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AÇÃO-RESCISÓRIA-E-RECLAMAÇÃO

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SUMÁRIO 
1 AÇÃO RESCISÓRIA ................................................................................... 2 
1.1 Natureza jurídica .................................................................................. 3 
1.2 A Ação Rescisória ................................................................................ 4 
1.3 Hipóteses de cabimento da ação rescisória ......................................... 5 
1.4 Legitimidade ....................................................................................... 13 
1.5 Competência ...................................................................................... 14 
1.6 Prazo para propor a rescisória ........................................................... 15 
2 RECLAMAÇÃO ......................................................................................... 16 
2.1 Cláusula de exclusão ......................................................................... 20 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 24 
 
 
 
1 AÇÃO RESCISÓRIA1 
A ação rescisória está prevista no artigo 966 do Código de Processo Civil e é 
uma ação que visa desconstituir uma sentença de mérito sobre a qual ocorreu a 
coisa julgada material, além de ser possível a propor também, excepcionalmente, 
contra decisões transitadas em julgado que, embora não sejam de mérito, impeçam 
a nova propositura da demanda ou a admissibilidade do recurso correspondente, 
como excetua o parágrafo segundo, inciso primeiro e segundo referido artigo. 
Portanto, o objeto principal da ação rescisória consiste em decisão de mérito 
que transitou em julgado, não importando se as decisões foram proferidas na ação 
considerada principal ou não, a esse respeito Luiz Rodrigues Wambier2 diz que 
apesar de ser utilizada esta diferenciação não é correta. 
“Quando, no mesmo processo, se instauram por exemplo, oposição, 
reconvenção ou denunciação, se costuma chamar a primeira ação – ação 
originária – de ação principal, mas, na verdade de principal ela nada tem. É 
exatamente igual às outras, do ponto de vista científico. A ação é “igual” à 
reconvenção, tanto que, extinguindo-se a ação a reconvenção prossegue; e, 
enfim, existem diversas hipóteses, previstas pela lei, em que várias ações 
podem correr no mesmo processo, sendo que, em verdade nenhuma delas 
é principal em relação às outras.” 
Assim, qualquer decisão proferida dentro do processo é passível de ser 
desconstituída pela ação rescisória, não interessando se a mesma foi proferida na 
ação dita principal, ou nas demandas incidentalmente propostas. 
É importante colocar que o legislador utilizou, especificamente, a expressão 
decisão no caput do artigo 966. O termo decisão, neste caso, deve ser entendido 
como gênero, de que são espécies a sentença e a decisão interlocutória. 
“Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida 
quando:” 
Isto ocorre pois, há divergência doutrinária no que tange a classificação das 
decisões. Parte da doutrina entende que existem decisões interlocutórias “de 
mérito”, como por exemplo a decisão que põe fim à liquidação de sentença, outra 
 
1 Texto extraído do artigo “Ação Rescisória no Novo CPC” de Caio Guimarães Fernandes. 
2 Wambier Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo de 
conhecimento, volume 1/ Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini – 15. Ed. Rev. atual.. – São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais 2015. 
 
parte da doutrina entende que, apesar de serem passíveis de agravo, estas 
decisões são sentenças. 
Outra possibilidade de decisão interlocutória de mérito está prevista artigo 356 
do Código de Processo Civil que prevê o chamado julgamento antecipado parcial de 
mérito. Este se dará por meio de decisão interlocutória, é passível de agravo de 
instrumento e, caso não haja recurso, transitará em julgado adquirindo a 
imutabilidade e a indiscutibilidade, características da coisa julgada material, ou seja, 
esta decisão também será passível de ação rescisória. 
Portanto, para afastar quaisquer tipos de dúvidas a respeito sobre as 
possibilidades de rescindir as diferentes decisões, optou-se por deixar o termo 
decisões em caráter de gênero. Decisões que são acobertadas pela autoridade da 
coisa julgada, excepcionando as situações já ditas. 
A ideia principal, excluindo-se as exceções é de que há de se haver como 
pressuposto da rescindibilidade a coisa julgada. É impossível admitir uma ação 
rescisória sem que tenha se operado a coisa julgada, ou mesmo ser aplicada em 
decisões que nunca transitarão em julgado. 
As sentenças inexistentes juridicamente não fazem coisa julgada material, e 
portanto dispensam a ação rescisória. Esta situação ocorre quando, por exemplo, 
faltam os pressupostos processuais ou quando há uma sentença sem dispositivo. 
Nestes casos, poderá, a qualquer tempo ser alegada a inexistência da ação. 
Portanto, não cabe propor ação rescisória para atacar decisões que não 
transitaram em julgado, isto é para decisões em que exista a possibilidade de serem 
revistas por algum recurso, de decisões inexistentes e tampouco de decisão, que, 
por exemplo, homologa desistência da ação. 
1.1 Natureza jurídica 
A natureza jurídica da ação rescisória é de ação constitutiva negativa, 
portanto, quando a mesma é julgada procedente, tem-se uma sentença 
desconstitutiva. 
Atribui-se o caráter de ação desconstitutiva pois, nesta ação é possível 
realizar dois pedidos, o da desconstituição da coisa julgada, o chamado juízo 
 
rescindens, e o rejulgamento da causa, juízo rescissorium. Assim é considerada 
desconstitutiva baseada no possibilidade do primeiro pedido. 
1.2 A Ação Rescisória 
A ação rescisória é um procedimento especial que comporta três juízos, o de 
admissibilidade, o de anulação e o de rejulgamento. Quando configurado seus 
pressupostos, sua cumulação é obrigatória e seu pedido deve ser formulado e 
expresso neste sentido. 
Em princípio, esta ação busca rescindir de forma mediata e indireta as 
decisões que apesar de nulas transitaram em julgado, e, portanto, estão alcançadas 
pela proteção coisa julgada. 
A coisa julgada deve ser entendida como uma qualidade especial que confere 
imutabilidade ao comando das decisões, atribuindo estabilidade e segurança jurídica 
para os casos já decididos, ou seja, sem que haja ocorrido quaisquer das hipóteses 
elencadas no artigo 966 do Código de Processo Civil, ou em dispositivos específicos 
de outras leis. 
 
