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TCC - Priscilla (14.11.2017) Revisão Final(1)

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR: BREVE ANÁLISE ACERCA 
DOS PROCEDIMENTOS POLICIAIS INSTITUÍDOS PELA LEI 
MARIA DA PENHA 
 
 
 
 
 
PRISCILLA FERNANDES DE ARAÚJO COELHO 
 
 
 
 
 
 
Esta monografia está apta a ser apresentada 
em banca. 
Itajaí, ....... de outubro de 2017. 
 
 
____________________________ 
Jonathan Cardoso Régis 
Prof. Dr. Orientador 
 
 
 
 
 
 
Itajaí, outubro de 2017
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR: BREVE ANÁLISE ACERCA 
DOS PROCEDIMENTOS POLICIAIS INSTITUÍDOS PELA LEI 
MARIA DA PENHA 
 
 
 
PRISCILLA FERNANDES DE ARAÚJO COELHO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso de Direito 
submetido à Universidade do Vale do Itajaí – 
UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do 
título de bacharel em Direito. 
 
 
 
 
 
 
Orientador: Professor Dr. Jonathan Cardoso Régis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itajaí, outubro de 2017
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTO 
A Deus, razão da minha existência e meu 
sustento; 
Aos meus Pais, Ivan e Valdenora, por todo apoio 
que me deram ao logo desses anos; 
Ao meu Marido, Arlen Coelho, pelo suporte e por 
aguentar o distanciamento momentâneo; 
Aos amores da minha vida, Daniel Yakir e Anne 
Gabriele, meus filhos amados que, apesar da falta 
me incentivaram todos os dias, pois sabiam da 
importância deste momento para todos nós; 
A minha querida sogra, Vilse Coelho, pelo apoio e 
orações; 
Aos meus irmãos Junior e Isaac, por todo amor e 
carinho; 
Ao meu querido orientador, Professor Doutor 
Jonathan Régis, por toda atenção dispensada; 
A todos os familiares e meus amigos que de 
alguma forma contribuíram para a conclusão 
desta etapa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
Aos Meus Filhos, Daniel Yakir e Anne 
Gabriele, razão do meu viver e de todo 
esforço até aqui dispendidos. 
 
 
 
 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte 
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, 
a coordenação do Curso de Direito e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade 
acerca do mesmo. 
 
Itajaí, outubro de 2017 
 
 
 
 
 
 
Priscilla Fernandes de Araújo Coelho 
Graduando(a) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do 
Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Priscilla Fernandes de Araújo Coelho, sob 
o título “Violência Doméstica e Familiar: Breve Análise Acerca Dos 
Procedimentos Policiais Instituídos Pela Lei Maria Da Penha”, foi submetida em 
07 de novembro de 2017, à banca examinadora composta pelos seguintes 
professores: Prof. Dr. Jonathan Cardoso Régis, Presidente da Banca e Orientador e 
Prof. MSc. Ester Dorcas Ferreira dos Anjos, Examinadora, tendo sido Aprovada. 
 
Itajaí, 07 de novembro de 2017 
 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. Jonathan Cardoso Régis 
Orientador e Presidente da Banca 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. MSc. José Artur Martins 
Coordenação da Monografia 
SUMÁRIO 
RESUMO.............................................................................................................. 09 
 
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10 
 
CAPÍTULOO1 
ESTUDO DA LEI MARIA DA PENHA................................................................. 
 
14 
1.1 BREVE HISTÓRICO DA LEI 11.340/06......................................................... 15 
1.2 CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.................................................... 
1.2.1 A violência como demonstração de poder.................................................. 
1.2.2 A violência doméstica como Direito Humano............................................. 
1.3 FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA...................................................... 
1.3.1 Violência Física.......................................................................................... 
1.3.2 Violência Psicológica.................................................................................. 
1.3.3 Violência Sexual......................................................................................... 
1.3.4 Violência Patrimonial.................................................................................. 
1.3.5 Violência Moral........................................................................................ 
CAPÍTULOO2 
PREVISÕES DA LEI MARIA DA PENHA E O AFASTAMENTO DA LEI 
9.099/95............................................................................................................ 
2.1 SUJEITO ATIVO E PASSIVO..................................................................... 
2.2 ÂMBITOS E RELAÇÕES DE PROTEÇÃO................................................. 
2.2.1. No âmbito da unidade doméstica............................................................ 
2.2.2. No âmbito da família............................................................................... 
2.2.3. Em qualquer relação íntima de afeto....................................................... 
2.3 QUESTÕES POLÊMICAS SOBRE A LEI................................................................. 
2.3.1 O afastamento da lei 9.099/95 em casos que envolvam violência 
doméstica ou familiar......................................................................................... 
2.3.2 Conflito entre a Lei Maria da Penha e a suspensão condicional do processo 
e a disponibilidade da Ação Penal pela vítima....................................................... 
CAPÍTULOO3 
A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NOS PROCEDIMENTOS 
POLICIAIS E A REDE CATARINA DE PROTEÇÃO À MULHER....................... 
3.1 A JUSTIÇA E O PODER JUDICIÁRIO FRENTE A LEI MARIA DA PENHA... 
3.2 A ATIVIDADE POLICIAL CIVIL E MILITAR SOB OS PARÂMETROS DA 
LEI MARIA DA PENHA...................................................................................... 
3.2.1 A Garantia da proteção policial................................................................. 
3.2.2 O encaminhamento da ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao 
Instituto Médico Legal........................................................................................... 
3.2.3. Do fornecimento de transporte para a ofendida e seus dependentes para 
abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida............................................ 
3.2.4 Da possibilidade, se necessário, do acompanhamento a ofendida para 
assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio 
familiar.................................................................................................................. 
3.2.5 Da Informação à ofendida sobre os direitos a ela conferidos nesta Lei e os 
serviços disponíveis.............................................................................................. 
18 
20 
2225 
26 
28 
29 
31 
32 
 
 
35 
36 
41 
43 
44 
46 
48 
 
52 
 
55 
 
 
59 
60 
 
63 
65 
 
67 
 
68 
 
 
70 
 
71 
 
3.3 REDE CATARINA DE PROTEÇÃO À MULHER.......................................... 
3.4 A EXTERIORIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA JUNTO A POLÍCIA 
JUDICIÁRIA....................................................................................................... 
3.4.1 Das medidas de proteção de urgência........................................................ 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 
REFERÊNCIAS DA FONTES CITADAS.............................................................. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
72 
 
