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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR: BREVE ANÁLISE ACERCA DOS PROCEDIMENTOS POLICIAIS INSTITUÍDOS PELA LEI MARIA DA PENHA PRISCILLA FERNANDES DE ARAÚJO COELHO Esta monografia está apta a ser apresentada em banca. Itajaí, ....... de outubro de 2017. ____________________________ Jonathan Cardoso Régis Prof. Dr. Orientador Itajaí, outubro de 2017 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CURSO DE DIREITO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR: BREVE ANÁLISE ACERCA DOS PROCEDIMENTOS POLICIAIS INSTITUÍDOS PELA LEI MARIA DA PENHA PRISCILLA FERNANDES DE ARAÚJO COELHO Trabalho de Conclusão de Curso de Direito submetido à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Direito. Orientador: Professor Dr. Jonathan Cardoso Régis. Itajaí, outubro de 2017 AGRADECIMENTO A Deus, razão da minha existência e meu sustento; Aos meus Pais, Ivan e Valdenora, por todo apoio que me deram ao logo desses anos; Ao meu Marido, Arlen Coelho, pelo suporte e por aguentar o distanciamento momentâneo; Aos amores da minha vida, Daniel Yakir e Anne Gabriele, meus filhos amados que, apesar da falta me incentivaram todos os dias, pois sabiam da importância deste momento para todos nós; A minha querida sogra, Vilse Coelho, pelo apoio e orações; Aos meus irmãos Junior e Isaac, por todo amor e carinho; Ao meu querido orientador, Professor Doutor Jonathan Régis, por toda atenção dispensada; A todos os familiares e meus amigos que de alguma forma contribuíram para a conclusão desta etapa. DEDICATÓRIA Aos Meus Filhos, Daniel Yakir e Anne Gabriele, razão do meu viver e de todo esforço até aqui dispendidos. TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, outubro de 2017 Priscilla Fernandes de Araújo Coelho Graduando(a) PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Priscilla Fernandes de Araújo Coelho, sob o título “Violência Doméstica e Familiar: Breve Análise Acerca Dos Procedimentos Policiais Instituídos Pela Lei Maria Da Penha”, foi submetida em 07 de novembro de 2017, à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Prof. Dr. Jonathan Cardoso Régis, Presidente da Banca e Orientador e Prof. MSc. Ester Dorcas Ferreira dos Anjos, Examinadora, tendo sido Aprovada. Itajaí, 07 de novembro de 2017 Prof. Dr. Jonathan Cardoso Régis Orientador e Presidente da Banca Prof. MSc. José Artur Martins Coordenação da Monografia SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................................. 09 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10 CAPÍTULOO1 ESTUDO DA LEI MARIA DA PENHA................................................................. 14 1.1 BREVE HISTÓRICO DA LEI 11.340/06......................................................... 15 1.2 CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.................................................... 1.2.1 A violência como demonstração de poder.................................................. 1.2.2 A violência doméstica como Direito Humano............................................. 1.3 FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA...................................................... 1.3.1 Violência Física.......................................................................................... 1.3.2 Violência Psicológica.................................................................................. 1.3.3 Violência Sexual......................................................................................... 1.3.4 Violência Patrimonial.................................................................................. 1.3.5 Violência Moral........................................................................................ CAPÍTULOO2 PREVISÕES DA LEI MARIA DA PENHA E O AFASTAMENTO DA LEI 9.099/95............................................................................................................ 2.1 SUJEITO ATIVO E PASSIVO..................................................................... 2.2 ÂMBITOS E RELAÇÕES DE PROTEÇÃO................................................. 2.2.1. No âmbito da unidade doméstica............................................................ 2.2.2. No âmbito da família............................................................................... 2.2.3. Em qualquer relação íntima de afeto....................................................... 2.3 QUESTÕES POLÊMICAS SOBRE A LEI................................................................. 2.3.1 O afastamento da lei 9.099/95 em casos que envolvam violência doméstica ou familiar......................................................................................... 2.3.2 Conflito entre a Lei Maria da Penha e a suspensão condicional do processo e a disponibilidade da Ação Penal pela vítima....................................................... CAPÍTULOO3 A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NOS PROCEDIMENTOS POLICIAIS E A REDE CATARINA DE PROTEÇÃO À MULHER....................... 3.1 A JUSTIÇA E O PODER JUDICIÁRIO FRENTE A LEI MARIA DA PENHA... 3.2 A ATIVIDADE POLICIAL CIVIL E MILITAR SOB OS PARÂMETROS DA LEI MARIA DA PENHA...................................................................................... 3.2.1 A Garantia da proteção policial................................................................. 3.2.2 O encaminhamento da ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal........................................................................................... 3.2.3. Do fornecimento de transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida............................................ 3.2.4 Da possibilidade, se necessário, do acompanhamento a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar.................................................................................................................. 3.2.5 Da Informação à ofendida sobre os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.............................................................................................. 18 20 2225 26 28 29 31 32 35 36 41 43 44 46 48 52 55 59 60 63 65 67 68 70 71 3.3 REDE CATARINA DE PROTEÇÃO À MULHER.......................................... 3.4 A EXTERIORIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA JUNTO A POLÍCIA JUDICIÁRIA....................................................................................................... 3.4.1 Das medidas de proteção de urgência........................................................ CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. REFERÊNCIAS DA FONTES CITADAS.............................................................. 72 78 81 86 91 RESUMO O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de estudar os procedimentos policiais instituídos pela Lei Maria da Penha. Buscando fazer um apanhado do histórico da Lei Maria da Penha, bem como seu surgimento, o motivo da referida Lei receber o seu conhecido nome, e o caminho percorrido para a instituição da Lei. Para uma melhor compreensão da matéria, estudaram-se as diversas doutrinas, algumas jurisprudências que tratam da matéria. Fez-se ainda uma abordagem sobre as diversas formas de violências, e os pré-requisitos para a aplicação da referida Lei. Buscou-se examinar finalmente os procedimentos policiais instituídos pela Lei Maria da Penha, onde, verificou-se também seus pontos mais relevantes e importantes, inclusive fora feita uma análise sucinta sobre a Rede Catarina de proteção à mulher. Para encetar a investigação foi utilizado o método indutivo a ser operacionalizado com as técnicas do referente, das categorias, dos conceitos operacionais e da pesquisa de fontes documentais, resultando em uma fonte de pesquisa para os operadores do Direito. Palavras-chave: Violência Doméstica. Medidas Protetivas. Procedimentos Policiais. INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto a “Violência doméstica e familiar: Uma breve análise sobre os procedimentos policiais instituídos pela Lei Maria da Penha”. O seu objetivo institucional, produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; geral, analisar os procedimentos policiais