Fonte: www.meusprediletos-tataizinha.blogspot.com.br 
 
Esta torna a decisão imutável e indiscutível, vedando que a mesma ação seja 
levada a um novo julgamento pelo Poder Judiciário. É a chamada eficácia negativa 
da coisa julgada. 
Quando a coisa julgada está desconstituída, o pronunciamento rescisório se 
volta contra a nulidade da sentença ou da decisão e esta é declarada, revelando os 
efeitos ex tunc deste juízo de anulação. 
Assim, tem-se que a forma para impugnar uma sentença ou decisão 
interlocutória de mérito transitada em julgada eivada de nulidade é através da ação 
rescisória. 
Porém, como será visto, não é somente nos casos em que a decisão 
encontra-se viciada que será passível rescindi-la, como é o caso de rescindir a 
decisão em que se o autor obtiver documento novo, na forma expressa na lei. 
1.3 Hipóteses de cabimento da ação rescisória 
Para que seja possível a rescisão da decisão judicial sobre a qual já tenha 
recaído a coisa julgada, o vício deve estar elencado no rol taxativamente previstos 
no artigo 966 do Código de processo Civil. 
“Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado,pode ser rescindida 
quando: 
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou 
corrupção do juiz; 
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; 
III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte 
vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar 
a lei; 
IV - ofender a coisa julgada; 
V - violar manifestamente norma jurídica; 
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo 
criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; 
VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja 
existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe 
assegurar pronunciamento favorável; 
VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. 
§ 1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente 
ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo 
indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto 
controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. 
§ 2º Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a 
decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: 
I - nova propositura da demanda; ou 
II - admissibilidade do recurso correspondente. 
§ 3º A ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da 
decisão. 
 
§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros 
participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos 
homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, 
nos termos da lei. 
§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste 
artigo, contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão 
proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a 
existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão 
decisório que lhe deu fundamento. 
§ 6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, 
caberá ao autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, 
tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de 
questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica.” 
A primeira hipótese trazida pelo inciso primeiro versa sobre atos tipificados no 
Código Penal como crimes contra a administração pública, indicando que a decisão 
decorreu de ato criminoso do julgador. 
Assim, para sua configuração é necessária que estejam previstos todos os 
requisitos do tipo penal, porém, não é necessário que haja condenação prévia. 
Prevaricar é “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou 
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento 
pessoal”, artigo 319 do Código Penal. 
Concussão liga-se à ideia de “exigir, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, 
vantagem indevida”, artigo 316 do Código Penal. 
Corrupção passiva é “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, 
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”, artigo 317 do Código 
Penal. 
Assim, independente do fato de haver ou não a condenação no âmbito penal, 
poderá ser proposta ação rescisória quando tipificado a conduta do julgador neste 
artigo. E ainda que este seja absolvido na esfera penal, no âmbito civil a ação 
poderá ser julgada procedente. 
A segunda hipótese é sobre decisão proferida por juiz impedido ou por juízo 
absolutamente incapaz. O juiz é impedido quando se configura alguma das 
previsões do artigo 144 do Código de Processo Civil. 
“Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções 
no processo: 
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, 
funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como 
testemunha; 
 
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; 
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou 
membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer 
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro 
grau, inclusive; 
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, 
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro 
grau, inclusive; 
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa 
jurídica parte no processo; 
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer 
das partes; 
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha 
relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; 
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu 
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou 
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por 
advogado de outro escritório; 
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. 
§ 1º Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o 
defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já 
integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz. 
§ 2º É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar 
impedimento do juiz. 
§ 3º O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de 
mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus 
quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, 
mesmo que não intervenha diretamente no processo.” 
A imparcialidade do juiz é um pressuposto processual de validade. Se faltante 
a imparcialidade este estará impedido, e assim encontra-se diante de uma nulidade 
que se reflete nos atos do processo e na própria decisão final. 
Assim, são passíveis de ação rescisória decisões proferidas por juízes 
impedidos. 
O segundo aspecto deste artigo é a decisão proferida por juiz absolutamente 
incompetente, ou seja incompetente por razão da matéria, da pessoa ou da função, 
nos casos da incompetência relativa, ocorrerá sua prorrogação caso não seja 
alegado oportunamente, artigo 65 do Código de Processo Civil. 
“Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a 
incompetência em preliminar de contestação. 
Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério 
Público nas causas em que atuar.” 
A terceira hipótese baseia-se na conduta inadequada das partes, por 
entender que uma das partes agiu contra a boa-fé, o que dificultou a atuação da 
parte contrária ou afasta o julgador da verdade dos fatos. 
 