78 
81 
86 
91 
 
RESUMO 
O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de estudar os procedimentos 
policiais instituídos pela Lei Maria da Penha. Buscando fazer um apanhado do 
histórico da Lei Maria da Penha, bem como seu surgimento, o motivo da referida 
Lei receber o seu conhecido nome, e o caminho percorrido para a instituição da 
Lei. Para uma melhor compreensão da matéria, estudaram-se as diversas 
doutrinas, algumas jurisprudências que tratam da matéria. Fez-se ainda uma 
abordagem sobre as diversas formas de violências, e os pré-requisitos para a 
aplicação da referida Lei. Buscou-se examinar finalmente os procedimentos 
policiais instituídos pela Lei Maria da Penha, onde, verificou-se também seus 
pontos mais relevantes e importantes, inclusive fora feita uma análise sucinta 
sobre a Rede Catarina de proteção à mulher. Para encetar a investigação foi 
utilizado o método indutivo a ser operacionalizado com as técnicas do referente, 
das categorias, dos conceitos operacionais e da pesquisa de fontes documentais, 
resultando em uma fonte de pesquisa para os operadores do Direito. 
Palavras-chave: Violência Doméstica. Medidas Protetivas. Procedimentos 
Policiais.
INTRODUÇÃO 
A presente Monografia tem como objeto a “Violência 
doméstica e familiar: Uma breve análise sobre os procedimentos policiais 
instituídos pela Lei Maria da Penha”. 
O seu objetivo institucional, produzir uma monografia para 
obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – 
UNIVALI; geral, analisar os procedimentos policiais instituídos pela Lei Maria da 
Penha; verificar os desdobramentos da tomada dos procedimentos e seu efetivo 
emprego, como também o apoio e integralização dentre os institutos 
responsáveis; específicos, estudar o histórico da Lei Maria da Penha; 
compreender as previsões trazidas pela Lei Maria da Penha; e ainda, analisar os 
procedimentos policiais instituídos pela Lei Maria da Penha e verificar a atuação 
policial da Polícia Militar, tendo como modelo a Rede Catarina de Proteção à 
mulher. 
Destaque-se ainda quanto a abordagem das especificidades 
da Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida por Lei Maria da Penha, quanto a 
sua eficácia em coibir a violência familiar e doméstica sofrida diariamente por 
mulheres em todo o Brasil, em relação aos procedimentos adotados pela Polícia, 
neste caso, especialmente, a Militar. 
Busca-se avizinhar-se um referente quanto as formas de 
violência doméstica e familiar, suas especificidades e requisitos para a aplicação 
da Lei, bem como traçar o caminho realizado por essas mulheres vítimas de 
violência familiar, observando também a atuação Polícia, no que se encontra a 
Rede Catarina de Proteção à mulher no encaminhamento das vítimas ao 
atendimento psicológico, medidas protetivas impostas pela Lei Maria da Penha, 
como também a atuação do Poder Judiciário. 
A temática aqui escolhida, se deu pelo entendimento que 
quanto mais se fale sobre a violência intralares, mais ainda é preciso contribuições 
acadêmicas, para a compreensão de que a situação em todo território Nacional 
 11 
ainda é endêmica. 
Falar sobre este assunto é derrubar obstáculos situados no 
preconceito e na discriminação. 
Os problemas da pesquisa, estabelecido em razão do 
objetivo investigatório inicialmente traçado, foram os seguintes: 
a) A criação da Lei Maria da Penha alcançou seu propósito 
de coibir a violência doméstica e familiar, promovendo atitudes por parte da 
Polícia e do Poder Judiciário, ao determinar o posicionamento institucionais em 
questões de envolvimento privado e de gênero? 
b) Os mecanismos efetivos para aplicação da medidas de 
proteção cabíveis nos Procedimentos da Lei Maria da Penha tem sido aplicados? 
Diante do problema formulado, foram atentadas as seguintes 
hipóteses: 
a) Com base na legislação vigente, doutrina e jurisprudência, 
a criação da Lei Maria da Penha não coibiu a violência doméstica e familiar, uma 
vez que, é necessário uma resposta de todos os institutos, no quais citam-se 
Polícia e Poder Judiciário, para que os mecanismos que garantem a aplicação 
das medidas de proteção a mulher sejam feitas de forma eficaz. 
b) Conforme doutrinas e na busca por material sobre o 
procedimento policial instituído pela Lei Maria da Penha, no que tange ao primeiro 
atendimento realizado pela Polícia tem se notado a criação de programas que 
atuam no amparo a vítima, realizada pela autoridade policial e, nos 
desdobramentos dos procedimentos que devem ser tomados, no que diz respeito 
ao Poder Judiciário também é possível notar-se a busca pela aplicação da Lei 
Maria da Penha, apesar de ainda haver sentenças abrandadas e com a utilização 
da Lei 9.099/95. Diante disto, para a garantia da aplicação das medidas de 
proteção da referida Lei é preciso um entendimento integralizado entre os 
institutos. 
 12 
Desta forma, visando buscar a confirmação ou não das 
hipóteses, o trabalho foi dividido em três capítulos: 
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do estudo 
da Lei Maria da Penha, seu histórico como marco na legislação brasileira no 
combate a violência de gênero. Onde analisa-se as formas de violência 
abrangidas pela referida Lei. 
Neste Capítulo são verificadas algumas considerações em 
relação a evolução histórica da Lei Maria da penha. Na sequência é estudado os 
conceitos de violência doméstica, apresentando violência como demonstração de 
poder e como também como direito humano, no que diz respeito ao poder que 
uma pessoa exerce sobre a outra em uma relação e na busca pela igualdade, 
liberdade solidariedade e fraternidade. 
No Capítulo 2, trata dos aspectos relacionadas quanto às 
previsões para a aplicação da Lei Maria da Penha, onde são verificadas algumas 
considerações sobre os sujeitos que poderão sofrer com tal aplicação. Na 
sequência é estudado os âmbitos e ralações de proteção exigidas em Lei como 
requisito para o emprego da referida Lei. 
Neste capítulo estuda-se, ainda, o afastamento da Lei 
9.099/95 em casos que envolvam a violência doméstica e familiar, como também 
o conflito entre a Lei Maria da Penha a suspensão condicional do processo como 
um dos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, e a disponibilidade da ação 
penal pela vítima. 
O Capítulo 3, o tema abordado é a aplicabilidade da Lei 
Maria da penha nos procedimentos policiais e a Rede Catarina de proteção à 
mulher, para tanto, são feitas considerações sobre o artigo 11 da Lei Maria da 
Penha (11.340/06) que, institui as providências a serem tomadas pela autoridade 
policial no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, 
objetivo desta pesquisa. Após isso, estuda-se, o artigo 12 da referida Lei, que 
exterioriza os procedimentos que devem ser tomados após as providências 
realizadas de imediato pela Polícia. 
 13 
Neste capítulo é verificada também, uma breve consideraçãosobrea Rede Catarina de Proteção à Mulher, programa institucional criado pela 
Polícia Militar de Santa Catarina. 
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as 
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos 
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões 
acerca do tema aqui proposto. 
Destaca-se que as categorias serão demonstradas no 
transcorrer da presente pesquisa. 
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase 
de Investigação foi utilizado o Método Indutivo1, na Fase de Tratamento de Dados 
o Método Cartesiano2, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente 
Monografia é composto na base lógica Indutiva. 
Nas diversas fases da Pesquisa foram acionadas as 
Técnicas, do Referente3, da Categoria4, do Conceito Operacional5 e da Pesquisa 
Bibliográfica6. 
 
1 “[...] base lógica da dinâmica da Pesquisa Científica que consiste em pesquisar e identificar as 
partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral.” 
(PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o 
pesquisador do direito. p. 238) 
2 “[...] base lógico-comportamental proposta por Descartes, muito apropriada para a fase de 
Tratamento dos Dados Colhidos, e que pode ser sintetizada em quatro regras: 1. duvidar; 2. 
decompor; 3. ordenar; 4. classificar e revisar.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa 
jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 237) 
3 “[...] explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de 
abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” (PASOLD, César 
Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 
241) 
4 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia.” (PASOLD, 
César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do 
direito. p. 229) 
5 “[...] definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que 
tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas.” (PASOLD, César Luiz. Prática da 
pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 229) 
6 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais.” (PASOLD, 
César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do 
direito. p. 240) 
Capítulo 1 
ESTUDO DA LEI MARIA DA PENHA 
 
A formação do entendimento de que, quanto mais se fale 
sobre a violência intralares, mais ainda é preciso contribuições acadêmicas, para a 
compreensão de que a situação em todo território Nacional ainda é endêmica. 
Falar sobre este assunto é derrubar obstáculos situados no 
preconceito e na discriminação. O intuito deste trabalho não é o de esgotar a 
matéria abordada, mas de construir reflexões serenas e técnicas sobre a Lei 
11.340/2006. 
Nisto posto, se deu a abordagem deste capítulo para uma pré-
constituição de inferências, para que adiante, no decorrer deste trabalho, se 
constitua de fato o ponto de vista sobre a violência doméstica e familiar. 
Aqui serão apresentados, de forma breve, os requisitos para 
a aplicação da lei maria da penha, as formas de violência descritas no âmbito da 
referida lei objeto de estudo deste trabalho, trazendo aspectos conceituais, 
doutrinários e jurisprudenciais na caracterização/definição quanto aos âmbitos 
passiveis de caracterização de violência doméstica, e o propósito em que a lei se 
dá, na tentativa de erradicar o que se vê está enraizado na essência humana, de 
acordo com lima7: 
A violência é um fenômeno extremamente complexo que 
aprofunda suas raízes na interação de muitos fatores biológicos, 
sociais, culturais, econômicos e políticos cuja definição não pode 
ter exatidão cientifica, já que é uma questão de apreciação. 
 
 
7 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência 
doméstica. São Paulo: Atlas, 2009 
 15 
Portanto, começaremos com um breve histórico da lei 
11.340/06, com a finalidade de entendermos como se deu o caminho percorrido 
para o surgimento da referida lei, a pessoa que iniciou o processo internacional 
com busca de amparo legal, não existente até então na legislação brasileira, 
acabando por ter seu nome associado a Lei 11.340, como reconhecimento por 
seus esforços na tentativa de dar a mulher um respaldo legal para coibir violência 
doméstica e familiar. 
 