instituídos pela Lei Maria da Penha; verificar os desdobramentos da tomada dos procedimentos e seu efetivo emprego, como também o apoio e integralização dentre os institutos responsáveis; específicos, estudar o histórico da Lei Maria da Penha; compreender as previsões trazidas pela Lei Maria da Penha; e ainda, analisar os procedimentos policiais instituídos pela Lei Maria da Penha e verificar a atuação policial da Polícia Militar, tendo como modelo a Rede Catarina de Proteção à mulher. Destaque-se ainda quanto a abordagem das especificidades da Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida por Lei Maria da Penha, quanto a sua eficácia em coibir a violência familiar e doméstica sofrida diariamente por mulheres em todo o Brasil, em relação aos procedimentos adotados pela Polícia, neste caso, especialmente, a Militar. Busca-se avizinhar-se um referente quanto as formas de violência doméstica e familiar, suas especificidades e requisitos para a aplicação da Lei, bem como traçar o caminho realizado por essas mulheres vítimas de violência familiar, observando também a atuação Polícia, no que se encontra a Rede Catarina de Proteção à mulher no encaminhamento das vítimas ao atendimento psicológico, medidas protetivas impostas pela Lei Maria da Penha, como também a atuação do Poder Judiciário. A temática aqui escolhida, se deu pelo entendimento que quanto mais se fale sobre a violência intralares, mais ainda é preciso contribuições acadêmicas, para a compreensão de que a situação em todo território Nacional 11 ainda é endêmica. Falar sobre este assunto é derrubar obstáculos situados no preconceito e na discriminação. Os problemas da pesquisa, estabelecido em razão do objetivo investigatório inicialmente traçado, foram os seguintes: a) A criação da Lei Maria da Penha alcançou seu propósito de coibir a violência doméstica e familiar, promovendo atitudes por parte da Polícia e do Poder Judiciário, ao determinar o posicionamento institucionais em questões de envolvimento privado e de gênero? b) Os mecanismos efetivos para aplicação da medidas de proteção cabíveis nos Procedimentos da Lei Maria da Penha tem sido aplicados? Diante do problema formulado, foram atentadas as seguintes hipóteses: a) Com base na legislação vigente, doutrina e jurisprudência, a criação da Lei Maria da Penha não coibiu a violência doméstica e familiar, uma vez que, é necessário uma resposta de todos os institutos, no quais citam-se Polícia e Poder Judiciário, para que os mecanismos que garantem a aplicação das medidas de proteção a mulher sejam feitas de forma eficaz. b) Conforme doutrinas e na busca por material sobre o procedimento policial instituído pela Lei Maria da Penha, no que tange ao primeiro atendimento realizado pela Polícia tem se notado a criação de programas que atuam no amparo a vítima, realizada pela autoridade policial e, nos desdobramentos dos procedimentos que devem ser tomados, no que diz respeito ao Poder Judiciário também é possível notar-se a busca pela aplicação da Lei Maria da Penha, apesar de ainda haver sentenças abrandadas e com a utilização da Lei 9.099/95. Diante disto, para a garantia da aplicação das medidas de proteção da referida Lei é preciso um entendimento integralizado entre os institutos. 12 Desta forma, visando buscar a confirmação ou não das hipóteses, o trabalho foi dividido em três capítulos: Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do estudo da Lei Maria da Penha, seu histórico como marco na legislação brasileira no combate a violência de gênero. Onde analisa-se as formas de violência abrangidas pela referida Lei. Neste Capítulo são verificadas algumas considerações em relação a evolução histórica da Lei Maria da penha. Na sequência é estudado os conceitos de violência doméstica, apresentando violência como demonstração de poder e como também como direito humano, no que diz respeito ao poder que uma pessoa exerce sobre a outra em uma relação e na busca pela igualdade, liberdade solidariedade e fraternidade. No Capítulo 2, trata dos aspectos relacionadas quanto às previsões para a aplicação da Lei Maria da Penha, onde são verificadas algumas considerações sobre os sujeitos que poderão sofrer com tal aplicação. Na sequência é estudado os âmbitos e ralações de proteção exigidas em Lei como requisito para o emprego da referida Lei. Neste capítulo estuda-se, ainda, o afastamento da Lei 9.099/95 em casos que envolvam a violência doméstica e familiar, como também o conflito entre a Lei Maria da Penha a suspensão condicional do processo como um dos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, e a disponibilidade da ação penal pela vítima. O Capítulo 3, o tema abordado é a aplicabilidade da Lei Maria da penha nos procedimentos policiais e a Rede Catarina de proteção à mulher, para tanto, são feitas considerações sobre o artigo 11 da Lei Maria da Penha (11.340/06) que, institui as providências a serem tomadas pela autoridade policial no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, objetivo desta pesquisa. Após isso, estuda-se, o artigo 12 da referida Lei, que exterioriza os procedimentos que devem ser tomados após as providências realizadas de imediato pela Polícia. 13 Neste capítulo é verificada também, uma breve consideraçãosobrea Rede Catarina de Proteção à Mulher, programa institucional criado pela Polícia Militar de Santa Catarina. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões acerca do tema aqui proposto. Destaca-se que as categorias serão demonstradas no transcorrer da presente pesquisa. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo1, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano2, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa foram acionadas as Técnicas, do Referente3, da Categoria4, do Conceito Operacional5 e da Pesquisa Bibliográfica6. 1 “[...] base lógica da dinâmica da Pesquisa Científica que consiste em pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 238) 2 “[...] base lógico-comportamental proposta por Descartes, muito apropriada para a fase de Tratamento dos Dados Colhidos, e que pode ser sintetizada em quatro regras: 1. duvidar; 2. decompor; 3. ordenar; 4. classificar e revisar.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 237) 3 “[...] explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 241) 4 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 229) 5 “[...] definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 229) 6 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 240) Capítulo 1 ESTUDO DA LEI MARIA DA PENHA A formação do entendimento de que, quanto mais se fale sobre a violência intralares, mais ainda é preciso contribuições acadêmicas, para a compreensão de que a situação em todo território Nacional ainda é endêmica. Falar sobre este assunto é derrubar obstáculos situados no preconceito e na discriminação. O intuito deste trabalho não é o de esgotar a matéria abordada, mas de construir reflexões serenas e técnicas sobre a Lei 11.340/2006. Nisto posto, se deu a abordagem deste capítulo para uma pré- constituição de inferências, para que adiante, no decorrer deste trabalho, se constitua de fato o ponto de vista sobre a violência doméstica e familiar. Aqui serão apresentados, de forma breve, os requisitos para a aplicação da lei maria da penha, as formas de violência descritas no âmbito da referida lei objeto de estudo deste trabalho, trazendo aspectos conceituais, doutrinários e jurisprudenciais na caracterização/definição quanto aos âmbitos passiveis de caracterização de violência doméstica, e o propósito em que a lei se dá, na tentativa de erradicar o que se vê está enraizado na essência humana, de acordo com lima7: A violência é um fenômeno extremamente complexo que aprofunda suas raízes na interação de muitos fatores biológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos cuja definição não pode ter exatidão cientifica, já que é uma questão de apreciação. 