Para configurar esta hipótese há que ocorrer o dolo, há que se demonstrar 
que houve a conduta ardilosa, consistente na circunstância de haver nexo causal 
entre aquele e a decisão. 
A coação é uma inovação trazida pelo novo código que se caracteriza pelo 
constrangimento praticado sobre a parte vencida 
A decisão resultante de simulação e colusão entre as partes a fim de fraudar 
a lei também é passível de ser rescendida. Na colusão o objetivo é obter situação 
jurídica proibida pela lei, e na simulação as partes não possui em interesse em se 
aproveitar dos resultados do processo, mas apenas, de utiliza-lo como simulacro 
para prejudicar terceiros. 
A quarta hipótese versa sobre ofender a coisa julgada, como já dito, o pedido 
da sentença proferida sobre a qual recai a coisa julgada não pode ser motivo de 
outra ação entre as mesmas partes, assim, caso esta isto ocorra a nova decisão 
pode ser tida como nula, e, portanto, rescindível, como se demonstra com as 
decisões abaixo: 
“A ação rescisória proposta com base no art. 485, IV,do diploma processual 
civil pressupõe a existência de duas decisões sobre a mesma relação 
jurídica para a configuração da ofensa à coisa julgada. Na presente 
hipótese não resta configurada a suposta violação, tendo em vista que o 
pedido se limita à aplicação de precedente do Supremo Tribunal Federal, 
que somente produziu coisa julgada entre as partes que litigaram no feito, 
não possuindo efeito erga omnes e tampouco efeito vinculante” (STJ, EDcl 
na AR 1.393/PB, 3.ª Seção, j. 24.11.2004, rel. Min. Gilson Dipp, DJ 
06.12.2004). 
 “Não há ofensa à coisa julgada eis que a decisão, mais moderna, que 
concede reintegração de posse ao ex-companheiro sobre um dos imóveis 
do qual é cotitular, não contraria coisa julgada de ação de dissolução de 
sociedade de fato, que reconheceu à ex-companheira a meação sobre este 
e um outro imóvel adquiridos pelo par durante sua vida em comum” (STJ, 
REsp 219.792/MG, 4.ª T., j. 18.12.2003, rel. Min. Aldir Passarinho Jr., DJ 
08.03.2004). 
 “a ação rescisória proposta com base no art. 485, IV, do Diploma 
Processual Civil, para a configuração da ofensa à coisa julgada, pressupõe 
a existência de duas decisões sobre a mesma relação jurídica. Conforme 
dispõe a norma supra, a sentença de mérito, transitada em julgado, pode 
ser rescindida quando ofender a coisa julgada. Por sua vez, o instituto da 
coisa julgada material é definido como a ‘eficácia que torna imutável e 
indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou 
extraordinário’, ex vi do art. 467 do CPC. Para a constatação de ofensa à 
res judicata, já decidiu esta Corte ser necessário que haja ‘tríplice 
identidade entre as ações, ou seja, suas partes, causa de pedir e pedido 
devem ser os mesmos’ (STJ, REsp 332.959/ PR, 3.T., 07.06.2005, rel. Min. 
Nancy Andrighi, DJ de 27/6/2005). 
 
Segundo lição de Pontes de Miranda, a coisa julgada material impede a 
discussão, em outro processo, do que se discutiu no primeiro (RTJ 123/569)” (STJ, 
AR 3.029/SP, 3.ª Seção, j. 11.05.2011, rel. Min. Jorge Mussi, DJe 30.08.2011). 
 “Não há ofensa à coisa julgada quando o juízo monocrático determina a 
incidência dos juros de mora desde a citação e o acórdão proferido pelo 
STJ apenas se manifesta acerca da atualização monetária” (STJ, EDcl nos 
EDcl no AgRg no AREsp 10.119/SP, 3.ª T., j. 06.08.2013, rel. Min. João 
Otávio De Noronha, DJe 19.08.2013). 
A discussão ao redor deste inciso gira em torno do fato de que, escoado o 
prazo decadencial para propor a ação rescisória, existirão duas decisões as quais 
deveriam ser cumpridas. 
Parte da doutrina acredita que deve ser cumprida a primeira decisão, pois não 
há nenhum vício a ela inerente, como é o caso de Sérgio Rizzi3. Entretanto, há parte 
da doutrina que entende que deverá prevalecer a segunda, caso a primeira não tiver 
sido executada, conforme Pontes de Miranda e Ada Pellegrini Grinover. 
O inciso quinto trata sobre a violação manifesta da norma jurídica. Essa 
violação não necessariamente deve ocorrer na decisão, podendo ocorrer durante o 
curso do processo. 
Em relação a norma jurídica que foi violada, de forma unânime há o 
entendimento de que tanto pode ser de norma material ou processual, em ambos os 
casos será possível propor ação rescisória. 
Em relação às normas processuais que foram violadas, somente as violações 
que acarretarem em nulidade absoluta serão passíveis de serem rescindidas pela 
ação rescisória, excluindo assim, as violações que consistirem em anulabilidade. 
Encartam-se também as violações à lei processual que digam respeito à 
própria sentença, ou seja, vícios relativos a sua fundamentação, que pode ser 
ausente, insuficiente ou inadequada e à extensão do decisório, devendo a mesma 
se ater ao pedido, sem que haja sentenças ultra, extra ou infra petita. 
As sentenças infra petita, ao deixarem de julgar o pedido do autor, não deve 
ser considerada nula, mas sim, inexistente, não viciando as outras decisões. 
Em relação as sentenças ultra petita, a jurisprudência tem temperado de 
maneira acentuada a possibilidade de se desconstituírem as sentenças reduzindo-as 
ao pedido e não anulando-as ou rescindindo-as. 
 