1.1 BREVE HISTÓRICO DA LEI 11.340/06 
 
Dentro do longo histórico em que se contextualiza a 
violência, onde um dos fatos é a demonstração de poder, pois o homem se 
baseava na força física para se destacar e assim subjugar os mais fracos, 
tornando-os submissos, principalmente em pequenos agrupamentos durante o 
nascimento da sociedade primitiva, o objetivo era ter primícias de alimentos em 
relação aos outros seres inferiores. É possível encontrar a violência doméstica e 
familiar como modo de correção de maridos a suas esposas, ou até mesmo de 
defesa da honra.8 
Conhecida como Lei Maria da Penha9, a Lei 11.340/06, 
ganhou este nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de 
violência doméstica e familiar, e por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. 
Segundo Fonseca10, Maria da Penha é biofarmacêutica cearense, que foi casada 
com Marco Antonio Herredia Viveros, que era professor universitário a época dos 
fatos. Ainda segundo Fonseca, em 1983 ela sofreu a primeira tentativa de 
 
8 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. Tribuna hoje. Disponível em: 
<http://www.tribunahoje.com/blog/12776/carlos-martins/2016/01/03/violencia-o-instrumento-do-
poder.html >. Acesso em: 22 maio 2017. 
9 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: 
análise crítica e sistêmica. 3. ed. Ver. Atual e de acordo com a ADI 4424. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado Editora, 2014. 
10 FONSECA, Paula Schiavini da. Histórico da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). 
Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 20 nov. 2010. Disponível 
em:<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29638&seo=1>. Acesso em: 26 maio 
2017. 
 16 
assassinato, quando levou um tiro nas costas enquanto dormia. Na ocasião 
Viveros foi encontrado na cozinha, gritando por socorro, alegando que tinham sido 
atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu 
paraplégica. Alguns meses depois aconteceria segunda tentativa de homicídio, 
quando Viveros empurrou Maria da Penha da cadeira de rodas e tentou 
eletrocutá-la no chuveiro. 
 Conforme histórico encontrado sobre a Lei Maria Da 
Penha11, conta em seu relato que: 
 Apesar da investigação ter começado em junho do mesmo ano, 
a denúncia só foi apresentada ao Ministério Público Estadual em 
setembro do ano seguinte e o primeiro julgamento só aconteceu 8 
anos após os crimes. Em 1991, os advogados de Viveros 
conseguiram anular o julgamento. Já em 1996, Viveros foi julgado 
culpado e condenado há dez anos de reclusão mas conseguiu 
recorrer. 
 
Após 15 anos, o caso ainda não havia sido resolvido pela 
justiça brasileira12. Maria da Penha contou com a ajuda de ONGs, conseguindo 
assim, enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da 
Organização dos estados Americanos (OEA), que, pela primeira vez, acabou por 
acatar uma denúncia de violência doméstica13. 
Segundo Lima14: 
Peticionou junto à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos 
da Organização dos EstadosAmericanos (OEA), utilizando-se da 
exceção do artigo 46, inciso 2, c, da Convenção Americana, o qual 
reza que haverá admissibilidade da petição se a jurisdição interna 
apresentar atraso injustificado. A regra para que a vítima peticione 
ao Tribunal Internacional é o esgotamento das vias internas. 
 
11 OBSERVE - Observatório da Lei Maria da Penha, Monitoramento da Lei Maria da Penha. Lei 
Maria da Penha - Histórico. Salvador: Observe. 2010. Disponível em: 
<http://www.observe.ufba.br/home > . Acesso em: 20 de maio 2017. 
12 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. São Paulo. Editora: Revistas dos 
Tribunais, 2015. p.309. 
13 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.309. 
14 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência 
doméstica. Breve Histórico Lei Maria da Penha. p. 61. 
. 
 17 
Maria da Penha usou em sua petição os artigos 1º, 24 e 25 da 
Declaração Americana dos Direitos do Homem, bem como os 
artigos 3, 4, a, b, c, d, e f, g, 5 e 7 da Convenção de Belém do Pará. 
 
O agressor de Maria da Penha só foi preso em 2002, para 
cumprir apenas dois anos de prisão.15 
De acordo com Lopes16 , o processo da OEA também 
condenou o Brasil por negligência e omissão em relação à violência doméstica e 
continua coma sua fala sobre a condenação dizendo que: 
Uma das punições foi a recomendações para que fosse criada 
uma legislação adequada a esse tipo de violência. E esta foi a 
sementinha para a criação da lei. Um conjunto de entidades então 
reuniu-se para definir um anteprojeto de lei definindo formas de 
violência doméstica e familiar contra as mulheres e estabelecendo 
mecanismos para prevenir e reduzir este tipo de violência, como 
também prestar assistência às vítimas. 
 
 Em setembro de 2006 a lei 11.340/06 finalmente entra em 
vigor, fazendo com que a violência contra a mulher deixe de ser tratada com um 
crime de menor potencial ofensivo. 17 
Dessa forma, é possível compreender que, a lei não 
comtempla infrações penais, não tipifica nenhum crime, ela trata de mais proteção 
para a mulher e mais severidade para o autor da infração penal que recaia sobre 
a mulher, também acaba com as penas pagas em cestas básicas ou multas, além 
de englobar, além da violência física e sexual, a violência psicológica, a violência 
patrimonial e o assédio moral. 
 
 
 
15 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 
11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 09 
16 LOPES, Camila Ciriaco. Lei Maria da Penha e sua mudança para ação penal pública 
incondicionada. Disponível em: < https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=12172 >. Acesso 
em 10 junho 2017. 
17 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência 
doméstica. São Paulo: Atlas, 2009. p.61 
 18 
1.2 CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)18 que, 
publicou o resultado de estudo no “Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde” 
realizado no ano de 2002 e, no qual definiu a violência como: 
[...] uso da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si 
próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma 
comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de 
resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de 
desenvolvimento ou privação. 
 
A violência doméstica e familiar jamais deverá ser ignorada, 
não importando a forma que seja. Trata-se de algo que envolve saúde física e 
mental de uma pessoa, uma mulher. A violência é uma questão de saúde pública. 
Há uma institucionalização da violência que é conhecida de acordo com Moreno19 
que diz que: 
A Violência Institucional é qualquer ato constrangedor, fala 
inapropriada ou omissão de atendimento realizado por agentes de 
órgãos públicos prestadores de serviços que deveriam proteger 
as vítimas dos outros tipos de violência e reparar as 
consequências por eles causadas. 
 
 
Deste modo, conforme o artigo 5º, da Lei 11.340/06, é 
possível definir violência doméstica e familiar como qualquer ação ou omissão 
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou 
psicológico e dano moral ou patrimonial.20 
 
 
18 KRUG, Etienne G. et al. Relatório mundial sobre violência e saúde. Genebra: Organização 
Mundial da Saúde, 2002. ISBN 92 4 154561 5 (Classificação NLM: HV 6625). Disponível em: 
<https://www.opas.org.br/relatorio-mundial-sobre-violencia-e-saude/>. Acesso em: 18 Ago. 2017. 
19 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. DireitoNet. Disponível em: < 
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8757/A-eficacia-da-Lei-Maria-da-Penha >. Acesso em: 14 
Jun. 2017. 
20 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 
11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 09. 
 19 
Assim como a transcrição a seguir 21: 
Artigo 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e 
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no 
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou 
psicológico e dano moral: 
I – No âmbito da unidade doméstica, compreendida como espaço 
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, 
inclusive as esporadicamente agregadas; 
II – No âmbito da família, compreendida como a comunidade 
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, 
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva 
ou tenha convivido com a ofendida, independente de coabitação. 
 
 
Os aspectos tratados pela referida lei, são voltados à 
possibilidade de que os agressores sejam punidos por seus atos de violência, 
físicos e/ou psicológicos, contra à mulher no ambiente doméstico e familiar, com 
a aplicação de prisões em flagrante ou de decretação de prisão preventiva. No 
que diz respeito ao caráter preventivo e protetivo da lei, busca dar assistência as 
mulheres vitimadas por seus companheiros.22 
No artigo 7º da Lei 11.340/200623 diz que: 
A violência e suas formas são perpetradas nos lares ou nas 
unidades domésticas, geralmente por um membro da família que 
viva com a vítima, podendo ser esta um homem ou mulher, criança 
ou adolescente ou adulto, como é o caso da violência Conjugal 
que se dá entre cônjuges, companheiros, podendo incluir outras 
relações interpessoais, como noivos, namorados. (Artigo 7º da Lei 
nº 11.340/2006) 
Sendo assim, a violência doméstica envolve diversos fatores 
que contribuem para as estatísticas negativas, ocorrências vivenciadas por 
mulheres em todo Brasil e no mundo inteiro, uma forma de controlar a mulher em 
 
21 BRASIL. Lei nº 11.340/2006, de 7 de agosto de 2006. p. 02 
22 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. p.02. 
23 BRASIL. Lei nº 11.340/2006, de 7 de agosto de 2006. p. 02 
 
 20 
situação de fragilidade, e é assim que se dará o próximo ponto que revela a 
violência doméstica como demonstração de poder. 
 
