Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sociologia A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL SEGUNDO MAX WEBER: CLASSES, ESTAMENTOS E PARTIDOS. 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. Poder, dominação e diferenciação social ................................................................................2 1.1. Os critérios básicos da distribuição de poder .......................................................................2 1.2 Tipos de estratificação social ...................................................................................................3 1.3. O Estado e os tipos de dominação .........................................................................................6 Exercícios .............................................................................................................................................7 Gabarito ...............................................................................................................................................9 Resumo ............................................................................................................................................. 10 2 Introdução Nesta aula compreenderemos quais características estão envolvidas na estratificação social, ou seja, na constituição de grupos que possuem aspectos desiguais. Entenderemos três características principais que Max Weber elenca para compreender a distribuição de poder: a ordem social, a ordem econômica e a ordem política. Ao analisar diferentes períodos da história da humanidade, Weber seleciona três conceitos para criar cateogorias: as castas e seus laços familiares, os estamentos e a lei, e as classes sociais e a distribuição de riquezas. Estudaremos dentro dessas estratificações sociais suas principais características, divisões estamentais e possibilidades de mobilidade social dentro delas. Aprenderemos a diferencias as formas de ação possíveis de pessoas dentro de uma mesma classe social, sendo elas a ação de massa ou homogênea, a ação comunitária e a ação societária. Também veremos como são exercidas as principais formas de dominação no Estado moderno, de acordo com o mesmo autor, que elenca três tipos principais de dominação pelas lideranças nesses Estados: a dominação tradicional, a dominação carismática e a dominação legal. Objetivos • Caracterizar os diferentes tipos de estratificação social elencados por Weber. • Compreender os diferentes mecanismos de dominação exercidos nas sociedades capitalistas. 1. Poder, dominação e diferenciação social 1.1. Os critérios básicos da distribuição de poder Diferentemente de Marx, que prioriza os aspectos econômicos e materiais, para Weber a distribuição do poder pode ser entendida por meio de conceitos que remetem à coletividade, utilizando três critérios básicos (simbólicos e materiais): • a ordem social: definida primordialmente pelo status social, ou seja, o prestígio e influência (poder) de determinado indivíduo em uma sociedade. Podemos citar como exemplo a posse de um diploma, que não tem valor material, mas tem valor 3 simbólico e legitima o poder de um indivíduo sobre determinado conhecimento científico/profissional. • a ordem econômica: definida pelo pertencimento a uma classe social, que é composta por características relacionadas a renda, ao consumo e ao patrimônio, e baseando-se em posses materiais, que definem se o indivíduo é rico, de classe média ou pobre, havendo nuances intermediárias. • a ordem política: definida pelos partidos. O poder seria distribuído conforme a situação do partido, se está no poder no momento ou não. Os partidos são os locais de manifestação das ideias e projetos dos grupos políticos que interagem tanto dentro como fora deles. Ao sistema de diferenciação social promovido de forma desigual na distribuição de poder e de recursos materiais na sociedade é dado o nome de estratificação social. 1.2 Tipos de estratificação social Max Weber destaca três tipos de estratificação social presentes na sociedade – em diferentes tempos históricos ou ao mesmo tempo. Nesses tipos de estratificação, diferentes valores são dados a diferentes aspectos (econômicos, tradicionais, hereditários, etc.), que geram variados modelos sociais. São eles: Castas As castas são a forma de organização em sociedades que possuem uma hierarquia relacionada à herança familiar, ou seja, está relacionada a um prestígio e poder material proveniente da árvore genealógica do indivíduo. Há uma estrutura rígida a ser seguida, tendo como característica, por exemplo, o casamento endogâmico e o estabelecimento de rituais ou convenções sociais. Neste tipo de estratificação não há possibilidade de mobilidade social, ou seja, de mudança de um indivíduo de uma casta para outra. 