3 LUIZ SÉRGIO DE SOUZA RIZZI, Da ação rescisória, RePro 26/158 
 
No que tange a expressão literal violação da lei, somente deverá ser levado 
em conta leis cuja aplicação possuem apenas uma interpretação jurisprudencial ou 
mesmo com uma interpretação predominantemente aceita. 
Portanto não é possível propor ação rescisória frente a decisões proferidas 
com base na violação literal da lei caso esta lei possua diversas interpretações 
jurisprudenciais, como prevê a sumula 343 do STF. 
“Súmula 343 - Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de 
lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de 
interpretação controvertida nos tribunais.” 
Outro ponto a se destacar é a respeito da possibilidade de se rescindir a 
decisão sobre a qual pese a autoridade da coisa julgada, decidida com base em lei, 
que posteriormente foi tida como inconstitucional, pelo controle concentrado, pelo 
Supremo Tribunal Federal, caso seus efeitos não tenham sido modulados. 
Esta questão somente é possível ser abordada caso o STF não tiver em sua 
decisão declarado que esta deve produzir efeitos ex-nunc. 
O inciso sexto traz a hipótese de propor a rescisória quando a sentença for 
baseada em uma prova falsa, cuja autenticidade seja apurada em processo criminal 
ou durante a própria ação rescisória. 
Para que a ação seja fundamentada neste inciso, é necessário haver nexo 
causal entre a prova falsa e a decisão rescindenda, isto é, se não houvesse tal prova 
a decisão teria sido outra. 
O inciso sétimo diz respeito a prova nova, se posteriormente ao encerramento 
do processo, a parte obtiver novo elemento probatório que lhe poderia assegurar 
resultado favorável, admite-se a rescisão da decisão judicial. 
Por prova nova deve-se entender não aquela surgida após o encerramento do 
processo, mas aquela prova que já existia ao tempo do julgamento do mérito que a 
parte ignorava ou tenha ficado impossibilitado de utilizar. 
Este entendimento pode se verificar nas decisões abaixo: 
“Ação rescisória. previdenciário. aposentadoria por idade. rurícola. ctps. 
documento novo. solução pro misero. pedido procedente. 1. A anotação em 
Carteira de Trabalho e Previdência Social, que atesta a condição de 
trabalhadora rural da autora, constitui início razoável de prova documental, 
para fins de comprovação de tempo de serviço. Precedentes. 2. Embora 
preexistentes à época do ajuizamento da ação, a jurisprudência da 3ª Seção 
deste Tribunal fixou-se em que tais documentos autorizam a rescisão do 
julgado com base no artigo 485, inciso VII, do Código de Processo Civil, 
 
dadas as condições desiguais vivenciadas pelo trabalhador rural. 3. Pedido 
procedente”. (STJ, AR 800/SP, 3.ª Seção, j. 23.04.08, rel. Ministro Hamilton 
Carvalhido, DJe 06.08.2008). 
“ação rescisória. previdenciário. documento novo. aposentadoria por idade. 
trabalhador rural. prova material. existência. I – Esta Seção, considerando 
as condições desiguais vivenciadas pelo trabalhador rural e adotando a 
solução pro misero, entende que a prova, ainda que preexistente à 
propositura da ação, deve ser considerada para efeitos do art. 485 VII, do 
CPC. Precedentes. II – Certidão de nascimento do filho da autora, em que o 
cônjuge desta está qualificado como lavrador, é apta à comprovação da 
condição de rurícola para efeitos previdenciários. Ação rescisória 
procedente”. (STJ, AR 3.520/SP, 3.ª Seção, j. 27.02.08, rel. Ministro Felix 
Fischer, DJe 30.06.2008). 
 “ação rescisória. documento novo e erro de fato. arts. 485, VI e 487, I, do 
cpc. rurícola. dificuldade de obtenção na época própria.solução pro misero. 
1. Segundo entendimento pretoriano – REsp 15.007/RJ – documento novo 
referido no inciso VI, do art. 485, do Código de Processo Civil, é, “em 
princípio, o já existente quando da decisão rescindenda, ignorado pelo 
interessado ou de impossível obtenção à época da utilização no processo, 
apresentando-se bastante para alterar o resultado da causa”. 2. No caso 
específico do rurícola em virtude de suas desiguais e até mesmo 
desumanas condições de vida e de cultura, autoriza-se inferir, dado os 
percalços encontrados na busca, não obstante a existência do documento 
quando do ajuizamento da ação, cujo julgado ora se rescinde, a ausência 
de desídia ou negligência. Pode-se – ainda – sem margem de erro, concluir 
que sua existência era ignorada até mesmo em função das adversas 
condições de cultura. 3. A certidão de casamento, atestando a profissão do 
marido da autora como sendo a de lavrador, não levada em consideração 
pelo acórdão rescindendo, caracteriza a existência de erro de fato, capaz de 
autorizar a rescisão do julgado, erigindo-se em início razoável de prova 
material da atividade rurícola. Precedente desta Corte. 4. Matéria 
previdenciária. Compreensão ampla. Solução pro misero. 5. Rescisória 
procedente”. (STJ, AR 843/SP, 3.ª Seção, j. 08.11.2000, rel. Min. Fernando 
Gonçalves, DJ 04.12.2000). 
“(…)A jurisprudência flexibilizou a exigência de demonstração pelo 
trabalhador rural de que ignorava a existência dos documentos novos ou de 
que deles não pode fazer uso no momento oportuno, considerando 
adequada a solução pro misero àqueles que, em situação bastante desigual 
à de outros trabalhadores, não possuem noções mínimas de seus direitos 
fundamentais (…)”. (TRF3, AR nº 0089566-91.2007.4.03.0000, 3ª Seção, j. 
10.05.2012, rel. Des. Federal Baptista Pereira, DJe 29.05.2012). 
“(…) No caso dos trabalhadores rurais, a jurisprudência tem abrandado os 
rigores processuais do art. 485, VII, do Código de Processo Civil, admitindo 
o uso do documento novo ainda que o mesmo seja preexistente, 
encontrando-se em poder do rurícola quando do ajuizamento da ação 
originária. Tem-se entendido que, nestes casos, a situação de dificuldade 
do trabalhador rural, em geral pessoas simples, de baixo grau de instrução, 
com poucos recursos financeiros e com restrito acesso a informações 
precisas sobre seus direitos, torna justa a aplicação da solução pro misero, 
possibilitando o uso de documentos aos quais poderia ter acesso, mas que 
não foram oportunamente utilizados em razão de sua condição desigual 
(…)”. (TRF3, AR 00692511320054030000, 3.ª Seção, j. 28.04.11, Des. 
Federal Newton De Lucca, DJe 04.05.2011). 
O inciso oitavo e o parágrafo primeiro expressam sobre o ajuizamento da 
ação rescisória com base no erro de fato verificável nos autos. 
 