1.2.1 A violência como demonstração de poder 
 
 Segundo Martins24, em algumas obras encontramos o 
poder e a força como sinônimos entre si, principalmente em situações de violência 
doméstica, onde a violência é corroborada pelo poder que uma pessoa exerce 
sobre a outra dentro de uma relação. 
 Há também, uma grande parcela de obras e autores 
que atribuem a violência de gênero, e também a violência doméstica e familiar, 
ao sistema patriarcal, como é o caso de Presser25, que neste entendimento 
disciplina:Violência de gênero é o conceito mais amplo, envolvendo vítimas 
como mulheres, crianças e adolescentes de ambos os sexos. 
Sabe-se que no exercício da função patriarcal, os homens detêm 
o poder de determinar a conduta das categorias sociais 
nomeadas, recebendo autorização ou, pelo menos, tolerância da 
sociedade para punir o que se lhes apresenta como desvio. 
 
Essa relação de poder e força estão comumente ligadas e 
encontraram outra denominação em tempos atuais, como alude Martins26: 
A constituição do conceito de violência passa pela relação entre 
poder e dominação constituindo um outro conceito muito 
conhecido nos dias atuais, a autoridade. De forma que violência e 
poder é entendido por alguns autores como sinônimos. 
 
 
 
24 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. p. 01. 
25 PRESSER, Tiago. A violência doméstica. Direito Net. Publicação de 12 de agosto de 2014. 
Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8560/A-violencia-domestica>. Acesso 
em: 15 Mar. 2017. 
26 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. p. 01. 
 21 
 Desta forma, deve-se levar em consideração que nos 
tempos atuais o ato de violência pode ser traduzido a uma ação de uma pessoa 
que, produz o sofrimento há uma outra. Podendo ser apresentado de várias 
formas, o sofrimento, se configura em: objetivo ou subjetivo, físico ou psicológico, 
concreto ou simbólico. Há ainda, segundo Martins27, uma outra forma se produzir 
o sofrimento, o qual seja, “se dá de forma institucional quando determinados 
grupos que apresentam necessidades sociais específicas não são assistidos pelo 
poder público como uma clara forma do não reconhecimento a esses segmentos”. 
 Em todo conteúdo buscado essa relação de autoridade 
sobre o outro está relacionado a violência doméstica e familiar, restando 
demonstrado que, subjugar ao outro, seja em condições de necessidade de 
sobrevivência ou de dependência e carência emocional, está ligado a história da 
humanidade essa necessidade da demonstração do cumprimento do papel que 
fora imposto a mulher, onde em sua maioria de vezes o homem configura como 
provedor e a mulher por outro lado é socialmente obrigada a estar direcionada a 
cuidar da casa e de seus filhos.28 
A violência doméstica contra a mulher é comprovada, não 
somente por estudos e estatísticas, como também pela simples observação das 
atividades policiais, onde é ocupado um significativo espaço. Heise citado pelo 
Ministério da saúde29 diz que, “ De acordo com Estudos realizados em vários 
países demonstram a ocorrência de violência de maridos e companheiros contra 
suas esposas, em um dentre cada quatro casais”. 
O Ministério da Saúde30, cita dados que podem dimensionar 
a proporção dos casos que efetivamente são registrados como ocorrência, e com 
 
27 MARTINS, Carlos. Violência: O instrumento do poder. p. 02. 
28 NASCIMENTO, Luana Regina Ferreira do. Aplicação da Lei Maria da Penha: um estudo sobre 
estereótipos de gênero no Judiciário. 2012. 83 f., il. Dissertação (Mestrado em Política Social)—
Universidade de Brasília, Brasília, 2012.. p. 39. Disponível em: < 
http://repositorio.unb.br/handle/10482/12547>. Acesso em: 21 Ago. 2017 
29 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: 
orientações para prática em serviço / Secretaria de Políticas de Saúde. – Brasília: Ministério da 
Saúde, 2001. Disponível em: < bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf> . Acesso em: 20 
maio 2017 
30 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: 
orientações para prática em serviço / Secretaria de Políticas de Saúde. p. 01. 
 22 
base nesses dados, pode-se afirmar que a violência nas relações de casal é tão 
significativa que assume caráter endêmico: 
Para dimensionar o problema no Brasil, contamos com dados que, 
embora não sistemáticos, permitem uma visão panorâmica da 
questão. São relevantes os estudos do Grupo Parlamentar 
Interamericano sobre População e Desenvolvimento (ONU, 1992), 
mostrando a ocorrência de mais de 205 mil agressões no período 
de um ano, segundo informações colhidas nas Delegacias da 
Mulher. Estas mesmas Delegacias, em 1993, registraram 11 mil 
estupros em doze grandes cidades brasileiras e uma agressão à 
mulher a cada 4 minutos. Pesquisa realizada pela FIBGE 
(Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1989, 
demonstra que 63% das vítimas de violência no espaço doméstico 
são mulheres e que, destas, 43,6% têm entre 18 e 29 anos; e outros 
38,4%, entre 30 e 49 anos. Em 70% dos casos, os agressores são 
os próprios maridos ou companheiros. 
 
Portanto, nesta linha de raciocínio, e por causa deste caráter 
endêmico que a violência nas relações de casal assume que, a OEA (Organização 
dos Estados Americanos) acabou por condenar o Brasil, pelo descumprimento de 
convenções31 em que o País é signatário, suscitando a questão da importância de 
se tratar a prevenção e erradicação da violência doméstica e familiar, como um 
direito fundamental, um direito Humano, o que será abordado a seguir, na 
redefinição das fronteiras entre o espaço público e a esfera privada. 
 
1.2.2 A violência doméstica como Direito Humano 
 
A violência doméstica e familiar, vai muito além de uma 
questão tratada apenas pelo Direito Penal, ocupa significativo espaço para ser 
tratada no âmbito da saúde da mulher, na assistência a família, no combate a 
qualquer tipo de discriminação contra a mulher e todas as formas de desigualdade 
de gênero. Seguindo esta linha, com base na Constituição Federal/8832, em seu 
 
31 A Convenção Americana de Direitos Humanos e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir 
e Erradicar a Violência Contra Mulher, conhecida como Convenção de Belém, aprovada em 1993. 
32 BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília, 
DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. 
 23 
artigo 226 § 8º33, revela a necessidade que existe em se haver políticas públicas 
que possam coibir e erradicar a violência doméstica, principalmente em relação 
dos integrantes com maior fragilidade dentro da estrutura familiar. 34 
É possível transportar a garantia da saúde da mulher, a 
garantia de sua integridade como um direito fundamental, sendo assim, 
traduzindo-se na prevenção da violência doméstica e familiar, na busca pela 
igualdade de gênero, em um direito humano basilar35. 
Woloszyn36, faz uma análise mais ampla deste contexto, 
considerando diversos aspectos, e fazendo estimativas sobre o assunto, como: 
Considerando aspectos como urbanização, crescimento 
demográfico e índice de desenvolvimento humano (IDH), o 
cenário é verdadeiramente sinistro e mostra claramente uma 
tendência de recrudescimento no comportamento criminal para os 
próximos anos, o que já havíamos estimado. Até o final desta 
década, poderemos vir a ser o país mais violento do mundo, 
segundo estudos de organizações internacionais. Na edição de 
2013 da Revista norte americana, Forerig Policy, que divulga o 
ranking dos ditos Estados falidos ou fracassados, após analisados 
critérios como densidade populacional, crise econômica, falta de 
infraestrutura dos serviços públicos, violência do aparelho de 
segurança estatal e violação aos direitos humanos, o Brasil ocupa 
a 113ª posição dentre 177 países avaliados. Poderíamos 
considerar um alerta. 
 