4 CURIOSIDADE Estamentos Os estamentos são definidos principalmente na esfera social, sendo que os aspectos tradicionais da sociedade relacionados à família, aos títulos de poder, e principalmente a lei são essenciais para sua diferenciação. Além disso, os aspectos simbólicos, como o prestígio social, também contribuem para essa diferenciação. Há diferenciação de importância entre os estamentos mais altos (ligados às convenções sociais) e os estamentos de nível social mais baixo (em que a maior importância é dada à função dos indivíduos na sociedade) e também há a possibilidade de mobilidade, embora seja baixa. Como exemplo, temos a divisão social estamental da sociedade feudal, em que a cada estamento era atribuída uma atividade diferente, ligada ao prestígio social específico de cada um. A sociedade de castas foi predominante por muitos anos na Índia, tendo sido abolida desde a Constituição de 1950. No entanto, a crença nesse tipo de divisão social tradicional faz com que muitos membros da população indiana ainda se guiem pelos preceitos da divisão em castas. Na novela brasileira “Caminho das Índias” transmitida pela Rede Globo em 2009 foi abordada a situação dos “dalits”, indivíduos excluídos do sistema de castas pela condenação social. Esses indivíduos eram obrigados a conviver em condições sub-humanas e estavam sujeitos a humilhações, sendo excluídos da maior parte das relações sociais. Eram também chamados de “intocáveis”. 5 01 Todos os dias existem decisões tomadas tendo por base a flutuação da bolsa de valores. O mercado financeiro é central na orientação das ações em escala global nas sociedades contemporâneas. Classes As classes sociais são as divisões típicas das sociedades industrializadas em que há noção de igualdade perante a lei, mas desigualdade de distribuição das riquezas e de títulos que atribuem valor social ao indivíduo. Weber prevê a possibilidade de mobilidade social, portanto considera que os indivíduos se encontram em uma situação de classe, que varia conforme as posses simbólicas (como habilitação profissional e status) ou as posses materiais (moradia, terras, bens, etc.). As relações nas sociedades de classe são definidas cada vez mais pela esferaeconômica. Nestas há maior possibilidade de mobilidade social. Pessoas de uma mesma classe, de acordo com Weber, agem no escopo da possibilidade de três tipos ideais de ação, sendo eles: • Ação de massa ou homogênea que tem o potencial de se tornar uma ação comunitária (mas não necessariamente se tornará). • A ação comunitária se relaciona à sensação de pertencer, ou seja, de um indivíduo ter características e valores em comum com os demais. • A ação societária ocorre quando há uma racionalidade ligada a fins, ou seja, há um interesse e um objetivo em comum dos indivíduos que a exercem. 6 Essas ações norteiam os estudos de associações e grupos profissionais de diferentes classes sociais, em que também se faz necessário analisar os interesses econômicos, o estado do mercardo e a tomada de posição dos indivíduos. A transição de um tipo de estratificação social para outro só acontece vagarosamente e paulatinamente quando há profundas transformações nas formas de viver, dividir o trabalho e na ordem social de uma forma geral. 1.3. O Estado e os tipos de dominação Existem algumas definições essenciais para a compreensão da teoria social, política e econômica de Weber. A dominação para Weber não se dá apenas pelo exercício do poder, mas também por mecanismos que contribuem com o desenvolvimento da obediência dos indivíduos, que podem estar submetidos à dominação de uma figura, de uma instituição, ou de um grupo de autoridade. São elencadas por Weber dois tipos de dominação: o poder monopolizador em que há grandes grupos de interesse envolvidos, como por exemplo, o mercado agindo sobre a população; e o poder disciplinador-tradicional ligado à tradição, à obediência, por exemplo, à figura paterna ou a um rei. A obediência não é exercida sempre conscientemente e pode trazer benefícios ao indivíduo que a exerce. Muitas vezes, quem obedece crê que os interesses que movem sua autoridade são os mesmos que os seus. Um dos aspectos importantes da dominação é a legitimidade dessa, podendo ser concedida pela esfera jurídica (que é formada pelo grupo que exerce a dominação) que a reconhece. O estudo dos Estados modernos é de grande importância na obra weberiana. O autor define o Estado como possuidor do monopólio legítimo da força. Ou seja, o Estado tem o poder de exercer a violência (por meio da força policial, do exército, etc.) como forma de domínio e isso é legitimado socialmente. 02 7 O domínio exercido pelo Estado moderno se dá pelo monopólio legítimo da força, frequentemente materializado pelas forças armadas. No Estado, que é o concentrador da política nos Estados modernos, existem três tipos ideais de liderança definidos por Weber. São eles: • A dominação tradicional caracterizada pelas tradições e costumes cristalizados pelo tempo. Exemplo: rei, senhor de terras, etc. • A dominação carismática caracterizada pelas habilidades pessoais que comovem a população, garantindo a identificação dos dominados para com o dominador, investindo fé em suas ações por meio da confiança que seu carisma proporciona. Ex.: o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o Lula. • A dominação legal caracterizada pela conferência de autoridade por meio das constituições e leis, no qual a obediência funciona como um contrato social, no qual os indivíduos aceitam se submeter em troca de benefícios. Em se tratando de tipos ideais, sabemos que é muito difícil encontrar um estado “puro” desses tipos de liderança, havendo várias combinações possíveis. Exercícios 