Com base na própria lei há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir 
fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo 
indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido 
sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. 
Sobre o erro de fato Sérgio Rizzi4 no livro Ação rescisória preceitua o erro de 
fato da seguinte maneira: 
“O erro de fato se substancia na falta de percepção ou falsa percepção a 
respeito da existência ou inexistência de um fato incontroverso e essencial à 
alteração do resultado da decisão: uma e outra, na sua materialidade, 
emergentes dos autos do processo onde foi proferida a decisão 
rescindenda” 
O parágrafo segundo do inciso oitavo, versa sobre a rescindibilidade de 
decisão que não seja de mérito, que transitem em julgado e que não permitem a 
repropositura da demanda, salvo se foi corrigido o vício como, por exemplo, no caso 
que extingue o processo por que há coisa julgada ou litispendência. 
O inciso segundo resolve um problema bem específico pois uma vez que a 
decisão que inadmite recurso não é de mérito, sob a égide do antigo Código de 
Processo Civil, esta decisão não era passível de ser rescindida através de ação 
rescisória. 
Assim, neste caso, o pedido é formulado para que haja a admissibilidade do 
recurso que foi indevidamente obstada por decisão ilegal. 
O parágrafo terceiro aduz que esta ação somente poderá ter por objeto um 
capítulo da decisão. As sentenças e decisões podem ter mais de um capítulo, 
correspondente a diferentes méritos, como dano moral e material, por exemplo. 
Os capítulos são partes da decisão estruturalmente autônomos, com 
fundamentos e decisum próprios, porém, muitas vezes por estarem interligadas a 
impugnação de um capítulo faz derrubar os demais por decorrência lógica. 
O parágrafo quarto é literal em dizer que os atos de disposição de direitos, 
praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo 
juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão 
sujeitos à anulação, nos termos da lei, não cabendo assim ação rescisória. 
O parágrafo quinto alonga o cabimento das ações rescisórias com 
fundamento no inciso V para incluir a possibilidade de ajuizar esta ação decisão 
 
4 RIZZI, Sergio. Ação rescisória. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1979. 
 
baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos 
repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão 
discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento. 
O parágrafo sexto também é bastante literal e expressa que quando a ação 
rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor, sob pena de 
inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por 
hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução 
jurídica. 
1.4 Legitimidade 
O artigo 967 do Código de Processo Civil elenca os legitimados para propor a 
ação rescisória. 
“Art. 967. Têm legitimidade para propor a ação rescisória: 
I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou 
singular; 
II - o terceiro juridicamente interessado; 
III - o Ministério Público: 
a) se não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção; 
b) quando a decisão rescindenda é o efeito de simulação ou de colusão das 
partes, a fim de fraudar a lei; 
c) em outros casos em que se imponha sua atuação; 
IV - aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a 
intervenção. 
Parágrafo único. Nas hipóteses do art. 178, o Ministério Público será 
intimado para intervir como fiscal da ordem jurídica quando não for parte.” 
O inciso primeiro diz que são legitimados as partes do processo e os seus 
respectivos sucessores. Há entendimentos contrários no que diz respeito a 
legitimidade das partes. 
Parte da doutrina sustenta que basta que a parte tenha sido parte do 
processo, que esta é legitimada para propor a ação rescisória, não interessando se 
à época em que foi proferida a decisão viciada a mesma já era parte processual5. 
Em contrário a este pensamento, Arruda Alvim6 defende que essa 
legitimidade só existe quando a parte estava presente quando a decisão foi 
proferida, garantindo assim sua legitimidade para a propositura. 
 
5 BARIONI, Rodrigo. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa et al (coord.). Breves 
Comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo. Ed RT, 2015 p. 2.149 
 
Também são legitimados para propor a ação rescisória aqueles que tenham 
atuado como assistentes no processo, ou poderiam tê-lo sido. 
O inciso segundo versa sobre terceiro, que é todo aquele que não é parte do 
processo. O terceiro desinteressado juridicamente, é aquele que nada tem a ver com 
a lide, nem direta, nem indiretamente, assim, este não pode propor ação rescisória.Os demais terceiros são os interessados, e podem ser aqueles que deveriam 
ter sido partes do processo mais não participaram. Ocorre nos casos em que a 
decisão diz respeito a direitos os quais estes são titulares. 
Há também os terceiros que possuem relação jurídica ligada àquela sobre a 
qual se discute no processo, e, portanto, serão ou terão sido atingidos indireta ou 
reflexamente pela decisão. 
O inciso terceiro garante a possibilidade do Ministério Publico poder propor a 
ação, isso ocorrerá naquelas situações previstas, porém o legislador não deixou este 
rol taxativo, dando margem a possibilidade de intervenção do Ministério Público para 
rescindir decisões viciadas as quais decorra a sua necessidade de agir. 
Ainda em relação ao Ministério Público, o parágrafo único deste artigo nada 
acrescenta ao ordenamento jurídico, pois apenas diz que o artigo 178 deve ser 
seguido. 
“Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) 
dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou 
na Constituição Federal e nos processos que envolvam: 
I - interesse público ou social; 
II - interesse de incapaz; 
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. 
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si 
só, hipótese de intervenção do Ministério Público.” 
1.5 Competência 
A ação rescisória é de competência originária do segundo grau de jurisdição, 
e, portanto, a demanda é intentada diretamente nos tribunais de segundo grau, com 
exceção dos casos em que a competência cabe originariamente aos tribunais 
superiores. 
Com exceção das decisões transitadas em julgado no primeiro grau de 
jurisdição, cuja ação rescisória para rescindir tal sentença deverá ser ajuizada no 
 