 
Com relação ao direito da mulher com relação à saúde, Sallet 
apud Curi 37 esclarece: 
 
 
33 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
 § 8º O Estadoassegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando 
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
34 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 
11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 17. 
35 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 
11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 18. 
36 WOLOSZYN, André Luís. A Violência Endêmica e os Direitos Humanos No Brasil. 
Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/pensamento/noticia/14977/a-violencia-endemica-e-
os-direitos-humanos--no-brasil--/>. Acesso em: 18 Ago. 2017. 
37 CURI , Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma 
análise no âmbito da comarca de Uberlândia. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago 2011. 
Disponívelem:<http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/abrebanner.php?N_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10045&rev
ista_caderno=27>. Acesso em: 17 Set. 2017. 
 24 
O exercício pleno de todas as potencialidades da mulher repercute 
positivamente em toda a sociedade. O inverso também é 
verdadeiro. Quando direitos fundamentais da mulher não são 
assegurados adequadamente, todos sofrem com suas 
consequências negativas. O progresso de uma sociedade depende 
do progresso de cada um de seus pares, homem ou mulher. É 
preciso deixar claro que todas as medidas de proteção à 
maternidade são reconhecidas no mundo todo como investimento 
social e econômico. A promoção da saúde da mulher não significa 
apenas uma simples melhoria de saúde individual, mas uma 
medida que causa profundas repercussões sociais: estão em jogo 
a saúde e a sobrevivência das famílias e, em última instância, a 
força de trabalho e o bem-estar de comunidades e países inteiros. 
 
 
 Ainda de acordo com Curi38, é preciso que se faça um 
combate à “discriminação e a seguridade dos direitos da mulher não é medida que 
favorece apenas a um gênero, mas todo o país”. A potencialidade de contribuição 
da mulher para o progresso do País, não são levadas em conta, fazendo com que 
a mulher seja discriminada, não havendo igualdade na s oportunidades. Pra Curi39, 
“Não permitir sua participação no âmbito social da mesma forma que o homem é 
prejudicar toda a sociedade, que deixa de receber suas salutares contribuições”. 
Piovesan apud Curi40, parte-se, destarte, de que à violência 
doméstica, gera um prejuízo de ordem emocional tanto da mulher, como nos filhos 
e na família, podendo-se somar ao prejuízo financeiro causado pela violência 
doméstica. “Em conformidade com o BID (Banco Interamericano de 
Desenvolvimento), uma em cada cinco mulheres que faltam ao trabalho o faz por 
ter sofrido agressão física”.41 
O reconhecimento de direitos apenas no plano legal não é 
efetivamente eficaz. É preciso investigar a questão da efetividade. O exercício 
pleno da igualdade nas relações de gênero e a erradicação da discriminação contra 
 
38 CURI, Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma 
análise no âmbito da comarca de Uberlândia. p. 04. 
39 CURI, Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma 
análise no âmbito da comarca de Uberlândia. p. 03. 
40 CURI, Juliana Araújo Simão. Os Direitos Humanos da mulher e a violência doméstica: uma 
análise no âmbito da comarca de Uberlândia. p. 03. 
41 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2006. P. 191. 
 25 
a mulher deve ser um objetivo de toda a sociedade, uma vez que a mesma é direta 
e negativamente atingida quando os direitos da mulher são desrespeitados ou 
negligenciados.42 
Desta forma, a seguir, de maneira não a esgotar a matéria, 
busca-se trazer aspectos conceituais, doutrinários e jurisprudenciais na 
caracterização/ definição, quanto as formas passiveis de tipificação de violência 
doméstica. 
 
1.3 FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
A Lei Maria da Penha engloba em seu conteúdo a expressão 
violência doméstica e familiar, não sendo necessário a conjunção adjetiva “e”, 
pois pode expressar que há necessário violência em ambos os ambientes. 
O Art. 5º da mencionada Lei, configura violência doméstica 
e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe 
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial, prevendo assim, 5 (cinco) espécies de violência contra a mulher, 
discorridas em seus incisos seguintes da Lei Maria da Penha.43 
Porto44 disciplina que, “somente será violência doméstica ou 
familiar contra a mulher aquela que constitua algumas das formas dos incisos do 
art. 7º, cometida em qualquer das situações do art. 5º”. 
 
42 SILVA, Sérgio Gomes da. Preconceito e discriminação. As bases da violência contra a mulher. 
Artigo. Psicol. cienc. prof. vol.30. no.3, Brasília, 2010. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000300009>. Acesso em: 
20 Maio 2017 
43 CAPANO, Evandro Fabiani. Legislação Penal Especial. p. 314. 
44 PORTO, Pedro Rui de Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06 
análise critica e sistêmica. A formas de violência doméstica e familiar contra a mulher e os âmbitos 
e relações de proteção. p. 32. 
 26 
Capano45, apresenta que as formas de violência trazidas na 
Lei Maria da Penha como um dos núcleos do conceito de violência doméstica e 
familiar, “circunscreve as ações com potencialidade de morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral e patrimonial”. 
É de relevância ainda, o que foi dito por Lima46, que disse: 
Vale ressaltar que deve interpretar violência doméstica e familiar 
de forma restritiva, tendo em vista que, por sua interpretação 
literal, qualquer crime praticado contra a mulher constituiria 
violência doméstica e familiar nesses âmbitos porque, no mínimo, 
causariam sofrimento psicológico. Contudo, com o advento da 
agravante “ com violência contra a mulher na forma da lei especial” 
(art. 61, II, f, CP), deve-se interpretar restritivamente a definição 
de violência doméstica e familiar. Não se pode agravar a pena de 
um agente simplesmente pelo fato da vítima ser mulher. 
 
 
Sendo assim, pode-se levar em conta esta característica 
como especializante e requisito para a aplicação da Lei, sendo a seguir abordados 
cada um dos incisos do artigo 7º da Lei Maria da Penha, com a intenção de que 
sejam analisados, com fácil compreensão, constituindo assim uma base de 
entendimento lógico quanto à matéria. 
 
1.3.1 Violência física 
 
No âmbito do Brasil, o Ministério da Saúde ressalta que 
violência física ocorre quando uma pessoa está em relação de poder com a outra, 
podendo causar ou tentar causar dano não acidental, por meio do uso da força 
física ou de algum tipo de arma que possa provocar ou não lesões externas, 
 
45 CAPANO, Evandro Fabiani. Legislação Penal Especial. Conceito de violência doméstica, 
familiar e de afeto contra a mulher. p. 312. 
46 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência 
doméstica. p. 64. 
 
 27 
internas ou ambas. Abrange ainda agressões físicas ou a intenção de realizar tais 
agressões, como ameaçar de jogar algo ou de dar um soco 47. 
Para Coelho48 destaca-se que há variadas formas de 
manifestação da violência física, como as que seguem: 
Tapas; empurrões; socos; mordidas; cortes; estrangulamento; 
queimaduras; lesões por armas ou objetos; obrigar a outra pessoa 
a ingerir medicamentos desnecessários ou inadequados, álcool, 
drogasou outras substâncias e alimentos; tirar de casa à força; 
amarrar; arrastar; arrancar a roupa; abandonar em lugares 
desconhecidos; causar danos à integridade física em virtude de 
negligência, como se omitir a cuidados e proteção contra agravos 
evitáveis em situações de perigo, doença, gravidez, alimentação 
e higiene. 
 
 
No Art. 7o, da referida Lei, são apresentadas as formas de 
violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras a primeira 
apresentada no decorrer da lei é a disposta no inciso I, que diz: “I - a violência 
física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde 
corporal“. 
Para Porto49, o legislador quis explicitar todas as formas de 
violência com a finalidade de dar maior proteção à mulher, definindo a forma de 
violência e conceituando-a em breves palavras, que define ainda a violência em 
seu contexto físico como, “ Violência física: é a ofensa à vida, saúde e integridade 
física. Trata-se da violência propriamente dita, a vis corporalis.” 
 
 
47 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por 
seus parceiros íntimos. Centro de Ciências da Saúde. Curso Atenção a Homens e Mulheres em 
Situação de Violência por Parceiros Íntimos - Modalidade a Distância. — Florianópolis: Universidade 
Federal de Santa Catarina, 2014. 35 p. Disponível em: <http://violenciaesaude.ufsc.br/wp-
content/uploads/2016/02/Definicoes_Tipologias.pdf> Acesso em: 12 Jun. 2017. 
48 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por 
seus parceiros íntimos. p. 20. 
49 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 
11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 33. 
 28 
Para Lima50, a violência física se configura como: 
Qualquer conduta que ofenda a sua integridade corporal. Caso 
resulte em lesão corporal, já existe tipo penal especifico para a 
conduta: Artigo 129, §§ 9º e 10 do Código Penal. Se resultar em 
morte, haverá a incidência da agravante (artigo 61, II, alíneas e e 
f). 
 