7 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência doméstica. São Paulo: Atlas, 2009 15 Portanto, começaremos com um breve histórico da lei 11.340/06, com a finalidade de entendermos como se deu o caminho percorrido para o surgimento da referida lei, a pessoa que iniciou o processo internacional com busca de amparo legal, não existente até então na legislação brasileira, acabando por ter seu nome associado a Lei 11.340, como reconhecimento por seus esforços na tentativa de dar a mulher um respaldo legal para coibir violência doméstica e familiar. 1.1 BREVE HISTÓRICO DA LEI 11.340/06 Dentro do longo histórico em que se contextualiza a violência, onde um dos fatos é a demonstração de poder, pois o homem se baseava na força física para se destacar e assim subjugar os mais fracos, tornando-os submissos, principalmente em pequenos agrupamentos durante o nascimento da sociedade primitiva, o objetivo era ter primícias de alimentos em relação aos outros seres inferiores. É possível encontrar a violência doméstica e familiar como modo de correção de maridos a suas esposas, ou até mesmo de defesa da honra.8 Conhecida como Lei Maria da Penha9, a Lei 11.340/06, ganhou este nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de violência doméstica e familiar, e por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. Segundo Fonseca10, Maria da Penha é biofarmacêutica cearense, que foi casada com Marco Antonio Herredia Viveros, que era professor universitário a época dos fatos. Ainda segundo Fonseca, em 1983 ela sofreu a primeira tentativa de 8 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. Tribuna hoje. Disponível em: <http://www.tribunahoje.com/blog/12776/carlos-martins/2016/01/03/violencia-o-instrumento-do- poder.html >. Acesso em: 22 maio 2017. 9 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. 3. ed. Ver. Atual e de acordo com a ADI 4424. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2014. 10 FONSECA, Paula Schiavini da. Histórico da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 20 nov. 2010. Disponível em:<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29638&seo=1>. Acesso em: 26 maio 2017. 16 assassinato, quando levou um tiro nas costas enquanto dormia. Na ocasião Viveros foi encontrado na cozinha, gritando por socorro, alegando que tinham sido atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu paraplégica. Alguns meses depois aconteceria segunda tentativa de homicídio, quando Viveros empurrou Maria da Penha da cadeira de rodas e tentou eletrocutá-la no chuveiro. Conforme histórico encontrado sobre a Lei Maria Da Penha11, conta em seu relato que: Apesar da investigação ter começado em junho do mesmo ano, a denúncia só foi apresentada ao Ministério Público Estadual em setembro do ano seguinte e o primeiro julgamento só aconteceu 8 anos após os crimes. Em 1991, os advogados de Viveros conseguiram anular o julgamento. Já em 1996, Viveros foi julgado culpado e condenado há dez anos de reclusão mas conseguiu recorrer. Após 15 anos, o caso ainda não havia sido resolvido pela justiça brasileira12. Maria da Penha contou com a ajuda de ONGs, conseguindo assim, enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos estados Americanos (OEA), que, pela primeira vez, acabou por acatar uma denúncia de violência doméstica13. Segundo Lima14: Peticionou junto à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos EstadosAmericanos (OEA), utilizando-se da exceção do artigo 46, inciso 2, c, da Convenção Americana, o qual reza que haverá admissibilidade da petição se a jurisdição interna apresentar atraso injustificado. A regra para que a vítima peticione ao Tribunal Internacional é o esgotamento das vias internas. 11 OBSERVE - Observatório da Lei Maria da Penha, Monitoramento da Lei Maria da Penha. Lei Maria da Penha - Histórico. Salvador: Observe. 2010. Disponível em: <http://www.observe.ufba.br/home > . Acesso em: 20 de maio 2017. 12 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. São Paulo. Editora: Revistas dos Tribunais, 2015. p.309. 13 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.309. 14 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência doméstica. Breve Histórico Lei Maria da Penha. p. 61. . 17 Maria da Penha usou em sua petição os artigos 1º, 24 e 25 da Declaração Americana dos Direitos do Homem, bem como os artigos 3, 4, a, b, c, d, e f, g, 5 e 7 da Convenção de Belém do Pará. O agressor de Maria da Penha só foi preso em 2002, para cumprir apenas dois anos de prisão.15 De acordo com Lopes16 , o processo da OEA também condenou o Brasil por negligência e omissão em relação à violência doméstica e continua coma sua fala sobre a condenação dizendo que: Uma das punições foi a recomendações para que fosse criada uma legislação adequada a esse tipo de violência. E esta foi a sementinha para a criação da lei. Um conjunto de entidades então reuniu-se para definir um anteprojeto de lei definindo formas de violência doméstica e familiar contra as mulheres e estabelecendo mecanismos para prevenir e reduzir este tipo de violência, como também prestar assistência às vítimas. Em setembro de 2006 a lei 11.340/06 finalmente entra em vigor, fazendo com que a violência contra a mulher deixe de ser tratada com um crime de menor potencial ofensivo. 17 Dessa forma, é possível compreender que, a lei não comtempla infrações penais, não tipifica nenhum crime, ela trata de mais proteção para a mulher e mais severidade para o autor da infração penal que recaia sobre a mulher, também acaba com as penas pagas em cestas básicas ou multas, além de englobar, além da violência física e sexual, a violência psicológica, a violência patrimonial e o assédio moral. 15 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 09 16 LOPES, Camila Ciriaco. Lei Maria da Penha e sua mudança para ação penal pública incondicionada. Disponível em: < https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=12172 >. Acesso em 10 junho 2017. 17 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência doméstica. São Paulo: Atlas, 2009. p.61 18 1.2 CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)18 que, publicou o resultado de estudo no “Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde” realizado no ano de 2002 e, no qual definiu a violência como: [...] uso da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. A violência doméstica e familiar jamais deverá ser ignorada, não importando a forma que seja. Trata-se de algo que envolve saúde física e mental de uma pessoa, uma mulher. A violência é uma questão de saúde pública. Há uma institucionalização da violência que é conhecida de acordo com Moreno19 que diz que: A Violência Institucional é qualquer ato constrangedor, fala inapropriada ou omissão de atendimento realizado por agentes de órgãos públicos prestadores de serviços que deveriam proteger as vítimas dos outros tipos de violência e reparar as consequências por eles causadas. Deste modo, conforme o artigo 5º, da Lei 11.340/06, é possível definir violência doméstica e familiar como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.20 18 KRUG, Etienne G. et al. Relatório mundial sobre violência e saúde. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 2002. ISBN 92 4 154561 5 (Classificação NLM: HV 6625). Disponível em: <https://www.opas.org.br/relatorio-mundial-sobre-violencia-e-saude/>. Acesso em: 18 Ago. 2017. 19 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. DireitoNet. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8757/A-eficacia-da-Lei-Maria-da-Penha >. Acesso em: 14 Jun. 2017. 20 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 09. 19 Assim como a transcrição a seguir 21: Artigo 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral: I – No âmbito da unidade doméstica, compreendida como espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II – No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independente de coabitação. Os aspectos tratados pela referida lei, são voltados à possibilidade de que os agressores sejam punidos por seus atos de violência, físicos e/ou psicológicos, contra à mulher no ambiente doméstico e familiar, com a aplicação de prisões em flagrante ou de decretação de prisão preventiva. No que diz respeito ao caráter preventivo e protetivo da lei, busca dar assistência as mulheres vitimadas por seus companheiros.22 No artigo 7º da Lei 11.340/200623 diz que: A violência e suas formas são perpetradas nos lares ou nas unidades domésticas, geralmente por um membro da família que viva com a vítima, podendo ser esta um homem ou mulher, criança ou adolescente ou adulto, como é o caso da violência Conjugal que se dá entre cônjuges, companheiros, podendo incluir outras relações interpessoais, como noivos, namorados. (Artigo 7º da Lei nº 11.340/2006) Sendo assim, a violência doméstica envolve diversos fatores que contribuem para as estatísticas negativas, ocorrências vivenciadas por mulheres em todo Brasil e no mundo inteiro, uma forma de controlar a mulher em 21 BRASIL. Lei nº 11.340/2006, de 7 de agosto de 2006. p. 02 22 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. p.02. 