6 Alvim, Arruda, Novo contencioso cível no CPC/2015/Arruda Alvim – São Paulo Editora 
Revista dos Tribunais 2015. p. 321. 
 
tribunal de justiça, define-se a competência para ação rescisória conforme o último 
grau de jurisdição que se pronunciou sobre o mérito da causa cuja sentença 
pretende-se rescindir. 
1.6 Prazo para propor a rescisória 
O artigo 975 dispõe sobre o prazo para a propositura da ação rescisória que, 
apesar da gravidade de todos os vícios expressos no artigo 966 que autorizam esta 
ação, é necessário para trazer segurança jurídica ao nosso sistema que, mesmos 
nestes casos, haja uma data limite para que se possa questionar a validade da 
decisão judicial transitada em julgado. 
“Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do 
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. 
§ 1º Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo 
a que se refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, 
feriados ou em dia em que não houver expediente forense. 
§ 2º Se fundada a ação no inciso VII do art. 966, o termo inicial do prazo 
será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 
(cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no 
processo. 
§ 3º Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa 
a contar, para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não 
interveio no processo, a partir do momento em que têm ciência da 
simulação ou da colusão.” 
Assim, a regra do prazo para propor a ação rescisória é de dois anos, que por 
ter natureza decadencial, uma vez ultrapassado coloca fim ao direito de rescisão de 
determinada decisão judicial. 
O dispositivo prevê que o termo inicial para a contagem do prazo é a data do 
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo, sendo assim, não 
coincidindo necessariamente com a data em que a decisão a ser rescindida transitou 
em julgado. 
Em relação ao parágrafo segundo, que prevê a situação da rescisória pautada 
em prova nova, cabe frisar que o prazo bienal decadencial apenas tem início na data 
da descoberta da prova nova. Porém esta descoberta deve ocorrer no prazo máximo 
de cinco anos da última decisão transitada em julgada no processo, e a ação deve 
ser proposta dentre deste prazo máximo. 
Assim, caso a nova prova foi utilizada seis anos após o trânsito em julgado, 
esta não poderá dar ensejo a uma ação rescisória, não sendo possível abrir o prazo 
 
bienal para sua propositura ou no caso da prova nova vir a conhecimento no quarto 
ano do trânsito em julgado, terá o prazo de um ano para propor a ação7. 
Em relação ao parágrafo terceiro, deve se atentar que para o terceiro 
prejudicado, bem como para o Ministério Público em caso de colusão ou simulação 
o prazo inicia-se no data do descobrimento destes, contudo, não há previsão de 
prazo máximo para a descoberta na lei. 
2 RECLAMAÇÃO8 
Como instrumento de impugnação excepcional, as hipóteses de cabimento da 
reclamação são taxativas e devem ser analisadas em consonância com a nova 
metodologia adotada pelo novo Código de Processo Civil de valorização do 
chamado Direito Jurisprudencial. 
A propósito, o artigo 926 do CPC/2015 bem revela a orientação do legislador 
da norma processual civil: os tribunais devem envidar esforços para manter sua 
jurisprudência uniforme e estável, íntegra e coerente, editando súmulas que 
correspondam às teses derivadas de sua jurisprudência dominante em questões de 
direito material ou processual (artigo 928, parágrafo único). 
Nesse sentindo, e para não banalizar o uso da reclamação, mormente com a 
conotação de recurso ou sucedâneo recursal, é imperioso que o cabimento do novel 
instrumento nas situações destacadas nos incisos I, II, III e IV do artigo 988 sejam 
interpretados em consonância com a orientação proposta nos artigos 926 e 927 do 
CPC/2015, que pretendem enfatizar a necessidade de juízes e tribunais seguirem a 
orientação consignada em tese firmada na resolução de questão de direito material 
ou processual, mas desde que materializada em jurisprudência dominante ou 
pacificada, súmula ou provimentos derivados de casos repetitivos, estes últimos na 
acepção que lhe empresta o artigo 928 do novo código. 
 
7 Alvim, Arruda, Novo contencioso cível no CPC/2015/Arruda Alvim – São Paulo Editora 
Revista dos Tribunais 2015. 
8 Texto extraído do artigo “Novo CPC define metodologia para cabimento da reclamação” de 
Arnaldo Quirino de Almeida 
 
 
Fonte: www.correioderondonia.com 
Esse fundamento pretende justificar a ausência de interesse de agir da parte 
reclamante que se utiliza da reclamação objetivando a afirmação da decisão 
(reclamada) manifestada em autos de processo ainda pendente de esgotamento das 
instâncias recursais ordinárias, na qual não se verifique, desde logo, causa de pedir 
plausível decorrente de flagrante inobservância de uma das hipóteses do artigo 988 
do novo CPC. 
A reclamação, analisada à luz da norma processual que expressamente 
regulamenta o seu procedimento, não é, portanto, recurso ou sucedâneo recursal. 
Tem a natureza de ação originária proposta no tribunal e distribuída ao relator que 
proferiu a decisão ou acórdão cuja tese jurídica não é aplicada ou respeitada em 
outra ação ou mesmo em outro recurso ainda pendente de julgamento. 
Essa é a dicção que se pode extrair do artigo 989, incisos I e II c/c artigo 992 
do CPC/2015, visto que o procedimento da reclamação, em alguma medida, se 
assemelha ao mandado de segurança. 
Mais apropriado será o cabimento da reclamação quando a tese jurídica de 
direito material ou processual firmada em súmula ou decisão proferida em recurso 
repetitivo não seja observada por outros juízes. 
Porém,poderá ser utilizado o novel instrumento mesmo para contrastar atos 
administrativos ou decisões proferidas por autoridade administrativa. Esse um dos 
entendimentos autorizados que será construído na análise do artigo 988. 
 