 
No próximo tópico será abordado a violência psicológica, 
apresentada na Lei como outra forma de violência em que a mulher é vítima e não 
compreende a situação em que está vivendo. 
 
1.3.2 Violência Psicológica 
 
 A violência psicológica que se elenca na Lei Maria da 
Penha51, refere-se a qualquer ato que possa causar dano emocional e diminuição 
da autoestima da vítima, ou que prejudique seu desenvolvimento, artigo 7, inciso 
II: 
A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe 
cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe 
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise 
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e 
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, 
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e 
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause 
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
 
 
 
50 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.309. 
51 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência 
doméstica. p. 64. 
 
 29 
Para compreensão e análise da matéria, Coelho52, 
esclarece: 
Outra natureza da violência por parceiro íntimo é a psicológica. A 
definição desta envolve necessariamente os atos que a compõem, 
como os seguintes: insulto, humilhação, degradação pública, 
intimidação e ameaça. Esse tipo de agressão acontece muito e 
talvez até em uma proporção maior do que a violência física. 
Geralmente ocorre em casa, na família, afetando diretamente a 
autoestima e a autoimagem de quem sofre. Algumas pessoas 
usam a violência psicológica como uma forma de tortura para 
evitar que seu companheiro fuja, denuncie os maus tratos ou 
encontre outra pessoa para viver 
Na atualidade é rotineiramente mais comum que, as formas mais 
frequentemente usadas seja a ameaça, a chantagem e a 
perseguição. 
 
 
1.3.3 Violência Sexual 
 
 No direito penal, a violência sexual encontra-se no 
título VI dos Crimes contra a dignidade sexual, sendo eles o estupro (artigo 213 
do Código Penal), contra vulneráveis (artigo 217-A à 218-B do Código Penal), e o 
lenocínio (artigo 231 e 231-A do Código Penal). Já a Lei 11.340/06, Maria da 
Penha, abrange o ramo da violência sexual mais amplamente, como encontra-se 
o artigo 7, inciso III 53: 
A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a 
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual 
não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da 
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, 
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método 
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto 
ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou 
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos 
sexuais e reprodutivos; 
 
 
52 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por 
seus parceiros íntimos. p. 23. 
53 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.309 
 
 30 
Mesmo não sendo explicito no bojo da lei, o artigo 7, III da 
Lei 11.340/06 segue a regra do código penal54. 
Coelho55, ainda demonstra algumas estatísticas que 
comprovam a força e a proporção que a violência doméstica e familiar tomam, 
com pode ser visto na sequência: 
Embora seja difícil o reconhecimento da violência sexual entre 
parceiros íntimos, ela acontece, principalmente, em culturas em 
que a prática sexual não consensual é tida como um dever da 
esposa. Quando observamos os índices de violência, a sexual é a 
menos frequente dentre os demais tipos, sobretudo entre 
parceiros íntimos. Essa invisibilidade da violência sexual se 
explica pelo constrangimento que as mulheres apresentam em 
denunciar, por ocorrer no interior das relações por parceiro íntimo 
e estar vinculada a questões de poder. No Brasil, estudos 
identificaram que o medo com relação a algo que o companheiro 
possa vir a fazer é motivo para se submeter a relações sexuais 
forçadas, como ocorreu com 23% das mulheres durante a vida e 
12% nos últimos 12 meses em estudo conduzido por Moura et al. 
10,1% de mulheres da cidade de São Paulo e 14% da Zona da 
Mata relataram que haviam sido forçadas fisicamente a ter 
relações sexuais, por medo, ou forçadas a prática sexual 
degradante. Observou-se que mulheres que sofrem esse tipo de 
violência relatam mais problemas de saúde em comparação com 
as sem histórico de violência sexual (Schraiber et al). 
 
 
 Ainda que existam muitas e diferentes delimitações para 
essa forma de violência, a Organização Mundial da Saúde56 define violência 
sexual como atos, tentativas ou investidas sexuais indesejadas, com uso de 
coação e praticados por qualquer pessoa, independentemente de sua relação 
com a vítima e em qualquer contexto, seja doméstico ou não. Inclui atos como 
estupros (penetração forçada) dentro do casamento ou namoro, por estranhos ou 
mesmo em situações de conflitos armados. Também inclui assédios sexuais: atos 
 
54 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: 
análise crítica e sistêmica. p.31. 
55 COELHO, Elza Berger Salema. Atenção a homens e mulheres em situação de Violência por 
seus parceiros íntimos. p. 24. 
56 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações 
para prática em serviço/ Secretaria de Políticas de Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 
 
 
 31 
e investidas, na forma de coerções e de pagamento ou favorecimento sexual nas 
relações hierárquicas (de trabalho ou escolares). 
Neste momento, ao que se segue, será abordado mais uma 
das formas de violência trazidas pela Lei Maria da Penha, no qual é a violência 
Patrimonial contra mulheres, onde são impedidas de dispor, do modo em lhe 
satisfaça, de toda maneira em que se encontre como patrimônio pessoal. 
 
1.3.4 Violência Patrimonial 
 
Entende-se como violência patrimonial o artigo 7, IV 57: 
A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que 
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus 
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, 
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os 
destinados a satisfazer suas necessidades; 
 
 
Esses delitos são colocados na Lei 11.340/06, mesmo ela 
não explicitando sob a imunidade absoluta do artigo 181, do código penal 58 
É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos 
neste título, em prejuízo: I- do cônjuge, na constância da 
sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o 
parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. 
 
 
Para Porto59, “constitui o crime de violência patrimonial a 
retenção, a subtração e a destruição de instrumentos de trabalho, documentos 
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos”. 
 
57 BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha). Disponível em: 
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acesso em: 14 Jun. de 
2017. 
58 BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade mecum. São 
Paulo: Saraiva, 2015. 
59 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 
11.340/06: análise crítica e sistêmica. p. 33. 
 32 
Presser60, alude a respeito desta matéria a respeito de que 
muitas mulheres não conhecem a real situação em que vivem, situação essa que 
se perpetua por tal falta de conhecimento: 
A violência patrimonial está presente na vida de muitas mulheres, 
porém ainda é desconhecida pela maioria das vítimas. Esta 
ignorância decorre do fato de que muitas mulheres não sabem que 
a retenção, a subtração e a destruição parcial ou total de seus 
objetos pessoais são consideradas um crime previsto na lei Maria 
da Penha (Lei 11.340/06). As vítimas não a reconhecem como tal e 
não denunciam esse tipo de agressão. Dessa forma, a violência 
patrimonial raramente se apresenta separada das demais, 
servindo, quase sempre, como meio para agredir física ou 
psicologicamente a vítima; ou seja, durante as brigas o agressor 
usa do artifício de abstrair os bens da vítima para que ela se cale e 
continue a aceitar a agressão. 
 
 
Há uma outra especificidade mencionada por Dias apud 
Presser61, que disciplina a não prestação alimentar, conforme a seguir: 
Cabe mencionar outra peculiaridade importante da violência 
patrimonial, no que se refere à obrigação alimentar quando o 
agente deixa de atender à obrigação, com plenas condições 
econômicas, além de violência doméstica, pratica o crime de 
abandono material, não sendo necessário que este encargo esteja 
fixado judicialmente. 
 
 
 
Ao que se segue, no próximo tópico será analisado a violência 
moral, ainda como uma das formas de violência doméstica e familiar, em que se 
trata, também é caracterizado por não ser de fácil constatação. 
 