23 BRASIL. Lei nº 11.340/2006, de 7 de agosto de 2006. p. 02 20 situação de fragilidade, e é assim que se dará o próximo ponto que revela a violência doméstica como demonstração de poder. 1.2.1 A violência como demonstração de poder Segundo Martins24, em algumas obras encontramos o poder e a força como sinônimos entre si, principalmente em situações de violência doméstica, onde a violência é corroborada pelo poder que uma pessoa exerce sobre a outra dentro de uma relação. Há também, uma grande parcela de obras e autores que atribuem a violência de gênero, e também a violência doméstica e familiar, ao sistema patriarcal, como é o caso de Presser25, que neste entendimento disciplina:Violência de gênero é o conceito mais amplo, envolvendo vítimas como mulheres, crianças e adolescentes de ambos os sexos. Sabe-se que no exercício da função patriarcal, os homens detêm o poder de determinar a conduta das categorias sociais nomeadas, recebendo autorização ou, pelo menos, tolerância da sociedade para punir o que se lhes apresenta como desvio. Essa relação de poder e força estão comumente ligadas e encontraram outra denominação em tempos atuais, como alude Martins26: A constituição do conceito de violência passa pela relação entre poder e dominação constituindo um outro conceito muito conhecido nos dias atuais, a autoridade. De forma que violência e poder é entendido por alguns autores como sinônimos. 24 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. p. 01. 25 PRESSER, Tiago. A violência doméstica. Direito Net. Publicação de 12 de agosto de 2014. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8560/A-violencia-domestica>. Acesso em: 15 Mar. 2017. 26 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. p. 01. 21 Desta forma, deve-se levar em consideração que nos tempos atuais o ato de violência pode ser traduzido a uma ação de uma pessoa que, produz o sofrimento há uma outra. Podendo ser apresentado de várias formas, o sofrimento, se configura em: objetivo ou subjetivo, físico ou psicológico, concreto ou simbólico. Há ainda, segundo Martins27, uma outra forma se produzir o sofrimento, o qual seja, “se dá de forma institucional quando determinados grupos que apresentam necessidades sociais específicas não são assistidos pelo poder público como uma clara forma do não reconhecimento a esses segmentos”. Em todo conteúdo buscado essa relação de autoridade sobre o outro está relacionado a violência doméstica e familiar, restando demonstrado que, subjugar ao outro, seja em condições de necessidade de sobrevivência ou de dependência e carência emocional, está ligado a história da humanidade essa necessidade da demonstração do cumprimento do papel que fora imposto a mulher, onde em sua maioria de vezes o homem configura como provedor e a mulher por outro lado é socialmente obrigada a estar direcionada a cuidar da casa e de seus filhos.28 A violência doméstica contra a mulher é comprovada, não somente por estudos e estatísticas, como também pela simples observação das atividades policiais, onde é ocupado um significativo espaço. Heise citado pelo Ministério da saúde29 diz que, “ De acordo com Estudos realizados em vários países demonstram a ocorrência de violência de maridos e companheiros contra suas esposas, em um dentre cada quatro casais”. O Ministério da Saúde30, cita dados que podem dimensionar a proporção dos casos que efetivamente são registrados como ocorrência, e com 27 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. p. 02. 28 NASCIMENTO, Luana Regina Ferreira do. Aplicação da Lei Maria da Penha: um estudo sobre estereótipos de gênero no Judiciário. 2012. 83 f., il. Dissertação (Mestrado em Política Social)— Universidade de Brasília, Brasília, 2012.. p. 39. Disponível em: < http://repositorio.unb.br/handle/10482/12547>. Acesso em: 21 Ago. 2017 29 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço / Secretaria de Políticas de Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. Disponível em: < bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf> . Acesso em: 20 maio 2017 30 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço / Secretaria de Políticas de Saúde. p. 01. 22 base nesses dados, pode-se afirmar que a violência nas relações de casal é tão significativa que assume caráter endêmico: Para dimensionar o problema no Brasil, contamos com dados que, embora não sistemáticos, permitem uma visão panorâmica da questão. São relevantes os estudos do Grupo Parlamentar Interamericano sobre População e Desenvolvimento (ONU, 1992), mostrando a ocorrência de mais de 205 mil agressões no período de um ano, segundo informações colhidas nas Delegacias da Mulher. Estas mesmas Delegacias, em 1993, registraram 11 mil estupros em doze grandes cidades brasileiras e uma agressão à mulher a cada 4 minutos. Pesquisa realizada pela FIBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1989, demonstra que 63% das vítimas de violência no espaço doméstico são mulheres e que, destas, 43,6% têm entre 18 e 29 anos; e outros 38,4%, entre 30 e 49 anos. Em 70% dos casos, os agressores são os próprios maridos ou companheiros. Portanto, nesta linha de raciocínio, e por causa deste caráter endêmico que a violência nas relações de casal assume que, a OEA (Organização dos Estados Americanos) acabou por condenar o Brasil, pelo descumprimento de convenções31 em que o País é signatário, suscitando a questão da importância de se tratar a prevenção e erradicação da violência doméstica e familiar, como um direito fundamental, um direito Humano, o que será abordado a seguir, na redefinição das fronteiras entre o espaço público e a esfera privada. 1.2.2 A violência doméstica como Direito Humano A violência doméstica e familiar, vai muito além de uma questão tratada apenas pelo Direito Penal, ocupa significativo espaço para ser tratada no âmbito da saúde da mulher, na assistência a família, no combate a qualquer tipo de discriminação contra a mulher e todas as formas de desigualdade de gênero. Seguindo esta linha, com base na Constituição Federal/8832, em seu 31 A Convenção Americana de Direitos Humanos e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra Mulher, conhecida como Convenção de Belém, aprovada em 1993. 32 BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. 23 artigo 226 § 8º33, revela a necessidade que existe em se haver políticas públicas que possam coibir e erradicar a violência doméstica, principalmente em relação dos integrantes com maior fragilidade dentro da estrutura familiar. 34 É possível transportar a garantia da saúde da mulher, a garantia de sua integridade como um direito fundamental, sendo assim, traduzindo-se na prevenção da violência doméstica e familiar, na busca pela igualdade de gênero, em um direito humano basilar35. Woloszyn36, faz uma análise mais ampla deste contexto, considerando diversos aspectos, e fazendo estimativas sobre o assunto, como: Considerando aspectos como urbanização, crescimento demográfico e índice de desenvolvimento humano (IDH), o cenário é verdadeiramente sinistro e mostra claramente uma tendência de recrudescimento no comportamento criminal para os próximos anos, o que já havíamos estimado. Até o final desta década, poderemos vir a ser o país mais violento do mundo, segundo estudos de organizações internacionais. Na edição de 2013 da Revista norte americana, Forerig Policy, que divulga o ranking dos ditos Estados falidos ou fracassados, após analisados critérios como densidade populacional, crise econômica, falta de infraestrutura dos serviços públicos, violência do aparelho de segurança estatal e violação aos direitos humanos, o Brasil ocupa a 113ª posição dentre 177 países avaliados. Poderíamos considerar um alerta. Com relação ao direito da mulher com relação à saúde, Sallet apud Curi 37 esclarece: 33 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 8º O Estadoassegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 34 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 17. 