1. (UEL, 2006) Contardo Calligaris publicou um artigo em que aborda a prática social brasileira de denominar como doutores os indivíduos pertencentes a algumas profissões, dentre eles médicos, engenheiros e advogados, mesmo na ausência da titulação acadêmica. Segundo o autor, estes mesmos profissionais não se apresentam como doutores no encontro com seus pares, mas apenas diante de indivíduos de segmentos sociais considerados subalternos, o que indica uma tentativa de intimidação social, servindo para estabelecer uma distância social, lembrando a sociedade de castas. A questão levantada por Contardo Calligaris aborda aspectos relacionados à estratificação social, estudada, entre outros, pelo sociólogo alemão Max Weber. De acordo com as ideias weberianas sobre o tema, é correto afirmar: a) As sociedades ocidentais modernas produzem uma estratificação social multidimensional, articulando critérios de renda, status e poder. b) Médicos, engenheiros e advogados são designados de doutores porque suas profissões beneficiam mais a sociedade que as demais. 8 c) A titulação acadêmica objetiva a intimidação social e a demarcação de hierarquias que culminem em uma sociedade de castas. d) A intimidação social perante os subalternos expressa a materialização das castas nas sociedades modernas ocidentais. e) Nas sociedades modernas ocidentais, a diversidade das origens, das funções sociais e das condições econômicas são critérios anacrônicos de estratificação. 2. (UEL, 2007) De acordo com Octavio Ianni: “Para melhor compreender o processo de estratificação social, enquanto processo estrutural, convém partirmos do princípio. Isto é, precisamos compreender que a maneira pela qual se estratifica uma sociedade depende da maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente”. Fonte: IANNI, O. Estrutura e História. In IANNI, Octavio (org). Teorias da Estratificação Social: leitura de sociologia. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978, p. 11. Com base no texto e nos conhecimentos sobre estratificação social, considere as afirmativas a seguir: I. Os estamentos são formas de estratificação baseadas em categorias socioculturais como tradição, linhagem, vassalagem, honra e cavalheirismo. II. As classes sociais são formas de estratificação baseadas em renda, religião, raça e hereditariedade. III. As mudanças sociais estruturais ocorrem quando há mudanças significativas na organização da produção e na divisão social do trabalho. IV. As castas são formas de estratificação social baseadas na propriedade dos meios de produção e da força de trabalho. A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I, II e IV. 9 e) II, III e IV. 3. (UEMA, 2012) Qual das alternativas abaixo corresponde à definição de Max Weber sobre o Estado Moderno? a) Comitê executivo dos negócios de toda a burguesia. b) Comunidade humana que, dentro dos limites de um determinado território, reivindica o monopólio da força legítima. c) Representante de uma das classes fundamentais. d) Instrumento de dominação de uma classe sobre a outra. e) Representante da burocracia pública. Gabarito 1. a) As sociedades ocidentais modernas produzem uma estratificação social multidimensional, articulando critérios de renda, status e poder. Justificativa: Sabemos que, em Weber, classes e estratificações sociais são formas de dominação. Esse processo se dá de três formas: renda, status e poder. O caso relatado nessa questão refere-se à dominação por status, uma vez que a titularidade acadêmica é utilizada como mecanismo de intimidação social contra indivíduos de classes inferiores. Vale lembrar que as classes e estamentos só manifestam seus mecanismos de repressão quando estão entre desiguais. 2. b) I e III. Justificativa: A asserção I está correta, pois tradição, linhagem, vassalagem, honra e cavalheirismo são categorias socioculturais muito valorizadas na Idade Média, período modelo da sociedade estamental. A asserção II éfalsa, pois a estratificação por classes pauta-se em aspectos econômicos, não se baseando em elementos religiosos ou raciais, ainda que a hereditariedade possa ter algum peso (a herança recebida por filhos ricos, por exemplo). A asserção III é verdadeira pois, já que a estratificação está associada às funções sociais dos indivíduos ou a suas respectivas rendas, ela só se modifica na medida em que toda a estrutura da sociedade se modifica e também o modo como suas respectivas funções se distribuem. A asserção IV é falsa, pois a estratificação por castas não se pauta em aspectos econômicos, como a propriedade dos meios de 10 produção ou a força de trabalho, mas sim nas funções sociais exercidas por cada camada do ordenamento social. 3. b) Comunidade humana que, dentro dos limites de um determinado território, reivindica o monopólio da força legítima. Justificativa: O Estado Moderno tal qual definido por Weber prevê o monopólio da força legítima, ou seja, o conceito de legitimidade, o que garante o poder a um órgão, instituição ou indivíduo é essencial para entender a constituição da organização política na modernidade. Resumo Nesta aula estudamos três critérios básicos (simbólicos e materiais) elencados por Weber para definir a distribuição de poder: a ordem social: definida
Compartilhar