 
1.3.5 Violência Moral 
 
Os crimes de violência moral elencados na Lei 11.340/06, 
trata-se da honra, calúnia, difamação e injúria, como estabelece o inciso V de seu 
 
60 PRESSER, Tiago. A Violência Doméstica. p. 01. 
61 PRESSER, Tiago. A Violência Doméstica. p.01. 
 33 
art. 7o, dando conta que “a violência moral, entendida como qualquer conduta que 
configure calúnia, difamação ou injúria.”62 
Para Capano63, a definição para violência moral, “ é aquele 
que reverbera sobre a dimensão moral e intelectual da mulher e que possui 
potencialidade de destruir ou deteriorar a saúde psíquica da vítima. 
Com base no exposto, e com as declarações feitas por 
Lima64, pode-se entender também como “ como conduta que configure calúnia, 
difamação ou injúria”, amparado pelo código penal brasileiro, conforme a seguir é 
disciplinado, in verbis: 
 
Calúnia 
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido 
como crime: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a 
propala ou divulga. 
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. 
Difamação 
“Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua 
reputação: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.” 
Injúria 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Se o crime for cometido em decorrência do vínculo familiar ou 
afetivo, passa a configurar como violência doméstica. Quando isto 
ocorre, é instituído o agravamento da pena, conforme o artigo 61, 
inciso II, letra f do Código Penal Brasileiro. 
 
Conforme Porto65, “é possível que todos os tipos de violência 
mencionados acima ocorram no âmbito familiar, doméstico ou em uma relação 
íntima de afeto. Não ocorrendo nesses âmbitos, não se caracteriza como violência 
doméstica”. 
 
62 PRESSER, Tiago. A Violência Doméstica. p.02. 
63 CAPANO, Evandro Fabiani, Legislação penal especial. Disposições Gerais. p.313. 
64 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência 
doméstica. p. 65. 
65 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: 
análise crítica e sistêmica. p. 33. 
 34 
Por fim, após a breve abordagem realizada em razão do 
histórico da Lei Maria da Penha, dos ânimos em que apresentam a violência, busca-
se conhecer e entender a formas de violência doméstica, podendo-se notar a 
vontade do legislador em caracterizar alguns dos modos em que a violência 
doméstica e familiar pode ser configurada, em um rol exemplificativo, não bastando 
que se constitua algumas das formas de violência, como também, que se dê em 
um dos âmbitos e relações especificadas na referida Lei, para tanto no capítulo que 
dá sequência a este trabalho, sustenta tais âmbitos e relações disponíveis em Lei, 
com também a caracterização em que se constitui sujeitos ativo e passivo. 
 
 
Capítulo 2 
PREVISÕES DA LEI MARIA DA PENHA E O 
AFASTAMENTO DA LEI 9.099/95 
 
A Lei Maria da Penha se tornou um marco na legislação 
brasileira após a incorporação da legislação imposta internacionalmente, se 
estabelecendo como principal mecanismo no combate à violência doméstica contra 
a mulher no Brasil, firmando a efetividade do art. 226, § 8º, da Constituição Federal 
que assegura através do Estado a "assistência à família, na pessoa de cada um 
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência, no âmbito de suas 
relações”.66 
Houve uma grade argumentação em torno dos arts. 12, inciso 
I, 16 e 41 da Lei Maria da Penha, pela inaplicabilidade da Lei 9.099/95, por conta 
da necessidade de representação da vítima para o andamento da ação penal, a 
violação ao princípio da dignidade da pessoa humana, como também o não 
cumprimento efetivo do Estado de coibir e prevenir a violência em seus âmbitos 
familiares, não dando a proteção devida, integral, aos direitos fundamentais 
constitucionais. 
Portanto, neste capitulo serão abordados os aspectos 
criminais materiaisda Lei Maria da Penha, com as devidas definições de quem 
poderá configurar no polo passivo e no polo ativo dos delitos de violência 
doméstica, a associação das formas de violência doméstica e familiar contra a 
mulher, somadas aos âmbitos e relações de proteção que, estão determinadas na 
referidas lei, e o afastamento da Lei 9.099/95 fazendo uma abordagem analítica 
sobre a ADI 4424 e posicionamento do STF, o que é necessário para a obtenção 
 
66 BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. 
 
 36 
de clareza no assunto que será interpelado adiante, no que diz respeito a imposição 
legislativa na busca pelo ideal de justiça frente a ações efetivas do Poder Judiciário. 
2.1 SUJEITO ATIVO E PASSIVO 
 
Com base no disposto por Brito67, e diante do conceito trazido 
no artigo 5º da Lei 11.340/2006 determinando que, para seus efeitos, configura 
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada 
no gênero, que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, psíquico, sexual e dano 
moral ou patrimonial, praticada no âmbito da unidade doméstica, da família ou em 
qualquer relação íntima de afeto 
Ainda conforme Brito68, é possível, em um primeiro olhar a luz 
da referida Lei, formular um conceito inicial de quem pode configurar como sujeito 
ativo e como sujeito passivo: 
Em um primeiro momento, diante desse conceito de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, pode-se afirmar que os 
sujeitos do crime previsto na Lei 11.340/2006, são: 
· sujeito passivo: somente a mulher que tenha sido vítima de 
agressão decorrente de violência doméstica e familiar; 
· sujeito ativo: somente o homem. 
 
Deste modo, segundo Moreno69, a priori, é preciso que se 
haja o entendimento de que todos os seres humanos são únicos, e a partir de suas 
liberdades, ações, escolhas, atitudes, cultura, é preciso que se exercite o respeito 
com a compreensão de que estes são direitos inerentes a todos, 
independentemente de raça, sexo, cor, idade e gênero. Sendo assim, fica claro 
 
67 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8253/Aspectos-
controversos-quanto-ao-sujeito-ativo-e-passivo-da-Lei-Maria-da-Penha>. Acesso em: 18 Ago. 
2017. 
68 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. p. 01. 
69 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. p.03. 
 37 
que, cada pessoa tem sua individualidade, tem sua personalidade, e seu modo 
próprio de ver e de sentir as coisas.70 
Dentro desta linha de raciocínio apresentada no parágrafo 
anterior, com base no que está disposto na Constituição Federal de 1988, Moreno 
71 diz que: 
Por entendermos que a referida lei tenha objeto (a mulher) e 
objetivo (tutela e proteção dos direitos das mulheres) específicos, 
tem sua constitucionalidade garantida por permissão da Carta 
Magna – que permite o tratamento desigual aos desiguais, situação 
em que se enquadra a mulher, por sua vulnerabilidade, ao ser 
subjugada devido ao gênero – e, sendo assim, não pode ser 
desvirtuada. 
Dentro desse contexto, o Direito tem que deixar de se preocupar 
com as formalidades e observar o que está, de fato, acontecendo 
na sociedade. Gays, lésbicas, travestis e transexuais existem e são 
cidadãos como os demais indivíduos da sociedade. Logo, privá-los 
de uma proteção, configuraria uma forma terrível de preconceito e 
discriminação, algo que a Lei Maria da Penha busca exatamente 
combater. 
 
 
O foco Principal da Lei Maria da Penha é o sujeito passivo, 
que se configuraria na mulher, independendo se for homem ou mulher o sujeito 
ativo da violência doméstica e familiar. Portanto, é possível encontrar no art. 5º, 
parágrafo único, da Lei Maria da Penha que: “as relações pessoais enunciadas 
neste artigo independem de orientação sexual”. 
Como se destaca na sequência, alguns doutrinadores 
elencados a seguir, defendem que o sujeito passivo também pode ser o homem, 
assim como o sujeito ativo pode ser a mulher. 
 
 
70 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente 
do gênero feminino. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: 
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8892>. 
Acesso em: 8 Out 2017. 
71 MORENO, Renan de Marchi. A eficácia da Lei Maria da Penha. p. 5. 
 38 
Brito apud Souza72 descreve, com propriedade, a controvérsia 
quanto ao sujeito ativo dos crimes tratados nessa lei: 
O tema tem dado ensejo a uma aberta divergência quanto à pessoa 
que pode figurar como autor dos crimes remetidos por esta Lei, 
havendo uma corrente que defende que, por se tratar de crime de 
gênero e cujos fins principais estão voltados para a proteção da 
mulher vítima de violência doméstica e familiar, com vistas a 
valorizá-la enquanto ser humano igual ao homem e evitar que este 
se valha desses métodos repugnáveis como forma de menosprezo 
e de dominação de um gênero sobre o outro, no pólo ativo pode 
figurar apenas o homem e, quando muito, a mulher que, na forma 
do parágrafo único deste artigo, mantenha uma relação 
homoafetiva com a vítima, ao passo que uma segunda corrente 
defende que a ênfase principal da presente Lei não é a questão de 
gênero, tendo o legislador dado prioridade à criação de 
“mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar 
contra a mulher”, sem importar o gênero do agressor, que tanto 
pode ser homem, como mulher, desde que esteja caracterizado o 
vínculo de relação doméstica, de relação familiar ou de afetividade. 
 