35 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 18. 36 WOLOSZYN, André Luís. A Violência Endêmica e os Direitos Humanos No Brasil. Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/pensamento/noticia/14977/a-violencia-endemica-e- os-direitos-humanos--no-brasil--/>. Acesso em: 18 Ago. 2017. 37 CURI , Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma análise no âmbito da comarca de Uberlândia. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago 2011. Disponívelem:<http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php/abrebanner.php?N_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10045&rev ista_caderno=27>. Acesso em: 17 Set. 2017. 24 O exercício pleno de todas as potencialidades da mulher repercute positivamente em toda a sociedade. O inverso também é verdadeiro. Quando direitos fundamentais da mulher não são assegurados adequadamente, todos sofrem com suas consequências negativas. O progresso de uma sociedade depende do progresso de cada um de seus pares, homem ou mulher. É preciso deixar claro que todas as medidas de proteção à maternidade são reconhecidas no mundo todo como investimento social e econômico. A promoção da saúde da mulher não significa apenas uma simples melhoria de saúde individual, mas uma medida que causa profundas repercussões sociais: estão em jogo a saúde e a sobrevivência das famílias e, em última instância, a força de trabalho e o bem-estar de comunidades e países inteiros. Ainda de acordo com Curi38, é preciso que se faça um combate à “discriminação e a seguridade dos direitos da mulher não é medida que favorece apenas a um gênero, mas todo o país”. A potencialidade de contribuição da mulher para o progresso do País, não são levadas em conta, fazendo com que a mulher seja discriminada, não havendo igualdade na s oportunidades. Pra Curi39, “Não permitir sua participação no âmbito social da mesma forma que o homem é prejudicar toda a sociedade, que deixa de receber suas salutares contribuições”. Piovesan apud Curi40, parte-se, destarte, de que à violência doméstica, gera um prejuízo de ordem emocional tanto da mulher, como nos filhos e na família, podendo-se somar ao prejuízo financeiro causado pela violência doméstica. “Em conformidade com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), uma em cada cinco mulheres que faltam ao trabalho o faz por ter sofrido agressão física”.41 O reconhecimento de direitos apenas no plano legal não é efetivamente eficaz. É preciso investigar a questão da efetividade. O exercício pleno da igualdade nas relações de gênero e a erradicação da discriminação contra 38 CURI, Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma análise no âmbito da comarca de Uberlândia. p. 04. 39 CURI, Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma análise no âmbito da comarca de Uberlândia. p. 03. 40 CURI, Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma análise no âmbito da comarca de Uberlândia. p. 03. 41 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. P. 191. 25 a mulher deve ser um objetivo de toda a sociedade, uma vez que a mesma é direta e negativamente atingida quando os direitos da mulher são desrespeitados ou negligenciados.42 Desta forma, a seguir, de maneira não a esgotar a matéria, busca-se trazer aspectos conceituais, doutrinários e jurisprudenciais na caracterização/ definição, quanto as formas passiveis de tipificação de violência doméstica. 1.3 FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA A Lei Maria da Penha engloba em seu conteúdo a expressão violência doméstica e familiar, não sendo necessário a conjunção adjetiva “e”, pois pode expressar que há necessário violência em ambos os ambientes. O Art. 5º da mencionada Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, prevendo assim, 5 (cinco) espécies de violência contra a mulher, discorridas em seus incisos seguintes da Lei Maria da Penha.43 Porto44 disciplina que, “somente será violência doméstica ou familiar contra a mulher aquela que constitua algumas das formas dos incisos do art. 7º, cometida em qualquer das situações do art. 5º”. 42 SILVA, Sérgio Gomes da. Preconceito e discriminação. As bases da violência contra a mulher. Artigo. Psicol. cienc. prof. vol.30. no.3, Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000300009>. Acesso em: 20 Maio 2017 43 CAPANO, Evandro Fabiani. Legislação Penal Especial. p. 314. 44 PORTO, Pedro Rui de Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06 análise critica e sistêmica. A formas de violência doméstica e familiar contra a mulher e os âmbitos e relações de proteção. p. 32. 26 Capano45, apresenta que as formas de violência trazidas na Lei Maria da Penha como um dos núcleos do conceito de violência doméstica e familiar, “circunscreve as ações com potencialidade de morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral e patrimonial”. É de relevância ainda, o que foi dito por Lima46, que disse: Vale ressaltar que deve interpretar violência doméstica e familiar de forma restritiva, tendo em vista que, por sua interpretação literal, qualquer crime praticado contra a mulher constituiria violência doméstica e familiar nesses âmbitos porque, no mínimo, causariam sofrimento psicológico. Contudo, com o advento da agravante “ com violência contra a mulher na forma da lei especial” (art. 61, II, f, CP), deve-se interpretar restritivamente a definição de violência doméstica e familiar. Não se pode agravar a pena de um agente simplesmente pelo fato da vítima ser mulher. Sendo assim, pode-se levar em conta esta característica como especializante e requisito para a aplicação da Lei, sendo a seguir abordados cada um dos incisos do artigo 7º da Lei Maria da Penha, com a intenção de que sejam analisados, com fácil compreensão, constituindo assim uma base de entendimento lógico quanto à matéria. 1.3.1 Violência física No âmbito do Brasil, o Ministério da Saúde ressalta que violência física ocorre quando uma pessoa está em relação de poder com a outra, podendo causar ou tentar causar dano não acidental, por meio do uso da força física ou de algum tipo de arma que possa provocar ou não lesões externas, 45 CAPANO, Evandro Fabiani. Legislação Penal Especial. Conceito de violência doméstica, familiar e de afeto contra a mulher. p. 312. 46 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência doméstica. p. 64. 27 internas ou ambas. Abrange ainda agressões físicas ou a intenção de realizar tais agressões, como ameaçar de jogar algo ou de dar um soco 47. Para Coelho48 destaca-se que há variadas formas de manifestação da violência física, como as que seguem: Tapas; empurrões; socos; mordidas; cortes; estrangulamento; queimaduras; lesões por armas ou objetos; obrigar a outra pessoa a ingerir medicamentos desnecessários ou inadequados, álcool, drogasou outras substâncias e alimentos; tirar de casa à força; amarrar; arrastar; arrancar a roupa; abandonar em lugares desconhecidos; causar danos à integridade física em virtude de negligência, como se omitir a cuidados e proteção contra agravos evitáveis em situações de perigo, doença, gravidez, alimentação e higiene. No Art. 7o, da referida Lei, são apresentadas as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras a primeira apresentada no decorrer da lei é a disposta no inciso I, que diz: “I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal“. Para Porto49, o legislador quis explicitar todas as formas de violência com a finalidade de dar maior proteção à mulher, definindo a forma de violência e conceituando-a em breves palavras, que define ainda a violência em seu contexto físico como, “ Violência física: é a ofensa à vida, saúde e integridade física. Trata-se da violência propriamente dita, a vis corporalis.” 