Quanto à forma, como o entendimento que será construído também aproxima 
a reclamação da natureza de verdadeira ação autônoma — inclusive cabe 
contestação (artigo 989, inciso III, CPC/2015) —, natural é a exigência que a 
reclamação atenda aos requisitos da petição inicial (artigos 319 a 321), com as 
especificidades do procedimento previsto para o novel instituto (artigos 988 e 
seguintes). 
Note-se que, na prática, a procedência da reclamação pode importar desde 
logo na reforma da decisão reclamada, ou o próprio tribunal poderá determinar a 
adoção de medida em concreto nos autos em que proferida a decisão reclamada 
para cumprimento imediato ou, ainda, no caso do inciso I do artigo 988 do 
CPC/2015, poderá determinar a remessa dos autos ao tribunal competente. 
Essa característica da reclamação a aproxima do mandado de segurança, 
devido à possibilidade de provimento de natureza mandamental. Porém, atenção, os 
instrumentos de impugnação não se confundem, embora possam se aproximar: 
essencialmente, a causa de pedir da reclamação está baseada no chamado “direito 
jurisprudencial” ou na afronta ao precedente do tribunal (artigos 926 a 928 do 
CPC/2015); o uso do mandado de segurança, como sabemos, somente se legitima 
se sua causa de pedir estiver fundamentada na presença de violação a direito 
líquido e certo, praticado por ato ilegal ou com abuso de poder. 
Todavia, tal como no mandado de segurança, a reclamação não comporta 
dilação probatória e a petição inicial deverá ser instruída com prova pré-constituída 
da afronta ao “direito jurisprudencial”. 
Importantes hipóteses de exclusão do cabimento da reclamação encontram-
se previstas expressamente nos incisos I e II do § 5º, do artigo 988. A primeira delas 
veda o cabimento da ação quando proposta após o trânsito em julgado da decisão 
reclamada (seria, em tese, o caso de ação rescisória — artigo 966, §§ 5º e 6º, 
CPC/2015) não de reclamação. Essa regra proibitiva está em conformidade com a 
Súmula 734 do Supremo Tribunal Federal: "Não cabe reclamação quando já houver 
transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do 
Supremo Tribunal Federal". 
A segunda regra veda a propositura da ação quando não esgotadas as 
instâncias ordinárias e a causa de pedir da reclamação estiver fundamentada em 
afronta a tese firmada em: a) acórdão proferido em recurso extraordinário com 
 
repercussão geral reconhecida; b) acórdão proferido em julgamento de recurso 
extraordinário ou especial repetitivos. 
Por outro lado, a leitura em conjunto dos artigos 988, § 5º, inciso I e § 6º do 
CPC/2015 supõem que, caso a parte queira se utilizar da reclamação, 
nomeadamente em face de decisão judicial, deverá desincumbir-se do ônus de 
interpor o recurso cabível. 
Caso não o faça, como deverá propor a reclamação antes do trânsito em 
julgado da decisão reclamada (artigo 988, § 5º, inciso I), deverá assumir o risco de 
não obter êxito na reclamação (ou a suspensão da decisão ou ato impugnado) e, por 
óbvio, ver preclusa a oportunidade de interpor o recurso adequado. 
Permite-se concluir, a priori, que a intenção do legislador foi mesmo 
condicionar a propositura da reclamação à interposição simultânea do recurso 
cabível contra a decisão proferida pelo órgão reclamado. 
Nesse caso, apresentada a irresignação, mesmo que seja inadmitida ou 
julgada pelo tribunal, a rigor, não fica prejudicada a análise da reclamação em curso 
(salvo, é bom ressaltar, se através do julgamento do recurso interposto o reclamante 
alcance o provimento que pretendia por meio da reclamação). 
Nesse mesmo contexto, rigor maior foi adotado no tocante ao cabimento da 
reclamação para contrastar decisões do Supremo Tribunal Federal e do Superior 
Tribunal de Justiça, na medida em que o legislador, promovendo alteração no § 5º, 
do artigo 988, fez acrescentar o inciso II, condicionando ao esgotamento das 
instâncias recursais ordinárias a propositura da reclamação para garantir a 
observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral 
reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou 
especial repetitivos (Lei 13.256/2016). 
O legislador acrescentou no inciso II mencionado nova regra de exclusão, por 
exceção ao acima proposto, quando afirma a impossibilidade de propor o 
instrumento excepcional se não forem esgotadas as vias recursais ordinárias. Ao 
que parece, a alteração legislativa teve em conta o entendimento manifestado no 
âmbito do Excelso Pretório e também da Corte Superior de Justiça, que afastam o 
cabimento da reclamação per saltum, ou seja, com a supressão de graus de 
jurisdição. 
Nesse sentindo podem ser consultados os seguintes precedentes: 
 
No Supremo Tribunal Federal: Reclamação 18.946-SP, j. 31.10.2014; 
Reclamação 13.626-MG AgR, j. 27.02.2014; Reclamação 12.600-SP AgR, 
DJe 07.12.2011. 
No Superior Tribunal de Justiça: Reclamação 28.420-SP, j. 06.11.2015; 
Reclamação 2088-CE, j.13.02.2006. 
Para deixar bem assentado quais são os pressupostos indissociáveis de 
cabimento da reclamação perante o STF, o ministro Luiz Fux, na reclamação 11636-
RJ, j. 09.04.2014, esclareceu: 
“[...] (i) a impossibilidade de utilizar per saltum a Reclamação, suprimindo 
graus de jurisdição, (ii) a impossibilidade de se proceder a um elastério 
hermenêutico da competência desta Corte, por estarem definidas em um 
rol numerus clausus, e, (iii) a observância da estrita aderência da controvérsia 
contida no ato reclamado e o conteúdo dos acórdãos desta Suprema Corte 
apontados como paradigma. [...]”. No mesmo sentindo: Reclamação 17914 AgR, 
Relator: ministro Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, julgado em 26.08.2014, DJe 
03.09.2014, publicado 04.09.2014. 
A casuística poderá apresentar a seguinte antinomia: a propositura de 
reclamação cuja causa de pedir aponta que a decisão paradigma esteja ainda 
submetida ao tribunal e o recurso que lhe serve tenha sido recebido com efeito 
suspensivo. A contradição da hipótese de modo algum se coaduna com o cabimento 
da reclamação, principalmente porque esse instrumento de impugnação não pode 
jamais assemelhar-se a recurso ou sucedâneo recursal. 
2.1 Cláusula de exclusão 
É possível propor reclamação na fase de execução ou de cumprimento da 
sentença? Parece-nos que a própria regulamentação da reclamação no novo Código 
de Processo Civil tem a reposta para tal indagação, quando no inciso I, § 5º, do 
artigo 988, preceitua expressamente em cláusula de exclusão do cabimento do 
novel instrumento, que não se admite a sua propositura após o trânsito em julgado 
da decisão reclamada. 
 