 
Para Sirvankas73 apud Lima, para definições da Lei, neste 
questionamento sobre gênero, diz que, “gênero é a diferença entre homem e 
mulher. É a relação de gênero – diferença sexual, cujo dispositivo (art.5º) deverá 
ser interpretado conjuntamente com o art.4º da citada Lei”. 
Ainda sobre Brito citando Gomes, é possível observar uma 
segunda corrente demonstrada, que diz que74: 
 
O Sujeito ativo da violência pode ser qualquer pessoa vinculada 
com a vítima (pessoa de qualquer orientação sexual, conforme o 
art. 5º, parágrafo único): do sexo masculino, feminino ou que tenha 
qualquer outra orientação sexual. Ou seja, qualquer pessoa pode 
ser sujeito ativo da violência, basta estar coligada a uma mulher por 
vínculo afetivo, familiar ou doméstico, todas se sujeitam à nova lei. 
Mulher que agride outra mulher com quem tenha relação íntima, 
aplica-se a nova lei. 
 
72 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. p. 02. 
73 LIMA, Paulo Marco Ferreira. Violência contra a mulher: o homicídio privilegiado e a violência 
doméstica. p.65. 
74 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. p. 02. 
 39 
No entanto, com base no exposto sobre quem pode configurar 
como o sujeito ativo nas relações de violência doméstica e familiar, em variadas 
situações se chega a mesma conclusão de que qualquer pessoa pode estar no 
polo ativo, como expôs Brito75 “ na agressão de filho contra mãe, de marido contra 
mulher, de neto contra avó, de travesti contra mulher, empregador ou empregadora 
que agride empregada doméstica, de companheiro contra companheira ou também 
de quem está em união estável contra a mulher”. 
Já para Silva Júnior citado por Brito76, nos crimesde gênero 
definidos no art. 5º, da Lei 11.340/2006, somente a mulher pode ser sujeito passivo 
e somente o homem pode ser sujeito ativo, desde que entre eles exista uma relação 
de afetividade, independentemente de qualquer preferência sexual dos sujeitos. 
Ainda para Silva Júnior citado por Brito77,não é possível a 
perda da proteção destinada a mulher por conta de sua opção sexual ser diversa 
da tradicional, assim também como o homem, na tentativa de se afastar do rigor da 
lei, declarar sua opção sexual como motivo, assim, seu entendimento é de que não 
há outra forma de se interpretar o parágrafo único do artigo 5º da Lei Maria da 
Penha, por não manter a igualdade entre os sexos. 
A partir da exposição dos argumentos retratados, Brito78 se 
posiciona no sentido de eleger a linha de raciocínio de Gomes para ser a melhor 
interpretação ao art. 5º, § único, da Lei Maria da Penha, pois “qualquer pessoa pode 
ser sujeito ativo da violência; bastando estar coligada a uma mulher por vínculo 
afetivo, familiar ou doméstico”. 
Há um ledo engano que permeia a sociedade, por conta de 
disseminação de informações errôneas, que qualquer mulher e qualquer homem 
que podem ser sujeitos dos crimes previstos na Lei Maria da Penha. No entanto é 
 
75 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. p. 01. 
76 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. p. 02. 
77 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. p. 02. 
78 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da 
Lei Maria da Penha. p. 02. 
 40 
necessário que deles haja uma relação pessoal, ou seja, que tenham vínculo afetivo 
ou doméstica 79, que pode ocorrer pela relação parentesco, de relacionamento 
amoroso e da convivência ou ex-convivência no lar. 
Portanto, um exemplo simples dado por Brito80 consegue 
demonstrar bem onde não há as características exigidas em lei para que seja 
aplicada a Lei Maria da Penha, o qual seja: 
Homem que agride uma mulher na rua para roubar sua bolsa, não 
é processado e julgado nos termos da Lei Maria da Penha, mas sim 
pela suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com 
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, 
de 22 de dezembro de 2003. 
 
Para Porto81, a Lei Maria da Penha trata exclusivamente da 
violência contra a mulher, determinando sujeito passivo próprio em relação as 
formas de violência encontradas com definição na lei citada, porém, não 
determinando um sujeito ativo que neste caso poderia tanto ser um homem quanto 
uma mulher, a observação que porto faz é que “ se a lei não faz distinção, não 
cabe ao intérprete distinguir o sexo do sujeito ativo destes crimes”. 
Ainda para Porto82: 
No entanto, é preciso interpretar a norma sempre levando em 
conta princípios como o da razoabilidade e proporcionalidade, não 
descurando que a lei maria da penha trata desigualmente o 
homem e a mulher, incrementando a severidade penal sempre 
que uma mulher for vítima de violência doméstica e familiar. Ao 
relativizar um valor constitucional tão caro como o da igualdade, a 
lei 11.340/06 demanda uma interpretação restritiva, colimando 
não generalizar o que é excepcional. Esta “ desigualdade” de 
tratamento seria inconstitucional não estivesse justificada 
 
79 Art. 5º da Lei Maria da Penha(11.340/06) - Para os efeitos desta Lei, configura violência 
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause 
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da 
unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem 
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; III - em qualquer relação íntima de afeto, 
na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
80 BRITO, Alexandre Joaquim de. Aspectos controversos quanto ao sujeito ativo e passivo da Lei 
Maria da Penha. p. 02. 
81 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: 
análise crítica e sistêmica. p. 38. 
82 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: 
análise crítica e sistêmica. p. 39. 
 41 
racionalmente em uma diferença entre os gêneros masculino e 
feminino, verificável empiricamente. 
 
Baseado nos princípios citados por Porto83, anteriormente, 
pode-se observar que, o STJ estabeleceu o critério da vulnerabilidade para que 
se configurasse violência doméstica e familiar na agressão de mulher a mulher, 
adotando a presunção relativa de vulnerabilidade, enquanto que nas agressões 
de homens a mulheres tem sido levado em conta a presunção absoluta da 
vulnerabilidade da mulher agredida, em consequência da histórica ascensão 
social do homem em detrimento da mulher, construída culturalmente, com o que 
determina a submissão da mulher. 
De outra parte, convém abordar outro requisito em que se 
incide a aplicação da Lei Maria da Penha, requisitos estes não considerados em 
apartado e sim concomitantemente com as formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher. Nisto posto, serão interpelados a seguir os 
âmbitos/vínculos/relações exigidas para a caracterização completa da violência 
doméstica ou familiar contra a mulher, com suas definições legais, e as extensões 
do que o imposto em Lei atinge. 
 
2.2 ÂMBITOS E RELAÇÕES DE PROTEÇÃO 
 
Neste ponto, serão demonstrados os 
âmbitos/vínculos/relações exigidos pela Lei Maria da Penha para caracterização 
completa da violência doméstica ou familiar contra a mulher. Buscar-se-á expor, 
além da questão de gênero exigida, o contexto doméstico ou familiar, e também 
a existência de relação íntima de afeto para que incida a referida Lei e seus 
rigores. 
 
83 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: 
análise crítica e sistêmica. p. 43. 
 
 42 
Deste modo, pode-se ressaltar que para os efeitos da referida 
lei configura violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero, que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual 
ou psicológico e dano moral ou patrimonial combinada com um dos 
âmbitos/vinculo/relação determinadas em Lei, de acordo com Porto84: 
A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher 
não exige a presença simultânea ou cumulativa de todos os 
requisitos do art. 7º, basta a presença alternativa de uma das 
formas de violência prevista no art. 7º em combinação alternativa 
com 1 dos pressupostos do art. 5º.(âmbito da unidade doméstica, 
da família ou qualquer relação íntima de afeto). 
 
O que se desdobraria no seguinte modo, conforme Porto85: 
 
Formas de violência: 
 Violência física; 
 Violência psicológica; 
 Violência sexual; 
 Violência patrimonial; 
 Violência moral; 
Âmbito/ vinculo/ relações exigidas para a caracterização completa 
da violência doméstica ou familiar contra a mulher: 
 Âmbito Doméstico: Nesse caso, privilegia-se o espaço em que 
se dá alguma forma de violência referida anteriormente, 
bastando que tal se consume na unidade doméstica de convívio 
permanente entre pessoas, ainda que esporadicamente 
agregadas e sem vínculo afetivo ou familiar entre si. 
 Âmbito familiar: Aqui já não prevalece a caráter espacial do lar 
ou da coabitação, mas sim o vínculo familiar decorrente do 
parentesco natural, por

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