47 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por seus parceiros íntimos. Centro de Ciências da Saúde. Curso Atenção a Homens e Mulheres em Situação de Violência por Parceiros Íntimos - Modalidade a Distância. — Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2014. 35 p. Disponível em: <http://violenciaesaude.ufsc.br/wp- content/uploads/2016/02/Definicoes_Tipologias.pdf> Acesso em: 12 Jun. 2017. 48 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por seus parceiros íntimos. p. 20. 49 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 33. 28 Para Lima50, a violência física se configura como: Qualquer conduta que ofenda a sua integridade corporal. Caso resulte em lesão corporal, já existe tipo penal especifico para a conduta: Artigo 129, §§ 9º e 10 do Código Penal. Se resultar em morte, haverá a incidência da agravante (artigo 61, II, alíneas e e f). No próximo tópico será abordado a violência psicológica, apresentada na Lei como outra forma de violência em que a mulher é vítima e não compreende a situação em que está vivendo. 1.3.2 Violência Psicológica A violência psicológica que se elenca na Lei Maria da Penha51, refere-se a qualquer ato que possa causar dano emocional e diminuição da autoestima da vítima, ou que prejudique seu desenvolvimento, artigo 7, inciso II: A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 50 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.309. 51 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência doméstica. p. 64. 29 Para compreensão e análise da matéria, Coelho52, esclarece: Outra natureza da violência por parceiro íntimo é a psicológica. A definição desta envolve necessariamente os atos que a compõem, como os seguintes: insulto, humilhação, degradação pública, intimidação e ameaça. Esse tipo de agressão acontece muito e talvez até em uma proporção maior do que a violência física. Geralmente ocorre em casa, na família, afetando diretamente a autoestima e a autoimagem de quem sofre. Algumas pessoas usam a violência psicológica como uma forma de tortura para evitar que seu companheiro fuja, denuncie os maus tratos ou encontre outra pessoa para viver Na atualidade é rotineiramente mais comum que, as formas mais frequentemente usadas seja a ameaça, a chantagem e a perseguição. 1.3.3 Violência Sexual No direito penal, a violência sexual encontra-se no título VI dos Crimes contra a dignidade sexual, sendo eles o estupro (artigo 213 do Código Penal), contra vulneráveis (artigo 217-A à 218-B do Código Penal), e o lenocínio (artigo 231 e 231-A do Código Penal). Já a Lei 11.340/06, Maria da Penha, abrange o ramo da violência sexual mais amplamente, como encontra-se o artigo 7, inciso III 53: A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 52 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por seus parceiros íntimos. p. 23. 53 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.309 30 Mesmo não sendo explicito no bojo da lei, o artigo 7, III da Lei 11.340/06 segue a regra do código penal54. Coelho55, ainda demonstra algumas estatísticas que comprovam a força e a proporção que a violência doméstica e familiar tomam, com pode ser visto na sequência: Embora seja difícil o reconhecimento da violência sexual entre parceiros íntimos, ela acontece, principalmente, em culturas em que a prática sexual não consensual é tida como um dever da esposa. Quando observamos os índices de violência, a sexual é a menos frequente dentre os demais tipos, sobretudo entre parceiros íntimos. Essa invisibilidade da violência sexual se explica pelo constrangimento que as mulheres apresentam em denunciar, por ocorrer no interior das relações por parceiro íntimo e estar vinculada a questões de poder. No Brasil, estudos identificaram que o medo com relação a algo que o companheiro possa vir a fazer é motivo para se submeter a relações sexuais forçadas, como ocorreu com 23% das mulheres durante a vida e 12% nos últimos 12 meses em estudo conduzido por Moura et al. 10,1% de mulheres da cidade de São Paulo e 14% da Zona da Mata relataram que haviam sido forçadas fisicamente a ter relações sexuais, por medo, ou forçadas a prática sexual degradante. Observou-se que mulheres que sofrem esse tipo de violência relatam mais problemas de saúde em comparação com as sem histórico de violência sexual (Schraiber et al). Ainda que existam muitas e diferentes delimitações para essa forma de violência, a Organização Mundial da Saúde56 define violência sexual como atos, tentativas ou investidas sexuais indesejadas, com uso de coação e praticados por qualquer pessoa, independentemente de sua relação com a vítima e em qualquer contexto, seja doméstico ou não. Inclui atos como estupros (penetração forçada) dentro do casamento ou namoro, por estranhos ou mesmo em situações de conflitos armados. Também inclui assédios sexuais: atos 54 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p.31. 55 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por seus parceiros íntimos. p. 24. 56 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço/ Secretaria de Políticas de Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 31 e investidas, na forma de coerções e de pagamento ou favorecimento sexual nas relações hierárquicas (de trabalho ou escolares). Neste momento, ao que se segue, será abordado mais uma das formas de violência trazidas pela Lei Maria da Penha, no qual é a violência Patrimonial contra mulheres, onde são impedidas de dispor, do modo em lhe satisfaça, de toda maneira em que se encontre como patrimônio pessoal. 1.3.4 Violência Patrimonial Entende-se como violência patrimonial o artigo 7, IV 57: A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; Esses delitos são colocados na Lei 11.340/06, mesmo ela não explicitando sob a imunidade absoluta do artigo 181, do código penal 58 É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I- do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Para Porto59, “constitui o crime de violência patrimonial a retenção, a subtração e a destruição de instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos”. 57 BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha). Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acesso em: 14 Jun. de 2017. 58 BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade mecum. São Paulo: Saraiva, 2015. 59 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 33. 32 Presser60, alude a respeito desta matéria a respeito de que muitas mulheres não conhecem a real situação em que vivem, situação essa que se perpetua por tal falta de conhecimento: A violência patrimonial está presente na vida de muitas mulheres, porém ainda é desconhecida pela maioria das vítimas. Esta ignorância decorre do fato de que muitas mulheres não sabem que a retenção, a subtração e a destruição parcial ou total de seus objetos pessoais são consideradas um crime previsto na lei Maria da Penha (Lei 11.340/06). As vítimas não a reconhecem como tal e não denunciam esse tipo de agressão. Dessa forma, a violência patrimonial raramente se apresenta separada das demais, servindo, quase sempre, como meio para agredir física ou psicologicamente a vítima; ou seja, durante as brigas o agressor usa do artifício de abstrair os bens da vítima para que ela se cale e continue a aceitar a agressão. Há uma outra especificidade mencionada por Dias apud Presser61, que disciplina a não prestação alimentar, conforme a seguir: Cabe mencionar outra peculiaridade importante da violência patrimonial, no que se refere à obrigação alimentar quando o agente deixa de atender à obrigação, com plenas condições econômicas, além de violência doméstica, pratica o crime de abandono material, não sendo necessário que este encargo esteja fixado judicialmente. Ao que se segue, no próximo tópico será analisado a violência moral, ainda como uma das formas de violência doméstica e familiar, em que se trata, também é caracterizado por não ser de fácil constatação. 1.3.5 Violência Moral Os crimes de violência moral elencados na Lei 11.340/06, trata-se da honra, calúnia, difamação e injúria, como estabelece o inciso V de seu 60 PRESSER, Tiago. A Violência Doméstica. p. 01. 