 
 
Fonte: saberprocessocivil.com.br 
A razão?! O instrumento mais adequado ao desiderato de desconstituí-la ou 
modificá-la é a ação rescisória. Para argumentar com a viabilidade de reclamação 
na fase de execução ou de cumprimento da sentença, o possível fundamento seria o 
de que, também nessa fase o magistrado pode proferir decisões contrárias a 
entendimento firmado pelos tribunais em súmulas, jurisprudência dominante, 
julgamento de casos repetitivos, etc. 
Destarte, a única possibilidade de reclamação naquela fase processual dar-
se-ia em hipóteses relacionadas à validade do procedimento de cumprimento da 
sentença e dos atos executivos (artigos 518 e 917 do CPC/2015), de qualquer sorte, 
observados os pressupostos específicos de cabimento da reclamação. 
De qualquer sorte, o novo CPC no parágrafo único do artigo 1.015 autoriza a 
interposiçãodo agravo de instrumento em face das decisões proferidas na fase de 
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença e mesmo do processo de 
execução (também a exceção de pré-executividade se presta a mesma finalidade 
em matéria que deve ser conhecida de ofício pelo juiz). 
Relevante anotar que, na fase de cumprimento de sentença, o CPC/2015 
prevê amplas medidas de efetivação da tutela jurisdicional à disposição da parte 
como, por exemplo, nos artigos 536 e 537. O descumprimento da sentença, nessas 
condições, impõe ao juiz, mesmo de ofício, que determine as medidas constritivas 
necessárias à satisfação do crédito reconhecido pela sentença. 
 
Porém, deve ser lembrado, caso, residualmente, haja fundamento para a 
reclamação, a decisão reclamada proferida naquela fase do processo deverá estar 
estreitamente relacionada aos atos e questões que são específicas do procedimento 
de cumprimento ou execução da sentença, jamais para contrastar a própria 
sentença condenatória transitada em julgado, que, consoante se conclui, está fora 
do âmbito de tutela por meio da reclamação nesses casos. 
Doravante com o alargamento da utilização da reclamação para contrastar 
decisões não somente em face de julgados do Supremo Tribunal Federal e do 
Superior Tribunal de Justiça, a casuística pode apresentar abusos ou 
impropriedades no seu manejo. 
Vejamos, então, um quadro no qual o equívoco, por referir-se a erro 
grosseiro, deve ser evitado, consoante as situações que seguem: 
1. Imaginemos o mandado de segurança originário no tribunal, no qual, 
uma vez concedida a segurança, após expedição da ordem necessária à autoridade 
administrativa para o cumprimento do mandamento judicial, a determinação não seja 
imediatamente atendida; 
2. Julgado o apelo do autor numa ação previdenciária, obtido êxito na 
demanda, o tribunal determine a imediata implantação do benefício, cuja ordem é 
descumprida no INSS; 
3. Em uma ação anulatória de débito tributário, após ser provido o apelo 
do contribuinte, a administração tributária se recuse a efetivar as medidas 
necessárias à sua desoneração, tais como o cancelamento definitivo do lançamento 
e respectiva inscrição do débito em dívida ativa e a exclusão do nome do devedor no 
cadastro informativo de créditos não quitados (Cadin), dentre outras restrições 
creditícias porventura existentes, se eventualmente algumas dessas providências 
não tiverem sido efetivadas ainda por efeito da concessão de tutela de urgência. 
As providências acima relacionadas referem-se à fase de execução ou 
cumprimento daqueles provimentos jurisdicionais. Sua efetivação, caso 
descumpridas, deve ser provocada através dos instrumentos postos à disposição da 
parte interessada ou do credor, tais como as providências previstas expressamente 
no artigo 26 da Lei 12.016/2009 para o mandado de segurança, e, no procedimento 
para o cumprimento de sentença, as providências a que se referem os artigos 513 e 
seguintes do CPC/2015, destacando-se, no que pertinente à matéria, os artigos 536, 
 
537 e 538, além do procedimento previsto para a execução dos títulos extrajudiciais, 
sendo o caso, constantes dos artigos 771 e seguintes do código. 
De todo modo, como já enfatizado, principalmente no tocante as discussões 
que se apresentem no procedimento para o cumprimento de sentença, o CPC/2015, 
no parágrafo único do artigo 1.015, prevê sempre o manejo do agravo de 
instrumento para contrastar eventuais decisões contrárias aos interesses da parte. 
Tudo tão somente para esclarecer que se trata de erro grosseiro utilizar-se da 
reclamação nessas hipóteses, a fim de não banalizar o instrumento de tutela do 
Direito Jurisprudencial, mormente acerca de eventuais equívocos que possam surgir 
da interpretação meramente literal da hipótese de cabimento referenciada no inciso 
II do artigo 988 do CPC/2015. 
 
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