, caso soubesse que as terras que ele ocupou pertenciam mesmo a Tobias? Ao invés de mera ocupação da coisa (à exemplo de aparente coisa sem dono), teria havido esbulho (ainda que esbulho clandestino). Portanto, a existência de um vício na origem, nos termos do art. 1.200 (interpretação a contrário senso). Mas, pelo tempo com que ficou com a coisa (4 anos), e os investimentos que fez nela, poderia ainda pretender defender a posse, nos termos do art. 1.196 e 1.208, CC, alegando tempo prolongado, bem como pacificação e uso econômico da coisa, cessação do vício e o descaso do proprietário, nos termos do art. 1.223, CC. Aplicam-se ainda os arts. 1.201 (posse de má-fé), em virtude do conhecimento do vício; 1.204, CC, em se abordando a questão. ESCLARECIENTO ADICIONAL: O enunciado da questão não me fornece elementos indubitáveis para saber quando Tobias teve notícia de que sua propriedade foi ocupada, daí não se aplicar o art. 1.224, CC, apenas o art. 1.223, CC, por se poder presumir ter o poder sobre a coisa cessado. 3. Como você classificaria a relação de Antônio com a coisa (a propriedade), segundo o enunciado da questão? De posse justa, nos termos do art. 1.200, CC, em função da inexistência de vício. Pode-se acrescentar, ainda, a seguinte classificação: posse ad interdicta, formal ou autônoma, exclusiva, velha, natural. 4. Que chances Juarez tem na Justiça de reaver a coisa (a propriedade) de volta a fim de entregá-la para o seu patrão, agindo como o fez? Nenhuma, tendo-se como principal argumento Juarez não ser parte ativa legítima para ingressar com alguma das ações possessórias, nos termos do art. 1.210, CC, sendo mero detentor, nos termos do art. 1.198, CC, ainda mais que somente aquele que tendo perdido a posse (nos casos de turbação, esbulho e ameaça) poderá pretender requerê-la, nos termos do art. 1.210, CC, o que não é o caso, visto ser Antônio que figura como possuidor, servindo subsidiariamente como fundamento os arts. 1.196 e 1.204, ambos do CC. 10 A questão requeria pelo menos duas coisas: suscitar o problema da legitimidade de Juarez e a não condição de possuidor por parte de Tobias. Somente quem perdeu a posse para outrem é que pode ingressar com alguns dos interditos possessórios em face de quem tomou a posse.