61 PRESSER, Tiago. A Violência Doméstica. p.01. 33 art. 7o, dando conta que “a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.”62 Para Capano63, a definição para violência moral, “ é aquele que reverbera sobre a dimensão moral e intelectual da mulher e que possui potencialidade de destruir ou deteriorar a saúde psíquica da vítima. Com base no exposto, e com as declarações feitas por Lima64, pode-se entender também como “ como conduta que configure calúnia, difamação ou injúria”, amparado pelo código penal brasileiro, conforme a seguir é disciplinado, in verbis: Calúnia Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Difamação “Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.” Injúria Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Se o crime for cometido em decorrência do vínculo familiar ou afetivo, passa a configurar como violência doméstica. Quando isto ocorre, é instituído o agravamento da pena, conforme o artigo 61, inciso II, letra f do Código Penal Brasileiro. Conforme Porto65, “é possível que todos os tipos de violência mencionados acima ocorram no âmbito familiar, doméstico ou em uma relação íntima de afeto. Não ocorrendo nesses âmbitos, não se caracteriza como violência doméstica”. 62 PRESSER, Tiago. A Violência Doméstica. p.02. 63 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.313. 64 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência doméstica. p. 65. 65 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 33. 34 Por fim, após a breve abordagem realizada em razão do histórico da Lei Maria da Penha, dos ânimos em que apresentam a violência, busca- se conhecer e entender a formas de violência doméstica, podendo-se notar a vontade do legislador em caracterizar alguns dos modos em que a violência doméstica e familiar pode ser configurada, em um rol exemplificativo, não bastando que se constitua algumas das formas de violência, como também, que se dê em um dos âmbitos e relações especificadas na referida Lei, para tanto no capítulo que dá sequência a este trabalho, sustenta tais âmbitos e relações disponíveis em Lei, com também a caracterização em que se constitui sujeitos ativo e passivo. Capítulo 2 PREVISÕES DA LEI MARIA DA PENHA E O AFASTAMENTO DA LEI 9.099/95 A Lei Maria da Penha se tornou um marco na legislação brasileira após a incorporação da legislação imposta internacionalmente, se estabelecendo como principal mecanismo no combate à violência doméstica contra a mulher no Brasil, firmando a efetividade do art. 226, § 8º, da Constituição Federal que assegura através do Estado a "assistência à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência, no âmbito de suas relações”.66 Houve uma grade argumentação em torno dos arts. 12, inciso I, 16 e 41 da Lei Maria da Penha, pela inaplicabilidade da Lei 9.099/95, por conta da necessidade de representação da vítima para o andamento da ação penal, a violação ao princípio da dignidade da pessoa humana, como também o não cumprimento efetivo do Estado de coibir e prevenir a violência em seus âmbitos familiares, não dando a proteção devida, integral, aos direitos fundamentais constitucionais. Portanto, neste capitulo serão abordados os aspectos criminais materiaisda Lei Maria da Penha, com as devidas definições de quem poderá configurar no polo passivo e no polo ativo dos delitos de violência doméstica, a associação das formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, somadas aos âmbitos e relações de proteção que, estão determinadas na referidas lei, e o afastamento da Lei 9.099/95 fazendo uma abordagem analítica sobre a ADI 4424 e posicionamento do STF, o que é necessário para a obtenção 66 BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. 36 de clareza no assunto que será interpelado adiante, no que diz respeito a imposição legislativa na busca pelo ideal de justiça frente a ações efetivas do Poder Judiciário. 2.1 SUJEITO ATIVO E PASSIVO Com base no disposto por Brito67, e diante do conceito trazido no artigo 5º da Lei 11.340/2006 determinando que, para seus efeitos, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero, que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, psíquico, sexual e dano moral ou patrimonial, praticada no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto Ainda conforme Brito68, é possível, em um primeiro olhar a luz da referida Lei, formular um conceito inicial de quem pode configurar como sujeito ativo e como sujeito passivo: Em um primeiro momento, diante desse conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher, pode-se afirmar que os sujeitos do crime previsto na Lei 11.340/2006, são: · sujeito passivo: somente a mulher que tenha sido vítima de agressão decorrente de violência doméstica e familiar; · sujeito ativo: somente o homem. Deste modo, segundo Moreno69, a priori, é preciso que se haja o entendimento de que todos os seres humanos são únicos, e a partir de suas liberdades, ações, escolhas, atitudes, cultura, é preciso que se exercite o respeito com a compreensão de que estes são direitos inerentes a todos, independentemente de raça, sexo, cor, idade e gênero. Sendo assim, fica claro 67 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8253/Aspectos- controversos-quanto-ao-sujeito-ativo-e-passivo-da-Lei-Maria-da-Penha>. Acesso em: 18 Ago. 2017. 68 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 01. 69 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. p.03. 37 que, cada pessoa tem sua individualidade, tem sua personalidade, e seu modo próprio de ver e de sentir as coisas.70 Dentro desta linha de raciocínio apresentada no parágrafo anterior, com base no que está disposto na Constituição Federal de 1988, Moreno 71 diz que: Por entendermos que a referida lei tenha objeto (a mulher) e objetivo (tutela e proteção dos direitos das mulheres) específicos, tem sua constitucionalidade garantida por permissão da Carta Magna – que permite o tratamento desigual aos desiguais, situação em que se enquadra a mulher, por sua vulnerabilidade, ao ser subjugada devido ao gênero – e, sendo assim, não pode ser desvirtuada. Dentro desse contexto, o Direito tem que deixar de se preocupar com as formalidades e observar o que está, de fato, acontecendo na sociedade. Gays, lésbicas, travestis e transexuais existem e são cidadãos como os demais indivíduos da sociedade. Logo, privá-los de uma proteção, configuraria uma forma terrível de preconceito e discriminação, algo que a Lei Maria da Penha busca exatamente combater. O foco Principal da Lei Maria da Penha é o sujeito passivo, que se configuraria na mulher, independendo se for homem ou mulher o sujeito ativo da violência doméstica e familiar. Portanto, é possível encontrar no art. 5º, parágrafo único, da Lei Maria da Penha que: “as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”. Como se destaca na sequência, alguns doutrinadores elencados a seguir, defendem que o sujeito passivo também pode ser o homem, assim como o sujeito ativo pode ser a mulher. 70 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente do gênero feminino. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8892>. Acesso em: 8 Out 2017. 71 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. p. 5. 38 Brito apud Souza72 descreve, com propriedade, a controvérsia quanto ao sujeito ativo dos crimes tratados nessa lei: O tema tem dado ensejo a uma aberta divergência quanto à pessoa que pode figurar como autor dos crimes remetidos por esta Lei, havendo uma corrente que defende que, por se tratar de crime de gênero e cujos fins principais estão voltados para a proteção da mulher vítima de violência doméstica e familiar, com vistas a valorizá-la enquanto ser humano igual ao homem e evitar que este se valha desses métodos repugnáveis como forma de menosprezo e de dominação de um gênero sobre o outro, no pólo ativo pode figurar apenas o homem e, quando muito, a mulher que, na forma do parágrafo único deste artigo, mantenha uma relação homoafetiva com a vítima, ao passo que uma segunda corrente defende que a ênfase principal da presente Lei não é a questão de gênero, tendo o legislador dado prioridade à criação de “mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher”, sem importar o gênero do agressor, que tanto pode ser homem, como mulher, desde que esteja caracterizado o vínculo de relação doméstica, de relação familiar ou de afetividade. Para Sirvankas73 apud Lima, para definições da Lei, neste questionamento sobre gênero, diz que, “gênero é a diferença entre homem e mulher. É a relação de gênero – diferença sexual, cujo dispositivo (art.5º) deverá ser interpretado conjuntamente com o art.4º da citada Lei”. Ainda sobre Brito citando Gomes, é possível observar uma segunda corrente demonstrada, que diz que74: O Sujeito ativo da violência pode ser qualquer pessoa vinculada com a vítima (pessoa de qualquer orientação sexual, conforme o art. 5º, parágrafo único): do sexo masculino, feminino ou que tenha qualquer outra orientação sexual. Ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo da violência, basta estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou doméstico, todas se sujeitam à nova lei. Mulher que agride outra mulher com quem tenha relação íntima, aplica-se a nova lei. 72 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 02. 73 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência doméstica. p.65. 74 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 02. 39 No entanto, com base no exposto sobre quem pode configurar como o sujeito ativo nas relações de violência doméstica e familiar, em variadas situações se chega a mesma conclusão de que qualquer pessoa pode estar no polo ativo, como expôs Brito75 “ na agressão de filho contra mãe, de marido contra mulher, de neto contra avó, de travesti contra mulher, empregador ou empregadora que agride empregada doméstica, de companheiro contra companheira ou também de quem está em união estável contra a mulher”. Já para Silva Júnior citado por Brito76, nos crimesde gênero definidos no art. 5º, da Lei 11.340/2006, somente a mulher pode ser sujeito passivo e somente o homem pode ser sujeito ativo, desde que entre eles exista uma relação de afetividade, independentemente de qualquer preferência sexual dos sujeitos. Ainda para Silva Júnior citado por Brito77,não é possível a perda da proteção destinada a mulher por conta de sua opção sexual ser diversa da tradicional, assim também como o homem, na tentativa de se afastar do rigor da lei, declarar sua opção sexual como motivo, assim, seu entendimento é de que não há outra forma de se interpretar o parágrafo único do artigo 5º da Lei Maria da Penha, por não manter a igualdade entre os sexos. A partir da exposição dos argumentos retratados, Brito78 se posiciona no sentido de eleger a linha de raciocínio de Gomes para ser a melhor interpretação ao art. 5º, § único, da Lei Maria da Penha, pois “qualquer pessoa pode ser sujeito ativo da violência; bastando estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou doméstico”. Há um ledo engano que permeia a sociedade, por conta de disseminação de informações errôneas, que qualquer mulher e qualquer homem que podem ser sujeitos dos crimes previstos na Lei Maria da Penha. No entanto é 75 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 01. 76 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 02. 77 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 02. 78 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 02. 40 necessário que deles haja uma relação pessoal, ou seja, que tenham vínculo afetivo ou doméstica 79, que pode ocorrer pela relação parentesco, de relacionamento amoroso e da convivência ou ex-convivência no lar. Portanto, um exemplo simples dado por Brito80 consegue demonstrar bem onde não há as características exigidas em lei para que seja aplicada a Lei Maria da Penha, o qual seja: Homem que agride uma mulher na rua para roubar sua bolsa, não é processado e julgado nos termos da Lei Maria da Penha, mas sim pela suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Para Porto81, a Lei Maria da Penha trata exclusivamente da violência contra a mulher, determinando sujeito passivo próprio em relação as formas de violência encontradas com definição na lei citada, porém, não determinando um sujeito ativo que neste caso poderia tanto ser um homem quanto uma mulher, a observação que porto faz é que “ se a lei não faz distinção, não cabe ao intérprete distinguir o sexo do sujeito ativo destes crimes”. Ainda para Porto82: No entanto, é preciso interpretar a norma sempre levando em conta princípios como o da razoabilidade e proporcionalidade, não descurando que a lei maria da penha trata desigualmente o homem e a mulher, incrementando a severidade penal sempre que uma mulher for vítima de violência doméstica e familiar. Ao relativizar um valor constitucional tão caro como o da igualdade, a lei 11.340/06 demanda uma interpretação restritiva, colimando não generalizar o que é excepcional. Esta “ desigualdade” de tratamento seria inconstitucional não estivesse justificada 79 Art. 5º da Lei Maria da Penha(11.340/06) - Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 80 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei Maria da Penha. p. 02. 81 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 38. 82 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 39. 41 racionalmente em uma diferença entre os gêneros masculino e feminino, verificável empiricamente. Baseado nos princípios citados por Porto83, anteriormente, pode-se observar que, o STJ estabeleceu o critério da vulnerabilidade para que se configurasse violência doméstica e familiar na agressão de mulher a mulher, adotando a presunção relativa de vulnerabilidade, enquanto que nas agressões de homens a mulheres tem sido levado em conta a presunção absoluta da vulnerabilidade da mulher agredida, em consequência da histórica ascensão social do homem em detrimento da mulher, construída culturalmente, com o que determina a submissão da mulher. De outra parte, convém abordar outro requisito em que se incide a aplicação da Lei Maria da Penha, requisitos estes não considerados em apartado e sim concomitantemente com as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher. Nisto posto, serão interpelados a seguir os âmbitos/vínculos/relações exigidas para a caracterização completa da violência doméstica ou familiar contra a mulher, com suas definições legais, e as extensões do que o imposto em Lei atinge. 2.2 ÂMBITOS E RELAÇÕES DE PROTEÇÃO Neste ponto, serão demonstrados os âmbitos/vínculos/relações exigidos pela Lei Maria da Penha para caracterização completa da violência doméstica ou familiar contra a mulher. Buscar-se-á expor, além da questão de gênero exigida, o contexto doméstico ou familiar, e também a existência de relação íntima de afeto para que incida a referida Lei e seus rigores. 83 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 43. 42 Deste modo, pode-se ressaltar que para os efeitos da referida lei configura violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão baseada no gênero, que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial combinada com um dos âmbitos/vinculo/relação determinadas em Lei, de acordo com Porto84: A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não exige a presença simultânea ou cumulativa de todos os requisitos do art. 7º, basta a presença alternativa de uma das formas de violência prevista no art. 7º em combinação alternativa com 1 dos pressupostos do art. 5º.(âmbito da unidade doméstica, da família ou qualquer relação íntima de afeto). O que se desdobraria no seguinte modo, conforme Porto85: Formas de violência: Violência física; Violência psicológica; Violência sexual; Violência patrimonial; Violência moral; Âmbito/ vinculo/ relações exigidas para a caracterização completa da violência doméstica ou familiar contra a mulher: Âmbito Doméstico: Nesse caso, privilegia-se o espaço em que se dá alguma forma de violência referida anteriormente, bastando que tal se consume na unidade doméstica de convívio permanente entre pessoas, ainda que esporadicamente agregadas e sem vínculo afetivo ou familiar entre si. Âmbito familiar: Aqui já não prevalece a caráter espacial do lar ou da coabitação, mas sim o vínculo familiar decorrente do parentesco natural, por
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